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Do Dano e das Fraudes

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SALESIANO DE SÃO PAULO
UNISAL - CAMPUS MARIA AUXILIADORA
Filipe Augusto Pereira
DO DANO, DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
Americana
2017
Filipe Augusto Pereira
DO DANO, DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito no Centro Universitário Salesiano de São Paulo.
Orientadora: Profª Cristiane Tranquilim Lisi
Americana
2017
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 4
2 DOS CRIMES DE DANO 4
2.1 DANO 4
2.2 INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA 6
2.3 DANO EM COISA DE VALOR ARTÍSTICO, ARQUEOLÓGICO OU HISTÓRICO7
2.4 ALTERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO 7
3 DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES 7
3.1 FATURA, DUPLICATA OU NOTA DE VENDA SIMULADA 7
3.2 ABUSO DE INCAPAZES 9
3.3 INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO 9
3.4 FRAUDE NO COMÉRCIO 10
3.5 OUTRAS FRAUDES 12
3.6 FRAUDES E ABUSOS NA FUNDAÇÃO OU ADMINISTRAÇÃO DE SOCIEDADES POR AÇÕES 13
3.7 EMISSÃO IRREGULAR DE CONHECIMENTO DE DEPÓSITO OU “WARRANT”
3.8 FRAUDE À EXECUÇÃO 16
BIBLIOGRAFIA 18
1 INTRODUÇÃO
A tutela de patrimônio de pessoas físicas e jurídicas já é abordado no Código Civil, não sendo, entretanto, suficiente para proteger o direito. Aparece, então, o Direito Penal para, com a ameaça de sanções penais, coibir a transgressão desse objeto jurídico, prevendo tipos entre os quais alguns serão abordados aqui.
2 DOS CRIMES DE DANO
2.1 DANO
Previsto no art. 163 do CP pela seguinte redação: “Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia”. O tipo prevê especificamente o dane físico, que incorre sobre o objeto alvo de um crime.
2.1.1 Objeto material
É a coisa alheia imóvel ou móvel, não cabendo nesse delito a res nullius, por ser objeto que não é propriedade de ninguém, exigindo o tipo que a coisa seja alheia ao agente.[1: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 508]
2.1.2 Ação nuclear e sujeitos ativo e passivo
Podendo ser praticado tanto por ação quanto por omissão, são três os núcleos do tipo: a) destruir: desfazer a coisa, de modo que sua essência seja perdida; b) inutilizar: tornar a coisa inadequada a sua finalidade; e c) deteriorar: reduzir o valor da coisa. Os meios de execução são dois: a) imediato, quanto o dano é exercido pelo agente de forma direta; e b) mediato, quando de forma indireta.[2: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 509]
O sujeito ativo é a pessoa física que pratica pelo menos uma das ações nucleares, podendo também ser o condômino da coisa comum caso o prejuízo exceda o valor de sua cota-parte, e desde que se trate de bem infungível. Já o sujeito passivo é o proprietário do bem e, excepcionalmente, o possuidor.[3: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 510]
2.1.3 Elemento subjetivo
É o dolo, sendo de posição majoritária da doutrina a não exigibilidade da existência de um fim especial para agir, sendo a ofensa dirigida ao direito de propriedade, fato que o distingue de outros crimes contra o patrimônio.[4: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 511]
2.1.4 Consumação e tentativa
Sendo crime material, se faz necessária o efetivo dano, total ou parcial, no objeto material, com comprovação feita por indispensável perícia. A forma tentada é cabível no crime plurissubsistente.[5: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 511]
2.1.5 Formas
2.1.5.1 simples
Prevista no caput, com pena de detenção de 1 a 6 meses, ou multa.
2.1.5.2 qualificada
Presente no parágrafo único e artigos, prevê pena de detenção de 6 meses a 3 anos e multa, além da pena correspondente à violência.
a) Dano praticado com violência ou grave ameaça à pessoa: atitudes empregadas para assegurar a concretização dos danos, isto é, antes ou durante a execução do delito;
b) Uso de substância inflamável ou explosiva: o uso dessas substâncias qualifica o dano, se o fato não constitui crime mais grave por colocar em risco a incolumidade pública;
c) Dano contra o patrimônio da União, do Estado, do Município e de empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista: a expressão “patrimônio”, nesse dispositivo, deve ser considerada de forma ampla, englobando até mesmo os bens de uso comum do povo e os de uso especial.;
d) Dano causado por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: sendo a ação penal privada, motivo egoístico é o que se prende pelo desejo de obter vantagem pessoal indireta, moral ou econômica. O caso de prejuízo considerável à vítima é aferido em relação à situação econômica do ofendido.[6: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 513]
2.2 INTRODUÇÃO OU ABANDONO DE ANIMAIS EM PROPRIEDADE ALHEIA
Presente no art. 164 do Código Penal: “Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem consentimento de quem de direito, desde que do fato resulte prejuízo”.
