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O PAPEL CONTRAMAJORITÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

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1 
 
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ 
RAQUEL NOGUE COSTA 
 
 
 
 
O PAPEL CONTRAMAJORITÁRIO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
 
 
 
 
Taubaté 
2016 
2 
 
RESUMO 
 
O trabalho se inicia trazendo a evolução histórica da norma jurídica, com enfoque nas 
constituições advindas da Magna Charta Libertatum (Carta Magna) criada na Inglaterra em 1215 
para limitar os poderes do rei João e passando para a evolução do controle constitucional não só do 
Estado brasileiro, que partiu de colônia e evoluiu até chegar ao modelo atual de República 
Federativa do Brasil constituída por um Estado Democrático de Direito, como dos países 
influenciadores do controle constitucional. A evolução abordada então é a do controle de 
constitucionalidade que inicialmente existia apenas no modelo “americano” (difusoincidental) e 
com o passar do tempo passou a existir também o modelo “austríaco” (concentrado-principal). 
Observa-se então que o controle de constitucionalidade no Brasil acontece como um 
modelo “híbrido”, ou seja, une o modelo norte-americano e austríaco, para chegar nesse assunto 
uma breve explicação do desenvolvimento desse controle que sequer existia nas primeiras 
constituições brasileiras. 
A seguir o trabalho explica o funcionamento do Supremo Tribunal Federal e suas funções, 
chegando ao controle constitucional e o princípio majoritário apesar de ser um dos princípios 
fundamentais de um regime democrático é abordado sob a luz de suas limitações para que o 
“governo da maioria” não seja distorcido. É em meio a este conflito aparente de ideias e princípios 
que a questão central do trabalho é debatida uma vez que o Poder Judiciário no Brasil apesar de não 
ser eleito pelos votos da maioria faz uso do princípio contramajoritário para realizar o controle 
judicial de constitucionalidade e assegurar o respeito à Supremacia da Constituição, aos direitos 
fundamentais e a soberania popular. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 4 
2 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE E SUA EVOLUÇÃO .......... 5 
2.1 Controle de Constitucionalidade no Brasil .................................................... 6 
2.2 O Supremo Tribunal Federal e o Controle Constitucional .......................... 8 
3 PRINCÍPIO MAJORITÁRIO E DEMOCRACIA ........................................ 11 
3.1 O Princípio Contramajoritário na Jurisdição Constitucional ................... 12 
3.2 Atuação do STF com uso do Poder Contramajoritário .............................. 16 
4 CONCLUSÃO .................................................................................................... 18 
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 19 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O sistema de normas jurídicas, o direito, possui uma ordem hierárquica, com níveis 
que devem se conectar respeitando as dependências de validação para ser um sistema 
realmente funcional, é a norma fundamental quem vai liderar e validar o sistema, além de 
trazer unidade a ele. A Constituição é a norma fundamental, assim, todas as demais normas 
devem estar de pleno acordo com ela para ser legítima para todo o sistema jurídico. 
A Carta Magna se encontra no topo da estrutura inclusive com a previsão de toda a 
organização dos órgãos subordinados a ela. Nela situa-se toda a divisão do país, em 
estados, municípios, declarando suas funções e suas autoridades. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE E SUA EVOLUÇÃO 
 
 
Primeiramente é preciso observar a origem do controle da constitucionalidade de 
maneira geral, observando sua evolução em toda história do Direito desde a antiguidade 
clássica onde se deu o inicio desse processo. Em Atenas era possível encontrar os nómois e 
o pséfisma, explicado por Dirley da Cunha Júnior (2010, p.63): 
 
