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História Contemporânea
APRESENTAÇÃO 
Professora Mestra Maria Helena Azevedo Ferreira 
 
 
 
 
Mestra em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), especialista em 
Tecnologias Aplicadas ao Ensino Superior, pelo Centro Universitário Cidade Verde 
(UniFCV), graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá. Já atuou como 
tutora pedagógica no curso a distância de História (UEM), tutora operacional na 
Unicesumar e professora orientadora dos cursos de pós-graduação lato sensu na mesma 
instituição. Atualmente é supervisora de pós-graduação no Centro Universitário Cidade 
Verde. 
 
 
 
 
CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/5335993798322851 
https://wwws.cnpq.br/cvlattesweb/PKG_MENU.menu?f_cod=14D74F4DDF7B5308DBEEB34D803830C7
APRESENTAÇÃO DA APOSTILA 
 
 
Caro (a) estudante, em nossa disciplina veremos os principais aspectos que 
marcaram a História Contemporânea. Foi um momento que se desenrola até os dias 
atuais, de interação entre as nações do mundo. Seja uma relação de troca, de 
dominação e, por vezes, conflituosa. Esperamos que a discussão iniciada aqui possa abrir 
caminhos para que você se aprofunde ainda mais em seus estudos. 
Na primeira unidade, você verá o conceito de imperialismo e como este foi usado 
como ferramenta de política externa, especialmente em países da europa, bem como 
dos Estados Unidos. O mundo, neste contexto, foi repartido e subjugado, 
principalmente na África e na Ásia. Veremos como se deu a partilha da África e ocupação 
da Ásia, que só foi possível pela ideia que os europeus tinham que se tratavam de povos 
inferiores. Você vai entender como essa perspectiva se mostra presente até os dias 
atuais. Bem como verá que é no século XIX que se desenvolvem os nacionalismos, cujo 
teor irá se desenvolver no início do século XX. 
Na próxima unidade, você entenderá como o crescente nacionalismo, a corrida 
armamentista e a disputa por território ocasionaram a Primeira Guerra Mundial, 
também chamada de a Grande Guerra. Veremos também como a Revolução Russa de 
1917 se desenvolveu, no começo do século, gerando uma ordem política, econômica e 
social nunca antes vista. Veremos também, sobre a ascensão dos Fascismos, focando 
no caso italiano e, também, no movimento correlato na Alemanha, denominado 
nazismo. Inerente a isso está a Segunda Guerra Mundial, a qual mudou o rumo das 
potências e fez emergir os EUA como líderes mundiais. Os EUA tiveram como adversário 
a URSS, que no contexto da Guerra Fria, se envolveram mutuamente na disputa por 
zonas de influência. 
Na unidade que se segue, veremos com mais detalhes a Guerra Fria e o embate 
entre socialismo e capitalismo. Nesta unidade, você verá também o que foram os “trinta 
gloriosos”, que representaram o crescimento e fortalecimento dos países 
desenvolvidos. Após a queda do muro de Berlim e a desintegração da URSS, o mundo 
passou por outra mudança drástica, já que o mundo bipolar havia deixado de existir, 
pelo menos em tese. 
O fim do mundo dividido entre os interesses da URSS e dos EUA, possibilitou a 
emergência do neoliberalismo. Veremos, portanto, na última unidade do que se trata 
esse conceito e a sua aplicação. Aliado a isso, temos o fortalecimento dos ideais 
neoliberais na Inglaterra de Thatcher, bem como nos Estados Unidos. Concluiremos a 
unidade, abordando a globalização e seus impactos. Por fim, esperamos que este 
material forneça as bases, para que você possa conhecer melhor os eventos que 
marcaram a História Contemporânea. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE I 
 
IMPERIALISMOS E NACIONALISMOS 
 
 
Professora Mestra Maria Helena Azevedo Ferreira 
 
 
 
 
Plano de Estudo: 
 
• Conceituando Imperialismos; 
 
• A partilha da África; 
 
• Imperialismo na Ásia e no Pacífico; 
 
• Nacionalismo. 
 
 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
• Conceituar e contextualizar imperialismo; 
 
• Compreender o processo de partilha da África e colonização na Ásia; 
 
• Investigar o nascimento do nacionalismo. 
INTRODUÇÃO 
 
 
Prezado (a) aluno (a), nesta unidade, vamos adentrar no período que a 
historiografia convencionou chamar de história contemporânea. Nestes quatro 
primeiros tópicos, vamos discutir assuntos como imperialismos e suas consequências e 
nacionalismos. Você perceberá que foi um momento que o mundo como conhecemos 
hoje foi desenhado, repartido, subjugado. O globo ficou dividido entre dominadores e 
dominados, essa divisão marca até hoje as nações. 
No nosso primeiro capítulo, exploraremos o imperialismo. Ainda hoje usamos o 
conceito de imperialismo como um adjetivo para nos referir às nações cuja política 
externa tem como um dos escopos intervir na soberania de outros países. Você vai 
entender que esse conceito está ligado ao contexto do último quartel do século XIX e 
início do século XX. A ideia de dominação esteve ancorada em aspectos econômicos, 
políticos e culturais e foi sujeita a algumas análises teóricas. 
A concepção de que deva existir um grupo dominante e outro dominado implica 
necessariamente em reconhecer o outro como inferior, como passível de posse. No 
segundo tópico entenderemos como essa ideia se deu na prática por meio da partilha 
da África. Nunca na história no mundo um grupo de países se sentiu tão livre para 
repartir um continente inteiro. Isso se deu, como você verá, de acordo com interesses 
econômicos e políticos na região. A partilha da África, feita com base em acordo, muitas 
vezes fraudulentos, que modificaram radicalmente o mapa do continente. De uma 
maneira semelhante, mas com formas de administração diferenciadas, se deu a 
colonização na Ásia e no Pacífico, tema do terceiro tópico. Você perceberá que várias 
nações, que já tinham possessões na África, também se empenharam em fazer esferas 
de influência também nesta região. 
Por fim, no último tópico discutiremos um tema importante, que até os dias 
atuais continua em voga: o nacionalismo. Vamos entender que o sentimento de 
pertencimento a um Estado-Nação não é um dado natural, apesar de ser tido como se 
fosse. Na Europa, estar sobre o mesmo território não era critério único para o 
desenvolvimento de um sentimento nacionalista. Veremos que a criação desse 
sentimento foi algo paulatino e foi um dos estopins para algo muito maior no século 
seguinte. 
1 CONCEITUANDO IMPERIALISMOS 
 
 
Fonte: Wikimedia Commons, 1888. Disponível em: 
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=imperialism&title=Special%3ASearch&go=Go&ns 
0=1&ns6=1&ns12=1&ns14=1&ns100=1&ns106=1#/media/File:English_imperialism_octopus.jpg. Acesso 
em: 09 dez. 2021. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.1 Imperialismo: contexto histórico 
 
Provavelmente você já deve ter ouvido falar em imperialismo, que determinados 
países agem de forma imperialista, mas você sabe o que significa esse conceito? É 
preciso compreendê-lo enquanto condição histórica que anda lado a lado com o 
capitalismo, que diz respeito ao período específico, mas que possui múltiplas expressões 
ao redor do globo até os dias atuais. 
Muitas sociedades se definiram como impérios, como o Império Romano, 
Império Britânico, Império Português, Império Espanhol, dentre tantos outros. De uma 
forma geral, independente do contexto histórico a que cada um pertença, eles possuem 
compartilham uma definição básica e usual acerca de suas práticas, sobre o modus 
operandi imperialista, que em síntese podemos entender que é a “expansão violenta 
por parte dos Estados, ou de sistemas políticos análogos, da área territorial da sua 
influência ou poder direto, e formas de exploração econômica em prejuízo dos Estados 
ou povos subjugados.” (PISTONE, 1998, p.15). 
Apesar da humanidade sempre ter convivido com Impérios, Eric Hobsbawm 
(2008) afirma que entre 1875 e 1914 nunca tantos governantes se declararam 
imperadores. Esse foi o caso da Alemanha, Áustria, Turquia, Rússia, Grã-Bretanha e 
outros países fora da Europa,era inimigo da 
Rússia e outro nutria desavenças com a Sérvia. A Itália se uniu à Tríplice Entente porque 
lhe foram prometidos ganhos territoriais, por meio do Tratado de Londres. De todo 
modo, a entrada de cada uma das nações foi guiada por avaliações acerca da segurança 
e poder nacional (THOMSON, 1976). 
Thomson (1976) entende que uma vez começada a guerra, no final de junho de 
1914, os motivos que levaram à eclosão se modificaram. A França continuava lutando 
por uma questão de sobrevivência, porque havia sido invadida, na mesma situação 
estavam a Sérvia e a Rússia. A Alemanha lutava em duas frentes, a leste e a oeste, e 
tentava não sucumbir à invasão dos inimigos. Os Impérios Austro-húngaro e Turco viam 
a guerra como alternativa única ao colapso interno. Apenas Grã-Bretanha e mais tarde 
os EUA tinham alternativa, pois ainda não corriam o risco de serem invadidas. 
Até 1917 não podemos definir uma posição ideológica dos blocos. Os britânicos, 
russos e franceses, diziam lutar contra o imperialismo e militarização da Alemanha, mas 
eles próprios eram imperialistas e altamente militarizados. O ponto central de 1917, 
consistiu na saída da Rússia da guerra, que enfrentava os próprios conflitos internos – 
como veremos mais adiante – e na entrada definitiva dos EUA. 
 
A partir daí, tornou-se principalmente uma guerra entre as potências 
marítimas ocidentais, que também eram coloniais, e de idéias 
democráticas, e as potências dinásticas centrais e orientais, que eram 
impérios continentais hostis aos ideais da democracia (THOMSON, 
1976, p. 58). 
 
Houve uma transformação da natureza do conflito em seu terceiro ano, que 
influenciou o resultado, uma vez que a participação dos EUA foi fundamental para a 
vitória da Tríplice Entente. A entrada dos EUA e a saída da Rússia fez com que fosse 
desenhado um conflito de ideologias entre nações “democráticas” e não-democráticas. 
Esse modelo tendeu a se fortalecer em outros conflitos, como foi o caso da Segunda 
Guerra. 
De uma maneira geral, a guerra não foi longa, se comparada a outros embates 
europeus. A Grande Guerra durou cinquenta e dois meses e ficou mais conhecida pela 
sua intensidade, pela capacidade veloz de mobilização de exércitos e suprimentos e 
também pela capacidade de autodestruição. Cada potência passou a requerer maiores 
esforços de sua população, como o alistamento obrigatório e o aumento/inserção de 
impostos. Os apelos pela ajuda dos civis tinham uma pauta nacionalista e defendiam a 
justiça social após a guerra e “cada vez mais se ouvia o argumento de que, se a 
organização e a determinação humanas podiam produzir tais maravilhas na guerra, um 
esforço comparável na paz podia remover todos os males sociais” (THOMSON, 1976, p. 
60). 
Os discursos produzidos no contexto da guerra, essencialmente pelo bloco 
Entente, versavam sobre como seria a Europa pós-guerra. O presidente W. Wilson dos 
EUA esboçou 14 pontos para as negociações do pós-guerra e dentre estes pontos 
vemos: 1) liberdade nos mares em tempos de paz e guerra 2) retiradas das barreiras 
comerciais 3) reajuste das reivindicações coloniais e novo desenho do mapa da Europa, 
especialmente a região oriental 4) Criação de uma organização internacional para 
impedir a guerra (THOMSON, 1976). Estava formada uma ideologia de cunho liberal, que 
também tocava no ponto nevrálgico das diversas nacionalidades que estavam sob a 
guarida dos Impérios Alemão e Austro-húngaro, em uma espécie de guerra psicológica, 
desestabilizando a unidade destes Estados. Aos poucos a guerra foi tomada como uma 
cruzada moral, pela democracia e pelos ideais liberais. Mas, é importante lembrar que 
esse idealismo estava sobreposto aos velhos ideais nacionalistas que haviam guiado as 
nações ao conflito. 
 
