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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/286458765 Manual de Criação de Capivara Chapter · January 1996 CITATIONS 9 READS 131 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Social behavior of Neotropical mammals View project Diagnóstico da Criação de Animais SIlvestres no Amazonas View project Selene SC Nogueira Universidade Estadual de Santa Cruz 68 PUBLICATIONS 419 CITATIONS SEE PROFILE Sergio Nogueira-Filho Universidade Estadual de Santa Cruz 70 PUBLICATIONS 448 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Sergio Nogueira-Filho on 20 August 2017. The user has requested enhancement of the downloaded file. CRIAÇÃO DE CAPIVARA Sérgio Luiz Gama Nogueira Filho Ed. Centro de Produções Técnicas Viçosa – MG - Brasil 1996 Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 2 Informações sobre o Autor: Sérgio Luiz Gama Nogueira Filho é Engenheiro Agrônomo, Mestre em Nutrição Animal e Pastagens pelo Departamento de Zootecnia da ESALQ/USP e Doutor em Comportamento Animal pelo Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia/USP Pesquisador Científico Responsável pelo Setor de Mamíferos Silvestres do Depto. de Zootecnia da ESALQ/USP –1988 a 1999 Professor Adjunto do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais da Universidade Estadual de Santa Cruz – Ilhéus – Bahia 1999-atual Endereço para contato: UESC - Depto. de Ciências Agrárias e Ambientais Ilhéus - BA CEP 45.650-000 Tel.: (073) 6805262 e-Mail: slgnogue@jacaranda.uesc.br 1. INTRODUÇÃO As últimas mudanças econômicas, o processo de globalização, a não disponibilidade de recursos para aplicação em tecnologia e outros fatores fizeram com que vários produtores rurais tivessem uma redução brutal em sua rentabilidade e procurassem alternativas para diversificar a produção e aumentar a renda. Por este motivo, programas de televisão e publicações especializadas dirigidos ao meio rural têm procurado colocar entre suas matérias diferentes opções para produção animal e que seriam “a solução da lavoura”, os exemplos mais recentes foram o javali e o avestruz. Apesar dos preços absurdamente elevados da carne desses animais os produtores queixam-se das pequenas margens de lucro. Em geral, nestas atividades “inovadoras” e, geralmente, apresentadas como “milagrosas” quem lucra mesmo são os poucos importadores de matrizes e reprodutores e que, geralmente, são os atravessadores que comercializam estes “produtos alternativos” e lesam os produtores controlando o mercado através de um cartel. Os principais problemas enfrentados pela maior parte das pessoas que se aventuraram nestas “produções alternativas” é o de ter que adquirir os animais para o início de seu plantel de alguns poucos importadores e de não ter como atender diretamente aos consumidores devido à dificuldades como: tamanho da produção, legislação, impostos etc. A importação de espécies animais exóticas também traz problemas sanitários como a introdução de doenças não existentes ou eliminadas de nosso país, como foi o caso da Newcastle com a importação de avestruzes ou a peste suína e a triquina que podem ser trazidas para o Brasil com a Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 4 importação do javali. Além de problemas ecológicos que podem advir da soltura desses animais no ambiente natural. Javalis podem facilmente escapar do cativeiro e cruzar com porcos domésticos alongados aumentando assim o seu potencial reprodutivo. Isto já ocorreu na Argentina, Uruguai, Austrália, Estados Unidos e alguns países asiáticos. Nestes locais estes animais são considerados pragas agrícolas e causam diversos distúrbios no meio ambiente. Para se ter uma idéia o Departamento Florestal dos EUA abatem uma média de 100.000 “feral ou pigs” javaporcos em português e não conseguem eliminar o problema. Em nosso país, existem várias espécies de animais silvestres nativos que poderiam ser uma alternativa de produção e renda para os produtores, mas para isso os produtores precisam organizar-se na forma de cooperativas e/ou associações de criadores o que possibilitaria a comercialização direta da carne e dos subprodutos com uma distribuição mais justa dos lucros dessa atividade, trazendo benefícios a todos. A capivara, por ser um animal nativo ainda abundante em várias regiões do Brasil, sendo até mesmo considerada “praga agrícola” em outras, pode-se tornar uma possível fonte de renda alternativa para os produtores rurais brasileiros, desde que sejam levadas em consideração o que apresentamos no parágrafo anterior. Além disso, por ser um animal nativo foi naturalmente selecionado para viver em várzeas e outras áreas alagadas das propriedades rurais, hoje abandonadas e consideradas marginais. Esta espécie já é adaptada ao ambiente, clima, parasitas e enfermidades de várzeas e matas tropicais e, por estes motivos, é apta a produzir sob essas condições. Atualmente, os principais compradores da “carne de caça”, são as churrascarias do tipo rodízio. Entre os estabelecimentos deste tipo existe forte concorrência e a ampliação de produtos em seu cardápio atrai um certo tipo de Produtos e subprodutos da capivara público interessado no consumo de “carnes exóticas”. Com isso a carne de capivara chega ser vendida nos grandes centros urbanos brasileiros a R$14,00/kg. E a capivara, por ser um animal herbívoro com elevados índices reprodutivos, apresenta custos de produção que permitem lucros compensadores quando comparados com os investimentos necessários desde que aplicadas técnicas adequadas na sua criação. As pesquisas que vem sendo realizadas desde 1985 no Departamento de Zootecnia, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo (CIZBAS/ESALQ/USP) em conjunto com outros Departamentos da ESALQ, Centros de Pesquisas da USP e de outras Instituições, propiciaram o desenvolvimento de técnicas adequadas para o manejo de capivaras em cativeiro e a seguir são apresentadas as principais conclusões destes estudos. Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 6 2. PRODUTOS DA CAPIVARA 2.1. Carne de capivara Algumas pessoas que consumiram a carne de animais que foram caçados ilegalmente, afirmam que a carne de capivara tem um sabor “forte”. Em geral, o animal caçado não é sangrado adequadamente e a sua esfola e evisceração é feita sem muitos cuidados, em condições precárias de higiene, ocorrendo a contaminação com o conteúdo intestinal. Além disso, o que o animal consome na natureza, como raízes de aguapé e outros tipos de capim, realmente conferem um odor não agradável a sua carne. Este odor é eliminado com a criação em cativeiro onde a capivara vai ser alimentada basicamente de gramíneas do tipo capim elefante, vai ser abatida na idade apropriada e em abatedouros onde existe controle higiênico adequado. A carne de capivara criada em cativeiro é de excelente qualidade, tanto em seu sabor, coloração quanto textura e é boa para pessoas que fazem dieta de emagrecimento ou tem controle de colesterol, por ser mais magra que a de porco ou a de boi (contém em média apenas 4,0% de gordura). Também é interessante para pessoas com grande atividade física ou em fase de crescimento, por ser rica em proteínas - possui 24,0% de proteína a mais do que a carne de porco ou a de boi. 2.2Subprodutos da capivara O couro da capivara é de excelente qualidade, porque é resistente e leve. Pode ser utilizado para diversos fins, mas seu uso atualmente concentra-se para artigos de vestuário como luvas, jaquetas, coletes e saias. Na Argentina é conhecido como Carpincho Leather e uma jaqueta feita com o couro de capivara chega a ser vendida a 720,00 dólares e um par de luvas a 80,00 dólares. Produtos e subprodutos O Brasil chegava a exportar anualmente mais de 100.000 peles de capivaras (pele é o couro antes de processado). Atualmente, os atravessadores para aumentarem ainda mais os seus lucros, abatem a capivara na mesma linha dos suínos e a pele vem sendo vendida incorporada à carcaça. Dessa forma, repassam um produto de pior qualidade para o mercado - a pele da capivara é muito dura e os consumidores vão alegar que esta é uma carne dura. O couro, entretanto, somente será efetivamente comercializado se houver uma produção razoável para garantir um fornecimento constante aos compradores. Outros subprodutos da capivara são a gordura e os dentes incisivos. A gordura subcutânea é utilizada como tônico e para o preparo de medicamentos para reumatismo, asma e bronquite. Até o momento, não existem estudos comprovando a eficácia deste produto. Os dentes incisivos são exportados para países europeus onde são utilizados em artigos de artesanato. Atualmente, uma alternativa de renda bastante interessante para o criador de capivara seria a comercialização de animais vivos, vendidos como matrizes e reprodutores. Este é um mercado que está em alta, uma vez que é crescente o número de produtores rurais interessados na criação de espécies animais alternativas e uma matriz de capivara está cotada em média a R$200,00 mas existem pessoas que pagaram R$400,00 por matriz nascida em cativeiro e já adaptada a essas condições. 2.3. Situação atual e perspectivas de mercado O produtor deve estar se perguntando: mas se eu e outros produtores começarmos a criar este animal o seu preço de mercado não irá cair no futuro e eu não terei mais lucro? Alguns dados devem ser levados em consideração para responder a esta indagação: para atender apenas a demanda pelo couro deste animal e atingir os níveis de exportação existentes antes de 1967 seria necessária a criação de Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 8 mais de 18.000 cabeças em cativeiro. Atualmente, o mercado comercializa uma média de duas toneladas da carne de capivara (aproximadamente 100 cabeças) ao mês o que não atende a demanda que é crescente e com boas perspectivas inclusive para exportação. Mas, com certeza a aplicação de técnicas adequadas e a organização dos produtores na forma de associações irá propiciar ganhos em produtividade e aproveitamento de subprodutos que irão garantir uma fonte de renda compensadora em relação aos custos de produção desta espécie. Não é nosso objetivo apresentar a capivara ou outro animal nativo brasileiro como uma solução milagrosa para enriquecer da noite para o dia estamos sim apresentando esta espécie, muitas vezes encarada como “praga”, como uma maneira de aproveitamento de áreas marginais, diversificação da produção e aumento de renda. 3. O ANIMAL A capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), é o único exemplar da família Hydrochoeridae. É uma espécie com ampla distribuição no Continente Americano e ocorria, originalmente, em todas as regiões do Brasil. É um animal muito dócil e adapta-se facilmente às condições de cativeiro. O animal adulto tem de 1,00 a 1,20 m de comprimento, 0,50 a 0,60 m de altura e chega a pesar até 100 kg quando adulto. Seus membros são curtos em relação ao volume corporal. As patas anteriores têm quatro e as posteriores três dedos, todos unidos entre si através de membranas natatórias e são dotados de unhas fortes e grossas. As orelhas são pequenas, sem pêlos e muito móveis e, como os olhos e orifícios nasais, estão situadas na parte superior da cabeça em um mesmo plano, resultado da adaptação à vida aquática. Não tem rabo e não conseguimos distinguir