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Economia Aplicada à Engenharia 1 UFF – Escola de Engenharia Depto. de Engenharia de Produção Prof. Paulo Pfeil ECONOMIA APLICADA À ENGENHARIA Niterói - RJ 2017 Economia Aplicada à Engenharia 2 Sumário 1. PROGRAMA ........................................................................................................... 5 1.1 EMENTA .................................................................................................................. 5 1.2 CARGA HORÁRIA TOTAL ......................................................................................... 5 1.3 OBJETIVOS .............................................................................................................. 5 1.4 CONTEÚDO PROGRAMÁTICO ................................................................................... 6 1.5 METODOLOGIA ....................................................................................................... 6 1.6 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO ...................................................................................... 6 1.7 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ............................................................................... 6 2. INTRODUÇÃO À ECONOMIA ............................................................................ 7 2.1 CONCEITOS BÁSICOS ............................................................................................... 7 2.2 EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO .............................................................. 8 2.3 SISTEMAS ECONÔMICOS .......................................................................................... 9 2.4 OS ACORDOS DE BASILÉIA .................................................................................... 10 2.5 ECONOMIA E SOCIEDADE DO CONHECIMENTO ...................................................... 11 3. NOÇÕES DE MICROECONOMIA ..................................................................... 12 3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS MERCADOS....................................................................... 12 3.2 ESTUDO DA DEMANDA ........................................................................................... 13 3.3 ESTUDO DA OFERTA .............................................................................................. 15 3.4 DETERMINAÇÃO DO PREÇO DE EQUILÍBRIO........................................................... 17 3.5 ELASTICIDADE-PREÇO DA DEMANDA E DA OFERTA ............................................... 19 3.6 CONCEITOS DE RECEITAS TOTAL, MÉDIA E MARGINAL.......................................... 21 3.7 TEORIA DE CUSTOS ................................................................................................ 23 3.8 MAXIMIZAÇÃO DE LUCRO NO CURTO PRAZO ......................................................... 28 3.9 MAXIMIZAÇÃO DE LUCRO NO LONGO PRAZO ........................................................ 30 4. O SISTEMA ECONÔMICO ................................................................................. 31 4.1 EQUILÍBRIO DA PROCURA E OFERTA AGREGADA ................................................... 31 4.2 CONSUMO E POUPANÇA ......................................................................................... 32 4.2.1 PROPRIEDADES DAS FUNÇÕES CONSUMO E POUPANÇA ........................................... 33 4.3 INVESTIMENTO ...................................................................................................... 35 4.3.1 O PAPEL DO MULTIPLICADOR DE INVESTIMENTOS .................................................. 35 Economia Aplicada à Engenharia 3 5. POLÍTICAS ECONÔMICAS DO GOVERNO ................................................... 37 5.1 INSTRUMENTOS DE POLÍTICA ECONÔMICA DO GOVERNO ..................................... 37 5.1.1 POLÍTICA MONETÁRIA .......................................................................................... 37 5.1.2 POLÍTICA FISCAL .................................................................................................. 39 5.1.3 POLÍTICA CAMBIAL .............................................................................................. 40 5.1.4 POLÍTICAS DE RENDAS ......................................................................................... 40 5.2 OS MERCADOS FINANCEIROS ................................................................................. 42 5.2.1 MERCADO MONETÁRIO ........................................................................................ 43 5.2.2 MERCADO DE CAPITAIS ........................................................................................ 43 6. MOEDA E INFLAÇÃO ........................................................................................ 44 6.1 MOEDA E SUAS FUNÇÕES ....................................................................................... 44 6.1 CRIAÇÃO DE MOEDA NO SISTEMA FIDUCIÁRIO ...................................................... 45 6.2 CONCEITUAÇÃO DE INFLAÇÃO .............................................................................. 46 6.3 INFLAÇÃO E O EMPREGO ....................................................................................... 47 6.4 PLANOS DE ESTABILIZAÇÃO ECONÔMICA .............................................................. 49 6.5 O REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO ....................................................................... 50 6.6 ÍNDICES E PROJEÇÕES DE INFLAÇÃO ..................................................................... 50 7. NOÇÕES DE FINANÇAS PÚBLICAS ................................................................ 52 7.1 CONCEITOS BÁSICOS ............................................................................................. 52 7.1.2 SETOR PÚBLICO NÃO FINANCEIRO (SPNF) ............................................................ 52 7.1.2 DÍVIDA LÍQUIDA DO SETOR PÚBLICO ..................................................................... 53 7.1.3 DÍVIDA BRUTA DO GOVERNO GERAL ..................................................................... 53 7.1.4 NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (NFSP) ............................. 53 7.2 FINANÇAS PÚBLICAS BRASILEIRAS EM 2005 .......................................................... 54 7.2.1 NECESSIDADE DE FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO NÃO FINANCEIRO ............... 54 7.2.2 RESULTADO PRIMÁRIO DO GOVERNO CENTRAL .................................................... 55 7.2.3 DÉFICIT PREVIDENCIÁRIO ..................................................................................... 56 7.2.4 ARRECADAÇÃO DE IMPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES FEDERAIS .................................... 56 7.2.5 DÍVIDA MOBILIÁRIA FEDERAL .............................................................................. 57 7.2 UNIÃO MONETÁRIA EUROPÉIA............................................................................... 60 8. O BALANÇO DE PAGAMENTOS ...................................................................... 62 8.1 ESTRUTURA E INTERPRETAÇÃO............................................................................. 63 8.2 O BALANÇO DE PAGAMENTOS DO BRASIL NO ANO DE 2005 ................................... 68 8.3 CONCEITO DE TAXAS DE CÂMBIO NOMINAL E REAL .............................................. 72 8.4 REGIMES CAMBIAIS ............................................................................................... 73 8.4.1 TAXAS DE CÂMBIO FIXAS ..................................................................................... 73 8.4.2 TAXAS DE CÂMBIO FLEXÍVEIS ............................................................................... 74 8.4.3 FLUTUAÇÃO SUJA (“DIRTY FLOATING”) ................................................................75 8.4.4 MINIDESVALORIZAÇÕES CAMBIAIS ....................................................................... 75 8.4.5 REGIMES DE BANDAS CAMBIAIS ............................................................................ 75 Economia Aplicada à Engenharia 4 8.4.6 PREFIXAÇÃO CAMBIAL ......................................................................................... 76 8.5 AJUSTE DO BALANÇO DE PAGAMENTOS ................................................................. 76 8.6 TAXAS DE JUROS INTERNAS E EXTERNAS ............................................................... 