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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA II
AULA 1 A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Ao final desta aula, você será capaz de:
1 - Definir os antecedentes da Primeira Guerra Mundial;
2 - Reconhecer as diversas fases do conflito;
3 - Analisar as mudanças geopolíticas do pós-guerra.
Introdução
Nesta aula, veremos os fatores que levaram à Primeira Guerra Mundial, bem como o desenvolvimento deste conflito e seus efeitos, que marcariam não só a Europa, mas o mundo contemporâneo.
Para entendermos a Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914 e 1918, temos que, inevitavelmente, voltarmos ao panorama político e econômico da Europa no século XIX. 
 
Estudamos este período em Contemporânea I, lembra?
Logo, sabemos que, no século XVIII, a Inglaterra fizera a Revolução Industrial  - e que foi a pioneira neste processo, mas não foi a única. Logo, os demais países europeus – e alguns fora do continente, como o Japão e os Estados Unidos – seguiram o exemplo inglês, na chamada Segunda Revolução Industrial do século XX.
A industrialização desenvolveu uma nova demanda, tanto de mercados consumidores quanto de matérias-primas. A Europa voltou-se, então, para os continentes que ainda não haviam se industrializado, notadamente, a África e a Ásia.
Iniciava-se o imperialismo, uma política de colonização que caracterizaria toda a segunda metade do século XIX e estaria diretamente ligada a eclosão do mais sangrento conflito visto ate então: a Primeira Guerra Mundial. 
Qual a diferença deste conflito para os vários que eclodiram anteriormente e que tem tido lugar na Europa desde a Idade Moderna?
Por que a Primeira Guerra Mundial inaugura um novo momento na História Contemporânea?
Hobsbawm considera que podemos estabelecer o início do século XX, de fato, a partir de 1914, o que nos faz entender a importância deste conflito. Até então, ainda que tivesse passado por guerras, tanto interna quanto externamente, a Europa vivia, desde o século XIX, um período de paz relativa em seu próprio continente. 
Na Inglaterra, esse período ficou conhecido como Pax Britannica e compreende quase todo o reinado da rainha Vitória. A Belle Époque fortaleceu esta ideia, com o desenvolvimento cultural e um otimismo de que a ciência e as inovações tecnológicas iriam servir, cada vez mais, a propósitos pacíficos.
Não foi o que se viu. Esse período de prosperidade e paz aparente chegou ao fim com a Primeira Guerra. Nas palavras de Hobsbawm: “Tudo isso mudou em 1914. 
A primeira Guerra Mundial envolveu todas as grandes potências, e na verdade todos os Estados europeus, com exceção da Espanha, os Países Baixos, os três países da Escandinávia e a Suíça.
E mais: tropas do ultramar foram, muitas vezes pela primeira vez, enviadas para lutar e operar fora de suas regiões. Canadenses lutaram na França, australianos e neozelandeses forjaram a consciência nacional em uma península do Egeu – “Gallipoli” tornou-se seu mito nacional - e, mais importante, os Estados Unidos rejeitaram a advertência de Washington quanto a “complicações europeias” e mandaram seus soldados para lá, determinando assim, a forma da História do século XX. 
Indianos foram enviados para a Europa e o Oriente Médio, batalhões de trabalhadores chineses vieram para o Ocidente, africanos lutaram no exército francês. Embora a ação militar fora da Europa não fosse muito significativa a não ser no Oriente Médio, a guerra naval foi mais uma vez global: a primeira batalha travou-se em 1914, ao largo das Ilhas Falkland, e as campanhas decisivas, entre submarinos alemães e comboios aliados, deram-se sobre e sob os mares do Atlântico Norte e do Médio.”
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.  p. 31
Hobsbawm se refere, neste trecho, ao conselho de George Washington, primeiro presidente norte-americano, explicitado em seu testamento político, de 1796. 
Washington acreditava que os Estados Unidos deveriam evitar, ao máximo, as alianças entre países estrangeiros, que acabariam por comprometer a integridade do país que lutaria em guerras que não eram, na verdade, suas. 
Havia, então, preocupação em fortalecer a nação recém-independente, evitando, ao máximo, a politica bélica exterior. Isso significa que desde o século XVIII, o presidente via na Europa um continente em ebulição, propenso a guerras e queria, portanto, evitar perdas humanas e materiais em seu próprio país. 
Como vemos, esta política isolacionista preconizada pelo primeiro presidente não foi seguida, e após a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos se envolveram nos mais diversos conflitos ao longo do planeta. 
As grandes potências europeias eram, então, a Inglaterra, a França, a Rússia e a Alemanha. Tanto seus processos industriais quanto sua política imperialista foram diversificados, por diferentes motivos.
 A Inglaterra aproveitou por um longo tempo sua supremacia econômica e marítima, mas logo foi ameaçada pela Alemanha, cuja unificação, em 1871, transformara em um império forte cuja indústria baseava-se na formação de carteis. 
Economicamente, os grandes conglomerados estimulados pelo Estado alemão, seriam sólidos o bastante para fazer frente ao mercado inglês. Investindo na indústria pesada e estimulando a associações entre os bancos e as indústrias, a Alemanha deu um salto de desenvolvimento. A construção de uma intensa malha ferroviária tornou o país economicamente ágil e mais integrado. 
Além disso, logo se percebeu a necessidade de aprimorar a educação, voltando à formação de indivíduos capazes de promover grandes inovações, tanto tecnológicas quanto cientificas. 
No caso francês, a industrialização voltou-se, sobretudo, para produtos de luxo, já que havia uma tradição em remeter a França como lugar de civilidade e sofisticação. Dessa forma, o mercado francês era único, e não entrava em concorrência com os ingleses, por exemplo. 
 
A Rússia é um caso à parte. Embora tivesse uma pequena industrialização, a maioria de sua população era camponesa. O sistema de governo era a monarquia czarista, totalitária e centralizadora. Era uma potência muito mais pelo seu tamanho e contingente populacional do que, propriamente, pela questão bélica. Esta situação valeu-lhe a alcunha de “gigante com pés de barro”.
Ao lado do investimento industrial, estas potências também buscaram fortalecer seus exércitos e suas indústrias bélicas. Não à toa, o período compreendido entre finais do século XIX até a eclosão da guerra ficou conhecido como Paz Armada. 
Havia o temor de que a disputa territorial e as questões internacionais originassem um conflito. O não esperado era que este conflito envolvesse tantos países e levasse 4 anos para ser resolvido. 
Diante desta conjuntura, foram empreendidas várias politicas de alianças, buscando evitar um conflito de grandes proporções.
1873 
Otto von Bismarck, o marechal de ferro, que fora um dos principais responsáveis pela unificação alemã, firmou, em 1873, a Liga dos Três Imperadores, composta pela Alemanha, Rússia e Áustria-Hungria.
1878 
A aliança proposta por Otto, porém, durou pouco. sendo rompida em 1878, em grande parte devido ao desacordo entre a Rússia e a Áustria-Hungria acerca dos Balcãs.
Em vista dos pactos políticos alemães, este país acabou se configurando em uma fonte de temor das demais potências, em especial, Inglaterra e França. A França guardava grande ressentimento devido à guerra franco-prussiana, ocorrida no final do século XIX e da qual saíra derrotada. Esta derrota implicou na perda territorial francesa, que teve que ceder a região da Alsácia-Lorena, rica em minério, para o Império Alemão. Esta perda motivou o chamado revanchismo francês, um dos fatores que levariam à Primeira Guerra.
1882 
Foi firmada uma nova aliança, da qual a Rússia não mais faria parte, sendo substituída pela Itália. Este acordo foi chamado de Tríplice Aliança.
1904 
Temendo o avanço de um “inimigo comum” Inglaterra e França deixaram de lado as hostilidades históricas e sealiaram na Entente Cordiale, em 1904. A adesão da Rússia à entente deu origem à outra aliança, a Tríplice Entente. Configurava-se assim, o panorama político europeu, que acabou sendo dominado por dois poderosos blocos aliados.
As potências europeias disputavam mercados e territórios, já que a industrialização constante demandava cada vez mais recursos. 
Neste sentido, um dos principais fatores para a eclosão da guerra foi, sem dúvida, a política imperialista. 
Por ter se unificado tardiamente, Alemanha e Itália também entraram tarde na disputa de territórios e consideravam suas posses insatisfatórias, exigindo novos territórios coloniais. 
Algumas regiões estratégicas estavam no centro desta disputa. O caso mais notório é da região dos Balcãs, que era habitada por diversas minorias étnicas. 
Os alemães sufocavam as rebeliões destas minorias pela independência da região. Por outro lado, a Rússia estimulava esta independência, pois teria o poder da Alemanha diminuído e poderia fazer novos
aliados no frágil equilíbrio político europeu.
Mas, afinal, o que são os Balcãs e qual sua importância? 
Falamos na região balcânica com frequência. Ela esteve envolvida na eclosão da Primeira Guerra, foi invadida na Segunda Guerra e é, até hoje, alvo de disputa e de intensos conflitos étnicos. 
Os Balcãs são uma região situada entre os mares Negro e Adriático. Foi ocupada por povos eslavos, que deram origem a vários países diferentes como Kosovo, Macedônia, Bósnia, Herzegovina, Bulgária, Montenegro e Servia. 
Durante muito tempo, esteve sob a influência do Império Otomano, mas, no início do século XX, este império – que compreendia a Turquia, parte do Oriente Médio e do Norte da África – entrou em decadência e os países europeus, em especial Alemanha, Áustria Hungria, França e Itália, passaram a disputar a região. 
Com o enfraquecimento Otomano, surgiu um processo de unificação, liderada pela Sérvia e estimulada pela Rússia, conhecida como pan-eslavismo. Em 1908, entretanto, a Bósnia-Herzegovina foi anexada pelo Império Austro-Húngaro, o que fomentou as tensões regionais. Essas tensões levaram à Guerra dos Balcãs em 1912.  
 