A Grande Guerra ficou conhecida como a guerra das trincheiras, compostas por 
um emaranhado de arames farpados e homens munidos com metralhadoras. Isso quer 
dizer que a vantagem ficou entre aqueles que escolheram um plano militar estratégico 
mais defensivo, já que a ofensiva era extremamente dispendiosa. Thomson (1976, p. 64) 
ressalta, porém, que “Somente duas armas podiam arrebatar a vantagem de que gozava 
a defensiva. Um era o tanque e a coluna motorizada”. 
Depois que a Rússia se retirou da guerra, através de um tratado de paz com os 
alemães em 1917, a Alemanha estava disponível para lutar em apenas uma frente, a 
ocidental. Por outro lado, todos os aliados dos alemães estavam entrando em colapso, 
pois viam as nacionalidades dentro de seus territórios se inflamarem, o que as fez ruir 
em um momento posterior. Com o reforço estadunidense na frente oeste, a Alemanha 
não encontrou outra saída: 
Agora, no outono de 1918, com a Alemanha extenuada ao máximo, 
seus aliados rendendo-se e as tropas americanas desembarcando na 
Europa a uma média de 250.000 por mês, o Alto Comando Alemão 
notificou seu governo de que não poderia vencer a guerra, e 
recomendou que a Alemanha solicitasse armistício (THOMSON, 1976, 
p. 67). 
 
Os adversários da Alemanha insistiram que um acordo armistício só poderia 
ocorrer com uma Alemanha democrática. Diante da pressão exercida, de um motim e 
uma greve geral, o Kaiser Guilherme II renunciou ao trono alemão, com isso, a Alemanha 
tornou-se uma república e dois dias mais tarde o armistício foi assinado, no dia 11 de 
novembro. A guerra terminou com o exército alemão em território francês e nenhuma 
força inimiga nas terras alemãs, reforçando a ideia que o exército alemão não havia sido 
derrotado. “Ficou para a nova república democrática a responsabilidade pela assinatura 
do armistício e aceitação dos termos de paz” (THOMSON, 1976, p. 68). 
O mapa da Europa se modificou e nasceram novas nações. Depois da guerra o 
Império Austro-húngaro se desintegrou e a Áustria e a Hungria se transformaram em 
repúblicas diferentes. “Apareceram no mapa os novos Estados da Tcheco-Eslováquia, 
sob a liderança do tchecos, a Iugoslávia, sob a liderança dos sérvios, uma Polônia 
ressuscitada e uma Romênia aumentada” (THOMSON, 1976, p. 68). 
 
O resultado do pós-guerra foi uma Europa dividida , graças à fragmentação dos 
Impérios Austro-húngaro e Turco. As novas nacionalidades buscaram auxílio de uma ou 
outra potência para conseguirem se estabelecer, que depois da derrota da Alemanha e 
Rússia – bem como outros impérios – sentiram o vácuo no poder. 
Em 1919 os beligerantes se reuniram em Paris para estabelecer as condições 
pós-guerra. As decisões foram encabeçadas pelo presidente Wilson dos EUA, pelo 
presidente da França Georges Clemenceau e pelo primeiro-ministro britânico David 
Lloyd George. As principais decisões versaram acerca do Tratado de Versalhes firmado 
com a Alemanha, da independência da Bélgica e da restituição da Alsácia e da Lorena à 
França. Além disso, a Alemanha foi pressionada a assinar uma cláusula de culpabilidade, 
bem como forçada a pagar valores de restituição. Não apenas isso, a Alemanha perdeu 
todas as suas possessões coloniais e cidadãos perderam suas propriedades no exterior. 
Quanto ao exército, os alemães tiveram-no restrito a 100 mil homens e tiveram 
proibidas as artilharias pesadas. 
Uma das consequências mais visíveis da guerra foi o fortalecimento das paixões 
nacionais: 
As mobilizações das massas e as perdas, as violentas paixões 
levantadas pelo massacre de dez milhões de homens, a prolongada 
tensão de um esforço de guerra demorado, a partilha das mágoas na 
adversidade, e do triunfo na vitória, tudo conspirou para atormentar 
os espíritos dos homens com orgulho nacionalista e fervor patriótico. 
Em cada país, o inimigo era apresentado como bestial, inescrupuloso 
e completamente dominado pelo ódio (THOMSON, 1976, p. 76-77). 
 
No pós-guerra os países europeus se encontraram em dificuldades financeiras. 
Procurando pagar seus débitos de guerra, o padrão de vida dos europeus sofreu 
mudanças bruscas. Isso fez com que fosse deslocadoo centro da economia mundial, 
esse cenário veio ao encontro da rápida expansão industrial dos EUA. A Europa nunca 
mais se recuperou em comparação aos áureos tempos antes de 1914. A guerra deixou 
baixas não apenas demográficas e econômicas, mas mudou integralmente a forma de 
fazer guerra e mostrou ao mundo que conflitos dessa dimensão eram extremamente 
perigosos. Não apenas isso, a primeira guerra colocou em evidência as economias 
liberais e ditas democratas, mas não sem concorrência, como veremos a seguir. 
 
1.2 A Revolução Russa 
 
 
Como vimos, a Rússia saiu da Grande Guerra após conflitos internos. A 
realidade é que a Rússia via apenas perdas e doze anos antes já havia eclodido uma 
revolta contra o czar, após a derrota do país contra o Japão. O movimento foi 
dissolvido, mas algumas concessões foram feitas, como a constituição de uma 
assembleia representativa. Entretanto, o governo do czar permanecia despótico e 
corrupto, gerando desconfiança de todas as classes sociais. Foi quando em 12 de março 
de 1917 o governo do czar Nicolau II foi deposto e, então, discutia-se qual tipo de 
governo deveria ser estabelecido. Mas antes precisamos falar sobre as condições que 
levaram à eclosão da Revolução. 
Diferentemente da Europa ocidental, a Rússia permanecia praticamente 
agrária, baseando-se em um regime feudal. A classe média russa não havia se 
desenvolvido e ido para o espectro político. Em suma, o país vivia uma estagnação 
econômica e autonomia política e econômica de uma burguesia era praticamente nula. 
Com isso, não houve chances para que as ideias liberais penetrassem, como havia 
acontecido na Europa (HILL, 1977). 
A pequena industrialização russa foi motivada pela entrada de capital 
estrangeiro, o que gerou também uma relativa massa operária. Rapidamente, a classe 
operária mal paga e em horríveis condições de vida e de trabalho, tomou consciência de 
si, da importância da coletividade, da organização e da possibilidade e da necessidade 
de uma convulsão social que desembocaram na Revolução: 
Ao contrário da classe média, o proletariado russo assimilava do 
Ocidente uma ideologia que ainda não esgotara a própria vitalidade. 
A revolução de 1848 e a Comuna de Paris de 1871, juntamente com 
os escritos de Marx e Engels, mais a experiência política dos partidos 
da Segunda Internacional, criaram um corpo de doutrina socialista 
trabalhadora (HILL, 1977, p. 18). 
 
Por que ideias socialistas encontraram terreno fértil em um país que sequer 
havia passado pela industrialização de fato? Diferente da Inglaterra ou da França onde 
as demandas dos trabalhadores eram absorvidas pelas ideias reformistas dos liberais, 
na Rússia não vigorava essa tradição e muito menos havia esperança que houvesse 
mudanças por meio constitucionais. Desde o início, os líderes do movimento proletário 
acreditavam que era necessária uma ruptura violenta com o regime vigente e o que 
dizia o Manifesto Comunista, de Marx e Engels representava uma verdade para os 
trabalhadores (HILL, 1977). 
Um governo como o do czar, por um período de tempo, quando a extensão do 
país não permitia a comunicação pelo extenso território, serviu como elemento 
centralizador. Mas, com a invenção do telégrafo e do trem a vapor, a existência desse 
poder centralizador representado pelo czar começou a se mostrar obsoleto. Apesar 
disso, Nicolau II continuava insistindo em seu direito divino para governar e em recusar 
qualquer interferência em seu governo absolutista. 
Portanto, segundo Hill (1977, p. 21), a razão fundamental para a Revolução foi 
a “incompatibilidade entre o regime czarista e as exigências da civilização moderna”. A 
Grande Guerra veio acelerar a crise, pois os conflitos anteriores que acabaram 
deflagrando a Grande Guerra, como o embate com o Japão em 1905, trouxeram não 
apenas a derrota, mas também geraram insatisfação com um governo ineficiente e 
corrupto. O que se desenrolou na Revolução de 1905, que instituiu a Duma, uma espécie 
de assembleia legislativa, com representantes eleitos pelo povo. 
O ano de 1906 foi decisivo, na medida em que o czar prometera que nenhuma 
decisão seria tomada sem antes passar pela Duma de Estado. Contudo, Nicolau II 
recebeu um empréstimo voluptuoso de banqueiros franceses e a partir disso, acreditou 
que poderia ignorar a Duma (HILL, 1977). 
A guerra criou uma situação delicada para a Rússia e para o czar, na medida 
que as tropas avançavam elas ficavam sem os suprimentos básicos. O que colocava em 
cheque a eficiência do imperador em prosseguir no conflito e fazia com que os aliados, 
como a Inglaterra e a França apoiassem a Duma para pressionar o czar a liberar as forças 
improdutivas do país. Além disso, “em 1916 os juros e reservas da dívida do Estado 
ascendiam a muito mais que toda a receita, metade devia-se a bancos e governos 
estrangeiros, e a dívida externa aumentava rapidamente (HILL, 1977, p. 24). 
O jovem Vladimir I. Lenin, aos vinte cinco anos, no programa do Partido Social-
Democrático, até então inexistente, advogava pela união dos trabalhadores frente ao 
capitalismo. Como já dissemos, boa parte da industrialização do país era devida ao 
capital estrangeiro. Para Lênin os capitalistas encontraram na Rússia um governo 
solicito, uma massa de trabalhadores desorganizados e um padrão de vida reduzido, 
gerando ainda mais lucros. Mas isso estava prestes a mudar, já que o investimento 
estrangeiro e o desenvolvimento do capitalismo tardio, criava condições para uma 
revolução contra o czar. 
Por outro lado, o czar e as demais potências estavam prontos para uma 
revolução burguesa em território russo, de caráter parlamentarista, no entanto, não 
foi isso o que aconteceu: 
Mas os interesses dos capitalistas nativos e dos investidores estrangeiros 
coincidiram tarde. Por esse tempo o movimento proletário já evoluíra a um 
ponto em que estava apto a pôr de lado o frágil governo liberal, de tão 
pouca base social na Rússia quanto o governo czarista em seus dias 
derradeiros; e com o advento dos bolcheviques, em novembro de 1917, 
saíram da cena juntos o capitalismo russo e o estrangeiro (HILL, 1977, p. 25, 
grifo nosso). 
 