78 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 79 Economia Aplicada à Engenharia 5 1. Programa 1.1 Ementa Conceitos econômicos básicos. Noções de Microeconomia. O Sistema Econômico. Políticas Econômicas do Governo. Moeda e Inflação. Noções de Finanças Públicas. Balanço de Pagamentos. Consolidações no Sistema Econômico. Economia do Conhecimento. 1.2 Carga horária total - 60 horas 1.3 Objetivos - Apresentar os conceitos econômicos básicos dentro da evolução do pensamento econômico; noções de microeconomia, caracterizando os principais tipos de mercado, estudar os comportamentos de produtores e consumidores, bem como principais conceitos da teoria de custos. - Apresentar o modelo de equilíbrio da procura e oferta agregada, com as propriedades das funções consumo e poupança, bem como do multiplicador de investimentos. - Explicitar as características, efeitos e os limites das políticas econômicas do governo, juntamente com os mercados financeiros; estudar as funções da moeda, os conceitos de base monetária e meios de pagamentos, no contexto de criação de moeda em um sistema fiduciário; caracterizar os planos de estabilização econômica, o regime de metas de inflação e projeções de inflação para o final do ano. - Apresentar as noções básicas de finanças públicas; a estrutura do balanço de pagamento, seus mecanismos de ajustes, bem como as principais políticas cambiais de países. - Para concluir, caracterizar as motivações dos processos de consolidação de instituições e empresas no sistema econômico, bem como aspectos de uma economia dentro de um contexto de sociedade de conhecimento. Economia Aplicada à Engenharia 6 1.4 Conteúdo programático Os conceitos econômicos básicos e noções de microeconomia. . Introdução à economia . Noções de microeconomia O modelo de equilíbrio da procura e oferta agregada, com as propriedades das funções consumo e poupança, bem como do multiplicador de investimentos. . O Sistema Econômico Características, efeitos e os limites das políticas econômicas do governo; as funções da moeda, os conceitos de base monetária e meios de pagamentos; características dos planos de estabilização econômica, o regime de metas de inflação e projeções de inflação para o final do ano. . Políticas Econômicas do Governo . Moeda e inflação Noções básicas de finanças públicas; a estrutura do balanço de pagamento, seus mecanismos de ajustes, bem como as principais políticas cambiais de países Economia do conhecimento. . Noções de finanças públicas . Balanço de pagamentos . Economia e sociedade do conhecimento. 1.5 Metodologia Exposição dialogada, resolução de exercícios e discussão de textos. 1.6 Critérios de avaliação Duas provas. 1.7 Bibliografia recomendada BACEN: Relatório do Banco Central de 2005. Blanchard, Olivier: Macroeconomia; 3a edição; Editora Prentice Hall (Pearson), 2003 Byrns, Ralph T.: Microeconomia, MAKRON BOOKS. Dornbusch, Rudiger: Macroeconomia, 2a edição americana, MAKRON BOOKS. Ferguson, Charles E.: Microeconomia, Editora FORENSE UNIVERSITARIA. Simonsen, Mario Henrique: Macroeconomia, Editora Atlas. Economia Aplicada à Engenharia 7 2. Introdução à economia Neste capítulo serão tratados inicialmente os conceitos básicos de economia, com a divisão do estudo econômico em macroeconomia e microeconomia, os fatores produtivos, bem como os problemas econômicos fundamentais. Em seguida, será feita uma revisão sobre os principais pensadores que contribuíram para a evolução do pensamento econômico. Visto isto, serão feitas considerações sobre os principais sistemas econômicos, os Acordos de Basiléia e seus efeitos sobre o Sistema Financeiro Nacional. Para concluir, a caracterização do que se denominou recentemente de Economia do Conhecimento, com seus novos paradigmas e desafios. 2.1 Conceitos básicos De maneira geral, pode-se definir economia como uma ciência social que estuda os processos de produção, distribuição, comercialização e consumo de bens e serviços. Os economistas estudam a forma dos indivíduos, os diferentes coletivos, as empresas de negócios e os governos alcançarem seus objetivos no campo econômico. Pode-se fazer a seguinte divisão no estudo econômico: - Macroeconomia- analisa o comportamento da economia como um todo, por meio de preços e quantidades absolutos. Faz parte dela os movimentos globais nos preços, na produção ou no emprego. - Microeconomia- estuda o comportamento de cada “molécula econômica” do sistema, por meio de preços e quantidades relativas. Para exemplificar, pode-se citar a análise do funcionamento de empresas. Enquanto a economia positiva ocupa-se da descrição de fatos, circunstâncias e relações econômicas, a economia normativa expressa julgamentos éticos e valorativos. As grandes divergências entre os economistas aparecem nas discussões de caráter normativo, como por exemplo, o da dimensão do Estado e o poder dos sindicatos. Os fatores produtivos são os elementos constituintes do processo de produção das empresas. São combinados de forma a se obterem produtos, que serão consumidos ou empregados em outras fases mais avançadas do processo produtivo. São basicamente a terra e recursos naturais, trabalho, capital, tecnologia e capacidade gerencial. Economia Aplicada à Engenharia 8 Os problemas econômicos fundamentais se relacionam com questões relativas à (1) que produtos produzir e em que quantidade; (2) como os produzir, isto é, através de que técnicas devem ser combinados os fatores produtivos; (3) para quem devem ser produzidos e distribuídos os produtos. Essas questões não seriam levantadas se os recursos fossem ilimitados - a “lei da escassez” estabelece que a limitação de recursos obriga a escolha entre bens relativamente escassos. Em um mercado de concorrência perfeita, a determinação do preço e da quantidade em cada mercado é feito através da compatibilização das suas ofertas e demandas de bens e serviços. O preço de equilíbrio verifica-se quando a quantidade procurada for igual à quantidade oferecida. Por meio da lei da oferta e da procura, as questões de “o que, como e para quem” ficam parcialmente resolvidas. Isso se deve à interdependência de cada mercado em relação aos mercados de outros bens na estruturação do “sistema de equilíbrio geral de preços”. Enquanto o equilíbrio parcial observa o comportamento de cada mercado individualmente, o equilíbrio geral analisa os processos simultâneos e interdependentes dos diferentes mercados - esse último é uma espécie de “teia invisível”. O modelo de “concorrência perfeita“ é apenas idealizado, pois desconsidera diversos mecanismos da economia, como a existência de monopólios e de externalidades. Segundo o conceito de Eficiência de Pareto, não é possível melhorar o bem-estar de uma pessoa sem piorar o de outra. A situaçãoeconômica revela eficiência se encontra na fronteira das possibilidades de utilidade. 2.2 Evolução do pensamento econômico As questões econômicas têm preocupado muitos intelectuais ao longo dos séculos. Na antiga Grécia, Aristóteles e Platão dissertaram sobre os problemas relativos à riqueza, à propriedade e ao comércio. Durante a Idade Média, predominaram as idéias da Igreja Católica Apostólica Romana e foi imposto o direito canônico, que condenava a usura (contrato de empréstimo com pagamento de juros) e considerava o comércio uma atividade inferior à agricultura. Como ciência moderna independente da filosofia e da política, destaca-se a publicação da obra An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations, (Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações), datada de 1776; do filósofo e economista escocês Adam Smith. O mercantilismo e as especulações dos fisiocratas precederam a economia clássica. Essa parte dos escritos de Smith é desenvolvida na obra dos economistas do século XIX, como Thomas Robert Malthus e David Ricardo, e culmina com a síntese de John Stuart Mill. Estes aceitaram a lei de Say sobre os mercados, fundada pelo economista Jean Baptiste Say. Nela, o autor sustenta que o risco de um desemprego maciço em uma economia competitiva é desprezível, porque a oferta cria sua própria demanda, limitada pela quantidade de mão- de-obra e os recursos naturais disponíveis para produzir, não podendo, portanto, haver nem superprodução nem desemprego. Cada aumento da produção aumenta os salários e as demais receitas necessárias para a compra dessa quantidade adicional produzida. A oposição à escola do pensamento clássico veio dos primeiros autores socialistas do século XIX, como Claude Henri de Rouvroy, conde de Saint-Simon, e do Economia Aplicada à Engenharia 9 utópico Robert Owen. Porém, foi Karl Marx o autor das teorias econômicas socialistas mais importantes. Na década de 1870, aparece a escola neoclássica, que introduz na teoria clássica as novas produções do pensamento econômico, principalmente os marginalistas, como William Stanley Jevons, Léon Walras e Karl Menger. O economista Alfred Marshall, em sua obra-prima, Principles of Economics, explicava a demanda a partir do princípio da utilidade marginal e a oferta, a partir do custo marginal (custo de produção da última unidade). John Maynard Keynes, defensor da economia neoclássica até a década de 1930, analisou a Grande Depressão em sua obra The General Theory of Employment, Interest and Money (1936; Teoria geral do emprego, do juro e da moeda), em que formulou as bases da teoria que, mais tarde, seria chamada de keynesiana ou keynesianismo. 