2.2.1 Objeto jurídico
A proteção se dá sobre o direito da inviolabilidade da posse ou propriedade do bem imóvel contra danos causados por animais nele colocados.[7: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 515]
2.2.2 Ação nuclear, objeto material e elemento normativo do tipo
São duas as ações nucleares: a) introduzir: levar o animal para dentro de propriedade alheia; e b) deixar: abandonar o animal em propriedade alheia por ação ou omissão. A propriedade pode ser urbana ou rural, desde que tenha vegetação passível de ser destruída por um animal. O agente não deve ter a permissão do proprietário para realizar a ação.[8: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 516]
2.2.3 Sujeitos ativo e passivo
Sujeito ativo é quem pratica pelo menos uma das condutas descritas anteriormente e sujeito passivo é o possuidor ou proprietário do bem imóvel.
2.2.4 Elemento subjetivo
É o dolo, que se traduz na vontade livre e consciente que o agente tem de pôr ou deixar animais em imóvel alheio, devendo também saber que não tem permissão para tal. Se o fim for o lucro, haverá furto.[9: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 516]
2.2.5 Consumação e tentativa
Para se efetivar a consumação, não basta a simples introdução ou abandono do animal, devendo haver dano à propriedade. Ausente o prejuízo, o fato é atípico, não sendo admitida a tentativa.[10: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 517]
2.3 DANO EM COISA DE VALOR ARTÍSTICO, ARQUEOLÓGICO OU HISTÓRICO
Previsto no art. 165, foi tacitamente revogado pelo inciso I do art. 62 da Lei n. 9.605/98, que diz: “Destruir, inutilizar ou deteriorar: I — bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial. Pena — reclusão, de um a três anos, e multa”.
2.4 ALTERAÇÃO DE LOCAL ESPECIALMENTE PROTEGIDO
Art. 166 igualmente revogado pela Lei n. 9.605/98, mas pelo seu art. 63: “Alterar o aspecto ou a estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato administrativoou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade competente ou em desacordo com a concedida. Pena: reclusão, de um a três anos, e multa”.
3 DO ESTELIONATO E OUTRAS FRAUDES
3.1 FATURA, DUPLICATA OU NOTA DE VENDA SIMULADA
Tipo penal disposto no art. 172 do CP: “Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. Pena — detenção, de dois a quatro anos, e multa”.
3.1.1 Objeto jurídico
A propriedade, além da boa-fé que reveste os títulos comerciais.
3.1.2 Ação nuclear, objeto material e sujeitos do crime
O núcleo do tipo é o verbo emitir, não sendo mais admitida a aceitação do título, bastando a sua criação. A fatura, duplicata ou nota de venda emitida (objeto material) não deve corresponder à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. Aí reside a fraude do crime em tela. O título produzido não corresponde ao negócio realizado pelas partes, e o comerciante, utilizando essa fraude, desconta, por exemplo, a duplicata com terceira pessoa de boa-fé, para receber indevidamente o valor do documento. O sujeito ativo é aquele que emite o fatura, duplicata ou nota de venda, enquanto que o sujeito passivo é quem realiza o desconto da duplicata, bem como o sacado (comprador), ou seja, a pessoa contra quem é emitida a fatura, duplicata ou nota de venda. Deve este último estar agindo de boa-fé.[11: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, Vol. 2, p. 579]
3.1.3 Elemento subjetivo
É o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado.
3.1.4 Consumação e tentativa
Se tratando de crime formal, a causação de dano patrimonial ou obtenção de lucro pelo emitente será mero exaurimento. Por ser crime unissubsistente (realizado somente com um ato, como no caso de injúria verbal), não é admissível a tentativa. [12: DOS SANTOS, Washington. Dicionário Jurídico Brasileiro. p. 65][13: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 580]
3.1.5 Formas
3.1.5.1 simples
É o caput do art. 172.