visualmente o sexo dos animais. Para fazer a sexagem é preciso a contenção do animal e exteriorização dos órgão sexuais Reprodução que são internos e recobertos por um prega, mas existe uma dica: em geral, no focinho dos machos dominantes adultos desenvolve-se uma glândula sebácea, que pode atingir até 10 cm de tamanho e consiste em numerosas células secretoras de um líquido branco e pegajoso que serve para marcação de território e dos indivíduos do seu bando. Geralmente, permanece próxima dos corpos de água como rios, açudes e lagos de onde não se distancia mais do que 500 metros para pastar. É considerado um animal semi-aquático, o que não significa que passa o dia todo na água. Em geral, quando não existe pressão de caça ou de predadores naturais a capivara tem hábito diurno, descansa na mata nas horas mais quentes do dia e pasta ao entardecer quando também gosta de nadar. Quando há caça torna-se um animal noturno, só saindo de seu abrigo na mata para pastar após escurecer. 4. COMPORTAMENTO E MANEJO Na natureza a capivara vive em grupos familiares compostos de 2 até 40 animais, mas em média cada grupo tem de 7 a 10 animais. O grupo está estruturado da seguinte forma: um bloco central de fêmeas com seus filhotes, os machos na periferia guardando o grupo e o macho dominante em alerta contra a entrada de qualquer indivíduo estranho ao grupo. Os machos subordinados muitas vezes mudam de grupos. Os filhotes estão sempre integrados ao grupo, pois são a eles que todos os animais do grupo defendem e são os mais procurados pelos predadores. Em condições de abundância de pasto, com água e abrigos, as capivaras jovens chegam a formar novos grupos estabelecendo-se então uma nova família. Geralmente, tanto os machos como as fêmeas de capivaras chegam à puberdade entre os 10 e 12 meses de vida constituindo novos grupos Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 10 familiares ficando poucos indivíduos com o grupo familiar inicial. Neste momento, chegam a ocorrer brigas e até mesmo mortes entre os indivíduos mais jovens e este é um dos motivos para o estabelecimento da idade de abate dos animais comerciais para no máximo em torno dos 12 meses de vida para as criações nas quais os filhotes são criados junto com os adultos. A amamentação dos filhotes é feita de maneira comunitária, os filhotes mamam em todas as fêmeas recém-paridas. Estes filhotes consomem forrageiras e mamam desde que nascem, e dependem do leite materno por um período de apenas cinco semanas. Está entre os filhotes recém-nascidos a maior taxa de mortalidade entre os indivíduos do grupo. Nos primeiros três anos da criação experimental de capivaras na ESALQ/USP a taxa de mortalidade dos filhotes até o desmame chegou a ser de 30% em virtude do desconhecimento de algumas características e exigências destes animais, mas estes problemas foram solucionados através de técnicas de manejo hoje conhecidas e difundidas. Hoje considera-se aceitável uma taxa de mortalidade dos filhotes até o desmame de no máximo 10% . A capivara tem um forte sentido de territorialidade e apresenta algumas características comportamentais singulares. Por estes motivos, os estudos de comportamento são de vital importância para o manejo da capivara, quer seja em condições naturais ou em cativeiro. Dessa forma, foram estabelecidas técnicas próprias para o manejo desta espécie, a partir do conhecimento prático obtido nos anos de manejo desta espécie em cativeiro na ESALQ/USP, que pode ser resumida em uma regra básica: NÃO SE MANEJA A CAPIVARA INDIVIDUALMENTE MAS SIM EM GRUPOS FAMILIARES. Reprodução A partir do respeito desta premissa básica serão obtidos resultados satisfatóriosno processo de criação destes animais desde que também tenhamos atendidas às suas exigências comportamentais quanto ao local da instalação do criadouro. Em qualquer sistema de manejo empregado (intensivo, semi-intensivo ou extensivo) a capivara necessita de três componentes básicos em seu ambiente: água, área de exercício e abrigo. A disponibilidade de corpos de água com áreas de pastoreio e árvores e/ou arbustos para se abrigar, que no cativeiro podem ser substituídos por coberturas artificiais, constituem o território ideal para que o grupo viva e se reproduza. 5. REPRODUÇÃO O período de gestação da capivara é de 150 dias e as fêmeas podem dar à luz de um a oito filhotes por parição. Os filhotes nascem com 1,5 a 2,0 kg e de 15 a 20 dias após a parição a fêmea, mesmo amamentando, pode entrar no cio novamente e ser fecundada pelo macho. Deste modo, podem ocorrer até duas parições por ano, ou seja, uma matriz de capivara tem o potencial de produzir até 16 filhotes por ano mas, atualmente, podemos calcular por dados reais obtidos na ESALQ/USP, que uma matriz de capivara produz em média 5,40 filhotes desmamados ao ano (dado baseado em média de 4 filhotes por parição, no fato de que em média metade das fêmeas reproduzem duas vezes ao ano e em uma taxa de mortalidade de 10 % dos filhotes até o desmame). Portanto, atualmente estamos aproveitando em torno de 30% do potencial reprodutivo deste animal. Este índice pode ser aumentado no futuro através dos processos de seleção e melhoramento animal. As fêmeas podem entrar em reprodução a partir do primeiro ano de vida e podem ser utilizadas até os seis ou oito anos de vida, quando então aumenta o Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 12 intervalo entre partos e diminui o número de filhotes nascidos por parto. Os machos reprodutores devem ser descartados em torno dos sete a oito anos de vida. Outro dado importante obtido em cativeiro é que, apesar de termos registro de nascimentos em todos os meses do