Para Lenin, a lei fundamental da revolução para a Revolução não era apenas 
que as classes oprimidas tomassem consciência de sua exploração e exigissem 
mudanças, mas também que os opressores não tivessem meios para viver como antes. 
Daí por diante era preciso criar uma classe trabalhadora consciente e capaz de dar a 
própria vida pela Revolução (HILL, 1977). 
Neste contexto, havia uma forte aliança entre o Estado e a Igreja Ortodoxa. O 
governo de Nicolau II lutava para que qualquer pensamento dissidente fosse calado. A 
Igreja, por sua vez, convocava confissões de clérigos e fiéis para colher informações para 
o Estado, além de promover conversões forçadas, perseguições às pessoas, chegando a 
afastar filhos de pais. Isso fazia com que aqueles que sofreram tais tipos de 
perseguições, logo enfileiram-se pela revolução e pela liberdade de crença (HILL, 
1977). 
Depois do estopim da guerra em 1914, em São Petersburgo, inflamou-se um 
movimento grevista, que clamava por maiores salários em vista da alta de preços. O 
salário subiu nos quatro anos que se seguiram, mas não acompanhou o aumento 
vertiginoso de preços. A guerra começou a ser vista como mero capricho do czar em 
face das milhares de vidas perdidas e da situação econômica delicada, enquanto que a 
Rússia somava derrotas nos campos de batalha. 
O cenário já estava crítico quando Rasputin – místico influente na família de 
Nicolau II – foi assassinado por um membro da Duma. Três meses depois, o governo 
autocrático foi derrubado “por um movimento de massa quase espontâneo, de 
operários e soldados, Petrogrado, movimento que ninguém jamais reivindicou o 
mérito de tê-lo organizado” (HILL, 1977, p. 33). A partir daí, foi organizado um Governo 
Provisório, com integrantes dos partidos liberais,que eram maioria na Duma, que 
prometeu: 
[...] liberdade de opinião, de imprensa, de reunião e de associação; direito 
de greve; extinção de todos os privilégios nacionais e de classe; organização 
de uma milícia popular com oficiais eleitos; eleição para a criação de órgãos 
regionais de governo e uma Assembléia Constituinte, por sufrágio 
universal, igualitário, direto e secreto (HILL, 1977, p. 33). 
 
Isso foi em março de 1917 e obteve a simpatia dos aliados da Rússia, que temiam 
que o pior acontecesse depois da saída do país da guerra. As massas clamavam por 
revolução e liberdade e para Hobsbawm (2005, p. 67) “o feito extraordinário de Lenin 
foi transformar essa incontrolável anárquica popular em poder bolchevique”. 
Com a notícia da abdicação do czar, os exilados que viviam na Suíça puderam 
voltar, dentre eles Lenin. Mas quem foi Lenin? Lenin nasceu em 1870 em Simbirsk e era 
filho de professores de classe média, intelectualmente esclarecidos. Teve uma 
educação normal primária, mas ao chegar na faculdade foi expulso por participar e 
encabeçar motins. Dali por diante, esteve na mira policial e teve negado diversos 
pedidos de ingressar em universidades. Só conseguiu fazê-lo em anos mais tarde e em 
1891 se formou como o primeiro da classe de Direito. Depois disso, Lenin exerceu a 
advocacia como assistente de um advogado liberal (HILL, 1977). 
Mais tarde, em 1887, esboçou a vontade de se tornar um revolucionário 
profissional a amigos. Já realizava leituras como O Capital de Marx e fazia parte de 
grupos de estudos marxistas. Em 1893 uniu-se a um grupo de marxistas que fazia 
contato com trabalhadores em fábricas. A esta altura, Lenin havia construído uma 
reputação com teórico, ele escrevia panfletos, que eram distribuídos aos operários. Em 
seguida, Lenin e seus companheiros foram presos, o líder bolchevique ficou um ano na 
cadeia e foi mandado para o exílio. Quando voltou à Rússia em 1917 foi aclamado 
chefe do Partido Bolchevique. 
Quando o governo do czar caiu, além do governo provisório, surgiu uma série 
de conselhos das mais variadas vertentes, os social-democratas bolcheviques e os 
social-revolucionários, os mencheviques. Contudo, as massas não sabiam muito bem o 
que significavam todos estes rótulos e não pretendiam estar sob o controle de qualquer 
tipo de autoridade. A reivindicação das massas pobres era o pão, dos operários 
melhores condições de salário e trabalho e da maioria da Rússia – 80% agrária – era a 
terra, assim como desejava-se o fim da guerra. Logo o slogan “Pão, paz e terra”, dos 
bolcheviques, ganhou popularidade. Vemos, portanto, que os bolcheviques se 
apropriaram de insatisfações populares e as incorporaram em seu programa. 
O Governo Provisório, por outro lado, não soube reconhecer o que levava a 
Rússia a não obedecer as leis e os decretos. As suas pautas como tentar estabelecer 
uma disciplina de trabalho, radicalizou os trabalhadores ainda mais; a sua tentativa de 
retornar a guerra deu lugar a deserção dos soldados. Enquanto isso, os bolchevistas 
cresciam em número e em dimensão, penetrando não apenas nas fábricas, mas também 
no exército, com isso, de acordo com Hobsbawm (1995, p. 68) “o Governo Provisório 
tornou-se cada vez mais irreal”. 
Os bolcheviques tomaram o poder, através daquela que ficou conhecida como 
Revolução de Outubro em 1917. A pergunta era se o bolchevismo era capaz de 
governar um país em face da anarquia, o próprio Lenin debruçou-se sobre o problema. 
Com a ideia central de “Todo poder aos sovietes”, que eram conselhos operários 
deliberativos, os bolcheviques continuaram no poder (HOBSBAWM, 1995). 
Hobsbawm (1995) argumenta que existem três motivos centrais, pelos quais a 
Rússia Soviética teria sobrevivido: 1) A existência de um partido único, o Partido 
Comunista, em caráter centralizado e organizado. 2) Se mostrou a única opção de 
governo viável, já que a Rússia não tinha uma longa tradição liberal. 3) Por fim, este 
governo permitiu ao campesinato tomar a terra. 
Com isso, a Revolução Russa pôs em xeque as aspirações de um globo 
uniformemente liberal. Representando para o mundo, um perigo e uma esperança, na 
medida em que governos liberais ocidentais temem revoltas similares em seus 
territórios e uma esperança para os socialistas de todo mundo. Seja por um socialismo de 
caráter mundial, como queria Lenin, que morreu cedo em 1922, ou por uma URSS 
centralizada e forte como apregoou Stálin, o seu sucessor, a Revolução marcou para 
sempre o mundo contemporâneo. 
 
2 A TENTAÇÃO TOTALITÁRIA: A ASCENSÃO DOS FASCISMOS 
 
 
 
O Fascismo foi produto típico do século XX, um movimento de massas 
antiesquerdista, antidemocrático e ultranacionalista tomou conta de partes da Europa 
e, até mesmo, influenciou outras regiões do mundo. A palavra fascismo remete a um 
feixe ou maço em termos italianos ou, até mesmo, de forma mais remota, ao termo 
latino fasces, que era um machado “cercado por um feixe de varas que era levado diante 
dos magistrados, nas procissões públicas romanas, para significar a autoridade e a 
unidade do Estado” (PAXTON, 2007, p. 14). 
Oficialmente, o fascismo nasceu em Milão, em um domingo, 23 de 
março de 1919. Naquela manhã, pouco mais de cem pessoas, entre 
elas veteranos de guerra, sindicalistas que haviam apoiado a guerra e 
intelectuais futuristas, além de alguns repórteres e um certo número 
de curiosos, encontram-se na sala de reuniões da Aliança Industrial e 
Comercial de Milão, cujas janelas se abriam para a Piazza San 
Sepolcro, para “declarar guerra ao socialismo (...) em razão deste ter-
se oposto ao nacionalismo”. Nessa ocasião, Mussolini chamou o seu 
movimento de Fasci di Combattimento, o que significa, 
aproximadamente, “fraternidades de combate” (PAXTON, 2007, p. 
16). 
 
Meses mais tarde, após este episódio, surgiu o programa fascista. Uma curiosa 
mistura entre nacionalismo e experimentos radicais, numa espécie de “nacional- 
socialismo”. Do lado nacionalista, o programa visava a expansão da Itália sobre a região 
dos Bálcãs, mas também pregava o sufrágio feminino, o voto aos dezoito anos de idade, 
uma nova constituição para a Itália, jornada de oito horas diárias, participação dos 
trabalhadores na administração das fábricas, confisco de determinados bens da Igreja e 
a expropriação parcial de todos os tipos de riqueza (PAXTON, 2007). 
O movimento comandado por Mussolini também se caracterizava pela violência e pelo 
caráter anti-intelectual. Enfim, estavam articulados veteranos de guerra, sindicalistas 
pró-guerra e os chamados “intelectuais futuristas”. Mas quem eram esses grupos, por 
que estavam ao lado de Mussolini na agenda fascista? Primeiro, os sindicalistas 
estiveram lado a lado a Mussolini para levar a Itália à Primeira Guerra em 1915, estes 
eram rivais do socialistas parlamentares, pois enquanto estes últimos lutavam por 
reformas pontuais que levariam a obsolescência do capitalismo, seguindo a linha 
marxista. Os sindicalistas, ao contrário, acreditavam que poderiam derrubar o 
capitalismo pela sua força de vontade, derrubando o capitalismo num só golpe. No 
contexto da entrada na Primeira Guerra Mundial, alguns sindicalistas acreditaram, junto 
com Mussolini, que o ingresso da Itália na Guerra faria com que essa se aproximasse a 
uma revolução social. Assim, nasceram os chamados “sindicalistas nacionais”. 
Os intelectuais futuristas, por sua vez, eram uma associação de jovens escritores 
e artistas que apoiavam os “Manifestos Futuristas” de Marinetti. Os seguidores de 
Marinetti se opunham ao legado histórico dos museus e bibliotecas e se voltavam para 
a exaltação da velocidade e da violência, enquanto elementos libertários. Outra 
corrente que apoiou Mussolini se manifestou sobre aqueles que acreditavam no 
segundo ressurgimento italiano e faziam duras críticas ao parlamentarismo, que deixara 
a Itália numa posição subalterna. Estes sonhavam com uma “Grande Itália” e umnovo 
Estado, com “líderes enérgicos, cidadãos motivados e a comunidade nacional unida 
como a Itália merecia” (PAXTON, 2007, p. 19). 
O fascismo irrompe na Itália não apenas com atos de violências para com jornais 
socialistas, mas também contra a “legalidade burguesa”, em nome de um suposto bem 
maior. Foi na Itália que o fascismo começou e recebeu o seu nome, mas ao mesmo 
tempo, em outras partes do mundo, nasciam movimentos nacionalistas, anti 
capitalistas, anti socialistas, que usavam de violência ativa contra os inimigos (PAXTON, 
2007). 
A retórica anticapitalista, porém, não durou muito, diferentemente da perseguição aos 
comunistas, que seguiu firme. Chegando ao poder, o governo fascista proibiu as 
greves, acabaram com os sindicatos independentes, reduziram o poder de compra do 
trabalhador e inflaram a indústria armamentista, para deleite dos patrões. A crítica do 
fascismo acerca do capitalismo em nada tinha a ver com a exploração, como faziam os 
comunistas. Eles criticavam a indiferença com a nação e a incapacidade de mobilizar 
indivíduos em volta dela. 
É importante salientar que no regime fascista a relação entre Estado e indivíduo 
foi remodelada. Há uma tentativa de fazer com que o interesse individual inexista e este 
só pode ganhar corpo à medida que corrobora com a coletividade, representada pelo 
Estado e seus símbolos. 
Em seu desenvolvimento máximo [o fascismo] redesenhou as 
fronteiras entre o público e o privado, reduzindo aquilo que antes era 
intocavelmente privado. Transformou a prática da cidadania, do gozo 
dos direitos e deveres constitucionais à participação em cerimônias de 
massa de afirmação e conformidade. Reformulou as relações entre 
indivíduo e coletividade, de forma a que um indivíduo não tivesse 
qualquer direito externo ao interesse comunitário (PAXTON, 2007, p. 
28). 
 
