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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CURSO DE ENGENHARIA CIVIL APOSTILA DE OBRAS DE TERRA (ÚLTIMA REVISÃO: 2º. SEM/2017) PROFESSOR: BÓRIS CASANOVA SOKOLOVICZ OBRAS DE TERRA 2 EMPUXOS DE TERRA 1.1. Definição de Empuxo Entende-se por empuxo de terra a ação horizontal produzida por um maciço de solo sobre as obras com ele em contato, ou seja, é a forca que uma massa de solo exerce sobre alguma estrutura que com ela esteja em contato. A determinação do valor do empuxo de terra é fundamental na análise e projeto de obras como muros de arrimo, cortinas em estacas pranchas, cortinas atirantadas, escoramentos de escavações em geral, construções em subsolos, encontros de pontes, entre outras situações semelhantes a estas. O valor do empuxo de terra, assim como a distribuição de tensões ao longo do elemento de contenção, depende da interação solo-elemento estrutural durante todas as fases da obra. O empuxo atuando sobre o elemento estrutural provoca deslocamentos horizontais que, por sua vez, alteram o valor e a distribuição do empuxo, ao longo das fases construtivas da obra. As fotos abaixo (figura 1) ilustram alguns exemplos de obras de contenção em que são utilizadas diferentes soluções na estrutura de contenção, a saber: (a) muro em solo-cimento; (b) muro em concreto ciclópico; (c) muro em pedras arrumadas manualmente em gaiolas metálicas – gabiões; (d) muro em concreto armado. OBRAS DE TERRA 3 1.1.1 Conceitos básicos e fundamentais de empuxo Teoria da Elasticidade: Inicialmente abordaremos alguns conceitos da teoria da elasticidade no que se refere ao comportamento dos solos e suas características de deformabilidade quando submetido a uma pressão de compressão. Para cada tensão (carga) temos uma deformação (Lei de Hooke = proporcionalidade tensão-deformação). O parâmetro que reflete este comportamento é dado pelo: Módulo da Elasticidade = E = Módulo de Young = Módulo de Deformabilidade OBRAS DE TERRA 4 Figura 2. Deformação de um corpo submetido a um carregamento. Assim poderemos a partir do gráfico: tensão x deformação obtida em um ensaio de compressão, determinar o módulo de elasticidade em um segmento reto. Módulo inicial = é o adotado na condição em que o equilíbrio é elástico (retirada a carga o corpo volta a forma primitiva sendo que, nos solos o retorno se dá sempre parcialmente, havendo uma deformação residual ou plástica). Considerando que o corpo de prova de solo sofre uma tensão de compressão, no sentido da altura, este sofre uma deformação neste sentido e consequentemente no sentido de seu diâmetro b, teremos então: A partir das deformações nos sentidos horizontal e vertical poderemos determinar o Coeficiente de Poisson (μ). O Coeficiente de Poisson é o parâmetro que reflete o quanto o solo deforma no sentido horizontal em relação à deformação no sentido do carregamento. OBRAS DE TERRA 5 Valores típicos para Módulo de Elasticidade (E) de solos Como ordem de grandeza, podem-se indicar os valores apresentados na tabela 1 como módulos de elasticidade para argilas sedimentares saturadas, em solicitações rápidas, que não dão margem à drenagem. Para as areias, os módulos são os correspondentes à situação drenada (tabela 2), pois a permeabilidade é alta, em relação ao tempo de aplicação das cargas. Tabela 1. Módulos de elasticidade típicos de argilas saturadas não drenada. Tabela 2. Módulos de elasticidade típicos de areias em solicitação drenada, para tensão confinante de 100 kPa. Valores típicos para coeficiente de Poisson (μ) de solos Para solos, tem-se a seguinte variação: 0,25 < μ < 0,5 OBRAS DE TERRA 6 Em função da elasticidade do material (E e μ), verifica-se existir, uma proporcionalidade entre a tensão vertical e a correspondente tensão horizontal. O material recebe o esforço, absorve-o e se deforma segundo seus parâmetros de elasticidade. Dentro deste princípio, qualquer valor de pressão horizontal será sempre calculado em função da pressão vertical que, em função apenas da ação do peso próprio do solo, corresponde, no sentido vertical, à pressão efetiva (e ocorrendo pressão neutra adicionando-se o valor da mesma). Sendo: K → chamado coeficiente de empuxo de terra. Analogamente tem-se a seguinte equação: σv = K.ɣ.z Diagrama de tensões horizontais Caso se desloque um volume de massa de solo de uma região, podemos substituí-lo por um plano cujo traço é OO'. Conforme a Figura 3, teremos: Maciço de solo homogêneo, com uma única camada sem NA e com o terrapleno horizontal (i = 0), isto é, não há desenvolvimento de pressão neutra. A pressão lateral, normal a um plano vertical, será σH que, sendo proporcional a σV, dará um diagrama de distribuição idêntica (mesma forma) que para esta tensão. OBRAS DE TERRA 7 Figura 3. Diagrama de Tensões Horizontais. Traçando-se o diagrama de pressões horizontais ou pressões laterais que agem sobre o plano, teremos condição de calcular a resultante deste esforço horizontal que é chamado simplesmente de empuxo, correspondente a área do diagrama de pressões horizontais e agindo no centro de gravidade do mesmo (isto é, no terço inferior da sua altura). 1.2. Empuxo no Repouso Condição em que o plano de contenção não se movimenta. Consideramos, neste tipo de empuxo, um equilíbrio perfeito em que a massa de solo se mantem absolutamente estável, sem nenhuma deformação na estrutura do solo, isto é, está num equilíbrio elástico. Suponhamos uma massa de solo onde, na profundidade h destacamos um determinado elemento que pode, verticalmente, se deformar pelo efeito do peso do material ocorrente acima; mas, essa deformação é equilibrada lateralmente devido à OBRAS DE TERRA 8 continuidade da massa em todas as direções. A massa confina o elemento com as tensões laterais, proporcionais à sobrecarga de peso. Esta situação, do elemento destacado, pode ser representada por uma situação equivalente onde o solo tenha sido deslocado, e um plano considerado imóvel, indeformável e sem atrito de contato substitui essa ausência, conforme representado na figura 4 pelo plano de traço OO'. Figura 4. Representação dos esforços atuantes em um ponto no interior da massa de solo. Sendo o maciço de material homogêneo e considerado elástico, para os valores das tensões, teremos que a tensão horizontal σH é proporcional a tensão σV, ou seja, a pressão lateral que o solo exerce na profundidade h será dada pela expressão: Para o solo considerado (figura 4) a pressão vertical σv é igual a pressão efetiva. Em situações de solos permeáveis, abaixo do NA, isto é, havendo surgimento de pressão neutra, em toda profundidade o diagrama de pressões horizontais ficará acrescido dessa parcela da pressão neutra. Na figura 5 representamos o diagrama de pressões horizontais, cujas áreas nos dão o esforço total para as duas hipóteses consideradas. OBRAS DE TERRA 9 Figura 5. Diagrama de pressões horizontais As estruturas cujos paramentos são travados (engastados) e não tem possibilidade de sofrerem grandes variações de temperatura (no casode obras enterradas), podem ser consideradas indeformados e dimensionados para absorverem estes esforços no repouso. As pressões no repouso, preconizadas aqui, não dependem da resistência ao cisalhamento do solo, mas, de suas constantes elásticas. A tensão horizontal será proporcional à tensão vertical de um valor K0 correspondente ao coeficiente no repouso absoluto. Considerando o solo homogêneo e contínuo: Valores de Ko Quando é considerado o repouso absoluto, esta condição será satisfeita em função das constantes elásticas do material e o coeficiente de proporcionalidade entre σH e σV (pressões no ponto), deduzido, é função, apenas, do Coeficiente de Poisson. No caso dos solos, o Coeficiente de Poisson é variável em função do material e situação de estar drenado ou não. Assim, do livro do SORVERS, temos a tabela 3 para os valores de Ko calculados. OBRAS DE TERRA 10 O Prof. CAPUTO (1987) sugere, de uma forma genérica, os seguintes valores para Ko apresentados na tabela 4. Tabela 3 – Valores de K 0 para situações drenadas e não-drenadas. Tabela 4 – Valores genéricos de K 0. 