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Eles por Elas Drag Queens.FINAL

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FACULDADE PAULISTA DE ARTES 
LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS – 3° Semestre - Matutino 
 
 
 
 
ELLEN TAVARES 
MARCIO AGUIAR 
SAMANTA FERDINANDI 
SUIAN BARROS 
 
 
 
 
 
 
 
ELES POR ELAS – DRAG QUEEN 
Antropologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2016 
 
12 
 
 INTRODUÇÃO........................................................................................... 12 
 
 1 DEFINIÇÃO DO TEMA (TRIBOS URBANAS..................................... 12 
 2 ORIGEM, HINO, APARÊNCIA E CARACTERÍSTICAS..................... 13 
 3 GÊNERO............................................................................................. 15 
 4 LINGUAGEM........................................................................ 15 
 4.1. Frases ditas por drag Queens....................................................... 
5 COMO SURGIRAM AS DRAG QUEENS........................................... 
17 
17 
 6 ENTREVISTA....................................................................................... 
6.1 Você se veste de drag Queen por diversão ou trabalho? 
6.2 Como é a convivência com o grupo? 
 
 
 REFERÊNCIAS......................................................................................... 26 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
INTRODUÇÃO 
 
Os seres humanos são únicos como espécie, uma espécie na qual tem a 
capacidade de perceber o ambiente e organizar ideias, e a partir dessa percepção 
da vida de que existem certas universalidades, relatividade cultural humana, 
possuem a capacidade de se categorizar. Essas categorias de pensamento são 
socialmente construídas, tendo um contexto cultural de tempo e espaço em sua 
criação, assim como a sua função social em um dado contexto histórico e cultural. 
Na sociedade moderna e urbanizada existe uma forma de categorização, chamada 
tribos urbanas. 
 
1 DEFINIÇÃO DO TEMA (TRIBOS URBANAS) 
 
"A grande variedade de interpretações para a mesma figura, por um lado, e, por outro, o número de 
formas através das quais uma mesma ideia ganha expressão, demonstra que (…) existe certa 
associação entre o modelo artístico geral e um determinado número de ideias que são selecionadas 
de acordo com o uso da tribo e, também, de acordo com o interesse do indivíduo que, no momento, 
fornece a explicação". 
(BOAS, 2014) 
Tribos Urbanas são constituídas de pequenos grupos que possuem interesses 
comuns, apresentando uma conformidade de pensamentos, hábitos e maneiras de 
se vestir. A expressão "tribo urbana" foi criada pelo sociólogo francês Michel 
Maffesoli, que começou a usá-la nos seus artigos a partir de 1985. 
Michel Maffesoli é um sociólogo francês, considerado como um dos fundadores da 
sociologia do cotidiano e conhecido por suas análises sobre a pós-modernidade, o 
imaginário e, sobretudo, pela popularização do conceito de tribo urbana. Antigo 
aluno de Gilbert Durand é professor da Université de Paris-Descartes – Sorbonne. 
Michel Maffesoli construiu uma obra em torno da questão da ligação social 
comunitária e a prevalência do imaginário nas sociedades pós-modernas. A 
expressão ganha força três anos depois com a publicação do seu livro “O Tempo 
das Tribos: O declínio do individualismo nas sociedades de massa”. 
Algumas características fundamentam ainda mais o conceito de Tribo Urbana: 
Cultura Informal, Proxemia e Não ativismo. 
 
14 
 
Drag Queens são homens que se “montam” de mulher para encenarem 
(montar é) um verbo constantemente usado no vocabulário das drag Queens, que 
significa o ato de montar a personagem, criando todos os aspectos que irão compô-
la, desde seu codinome, sua indumentária, maquiagem, comportamento, modo de 
falar, etc. Ao se montar, a drag transforma-se em sua personagem. 
 