Nesta busca pelo controle total, há a ampliação dos poderes do executivo. Há de 
se considerar que o fascismo requer a figura de um grande líder, porém, é necessário, 
segundo Paxton (2007) desmistificar a noção de que este agia sozinho. Mussolini, assim 
como outros líderes fascistas, contavam com o suporte do judiciário, da polícia, do 
exército, bem como das elites conservadores para poder governar. Desse modo, atribuir 
a culpa essencialmente ao líder é errôneo, já que a ascensão do fascismo contou com 
apoio de parte da população e das instituições. 
Antes de se tornar um regime, que vigorou no período entre guerras, o Fascismo 
foi um movimento, depois transformou-se em partido, para logo em seguida se firmar 
enquanto regime. É importante dizer que, após a Primeira Guerra, vários países viram 
nascer movimentos de caráter totalitário, nem todos foram para frente. Nesse sentido, 
Mussolini foi pioneiro em conseguir êxito na implantação do fascismo. Colocava-se de 
início quase como um anti-partido, rejeitando o socialismo, o liberalismo, era também 
a soma de várias queixas heterogêneas de vários grupos sociais. No entanto, ao 
chegarem ao poder tiveram que abrir do espectro “anti”, tornando claras as suas 
prioridades (PAXTON, 2007). 
Para alcançar êxito na arena política era necessário mais do que 
esclarecer prioridades e tecer alianças. Era preciso também um novo 
estilo político que atraísse eleitores que haviam chegado à conclusão 
que a política havia-se tornado suja e fútil. Posar de “antipolítico” 
muitas vezes funcionava com pessoas cuja grande motivação política 
era o desprezo pela política (PAXTON, 2007, p. 106). 
 
Mas como os fascistas chegaram ao poder? Ao longo de 1922, os squadristi - 
grupo armado paramilitar absorvido pelos fascistas e conhecidos como Camisas Negras 
- passaram de saques e ataques às sedes socialistas jornais, para ações em cidades 
inteiras, tomando o poder local.Tomando várias cidades, a meta não poderia deixar 
Roma. Os Camisas negras tomaram pontos estratégicos de Roma como prédios públicos, 
estações ferroviárias e agências dos correios. O governo italiano não estava preparado 
para lidar com essa ofensiva, na verdade este era quase que sumariamente inexistente 
devido à um parlamento extremamente heterogêneo. Anteriormente, em 1921, o 
primeiro-ministro italiano não viu outra saída a não ser incluir os fascistas nas eleições 
de maio daquele ano (PAXTON, 2007). 
Os camisas negras, apesar das tentativas em os interceptar do governo italiano, 
chegaram a Roma, estavam maltrapilhos, com pouca água e comida. Nesse ínterim, 
Mussolini se apresenta ao monarca Vittorio Emmanuel III com uma proposta difícil: ou 
o governo italiano fazia frente aos camisas negras ao custo de considerável 
derramamento de sangue ou fazia de Mussolini o Chefe de Estado. O Rei escolhe a 
segunda opção. Os motivos para tal são de ordem especulativa. Dizia-se que o monarca 
fora aconselhado por um Marechal que caso ordenasse que as tropas incidissem sobre 
os fascistas corria-se o risco de que estes se juntassem aos camisas negras. Assim, 
Mussolini foi direcionado ao poder após este episódio que ficou conhecido como 
Marcha sobre Roma (PAXTON, 2007). 
Diante de uma sociedade fragmentada, bipolarizada, com problemas econômicos e 
políticos, os fascistas chegaram ao poder oferecendo um novo programa político, ainda 
que em sua prática continuassem com o apoio dos conservadores. De acordo com 
Paxton (2007), podemos destacar alguns pontos centrais acerca da retórica fascista: 
 
1. Noção de crise catastrófica, a qual as soluções tradicionais não podem 
resolver. 
2. Entendimento de que há uma primazia do grupo, na qual os deveres são 
superiores a qualquer direito, universais ou individuais. 
3. Crença de que o próprio grupo é sempre vítima, legitimando ações 
ilimitadas contra os supostos inimigos. 
4. Medo da decadência do grupo frente à concepções liberais 
individualistas, de influências estrangeiras ou mesmo de conflitos de 
classe, ou seja, qualquer agente que possa desintegrar o grupo. 
5. Necessidade da figura de um líder, sempre homem, capaz de sumarizar o 
destino histórico do grupo. 
6. Concepção de que os instintos do líder se sobrepõem a qualquer razão 
abstrata ou universal. 
7. Exaltação da violência como forma de êxito do grupo 
8. Visão de que o povo eleito deve dominar os demais, independente do 
que diga a lei humana, entendendo que o mais “forte” deve se sobressair 
aos demais. 
 
Tais características são próprias do fascismo, que se estendeu a outros países, 
como foi o caso da Alemanha de Hitler. É importante pontuar que o Nazismo alemão, 
conforme compreende Paxton (2007), faz parte do espectro Fascista, ainda que em seu 
seio possua características próprias, conforme veremos mais adiante. 
 
 
SAIBA MAIS 
 
 
Fascismo de esquerda? 
Além disso, nas acepções do campo da direita, há a manutenção da 
desigualdade, da hierarquia e da ordem. Considerando essas características, e também 
pelo fato que o regime Fascista nunca concretizou suas promessas anticapitalistas – 
muito pelo contrário – pode-se dizer que o movimento fascista aproximou-se de fato 
mais da direita do que da esquerda propriamente dita. 
Fonte: BERTONHA, 2013; PAXTON, 2007. 
 
 
#SAIBA MAIS
 
3 O NAZISMO DA ALEMANHA 
 
 
 
 
Como já pontuamos, alguns pesquisadores do Fascismo compreendem o caso 
italiano e a questão alemã como fenômenos próximos. Entretanto, outros autores como 
Vincent (1995), contribuem para a discussão ao pontuar diferenças centrais entre os 
regimes. Para ele, a diferença mais óbvia é a questão racial e a noção de espaço vital - 
Lebensraum - apregoada pela Alemanha nazista, enquanto que na Itália de Mussolini 
isso não chegou a ser uma questão relevante de fato. 
É de conhecimento geral que o Nazismo foi o responsável por um dos maiores 
massacres e perseguição ao povo judeu. Após o fim da Segunda Guerra, o mundo assistia 
estupefato aos julgamentos dos líderes nazistas, se perguntando como e porquê aqueles 
homens relativamente comuns se envolveramativamente no extermínio de pessoas. 
Um caso em particular, estudado por Arendt (2012) e Elias (1997), foi o julgamento de 
Eichmann, um burocrata do regime, responsável por deportar judeus para os campos 
de concentração. A simplicidade do homem, sua vida comum, levam a Arendt (2012) 
analisar que sobre o governo hitlerista, a sociedade estava calcada em uma “banalidade 
do mal”, conceito filosófico, situado na compreensão de que o pior mal é aquele que se 
reverbera no cotidiano. Esse conceito é fundamental para entender como o nazismo 
pôde se manter no poder e serve como ponto de inflexão para entender como um país 
referência na filosofia, industrializado e com pessoas “civilizadas” se entregou a tais 
níveis de barbárie. 
Antes de compreender como Hitler chegou ao poder, precisamos nos debruçar sobre 
os antecedentes históricos da Alemanha. No contexto de unificação do Estado alemão 
na segunda metade do século XIX, temos a figura de Bismarck, líder considerado forte e 
responsável por instaurar o Segundo Reich. Bismarck procurou germanizar as minorias, 
que estavam em território alemão, seja impondo a língua alemã nas escolas ou 
mesmo incentivando a ocupação destes territórios por alemães. Entretanto, os 
sucessores de Bismarck viram que vários problemas não haviam sido sanados. além da 
persistências de povos não-germânicos - o que era mal visto pela maioria da população 
germânica - os alemães se sentiam como país de segunda classe em comparação com 
os ingleses e franceses, donos das melhores tropas e melhores possessões ao redor do 
globo. Às vésperas da Primeira Guerra, a Alemanha já havia se militarizado e o 
sentimento nacionalista estava mais exacerbado do que nunca (EVANS, 2010). 
Outro ponto que merece atenção é a questão racial. Por que o sentimento 
antissemita se instalou no seio da sociedade alemã? Certamente, Hitler e seus 
apoiadores encontraram elementos históricos que permitiram que essa minoria - 
correspondente a quase 1% da população - fosse perseguida e o sentimento de ódio 
fosse legitimado. Evans (2010) explica que muitos judeus conseguiram certo êxito 
econômico ao se dedicarem a atividades que exigiam qualificação, ligadas à 
modernidade e à intelectualidade. Tal êxito fez com que muitos alemães ficassem 
ressentidos, já que dentre todas as minorias étnicas, os judeus foram os únicos que 
alcançaram um melhor status econômico. Em 1873 houve uma profunda crise 
econômica mundial que afetou muitos trabalhadores alemães que, em sua 
incompreensão sobre a estrutura que os afetava e inflados por jornais católicos e 
conservadores, logo culparam os judeus pela sua derrocada. 
O antissemitismo tradicional enfocava a religião não cristã dos judeus 
e obtinha seu poder política da sanção bíblica. O Novo Testamento 
culpava os judeus pela morte de Cristo, condenando-os à 
desaprovação eterna ao declarar que de bom grado haviam 
concordado em deixar o sangue de Cristo ser derramado sobre eles e 
seus descendentes. Como uma minoria não cristã em uma sociedade 
governada por crenças cristãs e instituições cristãs, os judeus eram 
alvos óbvios e fáceis de ódio popular em tempos de crise [...] (EVANS, 
2010, p. 36). 
 
É, portanto, de suma importância entender que mesmo antes de Hitler alançar 
o poder, já havia na sociedade alemã um discurso, alimentado desde o século XIX, 
antissemita estruturado. O antissemitismo levou a criação de associações, foi tópico de 
agendas políticas e procurou se legitimar na esfera pública. Ainda no século XIX uma 
parte dos judeus foram para os EUA, fugindo da perseguição, no entanto uma boa parte 
ficou residindo em guetos. Alguns agitadores políticos, diante do contexto da crise 
econômica, culparam os banqueiros judeus pela situação, movimentando massas ao 
eleger um culpado pelos problemas do país 
A perseguição aos judeus passou de uma interpretação bíblica, que os 
considerava assassinos de Cristo e se transformou em em uma questão racial. Via-se o 
povo germânico racialmente superior ao povo judaico. 
Tomando emprestadas as teorias da moda do racista francês conde 
Joseph Arthur de Gobineau, Marr contrastou os judeus não com os 
cristãos, mas com os alemães, insistindo que eram duas raças distintas. 
Os judeus, declarou ele, haviam adquirido o controle na luta racial e 
estavam virtualmente comandando o país; não era de espantar, pois, 
que os honestos artesãos e pequenos empresários alemães 
estivessem sofrendo. Marr foi adiante, inventando a palavra 
“antissemitismo” e, em 1879, fundando a Liga de Antissemitas, a 
primeira organização do mundo a ter essa palavra em seu nome. 
Dedicava-se, como dizia ele, a reduzir a influência judaica na vida 
alemã. Seu texto desferia uma nota apocalíptica pessimista. Em seu 
“Testamento”, ele proclamou: “A questão judaica é o eixo em torno 
do qual gira a roda da história do mundo”, indo adiante para registrar 
sombriamente sua visão: “Todo nosso desenvolvimento social, 
comercial e industrial é construído em cima de uma visão de mundo 
judaica” (EVANS, 2010, p. 37). 
 
