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PROJETO EXECUTIVO COMPATIBILIZAÇÃO DE PROJETOS 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 Conceitos básicos de gestão da produção de projeto ............................................. 4 3 Importância do planejamento e controle de projetos ............................................ 9 4 Hierarquização do planejamento e controle de projetos ...................................... 10 5 Sequenciamento de atividades ............................................................................ 12 6 Compatibilização e representação de projetos ..................................................... 15 7 Compatibilidade entre sistemas construtivos ....................................................... 17 8 Funcionalidade dos sistemas construtivos ........................................................... 19 9 Exequibilidade ..................................................................................................... 20 10 Desenvolvimento de projetos para a produção ................................................. 21 11 Impacto do projeto quanto à segurança do trabalho e saúde ocupacional ......... 23 12 Normas e procedimentos técnicos ..................................................................... 25 13 Ferramentas computacionais ............................................................................ 26 14 Recapitulando ................................................................................................... 28 15 Referências ....................................................................................................... 30 3 1 INTRODUÇÃO Olá, professor(a)! Este livro tem por objetivo auxiliá-lo(a) com os conteúdos programáticos da Unidade Curricular Projeto Executivo / Compatibilização de Projetos. Trabalharemos aqui, de forma sucinta, os aspectos relacionados à gestão do processo de projeto de edificações em relação ao seu planejamento, gerenciamento e controle, além, é claro, da compatibilização dos projetos. Este material deverá atuar como uma preparação prévia ao docente que pleiteia lecionar esta unidade curricular, funcionando, pois, como um norteador do processo de facilitação do conhecimento e aprendizagem de seus alunos. Nas páginas seguintes, de forma didática, elucidaremos os quesitos citados acima no intuito de facilitar o seu trabalho. 4 2 Conceitos básicos de gestão da produção de projeto Inicialmente faz-se necessária a definição de alguns termos que serão abordados daqui por diante. O termo gestão diz respeito à administração de determinada atividade ou serviço; produção está ligada àquilo que se produz (o produto), seja tangível ou não; e projeto refere-se ao conjunto de informações gráficas e/ou textuais que culminará nas diretrizes básicas para a fabricação do produto. Perceba que a questão do produto ser tangível ou não está ligada intimamente à finalidade dele. A seguir, dois exemplos bem distintos de tipos de produto: a) Sua eleição ao cargo de prefeito da sua cidade; b) A construção de um edifício de apartamentos. No primeiro exemplo, eleição para prefeito, o produto (ser eleito) não é algo tangível (palpável), mas nem por isso deixa de ser um produto. Para tal, são necessários alguns procedimentos e processos bem como sua total administração, ou seja, sua gestão. Este conjunto de atividades necessárias até que cheguemos ao nosso produto (etapa final do processo) é denominado projeto executivo, que é verdadeiramente um manual de instruções daquilo que se deseja fazer. As informações contidas nesse “manual de instruções” podem variar bastante a depender de qual seja o produto desejado. Para o primeiro exemplo, seu projeto poderá conter as seguintes diretrizes: • Inscrição no Tribunal Regional Eleitoral da jurisdição de seu município; • Filiação a um partido político; • Formação de uma chapa; • Elaboração de um comitê de campanha; • Elaboração de cartazes, faixas e outdoors; • Campanha política; • Gravação de propaganda de rádio e televisão; • Execução de comícios; • Encontro com lideranças comunitárias; • Participação em debates políticos promovidos pela mídia etc. 5 É claro que estas diretrizes são bastante gerais e podem variar de acordo com cada situação e dependerá muito de quem as projeta. Percebam ainda que, dentro de cada atividade discriminada acima, podem se desdobrar outras tantas, o que chamamos de detalhamentos do projeto. Para o segundo exemplo, poderíamos elencar as atividades previstas em projeto da seguinte forma: • Obtenção dos alvarás de licenciamento da construção a ser erguida (prefeitura, CREA); • Levantamento topográfico (planialtimétrico) do terreno; • Terraplanagem; • Execução das demarcações (locações) internas e limítrofes da construção (gabarito); • Escavações; • Execução