3.1.5.2 equiparada
Está prevista no parágrafo único do art. 172, cujo teor é o seguinte: “Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas”. Cuida-se aqui de um crime de falsidade documental; contudo o legislador optou em enquadrá-lo como crime patrimonial. Duas são as ações nucleares típicas: a) falsificar — consiste em criar a escrituração do livro; b) adulterar — a escrituração do livro é válida, mas é modificada. O sujeito passivo do crime em tela é o Estado, pois cuida-se de crime que atenta contra a boa-fé dos títulos e documentos.[14: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 581]
3.2 ABUSO DE INCAPAZES
Prescrito no art. 173 do CP: “Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro: Pena — reclusão, de dois a seis anos, e multa”.
3.2.1 Objeto jurídico
Novamente, o patrimônio
3.2.2 Ação nuclear e sujeitos do crime
As condutas previstas são as de abusar (de necessidade, paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade de outrem), induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível de produzir efeito jurídico. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, por ser crime comum. Já o sujeito passivo deve ser o menor de idade, o alienado mental ou o débil mental.[15: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 582]
3.2.3 Elemento subjetivo
É o dolo, que deve abranger a ciência do agente sobre as condições da vítima, configurando estelionato, se ausente. O agente também deve ter a finalidade de obter qualquer tipo de proveito próprio ou alheio indevidamente.[16: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 583]
3.2.4 Consumação e tentativa
É crime formal, portanto se consuma com a efetiva prática do ato potencialmente lesivo a que ele foi induzido. A forma tentada é possível, pois há um iter criminis passível de ser fracionado. Dessa forma, se o agente induzir o incapaz à prática do ato e este antes de concretizá-lo é impedido por terceiros, temos a tentativa do crime em apreço.[17: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 584]
3.3 INDUZIMENTO À ESPECULAÇÃO
Determinado pelo art. 174: “Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa. Pena — reclusão, de um a três anos, e multa”.
3.3.1 Objeto jurídico
O bem jurídico protegido é o patrimônio de pessoa rústica, simplória, ignorante que é induzida a praticar ato que fatalmente lesará seu patrimônio.
3.3.2 Ação nuclear e sujeitos do crime
A ação nuclear é igual à do art. 173, com o agente se aproveitando das condições da vítima para gerar lucro próprio ou alheio. O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, já o sujeito passivo é a pessoa inexperiente (sem prática nos negócios), simples (destituída de malícia) ou mentalmente inferior (que tem índice de inteligência inferior ao normal, mas que não sofre necessariamente de alguma enfermidade psíquica).[18: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 586]
3.3.3 Elemento subjetivo
É o dolo em induzir a vítima a prática de jogo, aposta ou a especular com títulos ou mercadorias, com o fim de obter proveito para si ou para outrem. No caso de induzimento à especulação, o agente deve saber ou dever saber que a conduta é prejudicial.[19: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 586]
3.3.4 Consumação e tentativa
Como é crime formal a sua consumação se dará com a prática do jogo, aposta ou especulação, não sendo necessário o lucro do agente ou de terceiro e podendo até resultar benefício da vítima. A tentativa ocorre quando a vítima não consegue realizar um dos atos prescritos por circunstâncias alheias à sua vontade.[20: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 586]
3.4 FRAUDE NO COMÉRCIO
Disposto no art. 175 do CP: “Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor: I — vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada; II — entregando uma mercadoria por outra: Pena — detenção, de seis meses a dois anos, ou multa”.
3.4.1 Objeto jurídico
Além do patrimônio, tutela-se a moralidade do comércio.
3.4.2 Ação nuclear, objeto material e sujeitos do processo
A conduta punida se trata de enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente ou consumidor: a) vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada; ou b) entregando uma mercadoria por outra. O objeto material é o bem móvel ou semovente, mercadoria que pode ser: a) falsificada; b) deteriorada; ou c) substituída. Como é crime próprio, o sujeito ativo só pode ser comerciante ou comerciário, devido à presunção de continuidade, habitualidade e profissionalidade da atividade comercial. O sujeito passivo pode ser qualquer pessoa.[21: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 588]
3.4.3 Elemento subjetivo
É o dolo, não se exigindo a finalidade de obter vantagem econômica.
3.4.4 Consumação e tentativa
Consuma-se com a tradição da coisa ao adquirente ou consumidor. A tentativa é possível, pois trata-se de crime plurissubsistente (realizados através de vários atos, como o crime sob condição análoga à do escravo).[22: DOS SANTOS, Washington. Dicionário Jurídico Brasileiro. p. 65]
3.4.5 Formas
3.4.5.1 simples
Presente no caput do art. 175.