1.2.1 Determinação Experimental do Empuxo no Repouso O empuxo no repouso é definido pelas tensões horizontais, calculadas para condição de repouso. Neste caso para a condição de semi-espaço infinito horizontal, o empuxo é produto do coeficiente de empuxo lateral no repouso (ko) e da tensão efetiva vertical, acrescido da parcela da poro-pressão. O estado de repouso é a condição em que o solo se encontra, sem qualquer deformação vertical ou horizontal. O valor de ko depende de vários parâmetros geotécnicos do solo, dentre os quais se podem citar: ângulo de atrito, índice de vazios, razão de pré-adensamento, OBRAS DE TERRA 11 etc. A determinação do coeficiente de empuxo no repouso pode ser feita a partir ensaios de laboratório e ensaios de campo, teoria da elasticidade ou correlações empíricas. A determinação experimental pode ser feita através das seguintes técnicas de ensaio: i) ensaio com controle de tensões, tal que Ɛh=0. Este ensaio pode ser feito medindo- se as deformações axial e volumétrica e alterando as tensões tal que Ɛaxial= Ɛvol. Alternativamente podem-se medir as deformações horizontais da amostra através de instrumentação e, consequentemente, corrigir as tensões; i) ensaios de campo (pressiometro, ensaio de fratura hidráulica); ii) instrumentação de campo (células de pressão); Ensaios triaxiais (mantendo-se Ɛh =0), realizados por Bishop, em areias uniformes (n = 40%) mostraram que (Figura 4); i) ko constante no 1º carregamento Ɛh em solos normalmente adensados ko é constante; ii) no descarregamento ko é variável podendo atingir valores superiores a 1 → em solos pré-adensados não há como estimar ko → se OCR (sobretaxa de consolidação) varia ao logo do perfil Ko também varia. Figura 4. Variação de Ko No entanto, a determinação experimental de ko torna-se difícil principalmente por dois fatores: alteração do estado inicial de tensões e amolgamento (fenômeno da perda de resistência de um solo por efeito da destruição de sua estrutura, é o fenômeno responsável pela formação de lama nos solos argilosos), provocados pela introdução do sistema de medidas. Estes dois fatores também influenciam o comportamento de amostras utilizadas em ensaios de laboratório. OBRAS DE TERRA 12 As proposições empíricas (Tabela 5) valem para solos sedimentares. Solos residuais e solos que sofreram transformações pedológicas posteriores, apresentam tensões horizontais que dependem das tensões internas da rocha ou do processo de evolução sofrido. Nestes solos o valor de ko é muito difícil de ser obtido. Tabela 5. Correlações empíricas para estimativa de Ko. OBRAS DE TERRA 13 1.3. Empuxo passivo x empuxo ativo Nos problemas de fundações, a interação das estruturas com o solo implica a transmissão de forças predominantemente verticais. Contudo, são também inúmeros os casos em que as estruturas interagem com o solo através de forças horizontais, denominadas empuxo de terra. Neste último caso, as interações dividem-se em duas categorias. A primeira categoria verifica-se quando determinada estrutura é construída para suportar um maciço de solo. Neste caso, as forças que o solo exerce sobre as estruturas são de natureza ativa. O solo “empurra’ a estrutura, que reage, tendendo a afastar-se do maciço. Na Figura 5 estão apresentadas diversas obras deste tipo. Na segunda categoria, ao contrário, é a estrutura que é empurrada contra o solo. A força exercida pela estrutura sobre o solo é de natureza passiva. Um caso típico deste tipo de interação solo-estrutura é o de fundações que transmitem ao maciço forças de elevada componente horizontal, como é o caso de pontes em arco (Figura 6). Em determinadas obras, a interação solo-estrutura pode englobar simultaneamente as duas categorias referidas. É o caso da Figura 7 onde se representa um muro-cais ancorado. As pressões do solo suportado imediatamente atrás da cortina são equilibradas pela força Ft de um tirante de aço amarrado em um ponto perto do topo da cortina e pelas pressões do solo em frente à cortina. O esforço de tração no tirante tende a deslocar a placa para a esquerda, isto é, empurra a placa contra o solo, mobilizando pressões de natureza passiva de um lado e pressões de natureza ativa no lado oposto. O cômputo da resultante e da distribuição das pressões quer as de natureza ativa, quer as de natureza passiva, que o solo exerce sobre a estrutura, assim como do estado de deformação associado, é quase sempre muito difícil. Contudo, a avaliação do valor mínimo (caso ativo) ou máximo (caso passivo) é um problema que é usualmente ser resolvido por das teorias de estado limite. OBRAS DE TERRA 14 Figura 5. Exemplos de obra em que os empuxos são de natureza ativa OBRAS DE TERRA 15 Figura 8. Empuxo ativo e empuxo passivo. OBRAS DE TERRA 16 Figura 9. Distribuição de empuxo ativo e empuxo passivo. 1.4. Estados de Equilíbrio Plástico Diz se que a massa de solo esta sob equilíbrio plástico quando todos os pontos estão em situação de ruptura. Seja uma massa semi-infinita de solo seco, não coesivo, mostrada na Figura 10. O elemento está sob condição geostática. E as tensões atuantes em uma parede vertical será calculada com base em: OBRAS DE TERRA 17 Como não existem tensões cisalhantes, os planos vertical e horizontal são planos principais. Supondo que haja um deslocamento do diafragma, haverá uma redução da tensão horizontal (σh), sem que a tensão vertical sofra qualquer variação. Se o deslocamento do diafragma prosseguir, a tensão horizontal até que ocorra a condição de ruptura. Neste caso, diz-se que a região esta em equilíbrio plástico e σh atingirá seu limite inferior (condição ativa). Figura 10. Estado de equilíbrio plástico. A Figura 11 mostra os estados limites em termos de círculos de Mohr. A variação do estado de tensões nos estados Ativo e Passivo, assim como em repouso, pode ser interpretado com o auxílio do traçado dos círculos de Mohr e da envoltória de resistência do material (sem coesão), como mostrado na figura 12. estado limite ativo: mantendo-se a tensãoefetiva vertical constante e diminuindo-se progressivamente a tensão efetiva horizontal; estado limite passivo: mantendo-se a tensão efetiva vertical constante e aumentando-se progressivamente a tensão efetiva horizontal. OBRAS DE TERRA 18 Figura 11. Círculos de Mohr representativos dos estados limites e de repouso. Figura 12. Estado de tensões nos estados Ativo e Passivo. Empuxo no Repouso: (Nenhuma deformação no muro e nenhuma mudança nas tensões horizontais). Empuxo Ativo: (Deformação do muro e decréscimo da tensão horizontal). Empuxo Passivo: (Deformação do muro e aumento da tensão horizontal). OBRAS DE TERRA 19 1.5. Teorias de Empuxo de Terra Teoria de Empuxo de Rankine. Teoria de Empuxo de Coulomb. Método de Culmann – Gráfico. Método de Poncelet – Gráfico. Análise Limite. Métodos Numéricos. OBS: Os primeiros 4 métodos usam o critério de ruptura de Mohr-Coulomb. 