das fundações (conforme projeto específico); • Aterramento (quando necessário); • Execução da infraestrutura (conforme projeto específico); • Execução das vedações verticais (conforme projeto específico); • Execução da superestrutura (conforme projeto específico); • Execução das instalações (conforme projeto específico); • Execução do acabamento (conforme projeto específico); • Obtenção da documentação de entrega da obra (“habite-se”). Percebam aqui que, como antes, cada etapa pode se desdobrar em outras menores, mas não menos importantes para o sucesso na obtenção do produto (a construção do edifício). Podemos citar, como exemplo de tais atividades, a negociação com os fornecedores dos materiais de construção requeridos em cada etapa. Embora não faça parte do escopo de atividades que elencamos acima, em algumas dessas, se faz necessária tal negociação de modo a viabilizar o processo. É interessante a análise da gestão do processo do segundo exemplo, que mais pertinente ao nosso estudo. Todas essas atividades serão desempenhadas segundo os critérios estabelecidos em projetos específicos, e cada etapa desse processo deve ser rigorosamente acompanhada para atender aos requisitos de qualidade. 6 A qualidade é objeto de estudo de muitas empresas que intentam melhorar seu produto adequando-o às necessidades de seus clientes, tanto em termos do processo executivo de fabricação, como no planejamento prévio do mesmo. Para tanto, se faz necessária a gestão da produção, que nada mais é que este rigoroso acompanhamento de cada uma das etapas de confecção do produto, desde seu adequado comprometimento ao que está previsto em projeto, passando pela qualidade dos materiais empregados e da mão de obra associada, até o gerenciamento eficaz em termos de sua devida (e prevista) produtividade. Nos frigoríficos de seu Zé, há um rigoroso processo de gestão da produção. Todas as etapas são acompanhadas de perto por ele e por seus gerentes e o controle é feito em todas as etapas de fabricação do produto a ser comercializado. Com tal procedimento, seu Zé conseguiuampliar seu patrimônio comercial em 70%! Importa-nos saber, ao pensar em gestão da produção, a qualidade da mesma. Podemos definir qualidade como o conjunto de características que fazem o produto atingir as expectativas do cliente. Dessa forma, compreendemos a questão de forma bastante dual: ou o produto tem qualidade ou não a tem. Para fins de nossa análise, o meio termo não existe, pois, se o produto não atinge o propósito para o qual fora gerado, então não há qualidade. Portanto, não se fala em pouca qualidade ou em baixa qualidade ou, ainda, em alta qualidade. Pensando no projeto como o produto em análise, torna-se imprescindível para a qualidade a adequação de pessoal. Em outras palavras, queremos dizer aqui que o envolvimento de pessoas tecnicamente capazes para o desempenho do projeto é de fundamental importância para o sucesso de sua gestão; além da aquisição dos adequados materiais de trabalho necessários (computadores e periféricos, softwares etc.). 7 Numa linguagem matemática, podemos dizer que a adequada aquisição de pessoal e materiais de trabalho são condições necessárias, mas não suficientes para o sucesso da etapa projeto. Isto se dá porque como se trata do projeto de uma análise global do produto, mas sem deixar de atentar às suas especificidades, faz-se necessária uma equipe multidisciplinar (engenheiros, arquitetos, técnicos, cadistas, etc.), em que cada um deve ser responsável pela etapa do processo que lhe diz respeito, ou seja, cada um deve responder pela qualidade das etapas sob sua responsabilidade. A máxima de que todos devem se responsabilizar com tudo, em termos de gestão, é inadequada. Não queremos dizer com isso que no caso de uma obra civil, por exemplo, os arquitetos que forem elaborar o projeto arquitetônico não devam ter como preocupação os aspectos construtivos de estabilidade da construção (objeto de análise do engenheiro responsável pelo projeto estrutural). É claro que para o sucesso total do produto, o processo deve ter um fluxo saudável, sem que etapas anteriores causem impacto nas posteriores, em que deve haver uma preocupação com as etapas seguintes. Mas não é de responsabilidade da equipe da atividade 1 o sucesso da equipe da atividade 2. Elas apenas não devem ser negativamente impactantes uma com a outra, por isso, é necessário o trabalho de gestão entre essas diversas etapas. Fig. 01: Exemplo de projeto (planta baixa) Fonte: SENAI, 2013. 