2.3 Sistemas econômicos Em toda comunidade organizada, mesclam-se, em maior ou menor medida, os mercados e a atividade dos governos. O grau de concorrência dos mercados é variado, indo do monopólio, em que apenas uma empresa opera, à economia de livre mercado, que apresenta uma verdadeira concorrência, com várias empresas operando. O mesmo ocorre quanto à intervenção pública, que engloba desde uma intervenção mínima em impostos, crédito, contratos e subsídios até o controle dos salários e os preços dos sistemas de economia centralizada que imperam nos países comunistas. Entretanto, em ambos os sistemas ocorrem divergências: no primeiro, existem somente monopólios estatais, sobretudo nas linhas aéreas e na malha ferroviária; no segundo, somente concessões à empresa privada. As principais diferenças entre a organização econômica centralizada e a capitalista residem em quem é o proprietário das fábricas, fazendas e outras empresas, assim como os diferentes pontos de vista sobre a distribuição da renda ou a forma de estabelecer os preços. Em quase todos os países capitalistas, uma parte importante do produto nacional bruto (PNB) é produzida pelas empresas privadas, pelos agricultores e pelas instituições não governamentais, como universidades e hospitais particulares, cooperativas e fundações. Os problemas mais importantes enfrentados pelo capitalismo são o desemprego, a inflação e as injustas desigualdades econômicas. Os problemas mais graves das economias centralizadas são os subempregos, o maciço emprego informal, o racionamento, a burocracia e a escassez de bens de consumo. Em uma situação intermediária entre a economia centralizada e a economia de livre mercado, encontram-se os países social-democratas ou liberal-socialistas. A atividade econômica recai, em sua maior parte, sobre o setor privado, mas o setor público regula essa atividade, intervindo para proteger os trabalhadores e redistribuir a renda. É a chamada economia mista. Economia Aplicada à Engenharia 10 2.4 Os Acordos de Basiléia Em 1988 os representantes dos bancos centrais dos países firmaram um acordo na cidade suíça de Basiléia, que definiu um requerimento de capital, ou uma exigência mínima de reservas para que as instituições financeiras possam operar. O Conselho Monetário Nacional, através da Resolução no 2.099, regulamentou os limites mínimos do patrimônio líquido das instituições financeiras. Esta medida teve o objetivo de enquadrar o mercado financeiro aos padrões de solvência e liquidez internacionais, que foram definidos em julho de 1988 pelo Acordo de Basiléia, Suíça, pelos principais bancos centrais do mundo (Fortuna, 1999). O cálculo do valor do patrimônio líquido exigido para o enquadramento nas regras do Acordo de Basiléia representa a aplicação de um Fator de Risco (F), inicialmente de 8%, aplicável sobre o ativo ponderado pelo seu percentual predeterminado de risco (Apr). A reunião do CMN, de 25/06/97, aumentou este valor para 10%, de forma a reforçar a exigência de capitalização dos bancos, e a Circular no 2.784, de 27/11/97, ampliou o valor para 11%. Os títulos de renda fixa possuem ponderações de risco diferenciadas em função de seu emissor. Risco de 0% para títulos federais e títulos privados (CDB, LC, LI, LH) de instituições ligadas, risco de 50'/o para títulos estaduais e municipais e títulos privados de instituições não ligadas, 50'/o para operações interbancárias. Para as debêntures, obrigações da Eletrobrás, títulos da dívida agrária e outros, o risco é de 100%. Os títulos de renda variável têm risco de 100%, e as cotas de fundos de investimento, de 50%. Quanto às aplicações em operações compromissadas - posições financiadas - têm risco de 0%. Para as operações de crédito, em sua quase totalidade, têm risco de 100%. Exercício 1: Considere a seguinte composição dos ativos realizáveis de determinado banco Ativo Valores (em u.m) Ponderação de risco Valor do Ativo Ponderado (em u.m) Caixa 50.000 0% - Aplicações interbancárias 800.000 50% 400.000 Debêntures 200.000 100% 200.000 Empréstimos 1000.000 100% 1.000.000 Títulos públicos federais 400.000 0% - Títulos públicos estaduais 200.000 50% 100.000 Total 1.700.000 Economia Aplicada à Engenharia 11 Uma vez determinado o valor do ativo ponderado de 1.700.000 um, o valor mínimo do Patrimônio Líquido do banco pode ser calculado como se segue: Fator de Risco (F) = 11% Ativo Realizável Ponderado = 1.700.000 u.m. F = Patrimônio Liquido Mínimo = 11% Ativo Realizável Ponderado. Portanto, Patrimônio Líquido Mínimo = 1.700.000 x 0,11 = 187.000 u.m É importante observar que a principal mudança em relação às regras vigentes até a adoção do Acordo de Basiléia está na transferência do cálculo da capacidade de alavancagemde cada banco do passivo para o ativo. Com isto, o risco operacional de uma instituição financeira passa a ser medido sobre o tipo de aplicações feitas com o capital que ela administra e não mais sobre o volume de recursos captados de terceiros. Posteriormente foi firmado o Acordo de Basiléia II, estabelecendo novos parâmetros de operações bancárias a partir de 2007. Essas modificações, advindas desse novo acordo, estabelecem padrões de cálculos muito mais sofisticados do que os atuais, com interferência nos registros dos arquivos, notadamente os cadastros de crédito, que irão atingir um legado de 5 a 7 anos atrás. O Acordo de Basiléia II não altera simplesmente regras; torna-as mais sofisticadas, e com os mesmos fundamentos. Em síntese, este acordo trata da exigência mínima para o cálculo de capital, metodologia de verificação por parte do Banco Central de adequação do capital e riscos no mercado, e transparência das demonstrações. 2.5 Economia e sociedade do conhecimento O contexto atual se caracteriza por mudanças aceleradas nos mercados, nas tecnologias e nas formas organizacionais, bem como na capacidade de gerar e absorver inovações. O entendimento dessas mudanças vem sendo considerado, mais do que nunca, crucial para que um agente econômico se torne competitivo. Entretanto, para acompanhar as rápidas mudanças em curso, torna-se de extrema relevância a aquisição de novas capacitações e conhecimentos, o que significa intensificar a capacidade de indivíduos, empresas, países e regiões de aprender e transformar esse aprendizado em fator de competitividade para os mesmos. Por esse motivo, vem-se denominando esta fase como a da economia baseada no conhecimento ou, mais especificamente, baseada no aprendizado. Economia Aplicada à Engenharia 12 3. Noções de microeconomia Neste capítulo será apresentada inicialmente a caracterização dos principais mercados, apresentação das curvas de oferta e demanda, determinação do preço de equilíbrio e as conceituações de elasticidades-preços da demanda e da oferta. Em seguida serão apresentadas as diversas curvas de receitas e custos, bem como a determinação do ponto de maximização de lucro das empresas no curto prazo. Para concluir será apresentado o modelo de determinação do ponto de equilíbrio de longo prazo das empresas. 