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HUMANISTA 1!

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Abordagens Humanistas em Psicologia
Nesta disciplina você entrará em contato com algumas abordagens psicológicas agrupadas sob o nome de “Psicologia Humanista”. Trataremos da Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Carl Rogers (1902 – 1987), e da Gestalt-Terapia, iniciada por Fritz Perls (1893 – 1970). Como você verá, são abordagens que diferem entre si, mas que convergem na ênfase dada à responsabilidade do homem por suas vivências e na liberdade para lidar com elas, criando-se a si mesmo. O objetivo, então, é que você reconheça os pressupostos epistemológicos e ontológicos das Psicologias Humanistas e consiga diferenciá-las entre si.
Nos primeiros 4 módulos serão apresentadas a história do Movimento Humanista na Psicologia, alguns dos seus principais autores e sua fundamentação teórica e filosófica.
Conhecer uma abordagem psicológica significa conhecer seus principais conceitos e as questões que ela tenta responder. No caso destas abordagens, você deve conseguir compreender o conceito ser humano que sustenta a Abordagem Centrada na Pessoa e o da Gestalt-terapia, assim como as condições em que ocorre a mudança e o crescimento psicológicos nessas abordagens.
Por fim, serão apresentadas modalidades de intervenção psicológica distintas da psicoterapia. Tratam-se de ramificações do Aconselhamento Psicológico. Carl Rogers é o psicólogo que, experimentando o Aconselhamento Psicológico, borra a fronteira que o dividia da psicoterapia, inaugurando para a Psicologia novos modos de cuidar do indivíduo. Serão discutidos o Plantão Psicológico e as Oficinas de Criatividade. Mas, antes, será retomada a história do Aconselhamento Psicológico. 
O Módulo 01 apresenta uma compreensão geral da do Humanismo como movimento filosófico recorrente na história do pensamento ocidental. 
O Módulo 02 se dedica ao Humanismo na Psicologia, indicando os aspectos centrais e convergentes das várias Psicologias Humanistas. 
O Módulo 03 é dedicado ao conceito de “pessoa”, que é central da Abordagem Centrada na Pessoa, iniciada por Carl Rogers, e suas consequências para a compreensão do sofrimento psicológico e do processo de mudança através das modalidades de prática psicológica. 
O Módulo 04 é dedicado à Gestalt-terapia, abordagem terapêutica desenvolvida por Fritz Perls, que enfatiza a experiência consciente (awareness) atual. Essa ênfase se deve à compreensão da relação organismo-meio, que a fundamenta. Busca-se também uma compreensão da especificidade desta psicoterapia, assim como do lugar do psicólogo na relação terapêutica. 
No Módulo 05 entramos em contato com o Aconselhamento Psicológico fundamentado na Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers, e as variadas modalidades de atendimento psicológico que ela inaugura quando coloca em questão a tradicional distinção entre o aconselhamento e a psicoterapia. Algumas dessas modalidades são o tema dos módulos seguintes. 
O Módulo 06 retoma a Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers, para enfatizar sua dimensão ética, retomando as bases histórico-filosóficas que ressaltam esse mesmo caráter como o elemento “humanista”. A ética humanistas desdobra-se como atitude na relação psicólogo-cliente. 
O Módulo 07 apresenta o Plantão Psicológico como intervenção diferente da psicoterapia e que é capaz de corresponder a demandas de atendimento psicológico em clínicas e instituições. São discutidos os fundamentos, o modelo, os objetivos e o papel do psicólogo no processo. 
O Módulo 08 tematiza as Oficinas de Criatividade como intervenção psicológica propiciadora de ampliação do contato consigo e com os outros através de recursos expressivos. São discutidos os fundamentos, o modelo, os objetivos e o papel do psicólogo no processo. 
Através da leitura dos textos indicados, das aulas presenciais e dos exercícios propostos aqui, é esperado que você compreenda o histórico da perspectiva humanista na Psicologia e alguns seus principais conceitos, autores e fundamentações. 
O material poderá ser utilizado como orientação para seu estudo e como complemento das atividades realizadas nas aulas presenciais. 
O programa da disciplina está distribuído em 8 módulos, que devem ser estudados ao longo do semestre letivo. Os Módulos 1 a 4 apresentam a temática da avaliação NP1 e Módulos 5 a 8, da NP2. 
Módulos 
Módulo 1 – Bases histórico-filosóficas do humanismo em Psicologia
Objetivo: Situar as origens históricas e filosóficas do Humanismo na Psicologia.
O Humanismo como movimento recorrente no pensamento ocidental 
 O Humanismo não é exclusividade da Psicologia. Pelo contrário, sua história remonta ao nascimento da filosofia. Segundo o historiador Holanda (2015), o primeiro humanista foi Sócrates, filósofo conhecido pela frase “só sei que nada sei”. Nessa frase paradoxal está contida uma das principais características do Humanismo ao longo da história do pensamento ocidental: a afirmação da capacidade de pensar-se do homem. Na história da filosofia, Sócrates é o filósofo que, dialogando, revela que verdades defendidas por seus interlocutores eram pressupostos adquiridos de outrem. Dessa primeira desconstrução, surge a possibilidade de uma verdade própria, fruto do próprio raciocínio. Isso é possível, pois o homem é capaz de pensar e refletir sobre si mesmo e seu mundo ao redor.
 Ao longo da história, surgem em vários momentos movimentos que buscam resgatar a dignidade do homem, ou seja, seu lugar peculiar na natureza, caracterizado pela capacidade de conhecer(-se). Desse modo, não é possível falar de um Humanismo, mas, sim, de uma atitude humanista de pensamento, que se dedica à questão crucial: quem sou eu?
 Holanda (2015, p.108) indica como características essenciais do humanismo: 1) “a luta do homem que reflete sobre si mesmo; é refletir sobre o embate do ser humano que pensa a natureza e a realidade incluindo-se em relação a estas”; 2) a reflexão sobre a “constituição da subjetividade”, do “sujeito no mundo que habita”; 3) a reflexão do “lugar do sujeito que pensa” no mundo e no conhecimento. Isso está presente no pensamento grego e latino dos séculos antes de Cristo, reaparece no final da Idade Média, no chamado Renascimento, preparando a época moderna, quando novamente anima as reflexões do homem sobre si mesmo e seu mundo. 
 O historiador Abbagnano (1992, apud Holanda, 2015), nessa mesma direção, resume o Humanismo como o movimento literário e filosófico Renascentista, que acontece no final do século XIV, na Itália, assim como toda filosofia que tome o homem como “a medida de todas as coisas”. Esta concepção – de que o homem é a medida de todas as coisas –, remonta ao filósofo Heráclito de Éfeso (535 a.C. – 475 a.C.), mas foi assim enunciada por Protágoras de Abdera (490 a.C. – 415 a.C.). O sentido dessa afirmação aponta para a interligação de homem e realidade e para o alcance do conhecimento, que é possibilidade humana. 
Atividades Recomendadas 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, atentando para as características do Humanismo. Relacione esses temas com as reflexões da Psicologia Humanista moderna. 
2) Pesquise por meios tradicionais ou eletrônicos sobre os filósofos Protágoras, Sócrates e Pascal. 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício: 
A Psicologia Humanista do século XX encontrou no Humanismo, movimento filosófico medieval, fundamentação para as suas posições na Psicologia. Esse movimento filosófico combateu a Escolástica, recolocando como centro das reflexões o Homem, como fizera a cultura clássica anteriormente. Das ideias e citações abaixo, as que correspondem aos ideais do Humanismo são: 