 
Pequenos comerciantes, artesãos, lojistas e fazendeiros camponeses davam 
apoio à causa antissemita. Ainda que o partido antissemita tenha perdido boa parte de 
seu influência, alguns seus ideais foram incorporados em partidos maiores, tais como o 
Partido Conservador e o Partido de Centro. Entretanto, o ódio aos judeus não era 
exclusividade alemã, mas países como a França possuía movimentos antissemitas, bem 
como a Rússia. Para os contemporâneos, a Alemanha era o último lugar onde seria 
possível um massacre em massa dos judeus. Isso porque o antissemitismo era uma 
movimento marginal (EVANS, 2010). 
Na virada para o século XX uma obra que ficou bastante conhecida no país, 
intitulada “As fundações do século XIX”, publicada em 1900, sistematizou o 
antissemitismo:
 
Nessa obra etérea e mística, Chamberlain retratou a história em 
termos de uma luta pela supremacia entre as raças germânica e 
judaica, os dois únicos grupos raciais que conservavam a pureza 
original em um mundo de miscigenação. Contra os germânicos 
heróicos e cultos eram lançados os judeus cruéis e mecanicistas, que, 
desse modo, Chamberlain elevou a uma ameaça cósmica à sociedade 
humana, em vez de simplesmente desprezá-los como um grupo 
marginal ou inferior. Ligada à luta racial havia uma luta religiosa, e 
Chamberlain devotou um bocado de esforços a tentar provar que a 
cristandade era essencialmente germânica e que Jesus, a despeito de 
toda evidência, não havia sido judeu coisa nenhuma. A obra de 
Chamberlain impressionou muitos de seus leitores com o apelo à 
ciência para apoiar seus argumentos; sua contribuição mais 
importante a esse respeito foi fundir antissemitismo e racismo com 
darwinismo social (EVANS, 2010, p. 40, grifo nosso). 
 
 
As ideias de Darwin acerca da seleção natural e a sobrevivência dos mais aptos, 
influenciaram uma interpretação social dos modelos biológicos do cientista. Essa 
interpretação ficou conhecida como darwinismo social e via a luta pela sobrevivência 
como chave de explicação. Em 1900 antropólogo Ludwig Woltmann, sustentou que a 
raça germânica estava no ápice da evolução e que por isso estava apta a dominar o 
mundo. Entretanto, na visão dele, existiam outras raças que estavam impedindo o 
crescimento dos alemães. Outro pensador que discorreu sobre a questão racial, baseado 
no darwinismo social, foi Ploetz, este argumentou favoravelmente com relação à 
eugenia, ou seja, à eliminação dos considerados maculados e um estímulo aos 
considerados “fortes”, defendendo inclusive que uma equipe médica deveria assistir aos 
partos e definir se aquele ser humano estaria apto para viver ou se seria deixado para 
morrer. A ideia por trás disso era a eliminação dos mais fracos e o incentivo, até mesmo 
a força, para que os “fortes” procriassem mais, a fim de garantir a eficiência do Estado. 
Em pouco tempo, estas ideias foram difundidas na medicina,na assistência social e no 
direito (EVANS, 2010). 
Evans (2010) explica que o antissemitismo e a higiene racial foram os pilares do 
nazismo. Em um contexto pós Primeira Guerra, a Alemanha, derrotada, assinou o 
Tratado de Versalhes, que lhe impôs perda do poderio e extensão de suas forças 
militares, além dos embargos econômicos colocados pelos Aliados, perda de parte dos 
territórios coloniais e a aceitação da culpa exclusiva pelo conflito. O sentimento de 
humilhação após estas condições era visível em toda a Alemanha. 
 
Tudo isso foi recebido com horror incrédulo pela maioria dos alemães. 
O senso de ultraje e incredulidade que varreu as classes média e alta 
alemãs como uma onda de choque foi quase geral e teve impacto 
maciço também sobre muitos operários apoiadores dos social- 
democratas moderados. A força e o prestígio internacionais da 
Alemanha vinham em curso ascendente desde a unificação em 1871, 
de modo que a maioria dos alemães sentiu de repente que a Alemanha 
havia sido brutalmente expulsa da categoria das grandes potências e 
coberta com o que consideravam uma vergonha indevida. O Tratado 
de Versalhes foi condenado como uma paz ditada, imposta de forma 
unilateral sem possibilidade de negociação. O entusiasmo que muitos 
alemães de classe média haviam demonstrado pela guerra em 1914 
virou um ardente ressentimento quanto aos termos da paz quatro 
anos depois (EVANS, 2010, p. 60). 
 
Evans (2010) aponta que se não fosse o cenário caótico do pós-Guerra e após 
assinatura do Tratado de Versalhes, a figura de Hitler jamais teria relevância política. 
Hitler, que era austríaco, foi um artista frustrado, que não conseguiu ingressar na 
Academia Vienense de Artes, com a justificativa de que este ficaria melhor como 
arquiteto. Hitler mudou-se para a capital e passou a viver uma vida boêmia, vivendo da 
venda de pequenos quadros, na maior parte réplicas, e alojado em um abrigo para 
homens. Envolto no espírito de sua época, Hitler passou a ter contato com jornais 
antissemitas. Até esse ponto seu antissemitismo era abastrado, contudo, ganhou 
formas após o fim da Primeira Guerra. 
Em sua autobiografia, Minha Luta de 1925, fica claro que o seu ódio não era 
direcionado apenas aos judeus, mas também aos marxistas. Por vezes, Hitler associa a 
figura do judeu com o marxismo, colocando a responsabilidade do caos da nação nestes 
indivíduos. Além disso, Hitler conservava um desprezo pelo Estado e pela Lei, dirigindo 
suas críticas ao parlamentarismo, entendendo que apenas um líder forte poderia salvar 
o povo germânico. 
Depois de partir para a Alemanha, onde se sentia em casa, pois estava distante 
da cosmopolita cidade de Viena, Hitler ficou entusiasmado com a declaração da guerra 
em 1914. Ainda que não fosse alemão, foi recrutado para o conflito e sentiu-se alegre 
com a oportunidade de lutar pelo o que se acreditava. Atuou como mensageiro e foi 
promovido a cabo até sofrer um ferimento de guerra e precisar se afastar do fronte. 
Enquanto se recuperava ficou sabendo da derrota alemã e do armistício (EVANS, 2010). 
Cabe lembrar que após a derrota na guerra foi instaurada a República Weimar, 
de caráter democrático e com uma nova constituição. No entanto, estes tinham que 
lidar com as consequências da guerra. Já que o número de mortes por habitante 
ultrapassou a marca de qualquer outro país beligerante, deixando viúvas e filhos órfãos. 
Além disso, mais de dois milhões de soldados voltaram com ferimento permanentes e 
faziam pressão num Estado que já estava em uma complicada situação econômica. 
Assim, o pagamento de pensões, seguro-desempregos e outros custos previdenciários 
aumentou muito. Para tentar sair desta situação, o Estado passou a imprimir mais 
dinheiro, o que fez com que a inflação aumentasse vertiginosamente (EVANS, 2010). 
Sob a República Weimar, os judeus gozaram de certa estabilidade, podiam 
ocupar cargos públicos e os jornais mais vendidos pertenciam a judeus. De fato, estes 
apoiavam a República, garantindo os votos aos democratas, ainda que vissem o 
antissemitismo crescer. Depois da guerra, os judeus passaram a ser responsabilizados 
pelas imposições do Tratado de Versalhes, bem como acusados de se envolverem com 
o Partido Comunista, implantando a República (EVANS, 2010). 
Hiperinflação, desemprego, violência urbana assolavam a Alemanha pós- guerra. Além 
disso, havia a questão política, grande parte dos alemães estavam engajados 
politicamente, o que pode ser verificado na alta de participações nas eleições. Havia 
também a crença de que a sociedade alemã estava corrompida moralmente, isso tanto 
na direita como na esquerda, os quais ficavam chocados com o hedonismo dos jovens 
na capital e também com a luta das mulheres pelo sufrágio feminino - o qual foi 
conquistado depois de 1918 (EVANS, 2010). 
Considerando o contexto alemão do período pós guerra, nos debruçamos a 
pensar em algumas questões, dentre elas: como Hitler e o partido nazista chegaram ao 
poder? Evans (2010) aponta que Hitler foi produto das circunstâncias, entrou em 
contato com as ideias de Schonerer, que considerava que o crescimento do povo 
germânico tinha como obstáculo a mistura das raças. Ainda assim, Hitler não se 
considerava com o potencial de liderança, pelo menos até 1914, mas um ano após a 
derrota em 1919, lançou-se, pela influência do exército, em cursos de instrução política: 
“Os cursos que Hitler frequentou destinavam-se a arrancar quaisquer sentimentos 
socialistas remanescentes nas tropas regulares da Bavária e doutriná-las com as crenças 
de extrema direita” (EVANS, 2010, p. 119). Hitler assimilou de tal forma o que era 
ensinado, que logo em seguida foi chamado para ser instrutor, foi ali que descobriu sua 
habilidade com oratória, destacando-se por conseguir se comunicar com homens 
comuns, bem como destacava-se pelo veemente antissemitismo. 
Nesta altura, Hitler era considerado agente político do exército. Assim, foi 
convocado para averiguar do pequeno, até este momento, Partido dos Trabalhadores 
Alemães. Seu fundador Anton Drexler era contrário ao capital indevido, atribuía os 
males dos trabalhadores alemães aos judeus e se voltava contra o bolchevismo. Pouco 
depois, Hitler pediu para se filiar ao partido: 
Hitler, ainda encorajado pelos oficiais superiores do Exército, 
rapidamente tornou-se o orador de destaque do partido. Ele usou 
seu sucesso como base para instigar o partido a realizar reuniões 
públicas cada vez maiores, grande parte delas em cervejarias, 
anunciadas com antecedência por campanhas com cartazetes e 
frequentemente acompanhadas por cenas de desordem. No final de 
março de 1920, agora indispensável para o partido, decidiu com 
convicção que aquela seria sua futura atividade. A demagogia havia 
lhe restituído a identidade perdida com a derrota alemã. Deixou o 
Exército e se tornou um agitador político em turno integral (EVANS, 
2010, p. 120). 
 
Com isso, as reuniões do partido foram ficando cada vez maiores, com Hitler 
dizendo às massas exatamente o que queriam ouvir e também com uma linguagem 
simples e direta. O agitador político conquistava cada vez mais adeptos, reduzia os 
complexos problemas econômicos da Alemanha, as maquinações dos judeus. 
Considerava que os comerciantes judeus estavam jogando os preços para cima e, muito 
provavelmente, para enfatizar tal posição anticapitalista, o partido mudou de nome para 
Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, abreviado para “Nazi”. 
Contudo, Evans (2010) alerta que seria errôneo classificar, partindo do nome do partido, 
como uma forma de socialismo: 
É verdade, conforme alguns ressaltaram, que sua retórica 
frequentemente era igualitária, sublinhava a necessidade de colocar 
as necessidades comuns acima das necessidades do indivíduo, e 
muitas vezes declarava-se contrária aos grandes negócios e ao capital 
financeiro internacional. Também é famoso o fato de que o nazismo 
certa vez foi tachadode “socialismo dos tolos”. Mas, já de saída, Hitler 
declarou-se implacavelmente contrário à social-democracia e, de 
início em muito menor extensão, ao comunismo; afinal de contas, os 
“traidores de novembro”, que assinaram o armistício e mais tarde o 
Tratado de Versalhes, não foram absolutamente os comunistas, mas 
os social- democratas e seus aliados. Os “nacional-socialistas” 
queriam unir os dois campos políticos de esquerda e direita pelo fato 
de que, argumentavam eles, os judeus haviam manipulado a nação 
alemã. A base para tal seria a ideia de raça. Isso estava a anos-luz de 
distância da ideologia do socialismo, baseada nas classes. Em certos 
aspectos, o nazismo era uma contraideologia extrema ao socialismo, 
tomando emprestada muito de sua retórica no processo, desde a 
autoimagem como movimento em vez de partido, até o muito 
alardeado desprezo pela convenção burguesa e pela timidez 
conservadora (EVANS, 2010, p. 121). 
 
Ao trocar a classe, defendida pelos socialistas, por raça, assim como trocar a 
ditadura do proletariado pela ditadura do líder, o Partido Nacinal-socialista afastava-se 
da ideologia socialista. Ainda sim, usavam elementos do socialismo para atrair 
seguidores, um exemplo disso é a bandeira escolhida por Hitler, com um vermelho 
vibrante, cor do socialismo, a suástica em preto, que era o símbolo do nacionalismo 
racista, no centro um círculo branco. Essas cores fazem menção à bandeira oficial do 
império de Bismarck. 
 
