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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CURSO DE PSICOLOGIA BRUNO PEREIRA DA SILVA ROSA JONATHAN SCHUENCK CARDOSO RHAYANNE MADUREIRA DOS SANTOS RAMOS THAYANA PERES FIGUEIREDO PSICANÁLISE – FREUD E A FILOSOFIA NITERÓI 2017 BRUNO PEREIRA DA SILVA ROSA JONATHAN SCHUENCK CARDOSO RHAYANNE MADUREIRA DOS SANTOS RAMOS THAYANA PERES FIGUEIREDO PSICANÁLISE – FREUD E A FILOSOFIA Projeto apresentado à Disciplina Fundamentos do Pensamento Psicológico do curso de Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO, como parte dos requisitos para conclusão do curso. Orientador: Prof.ª Frederico Augusto Max Vianna Martins Graduado em Psicologia e Mestre em Filosofia NITERÓI 2017 PSICANÁLISE – FREUD E A FILOSOFIA “Quando eu era jovem, a única coisa por que eu ansiava era conhecimento filosófico” (Sigmund Freud). Sigmund Freud foi o criador da Psicanálise pela qual é possível o estudo do consciente e do inconsciente humano. Foi um método particular para tratar certos neuróticos que tomou, a partir de 1895, uma extensão e um desenvolvimento que fazem dela como que uma revolução no domínio da antropologia e das ciências humanas, revolução que atinge talvez, inclusive, a filosofia em seu todo. Freud aproximava a psicanálise da filosofia e a afastava da medicina. A psicanálise nada tinha a ver com a prática médica e não tinha qualquer pretensão terapêutica, estando bem mais próxima da filosofia. Foi um dos autores que mais influenciaram a reviravolta no pensamento de sua época, com reflexos até os dias de hoje. É impossível não citar sua teoria de que as enfermidades psíquicas têm suas origens em desejos e fantasias sexuais reprimidas, pois além de ser um indicativo filosófico no campo da moralidade, essa tese abre caminho para um dos pilares de seu pensamento: o inconsciente. Observa-se o quanto sua tese impactou a filosofia vigente. Além da questão relacionada à moralidade, a sua afirmativa acerca da existência do inconsciente causou um “terremoto” nas convicções racionalistas que na época dominavam incontestes o panorama filosófico. Afinal, tinha-se como certo que o homem se diferenciava do restante das criaturas justamente por ter a faculdade (ou a capacidade) de raciocinar; mas eis que Freud coloca que o raciocínio não poderia continuar a ser tido como absoluto, pois era, na verdade, quase que um “mero executor” das intenções nascidas no inconsciente do sujeito. É verdade que oposições a esse endeusamento à razão (instituído pelo Renascimento e mantido por seu eco) já existiam, como se pode ver em PASCAL que afirmara: “o coração (o inconsciente, os sentimentos irracionais) tem razões (motivos, objetivos) que a própria razão (o consciente, o raciocínio) desconhece”. Mas era uma oposição frágil de certo modo, pois não contava com o aval das “Ciências Modernas” nem dos sábios contemporâneos. Já com Freud, isso não acontecia. Afinal, ele era um respeitado e atualizado médico psiquiatra e inserido no rol dos cientistas de seu tempo. Freud desenvolveu um estudo detalhado sobre um aspecto da personalidade humana que de modo quase geral, não recebera a devida atenção da filosofia. Com ele o homem ganhou certa complexidade e isso forçou uma grande revisão nos conceitos filosóficos, tanto em termos da consciência, da vontade; quanto do próprio pensamento humano. Outra contribuição significativa é a que se refere aos métodos, o que, novamente, levou a uma reconsideração nas formas de interpretação da linguística, pois para Freud, o relacionamento da linguagem e dos signos acontece com o inconsciente do homem; o que, na filosofia mais ortodoxa, seria como dizer que a relação da linguagem e dos símbolos acontece com a essência e não com os fenômenos (ou corpos físico-intelectuais). Em termos sociais, a análise de Freud também é valiosa. Afirmou que há uma relação entre a ordem social e o sentimento de culpa e que essa associação está presente na gênese da sociedade, pois para que haja a “morte do Pai” é necessário o conluio, o agrupamento dos filhos para conseguirem executar o parricídio; e é desse ajuntamento que surge a sociedade. A culpa de cada um pelo assassinato cometido é preço que se paga por via da repressão auto infringida através de religiões e/ou estados e/ou sociedades repressoras. Freud tem inúmeros seguidores e vários antagonistas, mas nem esses podem negar que ele deu ao homem