I – “Qual é a utilidade de conhecer a natureza dos quadrúpedes, aves, peixes e serpentes e não conhecer ou até mesmo negligenciar a natureza do homem?” (Petrarca)
II – O homem é um ser que, diferentemente dos demais, não tem lugar ou aspecto fixo, não tem forma determinada nem leis que determinam sua natureza. Ele pode escolher para si mesmo seu lugar e sua natureza e criar leis para si mesmo. (Pico della Mirandola)
III – Como amente do homem foi criada pelo sopro de Deus e seu corpo, do barro, o homem reúne as naturezas mortal e imortal. (Philo) 
A) I e II, apenas.
B) II e III, apenas.
C) I, II e III, apenas.
D) I, apenas.
E) II, apenas. 
Seus estudos da fundamentação filosófica da Psicologia Humanista devem ter-lhe mostrado que os Humanistas medievais recuperam a dignidade do homem, mostrando que é dotado de livre arbítrio, e colocaram a natureza humana como foco das reflexões filosóficas. Assim, as afirmações I, II e III expressam esses ideais. A alternativa correta é C. 
O Renascimento: movimento humanista medieval
 Todo mundo conhece a imagem do homem vitruviano, elaborada por Leonardo da Vinci (1452 – 1519). Para muitos, é um símbolo do Renascimento, pois retrata a homem como parte da natureza, tal como conhecido e conhecível pelo esforço racional humano. Ou seja, contrapõe a representação do homem elaborada por ele mesmo, recorrendo aos instrumentos e cálculos humanos, às representações alegóricas bíblicas. Nesse desenho, retrata, cuidando para revelar com clareza, o corpo humano na sua simétrica e bela perfeição. Os gregos e os latinos, antecedentes do pensamento cristão que domina a cultura (arte, filosofia) já nos primeiros cinco séculos d.C., também buscavam conhecer e representar o corpo humano tal como pode ser (e muitas vezes é) na sua humana perfeição. 
 Os historiadores são unânimes ao apontar como característica do Renascimento o resgate dos gregos e latinos clássicos. O Renascimento é movimento cultural que acontece na Europa Ocidental, tendo seu berço na Itália, entre a segunda metade do XIV e o começo do XVII. Retoma os clássicos, pois recoloca o homem na sua vida terrena no centro das preocupações. Anteriormente, o homem era pensado como parte da criação divina e sua existência e trajetória terrenas como preparação para a vida após a morte. Ou seja, na Idade Média preocupava-se mais com a alma imortal do homem do que como sua vida mortal. No lugar da vida monástica, tida como máximo valor humano, o Humanismo renascentista cede espaço para os prazeres humanos ordinários. Ao invés de pesquisar a vida após a morte, o interesse científico se volta para a vida mundana. 
 O termo HUMANISMO está relacionado com o professor ou aluno de studia humanitatis (humanidades), isto é, textos clássicos sobre gramática, retórica, poética, filosofia moral (ser humano e suas relações com os demais) e história. O conhecimento de latim e grego levou humanistas a traduzirem a filosofia grega para um latim elegante. É neste período que se inicia 
 Os humanistas acreditavam no poder do homem de planejar sua vida, comandar seu destino e direcioná-lo para a liberdade, a justiça e a paz. É nesta época que surge a ideia de “livre arbítrio” como dádiva divina ao homem, que o torna responsável por suas escolhas. Assim como a liberdade, a dignidade do homem volta a ser tema filosófico, como fora outrora com os gregos e os latinos a.C. 
 No pensamento humanista renascentista, o homem era responsável por tornar o mundo seu lar, reconhecendo as necessidades que o ligam a ele. Apareceram discussões sobre a felicidade humana, sobre o livre arbítrio, o destino, a fortuna, sobre o lugar do homem no cosmos. 
As mesmas questões e preocupações reaparecem na fenomenologia, no início do XX. Edmund Husserl descreve a crise das ciências, que assumem o modelo científico-natural, que abstrai o homem, para o conhecer. Ao fazerem isso, deixam de lado a especificidade humana, que é sua condição de conhecedor do mundo e de si. Perguntando “o que é o homem?”, as ciências-naturais tornam-no um “que”, um objeto, perdendo de vista subjetividade (sujeito). De maneira semelhante, os psicólogos humanistas nos EUA criticaram as abstrações e o cientificismo do behaviorismo e da psicanálise em voga na época. Recolocaram no centro das preocupações a saúde, o potencial e a liberdade humanos, esquecidos pelas pesquisas do homem doente (psicopatologia).
Atividades Recomendadas 
1) Faça uma leitura criteriosa do texto indicado, atentando para as questões que orientam as reflexões humanistas medievais.
2) Pesquise bibliografia ou por meios eletrônicos sobre o Renascimento e Filosofia Humanista.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
O Humanismo na psicologia foi influenciado pelo Renascimento, movimento cultural da Europa Ocidental entre os séculos XIV e XVII. Sobre esse movimento, é correto afirmar: 
I – O Renascimento irrompeu contra a Escolástica, colocando o homem no centro das preocupações especulativas. 
II – Para o Renascimento, o aspecto mais importante do homem é sua alma imortal. 
III – O “livre-arbítrio” foi fortemente defendido pelos humanistas, que acreditavam no poder do homem de planejar sua vida, comandar seu destino e direcionar-se para a liberdade. 
IV – O Renascimento se opôs à hegemonia da religião cristã na produção de conhecimento. Os filósofos humanistas eram adversários da Igreja. 
Está correto apenas o que se afirma em:
A) I e II, apenas
B) II e III, apenas
C) I, II e III, apenas
D) III e IV, apenas.
E) I e III, apenas.
Se você leu os textos atentamente e compreendeu os aspectos principais do Humanismo renascentista terá identificado a alternativa E (I e III, apenas) como a correta. A afirmação II indica que a “alma imortal” do homem é o aspecto mais importante para o Renascimento. Isso está errado, pois a preocupação com a alma imortal trazia junto uma desconsideração da vida terrena. Os Humanistas voltam a atenção para a existência e para o mundo ao redor do homem, as escolhas que faz, como exerce seu livre arbítrio na direção do bem. A afirmação IV propõe que o Humanismo Renascentista se opunha à Igreja. Está errado. Os Humanistas não se opõem à filosofia cristã que os antecede. O que fazem é mudar o foco de interesse para o homem histórico, mortal, deixando em segundo plano das reflexões a alma imortal. 
4) Realize os exercícios deste módulo, anotando as dúvidas que surgirem durante a resolução. Busque respostas às suas dúvidas na bibliografia indicada ou através de novas pesquisas bibliográficas. Caso suas dúvidas persistam, apresente-as ao professor, nas aulas presenciais.
Módulo 2: Psicologia Humanista norteamericana – A “Terceira Força”
Objetivo: Situar o surgimento da Psicologia Humanista e conhecer seus principais autores.
Psicologias Humanistas
 Reunimos sob o nome de “Psicologias Humanistas” vários modelos de compreensão de homem que, embora divirjam entre si, convergem na ênfase dada ao sentido das vivências humanas e na liberdade como condição ontológica. Tomaremos como foco de nossos estudos a Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Carl Rogers a partir da década de 1950, a Gestalt-Terapia, por Fritz Perls na mesma época e a Psicologia Existencial-Humanista, desenvolvida por Carl Rogers.