Grécia, Bulgária, Montenegro e Sérvia desejavam a expulsão dos turcos, pondo fim ao domínio otomano na região, sobretudo na Macedônia, que por sua vez, seria anexada pelos sérvios, que pretendiam, também, dominar a Albânia. O objetivo era formar a Grande Sérvia, que se tornaria um país independente. A Áustria interferiu no expansionismo dos sérvios, reconhecendo a Albânia como país independente e provocando uma onda nacionalista servia. 
O estopim da Primeira Guerra foi o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono Austro-húngaro.  
Em 1914, em uma tentativa de acalmar os ânimos, Francisco Ferdinando viajou até Sarajevo, capital da Bósnia – que estava sob seu domínio – para consolidar a posse da região e legitimar a expansão da Áustria-Hungria.  
Em junho de 1914, ele foi assassinado pelo sérvio Gavrilo Princip, que pertencia a uma organização nacionalista sérvia, denominada Mão Negra. 
Em represália, a Áustria-Hungria declarou guerra a Sérvia, que obteve apoio imediato da Rússia. Teve início o conflito.
Este evento foi o estopim de um conflito iminente. Todo o quadro de alianças, apoios, invasões e anexações, oriundos da prática imperialista, foram, de fato, os fatores responsáveis pela eclosão da guerra. 
Ainda que tenha sido um evento que envolvesse, diretamente, Sérvia e Áustria-Hungria, não podemos esquecer que estes países estavam amparados por poderosas alianças – Tríplice Aliança e Tríplice Entente – que, por sua vez, tiverem que honrar seu compromisso político e envolver-se diretamente no conflito. 
Tradicionalmente, identificamos duas fases na Primeira Guerra: a guerra de movimento e a guerra de posição, também chamada de guerra de trincheira. Alguns historiadores defendem haver ainda uma terceira fase, ofensiva, com a entrada dos Estados Unidos no conflito.
A guerra de movimento, iniciada em 1914, marca a marcha alemã em direção à França. Para isso, foi necessário invadir a Bélgica, que até então, era neutra, para chegar ao território francês. Por essa razão, a Bélgica uniu seus esforços à Tríplice Entente, a fim de expulsar os alemães. 
Após vencer os franceses, os alemães se preparam para enfrentar o inimigo que julgavam mais temível, pela extensão de seu exército, a Rússia. 
No final de 1914, teve inicio uma nova fase: a guerra de posição ou de trincheira. Cada exército avançava pouco. Os territórios conquistados tinham que ser arduamente mantidos. 
Milhares de soldados ficavam entrincheirados, em enormes condições de insalubridade, o que aumentava, sobremaneira, o número de mortos. Muitos soldados eram obrigados a passar dias em trincheiras lamacentas, sujeitos ao frio, à fome e às doenças, que matavam tanto quanto as balas do inimigo.
Há muitos relatos deste período. Vários soldados – alemães, ingleses e franceses – escreviam as suas famílias, descrevendo os horrores da guerra. Muitos, não voltaram jamais a vê-las novamente. 
 “O campo de batalha é terrível. Há um cheiro azedo, pesado e penetrante de cadáveres. Homens que foram mortos no último outubro estão meio afundados no pântano e nos campos de nabos em crescimento. As pernas de um soldado inglês, ainda envoltas em polainas, irrompem de uma trincheira, o corpo está empilhado com outros; um soldado apoia o seu rifle sobre eles. Um pequeno veio de água corre através da trincheira, e todo mundo usa a água para beber e se lavar; é a única água disponível. Ninguém se importa com o inglês pálido que apodrece alguns passos adiante. No cemitério de Langermark, os restos de uma matança foram empilhados e os mortos ficaram acima do nível do chão. As bombas alemãs, caindo sobre o cemitério, provocaram uma horrível ressurreição. Num determinado momento, eu vi 22 cavalos mortos, ainda com os arreios. Gado e porcos jaziam em cima, meio apodrecidos. Avenidas rasgadas no solo, inúmeras crateras nas estradas e nos campos.” (Rudolf Binding, soldado alemão)
“Estamos tão exaustos que dormimos, mesmo sob intenso barulho. A melhor coisa que poderia acontecer seria os ingleses avançarem e nos fazerem prisioneiros. Ninguém se importa conosco. Não somos revezados. Os aviões lançam projéteis sobre nós. Ninguém mais consegue pensar. As rações estão esgotadas - pão, conservas, biscoitos, tudo terminou! Não há uma única gota de água. É o próprio inferno!” (Carta encontrada no bolso de um soldado alemão).
in ROBERTS, J.M. (org.). História do século XX. São Paulo: Abril, 1974. v. 2. Apud: MARQUES, A.M., BERUTTI, F. C., FARIA, R. de M. História contemporânea através de textos. 6ª ed. São Paulo: Contexto, 1999. (Textos e documentos, 5). p.119 –120 (fonte das duas citações) 
As condições das trincheiras:
Os soldados dividam as trincheiras com ratos, cadáveres de seus companheiros, a fome, a lama e a umidade constante. 
As meias e as botas, sempre úmidas, permitiam a formação de inúmeras doenças, cuja mais temida era chamada de “pé de trincheira”. 
A circulação sanguínea dos pés entrava em colapso e levava à gangrena e a amputações. O conflito parecia não ter fim.
A Alemanha pós-guerra estava destroçada. As indenizações e a perda territorial conduziram o país à falência. O desemprego e a inflação levaram a população a um estado de fome e miséria. É neste contexto, sob as humilhantes condições de Versalhes, que emergem os movimentos nacionalistas, dentre os quais se destacaria o nazismo.
Foi obrigada a pagar pesadas indenizações aos vencedores, principalmente à França e à Inglaterra. Suas forças armadas foram reduzidas ao mínimo e a força aérea alemã, extinta, além de ter sido proibida de produzir armamentos pesados. O Segundo Reich havia terminado e inaugurava-se o período da República de Weimar.
Por essa razão, podemos localizar, no fim da primeira Guerra Mundial, as razões para a eclosão da Segunda Guerra.  
A guerra terminava com um saldo de9 milhões de mortos e mais do que o dobro deste numero de feridos. A intensidade do conflito pode ser notada pelo uso de novos armamentos e tecnologias, como os tanques, as metralhadoras e o uso do avião para fins militares. 
 
Os Estados Unidos saem do conflito fortalecidos e afirmam sua posição como potência do mundo Ocidental, salientada pelo enfraquecimento europeu. Ainda que tenham vencido, França, Inglaterra, Bélgica e outros países, que haviam se envolvido na luta, tiveram suas economias desorganizadas e precisavam reconstruir-se política e economicamente, o que acentuava a predominância dos norte-americanos, já que não havia ocorrido nenhuma batalha em seu território. 
 
E, em 1932, o brasileiro Alberto Santos Dumont suicidava-se no Guarujá, estado de São Paulo. O inventor não deixou nenhuma nota ou carta explicando as razões para seu ato, mas estima-se que tenha ficado devastado ao ver sua mais querida invenção, o avião, sendo usado para fins bélicos. A primeira Guerra Mundial fazia mais uma vítima. 
Nesta aula, você:
Identificou os fatores que levaram à primeira Guerra Mundial;
Reconheceu o papel das alianças político-militares para o desenvolvimento da guerra;
Relacionou o Tratado de Versalhes ao nascimento dos movimentos nacionalistas alemães.
Na próxima aula, você vai estudar:
A Rússia pré-revolucionária;
Bolcheviques e mencheviques: duas propostas diferentes;
O socialismo e a formação da URSS.
AULA 2 REVOLUÇÃO RUSSA
Ao final desta aula, você será capaz de:
1 - Relacionar argumentos para compreender o período anterior à Revolução Russa;
2 - Reconhecer o desgaste do regime monárquico;
3 - Comparar os projetos revolucionários após a revolução.
Introdução
Nesta aula, veremos a situação da Rússia no período que antecede a revolução. Sua participação na Primeira Guerra e sua retirada do conflito, além da adoção do socialismo.
A História da Rússia na Era Moderna foi, sem dúvida, a história da construção de império, cujo número de habitantes e extensão territorial faziam dela um dos mais importantes e poderosos países europeus. 
 
Contudo, ao chegar ao século XX, a sociedade e a economia do “gigante com pés de barro” pouco se modernizaram. Enquanto o sistema capitalista crescia e se afirmava como modo de produção dominante, no mundo Ocidental, a Rússia permanecia agrária e guardava ainda muitas caraterísticas medievais, como no tocante à posse de terra, privilégio de poucos e nobres. 
A elite russa era formada pela nobreza, pelos grandes latifundiários, pela igreja e pelo exército. 
A propriedade de terras e os títulos de nobreza eram os símbolos da prosperidade e riqueza desta sociedade. 
O sistema era monárquico, regido pelo czar, a principal figura de autoridade. 
Os nobres russos, em sua maioria proprietários de terra, eram chamados de boiardos. A maior parte da população era formada por mujiques, camponeses que trabalhavam nas terras dos nobres. 
 
Embora estejam sujeitos a um senhor e trabalhem na terra alheia, o status social dos mujiques é um pouco diferente dos servos medievais.
Em 1861, os Estatutos da Emancipação, parte importante das reformas liberais, concederam a esta classe não só a liberdade individual, mas a possibilidade de comprar terras – significando que, teoricamente, a mobilidade social era possível. 
Ainda que tenha representado um avanço, em termos de direitos e rumo à construção de uma cidadania, na prática, não foi criado nenhum mecanismo que permitisse aos camponeses comprar sua própria terra. Não houve, por exemplo, um programa de financiamento estatal ou empréstimos aos quais os camponeses pudessem recorrer. Portanto, os estatutos pouco mudaram a vida do homem comum. 
 
