Buscar

DISBIOSE INTESTINAL E QUAL O PAPEL DA NUTRIÇÃO EM SEU TRATAMENTO E PREVENÇÃO

Prévia do material em texto

DISBIOSE INTESTINAL: QUAL O PAPEL DA NUTRIÇÃO NO TRATAMENTO E 
PREVENÇÃO 
 
ALMEIDA, Luciana Barros et al. Disbiose intestinal. Rev. Bras. Nutr. Clin. v. 24, n. 
1, p. 58–65, 2009. 
 
Há quase 2,500 anos, Hipócrates disse “ Todas as doenças iniciam no 
intestino”. Nos dias de hoje, ainda estamos começando a entender o quão certo ele 
estava. Considerando o fato do conteúdo que transita por este tubo oco ter vindo de 
fora do organismo, a função mais importante do Trato Gastrointestinal (TGI) é 
prevenir a entrada de substâncias estranhas em nosso corpo (KRESSER, 2014). 
A alimentação adequada influência diretamente a integridade intestinal, e 
quando esta fica comprometida, podemos ter a alteração da permeabilidade do 
intestino, diminuindo a capacidade deste de atuar como uma barreira. Dentre os 
fatores que influenciam esta integridade, temos a população bacteriana, denominada 
Microbiota Intestinal. O desequilíbrio desta microbiota, quando ocorre o predomínio 
das bactérias patogênicas sobre as bactérias benéficas, é chamado de Disbiose 
Intestinal, produzindo efeitos prejudiciais à saúde intestinal e consequentemente ao 
organismo como um todo. 
Grupos específicos de microrganismos (MOs), capazes de produzir uma 
variedade de compostos fisiológicos, estão presentes em diferentes regiões do TGI. 
Nossa microbiota intestinal auxilia na fermentação de carboidratos resistentes à 
digestão ou mal absorvidos, gerando os Ácidos Graxos de Cadeia Curta (AGCC). 
Estes têm papel fundamental no funcionamento normal do cólon, constituindo a 
principal fonte de energia dos enterócitos e colonócitos, estimulando a proliferação 
celular do epitélio, o fluxo sanguíneo visceral e intensificando a absorção de sódio e 
água. 
A mucosa do TGI é semipermeável, seletiva, sendo composta por finas células 
epiteliais bem adaptadas, ligadas através de junções firmes (tight junctions). Com a 
alteração desta mucosa, pode ocorrer a entrada para o sangue ou sistema linfático, 
de bactérias do intestino, alimentos não digeridos e toxinas, iniciando uma resposta 
inflamatória sistêmica. 
Os AGCC, principalmente o butirato, através da modulação dos mediadores 
inflamatórios em várias células, exercem um forte efeito anti-inflamatório, suprimindo 
a produção de citocinas pró-inflamatórias e lipopolissacarídeos. A microbiota intestinal 
regula a homeostase imunológica e a resposta inflamatória através da indução e 
desenvolvimento do sistema imune gastrointestinal. Em contrapartida, este sistema 
imune regula a estrutura e função da microbiota intestinal. Esta interação fina ocorre 
sob condições saudáveis do organismo. O transtorno destas condições leva à 
desordens tanto do TGI, quanto gerais (ANDOH, 2016). 
Com o aumento exagerado das bactérias patogênicas, temos um desequilíbrio 
na produção das secreções dos órgãos que compõem o TGI. Resultando disto 
podemos ter, insuficiência pancreática, diminuição da função biliar, deficiência de 
ácido clorídrico, levando ao mau funcionamento intestinal. Já fora do TGI, podemos 
associar até mesmo sintomas de depressão como consequência de uma disbiose, 
pois alguns MOs tem o poder de diminuir a formação de serotonina. Bactérias 
oportunistas mandam para o cérebro toxinas que inibem a síntese deste 
neurotransmissor. 
A interação entre o sistema nervoso e o intestino, é influenciada pela microbiota 
através de múltiplos mecanismos. AGCC, GABA, triptofano, serotonina e 
catecolaminas, são produtos metabólicos gerados pelos MOs e transmitem um sinal 
as células do intestino. Através de mecanismos endócrinos, estas moléculas também 
sinalizam células alvo fora do TGI (ANDOH, 2016). 
Alterações na composição e capacidade metabólica da microbiota intestinal, 
promovem adiposidade e influência em processos metabólicos de órgãos periféricos. 
Processos estes, como o controle da saciedade no cérebro, liberação de homônimos 
como PYY (peptídeo YY) e GLP-1 (peptídeo semelhante a glucagon 1) e síntese, 
armazenamento e metabolismo de lipídios no tecido adiposo, fígado e músculos 
(TREMAROLI; BÄCKHED, 2012). 
O tratamento da disbiose é eficaz na grande maioria dos casos, consiste em 
duas abordagens: dietética e medicamentosa. Na dietética, por meio da ingestão de 
alimentos que contenham probióticos, prebióticos ou simbióticos. Os probióticos são 
constituídos de produtos lácteos, fermentados ou não, que apresentam em sua 
composição MOs vivos que promovem o equilíbrio da microbiota intestinal. Prebiótico 
é o termo utilizado para ingredientes alimentares não digeríveis que beneficiam o 
hospedeiro por estimular seletivamente o crescimento e/ou a atividade dos MOs da 
microbiota. São carboidratos complexos, resistentes à digestão, e são fermentados 
por certas bactérias do cólon. Simbióticos são a combinação de prebióticos com 
probióticos, constituindo assim um fator multiplicativo no qual a ação é realizada com 
maior eficiência. O componente prebiótico favorece o efeito do probiótico associado. 
Os principais mecanismos de ação dos probióticos incluem o aumento da 
barreira epitelial, elevando a adesão dos MOs benéficos na mucosa intestinal através 
da exclusão competitiva dos MOs patogênicos, inibindo sua adesão. E também na 
produção de substâncias anti-microrganismos e modulação do sistema imune 
(BERMUDEZ-BRITO et al., 2012). 
Os probióticos promovem a secreção de muco como um dos mecanismos para 
melhorar a função de barreira e eliminação de patógenos. Essas bactérias probióticas 
também podem inibir a diminuição da resistência e alterações nas tight junctions 
causadas por estresse, infecção ou citocinas inflamatórias em doenças inflamatórias 
intestinais (SOUZA, 2012). 
 