 As Psicologias Humanistas florescem nos Estados Unidos a partir da década de 1950. Esse período que seguiu a Segunda Guerra Mundial estava marcado pelos horrores provocados pela humanidade, assim como pelo temor constante da autodestruição atômica na Guerra Fria. Nas décadas seguintes cresceram as tensões e disputas raciais em busca do fim da discriminação e os Estados Unidos se envolveram com a Guerra do Vietnã, que resultou na morte de milhares de jovens soldados e na mobilização de parcela considerável da sociedade pela paz.
 Nesse momento histórico, a Psicologia estava dividida entre duas “forças”: A Psicanálise freudiana, que apresenta o homem como um organismo determinado por impulsos inconscientes que buscam a satisfação do prazer ou a evitação do desprazer, e o Behaviorismo, que é a aplicação do modelo científico-natural de conhecimento, apresentando o homem como um organismo determinado por sua história de modelagem e pelo ambiente.
 Assim, a Psicologia Humanista surge como a Terceira Força na psicologia. A Terceira Força considera as psicologias de sua época deterministas, pois buscam determinar a causa dos comportamentos humanos. Para isso, recorrema modelos explicativos que não abarcam aquilo que o humano tem de mais peculiar: a liberdade. Ao posicionar a questão do sentido da vida como a mais importante, estão afirmando que a existência humana é livre e capaz de fazer escolhas em direção ao que é significativo em sua vida. Proclamam também que o ser humano é animado por uma força vital, que o impulsiona ao crescimento e à complexificação da existência. (Figueiredo, 2012) 
Atividades Recomendadas
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a interpretação que a Psicologia Humanista faz da Psicanálise e do Behaviorismo. Identifique a natureza dessa crítica; é ela ontológica, epistemológica, metodológica, etc.? 
2) Pesquise por meios tradicionais ou eletrônicos: Humanismo, Existencialismo, Contracultura. 
3) Pesquise por meios tradicionais ou eletrônicos sobre os psicólogos humanistas: Carl Rogers, Abraham Maslow, Karen Horney, Erich Fromm, Rollo May. 
4) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício: 
A Psicologia Humanista foi caracterizada por Erich Fromm como a Terceira Força na Psicologia. Sobre isso, é verdadeiro afirmar: 
I – A Psicologia Humanista é a Terceira Força, que surge em oposição à Psicanálise de Freud (1ª Força) e ao Behaviorismo de Skinner (2ª Força).
II – A Psicologia Humanista surge no começo do séc XX em reação à psicologia “pouco científica” do XIX, que era baseada na consciência e na introspecção. É ciência aplicada, e enquanto tal busca a previsão e o controle do seu objeto de estudo (o humano).
III – A Psicologia Humanista de Rogers, Fromm, Horney defende que o sentido dos comportamentos humanos pode ser descoberto a partir de uma análise da história de modelagem.
IV – A Terceira Força defende que ser humano é ser livre e responsável por si mesmo. Seu destino está em suas mãos. Para isso, o homem dispõe de responsabilidade, envolvimento, capacidade de ação, de fazer escolhas e de crescer.
V – A Psicologia Humanista considera que “o ser humano é, em seu cerne, um organismo em que se pode confiar.” 
Estão corretas as afirmações: 
A) I, II e III, apenas.
B) II, III e IV, apenas.
C) I, IV e V, apenas.
D) III, IV e V, apenas.
E) I, II, IV e V, apenas. 
Considerando as afirmações acima, identificamos que a I, a IV e a V estão corretas. Portanto, a resposta é C. A afirmação II está incorreta, pois a Psicologia Humanista não surge como aplicação do método científico-natural de pesquisa nem concebe o homem como passível de previsão e controle. Pelo contrário, busca a liberdade do humano e os meios para resguardar ou resgatar essa liberdade. A afirmação III está incorreta, pois afirma que as motivações humanas podem ser compreendidas como causas, isto é, determinantes do comportamento. O ser humano é essencialmente aberto para o seu futuro, existindo enquanto processo dirigido à realização pessoal.
A “Terceira Força” em Psicologia 
 A Psicologia Humanista é crítica em relação à hegemonia do conhecimento científico na investigação sobre o humano. Coloca como questão para a Psicologia se não há outras formas de conhecimento sobre o seu “objeto”, o humano.
 O conhecimento científico trabalha com fatos, que são mensuráveis. Segue regras precisas de observação e investigação, que recebem o nome de ‘método’, para assegurar a veracidade do conhecimento produzido. Apesar da pretensa objetividade, há um pressuposto que fundamenta esse modelo de investigação. A ciência pressupõe que a natureza funciona de acordo com leis gerais e que o homem pode descobri-las através de rigoroso método de investigação. Opera sobre a cisão Sujeito – Objeto; os objetos são as partes da natureza e o Sujeito é o pesquisador, aquele que é capaz de investigar e explicar o funcionamento da natureza.
 A cisão Sujeito - Objeto pode ser retraçada à obra do filósofo René Descartes (1596 – 1650). Ele propõe à filosofia que supere o conhecimento vago e especulativo que a dominou por séculos, buscando uma fundamentação sólida e certa. Encontra-a no conhecimento preciso da matemática, para a qual 2 + 2 sempre serão igual a 4. No início do Discurso do Método (1637), ele aponta a insuficiência do senso comum para o conhecimento certo. Escreve:
... a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem uns mais racionais do que os outros, mas somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, tanto quanto das maiores virtudes, e os que só andam muito lentamente podem avançar muito mais, se seguirem sempre o caminho reto, do que aqueles que correm e dele se distanciam. (p.41) 
A partir da consideração de um método preciso de conhecimento racional, Descartes formula a divisão da natureza em dois tipos de substâncias: res cogitans (coisa pensante) e res extensa (coisa extensa). Podemos identificar nessa dualidade a divisão presente no nosso modelo científico entre Sujeito (res cogitans) e Objeto (res extensa).
 A Psicologia enquanto ciência padece de um difícil problema. O “objeto” de suas pesquisas é também o sujeito que investiga. Para a Psicologia Humanista está claro que o “objeto” de pesquisa da Psicologia é o Ser Humano. Sendo assim, a investigação não pode seguir os mesmos métodos e critérios de investigação de objetos naturais, mensuráveis.
 Assim, as Psicologias Humanistas surgem como um novo caminho – uma mudança de paradigma – na investigação sobre o humano. No início, desenvolvem-se a partir da prática de psicólogos norteamericanos. Carl Rogers é o maior exemplo disso. Mas são vários autores com contribuições às vezes divergentes entre si, que converge na compreensão do humano como livre e responsável. Num segundo nomento, esses psicólogos humanistas encontram nas filosofias fenomenológicas e existenciais alguns fundamentos para esta abordagem vanguardista. Resume Holanda (2015, p.166):
O movimento umanista foi sendo enriquecido com contribuições de um pensamento “fenomenológico-existencial” , que confere um “aplicativo-existencial” ao movimento. (Gonzalez, 1988). Um ilustrativo do significado do movimento humanista e do que representou, podemos encontrar nas palavras de Matson (1978): “A Psicologia Humanista não é apenas o estudo do ‘ser humano’; é um compromisso com o devir humano” (p.69). Isto demonstra o que realmente “unia” a diversidade desse autores.
 Como já visto, a Psicologia Humanista do século XX encontra no Renascimento, movimento artístico e filosófico iniciado no século XV de revalorização do humano, em oposição ao Escolasticismo. Os filósofos Humanistas introduziram a noção de livre-arbítrio, pois acreditavam no poder do homem de planejar sua vida, comandar seu destino e direcioná-lo para a liberdade, a justiça e a paz. Além do Humanismo filosófico, a Psicologia Humanista encontra fundamentação teórica no Existencialismo (Kierkegaard, Sartre).