1.5.2 Teoria de Empuxo de Rankine (1857) OBRAS DE TERRA 20 Rankine (original) assume: o Muro sem atrito; o Solo não coesivo; o Paramento do muro é vertical; o O aterro é horizontal; o O muro é flexível. Rankine, para sua teoria, impõe algumas condições iniciais pressupostas como fundamentais para os primeiros passos da anális 1| 0 Q|e da resistência ao cisalhamento das massas de solos. São elas: O solo do terrapleno considerado é areia pura seca (sem coesão) homogênea em todo o espaço semi-infinito considerado; O atrito entre o terrapleno e o parâmetro vertical do plano de contenção é considerado nulo; Terrapleno sem nenhuma sobrecarga (concentrada, linear ou distribuída); O terrapleno é constituído de uma camada única e contínua de mesmo solo e sua superfície superior é horizontal (solo homogêneo). a) Caso ativo (c=0) OBRAS DE TERRA 21 b) Caso passivo (c=0) OBRAS DE TERRA 22 Alguns autores continuaram o raciocínio de Rankine: OBRAS DE TERRA 23 1.5.1 Teoria de Empuxo de Coulomb (1776) Coulomb assume atrito entre o muro e o solo. A hipótese de não haver atrito entre o solo e o muro, adotada pela teoria de Rankine, raramente ocorre na pratica. Com o deslocamento do muro, a cunha de solo também se desloca, criando tensões cisalhantes entre o solo e o muro. OBRAS DE TERRA 24 No caso ativo, o peso da cunha de solo causa empuxo no muro e este será resistido pelo atrito ao longo do contato solo-muro e pela resistência do solo ao longo da superfície de ruptura. Com isso, ocorre uma redução no valor do empuxo se considerada a condição em repouso. No caso passivo, ocorre o processo inverso. Variando-se “ρ” encontra-se o valor do empuxo ativo (EA), como sendo o valor máximo da equação anterior ou derivando-se em relação a “ρ”, chega-se a expressão (coesão = 0). OBRAS DE TERRA 25 OBRAS DE TERRA 26 Tabela 6. Coeficientes de Empuxo Ativo e Passivo de Rankine e Coulomb. OBRAS DE TERRA 27 OBRAS DE TERRA 28 OBRAS DE TERRA 29 OBRAS DE TERRA 30 OBRAS DE TERRA 31 1.6. Empuxo Ativo x Empuxo Passivo 1º caso – EMPUXO ATIVO - A Estrutura se desloca para fora do terrapleno Neste caso, o solo sofre uma distensão ao reagir contra esta ação de afastamento do plano interno da estrutura de contenção, provocando na massa uma resistência ao longo do possível plano de escorregamento. A massa desenvolve, em seu interior, toda a resistência ao cisalhamento ao longo do plano de ruptura, aliviando, até certo ponto, a ação do solo sobre o paramento interno da estrutura. Este plano de ruptura faz um ângulo α com o traço do plano principal maior, caracterizando um estado de tensões, como mostra a figura 13 limitando-se com a superfície do terrapleno e com o paramento interno da estrutura, formando assim uma região que é denominada cunha instável. Esta cunha está passível de movimento, portanto, onde se desenvolverá a resistência ao cisalhamento e onde cada OBRAS DE TERRA 32 movimento ocorrente não terá condição de retrocesso, isto é, nessa região o equilíbrio é plástico (figura 16). Figura 16. Empuxo ativo. Podemos dizer que neste caso o solo foi ativado em sua resistência interna sendo esta situação chamada de Estado Ativo de Equilíbrio. O esforço do solo desenvolvido sobre a estrutura de contenção é, neste caso, chamado de Empuxo Ativo (figura 17). Dentro de todas as considerações já feitas sobre o maciço, como no caso de empuxo no repouso, temos: Figura 17. Empuxo ativo – diagrama de tensões horizontais. 2º caso – EMPUXO PASSIVO - A Estrutura se desloca contra o terrapleno Neste caso o solo é comprimido pela estrutura, sofre uma compressão na cunha instável, gerando, ao longo do plano de ruptura, uma reação ao arrastamento, ou seja, à resistência ao cisalhamento. OBRAS DE TERRA 33 O movimento do parâmetro interno contra a massa de solo, tentando deslocá- la, na abrangência da região instável, provoca o surgimento da resistência interna ao cisalhamento e, ocorrendo esta movimentação, por pequena que seja, terá que vencer essa resistência deslocando o peso da massa na região abrangida pela cunha. A ação do solo será passiva ao movimento sendo a situação de equilíbrio chamada de Estado Passivo de equilíbrio ou estado superior de solicitação em que a estrutura recebe todo esforço decorrente da ação passiva do solo em relação ao movimento. Esse esforço desenvolvido pelo solo sobre o parâmetro interno da estrutura é chamado de Empuxo Passivo. De maneira similar, a cunha instável limitada pelo plano de ruptura que faz um ângulo α com o plano principal maior ou com a horizontal (figura 16), pela superfície do terrapleno e pelo parâmetro interno da estrutura de contenção, limita a massa de solo responsável por uma compressão no sentido horizontal gerando essa situação particular de equilíbrio, como mostra a figura 18. Figura 18. Empuxo passivo. Para o cálculo do empuxo, o procedimento será análogo, variando, apenas o coeficiente de empuxo, que, neste caso será Kp, ou coeficiente de empuxo passivo. A mobilização da resistência do solo ao longo da superfície de ruptura (plano de ruptura) é que reduz a ação do terrapleno (solo atrás da contenção no estado ativo e aumenta esta ação no caso do estado passivo). OBRAS DE TERRA 34 Vemos pelo gráfico da figura 19 que, depois de determinada mobilização o empuxo não cresce nem decresce nos dois sentidos, pois, a resistência ao cisalhamento já atingiu o valor máximo. Esta variação de solicitação no plano é decorrente, então, da capacidade que o solo tem de desenvolver, internamente, resistência ao cisalhamento. “Tanto sob alívio de tensões laterais (condição ativa) como sob acréscimo de tensões laterais (condiçãopassiva) existem, nas curvas típicas tensão- deformação dos elementos de solo, estados de tensão dentro dos quais o regime é “elástico“. “Portanto, ocorridas as deformações tipo elásticas, “cessa” o movimento, estabelecendo-se o repouso. Reconhecemos, pois, que o eixo vertical de repouso assinalado na figura anterior é apenas uma condição das inúmeras de repouso possíveis, de gênero repouso-ativo e repouso-passivo. Para cada lado, o limite da faixa de possibilidades de repouso é dado pela natureza da curva tensão/deformação e o limite respectivo de comportamento elástico”. 1.7 Outros autores contemplam a Teoria de Rankine: No caso de haver sobrecarga no terrapleno Considere agora a ocorrência de ⇒ sobrecarga uniformemente distribuída no terrapleno. q Nesse caso, pode-se transformar essa sobrecarga em uma altura equivalente de solo da camada. OBRAS DE TERRA 35 OBRAS DE TERRA 36 Influência da água na determinação de empuxo de terra OBRAS DE TERRA 37 OBRAS DE TERRA 38 OBRAS DE TERRA 39 OBRAS DE TERRA 40 OBRAS DE TERRA 41 1.8 OBRAS DE REVESTIMENTO–PROTEÇÃO X OBRAS DE CONTENÇÃO Os tipos de obra voltados para a estabilização de encostas evoluem constantemente, em função de novas técnicas adotadas e dos conhecimentos, cada vez mais aprofundados, a respeito dos mecanismos de instabilização. Considerando- se os problemas mais comuns, procurou-se sintetizar algumas das obras que podem ser utilizadas, visando à proteção ou contenção adequada e segura das encostas, cortes e aterros. Estas obras são apresentadas resumidamente conforme a figura abaixo, tendo sido agrupadas em dois blocos principais, segundo o IPT (1991): 1) sem estruturas de contenção, incluindo retaludamento, drenagem e proteção superficial; e 2) com estruturas de contenção, como muros de gravidade