 [...] Em linguagem moderna, devemos reconhecer que os nómoi 
representavam as leis constitucionais da época, não só porque dispunham 
sobre a organização do Estado, mas também porque só podiam ser 
alterados por procedimentos especiais. Já o pséfisma apresentava-se 
como uma lei ordinária que, qualquer que fosse seu conteúdo, devia 
conformar-se, formal e materialmente, com os nómoi. O descompasso 
entre o pséfisma e os nómoi era resolvido em favor destes, em face de sua 
reconhecida superioridade. Tanto era assim, que os juízes atenienses, 
embora obrigados a julgar segundo os nómoi e segundo o pséfisma, não 
eram, contudo, obrigados a julgar segundo o pséfisma, quando este fosse 
contrário aos nómoi. (grifado no original). 
Os nómois eram como as atuais Constituições que possuem soberania sobre as leis, 
no caso os nómois também tinham soberania sobre o pséfisma. 
Se observarmos os controles mais contemporâneos, controles que servem como 
base até hoje, têm-se o sistema norte-americano e europeu, cada qual com suas 
particularidades, ambos adotados no sistema brasileiro, que é misto. 
O primeiro sistema a ser estruturado foi o norte-americano, grande contribuinte 
para o desenvolvimento do constitucionalismo. Por razões políticas os estado Unidos 
decidiram, através do poder Judiciário, fiscalizar a constitucionalidade de suas leis e 
demais normas jurídicas, dando poder para esse órgão de declarar nulas írritas normas e 
ações contrárias a Constituição, fazendo isso de maneira teórica. Este modelo atualmente é 
adotado por diversos países, incluindo Brasil e Canadá. 
Nos Estados Unidos esta competência é exercida de forma difusa, portanto qualquer 
órgão jurisdicional, qualquer juiz ou tribunal realizar a fiscalização constitucional. A 
Suprema Corte, como órgão cúpula do Judiciário americano, em virtude do princípio do 
6 
 
stare decisis desempenha o papel decisivo dando a última e definitiva palavra na decisão 
das questões de inconstitucionalidade. 
Para chegar nesse sistema de controle à supremacia do Parlamento na Inglaterra foi 
a grande influenciadora, onde o Parlamento representava a maior expressão da vontade 
popular. Essa supremacia do Parlamento veio com os novos pensamentos da revolução 
Gloriosa, de 1688, com a Declaração de Direitos, institucionalizando esta supremacia, em 
1689. A partir daí o Parlamento tinha poder para modificar qualquer lei. O novo modelo 
derrubava a força da common law, que anteriormente era o poder proeminente. 
 O sistema europeu, ou austríaco, de fiscalização da constitucionalidade teve 
grande influencia do sistema norte-americano, juntamente com as ideia de Hans Kelsen, 
que concordava com o controle judicial e a necessidade de sua existência para a garantia da 
funcionalidade da Constituição, porém, acreditava que conceder aos juízes esse poder de 
controle seria dar muito poder aos magistrados. Portanto defendia a ideia da existência de 
um órgão próprio para o controle de constitucionalidade, um órgão autônomo: Um 
Tribunal Constitucional, sem envolvimento com quaisquer dos três poderes, semelhante ao 
Ministério Público, órgãos autônomos e previstos pela Constituição. Este Tribunal, 
composto por representantes da sociedade, anulariam leis inconstitucionais limitando-se a 
essa função de análise de compatibilidade de normas. 
 
2.1 Controle de Constitucionalidade no Brasil 
 
O Brasil, atualmente, segue o modelo de República Federativa do Brasil, 
constituída por um Estado Democrático de Direito. Desde a primeira ConstituiçãoBrasileira há uma evolução em relação ao controle da mesma, a primeira Constituição não 
trazia previsão de controle judicial de constitucionalidade. Foi a Constituição de 1946 
quem instituiu pela primeira vez um controle de constitucionalidade, optando por um 
sistema híbrido, uma união do sistema norte-americano e austríaco. 
O sistema misto, ou híbrido continua em vigência no Brasil, onde o controle é 
exercido pelos integrantes do Poder Judiciário, assim, a verificação da adequação vertical, 
7 
 