3.1 Caracterização dos mercados Mercado em termos abstratos é o encontro dos fluxos de oferta e de demanda. Pode se referir a um bem determinado ou a uma determinação geográfica. Os diferentes tipos de mercado são classificados de acordo com o seguinte: Quanto à presença dos vendedores no mercado a) Mercado de concorrência perfeita: - Grande número de compradores e vendedores. - Vendedores e compradores (atomizados) têm influência negligenciável sobre preços. - Estabelecido o preço de mercado ninguém terá razões para cobrar menos e se cobrar mais os compradores mudam de vendedor. - Livre entrada e saída de compradores e vendedores e homogeneidade dos produtos. - Exemplos: bolsa de valores, feira livre. b) Mercado de concorrência monopolista: - Número mais restrito de vendedores no mercado - Diferenciação do produto ocorre por intermédio da marca - Exemplos: produtos de higiene, jeans etc. Economia Aplicada à Engenharia 13 c) Mercado oligopolista: - Número restrito de vendedores no mercado - Divisão do mercado entre os produtos - Política de preços e comercialização combinada entre os produtores - Exemplos: indústria automotiva, cimenteira etc. d) Monopólio - Apenas um produtor. - Exemplo: correios para certos tipos de correspondência Quanto à presença dos compradores no mercado Mercado monopsônio (um comprador), duopsônio (dois compradores) etc. 3.2 Estudo da demanda Em um mercado de concorrência perfeita a curva de demanda Di de determinado produto pode ser expressa da seguinte forma: Di = f (pi, p1, p2, p3, Y, P, T) Onde: Di: demanda de determinado produto pi, preço do produto em questão p1, p2, p3, etc: preços de demais produtos na economia Y: nível de renda P: população T: gostos e preferências do consumidor Se considerarmos a hipótese de que apenas o preço pi varie, e assemelhando as relações entre preços e demanda a uma reta, poderemos escrever a seguinte equação de demanda: Di = f (pi,) Di = a - bpi Economia Aplicada à Engenharia 14 Exercício 2: Seja uma curva de demanda dada por Di = 100 – 2 pi. Trace a sua representação gráfica. pi Exercício 3: Com base nas quantidades de soja demandadas nos mercados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, construa a curva de demanda do conjunto desses dois estados. Preço unitário Quantidades de soja demandadas nos mercados Minas Gerais Rio de Janeiro Soma dos estados $0,00 12 7 19 $0,50 10 6 16 $1,00 8 5 13 $1,50 6 4 10 $2,00 4 3 7 $2,50 2 2 4 $3,00 0 1 1 Di 50 100 Economia Aplicada à Engenharia 15 3.3 Estudo da oferta Em um mercado de concorrência perfeita a curva de oferta Oi de um determinado produto pode ser expressa da seguinte forma: Oi = f (pi, p1, p2, Cp, G, Cambio,) Onde: Oi: oferta de determinado produto pi, preço do produto em questão p1, p2, p3, etc: preços de oferta de demais produtos na economia Cp: custo de produção G: grau de intervenção do governo Cambio: taxa de cambio Se considerarmos a hipótese de que apenas o preço pi varie, e assemelhando as relações entre preços e demanda a uma reta, poderemos escrever a seguinte equação de demanda: Oi = f (pi) Oi = c + bpi CURVA DE DEMANDA DE MERCADO POR SOJA PREÇO DA SOJA $ QUANTIDADE DE SOJA 3,00 2,50 2,00 1,50 1,00 13 CURVA DE DEMANDA DE MERCADO 0,50 12 4 10 1 7 16 19 Minas Rio Economia Aplicada à Engenharia 16 Exercício 4: Seja uma curva de oferta dada por Oi = 4 + 4pi. Trace a sua representação gráfica. pi Exercício 5: Com base nas quantidades de soja ofertadas nos mercados de Paraná e Mato Grosso, construa as curva de oferta do conjunto desses dois estados. Preço unitário Quantidades de soja ofertadas nos mercados Paraná Mato Grosso Soma dos estados $0,00 0 0 0 $0,50 0 0 0 $1,00 1 0 1 $1,50 2 2 4 $2,00 3 4 7 $2,50 4 6 10 $3,00 5 8 13 Oi 4 -1 Economia Aplicada à Engenharia 17 3.4 Determinação do preço de equilíbrio Em um mercado de concorrência perfeita o preço de equilíbrio do mercado é determinado pelo encontro das curvas de demanda (Di) e oferta (Di). Exercício 6: Determine o preço de equilíbrio e a respectiva demanda, referente às seguintes curvas de demanda (Di) e oferta (Oi) das empresas: Di = 10 – 2pi Oi = 4 + 4pi No preço de equilíbrio Di = Oi, portanto, pi = 1 e Di = 8. QUANTIDADE DE SOJA 2,00 1,00 1 10 CURVA DE OFERTA DE SOJA NO MERCADO 13 7 PR PREÇO DA SOJA $ 3,00 2,50 1,50 0,50 4 MT MERCADO Economia Aplicada à Engenharia 18 pi Oi 5 8 Di Observação 1: Em um mercado de concorrência perfeita, uma vez determinadoo preço de equilíbrio a curva de preço-demanda do setor passa a ser a seguinte: Observação 2: Além disto, Rmg = Rme = pi Observação 3: Em um mercado monopolista a curva de demanda das empresas é a curva de demanda do setor : pi 5 10 Di, pi 1 Di = Rmg = Rme 4 -1 Oi,Di Di Economia Aplicada à Engenharia 19 3.5 Elasticidade-preço da demanda e da oferta Em economia o conceito de elasticidade mede a reação de determinada variável diante de outra. Os conceitos de elasticidade-preço da demanda e da oferta podem ser definidos como se segue: Elasticidade-preço da demanda (EpD): mede a reação potencial dos consumidores com relação a variação de preços dos produtos. EpD = (-) dDi . pi dpi Di Elasticidade-preço da oferta (EpO): mede a reação potencial dos produtores diante da variação de preços de seus produtos. EpO = dOi . pi dpi Oi DESEQUILÍBRIO DE OFERTA E DEMANDA DE SOJA PREÇO DA SOJA $ 3,00 2,50 2,00 1,50 0,50 1 4 10 13 7 PREÇO DE EQUIÍBRIO QUANTIDADE DE EQUILÍBRIO EQUILÍBRIO DEMANDA OFERTA QUANTIDADE DE SOJA 1,00 EXCESSO DE OFERTA ESCASSEZ Economia Aplicada à Engenharia 20 Exercício 7: Determine o valor da elasticidade-preço da demanda e da oferta e interprete seus resultado, para as curvas de demanda e oferta abaixo, para o nível de preço igual a 1 unidade monetária Di = 10 – 2pi Oi = 4 + 4pi a) EpD = (-) dDi . pi = 2 . 1 = 0,25 dpi Di 8 Significado: Se o preço variar de 1%, a demanda varia (na direção contrária) em 0,25%). b) EpO = dOi . pi = 4 . 1 = 0,5 dpi Oi 8 Significado: Se o preço variar de 1%, a oferta varia (na mesma direção) em 0,5%. Exercício 8: Determine os valores da elasticidade-preço da demanda (EpD) e interprete seus resultados nas seguintes situações de demanda: a) Situação 1 b) Situação 2 Valor encontrado: Valor encontrado: Interpretação do resultado: Interpretação do resultado: pi Di pi Di Economia Aplicada à Engenharia 21 Exercício 9: Determine os valores da elasticidade-preço da oferta (EpO) e interprete seus resultados nas seguintes situações de oferta: a) Situação 1 b) Situação 2 Valor encontrado: Valor encontrado: Interpretação do resultado: Interpretação do resultado: 3.6 Conceitos de receitas total, média e marginal Os conceitos de receita total (RT), receita média (Rme) e receita marginal (Rmg) são definidos conforme abaixo: a) Receita total: RT = preço (pi) x quantidade comercializada (Qi) b) Receita média: Rme = Receita Total = pi x Qi = pi Quantidade Qi c) Receita marginal = ΔRT ΔQ Utlilizando-se a noção de limite: Rmg =δRT/δQ pi Oi pi Oi Economia Aplicada à Engenharia 22 Exercício 10: Com base na curva de demanda pi = 100 – 2Di, pede-se: a) A curva de receita total (RT): Receita Total = pi . Di = (100 – 2Di) . Di = 100 Di – 2D2i RT = 100 Di – 2D2i √ b) A curva de receia média (Rme): Rme = Receita Total = pi x Qi = pi = 100 – 2Di Quantidade Qi c) A curva de receita marginal: Rmg =δRT/δQ = δ( 100 Di - – 2D2i) = 100 – 4 Di δD d) Graficamente teremos: Rme = pi RT Di Rmg epD > 1 EpD = 1 epD < 1 25 50 Economia Aplicada à Engenharia 23 Observações: a) Pelo gráfico anterior podemos observar que a demanda Di = 25 corresponde ao ponto onde a receita total é máxima (Rtmáx.) e a receita marginal é nula (Rmg = 0). b) Quando a elasticidade-preço da demanda atinge o valor zero, a receita total é máxima. Este é o ponto, portanto, que o produtor maximiza a sua receita. Exemplo: No intuito de maximizar sua receita total, caso o produtor esteja oferecendo uma quantidade de produto no mercado de 10 unidades, ele deve procurar elevar este nível de produção para 25 unidades. Ao contrário, se o seu nível de produção estiver, por exemplo, em 30 unidades, ele deve reduzir as quantidades ofertadas no mercado para 25. 