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Apostila Constitucional eficacia, hermeneutica, conflitos

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EFICÁCIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS – NORMA CONSTITUCIONAL NO TEMPO, HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL
 
Toda norma jurídica possuem uma carga de eficácia jurídica, o que ocorre é que algumas possuem maior ou menor eficácia para produção de efeitos, pois pode depender da complementação de outras normas.
OBS: NÃO CONFUNDIR:
Eficácia Social – Que é o grau de respeito dessa norma pela sociedade sua aceitação social.
Eficácia Jurídica – é a capacidade da norma produzir efeitos no mundo jurídico.
A doutrina Americana - bipartíte – Normas auto aplicáveis ou auto executáveis e normas constitucionais não auto aplicáveis ou não auto executáveis.
Classificação das Normas em Normas Autoaplicáveis e Não Autoaplicáveis.
A doutrina tem mencionado que as normas constitucionais, conforme sua aplicabilidade, podem ser classificadas em normas constitucionais autoaplicáveis e normas constitucionais não autoaplicáveis. 
Seriam do segundo grupo aquelas que dependem de regulamentação ou de posterior efetivação por parte do Estado. No entanto, a classificação mais utilizada em concurso tem sido a do Professor José Afonso da Silva (Aplicabilidade das normas constitucionais).
2. CLASSIFICAÇÕES
Hodiernamente, a classificação adotada majoritariamente, inclusive na Corte Constitucional, é aquela proposta pelo mestre José Afonso da Silva, que estabelece que há três espécies de normas constitucionais:
normas constitucionais de eficácia plena,
b) normas constitucionais de eficácia limitada
c) normas constitucionais de eficácia contida:
 NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA PLENA (self executing, self acting, self enforcing): São normas de aplicabilidade imediata, integral, não dependendo da edição de qualquer legislação posterior. São normas que produzem efeito imediatamente, dispensando regulamentação ulterior.
Exemplos: art. 1o, parágrafo único, art. 5º, IX, XX, art. 14, § 2o, art. 15, art. 17, § 4o, art. 18' arts.19 a 22, 24 a 28, caput, arts. 29 e 30, art. 37, III, art. 44, parágrafo único, art. 45, caput, art. 46, § 1o, arts. 48, 49, 51, 52, art. 60, § 3o, arts. 69, 70, 71, 76, 84, 101, 102, 103, 104, 105, 145, 153, 155, 156, art. 226, § 1o.
B) NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA ( mediata, reduzida, mínima, diferida ou relativa complementável)
São as que dependem de regulamentação posterior do legislador infraconstitucional, para que se tornem exeqüíveis.
As normas de eficácia limitada se subdividem em normas de princípios institutivos ou organizativos e normas de princípios programáticos.
b. 1. )Normas de princípios institutivos ou organizativos: São aquelas normas constitucionais que estabelecem o esquema geral de estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou institutos públicos, para que o legislador ordinário as regulamente.
Impositivas:, art 20 § 2o, art. 32, § 4o, arts. 33, 88, art. 90, § 2o, 91, § 2o, 107, § 1º, 109, VI, 113, 121, art. 128, § 5o, art.146, art. 165, § 9o, art. 163.
 Facultativas ou permissivas: art. 125, §3º, art. 25, §3º, art. 88 , art. 22, parágrafo único, art. 25, § 3o, art. 125, § 3o, art. 154, I, 195, § 4o.
b.2. ) Normas de princípios programáticos: São normas que fixam princípios, programas de governo e metas a serem alcançadas pelos órgãos do Estado 
v.g direito à saúde – art. 196, CF/88, art. 205, arts. 170 e 193. entre outras).
As normas constitucionais programáticas também possuem eficácia jurídica imediata, ainda que mínima, mesmo antes da edição de qualquer legislação regulamentadora, pois: revogam a legislação ordinária que seja contrária aos princípios por ela instituídos, impedem a edição de leis contendo dispositivos contrários ao mandamento constitucional, e estabelecem um dever legislativo para os poderes constituídos, que podem incidir em inconstitucionalidade por omissão caso não elaborem a regulamentação infraconstitucional que possibilite o cumprimento do preceito constitucional, sendo passível a propositura de ação direta de inconstitucionalidade por omissão e o mandado de injunção
C) NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA CONTIDA (redutível, prospectiva ou plena restringível)
São normas de aplicabilidade imediata, cujos efeitos podem ser limitados pela legislação infraconstitucional. 
Michel Temer prefere denominar essas normas como de eficácia redutível ou restringível, uma vez que os direitos podem ter seu âmbito de eficácia reduzido pelo legislador ordinário. 
Exemplo clássico é a liberdade de profissão assegurada pela Constituição Federal no art. 5.°, XIII, que dispõe: “atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. Surge daí e legitimidade do tão questionado Exame de Ordem, sendo indispensável para exercer a profissão de advogado a aprovação em tal exame.