2 ORIGEM, HINO, APARÊNCIA E CARACTERÍSTICAS 
 
Sua origem é dos EUA e surgiu por volta de 1870. O termo drag Queen é uma gíria 
adota não só pelos gays como pelo teatro. Alguns entendem que a expressão parte 
do significado de "drag", que em seu sentido mais amplo quer dizer vestir qualquer 
roupa que tenha um significado simbólico, como roupas apropriadas ao gênero: 
vestir-se de mulher ou de homem. Outros defendem que, na verdade, "drag" seria 
uma sigla para "dressed a girl" (vestido como menina). 
A hipótese mais aceita, entretanto, vem de "drag" no sentido de "arrastar" e se 
relacionaria com os imensos e pesados vestidos usados no final século XIX, que 
faziam com que o homem vestido de mulher literalmente se arrastasse nos palcos. A 
tradição do transformismo se manteve entre nós, o que criou uma associação direta 
entre ser gay e ser drag Queen que nem sempre existe. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Hino: (GAYNOR) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“I will survive” 
At first, I was afraid, I was petrified. 
Kept thinkin' I could never live 
Without you by my side, 
But then I spent so many nights 
Thinkin' how you did me wrong. 
And I grew strong 
And I learned how to get along. 
And so you're back from outer space. 
I just walked in to find you here 
With that sad look upon your face. 
I should've changed that stupid lock, 
I should've made you leave your key, 
If I had known, for just one second, 
You'd be back to bother me. 
Well, now go! Walk out the door! 
Just turn around now, 
'Cause you're not welcome anymore! 
Weren't you the one 
Who tried to hurt me with goodbye? 
Did you think I'd crumble? 
Did you think I'd lay down and die? 
Oh no, not I! I will survive! 
Oh, as long as I know how to love, 
I know I'll stay alive! 
I've got all my life to live. 
I've got all my love to give. 
And I'll survive! I will survive! 
Hey, Hey! 
It took all the strength I had 
Not to fall apart 
And trying hard to mend the pieces 
Of my broken heart. 
And I spent, oh, so many nights 
Just feeling sorry for myself. 
I used to cry, 
But now I hold my head up high! 
And you'll see me, somebody new, 
I'm not that chained up little person 
Still in love with you. 
And so you felt like droppin' in 
And just expect me to be free, 
But now I'm savin' all my lovin' 
For someone who's lovin' me! 
Go now! Go! ….. 
 
“Eu Vou Sobreviver” 
No início eu tive medo, fiquei paralisada 
Fiquei pensando que nunca conseguiria viver 
Sem você ao meu lado 
Mas então eu passei muitas noites 
Pensando como você me fez mal 
E eu me fortaleci 
E eu aprendi como me arranjar. 
E então você reaparece do nada 
Bastou eu entrar para encontrar você aqui 
Com aquela aparência triste no seu rosto 
Eu devia ter mudado a droga da fechadura 
Eu devia ter feito você deixar sua chave 
Se eu soubesse, apenas por um segundo 
Que você voltaria para me incomodar. 
Bem, agora vá! Saia pela porta! 
Simplesmente dê meia volta agora 
Porque você não é mais bem-vindo 
Não foi você 
Quem tentou me machucar com o adeus? 
Você pensou que eu me rasgaria em pedaços? 
Você pensou que eu deitaria e morreria? 
Oh não, eu não! Eu vou sobreviver! 
Enquanto eu souber como amar 
Eu sei que permanecerei viva 
Eu tenho minha vida toda para viver 
Eu tenho meu amor todo para dar 
E eu vou sobreviver! Eu vou sobreviver! 
Hey, Hey! 
Foi preciso toda a força que eu tinha 
Para não cair em pedaços 
E tentando duramente remendar os pedaços 
Do meu coração partido 
E eu passei muitas noites 
Só sentindo pena de mim mesma 
Eu costumava chorar 
Mas agora eu mantenho minha cabeça bem erguida 
E você vai me ver como um novo alguém 
Não souaquela pessoinha acorrentada 
Ainda apaixonada por você 
E então você teve vontade de fazer uma visita 
E só me espera pra ser livre 
Agora estou guardando todo meu amor 
Para alguém que me ame 
Vá, agora vá! ....... 
 
