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Resumo Penal IV


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Crimes contra a Administração Pública
Legislação Penal Especial
Lei de Crimes Hediondos e equiparados (Lei nº 8.072/1990)
Lei de Tortura (Lei nº 9.455/1997)
Terrorismo (Lei nº 13.260/2016) 
Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006)
Organização Criminosa (Lei nº 12.850/2013)
Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003)
Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/1997)
Lei Maria da Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006)
Crimes contra a Administração Pública
O Estado como sujeito passivo direto – titular do bem jurídico-penal lesionado
O Estado como sujeito passivo indireto - na medida em que exerce o controle social penal.
A consecução da atividade administrativa tem por finalidade o bem comum da coletividade, ou seja, o poder-dever de atuar em prol do interesse público – proteção e efetivação.
A Administração Pública é regida pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência.
Legalidade: Significa que o agente público somente pode atuar de acordo com o que estiver previsto em lei. 
Impessoalidade: denota que a conduta do agente público deva ser voltada ao bem comum, independentemente de seus interesses pessoais e convicções e, portanto, dotada de finalidade legal. 
Moralidade pública: Não se confunde com a noção de moral nas relações de natureza privada e relaciona-se à probidade administrativa, ou seja, pautada nas normas, mas também aos valores éticos estabelecidos para o bem comum.
Publicidade: parte-se da premissa de que se o bem comum é a finalidade da atuação administrativa, os atos praticados por ela deverão ser de conhecimento da coletividade.
Eficiência: é extremamente controvertido, uma vez que estabelece que a conduta do agente público deva ser a mais eficiente possível.
Logo, nos delitos contra a Administração Pública, o agente público atuando isoladamente ou em unidade de desígnios com pessoas estranhas à Administração Pública atua de forma contrária aos referidos princípios e sua conduta pode ser caracterizada como desvio de poder de modo a lesionar a probidade administrativa, na medida em que o interesse particular se sobrepõe ao interesse público.
Crimes funcionais: são aqueles praticados por funcionário público no exercício de suas funções ou em decorrência destas, podendo ser esses classificados como próprios ou impróprios (mistos).
 Crimes funcionais próprios são aqueles em que, caso não esteja presente a elementar do tipo “funcionário público”, a conduta será considerada atípica, como o delito de prevaricação. Uma vez retirada a elementar funcionário público, a conduta será atípica.
 Crimes funcionais impróprios são aqueles nos quais, uma vez excluída a elementar funcionário público, a conduta será tipificada como outro crime, como o exemplo citado no qual podemos confrontar os delitos de peculato (art. 312, CP) e apropriação indébita (art.168, CP) ou furto (art.155, CP).
A aplicação do princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Pública
No que concerne aos crimes contra a Administração Pública, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que não há que se cogitar a incidência do referido princípio para fins de exclusão da tipicidade da conduta, ainda que em alguns casos sejam atendidos os requisitos afetos à lesão patrimonial, pois, segundo o melhor entendimento, busca-se tutelar não apenas o patrimônio público, mas, principalmente, a moralidade e a probidade da Administração Pública no exercício de suas funções. Por outro lado, o Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido da possibilidade da aplicação do referido princípio (Habeas Corpus 112.388/SP; 107.638/PE; 107.370/SP; 104.286/SP; 92.634/PE).
Crimes em espécie
Dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral
PECULATO 
Peculato – Art. 312 do Código Penal: consistente na subtração de coisas pertencentes ao Estado
O delito de peculato se caracteriza como delito funcional impróprio ou misto.
Peculato uso - É importante destacar ainda duas exceções nas quais não haverá a caracterização do peculato de uso para fins de exclusão de responsabilidade penal: quando a conduta for praticada por prefeito e quando a conduta for praticada por militar, conforme entendimento majoritário na doutrina e jurisprudência.
Classificação doutrinária
Crime próprio - exige qualidade especial de seu sujeito ativo
Unissubjetivo - pode ser praticado por um único agente
De forma livre - admite qualquer meio executório
Instantâneo e plurissubsistente - seu iter criminis é fracionável , logo admite a tentativa nas modalidades
dolosas.