Exemplos: art. 5o, VIII (a contenção pode vir por lei ou pelo art. 15, IV), XII, XIII, XXII (contida pelos incisos XXIV e XXV do mesmo artigo), LVIII, LX, LXI (parte final), art. 14, § 1o a § 3o (são contidas pelos § 4o a 7o do mesmo art. 14).
 APLICAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL NO TEMPO.
Quando do surgimento de uma nova Ordem Constitucional surgem o seguintes fenômenos - institutos da recepção, da repristinação e da desconstitucionalização.
A RECEPÇÃO ocorre quando uma nova constituição é aprovada e aceita ou recebe, em seus dispositivos, a normalização infra-constitucional, ou até mesmo a constitucional, anterior. A nova ordem constitucional sempre recebe a ordem normativa infraconstitucional que lhe é compatível, originando, assim, o fenômeno da recepção.
Leis ordinárias
Leis complementares
Decretos leis
OBS I - NÃO EXISTE INCONSTITUCIONALIDADE Formal superveniente – RECEPÇÃO QUALIFICADA - exemplo - o CÓDIGO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO foi recepcionado na qualidade de Lei Complementar - art. 146 da CF e o CTN - Lei 5.172, de 25 de outubro de 1966
OBS iria - lei orgânica do MP na constituição de 1969 era a lei complementar 40/81, a constituição federal de 1988 não exige lei complementar e admite a lei ordinária (art. 127, §2º) logo a lei 8625/93 revogou, mesmo sendo uma lei ordinária, uma lei complementar.
REPRISTINAÇÃO ocorre quando uma norma revoga outra norma que havia revogado uma primeira. No instante em que a norma revogadora é revogada, aquela primeira norma que foi revogada volta a valer no ordenamento positivo Somente é admissível em casos expressamente previstos e autorizados.
REPRISTINAÇÃO X EFEITO REPRISTINATÓRIO X MODULAÇÃO DOS EFEITOS
Observem que a repristinação tratada no art. 2º, § 3º, da LINDB envolve a atuação do Poder Legislativo, que expressamente restaura uma norma revogada. E mais: fala-se apenas em normas revogadas e normas revogadoras, não em normas com vícios de validade. Situação completamente diversa é a do efeito repristinatório oriundo da declaração de inconstitucionalidade.
Segundo o art. 2º, § 3º, do Decreto-Lei n.º 4.657/42 (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. Em outras palavras, se uma Lei “A” é revogada por uma Lei “B”, e esta última vem a ser revogada por uma Lei “C”, a Lei “A” somente volta a produzir efeitos se a Lei “C” expressamente assim o determinar. Ou seja, a repristinação é possível, sim, desde que expressa. Caso o legislador entenda que a Lei “A” deva voltar a viger, tal vontade deve ser expressamente indicada no texto da Lei “C”. Veda-se, pois, a repristinação tácita ou automática.
Vamos modificar um pouco o exemplo dado acima. Imaginemos que a Lei “A” seja revogada pela Lei “B”. Esta última não é revogada por lei alguma, mas a sua inconstitucionalidade é reconhecida, em sede de controle abstrato, no âmbito do Supremo Tribunal Federal. A declaração de inconstitucionalidade reconhece a nulidade do ato inconstitucional, negando-lhe eficácia jurídica. Assim, se a Lei “B” é nula, jamais possuiu eficácia, nunca chegou a revogar a Lei “A”, que volta a ser aplicada. É exatamente este o efeito repristinatório da declaração deinconstitucionalidade.
Conforme disposição do art. 11, § 2º, da Lei n.º 9.868/99 – a qual dispõe sobre o processo e julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) e da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) perante o Supremo Tribunal Federal – a concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente, salvo expressa manifestação em sentido contrário. Ou seja, o efeito repristinatório afigura-se automático, exigindo-se manifestação expressa apenas para o caso de se querer afastá-lo.
Embora o dispositivo citado restrinja-se ao deferimento de medida cautelar, a doutrina e a jurisprudência (Informativo n.º 224/STF) entendem que a produção do efeito repristinatório constitui regra geral para as decisões de mérito proferidas em ADI (quando julgada procedente), ADC (quando julgada improcedente) e ADPF (quando reconhecido o descumprimento de preceito fundamental por parte de determinado ato normativo).
É verdade que nem sempre os efeitos fáticos produzidos pela norma podem ser imediatamente suprimidos, tendo em vista valores constitucionalizados como a segurança jurídica, o interesse social e a boa-fé. Assim, a teoria da nulidade da lei inconstitucional não deve ser entendida em termos absolutos.
Refletindo essa tendência de flexibilização da teoria da nulidade, o art. 27 da Lei n.º 9.868/99 estabelece que a Corte Suprema, através da maioria de dois terços de seus membros e por razões de segurança jurídica ou excepcional interesse social, pode restringir os efeitos da declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo ou, ainda, decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado. Trata-se da técnica de MODULACÃO DOS EFEITOS da decisão, também aplicada, por analogia, aos casos de controle difuso.
 
DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO - Desconstitucionalização ocorre quando matérias tratadas pela Constituição anterior não hajam sido tratadas na nova e nesta nova Constituição não se encontra nada que seja obstáculo àqueles artigos existentes na anterior. Nessas condições, os artigos da Constituição substituída permaneceriam em vigência sob a forma de lei ordinária. No Brasil, prevalece a idéia de que para haver a desconstitucionalização necessitaria de previsão expressa na nova Constituição.
Conflitos de Lei no Tempo
São 4 os conflitos possíveis de normas jurídicas no tempo:
Constituição anterior x Constituição nova
Duas teorias: DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO E SUBSTITUIÇÃO INTEGRAL.
No Brasil, adota-se a substituição integral, reconhecendo-se a adoção da desconstitucionalização desde que a nova Constituição preveja esse efeito. Obs.: o controle de constitucionalidade, no modelo difuso, permite a discussão atual da inconstitucionalidade incidental tendo como referência a Constituição anterior;
Lei infraconstitucional anterior x Constituição nova
Se a lei anterior for incompatível com a nova Constituição, então estará revogada por não-recepção. É proibido a conclusão pela inconstitucionalidade. Se for compatível, será recepcionada no momento da entrada em vigor da nova Constituição, não sofrendo alteração em seu nome, data ou número, sendo apenas sua condição jurídica alterada já que terá que ser adaptada ao que a nova Constituição impõe para a matéria. Adquire nova vigência.
Constituição nova x Lei infraconstitucional posterior
A incompatibilidade resolve-se pelo reconhecimento de sua inconstitucionalidade formal ou material, será portanto nula.
Lei infraconstitucional x Lei infraconstitucional
Uma lei revoga a outra em 3 situações:
• Quando expressamente o declare;
• Quando incompatível com a lei anterior;
• Quando regule inteiramente a matéria da lei anterior.
• Além do exposto acima:
• Lei nova prevalece sobre a mais antiga
• Lei específica prevalece sobre a genérica não revogando necessariamente a lei anterior.
 
HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL.
Estudo e sistematização dos processos aplicáveis no âmbito da Constituição para determinar o sentido e o real alcance das normas constitucionais de conteúdo político-jurídico. A hermenêutica busca desvendar o real significado da regra da Constituição.
“Hermenêutica é a ciência que fornece a técnica e os princípios segundo os quais o operador do Direito poderá apreender o sentido jurídico da norma constitucional em exame”.
PRINCÍPIOS HERMENÊUTICOS DA CORRETA INTERPRETAÇÃO DO TEXTO CONSTITUCIONAL:
Princípio da Supremacia Constitucional – A Constituição está no ápice do ordenamento jurídico constitucional e nenhuma norma jurídica pode contrariá-la material ou formalmente, sob pena de inconstitucionalidade.
b) Princípio da Imperatividade da Norma Constitucional ou da máxima efetividade – A norma constitucional é imperativa, de ordem pública e emana da vontade popular. Os dispositivos constitucionais devem ser interpretados com a mais ampla extensão possível. A Constituição não pode ser interpretada sob fundamentos da legislação ordinária precedente.
d) Princípio da Simetria Constitucional – É o princípio federativo que exige uma relação simétrica entre os institutos jurídicos da Constituição Federal e as Constituições dos Estados-Membros.
 e) Princípio da Presunção da Constitucionalidade das Normas Infraconstitucionais – Existe uma presunção relativa de que toda lei é constitucional, até prova em contrário.
 
f) princípio da interpretação conforme a constituição – Diante de normas plurissignificativas ou polissêmicas (que possuem mais de uma interpretação), deve-se preferir a interpretação que mais se aproxima da Constituição. Havendo várias interpretações possíveis, deve ser adotada aquela que não é contrária à Constituição. Ex: declaração de nulidade sem redução de texto. Uma lei não pode ser declarada inconstitucional quando puder ser interpretada em consonância com a Constituição.
 
h) Princípio da unidade da constituição
Consoante o princípio da unidade da constituição, as normas constitucionais devem ser analisadas de forma integrada e não isoladamente, de forma a evitar as contradições aparentemente existentes entre norma e texto constitucional.

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