As terras que não pertenciam aos nobres eram propriedade do Estado. Para poder comprá-las, os camponeses deveriam pagar prestações ao longo de décadas. Sendo assim, o camponês que não trabalhava para um nobre, trabalhava para o Estado, e não conseguia acumular capital para melhorar sua condição de vida. 
O governo czarista tinha como principal característica sua centralização e autoritarismo, ainda que alguns governantes tenham se destacado por seu progressismo. A mais importante dinastia, que esteve no poder durante longo tempo, foi a Casa dos Romanov. 
O czar Pedro I, conhecido como “Pedro, O Grande”, cuja gestão ocorreu entre 1682 e 1725, foi um dos czares progressistas aos quais nos referimos. 
Ele modernizou o império, reformou a educação e a administração pública, tendo se tornado um dos maiores líderes políticos de seu tempo. 
Entretanto, o sentido de progresso não era contínuo, sendo alterado de acordo com a concepção de cada czar, que acabava por imprimir ao Estado suas próprias ideias.
Pedro, O Grande e, mais tarde, a czarina Catarina II, que reinou entre 1762 e 1796 (falamos sobre ela quando estudamos 
História Moderna, lembra?) foram personalidades a frente de seu tempo. 
Mas esta não era uma regra. 
Em alguns casos, ainda que o governante se coloque favorável à aquisição de direitos pela parcela pobre da população, ele esbarra na nobreza, que também faz parte do poder. Não podemos esquecer que estamos falando de um império e que a nobreza ocupa funções administrativas, monopolizando os mais importantes cargos políticos.
Veja o exemplo do czar Alexandre II.  
O czar Alexandre II, que reinou entre 1855 e 1881, foi defensor do liberalismo e da modernização das estruturas do Estado. Ele aboliu a servidão e anistiou as dívidas dos mujiques, de acordo com os Estatutos de Emancipação, aos quais já nos referimos. 
Estas medidas afetavam diretamente a nobreza russa, que contava com a mão de obra servil. Durante a década de 1860, desenvolvera-se, no país, um movimento cultural e filosófico, adotado, sobretudo pelos jovens russos das elites, o niilismo. 
O governo de Alexandre II, ainda que guardasse fortes características liberais era uma nobreza centralista e por isso reprimia violentamente a oposição. Os niilistas, embora pacíficos, a princípio, foram igualmente reprimidos. 
A eles é atribuído o assassinato do czar em 1881. Uma bomba foi lançada por Ignaty Grinevitsky, membro da associação Narodnaya Volya, que quer dizer “vontade do povo”, de aspiração niilista. Alguns historiadores discordam que esta associação seja realmente niilista, sendo considerada um grupo terrorista. 
Com a morte do czar, ascendeu ao trono Alexandre III, responsável pelo início do salto industrial russo, com o estímulo à entrada de capital estrangeiro no país. 
A Rússia ficaria então marcada pela dicotomia entre uma industrialização necessária e uma estrutura agrária que permaneceria ainda por décadas.
A Casa dos Romanov somente deixaria o poder com a Revolução Russa, de 1917, sendo Nicolau II o último czar. Ainda que tenham feito reformas e que a industrialização tenha sido um dos mais importantes assuntos, na pauta governamental, desde Alexandre III, os Romanov eram reis absolutos.
 A centralização do poder, o autoritarismo, a perseguição política e a predominância dos interesses das elites eram características deste regime, e podem ser consideradas como fatores fundamentais para a eclosão da revolta de 1917, que mudaria definitivamente os rumos do país.  
Em 1904, o czar Nicolau enfrentaria o Japão em um conflito externo, a Guerra Russo-Japonesa. Não podemos esquecer que, desde o século XIX, a Europa vivia o imperialismo, política de colonização dos territórios não industrializados, sobretudo na Ásia e na África. 
Alguns países europeus, por motivos diferentes, acabaram entrando tardiamente nesta disputa, como foi o caso da Alemanha e da Itália, unificadas bem depois do resto da Europa.
No caso da Rússia, o governo absolutista também era um fator de atraso, já que não permitia o dinamismo e a mobilidade necessários ao domínio colonial.
O governo estagnado e autoritário da Rússia não permitia flexibilização, o que era um ponto bastante desfavorável à anexação territorial. A Guerra Russo-Japonesa acaba por evidenciaresta fragilidade política e pode ser considerada como o primeiro passo para o fim do regime monárquico daquele país. 
 
O centro da discórdia foi a disputa por territórios das regiões da Manchúria e da Coreia. O Japão passara pela Revolução Meiji e, apesar de ainda estar se industrializando, possuía um potencial bélico muito superior ao dos russos. Os investimentos japoneses, na marinha e no exército, foram postos à prova no conflito, que teve como resultado uma estrondosa vitória dos japoneses. 
 
A derrota russa apenas agravou uma situação interna já quase insustentável. Com o conflito, o governo teve enormes perdas materiais e humanas, o que levaram a já descontente população a empreender uma série de pequenas revoltas, motins e greves. 
Em janeiro de 1905, uma manifestação popular ocupou na frente do palácio real de inverno, localizado na capital, São Petersburgo. Os manifestantes, trabalhadores, desejavam ver o czar e demandavam a implantação de uma assembleia constituinte. 
A manifestação não foi violenta e seus participantes não estavam armados. Eram, em sua maioria, trabalhadores das fábricas que estavam em greve por melhores condições de trabalho. As exigências não diferiam daquelas feitas por outros trabalhadores ao redor da Europa: regulamentação da jornada de trabalho e aumento salarial eram alguns dos principais itens da pauta dos manifestantes. Além disso, defendia-se o sufrágio universal e, é claro, o fim da Guerra Russo-Japonesa.
Apesar do início pacífico e destas demandas não serem uma novidade no cenário europeu, o desfecho deste ato foi bastante radical. A guarda russa fuzilou os manifestantes e este triste episódio ficou conhecido como “Domingo Sangrento”.
Este é um bom exemplo do que queremos dizer ao chamar o Estado czarista de absoluto e autoritário. Estados como este não estão dispostos a negociar, sequer com sua própria população e tendem a reprimir violentamente qualquer evidência de oposição que se eleve internamente. Se o regime russo já estava fragilizado devido à guerra com o Japão, o Domingo Sangrento apenas piorou a situação e aumentou as animosidades antigovernistas.  
A repercussão deste ato de violência foi enorme. Uma greve geral foi conclamada entre os trabalhadores e até as forças militares aderiram aos protestos. O mais famoso levante militar ocorreu no encouraçado Potemkin, no qual marinheiros se revoltaram contra as péssimas condições as quais eram submetidos no navio a se amotinaram. 
 
Os marinheiros contaram com o apoio da população e, apesar da repressão sofrida pelo movimento, ele acabou se tornando, junto com o Domingo Sangrento, um símbolo do anacrônico sistema político russo. 
Este levante sinalizava uma possível revolta de todas as forças militares. Diante deste quadro, o czar Nicolau II acabou por assinar o Tratado de Portsmouth, em setembro de 1905, terminando o conflito.
 O Japão saiu fortalecido não só internamente, mas demonstrou ao mundo que se tornara uma potência bélica e industrial. A Rússia, pelo contrário, foi afundada em crises, além da humilhante derrota que sofrera, perdeu territórios e foi obrigada a reconhecer os direitos japoneses sobre a Coreia, freando o ímpeto expansionista do czar. 
Na década de 1920, o cineasta russo Sergei Eisenstein produziu o filme de mesmo nome, O Encouraçado Potemkin sobre o ocorrido no navio e sobre a reação governamental. O filme ficou famoso não só por ser considerado um marco no cinema ocidental, mas também por servir como propaganda revolucionária.  
Buscando a conciliação, Nicolau II lançou o Manifesto de Outubro, que previa a instalação de uma monarquia constitucional. Mas atender a esta demanda não foi o suficiente para arrefecer os ânimos.
 Os trabalhadores que haviam feito as greves passaram a se organizar em sovietes, conselhos que passaram a existir em todo o território russo.  Sobre os sovietes, um de seus criadores afirma que:  
“Foi então que uma noite onde, como de hábito, havia, em minha casa, muitos operários (...) surgiu entre nós a ideia de criar um organismo permanente: uma espécie de comitê ou melhor, de conselho, que vigiaria o desenvolvimento dos acontecimentos, servindo de ligação entre todos os operários, informando-os sobre a situação e que poderia, em caso de necessidade, reunir em torno dele as forças operárias revolucionarias.”
VOLIN. A Revolução desconhecida. São Paulo: Global, 1980. P. 91
Além de estabelecer uma constituição, o governo firmou o compromisso de instaurar um parlamento, promessa que foi cumprida no ano seguinte, 1906. Foi então criada a Duma, que ficou responsável pela elaboração de uma constituição. Era, no entanto, difícil para um rei absolutista dividir o poder.
A despeito da perseguição, a oposição crescia. Diversos grupos, de diferentes matizes ideológicos, proliferam pela Rússia. Dentre estes grupos, destacavam-se anarquistas e socialistas. 
O grupo socialista possuía duas facções, que seriam fundamentais para o processo revolucionário, os bolcheviques e os mencheviques. 
O último golpe ao czarismo foi dado com a entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial. Os russos lutaram ao lado da Inglaterra e a da França, já que faziam parte da Tríplice Entente – falamos sobre a politica de alianças na aula passada, certo? – e desejavam ampliar suas conquistas territoriais. Se fossem vitoriosos, poderiam obter territórios que permitissem acesso ao Mediterrâneo. 
Entretanto, não se esperava que o conflito se arrastasse por tanto tempo, nem que contasse com a participação de tantos países. Por não ter um desfecho rápido, a Primeira Guerra apenas agravou as condições internas da Rússia, culminando com a deposição do czar.
As perdas humanas eram enormes. Os soldados russos desertavam com frequência e aqueles que se mantinham, nas linhas de batalha, eram dizimados pelo exercito alemão. A Alemanha avançava rapidamente e o saldo de mortos russos só aumentava. 
 
