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Imposto de renda e a capacidade Contribuitiva

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7/4/2014 - O Imposto de Renda e a Capacidade Contributiva
Por Micaela Dutra
Pensando no tema da coluna dessa quinzena, lembrei que ao fim do mês de abril, milhões de contribuintes pessoas físicas estarão cumprindo suas obrigações acessórias perante a Receita Federal do Brasil, com a entrega de suas declarações de imposto de renda.
Inclusive no site da Receita há perguntas e respostas para download sobre o IRPF 2014, para aqueles que ainda não enviaram suas declarações.
Contudo, a grande questão surge na hora de fazer a declaração, pois é inevitável sentir uma indignação pela impossibilidade de deduzir uma série de gastos que são essenciais, mais na pessoa física (foco do nosso artigo de hoje) não são admitidos como dedução pela legislação ou então são limitados em valores muito abaixo dos praticados pelo mercado.
Veja como é a tabela mensal  atual do imposto de renda pessoa física:
 Imagem 
Pode deduzir por dependente o limite anual individual de R$ 2.063,64 e de despesas com instrução de R$ 3.230,46.
Não é preciso ser nenhum especialista em direito tributário, para verificar que algo nesses critérios está muito errado. 
Primeiro, a progressividade trazida, pois ela recai em cima de quem ganha pouco, pois quem ganha acima de dez mil reais está sujeito a mesma alíquota que quem ganha acima de R$ 4.463,81, ou seja, a partir desse patamar o que temos é uma clara proporcionalidade, e não progressividade.  
Mas esse dado sozinho também não nos diz muita coisa. No Brasil, a política de tributação tem o mau hábito de achar que tributação eficiente é aquela que tem alíquotas elevadas e tem que recair sobre aqueles que dela não podem fugir, leia-se, de quem é retido na fonte, sob esse prisma, essa tabela está perfeita, pois a classe média inteira está nela inserida e a maioria é assalariada, sendo retida na fonte, ou seja, dinheiro certo no caixa do governo. Mas isso não representa, nem de perto, uma politica fiscal justa.
Se as alíquotas, que são elevadas para as faixas de renda indicadas, permitissem que o contribuinte se utilizasse de deduções compatíveis com sua realidade do dia a dia, de modo a renda líquida sujeita a tributação ser efetivamente aquilo que sobra para o contribuinte após os gastos que tem com seu mínimo existencial, não haveria tantos problemas e a justiça fiscal estaria materializada. O grande problema é que nossa tributação além de recair fortemente sobre quem ganha pouco, ainda não permite que se deduza todas as despesas em que os cidadãos incorrem para efetivamente garantir o seu mínimo existencial, ou seja, ela ocorre em descompasso com a capacidade contributiva.
Klaus Tipke defende que a tributação da renda para se dar em consonância com o princípio da capacidade contributiva, deve se dar sobre a renda líquida, que é aquela que sobra após deduzidas todas as despesas que o cidadão tem para com a manutenção do seu mínimo vital, que é o limite inferior da capacidade contributiva, ou seja, é aonde ela não existe.
No Brasil, geralmente as despesas dedutíveis são sujeitas a limite, quando são permitidas, e o grande problema é que seus limites estão abaixo dos preços praticados no mercado. Veja, a dedução com despesa de educação é limitada a R$ 3.230,46 por pessoa e engloba apenas aquelas com ensino infantil, fundamental, médio, técnico e superior (incluindo graduação e pós-graduação). Primeiro, quando se gasta isso por ano com alguém? Uma mensalidade de colégio gira em torno de mil reais... E idiomas, como inglês e espanhol, fundamentais para qualquer um nos dias atuais, não deveria ser considerada uma despesa dedutível? E cursinho para vestibular ou concurso público? São despesas com instrução, reduzem a renda líquida do indivíduo, mas integram a base tributável, não podem ser deduzidas.  E os livros? Uma despesa imensa seja em que nível for de ensino, que também reduz a renda do indivíduo, é necessária, pois de nada adianta fazer a escola se não tiver o material de estudo, ou seja, incompleta a política de deduções. 