da correspondência entre atos legislativos e a Constituição é feita pelos juízes e tribunais. 
O controle realizado pode ser preventivo (ou prévio) e repressivo (ou posterior). 
Realizado pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, o controle preventivo 
controla os projetos de lei, impedindo determinados dispositivos normativos de adentrar o 
ordenamento jurídico. O Poder Executivo exerce tal controle através de veto político ou 
jurídico, já o Poder Legislativo o faz por meio das comissões de constituição e justiça e 
plenários. O Poder Judiciário funciona somente mediante provocação, inclusive nos casos 
de inconstitucionalidade, portanto só pode interferir nos projetos de lei através de mandado 
de segurança de um parlamentar contra sua respectiva casa nos casos em que tais projetos 
de lei estiverem tramitando e forem manifestamente inconstitucionais. Ou seja, é preciso 
que o Poder Executivo provoque o Poder Judiciário através de uma Ação Direta de 
Inconstitucionalidade que o isente de cumprir a norma. 
O controle repressivo funciona para leis já ingressadas no ordenamento jurídico, 
porém, são inconstitucionais. Em regra, nesses casos, deve o Poder Judiciário se 
responsabilizar pelo controle. O Poder Legislativo só agirá no caso das Medidas 
Provisórias que não possuem controle preventivo ou quando este puder retirar do 
ordenamento decretos executivos que excedam os projetos de lei. 
Tendo sua origem no direito norte-americano, o controle difuso permite que 
qualquer juiz brasileiro realize o controle de constitucionalidade em questões secundárias. 
O Supremo Tribunal Federal faz parte do Poder Judiciário brasileiro e não possui a 
função exclusiva de interpretar a Constituição e determinar como ela deve ser aplicada, 
mas é considerado o guardião da Constituição e suas decisões vinculam os demais juízes e 
tribunais. No Brasil além do Supremo Tribunal Federal que faz o controle de 
constitucionalidade das leis federais e estaduais que violem a Constituição Federal, cabe 
aos Tribunais de Justiça dos Estados realizarem o controle concentrado de 
constitucionalidade sobre as leis estaduais e municipais frente as suas respectivas 
Constituições estaduais. 
O julgamento no controle concentrado opera efeitos contra todos (erga omnes) e 
tem efeito ex tunc. Este tipo de controle também possui efeito ambivalente. As vias que 
permitem suscitar o controle concentrado de constitucionalidade são: Ação Direta de 
Inconstitucionalidade (ADI), Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADI por 
omissão), Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva (ADI interventiva), Ação 
8 
 
Declaratória de Constitucionalidade (ADECON) e Arguição de Descumprimento de 
Preceito Fundamental (ADPF). 
É possível perceber então quão importante é o Poder Judiciário na tomada de 
decisões do país, que tem o Supremo Tribunal Federal como órgão direcionador e o 
Conselho Nacional de Justiça como órgão controlador das ações dos tribunais 
administrativa e financeiramente. 
 
 
2.2 O Supremo Tribunal Federal e o Controle Constitucional 
 
 
Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda 
da constituição, cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente: 
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo 
federal ou estadual; 
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo 
federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou 
ato normativo federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, 
de 1993) 
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o 
Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios 
Ministros e o Procurador-Geral da República; 
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, 
os Ministros de Estado, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros 
dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes 
de missão diplomática de caráter permanente ; 
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, 
os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da 
Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos 
Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de 
missão diplomática de caráter permanente;(Redação dada pela Emenda 
Constitucional nº 23, de 1999) 
[...] 
9 
 
o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de 
Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e 
qualquer outro tribunal; 
[...] 
Parágrafo único. 
A argüição de descumprimento de preceito fundamental, 
decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal 
Federal, na forma da lei. 
§ 1º A argüição de descumprimento de preceito fundamental, 
decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal 
Federal, na forma da lei. (Transformado em § 1º pela Emenda 
Constitucional nº 3, de 17/03/93) 
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo 
Tribunal Federal, nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou 
ato normativo federal, produzirão eficácia contra todos e efeito 
vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao 
Poder Executivo. (Incluído em § 1º pela Emenda Constitucional nº 3, de 
17/03/93) 
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo 
Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações 
declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e 
efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à 
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e 
municipal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) 
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a 
repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos 
termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, 
somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus 
membros. (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). 
(Artigo 102 da Constituição Federal de 1988) 
 
A Constituição Federal, com seu artigo 102, traz todas as competências do Supremo 
Tribunal Federal, como declarar lei inconstitucional, processar e julgar conflitos entre 
Tribunais, entre outras diversas atitudes, estas são realizadas por onze Ministros. 
10 
 