e obras de estabilização de blocos de rocha. O texto apresentado a seguir, que acompanha cada solução apresentada busca fornecer suas características principais, bem como aspectos que merecem ser observados quando de sua implantação. Quadro resumo dos tipos de obra utilizados na estabilização de massas de solo, segundo o IPT (1991). OBRAS DE TERRA 42 Ressalta-se que a escolha adequada do tipo de obra implica uma correta avaliação das características do meio físico (tipos e características dos materiais, inclinação da encosta, condições hidrogeológicas, etc.) e dos processos de instabilização envolvidos, pois cada obra tem eficiência restrita para certas condições e faixas de solicitação. Além disso, as obras devem ser dimensionadas adequadamente e sua implantação deve ser acompanhada por fiscalização técnica competente. Obras sem estrutura de contenção (revestimento–proteção) Estabilização de Taludes Os métodos de estabilização de taludes é tratado na Unidade 04 deste curso – “Estabilidade de Taludes”. Pretende-se inicialmente nesta unidade, apenas apresentar, em linhas gerais, alguns procedimentos de estabilização mais adotados em taludes ou encostas naturais, que poderão ser executados sem a execução de uma estrutura de contenção (ABGE, 1998). Modificação da geometria O procedimento, conhecido por retaludamento, consiste na retirada do material, através de serviços de terraplanagem, reduzindo a altura e o ângulo de inclinação da encosta ou talude de corte (figura 02 – a). A maior vantagem que a mudança de geometria tem sobre outros métodos é que seus efeitos são permanentes, pois a melhora na estabilidade é atingida pelas mudanças permanentes no sistema de forças atuantes no maciço. Mesmo para taludes de corte com níveis de erosão diferenciados, e em locais com deposição de massas coluviais, o retadulamento pode ser efetuado com sucesso, se bem estudado, projetado e executado adequadamente. Obras de drenagem A experiência tem mostrado que em todo talude de corte, de aterro e de encostas naturais, uma eficiente proteção superficial e um sistema de drenagem superficial (figura 02 – b), que dê escoamento rápido à água da chuva, impedindo sua infiltração e erosão superficial, melhoram as condições de estabilidade. Obras de Proteção Superficial A proteção superficial de taludes de corte ou de aterro e encostas naturais, por revestimento vegetal, imprimação asfáltica, etc., desempenha papel extremamente importante na estabilização dos mesmos, impedindo a erosão e a infiltração de água. OBRAS DE TERRA 43 O meio mais simples e eficiente de proteção de taludes ainda é o revestimento vegetal, representado pelas gramíneas (figura 02 – c), que os protege contra a erosão das águas das chuvas e do vento. O crescimento e desenvolvimento da grama faz com que ela absorva a maior parte do impacto das gotas de chuva. Suas raízes fixam o solo superficial, impedindo que ele seja carreado pela água, talude abaixo. Para que a colocação do revestimento vegetal seja eficaz deve ser escolhido o procedimento e a espécie mais adequada, levando-se em conta o tipo de solo, a inclinação do talude e as condições climáticas. Dentre os procedimentos mais usuais, no nosso meio, destacam-se a grama em placas, a hidrossemeadura e o uso de mudas. O concreto projetado e a argamassa projetada são aplicados sobre a superfície do talude, previamente limpo e recoberto com tela metálica, empregando-se equipamento com capacidade de projetar a mistura (figura 02 – d). Normalmente, o processo é utilizado em condições especiais, por causa do seu custo elevado. Seu uso em solo deve ser analisado com cuidado, pois sua maior rigidez impede que ele acompanhe pequenas deformações do talude, vindo a trincar e quebrar, muitas vezes destruindo a proteção almejada. OBRAS DE TERRA 44 Obras com estruturas de contenção Para a escolha da obra de contenção mais adequada de ser executada em uma determinada situação é fundamental avaliar as características do meio físico local e dos processos de instabilização percebidos na encosta, corte ou aterro. Dentre as obras mais comuns destacam-se os muros de arrimo ou muros de gravidade, constituídos de concreto ciclópico, concreto armado, cortina atirrantada, gabiões, solo cimento ensacado, muros em forma de cortina com perfis metálicos com painéis pré-moldados, estacas pranchas, etc. É dada ênfase, nesta unidade, às questões de natureza geotécnica referente às obras com estruturas de contenções, particularmente os “muros de arrimo”. Tipos de contenções x Muros de arrimo A designação “Muros de Arrimo” é utilizada de uma forma genérica para referir- se a qualquer estrutura construída com a finalidade de servir de contenção ou arrimo a uma determinada massa de solo “instável”, ou seja, que tem a possibilidade de se movimentar para baixo, à partir da sua ruptura por cisalhamento. OBRAS DE TERRA 45 Esta unidade do nosso curso tem por objetivo abranger as recomendações essenciais para o projeto e a construção de muros de contenção. Para tanto, são referidos vários textos clássicos, entre livros e manuais. Os principais tipos de estruturas de contenção são os seguintes: • Muros de peso: alvenaria de pedras,concreto gravidade, gabiões, solo- pneus, solo reforçado e sacos de solo-cimento; • Muros de concreto armado: seção em L, com contrafortes e chumbado, cortina atirrantada; • Muros em forma de cortina: Perfis metálicos com painéis pré-moldados, estacas pranchas. Efeitos da água Os métodos de cálculo de empuxo apresentados neste item referem-se apenas ao empuxo efetivo do retroaterro sobre o muro, o qual é considerado perfeitamente drenante. No caso, porém, de muro impermeável ou com sistema de drenagem defeituoso, pode ocorrer uma elevação do nível d’água no reetroaterro, em virtude, por exemplo, de chuvas intensas. Nestas situações, o muro passa a suportar também o empuxo hidrostáticos devido à água. O efeito do empuxo (EW) provocado pela água do retroaterro sobre o muro é sempre contrário à estabilidade. Para a pior situação, considerando um muro totalmente impermeável, com nível d’água na superfície do retroaterro, o valor do empuxo ativo total (solo + água) atuando no muro pode ser muito superior ao caso de muro permeável com nível d’água profundo. Portanto, é de fundamental importância que as estruturas de contenção sejam dotadas de drenagem adequados, com vistoria e manutenção frequentes, conforme ilustrado na figura 13. OBRAS DE TERRA 46 Figura 13 – Dreno (“suspiro” ou “barbacãns”) na parede da contenção para evitar a geração de pressão pela água. OBRAS DE TERRA 47 2- ESTABILIDADE DE MUROS (GRAVIDADE) Os muros de peso, também denominados muros de gravidade, dependem da geometria e do peso próprio para sua estabilidade. Um muro de peso deve ser construído com a largura suficiente para evitar o surgimento de tensões de tração em seu interior. Estas tensões seriam provocadas pela ação instabilizante do empuxo do solo, com tendência ao deslizamento da base e ao tombamento do muro. Para a garantia de estabilidade do muro, deverão ser cuidadosamente estudados e verificados os seguintes mecanismos potenciais de ruptura: • Instabilidade global do talude; • Deslizamento ao longo da base do muro; • Tombamento em relação ao pé do muro; • Capacidade de suporte do solo de fundação do muro. Figura 2.1 – Condições de estabilidade em muros de peso. Os itens acima são comuns ao projeto e dimensionamento de todos os tipos convencionais de muro de