8 A literatura especializada confere aos estudiosos Deming, Juram, Ishikawa, Crosby e Feigenbaun a alcunha de “gurus da qualidade”, devido ao notório reconhecimento de seus estudos e trabalhos nessa área. 9 3 Importância do planejamento e controle de projetos Não é difícil perceber que, antes da etapa de execução, há um vasto caminho que fora percorrido por diversos profissionais: a etapa de projeto. Para que um produto seja bem executado, é necessário que haja a elaboração adequada de um conjunto de projetos. Também é de fácil entendimento que, se a etapa projeto não for bem desempenhada, a etapa execução ficará igualmente comprometida. Para um bom desempenho da etapa projeto, é necessário que haja um grande comprometimento da equipe com seu planejamento e controle. Planejar um projeto é essencialmente entender o todo e, a partir disso, elaborar as partes (ver Fig. 02). É imprescindível que se parta do entendimento global sobre a funcionalidade do produto a ser projetado para se chegar aos seus detalhes e especificidades. Para tanto, será preciso que o projeto seja planejado para suprir o produto das características que ele precisará, ou seja, para que o produto tenha qualidade. E em cada etapa deste planejamento prévio do projeto deve haver seu controle, para que a sequência ótima não seja perdida, o que comprometeria o produto. Dessa forma, podemos entender o planejamento e o controle como sendo os pilares de sustentação da gestão. Fig. 02 – Corte (parte de um projeto) Fonte: SENAI, 2013. 10 4 Hierarquização do planejamento e controle de projetos Não há uma clara hierarquização entre as etapas de planejamento e controle de projetos. Aliás, isto se deve em grande parte à questão de ser o estudo e sistematização do planejamento bem mais recente na construção civil que a maioria das tecnologias que nela utilizamos. A maioria dos autores desta área aponta que, neste aspecto, há uma relação de complementação. Isto fica óbvio ao percebermos que a etapa de controle não deve esperar pelo fim do planejamento para começar a funcionar, sendo, portanto, atividades concomitantes. Certa empresa, no norte, tinha como ramo de trabalho a fabricação de embalagens metálicas para o armazenamento de produtos enlatados. Havia em sua folha 27 trabalhadores, dos quais 20 faziam parte da equipe de produção e montagem das peças metálicas, 5 se responsabilizavam pela limpeza do local, e apenas 2 ficavam responsáveis pelo planejamento e controle de projetos. Com o passar do tempo, o dono da empresa percebeu que, embora ao seu ver a equipe estivesse bem dimensionada, a produtividade da empresa começou a cair e, em contrapartida, aumentaram as queixas de consumidores com relação à qualidade de seu produto no mercado. O dono da empresa resolveu contratar mais 5 funcionários para a produção, mas, ainda assim, não resolveu o problema. Ele percebeu, então, que a melhoria na produção se daria quando houvesse uma melhoria também na área de planejamento e controle. O controle deve permear todo o processo de planejamento de forma que possamos corrigir eventuais não conformidades ao longo do processo de elaboração dos projetos, e não no seu término. Dessa forma, haverá um ganho significativo na produtividade, pois não haverá a necessidade de se refazer o trabalho, algo indesejável que já ganhou o nome prático de retrabalho. Isoladamente, entretanto, essa duas etapas têm suas próprias sequências de atividades. Para visualizarmos a hierarquia do planejamento e do controle de projetos, basta que imaginemos um grande complexo residencial e comercial contando com torres de edifícios, casas, sobrados, escolas, shoppings centers, supermercados, farmácias etc., 11 nos moldes de um bairro planejado. Neste caso, fica fácil perceber que a sequência de planejamento e controle dos projetos deve seguir rigorosamente uma ordem. Em alguns projetos, esta ordem poderá variar de acordo com suas demandas. Em todo caso, a ordem descrita abaixo é a mais comum entre os variados tipos de projetos. 12 5 Sequenciamento de atividades Todo bom planejamento deve trazer consigo, desde seu princípio, um determinado sequenciamento de atividades. Não há, entretanto, uma lógica unânime neste quesito. Para nosso estudo, utilizaremos a sequência prevista na Fig. 03. Fig. 03 – Sequência de atividades Fonte: SENAI, 2012 De início, devemos ter uma ideia. Pode ser a construção de um prédio, de um sobrado, um hospital, uma escola, etc. A ideia é o ponto inicial que irá desencadear todas as outras atividades. A partir da ideia, deve-se definir e identificar exatamente o objetivo do produto: a construção. Obviamente que cada construção terá seu próprio objetivo específico. Por exemplo: um hospital terá o objetivo de cuidar de pacientes enfermos, de realizar exames e perícias médicas; uma escola terá o objetivo de contribuir para a formação de seus alunos; e as edificações residenciais (edifícios e sobrados) terão a função de domiciliar famílias, diferindo, neste aspecto, quanto ao númerode famílias abrigadas. Perceba que cada objetivo específico determinará uma série de aspectos construtivos