O Supremo Tribunal Federal exerce poder para invalidar atos dos outros Poderes 
em nome da Constituição e também pode exercer papel representativo, atendendo as 
demandas sociais que ficam paralisadas no Congresso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
3 PRINCÍPIO MAJORITÁRIO E DEMOCRACRIA 
 
 
Democracia, em regra, é a soberania do povo em relação ao governo, no caso do 
Brasil a democracia é exercida pelo sistema político onde os cidadãos em eleições 
periódicas de quatro em quatro anos elegem seus dirigentes. 
Locke caracterizava o Poder Legislativo, definindo a democracia representativa 
vinculada ao poder dos representantes eleitos pelo povo:Se o legislativo ou qualquer parte dele compõe-se de 
representantes escolhidos pelo povo para esse período, os quais voltam 
depois para o estado ordinário de súditos e só podendo tomar parte no 
legislativo mediante nova escolha, este poder de escolher também será 
exercido pelo povo (1973, p. 101). 
A visão de Locke se assemelha com a democracia vigente no Brasil e em outras 
partes do mundo, Rousseau, o “pai da democracia”, tinha uma visão diferente, acreditando 
apenas na democracia direta. 
Considerando que todos precisam estar em condições de 
igualdade para haver democracia, nenhum ser humano poderá ser 
autoridade diante dos demais e as convenções, criadas por todos, são a 
base de toda autoridade legítima. O interesse de um representante sempre 
é privado e não poderá expressar o que os outros têm a dizer. Rousseau 
refere-se à representatividade como uma idéia absurda, originária da 
sociedade civil corrompida, não podendo haver democracia se essa não 
for direta e as leis que não forem ratificadas pelo próprio povo são 
consideradas nulas. 
E, para construir uma sociedade de liberdade e igualdade, é 
imprescindível a democracia direta. 
(Rousseau) 
 
 
É o “governo da maioria” que fundamenta o princípio majoritário, a Constituição 
vigente declara de maneira explícita que o poder pertence ao povo e este poder é delegado 
aos legisladores que são representantes do povo eleitos, em regra, pelo voto da maioria. 
12 
 
O Princípio Majoritário desempenha importante papel decisivo, respeitando os 
direitos fundamentais, como a prática legítima da liberdade de expressão, sob pena de 
comprometimento material de democracia constitucional. 
 
 
3.1 O Princípio Contramajoritário na jurisdição constitucional 
 
 
O Papel contramajoritário é exercido pelo Supremo Tribunal Federal para invalidar 
atos dos outros Poderes em nome da Constituição. O S.T.F. também pode exercer papel 
representativo, atendendo as demandas sociais que ficam paralisadas no Congresso. 
O Princípio do poder contramajoritário, apesar de parecer uma controvérsia, apoia o 
poder majoritário, que é um dos princípios fundamentais do regime democrático, a vontade 
da maioria. Uma democracia deve valorizar o interesse geral e sempre pautar-se nos 
valores da igualdade e da liberdade para que tanto a maioria como as minorias tenham seus 
direitos fundamentais assegurados, é para o sustento dessa igualdade que surgiu o poder 
contramajoritário, exercido pelo Supremo Tribunal Federal, pois se observar que uma 
maioria parlamentar ocasional pode ser na verdade uma minoria dominante não há 
democracia plena. 
 O Estado Democrático de Direito está fundado no respeito ao regime democrático 
e na garantia dos direitos fundamentais que constituem uma conquista histórica do povo. A 
jurisdição ou justiça constitucional é o mecanismo utilizado para proteger a Lei 
Fundamental de um Estado e conter a política majoritária. 
Portanto o poder contramajoritário exerce papel fundamental para garantir que as 
minoras tenham seus direitos e privilégios intactos e não corrompidos por leis que não os 
resguardam como deveriam. 
O Supremo Tribunal Federal (STF) observou não só o disposto na Constituição de 
1988, como também o previsto nos Tratados Internacionais de Direitos Humanos, 
utilizando com expresso poder contramajoritário, atuando na proteção das minorias contra 
imposições discriminatórias e contraditórias das maiorias. 
13 
 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em várias passagens de seu texto, 
consagra proteção às minorias: 
Artigo I. Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e 
direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação 
umas às outras com espírito de fraternidade. 
Artigo II. Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as 
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer 
espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de 
outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou 
qualquer outra condição. 
[...] 
Artigo VII. Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem 
qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual 
proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e 
contra qualquer incitamento a tal discriminação. 
[...] 
 Artigo XII. Ninguém será sujeito a interferências na sua vida 
privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a 
ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei 
contra tais interferências ou ataques. 
 