arrimo. Na figura 2.1 são explicitados estes mecanismos potenciais de ruptura de muros de peso. OBRAS DE TERRA 48 OBRAS DE TERRA 49 OBRAS DE TERRA 50 OBRAS DE TERRA 51 OBRAS DE TERRA 52 OBRAS DE TERRA 53 OBRAS DE TERRA 54 ` OBRAS DE TERRA 55 OBRAS DE TERRA 56 OBRAS DE TERRA 57 OBRAS DE TERRA 58 2.1 Estabilidade de Muros – Processo de Cálculo. Para verificar a estabilidade de muros de arrimo, verificam-se quatro situações: a) Segurança ao Tombamento: b) Segurança ao Deslizamento: OBRAS DE TERRA 59 c) Segurança as Tensões na Fundação: OBRAS DE TERRA 60 d) Ruptura Generalizada: 2.2 Seleção dos parâmetros do solo. 2.2.1 Peso Específico: OBRAS DE TERRA 61 2.2.2 Ângulo de Atrito: 2.2.2 Resistência ao Cisalhamento Não-Drenada: OBRAS DE TERRA 62 2.2.3 Classificação de Terzaghi e Peck (1948) Terzaghi e Peck (1948) formularam um método semi-empírico para muros de até 6 metros de altura, na qual, com a utilização de determinados gráficos, estima-se o empuxo aplicado pelo muro. Estes métodos são baseados na classificação do solo atrás do muro através de 5 categorias. OBRAS DE TERRA 63 OBRAS DE TERRA 64 OBRAS DE TERRA 65 OBRAS DE TERRA 66 OBRAS DE TERRA 67 OBRAS DE TERRA 68 OBRAS DE TERRA 69 OBRAS DE TERRA 70 OBRAS DE TERRA 71 OBRAS DE TERRA 72 OBRAS DE TERRA 73 OBRAS DE TERRA 74 Parâmetros para o projeto de muros de arrimo. Obs: Material adaptado do Professor Márcio Marangon, de Geotecnia das Fundações, da Universidade Federal de Juiz de Fora. A coleta de amostras indeformadas a grandes profundidades, bem como a moldagem de corpos de prova em laboratório são complicadas de proceder. Assim, recorre-se, em geral, a procedimentos indiretos para se obter dados sobre as características “in situ” de resistência ao cisalhamento e também de compressibilidade desses solos, em especial. As sondagens de percussão, bem como os ensaios de penetração estática de cone (tipo holandês), usualmente as únicas disponíveis em análises preliminares, são muito utilizadas nesses procedimentos. Sondagens à Percussão: Solos de Comportamento Granular (c => 0) Procurou-se definir o valor do ângulo de atrito efetivo (f) desses solos em função apenas do valor da resistência à penetração do amostrador (Standart Penetration Test), obtida nas sondagens de percussão. São apresentados a seguir gráficos que correlacionam o N – SPT com: Densidade; OBRAS DE TERRA 75 Ângulo de Resistência ao Cisalhamento. OBRAS DE TERRA 76 OBRAS DE TERRA 77 Solos de Comportamento Plástico As resistências ao cisalhamento rápido obtidas, por exemplo, através de ensaio de compressão simples sobre amostras indeformadas poderiam ser relacionadas com as resistências à penetração (N) obtidas em sondagens de percussão, ao nível de extração das amostras. O valor da resistência ao cisalhamento (Su) nos ensaios não-drenados e não- confinados é igual a metade da resistência a à compressão (qu). Estimativa dos parâmetros dos solos: OBRAS DE TERRA 78 OBRAS DE TERRA 79 OBRAS DE TERRA 80 OBRAS DE TERRA 81 Parâmetros de Resistência e Peso Específico(Cintra et al. 2003) Coesão Para a estimativa do valor de coesão não drenada (cu), quando se dispõem de resultados de ensaios de laboratório, Teixeira & Godoy (1996) sugerem a seguinte a seguinte correlação com o índice de resistência à penetração (N) do SPT: Ângulo de Atrito Para a adoção do ângulo de atrito interno da areia, pode-se utilizar a Figura 04 (Mello, 1967), que mostra correlações estatísticas entre os pares de valores (σv, N) e os prováveis valores de Ø, em que σv é a tensão vertical efetiva à cota de obtenção de N. OBRAS DE TERRA 82 Ainda para a estimativa de f, Godoy (1983) menciona a seguinte correlação empírica com o índice de resistência à penetração (N) do SPT: Enquanto Teixeira (1996) utiliza: Peso Específico Se não houver ensaios de laboratório, pode-se adotar o peso específico efetivo do solo a partir dos valores aproximados das Tabelas 1 e 2 (Godoy, 1972), em função da consistência da argila e da compacidade da areia, respectivamente. Os estados de consistência de solos finos e de compacidade de solos grossos, por sua vez, são dados em função do índice de resistência à penetração (N) do SPT, de acordo com a NBR 7250/82. OBRAS DE TERRA 83 Solos Coesivos Após numerosos ensaios, Terzaghi e Peck indicam as seguintes relações: Consistência, número de golpes N e compressão simples: Tensão admissível – solos coesivos Para o cálculo da tensão admissível ou capacidade de carga do solo são bastante difundidas a seguintes relações: (Resultados obtidos em Kg/cm2) OBRAS DE TERRA 84 Depois de estudadas as diversas correlações entre penetrômetros dinâmicos e estáticos, transcreve-se duas tabelas referentes a ângulo de atrito de areias, resistências a compressão e coesão das argilas: Lembrando que: OBRAS DE TERRA 85 Módulo de Deformabilidade e Coeficiente de Poisson (Cintra, 2003) Módulo de Deformabilidade Não se dispondo de ensaios de laboratório nem de prova de cargas sobre placa para a determinação do módulo de deformabilidade do solo (Es), podem ser utilizadas correlações com a resistência de ponta com do cone (qc) ou com índice de resistência à penetração (N) da sondagem SPT, como, por exemplo, as apresentadas por Teixeira & Godoy (1996): OBRAS DE TERRA 86 Onde: α e K são coeficientes empíricos em função do tipo de solo. Esse coeficiente α correlaciona qc com Es não deve ser confundido com o coeficiente α de Aoki & Velloso (1995), que transforma qc em atrito lateral unitário do próprio cone. Já o coeficiente K é determinado por Aoki & Velloso (1995). Coeficiente de Poisson Teixeira & Godoy (1996) também apresentam valores típicos para o coeficiente de Poisson do solo (Ѵ). OBRAS DE TERRA 87 3- HIDRÁULICA DOS SOLOS Às vezes o engenheiro se defronta com situações em que é necessário controlar o movimento de água através do solo e, evidentemente, proporcionar uma proteção contra os efeitos nocivos deste movimento. Do ponto de vista prático, a água pode ser considerada incompressível e sem nenhuma resistência ao cisalhamento, o que lhe permite, sob a ação de altas pressões, penetrar em microfissuras e poros, e exercer pressões elevadas que levam enormes maciços ao colapso. Um aspecto importante em qualquer projeto em que se tenha a presença de água é a necessidade do reconhecimento do papel que os pequenos detalhes da natureza desempenham. Assim, não basta apenas realizar verificações matemáticas, mas também recorrer a julgamentos criteriosos dessas particularidades, pois que elas nem sempre podem ser suficientemente quantificadas. O objetivo básico deste capítulo é fornecer as informações necessárias para o entendimento físico da presença da água nos solos e para a resolução de problemas que envolvem percolação de água no solo. 3.1 – Ocorrência de água subterrânea OBRAS DE TERRA 88 Segundo CHIOSSI (1989), o interior da Terra, composto de diferentes rochas, funciona como um vasto reservatório subterrâneo para a acumulação e circulação das águas que nele se infiltram. As rochas que formam o subsolo da Terra, raras vezes, são totalmente sólidas e maciças. Elas contêm numerosos vazios (poros e fraturas) denominados também de interstícios, que variam dentro de uma larga faixa de dimensões e formas, dando origem aos aqüíferos. Apesar desses interstícios poderem atingir dimensões de uma caverna em algumas rochas, deve-se notar que a maioria tem dimensões muito pequenas. São geralmente, interligados, permitindo o deslocamento das águas infiltradas. A água subterrânea é originada predominantemente da infiltração das águas das chuvas, sendo este processo de infiltração de grande importância na recarga da água no subsolo. A recarga depende do tipo de rocha, cobertura vegetal, topografia, precipitação e da ocupação do solo. A utilização desta água é feita através de poços caseiros e profundos, conforme a profundidade alcançada. O processo de formação do lençol freático é mostrado na Figura. OBRAS DE TERRA 89 Problemas relativos às águas subterrâneas são encontrados em um grande número de obras de Engenharia. A ação e a influência dessas águas têm causado numerosos imprevistos e acidentes, sendo os casos mais comuns verificados em cortes de estradas, escavações de valas e canais, fundações para barragens, ontes, edifícios, etc. As obras que necessitam de escavações abaixo do lençol freático, como por exemplo, a construção de edifícios, barragens, túneis, etc; pode ser executado um tipo de drenagem ou rebaixamento do lençol freático. A água existente no subsolo pode ser eliminada por vários os métodos. 