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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA DISCENTE: THAMIRIS PEREIRA DAVID DOCENTE: SPENSY PIMENTEL CC: CULTURAS, SABERES TRADICIONAIS E PRÁTICAS EM SAÚDE Resumo do texto: LANGDON, E. J. Redes xamânicas, curanderismo e Processos Interétnicos: uma análise comparativa. Revista Mediações (UEL), v. 17, p. 62-82, 2012. Fatores históricos, sociais e demográficos Mudanças nos papéis dos xamãs entre 2 grupos indígenas da Colômbia: Sibundoy e Siona. “O xamanismo deve ser visto como um fenômeno constante em mudança que emerge das interações entre fatores sociais, culturais, históricos e demográficos em situações específicas.”( LANGDON, 2012) A medicina popular na Colômbia tem participação de vários grupos étnicos: negros, índios, espanhóis e outros. Os curandeiros indígenas tem um status maior do que os indígenas em geral na Colômbia, que geralmente possuem um baixo status, sofrem preconceito, e são visto com pouco poder. As redes xamânicas são importantes historicamente para o curandeirismo. Os xamãs Sibundoy (Colômbia) são vistos vendendo no mercado popular das grandes cidades. Objetivo desse texto: Examinar a articulação entre índios e não-índios nas práticas médicas populares colombianas a partir do ponto de vista histórico. Os curacas Sibundoy curavam doenças: bruxaria, má sorte, susto, e outros nas cordilheiras dos Andes. Os xamãs Siona do baixo Putumayo tiveram uma pouca adesão sobre o assunto entre os jovens. Eles deixaram de passar pelo treinamento xamânico por algumas décadas. Houve um crescimento do xamanismo Sibundoy e um declínio dos Siona por duas décadas (70 e 80); nos anos 90 elas foram revitalizadas fazendo parte de uma rede xamânica da região Amazônica que articulava-se com profissionais urbanos. A autora menciona umas pesquisas que ela fez nesse período na Colômbia, onde os Sibundoy foram vistos exercendo papel importante para o curandeirismo e o xamanismo Siona era visto como um xamanismo sem xamãs. Mesmo que alguns possuíssem conhecimento xamânico, nenhum se sentia apto de verdade para realizar os rituais com ingestão de yajé (Ayahuasca). A diferenciação da prática xamânica nos 2 grupos podem ser lidas como resultado da intensificação de contato com a sociedade nessa época. Cura indígena na Colômbia Meridional Na Colômbia meridional é comum o uso de alucinógenos nas práticas xamânicas entre diversos grupos. E por meio da ingestão do yajé eles adivinham doenças, e eventos do passado e do futuro. Tem doenças que podem ser tratadas com ervas e drogas biomédicas, mas também tem aquelas que só podem ser tratadas em rituais xamânicos por um xamã (aquelas que não tem causas habituais). A cerimônia é realizada com o paciente e familiares. O xamã conta o que descobriu através de viagens pelo mundo dos espíritos (viagem astral) e dá o prognóstico e receita um tratamento. O paciente tem liberdade de escolha, podendo recorrer a outras terapias medicinais. Conhecimento xamânico: treinamento que visa adquirir conhecimento e poder de viajar para reinos invisíveis enquanto toma yajé, contatar e barganhar com as entidades que influenciam os eventos da vida quotidiana. Essa viagem é perigosa e dependendo da pessoa ela pode não voltar mais ou cair enferma fatalmente. Quando a pessoa tem conhecimento para guiar e proteger os outros, é considerado um mestre xamã e passa a conduzir as cerimônias. Os xamãs tentam aprimorar seus poderes em visitas a outros e há uma competição entre eles para obter mais poder e destruir o poder de um rival por meio de feitiçaria. Também pode perder poder e conhecimento e virar um homem comum quando passa a ter visões ruins e não consegue mais ver o que deseja. Sempre há um ciclo de cura: que começa com ervas, outras substâncias para os membros da casa, depois por pessoas com maior conhecimento até chegar num xamã. Se uma doença for forte, sugere-se a tratamentos não tradicionais recomendados por eles mesmo para sintomas físicos. Se suspeitarem de alguma causa não visível deve-se realizar a cerimônia xamânica para combatê-la. Medicina Popular Colombiana Há uma mistura de vários grupos étnicos, porém as práticas indígenas sao consideradas superiores. Etiologia da medicina popular: engloba processos sobrenaturais, ambientais, emocionais e pessoais que afetam o bem-estar, levando-se em conta que o clima, trabalho, tristeza, inveja, medo, má sorte, o ar malevolente e a feitiçaria podem produzir doenças. Os tratamentos são diversos: ervas, rituais, terapias, produtos farmacêuticos, medicina convencional. As condições sociais interferem no processa de percepção e tratamento da doença por métodos mais tradicionais, os centros médicos do governo no qual eles também recorrem acaba se tornando mais rápidos. Não há ameaças nas práticas xamânicas indígenas pelas práticas da biomedicina introduzida por grupos missionários, farmácias e centros de saúde na missionários, farmácias e centros de saúde na Colômbia. O sistema indígena se misturou com outros no século XX resultando no curandeirismo. Houve