3.7 Teoria de custos Os custos provenientes da produção de bens e serviços podem ser basicamente de dois tipos - custos fixos e variáveis, conforme o gráfico abaixo: Custos fixos: Não dependem do nível de vendas, sendo oriundos geralmente de dispositivos contratuais. Exemplo: aluguel. Custos variáveis: variam diretamente com o nível de vendas. Exemplos: Custos de produção e de entrega. Custo total: soma dos custos fixos mais os variáveis Custo Variável Custo Fixo Nível de Vendas Custos $ Economia Aplicada à Engenharia 24 No gráfico anterior podemos observar que o ponto de equilíbrio operacional (break-even point) iguala o valor das receitas totais com os custos totais. A partir deste ponto, a empresa terá uma receita total maior do que seu custo total. A representação dos custos variáveis, custos totais e receitas totais como retas foram feitas para efeito de simplificação. Os principais conceitos derivados dos derivados do custo total, custo, custo variável e custo fixo são apresentados a seguir: Custo marginal (Cmg) - custo adicional que ocorre com a produção de uma unidade adicional de produto. Cmg = δCT/δQ ou b+2cQ Custo médio (CMe) - custo total dividido pelo número de unidades de produção. Cme= CTme = CT /Q Custo fixo médio (Cfme) = CF / Q Custo variável médio (Cvme) = CV / Q Receita de Vendas 500 Custo Operacional Fixo Custo Operacional Variável Custo Operacional Total Vendas (unid.) Custos/Receitas ($) Ponto de Equilíbrio Operacional Economia Aplicada à Engenharia 25 Exercício 11: Determinado setor da indústria farmacêutica possui a seguinte equação de Custo Total: CT (Q) = Q3 – 9Q2 + 800 Q + 80. Pede-se: a) Custo médio (Cme) = Q3 – 9Q2 + 800 Q + 80 = Q2 – 9Q + 800 + 80 Q Q b) Cv, Cvme, Cf; Cfme Cv= Q3 – 9Q2 + 800 Q Cvme = Q3 – 9Q2 + 800 Q = Q2 – 9Q + 800 Q Cf = 80 Cfme = 80 Q Exercício 12: Determinado setor da indústria automotiva possui a seguinte planilha de custos: Observeo traçado de seus custos fixo médio, custo variável médio, custo total médio e marginal. Economia Aplicada à Engenharia 26 Exercício 13: Com base em informações disponiveis, monte a planilha de custos a seguir, de empresa do setor da indústria farmacêutica: Quantidade Custo fixo Custo variável Custo total Custo fixo médio Custo variável médio Custo total médio Custo marginal 0 2,00 0,00 2,00 - - - - 1 2,00 1,00 3,00 2 2,00 1,80 1,90 3 2,00 2,40 1,47 4 2,00 2,80 1,20 5 2,00 3,20 1,04 6 2,00 3,80 0,97 7 2,00 4,60 0,94 8 2,00 5,60 0,95 9 2,00 6,80 0,98 10 2,00 8,20 1,02 11 2,00 9,80 1,07 12 2,00 11,60 1,13 13 2,00 13,60 1,20 14 2,00 15,80 1,27 Veja se confere os resultados de sua tabela com os gráficos de custos total, fixo médio, custo variável médio, custo total, custo médio e marginal. Economia Aplicada à Engenharia 27 Custo total Economia Aplicada à Engenharia 28 3.8 Maximização de lucro no curto prazo As empresas procuram maximizar seu lucro no curto prazo, procurando maximizar suas receitas e minimizar seus custos, conforme pode ser visto abaixo. Lucro (Q) = Receita Total (Q) – Custo Total (Q) L(Q) = RT(Q) – CT(Q) - Primeira condição de maximização: dL(Q) = 0 dQ dL(Q) = dRT(Q) – dCT(Q) = Rmg – Cmg = 0 dQ dQ dQ Portanto: - Segunda condição de maximização: d2L(Q) ≤ 0 dQ2 Portanto: Rmg = Cmg dRmg = dCmg dQ dQ Economia Aplicada à Engenharia 29 Exercício14: Conhecendo as curvas de custo e nível de preço da indústria farmacêutica, determine as áreas de Receita total, Custo Total. Responda também se o setor encontra- se em situação de lucro ou prejuízo. Obs: Rme = receita média; Rmg = receita marginal; CTme = custo total médio; CVme = custo variável médio; Cmg = custo marginal Ponto (e) de maximização de lucro: Rmg = Cmg - Receita total: retângulo (abde) - Custo total: retângulo (abcf) - Lucro: área achurada (fcde) Economia Aplicada à Engenharia 30 3.9 Maximização de lucro no longo prazo No longo prazo a empresa vai tentar posicionar sua curva de custo médio (Cme) no ponto mais baixo da envoltória da curva de custo médio de longo prazo. Essa situação pode ser vista no gráfico abaixo. Q* A maximização de lucro no longo prazo ocorre no ponto B da envoltória, onde a receita média (Rme) se iguala à receita marginal (Rmg), ao custo médio de longo prazo (Cmelp), ao custo médio de curto prazo (Cmecp ), ao custo marginal de curto prazo (Cmgcp ) e ao custo marginal de longo prazo (Cmglp). Rme = Rmg = peq = Cmelp = Cmecp = Cmgcp = Cmglp peq A Cmelp, Cmecp B C Quantidades Economia Aplicada à Engenharia 31 4. O Sistema econômico O acervo de bens e serviços produzidos é posto à disposição da coletividade para atender as suas variadas necessidades. Assim, em primeiro lugar, uma boa parte desta produção se destina ao consumo, pois este é o objetivo final da atividade econômica. Este consumo, por sua vez, vem a ser a parcela de maior proporção em que à procura agregada se manifesta. Mas há também outras solicitações da sociedade que devem ser igualmente satisfeitas. Deste modo outra parte da procura se dirige à reposição e ampliação dos equipamentos e estoques necessários para a continuidade do processo produtivo. Nesse sentido, aquela parcela do produto nacional que se deixa de ser consumido vai se constituir nas sobras ou excedentes, que aplicados como investimentos garantem não só a manutenção do capital existente, mas permitem ainda que ele seja ampliado. Em terceiro lugar, o poder público, a fim de cumprir suas tarefas de governo necessita se apropriar de certa parcela de bens e serviços, e em conseqüência, retira uma determinada parte do produto nacional, por intermédio de impostos diretos e indiretos. Os impostos diretos recaem sobre os rendimentos de pessoa física e lucros das empresas, ao passo que os indiretos incidem sobre a produção e por isso se incorporam aos preços quando os bens e serviços são comercializados. 4.1 Equilíbrio da procura e oferta agregada Em geral as forças do mercado são tais que existe uma tendência no sentido de atingir-se uma situação de equilíbrio entre os componentes da procura e da oferta globais. Quando tal equilíbrio se efetiva, a procura e oferta global se igualam. Assim em uma situação de equilíbrio temos as seguintes igualdades. OFERTA GLOBAL = PROCURA GLOBAL Com isto, podemos expressar o PIB de um país conforme se segue: PIB = C + I + G + (X – M) Economia Aplicada à Engenharia 32 O quadro a seguir mostra os diversos componentes da procura e oferta agregadas de um país: Procura (preços de mercado) 109 US$ Oferta Global 109 US$ Consumidores (C ) 22,0 Produto Nacional Bruto (cf) 30,0 Governo (bens e serviços) 4,5 Impostos indiretos - subsídios 3,8 Investimento bruto . capital fixo . aumento de estoques 6,2 0,8 Exportações (X) 4,5 Importações (M) 4,2 Procura total 38,0 Oferta Global 38,0 4.2 Consumo e poupança A função consumo (C) estuda e analisa o comportamento das unidades familiares e dos grupos sociais. A função-poupança (S) estuda a parcela da renda que não é gasta na compra de bens de consumo. Algebricamente podemos exprimir tanto a função-consumo como a função- poupança como funções do nível de renda, como se segue: C = C (Y), S = S (Y) e Y = C + S Exercício 15: Com base na tabela abaixo, monte os gráficos das funções consumo e poupança: Renda (Y) Consumo (Y) Poupança (S) 0 20 50 60 100 100 0 150 140 200 180 250 220 300 260 Economia Aplicada à Engenharia 33 4.2.1 Propriedades das funções consumo e poupança - Propensões Médias a Consumir (PMeC) e a Poupar (PMeS): São as proporções da renda que foram respectivamente consumidas e poupadas: PMeC = C Y PMeS = S Y - Propensões Marginais a Consumir (PMgC) e a Poupar (PMgS): PMgC = Variação do consumo Variação da renda PMgS = Variação da Poupança Variação da renda Em linguagem matemática, podemos escrever as Propensões Marginais a Consumir (PMgC) e a Poupar (PMgS) como as respectivas derivadas das funções consumo e poupança, conforme se segue: PMgC = dC dY PMgS = dS dY C, S Poupança (S) Consumo (C ) -20 20 Renda 100 Economia Aplicada à Engenharia 34 Exercício 16: Em um determinado sistema econômico, a função consumo é definida como: C = 20 + 3/4 Y Pede-se: a) A equação da função poupança. S = -20+ 1/4 Y b) As propensões marginais a consumir e a poupar e seus significados. PMgC = 3/4 = 0,75 - Significado: para cada unidade adicional de renda a propensão adicional a consumir é de 0,75. PMgS = 1/ 4 = 0,25 - Significado: para cada unidade adicional de renda a propensão adicional a poupar é de 0,25. c) O nível de renda de equilíbrio. Y = C Y = 20 + 3/4 Y → Y = 80 d) Trace um gráfico ilustrando as situações acima. C,S Y C = 20 + 3/4 Y S = -20 + 1/4 Y +80 -20 +20 80 Ω = 45o Economia Aplicada à Engenharia 35 4.3 Investimento Investimentos são as poupanças ou sobras que se aplicam no processo produtivo. Do ponto de vista puramente financeiro, os investimentos fazem retornar ao circuito econômico as poupanças realizadas anteriormente. Até o início da década de 1930, os investimentos eram predominantemente privados. Contudo, após a grande recessão de 1930, o Estado, segundo políticas de governo de caráter keynesiano começou a tomar medidas para recuperar a atividade econômica, estagnada e combalida. 