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Redução de danos

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Redução de danos
Prof: Kátia Barbosa
As estratégias de redução de danos envolvem a utilização de medidas que diminuam os danos provocados pelo uso de drogas, mesmo quando os indivíduos não pretendem ou não conseguem interromper o uso dessas substâncias
São ações práticas, pois consideram que o ideal de não usar drogas pode ou não ser alcançado pelo indivíduo, ou seja, caso o indivíduo continue com o uso, que o faça com o menor risco possível
Princípios básicos da RD (Marlatt)
1- A RD é uma alternativa de saúde pública para os modelos moral/criminal e de doença do uso e da dependência de drogas
2- A RD reconhece a abstinência como resultado ideal, mas aceita alternativas que reduzam os danos
3- A RD surgiu como uma abordagem “de baixo pra cima”, baseada na defesa do dependente, em vez de uma política “de cima pra baixo”, promovida pelos formuladores de políticas de drogas
4- A RD promove acesso a serviços de baixa exigência, como uma alternativa para abordagens tradicionais de alta exigência
EX: no caso de drogas injetáveis → uso de forma não injetável → se não consegue: que não compartilhe seringas → se não for possível: que usem métodos eficientes de esterilização
História da RD
Na 2° metade do séc. XX, as políticas voltadas para o usuário de drogas eram, quase exclusivamente, pautadas em ações repressivas que visavam a diminuição da oferta de drogas pela repressão da produção, distribuição e consumo de drogas ilícitas 
Esta estratégia foi denominada no governo Regan (EUA), de política de “Guerra às drogas”
Esta política coloca pouca ênfase nas ações de prevenção, que quando ocorrem, como no caso das campanhas de “Diga não às drogas” baseiam-se em atemorizar a população-alvo, ressaltando apenas os graves danos produzidos pelo uso de drogas 
Esta estratégia de prevenção não considera que a população-alvo identifica as contradições contidas nesse discurso, com a percepção de que as drogas também produzem prazer e que existem pessoas que usam e não desenvolvem os quadros mais graves divulgados pelas campanhas alarmistas
A política de “Guerra às drogas” não produziu os objetivos desejados e as campanhas alarmistas foram igualmente ineficazes
Na década de 80, na Europa, com o surgimento da epidemia da AIDS, grupos de usuários de drogas organizados exigiram do governo ações que diminuíssem o risco de contágio
Esses programas chegaram ao Brasil e após forte oposição, foram encampados pelo Ministério da Saúde
Atualmente, existem mais de 100 programas de RD no Brasil, quase todos financiados pelo Ministério da Saúde (atividade mais conhecida é a troca de seringas usadas por novas e estéreis)
Atividades dos programas de RD no Brasil
Localização e abordagem da rede de usuários de drogas injetáveis
Substituição de seringas usadas por novas
Informações e orientações de saúde
Disponibilização de serviços de saúde
Testagem anônima para HIV e doenças sexualmente transmissíveis
Exames para os demais problemas de saúde
Encaminhamento para avaliação e tratamento médico de problemas relacionados ou não ao HIV, DSTs ou ao uso de álcool e outras drogas
Encaminhamento para tratamento da dependência e para outros recursos sociais da rede de assistência (serviços sociais, reinserção social, jurídicos, educação,etc.)
Centro de Atenção Psicossocial para usuários de álcool e outras drogas
CAPS ad
Em 2003, o Ministério da Saúde lançou oficialmente a política para a assistência ao uso indevido de álcool e outras drogas no Brasil
Foram instituídas uma diretriz clínico-política (redução de danos) e seu dispositivo assistencial (CAPSad)
Os CAPSad têm como objetivo reunir as redes de saúde, social, cultural e a comunidade
A base de sua assistência está na atenção comunitária, com ênfase na reintegração social dos usuários
A abstinência não é mais tratada como a única meta possível, o que evita a exclusão de muitos usuários, tornando possível a ampliação do contato com a sociedade
Os CAPSad pretendem, além de reduzir os riscos e danos causados pelo uso de drogas lícitas e ilícitas, resgatar o papel auto-regulador e a responsabilidade de seus usuários, em suas relações com as drogas
Objetivam assumir como sua responsabilidade central, a mobilização social para as tarefas preventivas, terapêuticas e reabilitadoras de cidadania
Observando os padrões de consumo de drogas percebe-se diferenças não apenas geográficas, mas também na quantidade do que se consome, na forma e tipos de consumo, nos subgrupos de consumidores e nas consequências sociais, econômicas e para a saúde dos diferentes territórios
Tais diferenças e particularidades exigem, necessariamente, estratégias específicas para cada realidade