A guerra se tornou impopular e mais uma demonstração do desgaste do regime monárquico. O conflito provocou uma fome generalizada, o que acirrou a miséria da já empobrecida população. 
Em 1917, uma nova onda de greves assolou o país. Trabalhadores, soldados e marinheiros aderiram aos esforços grevistas em fevereiro daquele ano. Não restava alternativa ao czar a não ser a renúncia. 
 
Com a abdicação, foi instalada uma república. Dois grupos socialistas disputaram o poder, os bolcheviques e os mencheviques. Nesta fase da Revolução, logo após o fim da monarquia, os mencheviques tomaram o poder, sendo liderados por Alexander Kerensky. 
Apesar da rejeição á guerra, os mencheviques mantiveram a Rússia no conflito, um dos fatores que contribuíram para sua derrocada. Os bolcheviques, por sua vez, liderados por Lênin, conseguiam um apoio cada vez maior junto à população, já que uma de suas primeiras reinvindicações era, justamente, abandonar a Primeira Guerra Mundial. 
 
Lênin resumiu as demandas da população em uma plataforma política que pregava “Paz, Terra e Pão”, com as Teses de Abril, o líder bolchevique conseguiu divulgar suas ideias e se colocava como um defensor dos sovietes.
 Segundo Lênin:
“Atualmente, a Rússia vive uma situação peculiar, que representa uma transição entre o primeiro estágio da Revolução – na qual, devido à organização inadequada do proletariado e sua falta de consciência de classe, a burguesia alcançou o poder – e seu segundo estágio, no qual o poder será colocado nas mãos do proletariado e do extrato mais pobre do campesinato. Essa transição é caracterizada, de um lado, pelo máximo de legalidade (a Rússia é hoje a mais livre entre todos os países beligerantes do mundo); de outro, pela ausência de opressão das massas; e, finalmente, pela atitude de confiança ingênua das massas em relação ao governo capitalista, pior inimigo da paz e do socialismo.”
Sob a direção de Lênin, outro revolucionário, Leon Trotsky, reunia os bolcheviques para um conflito armado. Era o chamado exército vermelho que se formava. Em outubro,os bolcheviques invadiram o Palácio do Governo, tomando o poder e destituindo os mencheviques, a quem associavam à burguesia e não ao proletariado. 
 
Os principais nomes deste novo governo eram o de Lênin, de Trotsky e de Josef Stálin. De início, a preocupação era retirar a Rússia da guerra, o que foi feito com a assinatura do tratado de Brest-Litovsk. 
Houve uma perda territorial, considerada aceitável naquelas circunstâncias, já que era urgente uma reformulação de toda a estrutura política e econômica do país, que seguiria, então, o socialismo marxista, mas adaptado à realidade russa, que acabou ficando conhecido como marxismo-Lêninismo. 
Em 1918, Lênin ordenou a execução da família real, que vivia na Rússia ainda, confinada em uma de suas propriedades. Os Romanov foram executados, não só Nicolau II, mas toda sua família, composta pela mulher, Alexandra e por 5 filhos, 4 meninas e 1 menino.
 
A execução da família real russa é um episódio importante da história recente e ganhou inúmeras versões, sendo fruto de diversos mitos. De imediato, os corpos de dois dos Romanov, as duas crianças mais jovens, Anastácia e Alexei, não foram encontrados, o que provocou especulações de que tivessem escapado com vida. 
A história da princesa Anastácia rendeu filmes, livros e um desenho animado. Somente no século XXI, testes de DNA feitos em restos mortais encontrados, posteriormente, comprovaram que não havia sobreviventes. A monarquia russa acabara de fato. 
Os bancos e as fábricas pertencentes a estrangeiros foram estatizados e, embora contasse com o apoio de parte da população, esta transição não se deu sem conflito. Havia os mencheviques e os monarquistas que, é claro, se opunham ao novo governo bolchevique. A Rússia começa um período de guerra civil, que duraria até 1921.
Os bolcheviques venceram, mas a guerra civil cobrou seu preço. A fome assolava os campos, a economia estava completamente desorganizada e uma nova revolta era iminente. As manifestações camponesas eram frequentes e reprimidas pelo Exército Vermelho, o que não diferia muito da prática czarista.  
O Estado confiscou a produção agrícola e centralizou a distribuição de gêneros básicos, o que foi chamado de comunismo de guerra e provocou, como não podia deixar de ser, grande descontentamento. 
Lênin institui uma nova política econômica, que ficou conhecida pela sigla NEP. Esta política econômica previa a liberdade de comércio interno, regulava a propriedade privada – que não foi extinta – e o comércio. 
De modo geral, a NEP aliava princípios socialistas e capitalistas. Esta modalidade estabelecida, na Rússia, é única e por isso foi chamada de Marxismo-Lêninismo. Isto quer dizer que o pensamento marxista jamais foi aplicado na íntegra, em nenhum dos países que adotou o socialismo. 
 
Foi estabelecido também o sistema de partido único, dominado pelo Partido Comunista Russo. Em 1922, várias regiões que pertenciam ao antigo império russo e que haviam se tornado independentes, se aliaram ao novo Estado. Eram repúblicas federativas que haviam adotado o socialismo e possuíam uma única constituição, denominada de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ou simplesmente URSS. Nascia assim uma das maiores potências do século XX.
Lênin se manteve no poder até sua morte, em 1924. Com seu falecimento, seus dois herdeiros políticos diretos – Trotsky e Stálin – passaram a disputar a liderança do partido e, consequentemente, a liderança do governo soviético. 
As propostas de governo eram muito diferentes: 
Trotsky acreditava na Internacional Comunista e na ideia de revolução permanente. Desejava expandir o ideal socialista nos demais países que ainda não o haviam adotado.
 
Stálin, por sua vez, preocupava-se mais diretamente com a União Soviética. Defendia a consolidação do socialismo soviético em seu território e de seus aliados. 
Josef Stálin acabou vencendo a disputa e Trotsky foi perseguido até ser assassinado em 1940, no México.
De modo geral, podemos identificar a Revolução Russa como um momento de transição, de um regime monárquico e capitalista para um Estado republicano e socialista. 
Esta transição não se deu sem embates internos e a primeira fase, chamada de Revolução de Fevereiro ou Menchevique, defende ideias burguesas sendo, portanto, considerada uma revolução muito mais burguesa do que uma tentativa de impor o socialismo. 
 
A segunda fase, a Revolução de Outubro ou Bolchevique, marca a radicalização do movimento revolucionário e possui, sem sombra de duvida, uma proposta socialista contando com o apoio de trabalhadores, camponeses e soldados.
(Unesp – 2010) – “A Revolução Russa é o acontecimento mais importante da Guerra Mundial.”(Rosa Luxemburgo. A revolução russa. Lisboa: Ulmeiro, 1975).
A frase de Rosa Luxemburgo, polonesa então radicada na Alemanha, associa diretamente a ocorrência da Revolução Russa com a Primeira Guerra Mundial.
Indique e analise possíveis vínculos entre os dois processos, destacando os efeitos da Guerra na vida interna da Rússia.
Antes da Revolução e da 1ª Guerra, já havia uma previa organização de trabalhadores, sob a forma de sindicatos, partidos políticos e soviets. Estas associações buscavam uma maior participação politica e a defesa dos trabalhadores diante das condições de miséria da população na Rússia czarista. A primeira guerra torna estas condições mais agudas, evidenciando as contradições sociais entre o povo e a nobreza. Os Revolucionários de 1917 utilizaram estas condições, proporcionadas pela primeira guerra, como propaganda politica para obter apoio para a derrubada do regime monárquico. 
Nesta aula, você:
Reconheceu a situação da Rússia no inicio do século XX;
Avaliou os diversos conflitos internos e externos que assolaram a Rússia antes de 1917.
Identificou os grupos que disputavam o poder após a instauração da República.
Nesta aula, vimos o desgaste do regime monárquico russo no inicio do século XX. Este desgaste, que teve como auge a entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial, fez com que a monarquia fosse deposta e, em seu lugar, se instaurasse uma nova república, socialista, que se tornaria uma das maiores potências do século. 
Na próxima aula, você vai estudar:
O Pós-Guerra.
A prosperidade norte-americana.
A crise de 29 e sua repercussão pelo mundo.
AULA 3 A CRISE DE 29
Ao final desta aula, você será capaz de:
1.	Descrever o ocidente no pós-guerra;
2.	Reconhecer os antecedentes que levaram à crise de 1929;
3.	Relacionar argumentos para entender o impacto desta crise no mundo capitalista.
Introdução
Nesta aula, vamos analisar a situação econômica do ocidente no período entre guerras, a prosperidade econômica norte-americana e os fatores que levariam à eclosão da crise de 1929, bem como seu impacto nos países latino-americanos. Bons estudos!
Após a I Guerra Mundial, a Europa entrou em fase de reconstrução. Mesmo entre países vencedores, como a Inglaterra e a França, os custos materiais e as perdas humanas 
foram enormes.
 
As economias internas estavam completamente arrasadas. Não só o processo de industrialização havia sido interrompido como a agricultura havia sofrido perdas, que, se fossem deixadas de lado pelo estado, resultariam em uma fome iminente e generalizada.
 Os operários foram convocados pelas forças armadas e, além disso, não havia um mercado ativo em tempos de guerra como existia antes do conflito.
No plano internacional, destacou-se a criação da Liga das Nações, logo após o fim da I Guerra.
 
A Liga foi a primeira tentativa de agregar diversos países em torno do mundo para buscar uma negociação diplomática. O objetivo era evitar a eclosão de outro conflito mundial.
Essa liga, também conhecida como Sociedade das Nações, funcionou até a década de 1940. Dela participaram, sobretudo, os países vitoriosos na guerra. A exceção foram os Estados Unidos, que jamais fizeram parte deste organismo, embora tenha sido Woodrow Wilson, o Presidente do país, um dos principais defensores desta iniciativa.A Liga foi importante não pela sua atuação enquanto existiu, considerada ineficiente e pouco significativa, mas por ter dado origem à ONU , que é hoje uma das principais organizações políticas internacionais do planeta.
Contudo, se no plano político os Estados Unidos mantinham distância da Europa, no econômico a situação era bem diferente. 
Apesar de terem participado da guerra, as perdas materiais norte-americanas foram mínimas, se comparadas com os países europeus.
 