 Sob a categoria “Psicologia Humanista” encontraremos o pensamento de autores diversos, como Kurt Goldstein, Abraham Maslow, Thomas Greening, Karen Horney e Erich Fromm. Além destas influências, Holanda (2015) indica a fenomenologia de Husserl e a fenomenologia-existencial de Heidegger como as mais importantes fundamentações teóricas. Os humanistas compartilham, portanto, da ênfase no conhecimento da singularidade, assim como na postulação de uma força criativa, tendente à autorrealização e ao crescimento.
 Em todos os autores mencionados acima também encontramos a ênfase na liberdade para fazer escolhas e na responsabilidade pela própria vida. Também compartilham a ênfase no conhecimento da singularidade, assim como na postulação de uma força criativa, tendente à autorrealização e ao crescimento. Por exemplo, Maslow ficou conhecido pela Pirâmide das Necessidades, na qual expõe que estamos sempre em direção a experiências e realizações mais complexas, pois o ser humano, diferentemente dos animais, não vive apenas em função darealização das necessidades.
 Nós fazemos escolhas em nome de nossa realização existencial. Quanto maior o nosso grau de liberdade, mais criativos serão nossos recursos para lançarmo-nos em direção ao nosso futuro. Como afirma Holanda (2015, p.169), “As propostas das psicologias humanista (americana) e existencial (europeia) foram reações aos reducionismos vigentes; ambas valoram as dimensões ‘superiores’ da personalidade – coo razão, liberdade, autonomia, criatividade, responsabilidade, dentre outras [...]”
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para as diferenças entre ciências naturais e ciências humanas e seus respectivos objetos de investigação.
2) Reflita: para você, a Psicologia é uma Ciência Natural ou uma Ciência Humana? Por que? Redija uma dissertação sobre o tema, expondo justificativas para ambas as possibilidades. Conclua defendendo a sua posição. 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício: 
No século XIX, iniciou-se um movimento de questionamento da metodologia natural-científica na investigação do humano. Esta parte do pressuposto de que a natureza está aí e funciona de acordo com leis que o homem pode descobrir objetivamente. Os objetos são parte do mundo. Os sujeitos podem conhecê-los. A partir dessa crítica, surge a diferenciação entre Ciências Naturais e Ciências Humanas. Das alternativas abaixo, aquela que expressa corretamente o tipo de relação estabelecida, a origem da objetividade científica, a natureza do que é investigado e o objeto de investigação é: 
A) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos fatos que surgem dos objetos puros.
B) As Ciências Naturais trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos fenômenos que surgem da relação homem-mundo.
C) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos fatos.
D) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Sujeito, buscando a objetividade nos fenômenos que surgem da relação homem-mundo.
E) As Ciências Humanas trabalham com a relação Sujeito – Objeto, buscando a objetividade nos fenômenos que surgem da relação homem-mundo. 
Se você leu atentamente os textos, compreendeu que as Ciências Naturais estabelecem relações Sujeito-Objeto, pois compreendem o investigado como fato objetivo. Já as Ciências Humanas estabelecem relações Sujeito-Sujeito, tendo como ‘objeto’ os fenômenos, cuja significação brota da intersubjetividade. Diante disso, a alternativa que apresenta corretamente o paradigma das Ciências Naturais ou das Ciências Humanas é a D.
Módulo 3: Os pressupostos epistemológicos e ontológicos da Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Rogers.
Objetivo: Compreender o conceito de Pessoa presente na obra de Carl Rogers e como ela fundamenta a Abordagem Centrada na Pessoa; Compreender a mudança no quadro das psicologias proposta por Carl Rogers e a ênfase na postura ética do psicólogo.
Módulo 3: Os pressupostos epistemológicos e ontológicos da Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Rogers.
Compreensão do conceito de Pessoa presente na obra de Carl Rogers
Carl Rogers, o fundador dessa abordagem, nasceu em 8 de janeiro de 1902 em Oak Park, Illinois, nos Estados Unidos. Trabalha como psicólogo desde 1927 realizando psicodiagnóstico infantil, aconselhamento de pais, estudantes e adultos e psicoterapia no Centro de Prevenção de Violência contra a Criança (NY). Rogers falece em 4 de fevereiro de 1987. Visita o Brasil algumas vezes na década de 1970. 
Nessa época, a Psicologia norteamericana está dividida entre behaviorismo e psicanálise, ambas apoiadas nas ciências naturais. Para Rogers, a metade do século XX é uma época que valoriza a tecnologia como valor máximo, aplicando esse valor às relações humanas. Com isso, visando um tratamento eficiente, o psicólogo mantém uma postura distanciada de seu “objeto de estudo”, o paciente. Além disso, o ser humano é visto como “vítima passiva de forças”, sejam elas impulsos inconscientes, pressões sociais ou condicionamentos.
Através de seu trabalho como psicólogo no Centro de Prevenção, Rogers percebe os efeitos positivos de uma postura acolhedora e respeitosa com seus clientes. Essa postura se contrapõe à postura distanciada, científica, dos psicólogos da época. Colocando-se assim na relação com os clientes, Rogers descobre que todo indivíduo tem a capacidade de descobrir e buscar o que é melhor para si mesmo. Essa ideia está em sintonia com a compreensão humanista, que, como já discutido, enfatiza a liberdade e a responsabilidade essenciais do homem.
A hipótese sobre o ser humano formulada por Rogers é a seguinte: “Os indivíduos possuem dentro de si vastos recursos para a autocompreensão e para a modificação de seus autoconceitos, de suas atitudes e de seu comportamento autônomo. Esses recursos podem ser ativados se houver um clima, passível de definição, de atitudes psicológicas facilitadoras.” (p.38) Em outras palavras, as pessoas são capazes de perceber e compreender o que acontece em suas vidas e de se posicionarem em relação a esses acontecimentos. Para isso, precisam dispor de liberdade e criatividade diante das situações da vida.
 O termo “responsabilidade” tem dois significados aqui. O primeiro é o significado mais corrente do termo: os acontecimentos de minha vida estão sob meu encargo. O segundo significado enfatiza a etimologia da palavra, indicando a capacidade de responder. Ser responsável significa ser capaz de responder ao que me solicita. Esse responder não é um mero reflexo, mas um posicionamento do indivíduo em relação ao que lhe advém. É, portanto, um ato de livre determinação do homem, mas que exige criatividade.
A psicologia da época de Rogers estuda o ser humano visando descobrir as causas determinantes de seu comportamento. A psicanálise hipotetiza as pulsões como princípio dos comportamentos. Ademais, explica que as pulsões, correlatos psíquicos dos instintos, objetivam a satisfação do prazer ou alívio do desprazer. Na vida em sociedade, esses impulsos, que facilmente nos levariam a destruir o próximo para satisfazer nossos desejos, precisariam ser reprimidos. A partir de sua experiência no contato com pessoas que atendia, Rogers vê-se obrigado a contestar essa hipótese. Segundo ele, “O ser humano é, em seu cerne, um organismo em que se pode confiar.” (p.41) 
 