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Aparência: 
 
São conhecidos pelos seus exageros no vestir, nos modos, na maquiagem e pelo 
estilo cômico de se apresentar. 
 
Características: 
 
Existem também muitas drags que fazem eventos de heterossexuais, como 
animação de casamentos, festas de 15 anos, festas de finalistas, etc. 
 
3 GÊNERO 
 
Segundo (JESUS, 2012), a grande diferença que percebemos entre homens e 
mulheres é construída socialmente, desde o nascimento, meninos e meninas são 
ensinados a agir de acordo como são identificados, a ter um papel de gênero 
“adequado”. E como as influencias sociais não são visíveis, para nós as diferenças 
são naturais, totalmente biológicas, quando, na verdade, partes delas é influenciada 
pelo convívio social. 
Crossdress – refere-se a homens heterossexuais, geralmente casados, que não 
buscam reconhecimento e tratamento de gênero, porém gostam de vivenciar 
diferentes papéis de gêneros, tendo o prazer de se vestirem como mulheres. 
Sua vivencia geralmente é doméstica, e com ou sem o apoio de suas companheiras, 
têm satisfação emocional ou sexual momentânea. 
Drag Queen – são artistas que fazem uso de feminilidade estereotipada e 
exacerbada em suas apresentações. São transformistas que vivenciam a inversão 
do gênero. 
 
4 LINGUAGEM 
 
“Podemos distinguir dois elementos na arte dos povos primitivos, um puramente formal em 
que a fruição se baseia apenas nas formas, e outro em que a forma é preenchida com 
significados.” 
(BOAS, 2014, p. 96) 
 
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Para o antropólogo Franz Boas, neste segundo caso a significância cria um valor 
estético ampliado com base nas conexões do ato artístico. 
Assim como foi observado na tribo de Cheynnes, em que os fenômenos celestes 
são evocados em forma de performance mágicas para garantir chuva, que é 
fundamental para o plantio agrícola de seu habita em vastas planícies. 
O ato de performar, nesta situação tem uma significância simbólica, que possui um 
apelo emocional muito forte, que une toda a tribo. 
Entretanto, vemos este apelo emocional simbólico nos tempos atuais, como nas 
bandeiras nacionais, que possuem um apelo emocional fortíssimo. Vemos também 
como foi na Alemanha, a suástica como símbolo do antissemitismo e a estrela de 
Davi como um símbolo judaico, sendo que ambas, tendo um valor emocional deste 
padrão, o uso delas era restrito a classes especiais ou a indivíduos privilegiados. 
Assim do mesmo modo objetos totêmicos, só podem ser usados pelos que pertence 
aquele totem. 
 “Não se pode dizer que a ocorrência do mesmo fenômeno sempre se deu as mesmas 
causas, nem que ela prove que a mente humana obedece às mesmas leis em todos os 
lugares.” 
(BOAS, Antropologia Cultural, 2006) 
 
Seu argumento diz que não é possível comparar dois povos de uma mesma época, 
por exemplo, sem antes levar em conta as particularidades de cada um. Para Boas, 
não era possível apresentar provas de que o fenômeno cultural se desenvolvia em 
particularismo histórico. 
Contudo, prosseguindo nosso trabalho, é focado neste particularismo histórico, onde 
é necessário entender a história cultural de cada grupo, perceber suas influencias 
internas e externas, e então entende-los, existe um dialeto muito usado entre as 
drag Queens, chamado Pajubá. 
Também chamado e “Bajubá”, o Pajubá é a resultante da incorporação de 
vocabulários de línguas africanas, como: Mbundu, Kimbundu, KiKongo, Nagô, Egbá, 
Ewe, Fon e Yorubá. Usado aqui no Brasil originalmente de forma espontânea em 
regiões de mais forte presença africana, e religiões como Candomblé e Umbanda. 
 