ano, a capivara apresenta uma estação de monta bem definida nos meses de maio a julho, que resulta em uma concentração maior de nascimentos de filhotes, na ordem de 70% das parições, na época das chuvas cinco meses após - nos meses de novembro a janeiro no criadouro da ESALQ/USP localizado em Piracicaba - SP. Alimentação e nutrição 6. IDADE DE ABATE E CASTRAÇÃO Para o produtor rural é mais interessante abater a capivara com peso de 20 kg em torno de seis meses de idade por vários fatores: (a) facilidade na comercialização direta para os consumidores que dão preferência a carcaças menores; (b) menores gastos com alimentação porque até atingir este patamar de 20 kg com 6 meses, o crescimento é acelerado e alta eficiência alimentar (em média precisa ingerir 5 kg de alimento - em matéria seca - para ganhar 1 kg de peso vivo) a partir deste peso e idade o ganho de peso torna-se menos acelerado e a eficiência alimentar piora; (c) pele de melhor qualidade, apesar do tamanho menor, não tem cicatrizes porque, até esta idade, os filhotes não sofrem nenhuma agressão por parte dos adultos; (d) não há necessidade de locais específicos para engorda dos filhotes, uma vez que mesmo em áreas de manejo intensivo estes podem permanecer junto aos adultos (desde que em áreas de tamanho compatível, como comentado posteriormente). Caso o produtor queira comercializar animais com pesos entre 35 e 40 kg que vão atingir entre os 12 e 18 meses de vida, dependendo da alimentação fornecida, ele deve apartar estes filhotes aos seis meses de vida e terminá-los em piquetes separados. Quanto à castração os estudos realizados na ESALQ/USP mostraram que não há necessidade deste procedimento uma vez que machos inteiros e castrados apresentaram índices de crescimento semelhantes e a análise sensorial da carne, feita com degustadores, indicou que estes não sentiram diferença nas características organolépticas quando consumiram carne de animal inteiro ou castrado. 7. ALIMENTAÇÃO EM CATIVEIRO Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 14 Em cativeiro a sua alimentação deve ser composta fundamentalmente de uma forragem de boa qualidade, levando-se em conta que é um animal herbívoro com alta seletividade de pastoreio. Um aspecto da fisiologia digestiva da capivara, descrito na ESALQ/USP, é que o alimento passa duas vezes pelo trato digestivo do animal como acontece com o coelho, ou seja, ela faz a cecotrofia. Este é um processo no qual a capivara, principalmente, no período da manhã coloca a sua boca no ânus e lambe o material, denominado cecotrofe, que é eliminado através de contrações específicas. O cecotrofe vai passar novamente pelo trato digestivo permitindo uma nova digestão e absorção dos nutrientes do alimento fornecido. Além disso, este material é rico em microrganismos que vão fornecer um suprimento extra de proteína e vitaminas do complexo B à capivara. Um problema na criação destes animais é a sua alimentação em épocas de seca, uma vez que estas forrageiras somente vão produzir adequadamente nas épocas das águas (consegue-se 4 a 5 cortes no verão e apenas um no inverno). A capivara precisa ser treinada para o consumo de silagem e o feno. Uma alternativa seria a utilização do rolão-de-milho (que é a espiga de milho moída inteira com sabugo e palha) misturado com sal mineralizado (na proporção de 1%) para melhorar a palatabilidade. Para a alimentação dos filhotes em crescimento os melhores resultados foram obtidos quando houve o fornecimento de alimento concentrado (com 13% a 15% de proteína bruta e 4,00 kcal/g de energia bruta), na ordem de 40% do consumo voluntário diário dos animais, ou seja, na ordem de 200 a 300 gramas de ração por dia. A ração a ser utilizada pode ser preparada na propriedade e é composta por rolão-de-milho, farelo de soja e farelo de trigo. Ou então, pode ser comprada pronta em cooperativas ou casas de produtos agropecuários. Neste caso, Alimentação e nutrição utiliza-se a ração de coelhos (mais cara e poderia ser destinada somente para filhotes) ou a ração de terminação para suínos. Pode ser fornecida farelada ou peletizada em cochos abrigados da chuva. Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 16 8. SISTEMAS DE CRIAÇÃO 8.1. Manejo extensivo Fatores como a disponibilidade de área, matrizes e reprodutores, forrageiras, água e vegetação arbórea e/ou arbustiva, devem ser levados em conta na hora da escolha dos diferentes sistemas de criação que podem ser utilizados para o manejo de capivaras. Caso já ocorra na propriedade um grande grupo de capivaras em uma grande área contendo pastagem nativa, mata e lagoa ou açude, o produtor poderia aproveitar este local para o seu cercamento (vide detalhes da cerca no item sistema semi-intensivo) e condução da criação em sistema de produção extensivo. Para isso, seria necessária a construção de cevas (vide descrição no item sistema semi-intensivo) para a captura dos animais. O principal problema deste tipo de manejo é que as capivaras podem provocar uma rápida degradação do pasto, por seu hábito seletivo de pastejo, consumindo principalmente a rebrota e haverá a necessidade de vedar algumas áreas para fazer a sua reforma ou fazer o piqueteamento da área com cercas elétricas e promover a rotação do pastejo. 