Sendo assim, ao fim do conflito, esse país acaba emergindo como potência mundial, especialmente devido ao fato de sua produção industrial e agrícola não ter sofrido prejuízo, pois não houve nenhum combate em seu território.
Já estudamos liberalismo antes, em diversas outras disciplinas, não é mesmo? Vamos então relembrar: o liberalismo, doutrina econômica originalmente proposta por Adam Smith, um pensador escocês do século XVIII, pregava a mínima intervenção do estado na economia.
 
De acordo com as premissas liberais, se existe a livre concorrência, os preços das mercadorias se autorregulariam, sem necessidade de interferência direta do Estado – tabelando ou predeterminando preços, por exemplo.
 
O liberalismo é uma modalidade do capitalismo, e nos anos 1920, os Estados Unidos a haviam adotado.
Porém, a década de 1920 não foi, de forma alguma, perdida. Com a economia europeia desorganizada, os Estados Unidos passaram a exportar para o continente todos os tipos de mercadorias industrializadas.
Houve a aproximação com os países latinos, cujas economias agrárias eram de grande interesse para os norte-americanos.
A América latina exportava gêneros agrícolas e matérias-primas em grande quantidade para os EUA e importavam bens industrializados deste país. Teoricamente, esta seria uma situação vantajosa para ambos, certo?
Mas não foi bem assim. Ainda que a América Latina exportasse enormes quantidades de produtos, eles eram muito baratos, pois eram gêneros agrícolas ou matérias-primas. E o que os latinos importavam, mesmo que em uma quantidade bem menor, eram bens industrializados, muito mais caros.
 
Isso significa que a balança comercial era sempre desfavorável aos latino-americanos, já que, neste caso, não é a quantidade o que interessa, mas sim o valor das mercadorias.
 
O aumento das exportações aumentou o mercado de trabalho, bem como os salários dos trabalhadores, de modo geral. Esta prosperidade gerou um boom de consumo, o que aqueceu ainda mais a economia.
Não era somente a economia que prosperava. Os anos 1920 acabaram se tornando conhecidos como a “Era do Jazz”, uma década culturalmente rica e emblemática.
 
O jazz, cuja origem remonta aos escravos norte-americanos, passou a ser um dos ritmos mais influentes da época. O rádio e sua popularização auxiliariam na difusão musical.
 
Foi uma década de grande produção cultural, na música e na literatura. O cinema, inventado no final do século XIX, ganhou força nos anos 1920. Nasciam as grandes estrelas do cinema, ainda mudo e em preto e branco.
Jose Jobson Arruda descreve este período:
 
Talvez não fosse exagerado chamar de “dancing days” o período que se inicia com o fim da I Guerra Mundial e se encerra com a Grande Depressão de 1929.
 
Foxtrots e blues embalam a “Era do Jazz”, enquanto os concursos de Charleston criam heroínas, um sinal dos novos tempos, no qual as melindrosas esmeravam-se no estilo solto de vestir, costas desnudas, cintura baixa e seios represados. O cabelo curto veio para ficar [...]
 
Mas nem tudo era liberdade. As banhistas, que ousavam substituir os volumosos trajes de banho compostos por duas peças por maiôs inteiriços e muito mais sensuais, foram parar na cadeia, arrastadas por truculentos policiais (Arruda, In: Reis Filho, Ferreira e Zenha, 2000, p. 20-21).
Do ponto de vista social, um dos mais importantes movimentos foi, sem dúvida, o feminismo. A luta pelo direito de voto das mulheres mobilizava um grande número de pessoas.
 
Devemos lembrar que, durante a I Guerra, as mulheres acabaram ocupando parte do mercado de trabalho, que havia sido deixado vago pela ida dos homens para o front. Com fim da guerra, esta demanda pela ocupação de postos de trabalho, antes exclusivamente masculino, continuou.
 
No final da guerra, em 1919, as mulheres norte-americanas conseguiram o direito ao voto, através da luta das chamadas “sufragetes”.
Podemos localizar a existência de grupos que defendiam o direito das mulheres desde o final do século XIX. O inicio do século XX e a saída das mulheres de casa, para trabalhar fora, aumentou a visibilidade e a luta por estes direitos.
 
A Europa não esteve alheia a esse e outros movimentos culturais, mesmo tendo passado por um conflito de grandes proporções. Esta primeira onda do feminismo espalhou-se rapidamente por todo o continente.
Segundo Celi Pinto:
 
[...] a chamada primeira onda do feminismo aconteceu a partir das últimas décadas do século XIX , quando as mulheres, primeiro na Inglaterra, organizaram-se para lutar por seus direitos, sendo que o primeiro deles que se popularizou foi o direito ao voto.
 
As “sufragetes”, como ficaram conhecidas, promoveram grandes manifestações em Londres, foram presas várias vezes, fizeram greves de fome (Pinto, 2010, p. 15-23).
As reinvindicações logo transcenderam a questão do direito ao voto, sendo a ela acrescentados direitos trabalhistas e sociais, como a conscientização acerca dos direitos reprodutivos e do controle natalidade.
 
Entre as décadas de 1910 e 1920, foram estabelecidos dias dedicados à comemoração das mulheres, instituindo mais tarde o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher. Esta data relembra toda a trajetória de luta pelos direitos femininos, em diversos âmbitos.
Vemos, neste caso, uma dicotomia social, que marca os anos 1920: ao lado do progressismo, ainda existem grupos conservadores, que defenderiam valores como “a moral e os bons costumes”, condenando o comportamento dos “desviantes”, ou seja, aqueles indivíduos que não se adequavam a um padrão social.
 
Mesmo assim, as vedetes continuavam a fazer sucesso, e o número de bares, boates, lugares dedicados à dança e a festas não paravam de aumentar.
É importante ressaltar que estas mudanças sociais ocorriam tanto na América quanto na Europa. Contudo, a prosperidade econômica daquele país dava-lhe maior visibilidade e acabou por fazer surgir a expressão “american way of life”, o estilo de vida americano, que seria cobiçado e reproduzido ao longo do planeta.
 
Na economia, havia também uma dicotomia: o estado adotara o liberalismo e, portanto, interferia o mínimo possível, mas o 
capitalismo praticado era, essencialmente, monopolista, o que 
contradizia com o liberalismo.
Como foi lembrado anteriormente, o liberalismo pregava a mínima interferência do Estado na economia. Também vimos que esta proposta baseia-se na livre concorrência. Ou seja, o Estado não precisa interferir porque a livre concorrência regularia o mercado.
 
Nos Estados Unidos, no entanto, um destes princípios acontecia, mas o outro não. 
A economia norte-americana era dominada por monopólios, que aconteciam sob a forma de trustes, holdings e cartéis.
Essa não é uma exclusividade do capitalismo dos anos 1920. Esses monopólios existiram desde o século XIX, quando o país começou a se industrializar, durante a segunda revolução industrial.
 
O primeiro truste data de 1870 – a Standard Oil, uma empresa de petróleo que pertencia a John D Rockefeller. Este se tornou um dos maiores conglomerados do mundo e Rockefeller logo seria considerado sinônimo de riqueza.
Monopólios norte-americanos
 VAMOS RELEMBRAR
TRUSTES Uma única empresa que domina o mercado de um determinado produto. Também pode se referir à fusão de diversas empresas que formam uma única, para dominar o mercado.
CARTEL Empresas que comercializam o mesmo bem ou serviço fazem um acordo para a cobrança de preços, eliminando a concorrência.
HOLDINGS Uma empresa criada para gerenciar ou administraroutras empresas.
Esses monopólios não eram legais. Na verdade, existiam leis antitruste desde finais do século XIX, o que na prática não impediu sua ocorrência.
Podemos dizer que a economia norte-americana, mesmo no auge de sua prosperidade, já desenvolvia os fatores que levariam à crise. Apesar do aumento do emprego e do consumo, havia uma desigualdade na distribuição de renda, além do surgimento de grandes fortunas baseadas na especulação do mercado de ações.
 
A questão especulativa é tão importante que a própria crise de 1929 também ficou conhecida como o “crash da Bolsa”.
 
Como sabemos, uma ação significa uma parte de uma empresa. As companhias que possuem ações na bolsa são chamadas de empresas de capital aberto e, nos anos 1920, a compra de ações era considerada um grande investimento.
Você sabe como definimos o valor de uma ação?
 
É como se dividíssemos uma empresa em milhares de pedacinhos. A princípio, estes pedacinhos correspondem ao valor real da empresa . Mas a partir do momento em que as ações passam a ser vendidas, este valor é agregado a outros. Estes e outros fatores podem aumentar ou diminuir o valor das ações.
 
Como a conjuntura política e econômica de um país 
oscila, o mercado acionário costuma ser entendido como 
um investimento de risco. De acordo com o economista 
JK Galbraith:
 
Mês após mês, ano após ano, o grande mercado em alta nos anos 1920 regurgitava. Havia algumas baixas, mas o mais frequente era as fenomenais altas.
 
O verão de 1929 foi o mais frenético da história financeira norte-americana. Ao seu término, os preços das ações haviam quase quadruplicado em comparação com os quatro anos anteriores.
 
As transações da bolsa de Nova York envolviam cerca de cinco milhões ou mais de ações por dia. Poucos, ao que parece, detinham as ações para auferir rendimento pessoal.
 