• Peculato apropriação (art. 312, caput, 1ª parte, CP) - Pena: reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa;
• Peculato desvio (art. 312, caput, parte final, CP) - Pena: reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa;
Configura como a apropriação de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, do qual o funcionário público tenha a posse em razão do cargo.
• Peculato furto ou impróprio (art. 312, §1º, CP) - Pena: reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa;
Conduta do funcionário público que, embora não tenha a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, para si ou para outrem, prevalecendo-se da condição de funcionário público.
• Peculato culposo (art. 312, §2º, CP) - Pena: detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano;
Configura quando o funcionário público quebra o seu dever objetivo de cuidado de modo a facilitar a prática do crime de outrem.
• Peculato mediante erro de outrem (art. 313, CP) - Pena: reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa;
Quando o funcionário público se utiliza de ardil ou fraude para a apropriação de dinheiro ou qualquer outra utilidade recebida face ao erro de outrem, ou seja, terceiro.
• Peculato eletrônico (arts. 313-A e 313-B, CP) - Pena: reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa; e detenção de 3 (três) meses a 2 (dois) anos e multa, respectivamente.
Inserção de dados falsos em sistema de informações - Se consuma quando o funcionário público, autorizado ou competente para as alterações no sistema informatizado ou banco de dados de determinado órgão público, realiza a inserção ou facilitação de inclusão de dados falsos ou a exclusão de dados corretos do sistema de dados da Administração Pública com o especial fim de agir de obtenção de vantagem indevida para si ou para outrem – ART. 313A.
Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações - o funcionário público que realiza qualquer modificação no sistema de dados da Administração Pública não necessita ser o agente autorizado ou competente para as alterações no sistema informatizado ou banco de dados de determinado órgão público – ART. 313B. 
CONCUSSÃO
O delito de concussão, previsto no art. 316 do Código Penal, descreve figura especial do delito de extorsão, caracterizando-se, portanto, como delito funcional impróprio ou misto.
Conduta do funcionário público que, em razão da função pública, exige de outrem, direta ou indiretamente, vantagem indevida.
Diferencia-se do delito de corrupção passiva, previsto no art. 317 do Código Penal, pois neste o núcleo do tipo descreve a conduta de “solicitar”, diferentemente do delito de concussão, no qual o agente “exige” para si ou para outrem a vantagem indevida, ou seja, impõe à vítima a prática de uma conduta que o beneficie, e esta cede por temor a possíveis represálias. Tem por objeto jurídico a Administração Pública e por objeto material a vantagem indevida.
A figura típica prevista no §1º do art. 316 do Código Penal (excesso de exação) somente admite como sujeito ativo o funcionário encarregado da arrecadação do tributo ou contribuição social.
O delito de concussão pode ser classificado como crime próprio, unissubjetivo, doloso, de forma livre, plurisubsitente e instantâneo.
Consuma com a conduta de exigir, para si ou para outrem, mas em razão da função, a vantagem indevida; caso esta ocorra, será caracterizada como mero exaurimento da conduta.Da mesma forma que a extorsão, o delito de concussão é plurissubsistente, logo, admite tentativa quando não ocorrer o efetivo constrangimento, ou seja, quando a vítima não se sentir coagida.
• Simples – art. 316, caput, Pena: reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos e multa.
• Excesso de exação – art. 316, §1º, Pena: reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos e multa.
• Figura qualificada – art. 316, §2º, Pena: reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa.
Caso o agente desvie a quantia (valores) após sua inclusão nos cofres públicos, o delito será caracterizado como peculato. Em outras palavras, o momento no qual os valores são desviados é imprescindível para a distinção entre os delitos de peculato e concussão qualificada. Em síntese, se o desvio for realizado antes dos valores ingressarem nos cofres públicos, a conduta será a prevista no §2º do art. 316; caso os valores sejam desviados após o recolhimento dos cofres públicos, restará caracterizado o peculato.
CORRUPÇÃO PASSIVA
Obtenção de qualquer vantagem indevida mediante um “acordo” entre as partes.
Importante destacar que a bilateralidade de condutas nem sempre ocorrerá, ou seja, haverá situações nas quais somente o funcionário público praticará infração penal e outras, somente o particular.