4.3.1 O papel do multiplicador de investimentos Todo investimento autônomo provoca sempre um incremento na renda total, bem maior do que seu valor inicial. Ao coeficiente de variação na renda final, que ocorre em conseqüência deste investimento inicial, chama-se multiplicador de investimento (k). Por definição, temos então que o multiplicador de investimentos é o coeficiente que aplicado a um acréscimo no investimento, nos dá o incremento de renda final. Portanto, podemos escrever o seguinte: k Δ I = Δ Y → k = Δ Y = 1/PMgS Δ I Exercício 17: Com relação ao exercício 16, pede-se: a) O valor do multiplicador de investimentos (k). k = PMgS 1 = 4 b) Para um nível de investimentos (I) igual a 30, determine o novo nível de equilíbrio (Y`) da economia. Y = C Y = 20 + 3/4 Y + 30 → Y = 200, ou então: ΔY = Δ I * k = 30 * 4 = 120 Nível de equilíbrio inicial (veja questão anterior): 80 Economia Aplicada à Engenharia 36 Y` = 80 + 120 = 200 c) Trace um gráfico ilustrando as situações acima. Y Y=80 C,S Ω = 45o C + Δ I = 50 + 3/4 Y +20 Y`=200 C = 20 + 3/4 Y +80 +50 +200 + Δ Y = Δ I * 4 = 120 Economia Aplicada à Engenharia 37 5. Políticas econômicas do governo Este capítulo trata inicialmente dos principais instrumentos de política econômica do Governo, compreendendo suas ações e principais impactos sobre o sistema sócio-econômico do país. Além disto, apresenta a estrutura do Sistema Financeiro Nacional, com seus órgãos de regulação e fiscalização. Visto isto, apresenta os Mercados Financeiros, Monetário e de Capitais, com suas estruturas, funções e serviços. 5.1 Instrumentos de política econômica do Governo O Governo, dentro dos seus objetivos de política global, que consiste em promover o desenvolvimento econômico do país, garantir o pleno emprego dos seus fatores da produção, equilibrar os saldos das operações financeiras com o exterior, garantir uma estabilidade de preço e controle da inflação, promover a distribuição da riqueza e das rendas e com isto, promover o bem estar econômico e social da nação, conta com quatro tipos de política econômica – Políticas Monetária, Fiscal, Cambial e de Rendas. Os objetivos e instrumentos dessas políticas econômicas de governo serão vistas de forma sucinta, a seguir: 5.1.1 Política monetária A Política Monetária diz respeito ao controle da oferta de moeda e das taxas de juros, que garantam a liquidez ideal do sistema econômico. O executor dessa política é o Banco Central, que no Brasil, está subordinado ao Ministério da Fazenda. Os instrumentos de política monetária tradicionais são os seguintes: Depósito Compulsório É o recolhimento feito pela rede bancária de determinado percentual sobre os depósitos à vista e determinadas aplicações. O recolhimento é feito parcialmente em moeda e o saldo em títulos federais da divida pública. É calculado sobre médias móveis e em função de saldos mensais dos depósitos. Atualmente a alíquota do depósito compulsório sobre os saldos de depósitos à vista é de 53%, poupança, 25% e depósitos a prazo (títulos públicos, CDBs etc), 23%. O compulsório atua de forma indiscriminada Economia Aplicada à Engenharia 38 sobre a rede bancária, podendo, entretanto, a autoridade monetária fazer exceções, como é o caso de implantação pioneira de serviços bancários, operações de crédito rural, adiantamento a produtores e formação de estoques reguladores. Eventuais alterações na taxa de encaixe afetam indiscriminadamente todo o sistema bancário. Por este motivo, este instrumento de política monetária é considerado de longo prazo. Operações de Redesconto É um instrumento de política monetária, que consiste na concessão de assistência financeira de liquidez aos bancos comerciais. Na execução destas operações, o Banco Central funciona como o banco dos bancos, emprestando dinheiro a uma taxa pré- fixada, com a finalidade de atender as necessidades momentâneas de caixa dos bancos comerciais. Através desses instrumentos, a oferta de moeda pode ser reduzida ou expandida, de acordo como os critérios estabelecidos pelo Banco Central. É um instrumento flexível e conjuntural, que não age necessariamente sobre todo o sistema bancário, sendo que seus efeitos se fazem sentir a médio prazo, na medida em que os bancos, que estão no redesconto, buscam reformular suas posições, visando o equilíbrio de sua liquidez. Para suprir, primeiramente, suas necessidades eventuais de fluxo de caixa, os bancos podem realizar entre si, operações com Certificados de Depósito Interbancário. Com isso, a utilização do redesconto junto ao Banco Central se restringe aos casos mais agudos, ou a valores que o sistema bancário não pode se financiar. Portanto, essas operações de redesconto, são, em tese, as últimas linhas de atendimento aos furos de caixa das instituições bancárias. Operações de Mercado Aberto (“Open Market”) As Operações de Mercado Aberto constituem o mais ágil instrumento de política monetária disponível pelo Banco Central. Através delas são permanentemente reguladas a oferta monetária e o custo primário do dinheiro na economia, referenciado na troca de reservas bancárias por um dia, através das operações de overnight. Os principais movimentos desse mercado, em resumo, são os seguintes: Resgate de Título: compra líquida de títulos públicos pelo Banco Central, com aumento do volume de reservas bancárias e conseqüentemente aumento de liquidez do mercado e queda da taxa de juros. Colocação de Títulos: venda liquida de títulos públicos pelo Banco Central, com diminuição do volume de reservas bancárias e, como conseqüência, redução de liquidez do mercado e aumento da taxa de juros. No conjunto de operações, o Banco Central não precisa ser sempre a parte que compra ou vende dinheiro em excesso ou em falta. Os próprios bancos, operando entre si, têm a mesma facilidade de repor saques ou aplicar depósitos. EconomiaAplicada à Engenharia 39 Controle e a Seleção do Crédito O controle e a seleção do crédito podem ser feitos de diversas formas: imposição do volume de destino do crédito, controle das taxas de juros, fixação de limites e condições dos créditos. Eles podem se estender não somente aos bancos comerciais, mas também a outras instituições financeiras, atingindo outros passivos financeiros que não moeda. 5.1.2 Política fiscal Está relacionada com a posição orçamentária do Governo. Compreende a definição e a aplicação da carga tributária exercida sobre os agentes econômicos, bem como a definição dos gastos do Governo, que tem como base os tributos captados. A elaboração do projeto orçamentário do governo está a cargo do Ministério do Planejamento. A posição orçamentária do governo é definida pela relação entre os gastos (G) e suas receitas (T), podendo, portanto ocorrer as seguintes situações: Se o saldo orçamentário for positivo (T > G), o governo terá um superávit. Se o saldo orçamentário for negativo (T< G), o governo terá um déficit. O entrelaçamento entre as políticas monetária e fiscal pode ser vista, através do modelo IS-LM de Hicks-Hansen, a seguir. Podemos observar que: Efeito do Aumento das Despesas do Governo: aumenta a taxa de juros e o nível de produto (renda). Efeito do Aumento da Oferta Monetária: Imediatamente após o aumento, passa a haver mais moeda na economia que a demandada pelas pessoas. Isso tende a fazer cair a taxa de juros (i), de modo que a demanda monetária aumenta. A taxa de juros mais baixa estimula, então, o investimento, que aumenta o produto (renda) da economia pelo efeito multiplicador. Economia Aplicada à Engenharia 40 5.1.3 Política cambial A política cambial está baseada na administração das taxas de câmbio e no controle das operações cambiais. Apesar de ligada indiretamente à política monetária, a política cambial se destaca por atuar mais diretamente sobre todas as variáveis relacionadas às transações econômicas do País com o exterior. Dado o seu forte entrelaçamento com a política monetária, a política cambial deve ser muito bem administrada. Um desempenho, por exemplo, muito forte das exportações pode ter grande impacto monetário, à medida que o ingresso de divisas significa conversão de moedas estrangeiras para reais, e com isso, expansão da emissão da moeda, que em ultima instancia pode causar efeito inflacionário. 