No final de 1920 a retórica de Hitler contra o capitalismo judaico havia mudado 
de figura, colocando no lugar o ódio contra o marxismo. Ainda assim, Evans (2010, p. 
122) aponta que “o antibolchevismo de Hitler era produto de seu antissemitismo”. Já 
nesta época, Hitler pregava que os judeus jogavam a raça germânica uns contra os 
outros, dessa forma deveriam ser exterminados. 
Naquele ponto, o Partido Nazista havia conquistado vários adeptos e membros 
que foram peça-chave para a elaboração do programa nazista. Dentre os vinte e cinco 
pontos do programa estava o desejo de tornar a Alemanha maior, a revogação do 
Tratado de paz e pena de morte para especuladores, criminosos comuns e agiotas. Os 
judeus ficariam sem nenhum direito político e seriam considerados estrangeiros. Por 
fim, o programa previa a criação de um poder centralizado e a substituição do 
parlamento (EVANS, 2010). 
Com um programa de extrema direita e com domínio completo sobre o partido, 
Hitler começou sua campanha de propaganda, que deslanchou e logo partiu para a 
violência. Sob a anuência de Hitler, jovens nazistas atacavam adversários. Esses 
episódios eram recorrentes e o líder nazista foi ameaçado de extradição, no entanto, 
Hitler acabou preso por um mês e quando retornou estava novamente envolvido em 
outras brigas. Tais episódios só foram possíveis porque a área paramilitar estava cada 
vez mais forte no Partido. 
Com as notícias vindas da Itália acerca da Marcha sobre Roma em 1922, o Partido 
Nazista teve suas esperanças renovadas: 
 
 
O exemplo de Mussolini influenciou o Partido Nazista de várias 
maneiras, notadamente na adoção do título de “Líder” – Duce em 
italiano, Führer em alemão –, no final de 1922 e início de 1923, para 
denotar a autoridade inquestionável do homem à frente do 
movimento. O crescente culto da personalidade de Hitler no Partido 
Nazista, alimentado pelo precedente italiano, também ajudou a 
convencer o próprio Hitler de que era ele, e não algum personagem 
por vir, que estava destinado a liderar a Alemanha para um futuro 
renascimento nacional, uma convicção confirmada de modo indelével 
pelos eventos do outono de 1923. A essa altura, os nazistas também 
haviam começado a tomar emprestada dos fascistas italianos a 
saudação com o braço direito teso e estendido, com a qual 
cumprimentavam ritualmente seu líder em uma imitação das 
cerimônias da Roma imperial; o líder respondia erguendo a mão 
direita, com o cotovelo flexionando e a palma para cima, em um gesto 
de aceitação (EVANS, 2010, p. 127-128). 
 
Hitler passou a pensar que poderia fazer na Alemanha o mesmo que Mussolini 
fez na Itália. Com uma tentativa frustada de golpe em novembro de 1923, que acabou 
com cinco anos de prisão para Hitler e um pouco menos para seus companheiros, o líder 
nazista aproveitou o tempo em que esteve encarcerado para ler e também para escrever 
sua autobiografia, Mein Kampf ou Minha Luta. Neste livro ficou evidente que o conflito 
racial era central para Hitler, bem como a conquista do espaço vital, deixando claro que 
este desejava a revisão do Tratado de Versalhes (EVANS, 2010). 
Após a tentativa de golpe, tanto os nazistas como seus grupos paramilitares, 
foram colocados na clandestinidade, além disso, com o seu líder na cadeia, a tendência 
do partido foi se fragmentar. Mais tarde, solto graças a uma liminar, em 1925, Hitler 
refunda o Partido Nazista com uma faceta mais autoritária e centralizadora em torno de 
sua figura. Quando o adversário político de extrema direita saiu do jogo, Hitler ficou 
como um forte proponente deste espectro político. 
Foi neste período que Joseph Goebbels conheceu o partido nazista: 
 
Em breve, Goebbels tornou-se um organizador do Partido na 
Renânia. Aprimorou-se como orador eficiente, talvez o mais eficiente 
dos locutores nazistas com exceção de Hitler, lúcido, popular e rápido 
nas respostas aos apartes importunos. Começou a voltar seus 
talentos literários para o uso político em artigos para a imprensa 
nazista, dando um efeito pseudossocialista ao credo nazista. 
Goebbels enfim havia encontrado seu métier. Dentro de poucos 
meses, era um dos oradores nazistas mais populares da Renânia, 
atraindo a atenção de lideranças da regional do Partido e começando 
a desempenhar um papel significativo na decisão de sua política. 
Tanto quanto Gregor Strasser, Joseph Goebbels estava por trás do 
desafio do norte alemão à liderança do partido de Munique em 1925. 
Mas ele também logo começou a cair sob o fascínio de Hitler, 
entusiasmado por uma leitura de Minha luta (EVANS, 2010, p. 139-
140). 
 
O Partido Nazista cresceu vertiginosamente, especialmente entre os mais jovens, 
conquistando também espaço entre os agricultores do norte da Alemanha, 
extremamente insatisfeitos com a República Weimar. Com o apoio de eleitores da zona 
rural, os nazistas viram subir o número de cadeiras no parlamento. O Partido passava a 
se estruturar com organizações para mulheres, jovens e estudantes, bem como criava, 
com Himmler, a SS nazista como um grupo militar de elite dentro do partido. Além disso, 
cada vez mais crescia o culto ao líder. (EVANS, 2010) 
No contexto da Grande Depressão de 1929, o país sofria ainda mais com a alta 
do desemprego, fazendo com que a população desacreditasse nas instituições 
democráticas. Perto de 1930 a Alemanha beirava uma guerra civil, o que fazia com que 
os alemães procurassem um governo forte, capaz de fazer o país submergir da crise. Na 
época, Hindenburg, presidente da República, desejava instalar um governo estável, 
encabeçado por conservadores nacionalistas de direita, mas rejeitava a ideia de Hitler 
como chefe de governo. Entretanto, influenciado por apoiadores, Hindenburg muda de 
ideia, ao ser assegurado de que manteriam Hitler sob controle. Assim, em janeiro de 
1933 Hitler é levado ao cargo de chanceler. Logo mostrou que não poderia ser 
controlado, quando colocou suas tropas de elite para perseguir social-democratas e 
sindicalistas. Pouco tempo depois estavam instaurados os campos de concentração, 
onde seus inimigos eram torturados. Levaram poucos meses para que a República se 
transformasse em uma ditadura. As promessas e aspirações de Hitler para Alemanha 
também foram levadas a cabo. Em breve Hitler iria encabeçar um conflito que tomou 
proporções mundiais. 
 
4 SEGUNDA GUERRA MUNDIAL 
 
 
 
A Segunda Guerra foi um conflito militar de caráter mundial, que durou de 1939 a 1945. 
A Guerra envolveu todasas principais potências divididas em duas alianças: o Eixo e os 
Aliados. A seguir veremos como o conflito teve início e suas principais características, 
bem como descobriremos como a guerra chegou a seu fim. 
Conforme vimos na unidade anterior, a Alemanha de Hitler tinha claras 
pretensões de expandir seu território, com base na teoria de espaço vital, e também 
procurava fortalecer o seu poderio militar. Além disso, outros países tais como a Itália e 
Japão estavam dispostos a conquistar territórios. Em 1935 a Alemanha rompeu com os 
tratados de paz e começou a ressurgir como potência militar e naval, também saiu da 
Liga das Nações. Nesse mesmo ano, Mussolini invadiu a Etiópia, enquanto a Alemanha 
anexava a Renânia, com forte apoio da Itália (HOBSBAWM, 1995). 
Alemanha e Itália firmaram um acordo formal, ademais a Alemanha também 
fazia aliança com o Japão. Este último já havia invadido parte da China, em uma frente 
de batalha que durou até 1945. 
Em 1938, a Alemanha também achou que chegara a hora da 
conquista. A Áustria foi invadida e anexada em março, sem 
resistência militar, e, após várias ameaças, o acordo de Munique em 
outubro despedaçou a Tchecoslováquia e transferiu grandes partes 
dela para Hitler, mais uma vez pacificamente. O resto foi ocupado em 
março de 1939, encorajando a Itália, que não tinha demonstrado 
ambições imperiais por alguns meses, a ocupar a Albânia. Quase 
imediatamente uma crise polonesa, mais uma vez resultante de mais 
exigências territoriais alemãs, paralisou a Europa. Disso veio a guerra 
européia de 1939-41, que se tornou a Segunda Guerra Mundial 
(HOBSBAWM, 1995, p. 119). 
 
O que antes era um conflito Europeu transformou-se em um conflito em escala 
global. Eventos de caráter regional como a invasão da Itália à Etiópia (1935), a Guerra 
Civil Espanhola (1936-1939), a intervenção militar da China pelo Japão (1937) e a invasão 
japonesa à URSS (1938-1939), foram essenciais para entender como a guerra escalou 
internacionalmente. Neste contexto, os países pautados pela democracia liberal 
sofreram com a crise ideológica, fazendo pouca ou nenhuma frente aos países fascistas, 
enquanto estes emergiam. 
No início de setembro de 1939 a Alemanha, com o apoio da Eslováquia, invadiu 
a Polônia. Enquanto que França e Reino Unido, com os seus respectivos domínios, 
declararam guerra à Alemanha, bem como impuseram um bloqueio naval, que tinha 
como objetivo enfraquecer a Alemanha economicamente. Este pode ser considerado o 
estopim da guerra. Havia também o desejo de fazer uma frente ampla contra o fascismo, 
tratando de unir todos os países que ambicionavam o fim das investidas de Alemanha, 
Itália e Japão. Nesse sentido, a Liga das nações oferecia um bom suporte para que as 
alianças contra o Eixo se materializassem (HOBSBAWM, 1995). 
A organização de uma frente contra o fascismo foi objeto de discussão, já que os 
países liberais e democráticos tinham várias reticências em se aliar ao regime comunista 
da URSS. Por um lado, entendia-se como fundamental a participação da URSS na guerra, 
por outro lado os soviéticos tinham ciência que não conseguiriam lidar com o Eixo 
sozinhos. Por isso, Stálin foi favorável, posteriormente, à aliança com as potências 
ocidentais. Além de que, conforme o nazismo avançava, tornou-se urgente o pacto dos 
demais países (HOBSBAWM, 1995). 
As democracias ocidentais não desejavam ingressar na Guerra, visto que para 
muitos, como a Grã-Bretanha, manter os status quo vigente desde o conflito de 1914 
era virtualmente impossível. A Grã-Bretanha não tinha mais a força naval de outrora e 
também ficava claro que a Segunda Guerra destruiria a economia e seu império. 
Contudo, acordo e negociação eram impossíveis com a Alemanha de 
Hitler, porque os objetivos políticos do nacional-socialismo eram 
irracionais e ilimitados. Expansão e agressão faziam parte do sistema, 
e, a menos que se aceitasse de antemão a dominação alemã, ou seja 
se preferisse não resistir ao avanço nazista, a guerra era inevitável, 
provavelmente mais cedo do que mais tarde (HOBSBAWM, 1995, p. 
125). 
Ainda, nesta época, alguns países ocidentais prezavam por uma política de 
apaziguamento. Porém, ela se mostrou ineficaz, pois o nazi-fascismo não estava 
disposto a ceder ou fazer qualquer tipo de acordo. A partir disso, podemos entender o 
desenvolvimento da guerra em três fases distintas. A primeira é o poderio alemão, 
juntamente com as forças do Eixo, conquistaram partes da Tchecoslováquia - logo em 
seguida todo o território. Mais tarde, em maio de 1940 a Alemanha invadiu a França, 
Luxemburgo, os Países Baixos e a Bélgica. Logo depois, em junho, a Itália também 
invadiu a França, dessa maneira o país Aliado não teve outra escolha se não se render, 
logo o país foi dividido em zonas de influência pelos alemães e italianos. 
 