peculiares que deverão ser objeto de preocupação para o projeto em questão. Um hospital deverá ser munido de leitos para acomodação dos pacientes, de estruturas de laboratório, salas de cirurgia etc. Uma escola deve ser provida de salas de aula, 13 laboratórios químicos, etc. E residenciais devem ser munidos de quartos e cômodos necessários à manutenção das pessoas. Fica claro, então, que o tipo e a finalidade da construção moldarão o seu projeto para atendimento ao proposto. Em seguida, temos o recolhimento de dados que podem ser dados de amostra de material, de legislação e normas aplicáveis ou ambientais, basicamente. Tal etapa é necessária para um reconhecimento daquilo que se pretende construir, e é fundamental para a etapa seguinte, ensaios tecnológicos, onde as informações coletadas serão submetidas a ensaios. Neste aspecto, aplica-se mais à questão técnica, como, por exemplo, o ensaio do tipo de solo para fundação baseado nas amostras técnicas coletadas; mas não exclui a importância sobre os dados de legislação e ambientais. Depois, temos a etapa de análise de resultados, que será de fundamental importância dentro do planejamento do projeto, pois dirá se algo antes pensado não será mais possível à luz de ensaios realizados. É fácil compreender isso se levarmos em conta o problema fictício de tentar erguer uma grande construção sobre um solo não propício para tal. A análise de resultados da amostragem de solo ensaiada poderá, neste caso, delimitar a construção e fazer com que repensemos todo o projeto. A etapa de estudo de viabilidade técnica e econômica parte da análise dos resultados das amostras, bem como dos outros fatores de ordem econômica, legal e ambiental. Neste ponto, poderemos visualizar se nosso empreendimento desejado é viável técnica e economicamente ou não. Será a oportunidade de continuar ou desistir, conforme sejam as respostas obtidas aqui. Uma vez que nossa ideia seja viável, à luz de todas as análises possíveis, será hora da elaboração de um anteprojeto. De uma maneira geral, o anteprojeto deverá ter um nível de elaboração que permita a averiguação e aprovação dos órgãos competentes (prefeituras, CREA), além de tornar-se atrativo para o cliente que irá comprar (ou financiar) a obra. Depois das aprovações e eventuais modificações, faz-se necessária a elaboração de um projeto mais contundente e rico em detalhes que permitam clareza e consistência inquestionáveis para a execução da construção (o produto). Denomina-se esta etapa como projeto executivo, que deverá culminar com a perfeita execução da obra proposta na etapa execução. Torna-se imprescindível frisar que a etapa de controle deve permear todo o processo, durante a elaboração de cada etapa. 14 Constitui-se um erro gravíssimo efetuar o controle apenas no final do processo, pois o adequado é planejar e controlar simultaneamente. 15 6 Compatibilização e representação de projetos Um problema recorrente na etapa de execução (a obra propriamente dita) é a famigerada incompatibilidade entre projetos. Esta situação, quando ocorre ocorrência, pode atrapalhar bastante o andamento adequado da obra. É importante levarmos em conta a questão financeira que permeia todo o processo. Existem custos e prazos bastante definidos que incidem sobre cada etapa até que cheguemos à entrega final da construção. Esses valores e prazos variam muito de acordo com o tipo e padrão da construção. Dentre todas as etapas descritas acima, a que mais custa caro para quem financia a obra é a execução propriamente dita. Normalmente, o prazo para a conclusão também é bastante apertado por conta de se desejar uma maior margem de lucro. O custo do projeto arquitetônico, normalmente, situa-se abaixo de 10% do valor total do empreendimento. Então, quando possíveis incompatibilidades de projetos não são identificadas a tempo, irão impactar de forma negativa no tempo e prazo da execução, pois demandará retorno dos projetos à equipe projetista para que se refaçam os pontos incoerentes e posteriores retornos à obra para correção. A depender da gravidade da situação, esse trânsito e retrabalho indesejáveis de projetos poderá demandar dias, semanas ou até meses. E cada dia numa obra tem seu custo, independentemente do que se produza. Um exemplo bastante comum que encontramos nas mais diversas obras residenciais e comerciais diz respeito aos projetos estruturais e arquitetônicos. Muitas vezes, a divisão dos cômodos, localização de esquadrias (portas e janelas) e ambientação do espaço em geral não condiz com os limites impostos pela estabilidade estrutural. Os projetos de instalações prediais e o projeto estrutural do empreendimento Vivendas do Vale, da construtora Querubim S/A, apresentaram incompatibilidades entre si. Os projetos de instalações previam dutos e tubulações interceptando