5.1.4 Políticas de rendas As políticas de renda compreendem as medidas do governo que afetam diretamente os fluxos de renda e remuneração dos fatores diretos de produção e serviços do sistema econômico, tais como salários, lucros, dividendos, depreciação, preços dos produtos intermediários e finais. Modelo IS-LM de Hicks-Hansen Taxa de Taxa de Juros Juros i1 i0 i1 i0 Y0 Y1 PNB(Y) Y0 Y1 PNB(Y) LM0 LM1 LM0 IS1 IS0 IS0 Aumento da Oferta Monetária Aumento da Despesa do Governo Economia Aplicada à Engenharia 41 Sistema Financeiro Nacional Órgãos de Regulação e Fiscalização Instituições Financeiras Bancos Múltiplos com (B) Carteira Comercial Captadoras de Bancos Comerciais (B) Depósitos Caixas Econômicas (B) à Vista Cooperativas de crédito (B) Banco Central Banco de Investimento (B/CVM) Conselho Financeiras Sociedades de Crédito Imobiliário (B) Monetário Companhias Hipotecárias (B) Nacional Associações de Poupança e (B) Empréstimo Comissão de Bolsa de Mercadorias e de (B/CVM) Futuros Valores Bolsa de Valores (CVM) Mobiliários Agências de Fomento ou de (B) Desenvolvimento Outros Intermediários Sociedades Corretoras de (B/CVM) Títulos e Valores Mobiliários Superintendência Sociedades Corretoras de Cambio (B) de Seguros Representações de Instituições (B) Financeiras Estrangeiras Privados Agentes Autônomos de (CVM/B) Investimentos Entidades Fechadas de Previdência Privada (SPC) Secretaria de Sistemas de Sociedades Seguradoras (SU) Previdência Previdência e Sociedades de Capitalização (SU) Complementar Seguros Sociedades Administradoras de (SU) Seguro-Saúde Entidades Fundos Mútuos (B/CVM) Administradoras Clubes de Investimentos (CVM) de Recursos de Carteiras de Investidores Estrangeiros (B/CVM) Terceiros Administradoras de Consórcios (B) Sistemas de Liquidação Sistema Especial de Liquidação e de (B) Custodia- SELIC e Custódia Central de Custódia e de Liquidação (B) Financeira de Títulos- CETIP Caixas de Liquidação e Custódia (CVM) Fonte: Banco Central do Brasil Economia Aplicada à Engenharia 42 Empresas Indivíduos GOVERNOS 5.2 Os mercados financeiros Uma vez apresentado a estruturação do Sistema Financeiro Nacional, passamos agora a analisar mais de perto os mercados financeiros, com seus atores, funções e serviços. Como subsistema do Sistema Financeiro Nacional, os mercados financeiros são foros organizados que permitem que os tomadores e fornecedores de empréstimos e investimentos, a curto e longo prazo, negociem diretamente. Basicamente, aqueles que oferecem e demandam fundos são indivíduos, empresas e governos. Uma outra figura que desempenha um papel fundamental neste processo é o dos intermediários financeiros ou instituições financeiras, que canalizam as poupanças de várias partes interessadas em forma de empréstimos ou investimentos. Os intermediários financeiros básicos na economia são os bancos comerciais, as caixas econômicas, as associações de poupança e empréstimos, associações de crédito, companhia de seguro de vida e fundos de pensão. Os intermediários financeiros e os mercados financeiros não são independentes um do outro. Conforme pode ser visto no esquema abaixo, é bastante comum encontrar intermediários financeiros participando ativamente tanto no mercado monetário como no de capital, atuando como fornecedores e tomadores de fundos. Intermediários Financeiros Bancos Comerciais Caixas Econômicas Associações de Poupanças de Empréstimos Associações de Crédito Companhias de Seguro de Vida Fundos de Pensão Outros Intermediários Mercados Financeiros Mercado Monetário Mercados de Capitais Fonte: Princípios de Administração Financeira (Gitman; 1987) Os dois mercados financeiros básico são o mercado monetário e o de capitais, a serem vistos nas páginas seguintes. INDIVÍDUOS EMPRESAS GOVERNOS Economia Aplicada à Engenharia 43 5.2.1 Mercado monetário O mercado monetárioé criado por uma relação intangível entre fornecedores e tomadores de fundos a curto prazo. Os instrumentos básicos de mercado monetário incluem títulos emitidos por companhias (Export Notes e Commercial Papers), títulos públicos federais, estaduais ou municipais (Letras do Tesouro, letras de antecipação de imposto, Obrigações do Tesouro, emissões de agências federais), e por instituições financeiras e bancárias (letras de câmbio, caderneta de poupança, letras imobiliárias, hipotecárias e depósitos a prazo fixo). A seguir, será visto de forma sucinta as características de emissão desses papéis. 5.2.2 Mercado de capitais Os mercados de capitais são criados por inúmeras instituições e acordos que permitem que os fornecedores e tomadores de fundos a longo prazo façam suas transações. O fator-chave que diferencia o mercado monetário do de capitais é que este último fornece fundos permanentes a longo prazo às empresas, enquanto que o primeiro fornece financiamento para empréstimos a curto prazo. Embora ambos os mercados sejam importantes à longevidade da empresa e do governo, os mercados de capitais oferecem mecanismos por intermédio dos quais grandes somas de dinheiro podem ser levantadas para aumentar a capacidade produtiva da economia. As bolsas de valores constituem a espinha dorsal dos mercados de capitais, oferecendo um mercado para transações com ações e debêntures. Exercício 19: Com relação ao modelo de Hicks e Hansen abaixo, pede-se: i LMo ISo Y a) Combinações adequadas de políticas monetárias e fiscais para que o nível de renda diminua, mas a taxa de juros permaneça constante. b) Combinações adequadas de políticas monetárias e fiscais para que o nível de taxa de juros diminua, mas o nível de renda permaneça constante. c) Combinações adequadas de políticas monetárias e fiscais para que o nível de renda aumente, mas a taxa de juros permaneça constante. d) Combinações adequadas de políticas monetárias e fiscais para que o nível de taxa de juros aumente, mas o nível de renda permaneça constante. Economia Aplicada à Engenharia 44 6. Moeda e inflação 6.1 Moeda e suas funções A moeda possui as funções básicas de ser, ao mesmo tempo, um intermediário de trocas; um denominador comum de preços (unidade de medida) e reserva de valor. Segundo o conceito tradicional sua oferta é dada pela disponibilidade de ativos financeiros de liquidez imediata, os chamados meios de pagamento. Esses ativos de liquidez imediata seriam o papel-moeda em poder do público (moeda manual) e os depósitos a vista do público nos bancos comerciais (moeda escritural). Os depósitos a vista do público nos bancos comerciais geram condições, através da emissão de cheques, que vários agentes econômicos comprem produtos e serviços com uma mesma quantidade inicial de moeda. Esse uso generalizado de moeda escritural é a origem do "processo multiplicador", que eleva os meios de pagamento. A moeda injetada no sistema econômico por decisão da autoridade monetária tende a se transformar em depósitos bancários. Enquanto parcelas de tais depósitos se tornam empréstimos dos bancos a terceiros, que retornam tais recursos ao sistema bancário por meio de novos depósitos, que se tornarão novos empréstimos. Uma parcela dos meios de pagamento será mantida sob forma de papel-moeda nas mãos do público. Outra parte será levada à condição de moeda escritural, por meio de depósitos a vista nos bancos comerciais. Dos depósitos a vista retiram-se dois encaixes. Um técnico ou voluntário (r1) que deve satisfazer às operações diárias dos bancos, e um compulsório (r2) recolhido ao Banco Central como forma de se controlar o efeito multiplicador. A demanda de moeda ocorre por três motivos básicos: a) Transação: representa a guarda de moeda para se fazer face a pagamentos, dado que os pagamentos e recebimentos não são perfeitamente sincronizados. b) Precaução: é a guarda de moeda para cobrir gastos imprevistos. c) Especulação: a moeda é considerada também como reserva de valor e não apenas meio de troca. Por isso, não seria estranho que os agentes econômicos guardassem moeda ociosa, na expectativa de mudanças na taxa de juros de mercado e, assim, aplicá- la melhor no futuro Economia Aplicada à Engenharia 45 6.1 Criação de moeda no sistema fiduciário Em um sistema monetário os tipos de moedas e seus detentores podem ser definidos conforme se segue: - Meios de Pagamento (MP) = papel moeda em poder do público (PMP) + depósito a vista do público nos bancos comerciais (DPBC) - Base monetária (B) = papel moeda em poder do público (PMP) + reservas bancárias (PMBC) - Caixa dos bancos comerciais(RES) = parcela do papel moeda depositado pelo público (PMBC) - Encaixe bancário (r) = reservas bancárias Depósito a vista - Beta (ß) = papel moeda em poder do público Meios de Pagamentos - k = )1( 1 rr Desta forma, dada uma certa expansão da base monetária (ΔB), a expansão total dos meios de pagamentos será dada por: ΔMP = )1(1 1 r . ΔB Suponha por exemplo que em determinado sistema monetário o encaixe bancário é de 20% e o percentual dos meios de pagamento em poder do público é de 50% (ß). Desta forma o valor do multiplicador bancário k será de 1,67, calculado como segue: k = )2,01(5,02,0 1 = 1,67 Economia Aplicada à Engenharia 46 6.2 Conceituação de inflação As teorias da inflação são numerosas, embora não sejam mutuamente excludentes. Os principais ramos das teorias da inflação geralmente se superpõem e se