Os benefícios à saúde atribuídos à ingestão de culturas probióticas são 
principalmente: controle da microbiota intestinal, estabilização da microbiota intestinal 
após o uso de antibióticos, resistência à colonização por patógenos, diminuição da 
população de patógenos através da produção de ácidos acético e lático, melhor 
digestão da lactose em indivíduos intolerantes, estimulação do sistema imune, 
aumento da absorção de minerais e produção de vitaminas (SAAD, 2006). 
Em testes de toxicidade com frutanos do tipo inulina em doses superiores às 
recomendadas, não foram relatadas evidências de toxicidade. Com base nestes 
testes, a dose de tolerância é bastante alta, permitindo uma faixa ampla para uso de 
doses terapêuticas. Porém, assim como ocorre com os demais tipos de fibra, o 
consumo excessivo de prebióticos pode resultar em diarréia, flatulência, cólicas, 
inchaço e distensão abdominal. Entretanto estes estados são reversíveis com a 
interrupção da ingestão (SAAD, 2006). 
Alimentar-se corretamente é de vital importância no tratamento de qualquer 
doença inflamatória do TGI. É evidente a importância deste sistema como promotor 
da saúde, pois diante da melhora na função gastrointestinal, sempre notamos uma 
melhora generalizada nas funções do organismo. 
 
Lourival Moreira Junior, é acadêmico do Curso de Nutrição pela Associação 
Educacional Luterana Bom Jesus/IELUSC. 
 
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES 
 
ANDOH, Akira. Physiological Role of Gut Microbiota for Maintaining Human Health. 
Digestion p. 176–181, 9 fev. 2016. Disponível em: 
<http://www.karger.com/?doi=10.1159/000444066>. Acesso em: 12 abr. 2016. 
BERMUDEZ-BRITO, Miriam et al. Probiotic Mechanisms of Action. Annals of 
Nutrition and Metabolism v. 61, n. 2, p. 160–174, 2012. Disponível em: 
<http://www.karger.com/doi/10.1159/000342079>. Acesso em: 11 abr. 2016. 
KRESSER, Chris. Thyroid Disorders. E-book. Berkeley: chriskresser.com, 2014. 41 
p. Disponível em: <https://chriskresser.com/thyroid/>. 
SAAD, Susana Marta Isay. Probióticos eprebióticos: o estado da arte. Revista 
Brasileira de Ciências Farmacêuticas v. 42, n. 1, p. 1–16, mar. 2006. Disponível 
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
93322006000100002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 09 abr. 2016. 
SOUZA, Márcio Leandro Ribeiro De. Probióticos e a permeabilidade intestinal. Pós 
em Revista v. 6, n. 2, p. 299–306, 2012. Disponível em: 
<http://blog.newtonpaiva.br/pos/wp-content/uploads/2013/04/PDF-E6-NUT40.pdf>. 
Acesso em: 10 abr. 2016. 
TREMAROLI, Valentina; BÄCKHED, Fredrik. Functional interactions between the gut 
microbiota and host metabolism. Nature v. 489, n. 7415, p. 242–249, 12 set. 2012. 
Disponível em: <http://www.nature.com/doifinder/10.1038/nature11552>. Acesso em: 
10 abr. 2016. 
 
 
 
 
Joinville/SC 
2016

Continue navegando

Outros materiais