elementos estruturais (pilares e vigas). O técnico responsável pela fiscalização da execução da obra percebeu 16 isto a tempo e solicitou o retorno dos projetos ao escritório para que fizesse a compatibilização. Os projetos retornaram compatibilizados e em tempo hábil para sua execução. Outro exemplo diz respeito ao projeto de instalações em relação ao estrutural. Por vezes, quem projeta a parte de instalações prediais (elétrica, hidráulica, instalações especiais) leva em conta apenas o projeto arquitetônico inicial, que pode não prever adequadamente a localização dos elementos estruturais. Isso gera projetos em que as tubulações passam pelos elementos estruturais, algo não recomendável. Para que evitemos tal inconveniente, é necessária a compatibilização dos projetos. Tal etapa pode ser incluída na etapa de controle do projeto e deve ser executada com base numa equipe multidisciplinar, uma vez que as ocorrências de incompatibilidades, normalmente, são entre projetos de competências distintas. Durante a elaboração do projeto subsequente, o profissional que elaborou o anterior deve tomar conhecimento das interações entre os dois projetos para que ambos os projetistas possam identificar situações conflitantes e dirimi-las o quanto antes. Quando apenas um escritório centraliza a elaboração de todos os projetos inerentes à obra, fica mais fácil resolver tais situações, já que todos os envolvidos no processo trabalham num mesmo local. A dificuldade se faz presente, entretanto, diante de uma prática muito comum nos dias de hoje, que é a terceirização de projetos. Isto ocorre da seguinte forma: a empresa escolhida para a elaboração dos projetos não tem o know- how para a execução de todos os projetos e acaba por delegá-los, em parte, a outras empresas. Entretanto, por vezes, não há a avaliação de compatibilidade depois dos projetos prontos. Esta questão, aliada à demanda cada vez maior e prazos cada vez mais curtos, gera esses inconvenientes que podem acabar onerando a construção. A representação dos projetos deve ocorrer de forma objetiva, respeitando as normas técnicas de modo a tornar claro o entendimento dos responsáveis por sua execução, detalhando, sempre que necessário, os pontos críticos e/ou conflitantes. 17 7 Compatibilidade entre sistemas construtivos Sistemas construtivos são tidos como compatíveis quando podem coexistir na mesma construção, ou seja, não causam interferências negativas uns aos outros, mas, antes, beneficiam-se quando em conjunto. Tais sistemas variam significativamente quanto ao material e tecnologia empregadose dividem-se, neste aspecto, segundo a maioria dos autores em dez subsistemas: • Serviços preliminares; • Fundações; • Estrutura; • Cobertura; • Instalações; • Vedações; • Esquadrias; • Revestimento; • Pisos e pavimentações; • Serviços complementares. Perceba que alguns destes subsistemas aparentam ser significativamente mais importantes que outros, mas a verdade é que todos eles precisam funcionar adequadamente e sem interferir no outro para que a construção seja construída e funcione sem problemas. Como relatamos anteriormente, quando a execução de um destes subsistemas vem impactar na execução de outro (por incompatibilidades não percebidas em seus respectivos projetos) os prejuízos podem ser desastrosos para a etapa de execução, pois irá impactar no cronograma de prazos previstos e na lucratividade inicialmente prevista. 18 Tudo andava muito bem na execução do empreendimento Morada da Rainha. Cronograma de execução adequado, equipes técnicas e operacionais bem dimensionadas, compra de materiais com bons preços e prazos etc. Entretanto, a equipe de projetos não se preocupou em compatibilizá-los. Incompatibilidades não percebidas entre os projetos arquitetônico e estrutural causaram um prejuízo da ordem de 1 milhão e duzentos mil reais para a construtora, que acabou entregando o empreendimento sem margem alguma de lucro. Dessa forma, é mais inteligente que gastemos um pouco mais de tempo na revisão dos projetos elaborados (com ênfase, se parte destes forem elaborados por terceiros) do que corrermos o risco de tais situações chegarem ao ápice da cadeia construtiva. 