O Poder Judiciário tem papel relevante no sistema político brasileira, e esse papel 
vem tendendo a aumentar, principalmente tratando-se do Supremo Tribunal Federal. O 
tema é controverso, portanto não há um único posicionamento a respeito, é necessário 
analisar o sentido no qual se é feita a análise. O caso mais comentado da ação do poder 
contramajoritário é o da união estável homoafetiva, o Supremo foi chamado a decidir, em 
sede de controle abstrato de constitucionalidade um fato social que deixou de ser 
observado na previsão legal que trata o reconhecimento das uniões estáveis. O texto legal, 
ao prever o reconhecimento como entidade familiar, a união contínua, pública e duradoura 
entre o homem e a mulher, não se manifesta quanto ao reconhecimento das uniões estáveis 
formadas por casais de gênero igual. 
Não há um amparo legal para os casais homoafetivos, é negado a eles um direito 
constitucional de todos, pois todos são iguais perante a lei, a orientação sexual também 
deve ser vista com igualdade. Cabe então ao Supremo Tribunal federal exercer seu papel 
14 
 
contramajoritário, tomando decisões contrárias àquelas decididas pelos poderes 
representativos, ou mesmo suprindo lacunas deixadas por eles, para que todos possam ter 
os seus direitos fundamentais respeitados e realizados. Desta maneira chega-se mais perto 
da representatividade e vontade da maioria na legislação do país, oportunizando que um 
maior número de cidadãos tenham seus direitos e garantias efetivados. 
Sendo assim, cabe ao Supremo Tribunal Federal incorporar o seu papel 
contramajoritário, ou seja, tomando decisões contrárias àquelas decididas pelos poderes 
representativos, ou mesmo suprindo lacunas deixadas por eles, para que determinadas lutas 
indenitárias possam ter os seus direitos fundamentais respeitados e realizados, para que, 
desta forma, se consiga uma proximidade não com a vontade da maioria, mas sim com a 
possibilidade de um maior número de cidadãos terem seus direitos e garantias efetivados. 
Lenio Luiz Streck, jurista brasileiro e atualmente professor dos cursos de pós-graduação 
em direito da Universidade do vale do Rios dos Sinos e advogado e de 2 de setembro de 
1986 até 31 de maio de 2014 membro do Ministério Público do Estado do Rio Grande do 
Sul tem sua tese para o assunto: 
A regra contramajoritária, desse modo, vai além do 
estabelecimento de limites formais às assim denominadas maiorias 
eventuais; de fato, ela representa a materialidade do núcleo político-
essencial da Constituição, representado pelo compromisso – no caso 
brasileiro, tal questão está claramente explicitada no art. 3° da 
Constituição – do resgate das promessas da modernidade, que apontará, 
ao mesmo tempo, para as vinculações positivas (concretização dos 
direitos prestacionais) e para as vinculações negativas (proibição de 
retrocesso social), até porque cada norma constitucional possui diversos 
âmbitos eficaciais (uma norma pode ser, ao mesmo tempo, programática 
no sentido clássico, de eficácia plena no sentido prestacional ou servir 
como garantia para garantiro cidadão contra os excessos do Estado). Por 
isto, o alerta que bem representa o paradoxo que é a Constituição: uma 
vontade popular majoritária permanente, sem freios contramajoritários, 
equivale à volonté générale, a vontade geral absoluta propugnada por 
Rosseau, que se revelaria, na verdade, em uma ditadura permanente. Não 
há dúvida, pois, que o Estado Constitucional representa uma fórmula de 
15 
 