3.2 – Fenômenos capilares A posição do lençol freático no subsolo não é, entretanto, estável, mas bastante variável. Isso representa dizer que, em determinada região, a profundidade do lençol freático varia segundo as estações do ano. Essa variação depende do clima da região, e dessa maneira, nos períodos de estiagem, a posição do lençol freático sofre normalmente um abaixamento, ao contrário do período das cheias, quando essa posição se eleva. OBRAS DE TERRA 90 A ocorrência de leitos impermeáveis (argila, por exemplo) ocasiona aprimoramento localizado de certas porções de água, formando um lençol freático ou nível d’água suspenso, que não corresponde ao nível d’água principal. Em consequência da infiltração, a água precipitada sobre a superfície da terra penetra no subsolo e através da ação da gravidade sofre um movimento descendente até atingir uma zona onde os vazios, poros e fraturas se encontram totalmente preenchidos d’água. Esta zona é chamada zona saturada ou freática. Essa zona é separada por uma linha conhecida como nível freático ou lençol freático, abaixo da qual estará o solo na condição de submersão (se em condição de água livre), e acima estará o solo saturado até uma determinada altura. Nos solos, por capilaridade, a água se eleva por entre os interstícios de pequenas dimensões deixados pelas partículas sólidas, além do nível do lençol freático.A altura alcançada depende da natureza do solo. O corte, na Figura abaixo, mostra-nos uma distribuição de umidade do solo e os diferentes níveis e condições da água subterrânea em uma massa de solo. Verifica-se que o solo não se apresenta saturado ao longo de toda a altura de ascensão capilar. Observa-se que o fenômeno de capilaridade ocorre em maiores proporções em solos argilosos. A altura capilar é calculada pela teoria do tubo capilar, que considera o solo um conjunto de tubos capilares. OBRAS DE TERRA 91 3.3 Fluxo de água nos solos A fundamentação teórica para resolução dos problemas de fluxo de água foi desenvolvida por Forchheimer e difundida por Casagrande (1937). O estudo de fluxo de água nos solos é de vital importância para o engenheiro, pois a água ao se mover no interior de um maciço de solo exerce em suas partículas sólidas forças que influenciam o estado de tensão do maciço. Os valores de pressão neutra e como isso os valores de tensão efetiva em cada ponto do maciço são alterados em decorrência de alterações de regime de fluxo. De uma forma geral, os conceitos de fluxo de água nos solos são aplicados nos seguintes problemas: Estimativa da vazão de água (perda de água do reservatório da barragem), através da zona de fluxo; • Instalação de poços de bombeamento e rebaixamento do lençol freático; • Problemas de colapso e expansão em solos não saturados; • Dimensionamento de sistemas de drenagem; • Dimensionamento de “liners” em sistemas de contenção de rejeitos; • Previsão de recalques diferidos no tempo (adensamento de solos moles – baixa OBRAS DE TERRA 92 permeabilidade); • Análise da influência do fluxo de água sobre a estabilidade geral da massa de solo (estabilidade de taludes); • Análise da possibilidade da água de infiltração produzir erosão, arraste de material sólido no interior do maciço, “piping”, etc. O estudo dos fenômenos de fluxo de água em solos se apoia em três pilares: conservação da energia (Bernoulli), permeabilidade dos solos (Lei de Darcy) e conservação da massa. Alguns conceitos sobre os dois primeiros pontos são aqui abordados: Conservação da energia A água ocupa a maior parte ou a totalidade dos vazios do solo e quando submetidas a diferenças de potenciais, ela se desloca no seu interior. A água pode atuar sobre elementos de contenção, obras de terra, estruturas hidráulicas e pavimentos, gerando condições desfavoráveis à segurança e à performance destes elementos. O conceito de energia total de um fluido, formulado por Bernoulli, é apresentado nas disciplinas de Fenômenos dos Transportes e Mecânica dos Fluidos. A equação 1.1 apresenta a proposta de Bernoulli para representar a energia total ou carga total em um ponto do fluido, expressa em termos de energia/peso. OBRAS DE TERRA 93 Lei de fluxo generalizada A equação diferencial de fluxo é a base para o estudo de percolação bi ou tridimensional. Tomando um ponto definido por suas coordenadas cartesianas (x,y,z), considerando o fluxo através de um paralelepípedo elementar em torno deste ponto, e assumindo a validade da lei de Darcy, solo homogêneo e solo e água incompressíveis, é possível deduzir a equação tridimensional do fluxo em meios não- saturados: OBRAS DE TERRA 94 OBRAS DE TERRA 95 OBRAS DE TERRA 96 Rede de fluxo A equação de Laplace tem como solução duas famílias de curvas que se interceptam normalmente. A representação gráfica destas famílias constitui a chamada rede de escoamento ou rede de fluxo (“flow net”). A rede de fluxo é um procedimento gráfico que consiste, basicamente, em traçar na região em que ocorre o fluxo, dois conjuntos de curvas conhecidas com linhas de escoamento ou de fluxo, que são as trajetórias das partículas do líquido e por linhas equipotenciais ou linhas de igual carga total. O trecho compreendido entre duas linhas de fluxo consecutivas quaisquer é denominado canal de fluxo e representa um acerta porção ∆Q da quantidade total Q de água que se infiltra. Portanto, a vazão em cada canal de fluxo é constante e igual para todos os canais. OBRAS DE TERRA 97 OBRAS DE TERRA 98 As Figuras abaixo apresentam dois casos em que se apresenta o traçado das linhas de fluxo e a utilização de filtros de proteção para o controle de fluxo de água que ocorre. Na Figura abaixo temos uma barragem de terra através da qual há um fluxo de água, graças às diferenças de carga entre montante e jusante. Com intuito de proteger a barragem do fenômeno de erosão interna (piping) e para permitir uma rápida drenagem da água que percola através da barragem, usa-se construir filtros, como, por exemplo, o filtro horizontal esquematizado no desenho. OBRAS DE TERRA 99 Lei de Darcy OBRAS DE TERRA 100 OBRAS DE TERRA 101 OBRAS DE TERRA 102 OBRAS DE TERRA 103 Permeâmetro de nível constante É utilizado para medir a permeabilidade dos solos granulares (solos com razoável quantidade de areia e/ou pedregulho), os quais apresentam valores de permeabilidade elevados. Este ensaio consta de dois reservatórios onde os níveis de água são mantidos constantes, como