3.4.5.2 fraude no comércio de metais ou pedras preciosas
Prescrito no § 1º do art. 175 cujaredação é a seguinte: “Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender, como precioso, metal de outra qualidade: Pena — reclusão, de um a cinco anos, e multa”. A pena é mais grave por causar maior prejuízo e pela dificuldade em se descobrir a fraude.[23: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 590]
3.4.5.3 privilegiada
Está prevista no § 2º. Incide no crime de fraude no comércio o disposto no art. 155, § 2º.
3.5 OUTRAS FRAUDES
Diz o art. 176: “Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento: Pena — detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa”.
3.5.1 Objeto jurídico
Novamente protege-se o patrimônio, mas dessa vez daqueles cujo gênero de atividade relaciona-se à oferta de alimentos, alojamento ou transporte.
3.5.2 Ação nuclear e sujeitos do crime
São três as ações criminosas: a) tomar refeição em restaurante, sem dispor de recursos para efetuar o pagamento: “tomar refeição” engloba tanto ingestão de alimentos como consumo de bebidas, ao mesmo tempo que “restaurante” se refere a qualquer local cuja atividade consista em fornecer alimentos; b) alojar-se em hotel, sem dispor de recursos para efetuar o pagamento: a palavra “hotel” abrange qualquer estabelecimento exclusivamente destinado ao alojamento de pessoas; e c) utilizar-se de meio de transporte, sem dispor de recursos para efetuar o pagamento: “meio de transporte” compreende os veículos cujo pagamento ocorre durante ou ao final da viagem. O crime é comum, portanto, qualquer pessoa pode praticá-lo, enquanto que o sujeito passivo é a pessoa física ou jurídica proprietária do restaurante, hotel ou meio de transporte. Também é vítima aquele que foi enganado, por exemplo, recepcionista do hotel.[24: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 591]
3.5.3 Elemento subjetivo
É o dolo em praticar uma das ações nucleares prevista anteriormente, com o agente sabendo da sua falta de numerário para o pagamento das despesas com os serviços prestados.[25: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 592]
3.5.4 Consumação e tentativa
O crime é consumado com a tomada da refeição, com o alojamento em hotel ou com a utilização de meio de transporte, ainda que a prestação desses serviços seja parcial. A tentativa é perfeitamente possível.[26: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 593]
3.6 FRAUDES E ABUSOS NA FUNDAÇÃO OU ADMINISTRAÇÃO DE SOCIEDADES POR AÇÕES
Disposto no art. 177: “Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo, em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembleia, afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando fraudulentamente fato a ela relativo: Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa, se o fato não constitui crime contra a economia popular”. É crime expressamente subsidiário, o que significa que o fato somente será enquadrado neste tipo penal se não constituir crime contra a economia popular, que atinge o patrimônio de um número indeterminado de pessoas.[27: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 593]
3.6.1 Ação nuclear e sujeitos do processo
As condutas punidas compreendem: a) afirmar falsamente: mentir sobre a constituição da sociedade; e b) ocultar fraudulentamente: omitir fato pertinente à sociedade. O sujeito ativo é o fundador da sociedade por ações, enquanto que o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa.[28: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 594]
3.6.2 Elemento subjetivo, consumação e tentativa
É o dolo, sendo exigida a intenção de constituir a sociedade. O crime é formal, o que significa que não é necessária a subscrição das ações pelos interessados, nem o efetivo prejuízo aos mesmos. É inadmissível a tentativa.[29: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 595]
3.6.3 Formas
3.6.3.1 simples
Prescrita no caput.
3.6.3.2 equiparadas
São previstas no § 1º, I a IX:
a) fraude sobre as condições econômicas da sociedade: Presente no inciso I, difere do caput nos seguintes aspectos:
- aqui a sociedade já está formada e em funcionamento;
- a afirmação falsa também pode ocorrer em relatório, parecer ou balanço;
- aqui o sujeito ativo é diretor, gerente ou fiscal.
b) falsa cotação de ações ou títulos da sociedade: Prescrito no inciso II, consiste em alterar o valor real das ações ou títulos;
c) empréstimo ou uso indevido de bens ou haveres da sociedade: Previsto no inciso III, pune-se a conduta do diretor ou gerente que, no exercício da administração da sociedade, sem prévia autorização da assembleia, empresta ou usa bens ou haveres da sociedade por ações;
d) compra e venda de ações emitidas pela sociedade: Disposto no inciso IV, pune o Código Penal o diretor ou gerente que compra e vende, por conta da sociedade, ações por ela emitidas;
e) penhor ou caução de ações da sociedade: Presente no inciso V, é punida a conduta do diretor ou gerente que aceita, como garantia de crédito social, em penhor ou caução, ações da própria sociedade;
f) distribuição de lucros ou dividendos fictícios: Prescrito no inciso VI, reprime-se a conduta do diretor ou gerente que:
- distribui lucros ou dividendos na ausência de balanço;
- distribui lucros ou dividendos em desacordo com o balanço;
- distribui lucros ou dividendos com base em balanço falso.