Atividades recomendadas:
 
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a noção de pessoa que fundamenta a obra de Carl Rogers.
 
2) Críticos da concepção de homem de Carl Rogers, como a psicóloga brasileira Virginia Moreira, consideram-na excessivamente otimista. Com base nos textos lidos, faz sentido essa crítica? Quais são as consequências positivas e negativas desse otimismo?
 
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
 
A Terapia Centrada no Cliente, desenvolvida por Rogers, oferece ao cliente um espaço de acolhimento e aceitação a fim de que ele possa assumir sua própria vida e “tornar-se quem é”, desenvolvendo uma atitude de maior consideração em relação a si mesmo e às situações significativas de sua vida. Essa abordagem assenta sobre uma compreensão de homem que afirma que:
 
a) os indivíduos possuem dentro de si recursos para compreenderem-se e para modificar seus conceitos, suas atitudes e seu comportamento. Esses recursos podem ser ativados a partir de atitudes psicológicas facilitadoras.
B) quando são ainda bebês, os indivíduos são objeto dos afetos dos pais. Esses afetos são introjetados e formam a personalidade da pessoa. As relações significativas posteriores são reedições dessas experiências primeiras.
C) os indivíduos são determinados pelo meio em que vivem. Assim, a história de vida é determinante do jeito que ela se relacionará com os demais ao longo da vida.
D) os indivíduos têm uma tendência a se anularem em favor dos outros. Assim, tornar-se quem se é significa entender o quanto é nocivo agradar aos outros.
E) o único aspectorealmente importante da vida é o aqui-e-agora; a história de vida e as expectativas em relação ao futuro são secundários.
 
Seus estudos devem ter-lhe auxiliado a perceber que as alternativas B e C apresentam hipóteses deterministas sobre a natureza humana, que não correspondem à perspectiva de Carl Rogers. A alternativa D interpreta equivocamente a noção de “tornar-se quem se é”, pois pressupõe que os outros são nocivos para a pessoa. A alternativa E desconsidera a importância da história de vida e dos projetos existenciais. Portanto, a alternativa correta é a A, que apresenta a compreensão de pessoa como um organismo que tende à auto-realização e é, em sua essência, confiável.
 
A Tendência Atualizante
 
Bibliografia básica: ROGERS, C. “Ser o que realmente se é: Os objetivos pessoais vistos por um terapeuta.” Tornar-se Pessoa. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
Bibliografia complementar: AMATUZZI, M. “Abordagem Centrada na Pessoa e Psicoterapia” Rogers: Ética Humanista e Psicoterapia. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010.
 
O ser humano não é determinado por forças que o impelem a destruir o outro ou si mesmo. Pelo contrário, todo organismo busca a autorrealização e o crescimento cada vez mais plenos. Realizar-me como indivíduo significa também ajudar os outros na busca da autorrealização. Assim, Rogers formula que todo organismo possui uma tendência natural a um desenvolvimento mais completo e mais complexo. Isso pode ser observado em todos os organismos e não seria diferente com o ser humano. Nossos processos naturais também estão voltados para a manutenção, para o crescimento e para reprodução do organismo que somos. Essa tendência natural ao desenvolvimento mais completo e mais complexo recebe o nome de Tendência à Autorrealização (ou Tendência Atualizante).
Na Abordagem Centrada na Pessoa, todos os comportamentos humanos são manifestação dessa tendência à autorrealização, o que significa que buscam a manutenção e o crescimento do organismo. Todas as pessoas possuem essa tendência intrínseca para buscar estados novos de maior complexividade afetividade e cognitiva. 
A compreensão da tendência atualizante intrínseca às pessoas é o fundamento da proposta rogeriana para a psicoterapia. 
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a concepção de homem desenvolvida por Carl Rogers. Relacione essa concepção com os aspectos gerais das Psicologias Humanistas vistos no Módulo 01.
2) Reflita sobre a sua recepção dessa concepção otimista da essência humana. Você se percebe disposto a reconhecer que a “essência das pessoas é digna de confiança” (p.66)? Quais motivações você identifica para o seu posicionamento?
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Rogers reconhece nos seres humanos a tendência à autorrealização. Diz ele:
 
Quer falemos de uma flor ou de um carvalho, de uma minhoca ou de um belo pássaro, de uma maçã ou de uma pessoa, creio que estaremos certos ao reconhecermos que a vida é um processo ativo, e não passivo. Pouco importa que o estímulo venha de dentro ou de fora, pouco importa que o ambiente seja favorável ou desfavorável. Em qualquer uma dessas condições, os comportamentos de um organismo estarão voltados para a sua manutenção, seu crescimento e sua reprodução. Essa é a própria natureza do processo a que chamamos vida. Esta tendência está em ação em todas as ocasiões. Na verdade, somente a presença ou ausência desse processo direcional total permite-nos dizer se um dado organismo está vivo ou morto. (Rogers, 1983, apud Moreira, 2007, p.52)
 
Sobre a tendência à autorrealização está correto afirmar:
 
A) A preocupação com uma possível tentativa de suicídio evidencia a presença de uma tendência destrutiva no âmago da condição humana.
B) Esta tendência se manifestará somente se houver, por parte do indivíduo, conscientização de sua existência.
C) Esta tendência pode ser frustrada ou desvirtuada, mas não pode ser destruída sem que se destrua também o organismo.
D) Sem estímulo externo, não há como esta tendência ser desenvolvida pelos organismos.
E) Esta tendência e sua manifestação independem da relação com o meio, sempre se manifestará da mesma forma, na mesma intensidade em todos os indivíduos.
 