O mesmo se reflete na questão atinente as despesas médicas, pois é permitido deduzir os recibos médicos, mas os remédios não. Ou seja, a parte mais importante, que é o que efetivamente garante a recuperação do paciente não pode ser objeto de dedução. 
Outro ponto interessante são os tributos pagos: IPTU, IPVA, ITR e demais contribuições para categorias profissionais, como OAB, por exemplo, todos reduzem a renda líquida da pessoa, e não podem ser deduzidos do imposto de renda. Ou seja, nós incluímos na base do imposto de renda o IPTU, o IPVA, o ITR, a OAB, o CREA...o que é um completo absurdo, por serem obrigações legais, que não podem nunca serem consideradas renda, dentro da própria definição veiculada pelo art. 43 do CTN, que não refletem capacidade contributiva, e que são incluídos na base de cálculo do IRPF.
Outro ponto interessante, nossa Constituição traz em seu art. 7º, inciso IV, uma definição do que seria mínimo existencial, área em que não haveria capacidade contributiva, portanto, não sujeita a tributação. Pois bem, lá é prevista a moradia como integrante da concepção de mínimo existencial, ou seja, partindo dessa concepção, as despesas com aluguel deveriam ser reputadas dedutíveis, até porque a receita oriunda dos alugueres é tributada, mas não é.... Mais uma vez, portanto, é tributada como renda algo que renda não é e mal ferida a capacidade contributiva dos cidadãos.
Pagar tributos é necessário, porque vivemos em um Estado Democrático de Direito, que retira sua principal fonte de receita deles para poder garantir todos os direitos a que se comprometeu respeitar e promover em sua Carta de Constituição, mas a tributação deve ser justa e respeitar a capacidade contributiva, sob pena de, para garantir alguns direitos, desrespeitar milhares de outros e colocar em questionamento a própria estrutura do Estado que se buscou constituir. Essa indignação que o cidadão sente ao pagar o imposto de renda não é fruto de uma leviana vontade de não pagar nada, mais sim de uma tributação mal-estruturada que não respeita os direitos fundamentais que visa, com a receita dela oriunda, garantir. Faz-se necessário reestruturar o sistema tributário atual para fazer com que ele reflita os princípios constitucionais elencados como norte da tributação, dentre eles, o da capacidade contributiva, que como direito fundamental que é, tem aplicabilidade imediata nos termos do art. 5º, § 1º da CRFB.
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Reforma Tributária: O Princípio da Capacidade Contributiva e o Imposto de Renda Pessoa Física
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Publicado por Stefani Ventura Vargas - 1 ano atrás
1. INTRODUÇÃO
Justamente pela dificuldade em se determinar a condição financeira real de cada contribuinte, o princípio da capacidade contributiva, em concomitância com o imposto sobre a renda da pessoa física, são um dos maiores desafiadores do Direito Tributário Nacional. Este artigo visa a possibilidade de se programar uma maior concretude nas exações que serão pagas por cada sujeito passivo, separadamente, em virtude de sua renda, atentando de maneira fiel à real possibilidade de cada cidadão e de suas condições familiares, com base em todos os princípios norteadores da Carta Magna, enfatizados pela especificidade da capacidade contributiva do Direito Tributário.
Uma vez que sua aplicação se atente a essas condições especiais e individuais, muitas vezes a tributação poderá exceder a função ideológica estabelecida pelo princípio em tese e outros preceitos constitucionais. Sua medida deverá ser feita sob aspectos diferentes, podendo variar em sua incidência sobre a renda do contribuinte. Há que se estabelecer um padrão com gradações variáveis, através de uma tabela de medidas individuais altamente aliadas às necessidades concretas, o número de dependentes, despesas-padrão baseadas na renda tabelada em que cada família será enquadrada.

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