g) conluio para aprovação de conta ou parecer: Disposto no inciso VII, são puníveis o diretor, o gerente ou o fiscal que, por interposta pessoa, ou conluiado com acionista, consegue a aprovação de conta ou parecer;
h) crimes do liquidante: Presente no inciso VIII, pune-se as condutas criminosas praticadas pelo liquidante (pessoa que assume as funções dos sócios-gerentes ou administradores, após a dissolução da sociedade por ações) quando do encerramento da sociedade, uma vez que incumbe a ele vender os bens do acervo social e com o valor obtido pagar os credores, bem como partilhar aos sócios ou acionistas o líquido apurado;
i) crimes do representante de sociedade anônima estrangeira: Prescrito no inciso IX, pune-se a conduta do representante de sociedade anônima estrangeira, autorizada a funcionar no País, que faz afirmação falsa acerca das condições econômicas da sociedade, ou oculta fraudulentamente fatos a ela relativos ; ou, então, promove falsa cotação das ações ou outros títulos da sociedade, além de prestar informações falsas ao governo.[30: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 597]
3.6.3.3 negociação de voto
Conduta delituosa prevista no § 2º do art. 177, consistente na negociação de voto nas deliberações de assembleia geral feita pelo acionista, com o fim de obter vantagem própria ou alheia, econômica ou moral.[31: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 599]
3.7 EMISSÃO IRREGULAR DE CONHECIMENTO DE DEPÓSITO OU “WARRANT”
Disposto no art. 178 do Código Penal: “Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo com disposição legal: Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa”.
3.7.1 Objeto jurídico
Mais uma vez, o patrimônio, além da seriedade e circulabilidade das operações.
3.7.2 Ação nuclear, elemento normativo do tipo e sujeitos do processo
Existe apenas uma ação nuclear, consistente no verbo “emitir”. A emissão do título deve ser realizada em desacordo com disposição legal (elemento normativo do tipo), seguindo as hipóteses: a) a empresa de armazém geral não estiver legalmente constituída; b) o governo federal não tiver autorizado a emissão dos títulos; c) não existirem as mercadorias ou gêneros especificados no título; ou d) emitirem sobre as mesmas mercadorias mais de um conhecimento de depósito ou warrant, exceto quando a lei o permite. Qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo, sendo em regra o depositário da mercadoria, enquanto que o sujeito passivo é o portador ou endossatário dos títulos.[32: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 601]3.7.3 Elemento subjetivo, consumação e tentativa
O elemento subjetivo é o dolo, com a consumação ocorrendo na emissão do título, independentemente de prejuízo. A forma tentada é inadmissível.[33: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 602]
3.8 FRAUDE À EXECUÇÃO
Estabelecido no art. 179 do Código Penal: “Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou danificando bens, ou simulando dívidas: Pena — detenção, de seis meses a dois anos, ou multa”.
3.8.1 Ação nuclear e sujeitos do crime
A ação criminosa é fraudar execução, o que pode ser feito de várias maneiras: a) alienando: transferir o domínio do bem a terceiro; b) desviando: ocultar o bem, de forma a subtraí-lo do pagamento da dívida; c) destruindo ou danificando bem: podendo ser realizadas com omissão, trata-se de fazer a coisa perecer; ou d) simulando dívidas: apresentar dívida inexistente como legítima. Essas condutas só efetivam o crime em tela se o sujeito passivo, ou seja, o devedor for insolvente. O sujeito passivo é o credor que tem sua garantia comprometida pela fraude do devedor.[34: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 603]
3.8.2 Elemento subjetivo, consumação e tentativa
É o dolo, sendo implícito na legislação a presença do fim de fraudar a execução, sendo necessária a ciência do devedor de que o bem é alvo de ação judicial. É possível a tentativa, sendo exigida para a consumação a comprovação de que os atos tornaram o devedor insolvente, prejudicando o credor.[35: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Vol. 2, p. 604]
BIBLIOGRAFIA
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
DOS SANTOS, Washington. Dicionário Jurídico Brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

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