8.2. Sistema semi-intensivo 8.2.1. Instalações para sistema semi-intensivo No caso da criação de capivaras adotamos o termo “semi-intensivo” para denominar um sistema de produção no qual são cercadas áreas das propriedades agrícolas que tenham um lago ou açude com superfície de pelo menos 400 m2 e vegetação arbórea e/ou arbustiva. A alimentação, variedades de capim elefante, é plantada em uma área externa à da criação e fornecida diariamenteaos animais. Isto é feito porque os animais confinados rapidamente consumirão as forrageiras existentes nestes Sistemas de criação locais e, portanto, não é possível contar com estas gramíneas para alimentação das capivaras. Este tipo de produção é denominado de sistema semi-intensivo porque são aplicadas poucas práticas de manejo em relação aos animais e que se resumem basicamente no fornecimento diário do alimento e retirada dos animais comerciais para o abate. A maior parte das criações comerciais de capivaras seguem o sistema de manejo onde são cercadas áreas de um a quatro hectares (10.000 a 40.000 m2) como as descritas acima. O cercamento é feito com tela de alambrado deve ter malha de 2,5 a 3,0 polegadas, 1,50 m de altura e é feita com arame galvanizado fio 10 ou 12. Nessas áreas, são introduzidos e mantidos os animais reprodutores e também é onde ocorre o nascimento, o crescimento e a engorda dos filhotes nascidos na criação. A água do açude ou lago existente dentro do criadouro deve ser de boa qualidade e perene. Preferencialmente, proveniente de nascentes localizadas dentro da propriedade, isenta de impurezas e produtos químicos o que permite ser consumida diretamente pelos animais. Pode-se associar a criação de capivaras com piscicultura, com aquelas espécies de peixes menos exigentes quanto à qualidade da água como tilápia e carpa. Caso em elevada densidade deve-se construir bebedouros para os animais consumirem água limpa sem contaminação com fezes. Na área de criação é necessário construir um ou mais locais denominados cevas. Elas têm de 10 a 100 m2 e são cercadas com tela de alambrado de 1,70 m de altura e malha de 2,5 polegadas e dotadas com portas do tipo guilhotina. Na ceva é fornecido o sal mineralizado, milho em grão em cochos cobertos e isto faz com que as capivaras se habituem a frequentar o local o que permite uma maior facilidade para a captura. O número de cevas e o seu tamanho Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 18 depende do número de animais da criação e por sua vez este número vai depender do tamanho da área e da capacidade de produção de alimento (capim) para os animais aí confinados. Ainda não existem estudos mostrando qual a densidade adequada para a criação desta espécie neste tipo de manejo. 8.2.2. Manejo em sistema semi-intensivo Um grupo familiar composto por um macho e cinco a nove fêmeas, é introduzido no local e a medida que ocorrem os nascimentos de filhotes nesta área são registradas as datas e os filhotes são marcados e sexados aproximadamente 60 dias após o nascimento. Os filhotes crescerão junto com os adultos até atingirem o tamanho/idade de 20 kg/06 meses ou no máximo até os oito ou dez meses de vida quando os filhotes machos passam a receber agressões do macho dominante quando então serão destinados para abate ou formação de novos grupos de reprodução. Caso a densidade seja muito elevada pode-se optar pela separação dos filhotes machos, aos noventa dias de vida, para um piquete à parte para que eles possam se desenvolver mais rapidamente sem competição com os adultos. Os filhotes fêmeas devem ser mantidos com os adultos para o caso de haver a necessidade de repor alguma matriz. Desta forma, ela poderá ser selecionada entre as que apresentarem melhor desenvolvimento e, por já pertencer ao grupo, não apresentará dificuldade para sua incorporação. A princípio, não precisamos nos preocupar com a endogamia ou consagüinidade, uma vez que são animais silvestres que apresentam elevada variabilidade genética e conseqüentemente menor probabilidade de aparecerem fatores deletérios devido ao cruzamento de pai com filhas, mas Sistemas de criação depois de três gerações em cativeiro é interessante realizar a troca dos machos reprodutores. 8.2.3. Manejo alimentar Como o custo de cercar com tela de alambrado é o principal gasto para o estabelecimento da criação de capivaras no sistema semi-intensivo, é economicamente mais interessante cercar apenas uma pequena área em volta de uma lagoa ou açude (5 a 20 m de margem) e o plantio de uma forrageira de alta produtividade fora da área do criadouro realizando-se o corte e fornecimento diariamente. A preferência tem sido pelo capim elefante (Napier ou Camerom) cortados em intervalos de 60 dias na estação das águas. Durante a estação seca, devido à menor produtividade deste capim, pode-se realizar o fornecimento intercalado com cana-de-açúcar, rolão-de-milho ou ração. O volumoso deve ser fornecido diariamente na proporção de 4,0 a 5,0 kg por animal adulto e de 1,0 a 2,0 kg por filhote. Pode ser fornecido inteiro (dependurado em feixes em árvores ou jogado ao chão) ou picado (nos cochos), de preferência ao final da tarde quando as capivaras realizam maior consumo e o capim vai murchar menos. Os cochos (0,30mX0,30mX1,20m), preferencialmente dois ou mais, devem ser colocados no interior e em volta da ceva e ter o fundo com bordas arredondadas para facilitar a limpeza. Cada comedouro destes seria suficiente para alimentar de quatro a cinco capivaras. Os cochos de volumosos podem ficar expostos ao tempo, mas os de concentrado e de sal mineralizado devem ter uma pequena cobertura, que não precisa ter mais de um metro de altura, para evitar que a chuva molhe estes alimentos. Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 20 Na ceva deve-se colocar sal mineralizado e em dias alternados milho em grão ou ração para fazer com que os animais a freqüentem habitualmente e assim possibilitar a sua captura quando esta se fizer necessária. 