Paralelamente, contingentes britânicos no país foram cercados pelas 
forças alemãs no porto de Dunquerque. Estes seriam em grande 
parte socorridos por um bem-sucedido programa de resgate 
capitaneado por Winston Churchill, o qual assumira o poder alguns 
dias antes, vindo a se tornar símbolo da última resistência liberal em 
luta aberta contra os nazistas após a débacle francesa (SCHUSTER, 
2015, p. 263). 
 
A segunda fase, marcada pela contenção do Eixo, se iniciou em 1941, quando 
Hitler rompeu o acordo firmado com a URSS de 1939 e invadiu a URSS. Nesse ponto, a 
Alemanha dominava quase três quartos da Europa, o que viabilizou sua política de 
extermínio, chamada “solução final”, contra judeus e grupos considerados inferiores. 
No entanto, no eixo do pacífico, as tensões começaram a se multiplicar entre os EUA e 
o Japão. Cabe lembrar que até 1941 os EUA tinham declarado neutralidade, ainda que 
abastecessem os países da base Aliada. Já o Japão, que fez uma aliança com o Eixo, tinha 
pretensões expansionistas, sobretudo no sudoeste asiático, explorando todos os 
recursos que a região poderia oferecer (SCHUSTER, 2015). 
Para que sua política de expansão fosse concretizada, o Japão deveria debilitar a 
marinha estadunidense, dessa forma, lançou-se contra Pearl Harbor, no Havaí, enviando 
kamikazes para destruir a região. Depois desse episódio, os EUA lançaram-se na guerra 
ao lado dos aliados. Além disso, havia outros interesses em jogo, os EUA já haviam 
assinado com a Inglaterra um pacto contrário aos nazistas e fascistas. Estes fatores 
precipitaram a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra (SCHUSTER, 2015). 
Com a ajuda dos EUA, o Japão foi derrotado pelas forças aéreas e navais. 
Concomitantemente, a Inglaterra derrotou os nazistas na batalha de El Alamein. Em 
1943, os nazistas tiveram outra derrota significativa, contra os soviéticos, na conhecida 
batalha de Stalingrado. Logo as forças Aliadas desembarcaram na Itália, o que contribuiu 
decisivamente para a queda de Mussolini.(SCHUSTER, 2015). 
A esta altura, em toda a Europa, os movimentos de resistência em 
territórios ocupados, municiados por equipamentos infiltrados pelos 
Aliados, avançam no sentido de desestruturar o domínio totalitário, 
principalmente a partir de atos de sabotagem. Desde 1943, a 
Alemanha já havia sido submetida a bombardeios maciços, causando 
um colapso moral que contribuía para este tipo de ação. No front 
soviético, o Exército Vermelho avançou decisivamente sobre as 
posições alemãs, enquanto no Pacífico a reconquista americana de 
ilhas sob o domínio japonês impôs os limites materiais do esforço de 
guerra nipônico (SCHUSTER, 2015, p. 264). 
 
Na terceira fase do conflito, a derrocada do Eixo começa a ficar evidente e o fim 
da guerra avizinhava-se. O dia D, como ficou conhecido, se caracterizou pela Operação 
Fortitude, a qual pegou os nazistas de surpresa na Normandia. Esse episódio debilitou 
muito as forças armadas hitleristas, no entanto, Hitler fez mais uma ofensiva, porém as 
tropas anglo-americanas já estavam em território parisiense. 
Reunidos em Potsdam (julhode 1945), os Aliados confirmaram as 
diretrizes em torno da vitória total. Logo em seguida, a execução de 
Mussolini (28 de abril), seguida do suicídio de Hitler, dois dias mais 
tarde, colocou um termo em qualquer possibilidade de reação 
nazifascista. Em 8 de maio, a capitulação alemã encerrou 
definitivamente a campanha do Oeste. Enquanto a guerra continuava 
no Pacífico sem sinais de encerramento breve, tal o ímpeto da 
resistência japonesa, o Presidente Harry Truman decidiu utilizar a 
bomba atômica em Hiroshima (6 de agosto) e Nagasaki (9 de agosto). 
No dia 2 de setembro, o General MacArthur recebeu a capitulação 
incondicional dos japoneses, encerrando seis anos de conflito 
(SCHUSTER, 2015, p. 265). 
 
 
Com um desfecho trágico, com as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, 
ainda não havia se dimensionado as consequências da Guerra. Esse não foi um conflito 
comum, mas sim uma guerra de âmbito internacional e também de caráter total, ou 
seja, não estava em jogo apenas a disputa militar. Civis e militares estiveram envolvidos 
na dinâmica da guerra. Logo, as consequências da guerra seriam vistas e um novo 
capítulo para novas disputas se abriram. 
 
 
 
5 GUERRA FRIA 
 
 
 
 
Conforme vimos no tópico anterior, a URSS lutou ao lado dos Aliados, ainda que 
nesta aliança, as posições ideológicas fossem diametralmente opostas. Após o fim do 
conflito, a Europa, em especial, estava em frangalhos. A Grã-Bretanha, a senhora dos 
mares, já não tinha capacidade de organizar e liderar as nações democráticas e liberais. 
Logo, o foco seguiria para os EUA, que já implementavam políticas imperialistas e saiu 
da Guerra quase ileso. Assim, começaria um embate ideológico entre as potências 
ocidentais e o socialismo da União Soviética. 
Logo após a Segunda Guerra, o globo se dividiu em duas zonas de influência, uma 
sobre o controle dos EUA na parte ocidental e a URSS com uma parte oriental. Ainda 
assim os países não estavam dispostos a entrar num embate direto pelas possessões ao 
redor globo, mas sim incitavam e financiavam conflitos regionais. O fato de que as duas 
potências não estavam dispostas a se enfrentar diretamente constituiu-se em uma 
característica peculiar da chamada Guerra Fria (HOBSBAWM, 1995). 
O mundo vivia sob a tensão de uma nova guerra eclodir. Mesmo após a Segunda 
Guerra, o ocidental considerava que não estava assegurado capitalismo mundial e o 
liberalismo. Isso porque a Europa estava destruída e o perigo de uma revolução social 
se aproximava. Os países, não apenas da Europa, como do chamado terceiro mundo, 
obstinavam pelo apoio econômico das duas grandes potências. Ainda que a URSS 
também estivesse destruída economicamente, além de enfrentar convulsões sociais nas 
suas zonas de influência, o país se via na defensiva frente aos EUA que prosperavam e 
estavam dispostos a ter sob seu domínio regiões que até então estavam nas mãos da 
URSS. Na maioria dos casos, o país que buscava ajuda nas grandes potências, não eram 
necessariamente fiéis ao programa ideológico da URSS ou dos EUA, fazendo com que 
estes ora estavam sob a influência soviética, ora sob o domínio estadunidense 
(HOBSBAWM, 1995). 
 
Contudo, dessa situação surgiu uma política de confronto dos dois 
lados. A URSS, consciente da precariedade e insegurança de sua 
posição, via-se diante do poder mundial dos EUA, conscientes da 
precariedade e insegurança da Europa Central e Ocidental e do futuro 
incerto de grande parte da Ásia. O confronto provavelmente teria 
surgido mesmo sem ideologia (HOBSBAWM, 1995, p. 183). 
 
De todo modo, os EUA temiam para o futuro uma escalada soviética e a URSS 
receava a hegemonia dos estadunidenses. O conflito ideológico, a criação de um inimigo 
comum - comunismo - eram de certa forma muito úteis para os EUA no que diz respeito 
a sua política eleitoral, pois fomentava as massas, já que “o anticomunismo era genuína 
e visceralmente popular num país construído sobre o individualismo e a empresa 
privada” (HOBSBAWM, 1995, p. 185). 
Ademais, construiu-se uma visão de que os EUA, dito defensor da liberdade, se 
defendia de uma URSS agressiva. Essa visão é ortodoxa, construída logo no início do 
conflito, que entendia que era uma luta do bem contra o mal, na qual o propósito dos 
EUA seria garantir a vitalidade da sociedade livre, enquanto a URSS pretendia abraçar o 
mundo todo, ao difundir o comunismo. 
Uma das características mais marcantes da Guerra Fria foi a corrida 
armamentista de ambos os lados, mesmo em tempos de paz. Ainda que os EUA saíssem 
na frente neste quesito, já que a URSS estava dizimada no pós- guerra. Noam Chomsky 
(2003) esclarece que a política de armamento dos EUA, cujo orçamento era o dobro da 
URSS, tinha como objetivo também defender-se de uma série de inimigos criados após 
a segunda guerra mundial. Os altos gastos com orçamento militar deveria encontrar na 
opinião pública uma justificativa, assim o instrumento da propaganda foi extremamente 
útil para os Estados Unidos, para assim mobilizar as massas em torno do propósito do 
país. 
Depois da Grande Depressão de 1929, o sistema capitalista foi colocado à prova, de 
modo que depois da Guerra ficava claro que o braço do Estado era extremamente 
importante. Além disso, no pós-segunda guerra, ficava claro para os EUA, que eles 
deveriam liderar o mundo e dominar as partes mais remotas do globo. A dominação 
política e militar no chamado Terceiro Mundo foi manifestada tanto por URSS como por 
parte dos EUA: 
O apoio soviético a alvos da subversão norte-americana e de seus 
ataques granjeou um certo grau de influência para a URSS em boa 
parte do Terceiro Mundo, ainda que sua natureza fosse tênue. 
Quanto aos Estados Unidos, sua intervenção no Terceiro Mundo, 
sobretudo nos primeiros anos, foi impulsionada, em parte, pela meta 
de assegurar uma região atrasada para as economias capitalistas de 
Estado que o país esperava reconstruir na Europa Ocidental e no 
Japão. Ao mesmo tempo, o conflito da Guerra Fria ajudou a manter a 
influência dos EUA sobre seus aliados industrializados e a refrear a 
política independente, os movimentos trabalhistas e outras formas 
de ativismo popular nessas nações (CHOMSKY, 2003, p. 39). 
 
A partir da citação acima conseguimos entender como funcionava a dinâmica da 
Guerra Fria. Dois polos disputavam zonas de influência ao redor do mundo, ao mesmo 
tempo que tentavam legitimar sua posição política, econômica e ideológica frente aos 
aliados. A criação da OTAN, em 1949 pelos EUA, (Organização do Tratado do Atlântico 
Norte), aliança intergovernamental militar, foi uma inciativa para “encurralar seus 
aliados e afastar o neutralismo, além de refrear o russos” (CHOMSKY, 2003, p. 39). Em 
resposta os soviéticos criaram a frente oriental, o Pacto de Varsóvia, iniciativa que unia 
a URSS e os países do leste europeu, criando um acordo de ajuda mútua. 
A Guerra Fria foi marcada por diferentes fases, a primeira delas ocorreu entre 
1947 e 1953. Foi um período de estabelecimento dos blocos e de tensão máxima, 
marcado pela Crise de Berlim e pela Guerra na Coréia. Após o fim da Segunda Guerra, a 
Alemanha foi dividida em Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental, assim como a sua 
capital, Berlim, ficou dividida em duas regiões, uma sob influência do bloco capitalista e 
a outra sob a tutela do bloco comunistas. As tensões começaram a escalar quando o 
bloco capitalista, encabeçado pelos EUA, Inglaterra e França criaram a República Federal 
Alemã, em resposta a URSS fechou as saídas ferroviárias e rodoviárias para Berlim 
Ocidental. Mais tarde seria construído o Muro de Berlim que circundava toda a Berlim 
Ocidental.
Figura 2 - Divisão da Alemanha 
 
Fonte: Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/alemanha-oriental/. 
Acesso em: 09 dez. 2021. 
 