19 8 Funcionalidade dos sistemas construtivos Decerto todos os elementos que compõem uma obra e seus sistemas construtivos têm determinada função dentro do conjunto. Cada um especificamente e em conjunto desempenha funções que culminarão com a qualidade do serviço da construção. A funcionalidade requerida da construção, desde seu planejamento e estudo, é de fundamental importância para que possamos defini-la segundo a seguinte ótica: serviços preliminares são os serviços de mobilização do canteiro de obras, dizem respeito às instalações provisórias (vestiários, banheiros, áreas de vivência, refeitórios), à locação da obra, montagem de equipamentos e máquinas; fundações referem-se à execução das fundações propriamente ditas e previstas em projeto específico, além de possíveis escavações necessárias; estruturas compõem os elementos que darão sustentação à construção (vigas, pilares, lajes, pórticos); cobertura refere-se ao tipo de cobertura da edificação a ser utilizada (lajes, telhados); instalações dizem respeito às instalações elétrica, hidráulica, de telefonia etc.; vedações são os elementos que delimitam a construção do ambiente externo e dividem-na em seus cômodos internos (paredes de alvenaria, divisórias, combogós); esquadrias são as portas e janelas necessárias à entrada de pessoas e objetos e circulação do ar; revestimentos são a parte da construção destinada a proteger as estruturas e/ou vedações de intempéries climáticas, bem como conferir acabamento estético (reboco, pastilhas, azulejos, etc.); Pisos e pavimentações dizem respeito, como o próprio nome já diz, à parte da construção destinada à passagem de pessoas e objetos; e serviços complementares são atribuídos às atividades excepcionais que podem ocorrer e que não estão elencadas nos subgrupos acima. Tais atividades excepcionais podem ser: execução de área de lazer, piscinas, churrasqueiras, saunas, paisagismo etc. 20 9 Exequibilidade Por mais audacioso, bonito, elegante, exótico que seja um projeto de uma construção, para que este deixe de ser um desenho e algumas prescrições normativas e de cálculo e possa ser construído, é necessário que ele seja fisicamente possível ou, em outras palavras, que ele seja exequível. A questão da exequibilidade deve ser uma máxima prioritária para quem projeta, pois de nada adianta um projeto que não possa ser concretizado. Para que isto seja possível, é importante que haja uma equipe multidisciplinar composta por engenheiros, arquitetos e técnicos da área. É desaconselhável que apenas uma pessoa (ou um grupo de pessoas com a mesma formação) centralize todas as etapas de um projeto que se tornará uma construção. Cada um deve ter sua parcela de contribuição para que o projeto seja exequível. Há ainda as revisões de projeto, em que situações não percebidas podem ser evidenciadas e corrigidas a tempo. Normalmente, as possíveis inexequibilidades são identificadas ainda na etapa projeto, o que gera algumas revisões e correções não previstas, mas não chegam a impactar na etapa execução. São, geralmente, identificadas nos projetos arquitetônico e estrutural, mas podem ser identificadas em outros, como os de instalações. Hoje os softwares computacionais já dão uma vasta ajuda no que se refere à estabilidade das formas arquitetônicas e, consequentemente, à exequibilidade das mesmas. O projeto que seu João contratou para a construção de sua casa era bastante belo e cheio de nuances que tornaria sua residência uma peça ímpar em todo o bairro. Havia janelas, arcos, jardins de inverno e alpendres. Entretanto, a concepção estrutural não foi bem elaborada, o que resultou no colapso da estrutura depois de erguida e em sérios custos para o proprietário. 21 10 Desenvolvimento de projetos para a produção Cada projeto, dada sua especialidade, deverá ser elaborado por profissional habilitado e competente para tal. Todo profissional (engenheiros, arquitetos, técnicos) tem suas competências e restrições ditadas pelos seus respectivos conselhos de classe (CREA, CAU) e é importante frisar que ir além das competências profissionais poderá acarretar sérias complicações cíveis e até penais para os profissionais, além de comprometer vias alheias em alguns casos. Em resumo, o desenvolvimento de projetos para a produção (execução da construção) deverá ser o mais claro e objetivo possível. Não devemos confundir a palavra objetivo com ausência ou pouco conteúdo; pelo contrário, reflete que o projeto deverá conter todas as informações necessárias para sua execução da forma mais objetiva possível. Dentre estas informações necessárias à boa execução de um projeto, podemos citar dois grandes grupos: • Peças gráficas; • Peças escritas. No tocante às peças gráficas, podemos citar: plantas baixas (situação, locação, edificação), cortes, detalhamentos, fachadas (frontais e laterais), elevações e escala. Com relação às peças escritas, temos: memorial justificativo, discriminação técnica, especificação e lista de materiais. Um item importante que deve ser uma constante em todos os projetos é o carimbo, que é essencialmente um quadro delimitado na extremidade inferior direita dos projetos em que constam informações sobre o título do projeto, conteúdo, cliente, autor do projeto, indicação do número da folha, escala, data de sua elaboração além de eventuais revisões. Veja a figura 04. 22 Fig. 04 – Exemplo de carimbo Fonte: SENAI, 2012. 