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Fichamento: O que os historiadores devem a Karl Marx e Marx e a História

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA ─ Departamento de História
DISCIPLINA: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA
FICHAMENTO
HOBSBAWN, Eric. O que os historiadores devem a Karl Marx e Marx e a História. In: Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.p.171-184.
O texto versa, principalmente, sobre a dicotomia entre o marxismo e a história: a influência de Marx sobre os historiadores atuais. A priori, discute que a História foi uma das únicas que não tiveram aspectos intelectuais relevantes, visto que as análises sobre as Revoluções do século XVIII (Revolução Francesa) e XIX (Revolução Industrial) caracterizaram-se pela superficialidade e generalização. Essas, por sua vez, sofreram críticas e contraposição por parte da história acadêmica ─ que, como Leopold Von Ranke, acreditavam no caráter empírico dos fatos, contribuindo para avaliação de documentos e técnicas ─, uma vez que se centravam em fatos insuficientes e equívocos. 
A posteriori, os fatos empíricos e, sobretudo, os procedimentos técnicos para avaliá-los eram acríticos e simplificados, concentrando-se na “história no singular”, não na “história de eventos”, segundo Hobsbawn. Essas características assimilam-se ao positivismo, pois apresentam certo determinismo, naturalização e cadeias de efeitos e causas na investigação da sociedade e seu passado, dando a disciplina da história um conceito retrógado. Contudo, houve transformações no decorrer do século que se baseavam em quatro esferas, num movimento antirrankeano, segundo Arnaldo Momigliano (apud HOBSBAWN, 1998): a primeira caracteriza-se pela passagem de uma história política e religiosa para uma história socioeconômica (viés materialista); a segunda dispõe da recusa de ideologias para uma explicação historicista; a penúltima leva em conta as “forças sociais”, ou seja, a relação entre acontecimentos históricos e ações dos indivíduos (decorrência dos problemas sociais); a última discorria de um certo pessimismo, apontando-se a falta de progresso e desenvolvimento com base nos acontecimentos da metade do século XX.
Sob o ponto de vista dessas esferas, a história demonstra uma influência marxista, a partir do momento que aponta fatores do materialismo histórico, diferenciando-se apenas de país para país como, por exemplo, na França, onde preponderou a Escola de Annales, não o marxismo. Ademais, é imprescindível ressaltar que alguns historiadores (ligados a movimentos operários e populares) assumiram ideias que não representam o pensamento maduro de Marx e, por isso, Hobsbawn os considerou parte do “marxismo vulgar” ─ que abarcava uma interpretação economicista da história, uma relação de dominância e dependência, uma luta de classes pura do Manifesto e contravenção ao capitalismo ─ e devem ser separados do verdadeiro componente marxista. Contudo, o “marxismo vulgar” mudou tradições históricas e dispôs de um “boom” intelectual.
A principal ideia marxista, até mesmo vangloriada por não marxistas, segundo Hobsbawn, é a teoria da “base e superestrutura”, na qual a sociedade se compõe de diversos níveis interacionais e hierarquizados, ocasionando contradições internas (capaz de mudar tendências e se tornar funcional) e apontando qual a direção da história. No entanto, é inevitável ressaltar que a contribuição de Marx reside em suas proposições historicistas, não sociais como um todo, mesmo com uma tendência marxista de permutar a história em ciência social. Sob o ponto de vista das ciências sociais, o autor discute sobre duas grandes críticas sobre seu funcionamento: a primeira constitui-se do mecanicismo (principalmente nos EUA), o qual busca traduzir mudanças de forma simplista e determinada; a segunda crítica baseia-se no estruturalismo e funcionalismo (estático) que negam a historicidade e sua concepção progressista e de superioridade (antropologia) ─, mas, para Lévi-Strauss (apud HOBSBAWN, 1998), a transformação histórica é resultado de combinações que podem se esgotar. 
Em seguida, o texto discute a questão fundamental da história: a busca de um instrumento que possibilite a diferenciação de grupos sociais e a mudança de um tipo de sociedade para outro ou a não mudança. Esse instrumento, por sua vez, possibilitaria uma “evolução” pelo progresso unidirecional em um longo prazo. Porém, nota-se que esse progresso possui um desacordo tanto ao juízo de valor possível (classificação parcial) quanto a outros instrumentos de mudança. O mais interessante é que as sociedades não são diferentes nos seus aspectos internos, mas sim nos externos, na sua capacidade de se relacionar com a natureza. Atualmente, a história se vê como uma dicotomia entre elementos que estabilizam e perturbam que refletem certo modelo, ou seja, a luta de classes, por exemplo, deve ter função estável, cabendo ao Estado permear essa estabilidade por meio de instituições e legitimar a ordem social ─ se o Estado perde essa capacidade, de acordo com Thomas More (apud HOBSBAWN, 1998), haverá “uma conspiração dos ricos [...]”.
À vista dos argumentos apresentados, apreende-se que o materialismo histórico foi essencial para a aproximação da história com as ciências sociais, contudo, hoje, ele dispõe de um processo de “historização” de todas as ciências sociais. Nesse cenário, Marx dispunha de escritos sociais e políticos, não históricos; desse modo, sua importância se deve a não entender o passado de forma exclusiva e primordial, mas como parte de um processo histórico, capacitando um caráter relativo e discutível do futuro (lacuna). Ao mesmo tempo deve-se considerar que seus conhecimentos históricos são consequência de diretrizes particulares do seu contexto e essa concepção baseia-se no processo de produção (mais amplo que somente material por causa da consciência humana). Esse processo, por sua vez, para Marx (apud HOBSBAWN, 1998), compreende a relação entre homem e natureza, a adaptação e os arranjos sociais pelos quais a mobilização, distribuição e alocação.
Uma questão crítica do materialismo histórico é a sua divergência quanto à tendência geral ou determinado ponto concêntrico das forças materiais de produção da sociedade. No entanto, Marx já explanava essas forças em diferentes sociedades, como também sobre a revolução (ponto de incompatibilidade com o capitalismo e passagem para o socialismo). Além disso, exaltava a diferença entre o modo de produção e a sociedade, a qual se caracteriza pelas relações humanas, já o primeiro é o “agregado das relações produtivas que constituem a estrutura econômica de uma sociedade [...]” (Marx apud HOBSBAWN, 1998), ou seja, este alinha os grupos sociais e podem ser pensados de forma evolutiva (tecnologia e divisão de trabalho); o historiador deve levar em conta essas duas funções. O texto apresenta argumentos do antropólogo Eric Wolf que, por sua vez, mostra o capitalismo como fator “pluralizador” de modos de produção, existindo o modo “parentesco, tributário e capitalista”, em todos, o excedente é da classe dominante.
Em suma, Marx previa a natureza mista e combinada das sociedades, levando em conta sua interação com o passado e outras sociedades; além de prover a luta de classes. Outras contribuições de Marx para a histografia: a modernização da história; em seguida, a possibilidade de ponto de partida, ou seja, seus escritos como um começo de pesquisa. Outrossim, a influência marxista promoveu o pluralismo histórico (parte da ciência como um diálogo entre diversas opiniões, na história apresenta dificuldades sobre a metodologia); e, por último, a aproximação da história marxista com a antimarxista, criando uma guerra ideológica que, para Hobsbawn, não deveria existir, uma vez que é difícil separar o que é marxista do que não é, cabendo sobretudo uma defesa da história e preocupação com o futuro da humanidade.

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