mostra a Figura. Mantida a carga h, durante um certo tempo, a água OBRAS DE TERRA 104 percolada é colhida e o seu volume é medido. Conhecidas a vazão e as dimensões do corpo de prova (comprimento L e a área da seção transversal A), calcula-se o valor da permeabilidade, k, através da equação: OBRAS DE TERRA 105 Verificação dos traçados das linhas de Fluxo O aspecto das linhas equipotenciais e de fluxo, o caso simples de uma cortina de estacas-prancha cravadas num terreno arenoso, onde se indicam as condições limites, constituídas por duas linhas de fluxo e duas linhas equipotenciais, como são mostradas na Figura. OBRAS DE TERRA 106 OBRAS DE TERRA 107 OBRAS DE TERRA 108 OBRAS DE TERRA 109 Sugestão e Recomendação para o traçado das Redes de Fluxo Casagrande OBRAS DE TERRA 110 OBRAS DE TERRA 111 OBRAS DE TERRA 112 Exemplos de redes de fluxo em fundações – (Terzagui, 1930) OBRAS DE TERRA 113 Fluxo de água em meio não confinado OBRAS DE TERRA 114 De acordo com a figura abaixo, temos as seguintes considerações:OBRAS DE TERRA 115 OBRAS DE TERRA 116 OBRAS DE TERRA 117 OBRAS DE TERRA 118 OBRAS DE TERRA 119 OBRAS DE TERRA 120 OBRAS DE TERRA 121 OBRAS DE TERRA 122 OBRAS DE TERRA 123 OBRAS DE TERRA 124 OBRAS DE TERRA 125 OBRAS DE TERRA 126 OBRAS DE TERRA 127 OBRAS DE TERRA 128 OBRAS DE TERRA 129 OBRAS DE TERRA 130 OBRAS DE TERRA 131 OBRAS DE TERRA 132 OBRAS DE TERRA 133 4 - ESTABILIDADE DE TALUDES 4. 1 – Introdução OBRAS DE TERRA 134 A divisão em unidades de relevo tem por objetivo delimitar diferentes regiões, cujos atributos físicos distintos permitam demarcar os terrenos de acordo com seu comportamento característico frente à implantação de uma rodovia. a) Planícies – superfícies aplainadas e com pouca altitude, geralmente abaixo dos 100 m. b) Colinas – relevo pouco acentuado com declividades predominantes de até 15% e amplitudes locais abaixo de 100 m. c) Morros com encostas Suavizadas – relevo poço acentuado, com declividade predominantemente abaixo dos 15% e amplitudes locais entre 100 e 300m. d) Morrotes – relevo com declividades predominantes acima de 15% e amplitudes locais abaixo de 100m. e) Morros – relevo com declividades predominantes acima de 15% e amplitudes locais entre 100 e 300m f) Montanhas – relevo com declividades predominantes acima de 15% e amplitudes locais acima de 300m. g) Escarpas – relevo de maior energia, com declividades predominantes acima de 30% e amplitudes locais acima de 100m. 4. 2 – Taludes Segundo Caputo (1988), sob o nome genérico de taludes compreendem-se quaisquer superfícies inclinadas que limitam um maciço de terra, de rocha ou de terra e rocha. Podem ser naturais, casos das encostas, ou artificiais, como os taludes de cortes e aterros. A figura 4.1 ilustra um talude e a terminologia usualmente empregada. OBRAS DE TERRA 135 Figura 4.1 - Talude Os maciços sob o aspecto genético podem ser agrupados em duas categorias: naturais e artificiais. Estes frequentemente exibem uma homogeneidade mais acentuada que os maciços naturais e, por isto, adequam-se melhor as teorias desenvolvidas para as análises de estabilidade. Dois outros aspectos elucidativos deste ponto merecem atenção: o primeiro refere-se ao fato de que os taludes naturais possuem uma estrutura particular que só é conhecida através de um criterioso programa de prospecção; o segundo está associado à vida geológica do maciço natural, intimamente ligado ao histórico de tensões sofrido por ele – erosão, tectonismo, intemperismo (figura 06), etc. São vários os fatores naturais que atuam isolada ou conjuntamente durante o processo de formação de um talude natural e que respondem pela estrutura característica destes maciços. Estes fatores podem ser agrupados em duas categorias: ∗Fatores Geológicos ∗Fatores Ambientais - litologia - clima - estruturação - topografia - geomorfologia - vegetação OBRAS DE TERRA 136 Os fatores geológicos são responsáveis pela constituição química, organização e modelagem do relevo terrestre; à ação deles, soma-se a dos fatores ambientais. Assim, a litologia, com os constituintes dos diversos tipos de rocha, a estruturação dos maciços – através dos processos tectônicos, de dobras, de falhamento, etc, e a geomorfologia – tratando da tendência evolutiva dos relevos, apresentam um produto final que pode ser alterado pelos fatores climáticos, principalmente pela ação erosiva influenciada pelo clima, topografia e vegetação. As paisagens naturais são dinâmicas, alterando-se continuamente ao longo do tempo sob a ação destes fatores. Ao lado destas ações naturais podem surgir as ações humanas que altera a geometria das paisagens e atua sobre os fatores ambientais, mudando ou destruindo a vegetação alterando as formas topográficas e às vezes mesmo o clima; em razão disto, estes maciços diferem bastante dos aterros artificiais cujo controle de “colocação das terras” permite conhecê-los infinitamente melhor. OBRAS DE TERRA 137 Figura 2 – Exemplo de talude natural (em corte) em que se pode observar a sua estrutura particular, associada à vida geológica do maciço, intimamente ligado, entre outras coisas, a ação do intemperismo (Av. Deusdeth Salgado – J. Fora/MG). Figura 3 – Exemplo de talude natural instável, em que foram executadas obras (murro de arrimo de “pé” e proteção com tela argamassada) para a garantia de sua estabilidade. Nos projetos de estabilização o fundamental é atuar sobre os mecanismos instabilizadores. Assim, sufocando a causa com obras ou soluções de alto efeito não só se ganha em tempo como efetivamente em custo e segurança. Se a ação instabilizadora é a percolação interna no maciço, devem ser convenientes obras de drenagem profunda e/ou impermeabilização a montante do talude (como na figura acima em que foi feita a impermeabilização do talude). OBRAS DE TERRA 138 4. 3 – Estabilidade de Taludes As análises de estabilidade têm como objetivo, no caso de: a) Encostas naturais: estudar a estabilidade de taludes, avaliando a necessidade de medidas de estabilização. Figura 3 Cortes ou escavações: estudar a estabilidade, avaliando a necessidade de medidas de estabilização. Figura 4 Barragens: definir seção da barragem de forma a escolher a configuração economicamente mais viável. Neste caso são necessários estudos considerando diversos momentos da obra: final de construção, em operação, sujeita a rebaixamento do reservatório, etc. OBRAS DE TERRA 139 Figura 5 Aterros: estudar seção de forma a escolher a configuração economicamente mais viável. Neste caso são necessários estudos considerando diversos momentos da obra: final de construção e a longo prazo. Figura 6 Retro analisar taludes rompidos (naturais ou construídos) possibilitando reavaliar parâmetros de projeto. OBRAS DE TERRA 140 Figura 7 4.3.1 - Mecanismo de ruptura A ruptura em si é caracterizada pela formação de uma superfície de cisalhamento contínua na massa de solo. Existe, portanto, uma camada de solo em torno da superfície de cisalhamento que perde suas características durante o processo de ruptura, formando assim a zona cisalhada. Inicialmente háa formação da zona cisalhada e, em seguida, desenvolve-se a superfície de cisalhamento. Este processo é bem caracterizado, tanto em ensaios de cisalhamento direto, como nos escorregamentos de taludes. OBRAS DE TERRA 141 Figura 8 - Zona fraca, zona cisalhada e superfície de cisalhamento (LEROUEIL, 2001). 