Art.317 do Código Penal: 
(a) solicitar vantagem indevida – a proposta emana do agente público e consuma-se independentemente da entrega da vantagem; 
(b) receber vantagem indevida – a proposta emana do terceiro e consuma-se no momento em que o agente recebe a vantagem indevida
(c) aceitar promessa de tal vantagem: neste caso, não é necessário o recebimento da vantagem. O delito restará consumado com o mero consentimento do agente público.
Nas condutas de receber vantagem indevida ou aceitar promessa de tal vantagem, haverá bilateralidade de condutas – corrupção ativa e passiva.
Classificação doutrinária
O delito de corrupção passiva classifica-se como crime próprio, formal, de forma livre, unissubjetivo, misto alternativo e instantâneo. Com relação aos crimes funcionais, caracteriza-se como crime funcional próprio.
• Corrupção passiva simples – Art. 317, caput, do CP - Pena: reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa.
• Corrupção passiva majorada – Art. 317, §1º, do CP- Pena: a pena é aumentada de um terço se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
• Corrupção passiva privilegiada – Art. 317, §1º, do CP - Pena: detenção de 3 (três) meses a um 1 (ano) ou multa.
• Confronto com o delito de concussão: a conduta prevista no delito de corrupção passiva compreende a “solicitação” do agente público sem que haja qualquer forma de constrangimento ou coação, diferentemente da conduta prevista no tipo penal de concussão.
• Confronto entre o delito de corrupção passiva privilegiada e o delito de prevaricação: neste caso, a conduta do agente público tem por motivo determinante a satisfação de interesse ou sentimento pessoal, enquanto na corrupção passiva o agente visa a obtenção de vantagem indevida.
Para fins de esclarecimentos, vejamos:
Corrupção passiva privilegiada, prevista no art.317, § 2º, do Código Penal.
Joana, delegada de polícia, negou-se a registrar ocorrência de estupro cedendo a pedido de outreom (conhecido) e sem o dolo de obtenção de vantagem indevida.
Prevaricação, prevista no art. 319 do Código Penal.
Joana, delegada de polícia, por ato voluntário, negou-se a registrar a referida ocorrência de estupro de vulnerável.
FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO - ART. 318 CP
Funcionário público que colabora ou concorre para a prática das condutas de descaminho ou contrabando praticadas por particular.
Toda a “importação ou exportação cujo ingresso ou saída do país seja absoluta ou relativamente proibida”. Por outro lado, a expressão descaminho, compreende “toda fraude empregada para iludir, total ou parcialmente, o pagamento de impostos de importação, exportação ou consumo.
Classificação doutrinária
Configura-se como delito próprio, doloso, de forma livre, unissubjetivo, instantâneo, unissubstente ou plurissubsistente e formal.
PREVARICAÇÃO - ART. 319 CP
O agente público sobrepõe seu interesse ou sentimento pessoal ao interesse público, independentemente da obtenção de qualquer vantagem indevida, na medida em que sua conduta de deixar de praticar ou retardar a prática de ato de ofício tem por motivação ou especial fim de agir a satisfação de interesse ou sentimento pessoal.
A ação nuclear contempla as condutas de retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou, ainda, praticá-lo contra disposição expressa de lei. O ato de ofício, por sua vez, caracteriza-se como objeto material do delito.
• Prevaricação própria – Art. 319 do CP - Pena : detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa
• Prevaricação imprópria – Art. 319-A do CP - Pena: detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
• Prevaricação imprópria - configura-se como a prevaricação de agente penitenciário que permite, através da quebra de seu dever funcional, que o preso tenha acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, possibilitando a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo.
Este funcionário público deve ser o responsável pelo impedimento ao acesso a aparelhos de comunicação.
• Confronto com o delito de corrupção passiva privilegiada – Art. 317, §2º, CP
Na prevaricação, o agente pratica a conduta comissiva ou omissiva visando à satisfação de interesse próprio, sem que haja qualquer pedido por parte de terceiro; no delito de corrupção passiva privilegiada, o agente público atende ao pedido ou influência de outro.
CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA - ART. 320 CP
a quebra do dever funcional pelo funcionário público se dá em decorrência da conduta de outro funcionário público, não de particular (como nos demais delitos praticados por funcionário público contra a Administração Pública).
O núcleo do tipo contempla duas condutas, a saber: 
deixar de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou deixar de comunicar o fato ao conhecimento da autoridade competente para a respectiva responsabilização.
Classificação doutrinária
Classifica-se como delito próprio, doloso, omissivo, formal, de forma livre, unissubjetivo e unissubsistente.
Não se confunde com o delito de prevaricação, pois na prevaricação a conduta omissiva do agente público visa satisfazer interesse ou sentimento pessoal próprio, enquanto no delito de condescendência criminosa a conduta do agente público tem por motivação a indulgência em relação a terceiro.
ADVOCACIA ADMINISTRATIVA - ART. 321 CP
A expressão “patrocinar” compreende as condutas de proteger, beneficiar ou defender, direta ou indiretamente, interesse privado, que pode ser legítimo ou nãO. Cabe salientar que o patrocínio pode configurar-se como mero “favor”, não sendo exigido, portanto, que o agente público receba qualquer vantagem.
Confronto com o delito de prevaricação
No delito de advocacia administrativa, o agente público não tem competência para a prática de determinado administrativo e se vale de sua função para influenciar aquele que possui a referida competência com o fim de auferir qualquer benefício a terceiro estranho à Administração Pública.
EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGALMENTE ANTECIPADO OU PROLONGADO - ART. 324 CP
(a) exoneração é perda do cargo; 
(b) remoção é a mudança do funcionário de um posto para outro, sendo mantido o cargo; 
(c) substituição é a colocação de um funcionário em local de outro;
(d) suspensão é a sanção disciplinar na qual o funcionário é afastado temporariamente de cargo ou função
Dos crimes contra a Administração Pública, praticados por particular
USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA - ART. 328 CP
conduta de exercício indevido, ou seja, a efetiva prática de ato específico de determinada função pública e, por tratar-se de delito formal, consuma-se independentementeda ocorrência de efetivo prejuízo à administração.
(a) Figura simples – art. 328, caput, CP – Pena: detenção de 3 (três) meses a 2 (dois anos) e multa; 
(b) Figura qualificada – art. 328, parágrafo único, CP – Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.
RESISTÊNCIA - ART. 329 CP
Também denominado resistência ativa, na medida em que o agente se opõe ao cumprimento de ato legal mediante o emprego de violência ou ameaça. A violência deve ser praticada durante a prática do ato legal com a finalidade de impedir sua execução. Caso seja praticada em momento anterior ou posterior à execução do referido ato legal, a conduta poderá configurar-se como outro delito, tal como lesão corporal
• Figura simples – Art. 329, caput, do CP - Pena: detenção de 2 (dois) meses a 2 (dois) anos.
• Figura qualificada – Art. 329, §1º, do CP - Pena: reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos (aplicável nos casos em que, em decorrência da ameaça ou da violência, o funcionário público não consegue praticar o ato legal de sua competência).
Por tratar-se de delito formal, se consuma no momento em que é empregada a ameaça ou a violência, não importando se o ato legal deixou de ser praticado, pois, caso isto ocorra, estaremos diante da figura qualificada prevista no §1º. Por ser delito que admite o fracionamento do iter criminis (plurissubsistente), em tese, a tentativa é admissível.
A ameaça ou a violência, não importando se o ato legal deixou de ser praticado, pois, caso isto ocorra, estaremos diante da figura qualificada prevista no §1º. Por ser delito que admite o fracionamento do iter criminis (plurissubsistente), em tese, a tentativa é admissível.
DESOBEDIÊNCIA - ART. 330 CP
Também denominado pela doutrina como resistência passiva, pois, neste delito, o agente não emprega violência ou ameaça ao se opor ao cumprimento de ato legal. É essencial para a caracterização do delito que haja o descumprimento de ordem legal por quem tem, diretamente, o dever legal de cumpri-la. Diferentemente do delito de resistência, na desobediência o objeto material do delito é a ordem legal não cumprida.