8.3. Sistema intensivo 8.3.1. Instalações para sistema intensivo Existem várias práticas empíricas a respeito das necessidades de instalações para capivara em cativeiro. Porém, os resultados de mais de 10 anos de pesquisas com manejo de animais silvestres permitiu a ESALQ/USP desenvolver um sistema próprio de criação de capivaras em manejo intensivo que, devido às suas características, torna viável a sua produção em pequenas propriedades rurais, porque reduz gastos com instalações e mão-de-obra permitindo um melhor retorno financeiro principalmente se esta criação estiver integrada às demais atividades da propriedade. A experiência de criação intensiva de capivaras na ESALQ/USP mostrou que não há necessidade de separação das fêmeas para parir quando são montados grupos de fêmeas aparentadas. Neste caso, os filhotes são tolerados pelo grupo chegando até mesmo a ocorrer a amamentação coletiva que é observada na natureza. Além disso, em torno de 20 dias após o parto a fêmea, mesmo amamentando, pode entrar no cio novamente e, estando junto do grupo, poderá ser fecundada pelo macho. Desta forma, é possível reduzir o intervalo entre partos e aumentar o número de filhotes produzidos por matriz. Neste sistema de criação uma família de animais reprodutores, composta por um macho e até oito fêmeas, é mantida em uma pequena área cercada de 350 a 400 m2. Esta área deve conter: um tanque, comedouros, bebedouro e área coberta. O tanque é essencial para a capivara controlar sua temperatura corporal, tomar banho, realizar a cópula e a sua higiene. A cópula pode ocorrer fora da Sistemas de criação água mas como chegam a ocorrer de 10 a 14 acasalamentos seguidos, a água vai propiciar maior conforto por reduzir o peso corporal do macho. Um pequeno lago ou açude já existente na propriedade pode substituir este tanque, mas caso este precise ser construído deve ter em torno de pelo menos 20 m2 de superfície (4mX5m), a profundidade máxima não precisa ultrapassar os 0,80 m, com pelo menos um dos lados com rampas de declive suave para que os filhotes possam entrar e sair sem problemas e para que as fêmeas possam ficar com a cabeça para forad’água no momento da cópula. Este tanque deve ser revestido com alvenaria de tijolo ou com concreto. No fundo deve ser colocado um dreno, para facilitar as operações de limpeza. O dreno está ligado à um registro que dá acesso ao esgoto, por gravidade. O suprimento de água é feito por uma torneira, que alimenta um pequeno bebedouro (0,30mX0,30mX0,30m), de onde a água cai no tanque. A água fornecida deve ser de boa qualidade, não podendo ser poluída ou contaminada. É necessária uma área coberta, para que os animais possam se abrigar do sol mais forte, composta por árvores já existentes ou a serem introduzidas. As melhores árvores são aquelas bem frondosas como mangueira, chapéu-de-sol e falsa seringueira, como a capivara pode roer os troncos é importante cercá-los. Uma alternativa são abrigos artificiais, na forma de pequenas coberturas com pelo menos 40 m2, feitos com sombrite, telhas de cimento amianto ou aproveitando-se material da propriedade como telhas de barro velhas e mesmo o sapé. Os cochos (0,30mX0,30mX1,20m), preferencialmente dois ou mais, devem ser espalhados no criadouro e ter o fundo com bordas arredondadas para facilitar a limpeza. Cada cocho destes seria suficiente para alimentar de quatro a cinco capivaras. A área de criação pode ser cercada com tela de alambrado feita com arame galvanizado (fio 12), com pelo menos 1,50 m de altura e Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 22 malha de duas e meia polegadas, para evitar que machos de baias vizinhas possam se ferir quando entram em disputas. Esta tela é sustentada por postes de concreto ou madeira distanciados 2,5 m um do outro. Seria interessante ter pelo menos uma outra área cercada de 50 a 100 m2 para permitir o isolamento de um animal doente ou apartação de uma ou mais ninhadas que tenham nascido muito antes ou muito depois do restante dos filhotes, para evitar competições entre animais de pesos muito diferentes o que pode ser prejudicial para o grupo como um todo. Animais debilitados, por não conseguirem se alimentar adequadamente, podem ser a “porta” para a entrada de doenças. Esta área deve conter abrigo, comedouro e bebedouro mas o tanque pode ser substituído por uma ou mais banheiras velhas enterradas. 8.3.2. Manejo em sistema intensivo As fêmeas introduzidas em cada um dos piquetes de reprodução devem pertencer a um mesmo grupo familiar para evitar brigas e a ocorrência de infanticídios. O macho pode ser de uma procedência diferente, o que vai permitir a troca de material genético de populações distintas. Caso se utilize de fêmeas capturadas na natureza, seria interessante obter um macho adulto nascido em um outro criadouro, porque como ele já está acostumado às condições do cativeiro e como são os machos quem coordenam as ações dos grupos de capivara, haverá uma maior facilidade no amansamento das fêmeas selvagens. Um detalhe importante é a introdução do macho antes das fêmeas, para que ele possa marcar o local como seu território e assim terá maior chance de impor a sua dominância em relação às fêmeas. Os filhotes nascidos no piquete de reprodução vão permanecer com o grupo até atingirem o peso de abate que, para estas condições, recomendamos que Sistemas de criação seja de 20 kg, com seis meses de vida. Caso haja interesse em atingir um peso maior é preciso apartá-los, para a baia reserva descrita anteriormente, pelo menos os filhotes machos com o objetivo de evitar conflitos com o macho reprodutor. Em torno dos 60 dias de vida é feita a sexagem e marcação dos filhotes. O sistema de marcação normalmente empregado é o de marcação das orelhas, com um alicate apropriado (usado para marcar suínos), seguindo-se um código, cada pique do alicate em determinada localização tem um valor. A ESALQ/USP utiliza o seguinte sistema para a marcação das capivaras, tomando o cuidado de não fazer mais do que dois piques na parte superior das orelhas: cada pique na parte superior da orelha direita vale o número 3; nesta mesma posição na orelha esquerda vale 30; na parte inferior da orelha direita cada pique vale o número 1; nesta mesma posição na orelha esquerda vale 10; na ponta da orelha direita o pique vale 100 e na ponta da orelha esquerda ele vale 200. O uso de brincos, tatuagens e marcações a ferro quente ou nitrogênio líquido não se mostraram eficientes. Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 24 9. LEGISLAÇÃO De acordo com a atual legislação brasileira (Lei de Proteção à Fauna de 03 de janeiro de 1967) a capivara por ser um animal silvestre brasileiro pertence ao Estado e atualmente é o IBAMA que regulamenta a sua exploração econômica através de Portarias. Desde a captura, transporte, comercialização de animais vivos e da carne e subprodutos, enfim todos os processos referentes a animais silvestres passam pelo controle do IBAMA. Para o registro de uma criação comercial de animais silvestres e consequentemente de capivaras está em vigor as exigências e especificações estabelecidas pela Portaria 118-N do IBAMA, que estabelece a necessidade de um responsável técnico, devidamente habilitado, com termo ou contrato de trabalho de acompanhamento e responsabilidade pelas informações e a orientação técnica do empreendimento. As demais exigências dessa Portaria são transcrita a seguir: Obtenção do plantel inicial 10. COMO OBTER ANIMAIS PARA INCIAR A CRIAÇÃO Os animais que vão compor o plantel inicial do criadouro depois das instalações já terem sido vistoriadas e aprovadas pelo IBAMA podem ser obtidos de outros criadores. Havendo grupos de capivaras na propriedade ou próximos à área do criadouro há a possibilidade de solicitação de uma autorização para a captura destes animais para iniciar a criação. Principalmente, se estes animais estiverem causando prejuízos à atividade agrícola, consumindo milho, arroz e cana-de-açúcar ou mesmo competindo com o gado por pastagem. Para isto, deve-se encaminhar um ofício para o IBAMA descrevendo a situação em que estes animais se encontram junto com uma carta do proprietário autorizando esta captura em suas terras. Fiscais do IBAMA devem ir a este local e, ao confirmarem esta situação, fornecerão uma “Guia de Captura”. A melhor maneira de realizar esta captura é através da construção de uma ceva para se ter a garantia de captura indivíduos de apenas um grupo. Uma vez que, com o uso de armadilhas, pega-se apenas um pequeno número de animais (um ou dois) cada vez em dias alternados e é possível que sejam de grupos diferentes. A época da seca é a melhor para esta captura uma vez que os animais têm pouco alimento para consumir e vão ser atraídos mais facilmente para o interior da ceva com milho em espiga, sal, folhas de palmeira etc. A ceva deve ser localizada em um local que permita o fácil acesso de caminhão ou pelo menos de um trator com carreta. Não deve ficar mais do que 50 a 100 m da água ou da mata em que a capivara se refugia. Pode ser construída com paliçada de madeira com 1,5 m ou tela de alambrado muito bem esticada (com 1,70 m de altura, de malha de 2,5 polegadas e fio 12 ou 10) sustentada por mourões de concreto ou madeira espaçados a cada 2,50 m e a Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 26 tela deve ser presa ao chão com estacas para evitar que as capivaras fujam por baixo. Deve ter uma ou duas portas do tipo guilhotina que vão ser acionadas por um observador localizado em um jirau próximo à ceva. A presença deste observador é importante porque é comum capturarmos apenas um pequeno número de animais quando se deixa um sistema de acionamento automático. Abate 11. O ABATE O abate de animais silvestres e a comercialização de seus produtos e subprodutos só podem ser feitos a partir de animais criadosem cativeiro e em criadouros registrados no IBAMA e deve seguri as regulamentações estabelecidas pela Portaria 177-N deste órgão governamental. Caso seja para consumo próprio o criador pode ele mesmo fazer este abate e comunicar o fato ao IBAMA quando do relatório anual mas, caso haja interesse na comercialização da carne, couro etc., há necessidade de que o abate seja feito em um frigorífico com fiscalização sanitária Municipal, Estadual (SISP) ou Federal (SIF). Como qualquer animal, deve-se manter a capivara que vai ser abatida em jejum de alimento sólido por um período de pelo menos 24 horas e por um jejum hídrico de pelo menos 12 horas. Passado este período a sequência de abate é iniciada com o atordoamento do animal com choque elétrico e/ou uma pancada na cabeça seguida de sangria. Após a morte, é feita a evisceração seguida da esfola, caso se queira aproveitar o couro, tomando-se cuidado para não furar o couro principalmente na região lombar onde a pele é bastante grudada com a carne. Se o abate for feito na mesma linha de abate de suínos e caso não se queira retirar a pele, escalda-se o animal antes da evisceração e raspam-se os pêlos. A carcaça deve ser dividida em duas caso seja comercializada para restaurantes ou dividida em pedaços menores para comercialização direta para o consumidor em pernil dianteiro (paleta), costelas, carré (lombo com osso) e pernil traseiro. Deve ser resfriada por pelo menos 12 horas e posteriormente embalada e congelada. Para ser comercializada leva o carimbo do serviço de inspeção (SISP ou SIF) e um carimbo com o número de registro do produtor junto ao IBAMA. Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 28 A pele pode ser armazenada em congelador ou pode ser salgada. Quando salgada deve ser mantida em local ventilado e protegido do sol, em piso cimentado, colocando-se sal no chão a seguir a primeira pele com o “carnal” voltado para cima, sal (em torno de 2 kg por pele), outra pele, sal e assim por diante até formar uma pilha com até 10 peles sobrepostas, cobre-se com lona fumiga-se e retira-se a lona após 72 horas; podem ser armazenadas nestas condições por até três meses, quando então devem ser enviadas para curtumes para serem processadas adequadamente. A segui são apresentadas as exigências da Portaria 117-N do IBAMA para a comercialização dos produtos e subprodutos de animais silvestres. Equipamentos 12. EQUIPAMENTOS As exigências quanto aos equipamentos necessários para a criação de capivaras variam de acordo com o número de animais. Essencialmente, são necessárias uma ou mais gaiolas para transporte, puçás e cambão. Em criações maiores torna-se interessante ter balanças (que suportem pelo menos 200 kg) e ao menos uma gaiola de contenção, igual a uma gaiola de transporte, só que feita de metal e com uma das paredes móveis, de tal maneira que se possa prensar o animal e fazer o tratamento necessário. Já existem no mercado gaiolas de contenção para cachorros grandes, feitas de materiais leves e resistentes e que podem ser utilizadas para capivaras. As gaiolas de transporte podem ser feitas de madeira ou metal e tela de alambrado. São estruturas simples com portas do tipo guilhotina e com o cuidado de terem alças retrateis para poder carregar os animais sem o risco de levar uma mordida. O puçá nada mais é do que uma estrutura de metal circular com 0,60 m de diâmetro, soldada em um cano de ferro de uma polegada com 1,50 m de comprimento. Costuram-se dois sacos de farelo de soja (um dentro do outro) no aro e está pronto o puçá para o manejo de filhotes de capivara. Caso não seja possível a compra de uma gaiola de contenção uma alternativa para o manejo dos animais adultos é o uso do cambão que nada mais é do que um laço feito com cabo de aço, com a diferença de ter uma barra de metal que auxilia a manter o animal longe de quem estiver fazendo o manejo. É um equipamento bastante semelhante ao utilizado para o manejo de cachaços em suinocultura com a diferença que vai ser passado em volta do pescoço e não na boca do animal. É feito com cabo de aço ou corda com 2,0 m de comprimento e barra de ferro de ¾ de polegada com 1,50 m de Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 30 comprimento. Fixa-se uma das extremidades do cabo de aço no cano de metal, passe-se o cabo de aço por uma mangueira de borracha fina de 0,40 m de comprimento, com o objetivo de não ferir a capivara, e o restante passa-se por dentro do cano de ferro. Na outra extremidade do cabo coloca-se um pedaço de 0,20 m de madeira ou cano de PVC de ½ polegada para servir de apoio para puxar o cabo de aço. O uso do cambão é difícil e exige prática: para a contenção de uma capivara de 80 kg chegam a ser necessários até quatro homens. Receitas 13. MANEJO SANITÁRIO A capivara é um animal rústico e bastante resistente. No entanto, quando em cativeiro trabalhamos com densidades mais elevadas, consequentemente, temos que nos preocupar com a prevenção de algumas enfermidades que podem acometer estes animais. No manejo intensivo adotamos medidas profiláticas para evitar maiores problemas sanitários, como a troca total da água e limpeza semanal dos tanques, além da varrição e retirada diária das fezes é exatamente no elevado custo destas operações (associado com o das instalações) que encarece este tipo de produção. Continuamente estamos observando o estado geral dos animais e das instalações. Caso notado algum problema o criador deve isolar o animal doente e contatar um veterinário para prescrever a medicação adequada. Nestas condições, os animais são bastante suscetíveis às verminoses e também às infestações por carrapatos. Os produtos e as dosagens para o controle destes endo e ectoparasitos devem ser prescritos por um veterinário. Nos sistemas de produçao semi-intensivo ou extensivo, quase não temos que nos preocupar com aspectos sanitários. Apenas fazemos vermifugações periódicas (na entrada e na saída da estação das águas), e observamos continuamente o estado geral dos animais para detectar a ocorrência de ferimentos decorrentes de alguma briga provocada por falhas no manejo alimentar (necessidade de aumento do número de cochos ou mesmo construir novas cevas. Criação comercial de capivaras - Sérgio Nogueira Filho 32 14. LITERATURA CONSULTADA Azcarate-Bang, T. Sociobiologia y manejo del capibara. Doñana Acta Vertebrata, 7: 1-228. 1980. Frasson, C. & Jocelem Mastrodi Salgado. Capivara - Uma opção contra a fome e a deficiência de proteína animal. in: Anais Interface NutriçãoXAgricultura (2o Simpósio). 1990. González-Jiménez, E. Digestive physiology and feeding of capybaras in Diets, culture and media. Feeds Suplements. Handbook of Nutrition and Food. Ed.M.Rechcigl. C.R.C. Press. E.U.A. 1977. Jiménez, E.G. El capibara - Estado atual de su producción. Estudio FAO Produccion Y Sanidad Animal. Roma. 1995. Ojasti, J. Human explotation of capybara in Neotropical wildilife use and conservation. Ed. J.Q.Robinson & K.H. Redford. University of Chicago Press. 1991. Sosa Burgos, L. Comportamiento social del chiguire en relacion con su manejo en cautiverio. Tese de graduação. Fac. Ciências U.C.V. Venezuela. Caracas. 120 p. Mimeo. 1980. View publication statsView publication stats
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