O que importava era especular para realizar “ganhos” de valorização de capital (Galbraith, In: Marques, Berutti e Faria, 2001. p. 158).
O que ela possui em bens, como fábricas e maquinários, por exemplo. O quanto ela pode se desenvolver, ou seja, qual a expectativa de crescimento.
A euforia financeira aumentou a especulação e era como se os anos de prosperidade jamais fossem acabar. Porém, não foi o que se viu. 
Com a Europa se recuperando economicamente, ela deixava, cada vez mais, de importar as mercadorias norte-americanas.
 
Com a diminuição do mercado externo, as indústrias também diminuíam sua produção, demandando um menor número de empregados, o que gerava o desemprego.
A agricultura sofreu crises de superprodução, ou seja, havia gêneros agrícolas, mas não havia consumidores o suficiente, fazendo com que estes gêneros caíssem de preço, levando diversos fazendeiros à falência.
 
A falta de regulamentação do Estado proporcionou uma especulação ilimitada na Bolsa de Valores, o que supervalorizava as ações, ou seja, elas eram cotadas por um preço muito maior do que efetivamente valiam.
 
Com as falências da agricultura e o aumento do desemprego, o poder de consumo também foi decrescendo. Isso quer dizer que tanto o mercado interno quanto o externo diminuíam.
Havia mais mercadorias que consumidores, gerando uma crise generalizada de superprodução. Os bancos, que haviam investido tanto na indústria quanto na agricultura, começaram a quebrar, já que não tiveram o retorno de seu investimento.
 
Falamos sobre a queda da Bolsa, a Quinta-feira Negra, que ocorreu em 24 de outubro de 1929, quando a bolsa de nova York e o sistema financeiro entraram em colapso. Mas isso não significa que a crise ocorreu naquele dia específico. Ele foi apenas o estopim de um processo de corrosão econômica que foi sendo gestado durante toda a década.
 
Fortunas foram perdidas do dia para a noite. Nova York foi tomada por uma onda de suicídios jamais vista até então.
NEW DEAL
Para sanar suas finanças, o Presidente que substituiu Hoover, Franklin Delano Roosevelt, instituiu um conjunto de medidas que ficou conhecido como New Deal.
 
Essas medidas tinham como objetivo a recuperação financeira e a diminuição do desemprego, e deveriam ser aplicadas rapidamente.
 
Se os governos anteriores deixavam a economia se autorregular, isto teve fim no governo Roosevelt. 
O Estado abandona o liberalismo e passa a intervir em todos os aspectos econômicos, incluindo as Bolsas de Valores e o sistema bancário.
Para gerar mais empregos, de imediato, são executadas várias obras de infraestrutura, como o aumento da malha ferroviária. Gerar empregos significa pagar salários, o que significa a revitalização do mercado consumidor.
 
Foi implantada a Previdência Social, bem como uma série de garantias aos cidadãos, como o salário mínimo e o amparo aos desempregados. Os sindicatos foram incentivados, a fim de facilitar a negociação entre patrões e empregados.#
Os bancos e as instituições financeiras foram mantidos sob rígido controle, para evitar a especulação e a concessão de crédito sem critérios.
 
Foram estabelecidos subsídios e crédito financeiro para a recuperação agrícola, que tinha como público-alvo os pequenos agricultores, juntamente com uma série de leis de apoio e estimulo agrário.
Pouco a pouco, o país se recuperaria dessa primeira grande crise econômica. Roosevelt se tornou um dos mais importantes Presidentes da História dos Estados Unidos e teve quatro mandados presidenciais. Este foi um caso único, tendo sido não só o Presidente da crise de 1929, mas também aquele que passaria pela II Guerra Mundial.
 
Essa crise é estudada ainda hoje, e muitas teorias sobre ela são ainda elaboradas.  Dentre elas, o entendimento de que o capitalismo, enquanto sistema econômico, passaria por crises cíclicas sem que seus fundamentos sejam comprometidos.
 
É importante lembrar que a União Soviética não foi afetada pela crise de 1929, já que não havia adotado o capitalismo.
 
Em 2008, uma nova crise do capitalismo ocorreu nos EUA e foi exaustivamente comparada aquela que ocorreu em 1929. Esta comparação se estabelece, sobretudo, por ambas terem sido crises fundadas na especulação financeira.
ATIVIDADE
Durante os últimos três meses, visitei uns vinte estados deste belo país extraordinariamente rico. As estradas do oeste e do sudeste pululam de pessoas famintas pedindo carona. As fogueiras dos acampamentos dos desabrigados são visíveis ao longo de todas as estradas de ferro. Os fazendeiros estão sendo pauperizados pela pobreza das populações industriais, e as populações industriais, pauperizada pela pobreza dos fazendeiros. Nenhum deles tem dinheiro para comprar o produto do outro; Consequentemente há excesso de produção e carência de consumo, ao mesmo tempo e no mesmo país.
Relato feito em 1932 por Oscar Ameringer à Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.
Adaptado de MARQUES. A. M. et al. História contemporânea através de textos. São Paulo: Contexto. 1990.
(Uerj/2011) - O depoimento acima faz referência a efeitos da Crise de 1929 para a sociedade norte-americana.#Apresente dois fatores que contribuíram para deflagrar essa crise e cite seu principal desdobramento para a economia europeia naquele momento. 
Entre os efeitos da Primeira Grande Guerra (1914-1918), assistiu-se à expansão da economia norte-americana, traduzida não só no crescimento de sua produção agrícola e industrial, como também na presença de investimentos e empréstimos em outros países, como os europeus, carentes de recursos para as obras de reconstrução. Em finais da década de 1920, os sinais de superaquecimento da economia norte-americana já se apresentavam no descompasso, cada vez maior, entre capacidade de produção e sua respectiva absorção pelo mercado, fato agravado pela recomposição do crescimento de economias europeias. Nesse quadro de colapso iminente, os principais fatores que deflagraram a Crise de 1929 foram a especulação financeira, que culminou com a quebra da Bolsa de Nova York, e a superprodução agrícola e industrial, concomitantemente à desaceleração do consumo.
A centralidadeda Bolsa de Nova York no mercado financeiro internacional contribuiu para que os problemas da economia dos EUA afetassem outros países que, por diversos motivos, dependiam dos seus capitais e investimentos. Houve, por exemplo, no caso dos países europeus, a falência de empresas prejudicadas pelo repatriamento de capitais norte-americanos. A queda do dólar abalou outras moedas, causando desvalorização monetária e inflação, problemas agravados pelas falências e pelo desemprego. Nascida das contradições do desenvolvimento dos EUA, a Crise de 1929 tornou-se mundial e um divisor de águas na história do capitalismo no século XX.
Nesta aula, você:
Analisou a conjuntura socioeconômica dos anos 1920;
Avaliou a política econômica empreendida pelo Estado norte-americano;
Identificou as medidas implantadas por Roosevelt para sanar a crise.
 
Na próxima aula, você vai estudar:
Regimes totalitários;
O nacionalismo europeu no pós-guerra;
A ascensão do totalitarismo.
AULA 4 REGIMES TOTALITÁRIOS NAZISMO E FASCISMO
Ao final desta aula, você será capaz de:
1.	Definir totalitarismo.
2.	Reconhecer a diferença entre os diversos regimes totalitários.
3.	Analisar o contexto em que estes movimentos surgem na Europa do século XX.
Introdução
Nesta aula, debateremos os sistemas totalitários que emergem no período pós-guerra. Além disso, veremos o fundamento nacionalista destes regimes e de que forma foram adotados, respectivamente, na Alemanha e na Itália.
O período entre guerras, que compreende os anos de 1919 a 1939, quando eclode a Segunda Guerra Mundial, foi marcado por grandes transformações, especialmente na Europa. 
A Primeira Guerra Mundial deixou sequelas que seriam fundamentais para o envolvimento alemão na guerra que abalaria o mundo, entre 1939 e 1945.
 
Entre as décadas de 1920 e 1930 emergem os regimes totalitários que dominariam não só a Alemanha e a Itália, mas também Portugal e Espanha. Tem início a era do totalitarismo.
É comum nos deparamos, em diversos textos acadêmicos, com esta expressão, mas devemos compreender mais amplamente seu significado, como um dos conceitos fundamentais tanto da História quanto da Ciência Política. 
Se, por um lado, podemos definir uma ditadura como o estado no qual há a perda de direitos civis, o conceito de totalitarismo, por sua vez, é um pouco mais complexo. 
Inicialmente, os estudos sobre o Estado totalitário foram pensados em oposição ao Estado liberal. Isto é particularmente verdadeiro ao analisarmos a Itália dos anos 1920 e a ascensão do regime fascista. 
A novidade deste regime seria o domínio de um único partido, que determinaria os rumos políticos de toda uma nação. 
Logo, esta definição seria ampliada, para abarcar qualquer regime — capitalista ou comunista — que tivesse como fundamento uma estrutura monopartidária. 
Mas foi na década de 1950, com a publicação de origens do totalitarismo, de Hannah Arendt, que o termo passa a ser usado mais largamente e tem seu sentido ampliado para compreender não só o monopartidarismo, mas toda a influência estatal na vida privada dos indivíduos. 
De acordo com Norberto Bobbio:
“Segundo H. Arendt, o Totalitarismo é uma forma de domínio radicalmente nova porque não se limita a destruir as capacidades políticas do homem, isolando-o em relação à vida pública, como faziam as velhas tiranias e os velhos despotismos, mas tende a destruir os próprios grupos e instituições que formam o tecido das relações privadas do homem, tornando-o estranho assim ao mundo e privando-o até de seu próprio eu.” 
 