Estado de Direito, talvez a sua mais cabal realização, pois se a essência 
do Estado de Direito é a submissão do poder ao Direito, somente quando 
existe uma verdadeira Constituição esta submissão compreende também a 
submissão do Poder Legislativo [...] 
(grifado no original). Lenio Luiz Streck (2009, p. 19 e 20) 
O controle judicial de constitucionalidade é uma forma de limitação do Poder 
Legislativo, pois nenhum Poder estatal é soberano e todos estão sujeitos a algum tipo de 
controle para que não violem a Lei Maior. 
Marinoni (2011, p. 448), ensina que “a legitimação da jurisdição não pode ser 
alcançada apenas pelo procedimento em contraditório e adequado direito material, sendo 
imprescindível pensar em uma legitimação pelo conteúdo da decisão” e defende (2011, p. 
456) ser necessário uma decisão pautada em “critérios objetivadores da identificação do 
conteúdo do direito fundamental e que se ampare em uma argumentação racional capaz de 
convencer”. 
Outro argumento para legitimar a atuação contramajoritária do Poder Judiciário 
consiste na necessidade de que as crises de representatividade e de legalidade estabelecidas 
pela atuação dos Poderes Legislativo e Executivo sejam solucionadas não permitindo que 
princípios como o da supremacia da Constituição e o da soberania popular continuem a ser 
ignorados pelos membros de tais Poderes. 
Luiz Guilherme Marinoni (2011, p. 442) ainda ensina que: 
O debate em torno da legitimidade da jurisdição constitucional, 
ou melhor, a respeito da legitimidade do controle da constitucionalidade 
da lei, funda-se basicamente no problema da legitimidade do juiz para 
controlar a decisão da maioria parlamentar. Isso porque a lei encontra 
respaldo na vontade popular que elegeu o seu elaborador – isto é, na 
técnica representativa. Por outro lado os juízes, como é sabido, não são 
eleitos pelo povo, embora somente possam ser investidos no poder 
jurisdicional através do procedimento traçado na magistratura de 1.° grau 
de jurisdição – de lado outros critérios e requisitos para o ingresso, por 
exemplo no Supremo Tribunal Federal. 
As leis ou os atos normativos contrários a Constituição não podem ser mantidos 
somente por força do princípio majoritário. A atuação contramajoritária do Poder 
Judiciário, segundo Estefânia Maria de Queiroz Barboza (s.d.), se justifica pelo maior 
16 
 
preparo dos tribunais em relação aos membros dos demais Poderes para tratar de direitos 
fundamentais, além de serem imparciais por não estarem sujeitos a pressão de “grupos 
politicamente poderosos”. 
O Poder Judiciário zela pelo respeito à supremacia da Constituição e quando o uso 
abusivo do princípio majoritário viola tal supremacia, se faz necessária uma atuação 
contramajoritária por meio do controle judicial de constitucionalidade. 
 
 
3.2 Atuação do STF com uso do Poder Contramajoritário 
 
 
O Supremo Tribunal Federal julgou a Ação de Direta de Inconstitucionalidade 
(ADI) 4277 e a Arguição de Descumprimento do Preceito Fundamental (ADPF) 132, 
reconheceram a união estável dos casais homoafetivos. 
O julgamento começou na tarde de ontem (4), quando o relator 
das ações, ministro Ayres Britto, votou no sentido de dar interpretação 
conforme a Constituição Federal para excluir qualquer significado do 
artigo 1.723 do Código Civil que impeça o reconhecimento da união 
entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. 
O ministro Ayres Britto argumentou que o artigo 3º, inciso IV, da 
CF veda qualquer discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, 
nesse sentido, ninguém pode ser diminuído ou discriminado em função 
de sua preferência sexual. “O sexo das pessoas, salvo disposição 
contrária, não se presta para desigualação jurídica”, observou o ministro, 
para concluir que qualquer depreciação da união estável homoafetiva 
colide, portanto, com o inciso IV do artigo 3º da CF. 
Os ministros Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa, 
Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello e Cezar Peluso, bem 
como as ministras Cármen Lúcia Antunes Rocha e Ellen 
Gracie, acompanharam o entendimento do ministro Ayres Britto, pela 
procedência das ações e com efeito vinculante, no sentido de dar 
interpretação conforme a Constituição Federal para excluir qualquer 
significado do artigo 1.723 do Código Civil que impeça o 
17 
 
reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade 
familiar. 
Na sessão de quarta-feira, antes do relator, falaram os autores das 
duas ações – o procurador-geral da República e o governador do Estado 
do Rio de Janeiro, por meio de seu representante –, o advogado-geral da 
União e advogados de diversas entidades, admitidas como amici 
curiae (amigos da Corte). 
Redação de: http://www.stf.jus.br/ (Supremo reconhece união 
homoafetiva, 05 de maio de 2011). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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4 CONCLUSÃO 
 
