Buscar

resumo a loucura do trabalho

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

A loucura do trabalho - Dejours
Introdução 
Relações trabalho-saúde - considerações históricas: O objeto inicial de Dejours é a psicopatologia do trabalho. Ele pretende pôr em discussão "aquilo que, no enfrentamento do homem com sua tarefa, põe em perigo sua vida mental". Partindo da psicopatologia do trabalho francesa, que tem trabalhos importantes nos anos 50, Dejours vai enfocar as vivências subjetivas do trabalho, sempre diferenciadas e irredutíveis umas às outras, que dão conta das experiências concretas dos trabalhadores. 
Ele inicia seu livro narrando sintaticamente a história da saúde dos trabalhadores, e chama a atenção que os avanços em saúde do trabalhador só se dão por uma luta perpétua dos trabalhadores por sua saúde, pois as melhorias das condições de trabalho e saúde foram conseguidas sempre desta forma. Dejours divide a história da saúde dos trabalhadores em três momentos. 
1 - Século 19, período de desenvolvimento do capitalismo industrial. Neste período o importante para o trabalhador era a luta pela sobrevivência, dada às péssimas condições de trabalho existentes. O ambiente de trabalho se caracterizava pela falta de higiene, esgotamento físico, acidentes de trabalho dramáticos, subalimentação, tudo isso gerando alta morbidade (muitas doenças) e alta mortalidade (muitas mortes decorrentes de acidentes e doenças do trabalho). O tempo esperado de vida era muito mais curto que o de hoje. O sofrimento característico dessa época foi descrito na literatura com o nome de miséria operária. Como resposta a essa situação surge o movimento higienista, que vai tratar da insalubridade pública, fazendo sentir a necessidade das leis sanitárias: ele trata do que diz respeito às epidemias, aos hospitais, aos cemitérios, etc. O enfoque do higienista é altamente moralizante: propõe soluções para restabelecer a ordem moral e, sobretudo, a autoridade da família, necessária para a formação de operários disciplinados. Esta é também a época dos grandes alienistas de, como Esquirol e Pinel. 
"Mas a medicalização do controle social não seria suficiente, e, de fato, é aos próprios operários que se devem as principais melhorias materiais da condição operária." A classe operária se organiza constituindo sindicatos, associações, e partidos políticos. As lutas operárias neste período histórico tinham essencialmente dois objetivos: o direito à vida (ou à sobrevivência) e à construção da liberdade de organização (sindical e política) necessária para estas lutas. A reivindicação principal é a redução da jornada de trabalho. O Estado é chamado a intervir e surgem (na Europa) leis relacionadas à higiene e segurança do trabalho, indenização por acidentes de trabalho, leis relacionadas a direitos de aposentadoria e outras.
 2 - Da primeira guerra mundial a 1968. Já houve alguma conquista com relação ao direito de viver e podem aparecer outras reivindicações. A preocupação principal é com a proteção do corpo: "Salvar o corpo dos acidentes, prevenir as doenças profissionais e as intoxicações por produtos industriais." A discussão do taylorismo merece grande atenção da parte de Dejours. Essa modalidade de organização do trabalho surge como uma nova tecnologia de submissão, gerando exigências fisiológicas até então desconhecidas, especialmente as exigências de tempo e ritmo de trabalho. As performances exigidas são novas, e fazem com que o corpo apareça como principal ponto de impacto dos prejuízos do trabalho. A separação radical entre trabalho intelectual e trabalho manual, imposta pelo taylorismo, busca neutralizar a atividade mental dos operários. Assim, "não é o aparelho psíquico que aparece como primeira vítima do sistema, mas sobretudo o corpo dócil e disciplinado, entregue, sem obstáculos, ao engenheiro de produção e à direção hierarquizado do comando. Corpo sem defesa, corpo explorado, corpo fragilizado pela privação de seu protetor natural, que é o aparelho mental. Corpo doente portanto, ou que corre o risco de tornar-se doente." Após a primeira guerra, o movimento operário tenta obter melhorias da relação à saúde-trabalho. Consegue avanços onde ele é mais poderoso, isto é, onde os trabalhadores são numerosos (grandes empresas) e onde o trabalho tem um valor econômico estratégico (setores de ponta ou centros vitais da economia nacional). Com a guerra a mão de obra fica gravemente desfalcada e ocorrem progressos em torno da jornada de trabalho, da medicina do trabalho e da