uma “outra dimensão”, ou seja, o inconsciente; que tal como um implacável tirano conduz e norteia as atitudes tomadas pelo consciente do individuo. Freudomarxismo é uma corrente filosófica que teve origem na aproximação feita por alguns filósofos contemporâneos, especialmente Herbet Marcuse e Wilhelm Reich, entre as teses de Marx e as de Freud, acima de tudo sobre cultura e civilização. Estudaram especialmente a análise Marxista da ideologia e usaram as teses de Freud para invalidar e desmistificar o pensamento Burguês; pois tal como o pensamento racionalista, o burguês não pode nem deve ser endeusado, tampouco ser tomado como correto e absoluto. Outro aspecto freudiano que utilizaram foi a questão dos conflitos entre as pulsões do “Id” e do “Superego”, tornando-os equivalentes aos conflitos entre os “desejos individuais” contra as coerções ou proibições de uma sociedade repressora. Existem dois conceitos-chave para compreender a obra de Freud. O primeiro deles consiste na visão da psicanálise de que certas experiências da primeira infância são "reprimidas" no inconsciente pelo ego. Tipicamente, essas são experiências que a criança sente que provocariam desaprovação, e, de maneira crucial, para Freud, são ligadas à identidade sexual da criança, em relação a um ou a ambos os pais dela. O segundo elemento da teoria de Freud diz respeito à afirmação separada, empírica, de que tais lembranças recalcadas são a causa de rupturas fisiológicas, particularmente doenças nervosas. Assim, Freud define a psicanálise como "um procedimento para o tratamento de doentes em termos médicos". Conforme apontou um crítico, no entanto, ela é um tipo inteiramente incomum de tratamento médico, em que nada acontece entre o médico e o paciente além da conversação. O "tratamento" do médico consiste em provocar lembranças recalcadas do paciente, por meio da interpretação das respostas às suas perguntas. Isso levou os críticos a questionar o estatuto científico do procedimento de Freud. Uma vez que a interpretação do médico não é objetiva nem "testável", no sentido científico ordinário, e é, além disso, protegida de sondagem pelo éthos da confidencialidade entre médico e paciente, não há modo objetivo de mensurar os resultados da prática psicanalítica. Apesar dessas preocupações filosóficas, a popularidade do tratamento psicanalítico é evidente, e isso deve, seguramente, como sustentam seus defensores, ser um indicador de seu sucesso. Entretanto, é importante distinguir várias afirmações logicamente independentes. Uma afirmação é que as personalidades podem ser entendidas pela interpretação de um relato de experiências infantis; outra é a de que a interpretação desse relato representa alguma verdade objetiva sobre o paciente. Uma terceira é que esse processo de "conversação e interpretação" pode efetivamente tratar doenças nervosas. A popularidade da psicanálise poderia ser atribuída à verdade de qualquer uma, de todas ou de nenhuma dessas afirmações. Em termos teóricos, a divisão feita por Freud de um Ego publicamente responsável,suprimindo os impulsos do Inconsciente, também convida à crítica. Em particular, ela atribui atividade conflitante intencional ou com alguma finalidade a diferentes regiões da mente. Sartre criticou a psicologia de Freud por propor, incoerentemente, que o censor consciente, o Ego, suprime os desejos inconscientes. Uma vez que o Ego não é consciente das ideias ou dos desejos inconscientes, como poderia ficar numa posição de saber que eles devem ser reprimidos? Apesar disso, a filosofia, de modo geral, reagiu bem aos princípios teóricos de Freud. Ele mesmo sugeriu que sua psicologia representava uma nova "revolução copernicana". Assim como Copérnico demonstrara que a Terra não é o centro do universo e Darwin tinha mostrado que o homem não é senhor e mestre no reino animal, mas meramente uma extensão contínua deste, Freud afirma ter provado que a mente consciente, ou o self, não é "mestre em sua própria casa", como todas as filosofias racionalistas e cartesianas pressupõem. Freud não era de fato um filósofo, mas acabou por constituir a psicanálise como um novo campo do saber, que formulou novos pressupostos sobre a subjetividade. Seu pensamento liga-se diretamente ao filosófico pela problemática que a psicanálise colocou para a filosofia. A invenção da psicanálise como saber se realizou pela formulação da existência do inconsciente, como