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Apesar de não possuir nenhum tipo de registro formal em documentos ou livros, o 
Pajubá é falado pelas drag Queens de todo Brasil e grande parte da comunidade 
GLBTTTs. 
O dialeto, resultante da assimilação de africanismo de uso correto, por ser 
incompreensível para quem não aprendesse seus significados, passou a ser usado 
como código entre a comunidade LGBTTTs. 
Nesta comunidade, no candomblé e na umbanda, a palavra Pajubá significa “fofoca”, 
“noticia”, referente a um fato ocorrido, tanto de coisas boas, como de coisas ruins. 
Muitas vezes também, chamado de “a língua do Santo”, muito usado pelo povo 
santo quando se quer dizer alguma coisa para que outras pessoas não entendam. 
O “Pajubês”, como ficou popular por aqui, sofreu algumas modificações devido à 
dificuldade de pronuncias em algumas cidades do país, também como na nossa 
língua no Brasil, tem palavras que se diferem de regras, em regiões do Sul há 
palavras que não conhecemos no Nordeste e vice-versa. 
 
4.1 Frases ditas por drag Queens 
 
- Acuenda o carão mona! 
- Não to podendo! 
- Que ebó é esse?!! 
- Vamos gongar essa racha. 
(Recepção calorosa que tive por uma drag Queen.). 
No dicionário “Pajubês”, a expressão para “acuenda” é “olha” ou “pega”, para “ebó” é 
macumba, para “gongar” é “tentar prejudicar” e “racha” é mulher. Em algumas 
regiões o próprio Pajubá é conhecido como Endaca ou Bat. É inegável que este 
dialeto é cada vez mais utilizado por uma parcela expressiva da população 
LGBTTTs e merece um pouco mais de atenção. 
 
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Embora na maioria das vezes as drag Queens sejam homossexuais (gays ou 
lésbicas), esta orientação sexual nem sempre é uma norma. Podem ser também 
bissexuais, assexuais e até mesmo heterossexuais. 
 
 
5 COMO SURGIRAM OS DRAG QUEENS 
 
Atualmente é possível dizer que as drag Queens são tão populares que quase 
beiram o mainstream. Elas estão nos teatros, no cinema, em festas e nas redes 
sociais. Quem popularizou ainda mais a arte, até mesmo para os leigos, foi RuPaul, 
com seu reality RuPaul’s Drag Race. Entretanto, poucos sabem como eram as drag 
Queens antes dessa explosão de popularidade. 
 
Figura 1 - RuPaul, com seu reality RuPaul’s Drag Race 
 
A origem do termo “drag Queen” é nebulosa, mas muitos acreditam que surgiu em 
meados de 1800 como uma forma depreciativa de designar os homossexuais. 
Nesse mesmo século surge Madam Pattirini, drag performática de Brigham Morris 
Young. Dizem os boatos que ele cantava tão bem, que muitas audiências nem 
sabiam que era um homem. 
 
20 
 
 
Figura 2 - Madam Pattirini 
 
Mais tarde, ainda no século 19, o termo “drag Queen” ganhou um significado mais 
específico, designando qualquer homem que se vestisse de mulher com propósitos 
teatrais. Ainda nessa época, um choque para a sociedade londrina: Frederick Park e 
Ernest Boulton começam a sair de casa como Fanny e Stella. Eles foram os 
primeiros homens a sair na rua vestidos de mulher – uma ousadia tão grande que a 
polícia abriu uma investigação minuciosa, do tipo que era feita apenas para 
criminosos extremos. 
 
Figura 3 - Frederick Park e Ernest Boulton – Fanny & Stella 
Com mais homens andando pelas ruas vestidos de mulheres, como não existia 
nenhuma lei que proibisse o crossdressing, homens travestidos eram normalmente 
presos pelo “abominável crime de sodomia” ou mesmo por prostituição. 
 
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Por volta de 1880, homens vestidos de mulheres eram perfeitamente aceitos no 
ambiente teatral. Aliás, era muito mais respeitável um homem viver uma mulher em 
palco do que uma mulher de fato seguir a carreira de atriz. 
Já na virada para o século 20 a performance drag virou um fenômeno próprio no 
teatro de variedades. Um nome que se destaca é Julian Eltinge, que brilhou na 
Broadway como comediante, mas foi nos teatros pequenos que ganhouseu público 
cativo com suas apresentações de drag. Na Europa, quem ganhava a cena era 
Florin, performer de Paris, onde a cena drag também conquistava seu espaço. 
 