indenização pelos problemas decorrentes do trabalho. Surgem preocupações com dispositivos de segurança para máquinas perigosas. Na França, a semana de 40h e as férias pagas são aprovadas em 1936. Esse segundo período caracteriza-se pela revelação do corpo como ponto de impacto da exploração. O alvo da exploração seria o corpo e só o corpo. A periculosidade das máquinas, os produtos industriais, os gases e os vapores, as poeiras tóxicas, os parasitas, os vírus e as bactérias são, progressivamente, designados e estigmatizados. De 1914 a 1968, é progressivamente o tema das condições de trabalho que se depreende das reivindicações operárias na frente pela saúde. A luta pela sobrevivência dá lugar à luta pela saúde do corpo. A palavra de ordem da redução da jornada de trabalho deu lugar à luta pela melhoria das condições de trabalho, pela segurança, pela higiene e pela prevenção de doenças.
 3 - Após 1968. Surge aí uma nova preocupação com a saúde mental. Denuncia-se o taylorismo como produtor de sofrimento psíquico, como modo de organização do trabalho desumanizante. Essas críticas vêm não apenas dos operários, mas também do patronato. A reestruturação das tarefas, como alternativa para Organização Científica do Trabalho, faz nascerem amplas discussões sobre o objetivo do trabalho, sobre a relação ao homem-tarefa, e acentua a dimensão mental do trabalho industrial. A isso se somam as vozes dos operários e dos trabalhadores do setor terciário e das indústrias de processo (petroquímica, químicas, cimenteiras, nuclear etc). Com o desenvolvimento do setor terciário as tarefas escritório tornam-se cada vez mais numerosas. A sensibilidade às cargas intelectuais e psicossensoriais de trabalho prepara o terreno para as preocupações com a saúde mental. Dejours refere-se a maio de 68 como uma data representativa na história da relação de saúde trabalho. No centro do discurso de maio de 68 encontramos a luta contra a sociedade de consumo alienação. O trabalho foi reconhecido como causa principal da alienação, inclusive pelos estudantes.. "Greves selvagens e greves de operários não qualificados eclodem espontaneamente, muitas vezes à margem das iniciativas sindicais. Elas rompem a tradição reivindicativa e marcam a eclosão de temas novos: mudar a vida, palavra de ordem fundamentalmente original, (...) que mergulha patronato e o Estado numa verdadeira confusão, pelo menos até a atual crise econômica." (o livro foi publicado em 1980) Há o reconhecimento da necessidade de levar em conta as reivindicações qualitativas da classe operária. Emerge o tema da relação de saúde mental-trabalho como tema de reflexão das organizações operárias e dos trabalhos científicos. A luta pela sobrevivência condenava a duração excessiva do trabalho. A luta pela saúde do corpo conduzia a denúncia das condições de trabalho. Já o sofrimento mental resulta da organização do trabalho. Por condições de trabalho entende-se o ambiente físico (temperatura, pressão, barulho, vibração, irradiação, altitude, etc), ambiente químico (produtos manipulados, vapores de higiene, de segurança, e as características antropométricas do posto de trabalho. gases tóxicos, poeiras, fumaças etc), o ambiente biológico (vírus, bactérias, parasitas, fungos), as condições de "Por organização do trabalho designamos a divisão do trabalho, conteúdo da tarefa a (na medida em que ele dela deriva), o sistema hierárquico, as modalidades de comando, as relações de poder, as questões de responsabilidade etc.” A psicopatologia do trabalho. Em psicopatologia do trabalho, acentuou-se os comportamentos humanos, numalinha de pensamento aparentada do behaviorismo. Dejours não busca de explicar o comportamento, mas os efeitos (psicodinâmicos) da imposição de atos diversos: movimentos, gestos, ritmos, cadencias e comportamentos produtivos. Dejours quer elucidar o trajeto que vai do comportamento livre ao comportamento estereotipado. Por comportamento livre entende um padrão comportamental que contém uma tentativa de transformar a realidade circundante conforme o desejo do próprio sujeito. Livre, mais que um estado, qualifica uma orientação da direção do prazer. O sofrimento preocupa no que ele tem de empobrecedor, ou seja, quando leva à anulação de comportamentos livres. Dejours termina a Introdução dizendo que seu projeto é difícil, temerário, uma vez que o sofrimento operário é mal conhecido tanto pelos que estão fora da fábrica, como pelos próprios operários, que estão ocupados em seus esforços para garantir a produção.

Outros materiais