DESACATO - ART. 331 CP
Desprestigiar, humilhar ou desrespeitar o funcionário público no exercício de suas funções.
Possui como objeto material a honra funcional do agente público.
São requisitos para a configuração do delito: (a) que a conduta seja praticada na presença
do funcionário público ofendido; (b) que o funcionário público se sinta ofendido.
Figura simples – Art. 331, caput, do CP - Pena: detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos ou multa (configura-se como infração penal de menor potencial ofensivo e admite a aplicação de pena alternativa (transação penal) e suspensão condicional do .
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA - ART. 332 CP
Configura-se como tipo de ação múltipla (alternativo), podendo a conduta do agente comportar desde a solicitação até a exigência ou recebimento da vantagem indevida. Importante destacar que o elemento normativo do tipo penal “vantagem indevida” não terá, necessariamente, natureza econômica. Logo, a “vantagem indevida” se caracteriza como objeto material do delito.
Requisitos para a configuração do delito
(a) emprego de meio fraudulento, isto é, o agente se diz influente com determinado funcionário quando, na realidade, não exerce nenhum prestígio; 
(b) deve tratar-se de funcionário público
• Figura simples: Art. 332, caput, CP - Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa.
• Figura majorada: Art. 332, parágrafo único, CP - Pena: aumentada de um terço (esta causa de aumento tem por fundamento o eventual desprestígio à conduta do agente público).
CORRUPÇÃO ATIVA - ART. 333 CP
Favorecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público com o fim de determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício.
• Figura simples – Art. 333, caput, CP - Pena: reclusão de 2 (dois) a 12 (doze) anos e multa.
• Figura majorada – Art. 333, parágrafo único, CP - Pena: a pena é aumentada de um terço (para a caracterização da causa de aumento, é imprescindível que o agente pratique ato de natureza ilícita, ou seja, infrinja dever funcional).
DESCAMINHO E CONTRABANDO - ARTs. 334 E 334-A CP
Descaminho: configura-se no tipo fundamental pela conduta de iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria e o contrabando acresce a elementar normativa “mercadoria proibida”.
• Descaminho
Figura simples – Art. 334, caput, do CP - Pena: reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Figuras equiparadas ao descaminho - Art. 334, §1º, CP.
É equiparada a atividade comercial qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências - Art. 334, §2º, CP.
Figura qualificada - Art. 334, §3º, CP. 
A pena se aplica em dobro se o crime de descaminho for praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.
• Contrabando
Figura simples – Art. 334-A, caput, do CP - Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Figuras equiparadas ao contrabando - Art. 334-A, §1º, CP.
É equiparada a atividade comercial qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
Figura qualificada - Art. 334-A, §3º, CP. 
A pena se aplica em dobro se o crime de contrabando for praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.
Dos crimes contra a Administração da Justiça
DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA – ART. 339 CP
No crime de denunciação caluniosa, há a imputação de fato que configure crime ou contravenção penal a terceiro que o agente tenha ciência ser inocente, mas que em decorrência da falsa imputação gera a instauração de investigação policial, de processo judicial, de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa.
• Figura simples – Art. 339, caput, do CP - Pena: reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos e multa.
• Figura majorada – Art. 339, §1º, do CP - A pena é aumentada de sexta parte se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto.
• Figura privilegiada – Art. 339, §2º, do CP - A pena é diminuída de metade se a imputação é de prática de contravenção.
COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU CONTRAVENÇÃO - ART. 340 CP
Configura-se como infração penal de menor potencial ofensivo, cuja competência é do Juizado Especial Criminal.
Figura simples – Art. 340, caput, do CP - Pena: detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa.
AUTOACUSAÇÃO FALSA - ART. 341 CP
Nesta figura típica, o agente confessa perante a autoridade um crime inexistente ou praticado por outrem, por exemplo, por questões de relevante moral, nos casos em que um pai assume um homicídio culposo praticado por veículo automotor por seu filho maior e capaz. Estamos diante de infração penal de menor potencial ofensivo, cuja competência é do Juizado Especial Criminal. Tem
por objeto jurídico a própria administração da justiça e por objeto material a declaração falsa.
 FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA - ART. 344 CP
Caracteriza-se como tipo misto alternativo na medida em que a ação nuclear contempla três formas de conduta: (a) fazer afirmação falsa; (b) negar a verdade; ou (c) calar a verdade.
Trata-se de crime próprio e de mão própria, pois somente pode ser praticado por perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral, na condição de testemunha. Por sua vez, o sujeito passivo permanece sendo o Estado.
• Figura simples – Art. 342, caput, do CP - Pena: reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.
• Figura majorada – Art. 342, §1º, do CP - As penas aumentam-se de um sexto a um terço se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.
• A retratação do agente como causa extintiva de punibilidade – Art. 342, §2º, do CP - O fato deixa de ser punívelse, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES - ART. 345 CP
A conduta é descrita como a denominada justiça realizada pelas próprias mãos de modo a afastar, portanto, a normal administração da justiça.
Figura simples – Art. 345, caput, do Código Penal - Pena: detenção de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês ou multa, além da pena correspondente à violência.
FRAUDE PROCESSUAL - ART. 347 CP
Também conhecido como estelionato processual, a ação nuclear contempla a conduta de “inovar artificiosamente”, ou seja, mudar, substituir ou alterar artificiosamente “estado de lugar, de coisa ou de pessoa” – essa expressão, em decorrência do princípio da legalidade, o referido rol é taxativo.
• Figura simples, – Art. 347, caput, do Código Penal - Pena: detenção de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. Nesta figura, é imprescindível que já tenha sido instaurado processo administrativo ou civil ainda pendente de decisão definitiva. Caracteriza-se como infração penal de menor potencial ofensivo, conforme disposto no art. 61, da Lei nº 9.099/1995.
• Figura qualificada – Art. 347, parágrafo único, do Código Penal - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro. Neste caso, é necessário que haja elementos suficientes para a deflagração da ação penal, ainda que esta não esteja efetivamente em curso.
FAVORECIMENTO PESSOAL - ART. 348 CP
A figura típica prevista no caput do art. 348, CP, contempla um comportamento comissivo e tem por requisitos: (a) prática de crime anterior; (b) que o crime anterior seja apenado com reclusão, pois, caso seja apenado com detenção, restará caracterizado o favorecimento pessoal privilegiado (§ 1º). Para a configuração do delito, é essencial que haja efetivo auxílio prestado por terceiro com vistas a beneficiar o autor do fato típico através da impossibilidade da atuação estatal.
O auxílio é prestado ao criminoso (para sua fuga ou ocultação), e não ao crime, sob pena de configurar-se o delito de favorecimento real.
• Figura simples – Art. 348, caput, do Código Penal - Pena: detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses e multa. Configura-se como infração penal de menor potencial ofensivo, logo a competência para processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal (art. 61 da Lei nº 9.099/1995), bem como admite a suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei nº 9.099/1995
• Distinção entre favorecimento pessoal e facilitação de fuga de pessoa presa, previsto no art. 351 do Código Penal. No delito de favorecimento pessoal, o auxílio é prestado a agente que se encontre solto; já no delito previsto no art. 351 do Código Penal, a conduta se configura como auxílio prestado a alguém preso para que este logre êxito na fuga.
FAVORECIMENTO REAL - ART. 349 CP
A conduta caracteriza-se pela assistência dada ao autor do fato delitivo após a prática do crime com a finalidade de tornar seguro o proveito do crime.
• Figura simples – Art. 348, caput, do Código Penal - Pena: detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses e multa.
• Art. 349-A do Código Penal - Pena: detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano. Volta-se principalmente à segurança pública como objeto jurídico e tem por objeto material o aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar (sobre sua definição, vide o art. 60, §1º, da Lei nº 9.472/1997). Ainda, possui como elementar normativa do tipo a ausência de autorização legal. Importante destacar que não é imprescindível para sua caracterização que o aparelho seja apreendido diretamente das mãos de algum preso.
• Distinção entre favorecimento real e concurso de pessoas no delito antecedente: ao delito de favorecimento real aplica-se o mesmo raciocínio do delito de favorecimento pessoal, qual seja: o autor destes delitos não pode ter concorrido para a prática do delito anterior, sob pena de incidência do disposto no art. 29 do Código Penal, caracterizando-se, desta forma, o concurso de pessoas.