outro registro psíquico, além da consciência. A psicanálise freudiana mostra-se um método concreto e produtivo, que é mais a descoberta de uma problemática do que um sistema pronto, e a leitura de suas obras nos provocam uma surpresa e uma decepção. Existe um contraste entre a linguagem positivista de Freud e o caráter da pesquisa e da descoberta. Para apreciar a significação filosófica da obra freudiana, não se deve temer ir além de certas fórmulas do Mestre, e de explicitar um sentido que ele mesmo não formulou nitidamente. Desde o início da psicanálise, é a interpretação dos fenômenos de consciência como fenômenos significativos, que é preciso revelar o sentido. Os sintomas da histeria não são problemas físicos quaisquer, sem relação com a totalidade de uma vida e de uma história. Eles têm um sentido; é preciso relacionar estas significações com seu sentido originário, que se dá dentro de uma história particular. Freud utilizava o método de exploração consciente conduzida conjuntamente pelo médico e pelo doente até que o doente reconhecesse sua própria história, abarcando a totalidade do homem. Esta exploração só é possível porque colocam em jogo dois interlocutores, o analista e o analisado, porque implica este diálogo humano, esta comunicação universal. Um problema é colocado ao filósofo, quando Freud localiza e dissocia tão completamente o inconsciente e o consciente, o id e o ego – com o superego que representa a interiorização das educações originárias. Este problema é o da consciência ou da inconsciência de si. O ego não se ignora tanto quanto se poderia imaginar, ele se desconhece, mas este desconhecimento é também um conhecimento, e é assim que se pode explicar o reconhecimento final de si na imagem proposta pelo psicanalista. A psicanálise nos abriu uma nova dimensão na exploração concreta das existências humanas. Trata-se de decifrar os símbolos de uma consciência, os enigmas que são enigmas para aqueles que os vivem. A quimera hermenêutica do psicanalista – que multiplica as comunicações nossas conosco mesmos, e tomando a sexualidade como símbolo da existência, e a existência como símbolo da sexualidade, buscando o sentido do futuro no passado e o sentido do passado no futuro – é mais que uma indução rigorosa adaptada ao movimento circular de nossa vida que opõe seu futuro a seu passado e seu passado a seu futuro, e onde tudo simboliza tudo. A psicanálise não torna impossível a liberdade, ela nos ensina a concebê-la concretamente como uma retomada criadora de nós mesmos que permanece sempre fiel a nós mesmos. Para Freud, a sexualidade é uma maneira de ser no mundo, e depois o instinto de morte, a transferência e a repetição. Freud procurou no id uma explicação empírica do homem. O que é o homem? A antropologia é ela própria sempre insatisfatória? A sexualidade é enigma, o instinto de morte é uma questão, não uma resposta, não uma explicação. A questão: “O que é o homem” é ainda uma questão antropológica? Sartre escreveu que se toda pessoa é na verdade surgimento concreto no mundo e vive apenas uma situação única, a sua, esta maneira de ser exprime concretamente e no mundo, na situação única que investe a pessoa, uma estrutura abstrata significante que é o desejo de ser em geral. A psicanálise se debruça numa base antropológica, parte de fatos empíricos sempre contestáveis. Até onde é preciso voltar? O que é originário? O que faz a originalidade de Heidegger é ter definido o Dasein, o ser que somos pela compreensão do Ser, pela questão do Ser, é ter dado uma significação concreta a esta questão aparentemente abstrata, elaborando-a e tendo definido assim o homem pelo que não é empírico, mas pela própria questão da metafísica, um pouco como Freud apresenta a história de uma individualidade em seus sonhos e seus sintomas. No final do século XIX, a psicologia clássica tinha já uma longa história, iniciando-se com a filosofia de Descartes e tendo continuidade com a tradição cartesiana. Como se sabe, o cogito cartesiano — “penso, logo existo” — definiu a categoria de existência como estando essencialmente atrelada ao registro do pensamento. Estariam aqui o fundamento e a certeza da subjetividade. Em decorrência, a tradição da psicologia clássica nisso fundada se voltava, sobretudo, para a pesquisa do pensamento de forma que o estudo das demais funções mentais era realizado com a finalidade de explicar a produção e a reprodução