A afirmação A apresenta uma tentativa de suicídio como evidência de uma tendência destrutiva na essência humana. Como vimos no texto acima e nas leituras indicadas, uma das principais contribuições de Rogers para a Psicologia foi a formulação de uma visão otimista do homem: “a essências das pessoas é digna de confiança”, pois a tendência à autorrealização visa a manutenção e o crescimento do organismo. Essa afirmação está, portanto, incorreta.
A afirmação B indica uma condição para a manifestação da tendência à autorrealização. Como vimos, essa tendência é intrínseca aos organismos e está sempre presente e atuante, extinguindo-se apenas quando o organismo morre. Está, portanto, incorreta. 
Na afirmação C lemos que a “tendência pode ser frustrada ou desvirtuada, mas não pode ser destruída sem que se destrua também o organismo.” Está correto que ela pode ser frustrada ou desvirtuada. Devido a situações desfavorecedoras o organismo pode ficar limitado na sua capacidade de buscar desenvolvimentos criativos, restringindo seus comportamentos apenas aos de sobrevivência. Porém, mesmo desvirtuada ou frustrada a tendência à autorrealização permanece presente e atuante. Por isso, através de um clima facilitador, pode encontrar modos mais apropriados de manifestação, que conduzam a pessoa (o organismo) a modos mais complexos de vida. Esta afirmação está correta. Vejamos as demais.
A afirmação D apresenta como condição para a tendência à autorrealização a presença de estímulos externos. Há dois erros nessa afirmação. Primeiro, a autorrealização é inerente, intrínseca aos organismos. Lembremos, entretanto, que toda manifestação acontece no meio em que o organismo vive. O segundo erro está em condicionar a tendência à autorrealização a estímulos. Se necessitasse de estímulos externos ela seria um reflexo e não uma força motriz, origem de todos os comportamentos. Ela é iniciadora.
A afirmação E ignora a influência do meio em que vive o organismo. Como vimos, cada organismo interage constantemente com seu meio. Os meios podem ser mais ou menos favorecedores para a expressão da tendência à autorrealização, podendo até sistematicamente frustrá-la. Como o meio em que o organismo vive é fundamental para seu crescimento, a relação de ajuda na Abordagem Centrada na Pessoa é pensada como um ambiente facilitador. 
Outro equívoco na afirmação E é a ideia de que a tendência à autorrealização se manifesta da mesma forma em todas as pessoas. Como cada pessoa tem uma história de vida singular, pois desenvolveu-se em ambientes diferentes, relacionando-se de formas diferentes consigo mesmo e com os outros, a tendência à autorrealização se manifesta de modo singular em cada pessoa ou organismo.
O objetivo da Psicoterapia e o lugar do terapeuta na Terapia Centrada na Pessoa
“Tornar-se quem se é” é o objetivo da relação terapêutica. Significa poder experimentar seus sentimentos e se relacionar consigo mesmo e com os outros de modo profundo, complexo e satisfatório. Porém, as relações vivenciadas podem conduzir à direção oposta. Circunstâncias ameaçadoras fazem com que o indivíduo priorize a defesa de sua integridade, ficando limitada na sua capacidade de experimentar a complexidade de sentimentos presentes nas relações humanas. Outras circunstâncias podem levar o indivíduo a falsear ou negar a sua realidade vivenciada, ou ainda a reprimir seus sentimentos e desejos. Por exemplo, uma criança pode sentir inveja diante do nascimento de um irmão, mas esse sentimento é mal visto e repreendido pelos pais. Isso pode levar essa criança a reprimir sentimentos percebidos como errados, ficando limitado na sua capacidade de se relacionar com os demais, pois a inveja é um sentimento humano.
 A Abordagem Centrada na Pessoa compreende que a repetiçãoe o acúmulo de ameaças à integridade ou repressão de sentimentos, que experimentamos na família, na escola e na cultura podem limitar nossa liberdade de nos reconhecermos como somos e nossas necessidades, de experimentarmos nossos sentimentos e de realizarmos escolhas pertinentes ao nosso desenvolvimento pessoal e relacional.
 O terapeuta nesta abordagem é um facilitador do desenvolvimento pessoal. É alguém que se dispõe a compreender o cliente, respeitá-lo e aceitá-lo tal como ele próprio de percebe. Vê o cliente como pessoa, isto é, um ser livre e responsável, capaz de compreender-se e transforma-se, e relaciona-se com ele enquanto tal. A partir dessa relação terapêutica, a pessoa (cliente) começa a afastar-se de modelos falseados de si mesmo, encaminhando-se para maior autonomia. Torna-se progressivamente mais responsável por si mesmo, pois capaz de decidir-se sobre quais são comportamentos e sentimentos significativos e quais não. Encaminha-se, assim, para uma realidade mais fluida, em processo.
 Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa dos textos indicados, atentando para a concepção de homem e de psicoterapia desenvolvida por Carl Rogers e buscando os nexos entre ambas.
2) Responda: fundamentado na abordagem desenvolvida por Carl Rogers, qual é a importância do autoconhecimento do terapeuta para a relação terapêutica?
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício: 
Com relação à Abordagem centrada na pessoa de Carl Rogers nós podemos afirmar que:
I – Trata-se de uma abordagem que ressalta a importância de que o terapeuta desenvolva um conjunto de atitudes que serão fundamentais para a mudança da pessoa, muito mais do que recursos técnicos de intervenção terapêutica.
II – A abordagem centrada preocupa-se fundamentalmente com intervenções que visam o conteúdo daquilo que se fala na sessão.
III – Na medida em que o terapeuta interage de modo autêntico, acolhedor, compreensivo e aceitando as pessoas, estas desenvolvem uma atitude de maior consideração em relação a si mesmas e fazendo com que elas se tornem mais congruentes.
 Estão corretas:
a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas. 
d) I e II, apenas.
e) I e III, apenas.
 Se você leu e compreendeu os textos indicados para estudo, pôde perceber que a afirmação I está correta, pois a Terapia Centrada no Cliente foi desenvolvida a partir da percepção de Rogers de que certas atitudes por parte do terapeuta eram mais propiciadoras de mudanças do que as técnicas. Rogers conhecia bem as técnicas psicológicas utilizadas na primeira metade do século XX, pois iniciou sua carreira como conselheiro psicológico. Sua postura acolhedora, compreensiva, revelou-se mais facilitadora de mudanças do que as técnicas persuasivas empregadas pela psicologia da época. Isso levou-o a conclusão de que a autenticidade, a compreensão e aceitação incondicional do terapeuta são condições suficientes para a autocompreensão e automodificação dos clientes. A afirmação III também está correta. A afirmação II está incorreta, pois processo terapêutico depende de que o terapeuta consiga propiciar um ambiente facilitador para o cliente. Portanto, a alternativa correta é E. 
Módulo 4: A Gestalt-terapia de Perls. Suas interlocuções com o pensamento humanista. Fenômenos psicológicos à luz da Gestalt-Terapia.
Objetivo: Conhecer os pressupostos teóricos da Gestalt-terapia e a articulação com as abordagens humanistas em psicologia. Diferenciar os pressupostos e os objetivos da Gestalt- terapia das demais abordagens humanistas.