• Distinção do delito de receptação, previsto no art. 180 do Código Penal. No delito de receptação, cujo bem jurídico possui caráter individual, o agente presta auxílio com vistas a proveito próprio ou alheio, que não o do autor do delito anterior e de natureza patrimonial.
EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO - ART. 349 CP
O delito de exploração de prestígio guarda similitude com o delito de tráfico de influência, previsto no art. 332 do Código Penal, na medida em este configura espécie de tráfico de influência que recai sobre a conduta de magistrado, jurado, órgão do Ministério Público, perito ou testemunha. Possui como elemento subjetivo o dolo genérico consistente na vontade livre e consciente solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, bem como o especial fim de agir de influir na conduta de juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha (este rol é taxativo).
• Figura simples – Art. 357, caput, do C - Pena: reclusão de 1 (um) a 5 (cinco anos) e multa.
• Figura majorada – Art. 357, parágrafo único, do CP - Pena: as penas se aumentam de um terço se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo.
DESOBEDIÊNCIA A DECISÃO JUICIAL SOBRE A PERDA OU SUSPENSÃO DE DIREITO - ART. 349 CP 
• Figura simples – Art. 359, caput, do Código Penal - Pena: detenção de 3 (três) meses a 2 (dois) anos ou multa. Configura-se como infração penal de menor potencial ofensivo, logo a competência para processo e julgamento é do Juizado Especial Criminal (art. 61 da Lei nº 9.099/1995), bem como admite a suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei nº 9.099/1995. Todavia, não há que se falar em tipificação da conduta do art. 359 do Código Penal nos casos de descumprimento dos requisitos previstos para a suspensão condicional do processo, pois este terá por consequência o prosseguimento da ação penal.
RESUMO DO CAPÍTULO 
Para fins de reflexão sobre os temas estudados neste capítulo, segue abaixo sucinto resumo sobre os principais tópicos relacionados.
• Considerações gerais
Para o Direito Penal, a expressão “Administração Pública” deve ser compreendida como toda a atividade funcional do Estado, seja,
Subjetivamente: órgãos instituídos para a concreção de seus fins.
Objetivamente: atividade estatal realizada com fins de satisfação do bem comum. 
A distinção entre crimes funcionais próprios e impróprios reside nos seguintes requisitos: 
Crime funcionais são aqueles perpetrados por funcionário público no exercício de suas funções ou em decorrência destas sendo, classificados em próprios e impróprios (mistos).
Crimes funcionais próprios: são aqueles são aqueles em que caso não esteja presente a elementar do tipo “funcionário público” a conduta será considerada atípica. 
Crimes funcionais impróprios: são aqueles nos quais uma vez excluída a elementar “funcionário público” a conduta será tipificada como outro crime.
Crimes hediondos e equiparados
Política criminal de drogas
A LEI DE CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/1990
O constituinte de 1988 estabeleceu, em seu art. 5º, XLIII, que “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”.
Critérios de tipificação de crimes hediondos e equiparados pelo legislador infraconstitucional
Para a doutrina, considera-se hediondo o delito que se mostre “repugnante, asqueroso, sórdido, depravado, abjeto, horroroso, horrível”.
Seu controle de constitucionalidade
A progressão de regimes aos condenados por crimes hediondos e equipados e o conflito de direito intertemporal
Lei de Crimes Hediondos foi alterada pela Lei nº 11.464/2007, vindoa permitir a referida progressão desde que preenchidos determinados requisitos específicos, diferentes daqueles previstos na Lei de Execuções Penais (1/6 de cumprimento de pena), a saber: cumprimento de, no mínimo, 2/5 de pena se o apenado for primário, e 3/5, se reincidente.
CRIMES EQUIPARADOS A HEDIONDOS - CRIME DE TORTURA
Art.1º, I, da Lei nº 9.455/1997 - constitui crime de tortura constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, com as especiais motivações constantes nas alíneas a, b e c.
ESTATUTO DO DESARMAMENTO