do entendimento. Pretendia-se, pois, explicitar não apenas como funcionava o pensamento, mas também enunciar quais seriam os seus pressupostos formais e materiais. Isso porque a certeza da existência do eu circulava sempre e apenas em torno do pensamento. A invenção da psicanálise foi uma subversão no campo dos saberes sobre o psíquico, justamente porque articulou uma elegante solução teórica para os impasses então presentes, tanto na psiquiatria quanto na psicologia clássica. Ao formular o conceito de inconsciente, deslocou decisivamente o psiquismo dos registros da consciência e do eu. Os efeitos teóricos dessa invenção não foram imediatos, no entanto, exigindo um longo tempo de decantação no interior do discurso freudiano. Freud concebeu o psiquismo como um aparelho de linguagem, isto é, um conjunto de signos que dotava de sentido os acontecimentos vivenciados pelos indivíduos. O psiquismo foi configurado em diferentes registros, que estabelecem relações intrincadas entre si: o inconsciente, o pré-consciente e a consciência. Entre o primeiro registro e os demais existia uma barreira bem estabelecida, constituída pelo recalque. Seria essa a defesa fundamental, já́ que instauradora do psiquismo. Essa descrição freudiana do psiquismo foi denominada de primeira tópica, na qual se delineou a existência de diferentes registros mentais, onde circulavam diversas modalidades de representação e de sintaxes reguladoras desta. Assim, as representação-coisa e representação-palavra seriam reguladas pelos princípios do prazer e da realidade, por um lado, e pelos processos primário e secundário, pelo outro. A realidade psíquica imantada pelo desejo se contraporia à realidade material, regulada pelas gramaticas do eu e da consciência. Estaria aqui o cerne da conflitualidade, que marcaria o psiquismo, dilacerado entre diferentes pólos.A segunda tópica modificou o enunciado dos registros psíquicos, mas manteve a mesma lógica conceitual e a presença da conflitualidade como princípio. Com efeito, se o isso representava agora o pólos pulsional do psiquismo, o eu mantinha o seu antigo lugar e o supereu representava agora a instancia de interdição do desejo. A leitura do psiquismo assim esboçada nas diferentes tópicas freudianas exigiu a constituição de um discurso teórico, que não seria nem o da psicologia clássica, nem o da neuropatologia. Para esse discurso Freud forjou o nome de metapsicologia. Assim, qualquer experiência psíquica exigiria uma leitura que definisse em que lugares psíquicos estariam acontecendo, antes de qualquer coisa. Foi assim definida a dimensão tópica. Em seguida, como os registros em pauta e as representações correspondentes estabeleceriam conflitos entre si, isso delinearia a dinâmica psíquica. Uma descrição metapsicológica do psiquismo seria aquela que sempre se orientasse, enfim, por esta tripla exigência teórica. É pela indagação da metapsicologia que se pode situar devidamente a problemática crucial que a psicanálise colocou para a filosofia. A existência humana não é mais apenas este produto da natureza: ela é existência enquanto é desvelamento da verdade, e a analítica psicológica torna-se uma analítica existencial e nesta analítica podemos repensar inclusive os temas da antropologia freudiana, a pré-história e o originário, o esquecimento e, sobretudo, o esquecimento do esquecimento, mais importante ainda que o próprio esquecimento – a repetição, o passado e o futuro, o diálogo e a intersubjetividade, condição do desvelamento, o logos e a matéria, a causalidade e a motivação. Acontece que uma espécie de tomada de consciência do freudismo nos eleva a uma dimensão nova onde talvez inclusive a filosofia da natureza possa encontrar seu lugar. A filosofia não consiste em saber outra coisa senão a própria experiência, a saber, o que já se sabe sem saber que se sabe. A filosofia não está além da experiência, ela é a consciência de si da experiência. Referências HYPPOLITE, Jean. Ensaios de psicanálise e filosofia. Rio de Janeiro: Taurus Timbre, 1989. 124 p. VILLELA, Fabio Renato. Freud e a Filosofia. 2011. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/2092429>. Acesso em: 30 out. 2017. STOKES, Philip. Os 100 pensadores essenciais da filosofia. 1. ed. São Paulo: Difel, 2012. 432 p. BIRMAN, Joel. Freud e a Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2003. 77 p.
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