Figura 4 - William Julian Dalton (Esq.) - Julian Eltinge (dir.) 
 
Figura 5 - Florin 
Nessa época, um homem vestido de mulher era uma brincadeira bastante popular e 
não era associada à preferência sexual. Em 1920, entretanto, a arte começa a ficar 
mais alinhada com a comunidade LGBT, principalmente por conta dos “drag balls”, 
que eram festas gigantes nas quais a maioria dos homens ia vestidos de mulher. Ao 
 
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longo da década esses eventos ganharam mais e mais atenção, iniciando um 
período chamado “Pansy Craze”. 
No final da década de 20, por volta de 1927, o movimento Pansy Craze já havia se 
instalado em Nova York, Paris, Londres e Berlim. Nesse período era possível ver 
shows como o de Vander Clyde, ou “Barbette”, seu nome artístico. Ele viajou pelos 
EUA e pela Europa com sua incrível performance aérea, na qual ele desafiava a 
morte no trapézio vestido de drag. Ao final de seu show, Barbette tirava a peruca e 
fazia poses masculinas. Enquanto os bailes davam mais ênfase no glamour e no 
estilo de vida drag, as audiências ainda valorizavam bastante as performances de 
comédia nos teatros. 
Já no final da década de 30, ser drag requeria certo investimento, já que os homens 
precisavam manter o estilo e a aparência tanto quanto uma mulher, gastando com 
maquiagens, perucas e roupas. Ser drag Queen era considerada uma carreira cara. 
Na passagem da década de 30 para os anos 40 as drags ainda tentavam achar seu 
lugar na sociedade, já que o crossdressing era uma ofensa que levava muitas drags 
para a prisão. Os bailes do Pansy Craze ficavam cada vez mais escondidos para 
evitar o aparecimento da polícia. Ainda que a homossexualidade crescesse como 
um tabu e uma ameaça para a sociedade, drags mantinham seu lugar garantido no 
setor de entretenimento. 
 
Figura 6 - Homens vestidos de mulher – No teatro e por diversão – Século 19 
 
 Em 1947 o Flamingo Club em Los Angeles era uma das principais casas de shows 
para as drags, que atraíam tanto o público gay quanto o público hétero. Apesar de 
 
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um grande crescimento conservador nos EUA uma drag Queen ainda conseguia 
agradar grandes públicos – se fosse com motivos de entretenimento, a sociedade 
aceitava homens vestidos de mulheres; mas para satisfação pessoal a prática ainda 
era extremamente condenável. 
Segundo (BOAS, 2014, p. 152), o conservadorismo se aplica aos padrões 
fundamentais de vestuário masculino e feminino. 
 
“A estabilidade dos arranjos internos de casas, não obstante todas as 
variações de detalhes, a adesão a tipos de janelas usados em países 
diferentes; as formas de igrejas e nossa comida local são todos os 
exemplos de um grau considerável de conservadorismo. Isto também 
vale, ao menos parcialmente, para os padrões fundamentais de 
vestuário masculino e feminino.” 
 
Na virada para a década de 50 os shows de drag Queens já não eram tão 
mainstream, mas algumas casas e performers conseguiram sobreviver. Já o público 
hétero precisava ir sem ser visto na audiência, uma vez que isso poderia causar 
fofoca na vizinhança. Nos anos 50 a arte continuou a evoluir, assim como a 
qualidade das maquiagens encontradas no mercado. Drag Queens profissionais 
deveriam realmente parecer com mulheres quando montadas. Foi na segunda 
metade dos anos 50 que as imitações de celebridades começaram a ficar populares 
entre as drags. A celebridade mais imitada, sem dúvida, era Marilyn Monroe. 
Ainda na década de 50 surge a Casa Susanna, um resort em Nova York que 
funcionava como um lugar seguro para homens se vestirem de mulheres livremente, 
apenas por satisfação pessoal, sem fins de entretenimento. Era um refúgio da 
sociedade conservadora. 
De acordo com (BOAS, 2014, p. 152) 
 