um sistema de intercâmbio envolvendo a troca de conhecimento xamânico por séculos. Os Sibundoy vendem suas substâncias medicinais e possuem conhecimento xamânico. Vendem: amuletos, ervas, cascos de tapir, bicos de tucano, pele de cobra. Não índios também viajam para comunidades indígenas a procura de curandeiros.Há uma diferença entre curandeirismo e xamanismo além de serem muito parecidas mas o curandeirismo é uma medicina diversificada. Os Sibundoy ○ 2 grupos identificados como Sibundoy: Kamsa e Ingano ○ Kamsa: 2.000 em 1970 ○ São um grupo de horticultores (milho e feijão) ○ Produzem gado, galinhas, patos, porco-da-índia. ○ Fácil reconhecimento por suas roupas, língua nativa e moradia afastada. ○ Houve um primeiro contato em 1535 com espanhóis ○ Missionários dominicanos presentes desde século XVII ○ Século XIX colonos de outras áreas começaram a ficar a região deles. ○ Censo 1711: 320 Sibundoy/ 1875: 2237 Sibundoy ○ Entre 1875 e 1918 a população diminuiu para 1000 e desde então tem crescido. ○ Levavam mais em conta concepções sobre causas para cura completa. Também incorporaram a medicina ocidental nas práticas. ○ Trocam conhecimentos médicos curacas e médicos Os Siona ● Século XVII foram contatados ● Agricultura extensivo ● Caça e coleta ● Tukano-falante: 8.000 aproximadamente ● 3.000 falantes de Siona início do século XVIII/ diminuindo para 15000 a 2000 século XIX e para 1.000 séc XX começo ● Século XVIII Missionários franciscanos mudaram o local de residência para povoados e estabeleceram rota de comércio ● Cera, artesanato, ouro,milho, ovos de tartaruga, produtos vegetais ● Trocas: roupas, utensílio de metal, outros. ● Objetivo missionário: civilizar, cristianizar, controlar ● Famílias monogâmicas, vestindo e batizando ● As missões não duravam muito e os Siona voltavam as práticas culturais ● Passaram por uma epidemia por estarem em povoados nucleares ● Século XIX cessavam as atividades missionárias por quase 100 anos ● 1900 pelo ciclo da borracha, os missionários voltaram/ fundaram uma escola/ as crianças Siona eram forçadas a entrar/ outras doenças se disseminaram e mataram muitas crianças. Em 1920, comunidades Siona foram dizimadas, reduziram-se a 300. Em 1970 caiu para 250. Houve um aumento em 1990 ● Séc XX: acesso difícil à região ● 1950: descoberto Petróleo e construíram uma estrada ligando Puerto Assis ao planalto Com essa estrada, vários colonos foram morar na selva, cercando os Siona. ● 1970 a cidade passou a ser movimentada, com 6.000 pessoas ● O papel do xamã foi um elemento chave a preservação dos Siona (era visto como cacique-curaca ou uma figura política-religiosa) ● Chamavam de Dau (Poder obtido através do Yajé-Ayahuasca) “que pode ser danificada por meio da feitiçaria ou da poluição causada pela menstruação, pela gravidez, ou pelo período pós-parto. Não são apenas as mulheres nesses estados que são contaminadas, mas também seus maridos” ( LANGDON, 2012) ● Sexo proibido por um ou dois anos durante o aprenzidado para se tornar um xamã ● Xamã perdia seu poder através de um feitiço de um xamã rival (forma mais comum) ● Os Siona passaram um tempo sem xamã pois o que tinha havia morrido, O irmão tentou assumir mas não conseguiu dar continuidade às práticas. “[..] irmão do xamã falecido, que tinha mais treinamento xamânico e de quem se esperava que assumisse o papel, não se sentiu confiante para guiar o grupo, por causa das várias más experiências durante os ritos do yajé. Ele não estava apto para se proteger a si mesmo, nem aos outros, dos perigos dos espíritos malignos que podem destruir qualquer ritual.” (LANGDON, 2012) ● “Ele não era procurado como guia, nem os homens e as mulheres mais jovens praticavam mais os costumes necessários para proteger seu dau. Mulheres grávidas e menstruadas não se mantinham mais em reclusão, e eu presenciei uma mulher grávida entrando na casa dele um dia, um ato impensável duas décadas atrás.”(LANGDON, 2012) ● Consumiam muita comida produzida pelos brancos ● RELATO: “Mas eu o perderei todo (o dau) quando eu voltar para cá, com essas mulheres que não mantêm mais os costumes e com todos os brancos que passam por minha casa hoje em dia”. Ele morreu em 1985, sem realizar seu sonho de se tornar um mestre-xamã. (LANGDON, 2012) ● 1970 retomaram seus treinamentos xamânicos ● Sionas que haviam passado por um treinamento quando jovem retomaram-o. Dois irmãos começaram a realizar rituais com yajé. Um morreu e o outro ficou e se tornou um grande xamã. “Conquanto não seja o foco dessa análise histórica, esse Siona se tornou um xamã excepcionalmente importante nos anos 1990 até sua morte em 2007, em uma rede xamânica em que as elites das cidades urbanas procuravam os xamãs da selva amazônica para “tomas de yajé”, motivadas por uma lógica e interesses diferentes daqueles por trás das redes da medicina popular.”(LANGDON, 2012) Referências LANGDON, E. J. Redes xamânicas, curanderismo e Processos Interétnicos: uma análise comparativa. Revista Mediações (UEL), v. 17, p. 62-82, 2012.
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