Segundo o MS, o CAPSad tem como objetivo oferecer atendimento à população, respeitando uma área de abrangência definida, oferecendo atividades terapêuticas e preventivas à comunidade
Os CAPSad buscam:
1- Prestar atendimento diário aos usuários dos serviços, dentro da lógica de RD
2- Gerenciar os casos, oferecendo cuidados personalizados
3- Oferecer atendimento nas modalidades intensiva, semi-intensiva e não-intensiva, garantindo que o usuário receba atenção e acolhimento
4- Oferecer condições para a desintoxicação ambulatorial ou o repouso de usuários que necessitem de cuidados
5- Oferecer cuidados aos familiares dos usuários dos serviços
6- Promover, mediante diversas ações (que envolvem trabalho, cultura, lazer, esclarecimento e educação da população), a reinserção social do usuário, utilizando para tanto recursos intersetoriais, ou seja, de setores como educação, esporte, cultura e lazer, montando estratégias conjuntas para o enfrentamento dos problemas
7- Trabalhar junto a usuários e familiares, os fatores de proteção para o uso e dependência de substâncias psicoativas, buscando ao mesmo tempo reduzir a influência dos fatores de risco para tal consumo
8- Trabalhar a diminuição do estigma e preconceito relativos ao uso de substâncias psicoativas, mediante atividades de cunho preventivo/educativo
O CAPSad evidenciou a necessidade de uma rede maior com ações locais em cada micro-ambiente onde a droga se apresenta como questão e possível problema (com demandas específicas e intervenções necessárias)
Nesse contexto, reforça-se a necessidade de implantação de ações e de medidas que visem a ampliação do contato com o território de ação e as comunidades
São elementos fundamentais para tecer essa rede de ações:
Os Programas de Saúde da Família (Estratégias de Saúde da família)
As instituições comunitárias (escolas, igrejas), atuando em tarefas de prevenção, triagem e encaminhamentos para tratamento e/ou orientação de pessoas direta ou indiretamente envolvidas com as drogas
c) Treinamento de agentes comunitários de saúde
Atendimento aos usuários
Avaliação psicossocial
- A avaliação, além de mapear as reais condições do paciente e fornecer elementos para o plano de tratamento, é também o primeiro passo para a sua reinserção social, pois levanta potencialidades, interesses e expectativas que poderão ser trabalhadas no tratamento e transformadas em ações gradativas dependendo do estágio de recuperação
1- Acolhimento
2- História de vida
Vida pessoal e familiar
Vida funcional
Vida econômico-financeira
Vida sócio-comunitária
- Expectativas
A reinserção social significa reconstrução das perdas e seu objetivo é a capacitação do paciente para exercer seu direito à cidadania
Exercício de cidadania para o paciente em recuperação significa o estabelecimento ou resgate de uma rede social inexistente ou comprometida pelo abuso ou dependência de drogas
É necessário a construção de uma Rede de atenção à clientela em situação de dependência de drogas. A Rede é identificada como um “tecido” de possibilidades, em permanente movimento e dependente das pessoas
Uma das formas importantes da integração entre as pessoas que formam a rede é o Apoio Matricial
O Apoio Matricial tem uma lógica diferente do encaminhamento ou da referência e contra-referência,incluindo as ações de Saúde mental na Atenção Básica
Nos casos graves, em que a atenção da rede básica não seja resolutiva, as equipes dos CAPS devem fornecer apoio às equipes da Atenção Básica
Está excluída assim a antiga lógica do encaminhamento, referência e contra-referência, responsabilizando todos os envolvidos no acolhimento e/ou nas ações de cuidado continuado
Além da discussão dos casos, as equipes podem atender conjuntamente os pacientes ou seus familiares e realizar intervenções conjuntas na comunidade
A proposta de um trabalho em rede supõe que nenhum serviço poderá resolver todas as necessidades de cuidado em saúde de todas as pessoas de um dado território
Território não é apenas a área geográfica, mas é também o espaço em que circulam as pessoas, com seus sofrimentos e alegrias, suas instituições e os locais que elas frequentam (igrejas, cultos, escolas, bares, trabalhos, etc.)
O território compreende um sentido mais subjetivo, próprio a cada pessoa, em particular, influenciado pelas diferentes culturas presentes em diferentes pessoas de um mesmo bairro, cidade ou família
A Rede compreende também, outros setores como a Assistência ou Promoção Social (abrigos, albergues e casas de passagem), a justiça ( MP e promotorias), a Educação (escolas, Secretarias de Educação, de Cultura, Esporte e Lazer), a Segurança Pública (bombeiros, polícia), as ONGS e a iniciativa privada, os Conselhos que cumprem a função de controle social (Conselhos de saúde; Conselhos Tutelares; Conselhos Municipais Antidrogas)

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