“O conservadorismo da forma é sentido em muitos casos em que um 
objeto é feito com um material novo. O abandono do material antigo 
pode ser causado pela falta de uma fonte adequada do material 
antigo, ou pode ser uma inovação causada por um impulso criativo 
interno. Ele constitui uma ruptura com o passado. Entretanto, as 
formas são muitas vezes mantidas.” 
 
 
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Nos anos 60 a Casa Susanna ainda era um sucesso, ainda mais se considerarmos 
que essa década foi cheia de mudanças e revoluções, principalmente nas questões 
sexuais. As drags começaram a se reunir com mais frequência e os EUA viu o 
surgimento dos primeiros bares gays, como o Stonewall Bar em Nova York. A arte 
drag começa a evoluir para uma forma de expressão de homens gays. Era menos 
uma forma de ganhar dinheiro e mais uma maneira de criar uma comunidade. 
 
Figura 7 - Casa Susanna – Um resort para homens se vestirem de mulher sem fins de 
entretenimento 
Já no final da década de 60 a comunidade gay começa a lutar pelos seus direitos. 
As manifestações, muitas vezes violentas, contra a polícia aconteciam no Stonewall. 
Há relatos de que as drags tiveram uma forte participação nos protestos, como 
drags jogando moedas ironizando os policiais, ou uma drag que vandalizou um carro 
da polícia usando sua bolsa de mão. 
A partir daí, com a comunidade gay se organizando e lutando cada vez mais pelos 
seus direitos e com o nascimento das paradas gays na década de 70, as drags 
começam a ganhar mais destaque com o público em geral. Tiveram seu grande 
sucesso durante os anos 80 e 90 e hoje despertam a fama mais uma vez. 
 
No cinema temos Harris Glenn Milstead, mais conhecido como a drag Queen Divine, 
que abraçou a contracultura dos anos 60 e se tornou a grande inspiradora do 
cineasta John Waters. Ela atuou em seus filmes, fazendo parte do Dream Landers – 
elenco e equipe de regulares que John Waters usava nos filmes. Eles incluíram os 
chamados “garotos maus suburbanas” entre outros. Divine estrelou uma série dos 
primeiros filmes de Waters, tais como Mondo Trasho (1969), Multiple Maniacs 
(1970), Pink Flamingos (1972) e Female Trouble (1974). 
 
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Os filmes se tornaram clássicos Cult, com Divine tornando-se particularmente 
conhecida por interpretar o papel de Babs Johnson, em Pink Flamingos. 
Divine manteve-se uma figura de culto, especialmente dentro da comunidade LGBT, 
e forneceu a inspiração para personagens de ficção, obras de arte e músicas. Vários 
livros e documentários dedicados a sua vida também foram produzidos, incluindo 
“Divine Trash” (1998) e “I Am Divine” (2013). 
 
Figura 8 - Harris Glenn Milstead, mais conhecido como a drag Queen Divine, anos 60 
 
Figura 9 - Estrelado na série dos primeiros filmes de Waters, tais como Pink Flamingos (1972) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
 
 
BOAS, Franz. Antropologia Cultural. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. 
BOAS, Franz. Arte Primitiva. 1. Ed. Petrópolis: VOZES, 2014. 
FASHION BUBBLES. "A História da Drag Queens". Disponível em: 
http://www.fashionbubbles.com/historia-da-moda/a-historia-das-drag-queens-parte-
1/. Acessado em: 06/06/2016. 
LETRAS. "I Will Survive". Disponível em: https://www.letras.mus.br/gloria-
gaynor/15949/traducao.html. Acessado em: 15/06/2016. 
JESUS, Jaqueline, Gomes. "Orientações Sobre Identidade de Gênero: Conceitos e 
Termos". Distrito Federal, 2012.

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