A Gestalt-terapia é uma abordagem terapêutica que enfatiza a responsabilidade e a liberdade essenciais do ser humano perante a sua existência. Seu desenvolvimento deve-se principalmente ao trabalho de Frederik Perls, cujo nome ficou associado a esse modelo de atendimento psicoterápico.
Perls nasce em 1893 na Alemanha, onde forma-se médico sob supervisão de Kurt Goldstein, neurologista estudioso da percepção em pacientes com ferimentos cerebrais. Inicia sua análise com Wilhelm Reich, dissidente da psicanálise freudiana. A influência de Reich faz-se sentir na importância que a Gestalt-terapia atribui ao corpo. Com a ascensão do nazismo, Perls, já casado com Laura Perls, foge para a África do Sul, onde funda um Instituto de Treinamento Psicanalítico. Data dessa época o seu primeiro livro Ego, fome e agressão (Ego, Hunger and Agression, 1947).
Em 1946 muda-se para os EUA, estabelecendo-se em Nova Iorque. Lá tem contato com a psicóloga humanista Karen Horney. Com a contribuição de Laura Perls, que era estudiosa da Psicologia da Gestalt, começa a dar corpo ao modelo de atendimento que realiza em workshops nos EUA. O nome Gestalt-terapia aparece pela primeira vez em 1951 (no livro O Início da Gestalt-terapia). Pouco depois fundam o Instituto de Gestalt-terapia de Nova Iorque.
Seguindo as ideias de Reich, Perls enfatiza a experiência corpórea como possibilidade de expressão. Fritz desenvolve essa compreensão na Gestalt-terapia através de uma concepção holística de homem. Há um paralelismo entre corpo e mente, de modo que ambos expressam vivencias. O homem é um organismo total que busca constantemente o equilíbrio através de trocas com o meio.
Na Psicologia da Gestalt Perls descobre que o “homem não percebe as coisas isoladas e sem relação, mas as organiza no processo perceptivo como um todo significativo” (Perls, 1988, p.18) a partir de um interesse motivador. Essa mesma teoria fornece outros conceitos importantes: figura-fundo, princípio de pregnância e teoria de campo.
Atividades recomendadas
1. Pesquise na bibliografia a vida e a obra de Fritz Perls e Laura Perls.
2. Pesquise inserção da Gestalt-terapia no Brasil. É difundida? Dispõem de centros de estudo e treinamento?
3. Pesquise na internet vídeos que mostram Fritz Perls realizando workshops e sessões terapêuticas. Descreva a postura dele nos atendimentos. Essa postura está em acordo com os fundamentos da Gestalt-terapia? Por que? Está em acordo com a Psicologia Humanista? Por que?
4. Acompanhe o exercício abaixo: 
A imagem abaixo costuma ser usadas para se estudar a relação figura/fundo, estudada pela Psicologia da Gestalt e apropriada pela Gestalt-terapia.
Sobre o termo Gestalt é correto afirmar que:
a) refere-se à figura, que emerge a partir de um fundo. No caso da figura, a Gestalt é aquilo que vejo primeiro, seja um cálice ou dois rostos.
b) refere-se a um todo, a uma configuração estrutural que faz do todo uma unidade maior do que a soma das partes.
c) refere-se ao fundo, que determina que aspecto da figura aparece. No caso, se eu vejo os rostos primeiro, a Gestalt é fundo branco.
d) é sinônimo de awareness, isto é, a percepção global de si mesmo.
e) refere-se à possibilidade de perceber todas as imagens contidas numa mesma imagem. Perceber somente o rosto ou o cálice na figura é uma Gestalt-parcial. 
Se você leu atentamente os textos indicados, lembra-se de que o termo Gestalt, apresentado pela Psicologia da Gestalt, refere-se a uma forma. A forma organiza-se como um todo estruturado a partir da relação figura-fundo. A percepção humana se dá através de todos organizados (Gestalt), por isso Fritz Perls utilizará esse termo para a terapia focada na capacidade de interação saudável indivíduo-meio que ele desenvolve. Das alternativas fornecidas, devemos encontrar aquela que apresenta adequadamente essa noção do termo Gestalt. A alternativa A indica como Gestalt apenas a figura que aparece. Está, portanto, incorreta. A alternativa C propõe o oposto: que o fundo é a Gestalt. A alternativa D apresenta esse conceito como sinônimo de awareness, importante conceito da Gestalt-terapia que designa a capacidade de apercepção da totalidade presente. Está incorreta, portanto. A alternativa E refere-se a todas as figuras possíveis de serem vistas no desenho, estando também incorreta. A alternativa que apresenta corretamente o conceito de Gestalt é B. 
Principais conceitos da Gestalt-terapia
A Psicologia da Gestalt estuda a percepção humana. Sua conclusão básicaé de que o homem percebe totalidades, e não partes isoladas. Uma séria de pontos sequenciais, próximos uns aos outros, por exemplo, é visto como uma ‘linha’. A Gestalt-terapia busca seu nome no conceito de Gestalt, que se pode traduzir por ‘forma’. Gestalt significa também um ‘todo’. Nesta concepção, o todo é sempre diferente da mera soma das partes. Perls (1988) define esse conceito como: “forma, configuração, modo particular de organização das partes individuais que entram em composição.” (p.18) Disso se desdobra a concepção de que os indivíduos vivenciam totalidades. As totalidades se organizam como figuras sobre um fundo, organizadas de acordo com o interesse do indivíduo.
De acordo com a visão holística que fundamenta a Gestalt-terapia, os indivíduos são totalidades corpo-mente e ambos modos de ação, psíquico ou físico, são formas de expressão. O princípio que rege as ações do organismo é a homeostase, processo por qual busca o equilíbrio. As necessidades orgânicas e psicológicas geram desequilíbrio, que o organismo busca restaurar. Entretanto, a vida é um processo contínuo de desequilíbrio e busca de equilíbrio, nunca atingindo o equilíbrio absoluto. O mesmo processo regula a tendência à sobrevivência de todo organismo.
 Os organismos agem em ‘campos’. Esse é um conceito da Psicologia da Gestalt, desenvolvido pelo psicólogo Kurt Lewin. Um campo é uma totalidade em equilíbrio de forças e todos os acontecimentos no campo são funções desse campo total. Os comportamentos do indivíduo, em resposta a suas necessidades, podem estar em relação mútua com o meio no qual acontecem ou em relação conflituosa. Neste caso, há dispêndio desnecessário de energia e perda da capacidade do indivíduo de interagir com seu meio. Isso pode culminar num processo neurótico: “Se, por alguma alteração no processo homeostático, o indivíduo for incapaz de manipular seu meio a fim de atingi-las [necessidades], comportar-se-á de modo desorganizado e ineficaz.” (Perls, 1988, p. 33)
 A Gestalt-terapia é um processo a partir do qual o organismo (no caso, o cliente) pode recuperar sua capacidade de relação com o meio, reconhecendo suas necessidades e agindo eficazmente de acordo com elas. 
Atividades recomendadas
1. Leia atentamente os textos indicados, prestando atenção aos conceitos que fundamentam esta abordagem. Marque-os e construa um glossário para seus estudos.
2. Pesquise através de bibliografia e da internet a Psicologia da Gestalt. Estabeleça uma relação entre a Psicologia da Gestalt e a Gestalt-terapia a partir de seus principais conceitos.
3. Acompanhe o exercício abaixo:
Fritz Perls (1988) considera que “se não nos podemos compreender nem entender o que fazemos, não podemos pretender resolver nossos problemas nem esperar viver vidas gratificantes.” (p. 17). Por essa razão, a Gestalt-terapia deve repousar sobre fundamentos claros e compreensíveis, ao invés de obscuros e irracionais. A Gestalt-terapia por ele iniciada segue algumas premissas básicas. Indique-as abaixo: 
I – A autorregulação, que é o processo através do qual o organismo interage com o meio.
II – A homeostase, segundo a qual o organismo busca permanecer em equilíbrio e evitar o desequilíbrio.
III – o conceito de Gestalt, que se refere ao todo figura-fundo.
IV – A projeção, a partir do qual o organismo projeta no ambiente os significados que lhe são satisfatórios. 
São premissas da Gestalt-terapia apenas:
a) I, III e IV.
b) II e IV.
c) I, II e IV.
d) I e III.
e) I e II. 
A leitura atenta do enunciado indica que precisamos avaliar as afirmações tendo em vista a correção dos conceitos gestálticos que apresentam. A afirmação I fala de autorregulação, que é a capacidade do organismo de interagir com seu meio na busca do equilíbrio homeostático. Está correta. A afirmação II apresenta o conceito de homeostase, que é a busca contínua pelo equilíbrio, que nunca é atingido pois o campo é móvel e as necessidades, fluídas. Esta afirmação apresenta incorretamente a noção de homeostase. A afirmação III apresenta corretamente a noção de Gestalt, central na Gestalt-terapia. A afirmação IV fala de projeção, que é um mecanismo neurótico. Na projeção, o indivíduo torna o meio responsável por algo que se origina no eu, desapropriando-se de seus impulsos e necessidades. Não se refere exclusivamente a significados satisfatórios, dado que podem ser projetados aspectos insatisfatórios do indivíduo também. A alternativa correta é D (I e III, apenas.)
A Gestalt-terapia como possibilidade de atuação do psicólogo.
A gestalt-terapia é um modelo de atendimento terapêutico para crianças, adultos, casais e grupos, que promove a recuperação e/ou a ampliação da capacidade de conscientização (awareness) no aqui-agora, possibilitando contato mais pleno e trocas mais eficientes com o meio. Esta proposta se fundamenta na compreensão de que o sofrimento psicológico é a expressão de dificuldades em perceber as próprias necessidades, as ações voltadas para satisfazê-las e o caráter ‘nutritivo’ ou ‘tóxico’ das trocas com o meio. O campo (indivíduo-meio) muda constantemente de acordo com as mudanças de equilíbrio intrínsecas e geradas pelo organismo em busca de sua homeostase. Nos processos neuróticos há uma confusão entre indivíduo e meio, de modo que o organismo perde a sua capacidade de interagir com eficiência. Segundo Perls (1988), a neurose ocorre quando “a busca do equilíbrio do homem o leva a retirar-se mais e mais, a permitir que a sociedade o influencie demais, a subjugá-lo com suas exigências, ao mesmo tempo a separá-lo do convívio social, a pressioná-lo e moldá-lo.” (p.56) Vale destacar que a Gestalt-terapia reconhece a neurose como um processo, não como uma estrutura. Com a capacidade de autorregulação limitada, cada nova situação propicia ao indivíduo que aumente seu desequilíbrio.
A Gestalt-terapia aproxima-se das terapias humanistas por compreender as pessoas como livres e responsáveis. O termo ‘responsabilidade’ deve ser entendido como capacidade de responder, e não somente como obrigação de responder pelos atos. Nesse contexto, a Gestalt-terapia promove a autonomia através da capacidade de responder às situações vivenciadas pelos pacientes.
O Gestalt-terapeuta é um facilitador da conscientização (awareness) da situação presente, aqui-agora, do paciente. Para isso, oferece condições para o encontro dual EU-TU (tematizado por Martin Buber), no qual cada um reconhece a liberdade e responsabilidade ontológicas do homem. A relação terapêutica é horizontal, isto é, não há um agente de mudanças (terapeuta) e um objeto (paciente). A relação se estabelece entre dois iguais, sendo que um deles (o terapeuta) dispõe-se a facilitar a conscientização (awareness) do outro (paciente).
A Gestalt-terapia reconhece que frequentemente os pacientes procuram o Gestalt-terapeuta esperando que ele provoque transformações, mas cuida para que o paciente torne-se consciente (aware) dessa postura de vitimização, que dificulta a liberdade, a autonomia e a responsabilidade. 
Atividades recomendadas
1. Leia atentamente os textos indicados, anotando suas dúvidas.
2. Considere a perspectiva gestáltica como modelo de trabalho do psicólogo. Justifique a sua inserção no âmbito das psicologias humanistas.
3. Acompanhe o exercício abaixo. 
Nas primeiras sessões, Fernanda parece não conseguir dizer o que quer dizer e se perde entre palavras chegando a dizer, entretanto, coisas que parecia não querer dizer. Seu discurso compõe frases como: não sei por que estou aqui; acredito que ninguém pode me ajudar; ninguém me ajuda; estou sozinha; diga-me o que fazer. Parece que Fernanda perdeu o sentido de quem é, e principalmente, de quem deve viver a sua vida. Suas demandas incluíam solicitações que se perdiam num mundo dos porquês e das tentativas de explicações em busca de uma cura para tudo que estava acontecendo em sua vida, uma vida que muitas vezes não identificava como sendo dela própria.
A partir da perspectiva da Gestalt-terapia, leia atentamente as afirmaçõesabaixo sobre o modo como se abordaria esta situação terapêutica: 
I – Fernanda pede explicações e se perde nos porquês, pois não observa e não parece saber descrever o que está fazendo e como (aqui e agora).
II – Fernanda perde o sentido de quem é, pois não está consciente (awareness) de sua situação existencial.
III – Fernanda busca explicações e justificativas, pois não se reconhece como autora de sua própria vida.
IV – Fernanda perde o sentido de quem é, pois parece ter traumas infantis importantes que precisam ser analisados.
V – Fernanda espera que o terapeuta lhe diga quem ela é, dado que esse é o papel do terapeuta na Gestalt-terapia. 
Apresentam leituras corretas dos fenômenos clínicos apresentados somente as afirmações: 
A) I, II e V.
B) I, II e IV.
C) II, IV e V.
D) I, II e III.
E) I, II, III e V. 
Se você leu atentamente os textos indicados, foi capaz de perceber que as afirmações I, II e III estão corretas. A primeira apresenta a dificuldade vivenciada por Fernanda de descrever-se, isto é, de aperceber-se de si na situação presente. Com isso, perde a capacidade de trocar com o meio eficientemente. A segunda afirmação apresenta-a como não estando aware de sua situação. Esse modo de estar presente nas situações faz com que sinta dificuldades nas suas vivências, mas atribua essas dificuldades a motivos alheios, sem reconhecer a sua participação (afirmação III). A afirmação IV apresenta “traumas infantis importantes” como motivo das dificuldades atuais. Como vimos, é no aqui-agora que se encontram as dificuldades, e não no lá-então. Portanto, não são traumas infantis, mas sua dificuldade de conscientização (awareness) da situação atual, acompanhada da perda de contato, que motivam as dificuldades vivenciadas. A última afirmação apresenta o papel do Gestalt-terapeuta como “dizer a Fernanda quem ela é”. Porém, como vimos, o terapeuta facilita o processo de awareness no aqui-agora, acompanhando os pacientes no resgate de sua autonomia. Portanto, a alternativa correta é D.

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