23 11 Impacto do projeto quanto à segurança do trabalho e saúde ocupacional Há muito se discute a segurança no trabalho e saúde ocupacional; definamos, pois, estas duas expressões: • Segurança do trabalho é o conjunto de medidas preventivas tomadas no ambiente de trabalho com vistas à segurança dos que ali habitam durante sua jornada de trabalho. • Saúde ocupacional éjustamente a relação de boa saúde, física e mental, com relação ao ambiente de trabalho e às atividades nele exercidas. Percebemos, numa breve análise, que o sentido de ambos os termos se completam. A segurança do trabalho faz com que tenhamos garantida nossa saúde ocupacional; por outro lado, faz-se necessário que tenhamos a saúde em nosso ambiente de trabalho para que possamos pensar em soluções preventivas de segurança. Em suma, uma coisa gera a outra que acaba por gerar a primeira. É interessante citar que grande parte de nossas vidas passamos em nosso ambiente de trabalho, o que nos sugere que este deva ser saudável para nós. O projeto executivo de uma construção deverá trazer consigo a preocupação com a insalubridade na sua execução pelos colaboradores, pois há de impactá-la, sem dúvida. A presença de equipamentos que minimizem os impactos físicos dos trabalhadores, como elevadores de carga e gruas, deve ser prevista, além de estruturas de segurança propriamente ditas, como guarda-corpos e bandejas. A Norma Regulamentadora 18 (NR 18) prevê que, em ambientes de trabalho com no mínimo vinte trabalhadores, seja elaborado o chamado Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção – PCMAT, cujo escopo deve conter o “projeto de execução das proteções coletivas em conformidade com as etapas de execução da obra, a especificação técnica das proteções coletivas e individuais que serão utilizadas, o layout inicial e atualizado do canteiro de obras e/ou frente de trabalho, contemplando, inclusive, previsão de dimensionamento das áreas de vivência”, entre outros. 24 As referidas áreas de vivência dizem respeito ao vestiário, alojamento, refeitório, instalações sanitárias e ambulatório necessários à manutenção dos trabalhadores em seu trabalho. Podemos perceber que os projetos podem e devem trazer consigo elementos que valorizem a saúde ocupacional dos trabalhadores em sua execução, pois disto dependerá seu sucesso. Entretanto, será obsoleto tal cuidado (na elaboração dos projetos e prescrições normativas) se a equipe de execução não fizer sua parte em termos do cumprimento do previsto e adequação daquilo que não pode ser previsto. 25 12 Normas e procedimentos técnicos As normas e procedimentos técnicos para a adequada elaboração do projeto executivo são encontrados nas normas ABNT NBR 13531:1995 (Elaboração de projetos de edificações – Atividades técnicas), ABNT NBR 13532:1995 (Elaboração de projetos de edificações – Arquitetura) e ABNT NBR 6492:1994 (Representação de projetos de arquitetura). É importante salientar que todos os procedimentos técnicos na construção civil, sejam eles no âmbito de projeto ou de execução, devem seguir estritamente o previsto nas normas técnicas. Estas devem funcionar, portanto, como verdadeiros balizadores do processo de construção. Como tais procedimentos técnicos, a título de exemplos, podemos citar algumas das prescrições previstas na ABNT NBR 6492:1994 no tocante à correta forma de dobras em papéis de projetos, à caracterização das fases do projeto, à definição de projeto executivo e de elemento a serem utilizados etc. 26 13 Ferramentas computacionais No mercado da tecnologia de informação, existem diversos softwares pertinentes ao nosso objeto de estudo aqui. Na área de projetos estruturais podemos citar: Revit Structure, Eberick V5 – gold, Cypecad e Bentley Structural. Na área de projetos arquitetônicos, temos como destaque: Autocad, Sketchup e Revit. Na área de instalações prediais temos: Autopower, Lumine V4 e Autoenge. De uma maneira geral, estes softwares apresentam uma interface de cálculo de dimensionamento e de computação gráfica que permite ao usuário avaliar cada etapa do projeto enquanto o faz. Há variações quanto à navegabilidade de cada um, já que são fabricados por diferentes empresas. A evolução da informática (tanto em relação aos computadores mais avançados, como em relação aos novos softwares desenvolvidos) tem nos ajudado bastante no quesito compatibilização de projetos. Hoje, entretanto, a velocidade exigida para a entrega dos projetos e seu planejamento devido à grande demanda de construções tem contribuído de forma negativa para os estudos de compatibilização. A depender da destreza de quem os opera, estes programas podem ser de grande valia para a percepção de incompatibilidades entre os projetos. Mas, neste quesito, ressalva- se o software Naviswork, de autoria da Autodesk, por sua versatilidade em compatibilizar projetos de diferentes especialidades. O empreendimento Parque das Palmeiras teve todos os seus projetos devidamente elaborados e compatibilizados através de uma equipe multidisciplinar e com o auxílio de ferramentas computacionais. Entretanto, foi negligenciada a questão da segurança, e a Norma Regulamentadora NR 18 não foi respeitada; não houve a elaboração do PCMAT. Tudo parecia andar bem, mas um descuido de um operário incauto e sem equipamentos de proteção, que escorregou de uma laje em construção que não 27 possuía as devidas proteções (guarda-corpo, bandejas) pôs todo o esforço de meses por água abaixo. 