interrelacionam. Por conseguinte, a literatura teórica sobre inflação é bastante extensa. No entanto, a despeito da diversidade de teorias sobre inflação, é possível classificá-las segundo os tipos predominantes das causas que dão origem aos processos inflacionários. Procurando enfatizar as diferenças básicas existentes entre elas, veremos a seguir, cada um desses tipos de inflação: a) Inflação de demanda: refere-se ao excesso de demanda agregada em relação à produção disponível de bens e serviços na economia. É causada pelo crescimento dos meios de pagamento, que não é acompanhado pelo crescimento da produção. Ocorre apenas quando a economia está próxima do pleno-emprego, ou seja, não pode aumentar substancialmente a oferta de bens e serviços a curto prazo. b) Inflação de custos: tem suas causas nas condições de oferta de bens e serviços na economia. O nível da demanda permanece o mesmo, mas os custos de certos fatores importantes aumentam, levando à retração da oferta e provocando um aumento dos preços de mercado. c) Inflação inercial: é a aquela em que a inflação presente é uma função da inflação passada. Deve-se à inércia inflacionária, que é a resistência que os preços de uma economia oferecem às políticas de estabilização que atacam as causa primárias da inflação. Seu grande vilão é a "indexação", que é o reajuste do valor das parcelas de contratos pela inflação do período passado. d) Inflação estrutural: a corrente estruturalista supunha que a inflação em países em vias de desenvolvimento é essencialmentecausada por pressões de custos, derivados de questões estruturais como a agrícola e a de comércio internacional. Economia Aplicada à Engenharia 47 6.3 Inflação e o emprego O estudo das relações existentes entre as taxas de inflação e o nível do emprego sempre se constituiu em um dos aspectos mais importantes da teoria macroeconômica. Isto porque os objetivos básicos de manutenção do pleno emprego e de controle de pressões inflacionárias somente se revelaram conciliáveis em condições especiais e transitórias. Esta relação originalmente descoberta entre taxas de emprego e inflação passou a ser teoricamente descrita pelas chamadas curvas de Phillips. A figura abaixo reproduz uma dessas curvas, segundo sua versão mais divulgada. A curva corta o eixo horizontal no ponto correspondente ao desemprego natural da economia (desemprego friccional). O ramo superior da curva, à esquerda do ponto Uo é geralmente dado como menos elástico que o ramo inferior. Tal característica decorre que as tentativas de redução de desemprego para níveis inferiores a Uo provocam acentuadas elevações da taxa de inflação, dada a rigidez cada vez mais acentuada da capacidade de produção da economia. Em seu ramo inferior, a direita do ponto Uo, a curva é relativamente elásticas, mostrando que os níveis de preços não são facilmente flexíveis para baixo, em respostas às deliberadas reduções provocadas no nível de emprego da economia. Antes que se verifiquem ajustamentos nas expectativas de emprego e de preços, uma redução do desemprego de Uo para U1 será obtida ao custo de uma elevação da taxa de inflação de 0 para P1. Por outro lado, uma redução da taxa de inflação de 0 para P2 (deflação), terá como custo social uma ampliação da taxa de desemprego de Uo para U2. Taxa de desemprego Taxa de inflação U1 U2 UO Curva de Phillips P1 P2 0 Economia Aplicada à Engenharia 48 A longo prazo (Hlp), após o deslocamentos deliberadamente provocados por medidas de políticas econômicas, as expectativas tendem a ser revistas, seja quanto à inflação ou ao desemprego, reconduzindo a taxa de desemprego à sua posição natural. 0 Taxa de inflação Taxa de desemprego Hcp0 Hcp1 Hlp Economia Aplicada à Engenharia 49 6.4 Planos de estabilização econômica Durante o período compreendido entre os anos de 1986 e 1994 a economia brasileira sofreu a implantação de sete planos de estabilização econômica, com diagnósticos, propostas e práticas muitas vezes distintas. Esses planos de estabilização econômica podem ser vistos a seguir. Planos de Estabilização 1986 - 1994 Planos Início Diagnótisco Propostas Prática Moeda Cruzado I 28/02/86 Inercial PM e PF acomodatícias. PM e PF expansionistas. 1000 Cruzeiros = 1 Cruzado Bresser 15/06/87 Inercial + Demanda PM e PF contracionistas. PM e PF contracionistas. X Feijão com arroz Jan./88 Demanda PM e PF contracionistas. PM expansionista, devido megasuperávit da balança comercial. X Verão 14/01/89 Inercial + Demanda Corte nas despesas públicas e aumento das receitas. Propostas não aprovados pelo Congresso. 1000 Cruzados = 1 Cruzado Novo. Collor I 15/03/90 Fragilidade financeira do Estado Aumento da arrecadação e confisco monetário Aumento de impostos e sequestro de liquidez Cruzeiro Collor II 01/02/91 Fragilidade financeira do Estado Racionalizar gastos da administração pública, corte de despesas e acelerar o processo de modernização do parque industrial Falta de credibilidade do governo inviabilizou ações políticas do governo. Cruzeiro Real 01/07/94 Desajuste das contas públicas Ajuste fiscal, criação da URV e regras de emissão e lastreamento da nova moeda. Ajuste fiscal, e criação da URV. Real Fonte: Giambiagi e Villela (2005) Abreviaturas: - PM: Política Monetária - PF: Política Fiscal Economia Aplicada à Engenharia 50 6.5 O regime de metas de inflação Este regime de metas de inflação foi adotado no início de 1999, com a nomeação de Armínio Fraga para presidente do Banco Central. Com a adoção desse regime o Conselho Monetário Nacional passou a definir um alvo para a variação do IPCA, que passou a balizar as decisões de política monetária do Banco Central, tomadas todos os meses pelo Comitê de Política Monetária (Copom). O sistema de metas de inflação trabalha com uma tolerância acima ou abaixo da meta, para acomodar possíveis impactos de variações exógenas, procurando evitar grandes flutuações do nível de atividade. A meta inicial fixada para 1999 foi de 8%, com tolerância de 2% acima ou abaixo do alvo. Para os anos de 2000 e 2001 foram adotados, respectivamente, metas de 6% e 4%. A inflação se manteve dentro do previsto nos anos de 1999 e 2000, mas situou acima do teto em 2002. As metas de inflação para 2006 e 2007 são de 4,5%, com bandas bilaterais de 2%. 6.6 Índices e projeções de inflação Os principais índices de inflação, calculados pelo IBGE, DIEESE, FIPE e FGV encontram-se abaixo, sendo que o governo considera o IPCA para o cálculo da meta de inflação. - Índice Geral de Preços do IBGE (IGP) Começou a ser calculado em 1947, comparando preços do mês anterior com os do mês corrente, coletados em 18 capitais. Há três grupos de preços: os de produtos no atacado, baseado numa amostragem de cerca de 500 mercadorias, com 60 por cento de peso no índice final; os de preços ao consumidor, com base nas compras de famílias com renda de 1 a 33 salários mínimos, entram com 30 por cento; preços da construção civil, com 10 por cento de peso, baseado em planilhas de custo de empresas de engenharia. Um dos menos precisos índices, justamente pela sua abrangência, num quadro muito dispersivo de inflação. É divulgado em duas versões uma contendo apenas os preços do que é produzido internamente, (disponibilidade interna) e outra incluindo preços de importações. - Índice Geral de Preços do Mercado (IGPM) da FGV Criado a pedido da Federação dos Bancos com uma cláusula que impede sua modificação pelo governo e tinha como função, servir de corretor de contratos bancários aplicável já no dia 30 do mês em curso. É o primeiro a ser divulgado e tem como base os mesmos preços e a mesma ponderação do IGP, mas do dia 20 do mês anterior aos 20 do mês em questão. Economia Aplicada à Engenharia 51 - Índice Quadrissemanal de Preços ao Consumidor da FIPE Típico de uma economia hiperinflacionária, é publicado toda semana, com a variação dos preços das quatro semanas anteriores. Restringe-se ao município de São Paulo e afere o custo de vida de famílias com rendas de 2 a 6 salários mínimos. Calcula os preços médios durante quatro semanas e divide pela mesma média de quatro semanas anteriores. Trata-se, portanto de uma medida rápida das tendências de base dos preços. No índice FIPE a comida pesa 37 por cento do custo de vida das pessoas e a habitação 18 por cento. - Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE. Para rendas de 1-8 salários mínimos, foi o índice oficial de inflação de 1979 a 1986. - Índice de Preços ao Consumidor (IPC) Sucedeu ao INPC como índice
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