BOBBIO, Norberto et alii. Dicionário de Política. Brasília: UNB, 2000. v. 2.  p 1248 
Entendemos, portanto, o totalitarismo como um regime tentacular, que age não somente no tocante à vida pública, ao estabelecer, por exemplo, o monopólio de um único partido, mas na normatização da vida privada. 0 Estado determina o que a população pode ler, transmitir, as formas de se expressar, de vestir. Cria a cultura da delação onde vizinhos logo passam a ser inimigos ao se tornarem opositores ou críticos do regime vigente. De modo geral, podemos identificar, no período pós-guerra, uma crise política e económica europeia, que se torna mais evidente na Alemanha derrotada, mas também na Itália, que apesar de ter terminado a guerra ao lado vencedor, teve enormes perdas humanas e materiais. Países europeus mais pobres, como Portugal e Espanha também se tornaram terreno fértil para a disseminação do totalitarismo.
ITALIA
Na Itália, o sentimento nacionalista cultivado a partir da unificação do país, em 1870, ganhava força. A economia, em declínio, provocava desemprego e, na década de 1920, os estados italianos eram assolados pelas greves trabalhistas. O temor de uma revolução socialista, a exemplo da que ocorrera na Rússia, levou a direita a reagir.
O regime italiano era a monarquia parlamentarista. O parlamento estava dividido entre dois grandes partidos, o Partido Socialista e o Partido Popular, cuja vertente era a democracia cristã e, portanto, apoiado pela Igreja Católica.
As diferenças ideológicas entre estes dois partidos provocava um impasse no parlamento, impedindo a votação das grandes questões e das reformas que a Itália necessitava.  Em meio à instabilidade política, é fundado o Partido Fascista, por Benito Mussolini. 
O termo fascismo tem sua origem na palavra fascio, que significa feixe. Sobre isto, o historiador Francisco Carlos Teixeira da Silva diz que: 
“O termo fascismo deriva de uma antiga expressão latina, fascio, que denominava o feixe de varas carregado pelos litores, na antiga Roma, e com os quais se aplicava a justiça. Dessa forma, tal símbolo foi, durante a Revolução Francesa, na Itália, utilizado pelos jacobinos, como representação de liberdade e Risorgimento, já no século XIX, como unidade nacional. 
 
Ao longo do século XIX, na Itália, assumiu o caráter de símbolo de ação política, valorizando a justiça e a igualdade. Foi assim, por exemplo, com o seu uso pelo movimento dos trabalhadores sicilianos, entre 1893-94, ou com os intervencionistas de esquerda, interessados na entrada da Itália na Primeira Guerra Mundial em 1914.”
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Os fascismos. In: ZENHA, Celeste, REIS FILHO, Daniel Aarão e FERREIRA, Jorge (orgs.) O século XX: o tempo das crises. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 112. 
Como podemos notar, Mussolini se apropria de um símbolo que já fazia parte da história política italiana e o utiliza para fortalecer seu partido ideologicamente. 
O fascismo é amparado pela defesa do nacionalismo e pelo convite ao sentimento de pátria dos italianos. Logo, consegue a adesão da população, preocupada com os rumos políticos do país e, em 1922, os fascistas conseguem obter um número expressivo de cadeiras no parlamento.
Seus militantes eram denominados de “camisas negras”, em alusão ao símbolo de vestimenta que se tornaria comum nos anos seguintes. 
Em outubro deste mesmo ano, Mussolini convoca seus seguidores para um movimento que objetivava concentrar o poder em suas mãos.
Foi a Marcha sobre Roma, onde milhares de camisas negras confluíram para a capital italiana, exigindo que o Executivo ficasse a cargo de seu líder.
Pressionado, o Rei Vitor Emanuel III cede e entrega a Mussolini o cargo de Primeiro Ministro. 
Em 1924, novas eleições são realizadas com a vitória maciça dos fascistas. Os grupos oposicionistas defendem que o pleito havia sido fraudado, mas são perseguidos, presos e assassinados, como foi o caso do deputado socialista Giacomo Matteotti. Nascia o Duce, ou condutor, título que Mussolini ostentaria até o final da Segunda Guerra Mundial. 
 
O partido contava com o apoio da burguesia industrial italiana, além de controlar o sistema judiciário, que auxiliava na repressão. Em 1929, foi assinado o Tratado de Latrão, entre o Duce e o Papa Pio XI.
Este tratado reconhecia a soberania do papa e fazia do Vaticano um Estado soberano eclesiástico. Desta forma, estava resolvida uma disputa seculare a Igreja passou a apoiar o regime, e o catolicismo foi oficializado como a religião do Estado italiano.
Rapidamente, o governo do Duce torna-se tentacular e estende-se pelas mais diversas áreas. Para isso, o uso da propaganda foi indispensável e se tornaria marca dos regimes totalitários. 
Com uma sólida base de apoio — que contava com a Igreja e a elite econômica — começaram as reformas cujo objetivo era o desenvolvimento econômico do país.
Tanto o campo quanto a indústria receberam investimentos e o desemprego, uma das maiores preocupações da população, foi duramente combatido. 
A crise de 1929 e o colapso do sistema econômico norte-americano fizeram com que o Estado intensificasse a produção bélica e começasse uma política de expansão territorial, sobretudo, em direção à África. 
Há, nesse Estado, uma ideia de grandeza histórica que busca resgatar a soberania italiana valorizando as grandes conquistas do Estado romano.
Para isso, há uma rejeição clara aos princípios liberais e à ideia de liberdade de pensamento e expressão que ponham em xeque o modelo de governo. 
“O que o fascismo rejeita, a priori e totalmente, é a sociedade liberal do século XIX, inspirada pela filosofia das luzes. Transposta politicamente na Revolução Francesa. O fascismo não crê que os homens sejam iguais nem que o homem seja naturalmente bom. Põe de lado Descartes, Kant, Rousseau, e, com estes, o positivismo, gerador do cientificismo e da esperança em um progresso contínuo.”
(MICHEL, Henri. O fascismo. Lisboa: Dom Quixote, 1977. p. 13)
 
A Itália logo se aliaria a Alemanha, em uma aliança decisiva para os rumos da guerra que eclodiria em 1939.
ALEMANHA
A situação da Alemanha pós-guerra não era muito diferente da Itália, com o agravante de ter sido a potência derrotada e ter sido submetida às humilhações do Tratado de Versalhes. 
Após o fim da Primeira Guerra, foi estabelecida a República de Weimar, que vigorou entre 1918 e 1933. 
 
O regime monárquico foi substituído pelo republicano e uma nova constituição foi feita, na cidade de Weimar, que daria nome ao período republicano alemão. 
Embora esta república nascesse sob a égide progressista, a crise econômica deflagrou uma enorme insatisfação social. 
As cláusulas de Versalhes inflamaram o sentimento nacionalista alemão, em uma combinação perigosa: crise e nacionalismo, da qual o regime nazista se aproveitaria para ascender ao poder.
 
Antes da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha investia em sua industrialização e na constituição de uma infraestrutura necessária ao desenvolvimento econômico.
Com a guerra, estas iniciativas foram abandonadas e, após o conflito, não havia recursos suficientes para continuar esta política econômica.
Não devemos esquecer que o país teve que pagar pesadas indenizações aos vencedores, além de ter perdido parte de seu território. 
Essa situação levou ao desemprego e a greves, além de altíssimos índices inflacionários, que corroíam o valor da moeda.
Durante a década de 1920, um pequeno partido, fundado em Munique, começa a ganhar destaque. É o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, chamado simplesmente de Partido Nazista. 
 
Embora tenha a palavra socialista em seu nome, não é, de forma alguma, seguidor da ideologia marxista e, ao contrário, combate comunistas e socialistas, a quem vê como oposição ao Estado. 
Sua ideologia nacionalista e de valorização do povo alemão logo o torna um partido com forte apelo popular. Um de seus líderes, Adolf Hitler, prega o fim da República de Weimar e, em 1923, tenta dar um golpe de Estado, na mesma cidade de fundação do partido, Munique.
O golpe fracassa e seus mentores são presos, Hitler, inclusive, mas esse evento deu uma enorme visibilidade às ideias do partido. Na prisão, Hitler escreve a obra que seria a base da ideologia nazista, onde expõe o que seriam as causas da derrota alemã, o livro Minha luta, em alemão, Mein Kampf. 
Em seu livro, são defendidos o nacionalismo e o anticomunismo, além do estabelecimento da ideia de raça ariana, segundo a qual os alemães estariam destinados à grandeza e descenderiam de um ramo biológico melhor e mais puro do que as demais sociedades humanas. 
O arianismo se tornaria fundamental durante todo o período nazista e seria um dos motivos à intensa perseguição e eliminação dos judeus do território dominado pela Alemanha. 
Além disso, Hitler desenvolve a teoria do espaço vital, segundo a qual a Alemanha precisaria se expandir para poder restaurar a glória que a nação mereceria. 
A crise de 1929 piorou as condições de vida já intoleráveis na Alemanha. Em meio ao caos, a pobreza e ao desemprego, as palavras de Hitler ganharam corpo e os adeptos do nazismo cresceram em número e força política. 
 