28 14 Recapitulando Nesta unidade curricular, aprendemos os conceitos aplicáveis para gestão, produção (produto) e projeto e vimos a importância que entendê-los tem para a construção civil. Apresentamos dois estudos de caso com produtos de diferentes modalidades e elencamos algumas de suas atividades inerentes. Além disso vimos que a equipe de um projeto deve ser composta por diferentes profissionais (multidisciplinar) especializados áreas diferentes e que devem ser responsáveis pela etapa que lhes diz respeito sem, contudo, perder o foco no sucesso global do projeto. Aprendemos que antes que se chegue à etapa de execução, um vasto caminho de projeto e planejamento foi percorrido por diversos profissionais e que o sucesso da etapa de execução depende, essencialmente, do quão bem feita foi a etapa de projeto. Vimos que planejar adequadamente é entender o todo e elaborar as partes, e que planejamento e controle são os pilares da boa gestão e que ambos se completam. Um bom planejamento deve ter também uma boa sequência de atividades que poderá variar de acordo com cada produto a ser gerado até que cheguemos à etapa de execução diversas etapas são elaboradas, cada uma com suas características específicas. Ressalva-se o estudo de viabilidade técnica e econômica, em que será decidido se vale a pena ou não seguir com o empreendimento idealizado, segundo parâmetros técnicos analisados. Falamos que os sistemas construtivos, que se dividem em 10 grandes grupos, são tidos como compatíveis quando podem coexistir na mesma construção e que podem causar sérios impactos no prazo e no custo da obra caso não o sejam, e que, por isso, torna-se mais valioso despender um pouco mais de tempo nas etapas de projeto que corrigir eventuais erros depois. Vimos que os projetos para execução deverão ser o mais claro e objetivo possível sem, contudo, deixar de levar informações detalhadas quando necessário. Tais informações se dividem em peças gráficas e peças escritas que, em conjunto, deverão ser suficientes para uma adequada execução do que está previsto. E, no últimos capítulos, aprendemos que saúde ocupacional e segurança do trabalho são dois conceitos que se completam e de extrema importância para o desenvolvimento saudável de nossas atividades laborais. Vimos que a Norma Regulamentadora 18 (NR 18) prevê que, em ambientes de trabalho com vinte trabalhadores,seja elaborado o chamado Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da 29 Construção – PCMAT, que traz procedimentos que objetivam salvaguardar a integridade dos trabalhadores. Aprendemos, ainda, que as ferramentas computacionais (hardwares e softwares) têm sido de grande valia para a construção civil e podem, quando bem utilizadas, ser grandes aliadas nossos. 30 15 Referências ALDABÓ, Ricardo. Gerenciamento de Projetos – Procedimentos Básicos e Etapas Essenciais. São Paulo: Artliber, 2001. MELHADO, Silvio Burratino (coord). Coordenação de Projetos de Edificações. São Paulo: O nome da Rosa. SILVA, Maria Angélica Covelo; Souza, Roberto de. Gestão do Processo de Projeto de Edificações. São Paulo: PINI, 2003. SILVA, Maria Angélica Covelo. Gestão do processo de projeto de edificações. Ed. O Nome da Rosa. 2003; SOUZA, Roberto de. Sistema de gestão para empresas de incorporação imobiliária. Ed. O Nome da Rosa. 2004; ORTEGA, Lucilia. GEHBAUER, Fritz. Compatibilização de projetos na Construção Civil. Recife, Projeto Competir. 2006. 31 SENAI – DEPARTAMENTO NACIONAL Unidade de Educação Profissional e Tecnológica – UNIEP Rolando Vargas Vallejos Gerente Executivo Felipe Esteves Morgado Gerente Executivo Adjunto Maria Eliane Franco Monteiro Azevedo Coordenação Geral SENAI – DEPARTAMENTO REGIONAL DA BAHIA Tatiana G. de Almeida Ferraz Gerência da Área de Construção Civil Ricardo Santos Lima Gerência do Núcleo de Educação a Distância Carla Carvalho Simões Coordenação Técnica Marcelle Rose da Silva Minho Coordenação Educacional André Luiz Lima da Costa Coordenador de Produção Albin Jursa Conteudista Rui Ramos Revisão Técnica Pollyanna de Carvalho Farias Designer Educacional Vinicius Vidal da Cruz Diagramador Joseane Maytê Sousa Santos Sousa Revisão Ortográfica
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