4.3.2 – Tipos de Taludes OBRAS DE TERRA 142 Figura 9. Tipos e formas geométricas de encostas (Chorley, 1984) 4.3.3 - Exemplos de Escorregamentos e Remediação 4.3.3.1 - Taludes em Rocha OBRAS DE TERRA 143 Figura 10 - Instabilidade de talude rochoso. Figura 11 - Remediação por contrafortes e tirantes (GeoRrio) OBRAS DE TERRA 144 Figura 12 - Estabilização do Corcovado durante e após a execução (fotos GeoRio) 4.3.3.2. Taludes em Solo OBRAS DE TERRA 145 Figura 13 - Instabilidade de talude (GeoRio) Figura 14 - Instabilidade de talude. 4.3.4 - Tipos de Movimentos de Massa OBRAS DE TERRA 146 Os movimentos de massa se diferenciam em função de: Velocidade de movimentação; Forma de ruptura. A partir da identificação destes fatores, os movimentos de massa podem ser agrupados em três categorias: Escoamentos; Subsidências; Escorregamentos. Por outro lado, as erosões, que também são movimentos de massa, muitas vezes não podem ser classificadas em um único grupo. Os mecanismos deflagradores dos processos erosivos podem ser constituídos de vários agentes, fazendo com que as erosões sejam tratadas separadamente. 4.3.4.1 – Escoamento OBRAS DE TERRA 147 OBRAS DE TERRA 148 4.3.4.2 - Subsidência e Recalques A subsidência por definição é o resultado do deslocamento da superfície gerado por adensamento ou afundamento de camadas, como resultado da remoção de uma fase sólida, liquida ou gasosa. Em geral envolve grandes áreas e as causas mais comuns são: Ação erosiva das águas subterrâneas; Atividades de mineração; OBRAS DE TERRA 149 Efeito de vibração em sedimentos não consolidados; Exploração de petróleo; Bombeamento de águas subterrâneas. Os recalques são movimentos verticais de uma estrutura, causados pelo peso próprio ou pela deformação do solo gerada por outro agente. As causas mais comuns são: Ação do peso próprio; Remoção do confinamento lateral devido a escavações; Rebaixamento do lençol d’água. Os desabamentos ou quedas são subsidências bruscas, envolvendo colapso na superfície. OBRAS DE TERRA 150 4.3.4.3 - Escorregamentos OBRAS DE TERRA 151 4.3.4.4 - Erosão A ação antrópica, tem sido o fator condicionante na deflagração dos processos erosivos, nas suas várias formas de atuação, como desmatamento e construção de vias de acesso, sem atenção às condições ambientais naturais. Figura 15 - Erosão. 4.3.4.5 – Classificação dos Movimentos de Terra OBRAS DE TERRA 152 OBRAS DE TERRA 153 4.3.4.6 – Quanto à velocidade Quanto à velocidade os movimentos de massa podem ser classificados como: OBRAS DE TERRA 154 Figura 16. Escala de velocidades de movimentos (Varnes) 4.3.4.7 – Quanto à profundidade 4.3.4.8 – Tipos de Escorregamento OBRAS DE TERRA 155 Os escorregamentos são os movimentos de massa mais frequentes e de consequências catastróficas. A forma da superfície de ruptura varia dependendo da resistência dos materiais presentes na massa. Tanto em solos como em rochas a ruptura se dá pela superfície de menor resistência. 4.3.4.8.1 Rotacional Em solos relativamente homogêneos a superfície tende a ser circular. Caso ocorram materiais ou descontinuidades que representem com resistências mais baixas, a superfície passa a ser mais complexa, podendo incluir trechos lineares (Figura 17). A anisotropia com relação à resistência pode acarretar em achatamento da superfície de ruptura. Figura 17 - Superfícies de ruptura – escorregamento simples rotacional. Os escorregamentos rotacionais podem ser múltiplos conforme mostra a Figura 18 e, na realidade, ocorrem sob forma tridimensional (Figura 19). OBRAS DE TERRA 156 Figura 18 - Escorregamento rotacional múltiplo. Figura 19 - Escorregamento tridimensional. 4.3.4.8.2 Translacional OBRAS DE TERRA 157 Os escorregamentos translacionais se caracterizam pela presença de descontinuidades ou planos de fraqueza (Figura 20). Figura 20 - Superfícies de ruptura – escorregamento translacional Os escorregamentos translacionais podem ocorrer no contato entre coluvião e solo residual e até mesmo no manto de alteração do solo residual (Figura 21). Figura 21 - Escorregamento translacional em solo residual. 4.3.4.8.3 Misto: Rotacional e Translacional OBRAS DE TERRA 158 Figura 22 - Superfícies de ruptura simples – escorregamento misto. Figura 23 - Superfícies de ruptura múltiplas – escorregamento misto. OBRAS DE TERRA 159 4.3.5 - Causas dos escorregamentos As causas dos escorregamentos enumeradas por Terzaghi são colocadas em três níveis: a) causas externas: são devidas a ações externas que alteram o estado de tensão atuante sobre o maciço. Esta alteração resulta num acréscimo das tensões cisalhantes que igualando ou superando a resistência intrínseca do solo leva o maciço a condição de ruptura, são elas: - aumento da inclinação do talude; - deposição de material ao longo da crista do talude; - efeitos sísmicos. b) causas internas: são aquelas que atuam reduzindo a resistência ao cisalhamento do solo constituinte do talude, sem ferir as suas aspectos geométricos visíveis podem ser: - aumento da pressão na água interstical; - decréscimo da coesão. c) causas intermediárias: são as que não podem ser explicitamente classificadas em uma das duas classes anteriormente definidas: - liquefação espontânea; - erosão interna; - rebaixamento do nível d’água. 4.3.6 - Fator de Segurança Por fator de segurança (FS) entende-se o valor numérico da relação estabelecida entre a resistência ao cisalhamento disponível do solo para garantir o equilíbrio do corpo deslizante (s= c’ + (σ - u) tgφ’) e a tensão de cisalhamento mobilizada (sm), sob o efeito dos esforços atuantes. OBRAS DE TERRA 160 As solicitações que provocam o deslizamento dos maciços, dentre elas a força peso, serão designadas através de suas resultantes Fa. Considerando que certos métodos de estabilização atestam o equilíbrio dos taludes atravésda somatória de forças que atuam sobre eles, resistindo (Rc + Rφ) ou provocando seus deslizamento ( Fa ), o coeficiente de segurança é definido como: OBRAS DE TERRA 161 Em outros processos o fator de segurança será tomado como a razão entre os momentos devido às forças que atuando sobre a cunhas tendem a mantê-la em equilíbrio (Mr) e os momentos das forças que tendem a instabilizá-la (Ma). Estes momentos são tomados em relação a um ponto situado fora do talude. Assim, tem- se: Um valor de FS > 1 implica em estabilidade do maciço, ou seja, os esforços atuantes são menores do que os esforços resistentes. O fator de segurança pode variar com o tempo, conforme facilmente se verifica na prática, uma vez que um talude pode passar anos sem se deslizar e em um determinado momento ou situação ter as suas condições de estabilidade alteradas (figura 24). O conceito e o significado do fator de segurança teria um significado maior (mais amplo e adequado) se fosse definido em termos probabilístico, em que se teria condições de definir os períodos de recorrência e um intervalo de confiança para o cálculo. Esta forma de abordagem começa agora a ser estudada com mais intensidade no Brasil. Isto posto, conclui-se que a avaliação da estabilidade de um talude não pode ser concretizada se não conhecerem os fenômenos que podem induzir situações críticas e que, além disso, é necessário quantificar as condicionantes quanto á estabilidade, o que nem sempre é fácil ou possível. OBRAS DE TERRA 162 Figura 24 – Exemplo de trecho de estrada em aterro, implantada a vários anos, em que se configurou situação de variação do FS em época de chuvas, por infiltração de água através do pavimento trincado (Estado de São Paulo, janeiro de 2007 - UOL)
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