Em 1932, estima-se que o número de desempregados do país estivesse em torno de 6 milhões de indivíduos. 
Essas pessoas buscavam soluções políticas para seus problemas e as duas grandes correntes eram, então, o nazismo e o socialismo.
As elites temiam o socialismo e a estatização de bens e propriedades como ocorrera na Rússia. Assim, o caminho foi o apoio ao nazismo que repudiava os socialistas. 
Nas eleições desse ano (1932), os nazistas conquistaram um grande número de cadeiras no parlamento e, em 1933, o então presidente da Alemanha, Paul von Hindemburg nomeou Adolf Hitler como chanceler, o que equivale ao cargo de primeiro ministro. 
Na prática, Hindemburg entrega a Hitler o controle do Estado alemão.
As primeiras medidas do novo chanceler foram:
1 A eliminação da oposição (socialistas, parlamentares, 
judeus, foram presos); 
2 criação das Sessões de Segurança (SS), uma polícia política que tinha como objetivo identificar e prender os oposicionistas;
3 a instituição da Gestapo, consistindo em uma 
equipe de forças especiais.  
Em março de 1933, tem início o Terceiro Reich, ou Terceiro Estado, em 1934, falece o Presidente Hindemburg, o que permite a Hitler assumir também a presidência, sendo proclamado Führer, um título que pode ser traduzido como condutor ou líder.
É importante pensarmos que para a consolidação do nazismo, Hitler também lança mão intensamente dos veículos de propaganda.
 O cinema ganharia grande destaque e logo haveriam diversos filmes feitos para a exaltação da nação e do regime nazista. O Ministro da Propaganda Nazista Joseph Goebbels era um dos principais nomes do governo e produzia diversos materiais para a legitimação da supremacia ariana.
O racismo se torna uma política do Estado — e essa é uma das principais diferenças entre nazismo e fascismo — e tem início a perseguição aos judeus. 
Chamada de “solução final”, os judeus eram levados a campos de trabalhos forçados, os campos de concentração, onde eram submetidos as mais degradantes condições. Milhares perderam a vida nos campos, que se tornaram um símbolo do regime nazista.      
Em 1936, Berlim sedia as Olimpíadas. Foi um evento muito esperado, porque o Estado nazista poderia mostrar a Alemanha ao mundo, sendo os jogos a oportunidade perfeita de demonstrar a superioridade ariana.
O Füher ia aos estádios e acompanhava as mais diversas modalidades, parabenizando pessoalmente a vitória dos atletas. O sonho ariano naufragou, entretanto, em uma das mais importantes modalidades olímpicas, o atletismo, dominado pelo afro-americano Jesse Owens que levou 4 medalhas de ouro. Hitler deixou rapidamente o local, se recusando a cumprimentar o atleta. 
O Estado nazista investiu maciçamente na produção bélica e no militarismo. Lembrando a definição de totalitarismo do início desta aula, temos a ideologia nazista sendo a base não só do Estado, mas dos currículos escolares, dos clubes e associações. 
Não ser um membro do partido era mal visto pelos vizinhos e havia o risco de denúncia como oposição, o que levaria, inevitavelmente, a prisão.
Em 1939, a invasão da Polônia da início a Segunda Guerra Mundial e, seu término, em 1945, significaria também o fim do nazismo e do fascismo.Entretanto, nem todos os regimes totalitários terminaram ao fim da guerra. Portugal e Espanha mantiveram seu regime até a década de 1970.
PORTUGAL
Portugal começa o século XX ainda um país marcadamente agrário. 
A Primeira Guerra e, logo depois, a crise de 1929, levou o país a uma crise econômica, em uma realidade já instável, pois as relações econômicas, tanto na Europa quanto com os Estados Unidos, estavam comprometidas. 
Um dos temores da república era o socialismo e a possibilidade de reforma agrária, que afetaria diretamente a elite portuguesa. 
Devemos lembrar que, desde 1917, o socialismo tornara-se uma realidade na Europa, após a Revolução Russa, e, por isso, a constante ameaça socialista, verificada em todos os casos que estudamos. 
A intensificação da crise econômica levou a um golpe militar na década de 1920. A ditadura se estendeu até 1933, quando tem início o Estado Novo, período totalitário do Estado português. 
Em 1930, foi criada a União Nacional, um partido político, liderado por um dos políticos que havia participado ativamente do regime militar, Antônio de Oliveira Salazar. 
Em 1933, a União Nacional chega ao poder e o Estado Novo passa a ser conhecido também como salazarismo, em referência ao líder deste partido. 
Embora, na prática, os demais partidos não fossem ilegais, eram reprimidos e logo deixaram de existir, sendo que partidos socialistas e comunistas foram postos na ilegalidade, configurando o sistema de partido único, característico do totalitarismo. 
Portugal mantinha colônias na África, e sua manutenção era controversa, sendo o colonialismo, arduamente defendido por Salazar, uma das características do Estado Novo. Como regime totalitário, o salazarismo era contra o liberalismo e perseguia seus opositores. Utilizou largamente a propaganda para fins políticos e foi claramente influenciado, sobretudo, pelo fascismo da Itália. 
 
Salazar deixa o poder em 1968, mas o salazarismo permaneceu até 1974, quando a Revolução dos Cravos iniciou um novo período, de abertura democrática no país.
ESPANHA
0 caso da Espanha tomou-se emblemático por envolver uma intensa guerra civil, que seria considerada um ensaio geral para a Segunda Guerra Mundial, diferente dos demais países, onde o totalitarismo se estabeleceu sem que houvesse uma guerra civil.
Na Espanha dos anos 1930, havia duas claras posições políticas: os falangistas e a Frente Popular. Os falangistas eram um grupo de orientação fascista cujo líder, Francisco Franco Bahamonde defendia o combate ao comunismo.
Franco era apoiado pela elite espanhola e pela Igreja Católica. De forma geral, a Igreja sempre se opôs ao socialismo e ao comunismo, pois estas ideologias pregam o fim da religião constituída. Nas palavras de Marx, a religião era considerada o ópio do povo e impedia a população de questionar a realidade a sua volta.
Por outro lado, a Frente
Popular, que contava com o apoio soviético, era formada por trabalhadores, sindicalistas, comunistas e partidos de esquerda. Repudiava o totalitarismo e as ideologias nazi-fascistas, as quais combatiam ideologicamente.
Em 1936, os falangistas de Franco empreendem um golpe de Estado, pondo fim à República Espanhola. A Frente Popular reagiu e teve início a Guerra Civil. Franco obteve o apoio da Itália e da Alemanha para combater a Frente Popular. Os dois grupos receberam ajuda externa, sob a forma de armamentos, além do apoio político.
As forças aéreas, alemã e italiana, foram enviadas para a Espanha. Foram elas que protagonizaram o mais conhecido e trágico episódio do conflito, o bombardeio da cidade de Guernica, em abril de 1937, imortalizado na tela de Pablo Picasso. 
 
A Frente Popular recebeu o reforço das Brigadas Internacionais, algo único em toda história. As brigadas foram formadas por milhares de voluntários do mundo inteiro, que apoiavam e defendiam a república. A maior parte, de orientação socialista, buscava garantir a democracia e impedir a instauração do regime totalitário na Espanha.
Mas o apoio alemão e italiano foi decisivo e, em 1939, após 3 anos de conflitos que dizimaram milhares de pessoas, entre civis, militares, espanhóis e brigadistas, Francisco Franco toma o poder e inaugura o regime que leva seu nome, o franquismo. 
Franco governaria até sua morte, nos anos 1970, em um dos mais longos e autoritários regimes já estabelecidos na Europa.  Após a guerra, o país foi mergulhado em uma enorme crise econômica, que perdurou por décadas. 
A ideia de ensaio geral da Segunda Guerra se dá, sobretudo, pelo uso dos aviões como arma de combate e destruição em massa. Embora tenham sido usados na Primeira Guerra, a Força Aérea se tornou um fator decisivo no segundo conflito, do qual participou ativamente.
ATIVIDADES
Unicamp – 2005 
 
“Após a Primeira Guerra Mundial, a República de Weimar teve controle muito limitado sobre as forças militares e policiais necessárias à manutenção da paz interna. No final, a República caiu em consequência dessa limitação, fragilidade explorada por organizações da classe média, as quais achavam que o regime parlamentar-republicano as discriminava e, assim, procuraram destruí-lo.” (Adaptado de Norbert Elias, Os alemães, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997, p. 199 e 204). 
 
“A exigência da anulação da ‘paz imposta’ pelo Tratado de Versalhes foi, ao lado do antissemitismo, o ponto mais importante na propaganda nazista durante a República de Weimar.” (Adaptado de Peter Gay, A cultura de Weimar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, p. 31 e 168).
a) O que foi a República de Weimar? Relacione-a com a ascensão do nazismo.
R: A República de Weimar, estabelecida entre 1918 e 1933, era um regime republicano e parlamentar democrático, que foi estabelecido, na Alemanha, após a Primeira Guerra Mundial  A fragilidade deste regime, aliado a enorme crise política e econômica do país, proporcionou a emergência de movimentos nacionalistas, dentre os quais o nazismo, que chegaria ao poder em 1933. 
 
b) O que foi o Tratado de Versalhes e qual o significado da expressão “paz imposta”? 
R: O Tratado de Versalhes, assinado em 1919, selou a derrota alemã na Primeira Guerra, impondo as condições de humilhação que levariam a Alemanha à Segunda Guerra. A ideia de paz imposta baseia-se no fato dos termos deste acordo não terem sido negociados com o país derrotado, já que uma de suas condições era a perda de parte do território alemão, além da interferência direta na soberania nacional do país, obrigado a pagar pesadas indenizações aos vencedores. 
Nesta aula, você:
Identificou as origens do totalitarismo europeu;
Reuniu argumentos para compreender os elementos nacionalistas agregados a estas ideologias;
Comparou os diversos modelos adotados nos estados totalitários. 
 
Na próxima aula, você vai estudar:
Os antecedentes da Segunda Guerra Mundial;
o holocausto;
o mundo pós-guerra e o início da Guerra Fria.
AULA 5 A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Ao final desta aula, você será capaz de:
1.	Avaliar os antecedentes da Segunda Guerra Mundial;
2.	Reconhecer o avanço alemão durante o conflito e a política de formação de alianças;
3.	Analisar os efeitos do conflito, sobretudo para o continente europeu.
Introdução
Nesta aula, discutiremos o período que antecede a Segunda Guerra, com a política expansionista alemã, que culminou com a invasão da Polônia, deflagrando a guerra. Veremos ainda, a formação do eixo e a sua derrota pelos países aliados.
Após o fim da Primeira Guerra Mundial e a assinatura do Tratado de Versalhes, em 1919, teve início uma onda de movimentos totalitários pela Europa, como vimos na aula anterior. 
Em 1929, estes movimentos ganham força, por conta da crise econômica que se alastra, a partir dos Estados Unidos. 
As tensões entre os diversos países europeus eram prementes, e a Liga das Nações - órgão criado após a guerra para mediar conflitos internacionais - não tinha força ou legitimidade política para fazer valer o objetivo para a qual tinha sido criada, sendo uma instituição, portanto, esvaziada

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