É fundamental para um Estado Democrático de Direito como o Brasil que a 
vontade da maioria seja uma garantia para toda a população, porém, não podem existir 
parcelas dela sendo prejudicadas na lei. É importante olhar para o § 3º do artigo 5º da 
Constituição Federal que prevê a possibilidade dos tratados e convenções internacionais 
sobre direitos humanos serem equivalentes às emendas constitucionais, desde que 
aprovados nos termos do referido parágrafo e também para todos os direitos e deveres dos 
cidadãos nela contidos. 
A tendência atual é exatamente a valorização dos direitos e garantias fundamentais, 
a Constituição Federal é a Lei Suprema do Brasil que adota um regime democrático 
fundamentado na soberania popular e voltado para a defesa dos direitos fundamentais. É 
importante estudar o sistema judicial e sua atuação na contenção dos demais poderes e na 
proteção da Constituição, que é a Carta Magna do país. 
O princípio contramajoritário é uma proteção da própria democracia e da própria 
constituição, pois garante os direitos fundamentais, sem ferir os princípios majoritários 
nem caracterizar abuso de poder por parte do Poder Judiciário. Mesmo assim, é importante 
ter em mente que o Supremo Tribunal Federal não deve desdenhar da constituição e sim 
garantir que ela continue atual na proteção de seus cidadãos. Entretanto, é preciso cuidado 
para que o poder contramajoritário seja apenas uma maneira de reconstituir os direitos da 
minoria e não uma maneira do judiciário de “atropelar” a lei suprema do país, que é a 
Constituição. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
 
FERREIRA, Renato. A importância do papel contramajoritário assumido pelo 
Supremo Tribunal Federal no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 
(ADI) 4277 e da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132. 
Disponível em: https://aplicacao.mpmg.mp.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/1092/ 
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sequence=1. Acesso em 23/08/2016. 
 
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contramajoritário e representativo. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2014-fev-
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07/09/2016. 
 
Redação do site do Conselho Nacional de Justiça. Como funciona o Judiciário? 
Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/79080-como-funciona-o-judiciario. 
Acesso em 07/09/2016. 
 
SANTOS, Bruna e ARTEIRO, Rodrigo. O PRINCÍPIO 
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SOBERANIA. Disponível em: http://eventos.uenp.edu.br/sid/publicacao/artigos/8.pdf. 
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ALENCAR, Roldan. Controle de Constitucionalidade. Arquivado no curso de 
Direito UFMS. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA6IoAF/ 
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SANTOS, Bruna. O PRINCÍPIO CONTRAMAJORITÁRIO COMO 
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Acesso em: 15/09/2016. 
 
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SOARES, Hugo. As minorias sociais e o papel contramajoritário do Supremo 
Tribunal Federal. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/32053/as-minorias-sociais-e-
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CARDOSO, Antônio. A Magna Carta- conceituação e antecedentes. Disponível 
em:https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/182020/000113791.pdf?sequence
=1. Acesso em: 15/09/2016. 
 
Redação do site do Supremo Tribunal Federal. Supremo reconhece união 
homoafetiva http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=178931. 
Acesso em: 29/09/2016. 
 
CAMPAGNOLI, Adriana e MANDALOZZO, Silvana. UMA ANÁLISE DO 
PRINCÍPIO CONTRAMAJORITÁRIO COMO ELEMENTO DO CONTROLE DE 
CONSTITUCIONALIDADE EM UM ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. 
Disponível em: 
http://www.ajuris.org.br/OJS2/index.php/REVAJURIS/article/viewFile/220/156. Acesso 
em: 29/09/2016.

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