Já a Guerra da Coréia foi resultado da derrota do Japão na Segunda 
Guerra, já que o Japão dominava militarmente essa região. Depoisda guerra, 
esse território foi dividido entre comunistas ao norte e capitalistas ao sul. Em 
1950 os soviéticos se lançaram contra o sul e então os EUA intervieram, 
prolongando o conflito até 1953, quando a paz foi firmada e as fronteiras foram 
mantidas. 
Os principais eventos que marcaram a segunda fase da Guerra Fria, entre 1953 e 
1977 foram a construção do Muro de Berlim, a crise dos mísseis em Cuba e a 
Guerra do Vietnã. Em 1961 a URSS construiu um muro que circundava Berlim 
Ocidental, no mapa acima é possível ver que a capital ficava na parte oriental do 
país, esse muro tinha como objetivo evitar que houvesse acesso ao lado ocidental, 
por isso, era fortemente vigiado. A crise dos mísseis, por vez, foi um evento, 
iniciado em 1962, no qual os EUA descobriram que a URSS estava sendo 
instalados mísseis soviéticos em Cuba apontados para os Estados Unidos. De 
imediato os EUA decretou o bloqueio aeronaval do país. A situação se agravou e o 
risco de um conflito nuclear era grande, foi quando os soviéticos decidiram por um 
https://www.todamateria.com.br/alemanha-oriental/
https://www.todamateria.com.br/alemanha-oriental/
acordo e desmanchar a base nuclear. Após a Segunda Guerra, o Vietnã ficou 
dividido em duas esferas de influência: norte comunista e o sul capitalista, por 
volta de 1956, o país fez um plebiscito no qual se decidia reunificar o país e o 
norte comunista saia na frente. Temendo a vitória dos socialistas, os EUA 
interferiram no pleito e decidiram apoiar o golpe direitista. Isso causou uma série 
de conflitos entre o sul e o norte, foi quando os EUA entrou definitivamente na 
guerra, mas retirou-se em 1973 por conta da pressão da opinião pública. 
Na terceira e última fase da Guerra Fria, vemos uma disputa por zonas de 
influência na Ásia e na África. Tanto Estados Unidos como a União Soviética 
aproveitavam de instabilidades políticas nestas regiões para poder exercer seu 
domínio em tais regiões. É importante dizer que, já na década de 1980 o regime 
soviético, apesar dos avanços militares e espaciais, sofriam de um desgaste junto à 
população, ou seja, já não tinham a legitimidade de outrora. Foi quando Mikhail 
Gorbatchev assumiu o poder em 1985 e deu entrada em dois planos: glasnost e a 
perestroika. A glasnost significava transparência e instituiu a liberdade de 
imprensa, implementação do voto secreto e autonomia dos países sob a sua 
influência. Já a perestroika, também chamada de reestruturação, visava a 
modernização da economia, estabelecendo relações internacionais, de abertura 
da economia. 
Outro evento importante foi a queda do muro de Berlim, que dividiu a 
cidade por décadas. Enquanto o lado ocidental de Berlim deslanchou, graças ao 
Plano Marshall e o ao apoio da Otan, o lado oriental permaneceu obsoleto e 
atrasado, logo surgiram manifestações que clamavam por liberdade de ir e vir, 
gerando pressão no governo local, que a pouco tinha decidido por liberar as 
restrições de viagem. Foi quando, em 1989, um grande número de pessoas 
decidiu derrubar o muro, sendo um marco para o fim da divisão do país. Logo 
depois, em 1991, eclodiram protestos na URSS pedindo o fim do monopólio do 
Partido Comunista, assim como países do leste europeu pediam por autonomia, 
assim o inevitável aconteceu e a URSS foi desintegrada. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Durante esta unidade, vimos que o século XX foi marcado por eventos notáveis 
e que refletem em nossa realidade contemporânea. O capitalismo foi colocado à prova 
enquanto sistema econômico e social. Esperamos que você possa ter compreendido as 
principais chaves de explicação para este período. 
No primeiro tópico vimos a Primeira Guerra e a Revolução Russa e suas principais 
características. Vimos que a Primeira Guerra foi fruto de um crescente nacionalismo e 
imperialismo por parte dos países que ingressaram no conflito. Já na Rússia, 
contemporânea à Guerra, observamos como se deu a queda do czar e a implantação de 
um sistema socialista. 
Em seguida, no contexto Pós-Primeira Guerra, veremos a ascensão do Fascismo, 
em especial no caso italiano. Situamos o fenômeno como resultado da derrota de países 
como a Itália e Alemanha no conflito. Assim, vemos o crescimento vertiginoso da 
extrema direita e de movimentos nacionalistas, que deram origem ao fascismo italiano 
e o nazismo alemão. O caso alemão, conforme analisamos, também foi fruto de uma 
crise econômica, que posteriormente gerou uma crise social, de perseguição aos judeus 
e posteriormente levou ao holocausto. Desse modo, vimos como se deu a escalada de 
Hitler ao poder. 
Inerente a isso, no nosso quarto tópico, observamos como a doutrina hitlerista 
de “espaço vital”, dentre outros aspectos, foram o estopim para a Segunda Guerra 
Mundial. Essa guerra teve como característica a guerra total, na qual forças civis e 
militares são dispostas para o propósito de guerra. Por fim, no último tópico discutimos 
acerca da Guerra Fria e seus desdobramentos que até hoje interferem na geopolítica do 
globo. 
 
LIVRO 
 
 
 
• Título: O Terceiro Reich no poder 
 
• Autor: Richard J. Evans. 
 
• Editora: Planeta. 
 
• Sinopse: Como foi que os nazistas conquistaram o coração e a mente dos cidadãos 
alemães, distorceram a ciência e a cultura e colocaram o país no caminho de outra 
terrível guerra? Neste segundo volume da trilogia que conta a história do Terceiro Reich, 
o renomado historiador Richard J. Evans traz o relato definitivo do desenvolvimento da 
ditadura de Hitler entre 1933 e 1939, e mostra a impressionante nuvem de terror que 
se aproximou da Alemanha depois de os nazistas tomarem o poder. 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
 
 
• Título: Adeus Lênin 
 
• Ano: 2003. 
 
• Sinopse: Esse filme retrata os momentos finais da Guerra Fria na Alemanha. O 
desmantelamento da União Soviética, a queda do muro de Berlim e a reintegração das 
Alemanhas Oriental e Ocidental. O filme ganha pontos ao retratar esse período de 
tensão de uma maneira mais leve e ao focar no cotidiano das pessoas que viveram nesse 
período. 
REFERÊNCIAS 
 
 
ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. 
 
 
BERTONHA, João F. Fascismo de esquerda? Sobre a necessidade de revisão conceitual 
de um termo perigoso. Revista Espaço Acadêmico, Maringá, v. 12, n. 142, p. 69-76, 
2013. 
 
CHOMSKY, N. Contendo a democracia. Rio de Janeiro: Record, 2003. 
 
ELIAS, N. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX. 
Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1997. 
 
EVANS, R. A chegada do terceiro Reich. São Paulo: Planeta, 2010. 
 
HILL, C. Lênin e a Revolução Russa. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. 
 
HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. trad. Marcos 
Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 
 
PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. trad. Patrícia Zimbres e Paula Zimbres. 
São Paulo: Paz e Terra, 2007. 
 
SCHUSTER, M. Segunda Guerra Mundial. In: SILVA, F. et al. Enciclopédia de guerras e 
revoluções. Volume 2. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. 
 
THOMSON, D. Pequena História do Mundo Contemporâneo. Rio de Janeiro: Editora 
Zahar, 1976. 
 
VINCENT, A. Ideologias políticas modernas. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 1995. 
 
 
 
UNIDADE III 
 
DA GUERRA FRIA À QUEDA DO MURO DE BERLIM 
 
 
Professora Mestra Maria Helena Azevedo Ferreira 
 
 
Plano de Estudo: 
 
• Capitalismo x socialismo: A Guerra fria e a ameaça nuclear; 
 
• Os trintas gloriosos; 
 
• A queda do Muro e além; 
 
• O mundo pós 1990. 
 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
• Conceituar e contextualizar acerca da Guerra Fria; 
 
• Compreender os conceitos de capitalismo e socialismo; 
 
• Entender como a Guerra Fria transformou o mundo.
 
INTRODUÇÃO 
 
Prezado (a) aluno (a), nesta unidade, vamos continuar com a história 
contemporânea. Nos tópicos a seguir, entenderemos como as ideias de capitalismo e 
socialismo fizeram o mundo entrartais como China, Japão, Pérsia, dentre outros. Por isso, 
para Hobsbawm “Os imperadores e impérios eram antigos, mas o imperialismo era 
novíssimo” (HOBSBAWM, 2008, p. 92). 
Esse período é conhecido por um imperialismo colonial, com exceção da Europa 
e das Américas, o mundo inteiro foi dividido e colocado sob governo direto ou 
dominação indireta, sobretudo, por parte de países como a Grã-Bretanha, a Alemanha, 
a França, a Itália, a Holanda, os Estados Unidos, a Bélgica e o Japão. De uma maneira 
geral, a África e o Pacífico foram tomadas: 
Não restou qualquer Estado independente no Pacífico, então 
totalmente distribuído entre britânicos, franceses, alemães, 
holandeses, norte-americanos e – ainda em escala modesta – 
japoneses. Por volta de 1914, a África pertencia inteiramente 
aos impérios britânico, francês, alemão, belga, português e, 
marginalmente, espanhol (HOBSBAWM, 2008, p. 89). 
 
 
 
Além da conquista formal desses territórios, os países imperialistas também 
exerciam pressão política e econômica sobre a América Latina, mas nenhuma potência 
ousava desafiar os Estados Unidos, que desde a Doutrina Monroe de 1823, mostrava 
hostilidade a qualquer tipo de colonização em seu país (HOBSBAWM, 2008). 
Assim, observamos uma expansão sem medidas, na qual o capitalismo cumpre 
papel central. O empresário britânico, Cecil Rhodes, expressou bem a mentalidade da 
época; olhou o céu, deprimiu-se e disse “essas estrelas (...) esses vastos mundos que 
nunca poderemos atingir. Se eu pudesse anexaria os planetas” (RHODES apud ARENDT, 
1989, p. 154). Hobsbawm (2008) considera o imperialismo como uma nova etapa do 
capitalismo, que preconizava a divisão do mundo entre as grandes potências 
capitalistas, assim não há como negar o aspecto econômico do imperialismo. 
Então, o fato maior do século XIX é a criação de uma economia global 
única, que atinge progressivamente as mais remotas paragens do 
mundo, uma rede cada vez mais densa de transações econômicas, 
comunicações e movimentos de bem, dinheiro e pessoas ligando os 
países desenvolvidos entre si e ao mundo não desenvolvido 
(HOBSBAWM, 2008, p. 95). 
 
Na visão de Hobsbawm, o imperialismo inaugurou um novo capítulo no cenário 
mundial. O volume de exportações dos países imperialistas dobrou neste período, 
quilômetros e mais quilômetros de vias férreas foram construídas, colocando em jogo 
também a economia dos países periféricos. Havia, portanto, uma exploração dos nativos 
em função dos insumos vindos desses países, é o caso da borracha, exclusiva de clima 
tropicais, retirada no Congo e na Amazônia, do estanho da Ásia e da América do Sul, dos 
campos de petróleo do Oriente Médio, das jazidas de ouro e diamante da África do Sul 
– que é o maior produtor de ouro do mundo. 
Insumos alimentícios também eram expropriados dos países dominados, 
deixando um legado para vários países, hoje subdesenvolvidos, em exportar na grande 
maioria produtos primários, dando origem ao termo “República das bananas” 
(HOBSBAWM, 2008). O Brasil é um exemplo de país, o qual grande parte das 
exportações são de commodities, passando por pouco ou nenhum processo industrial e 
que sempre foram baseados nas plantations. Modelos como o do Brasil sustentaram a 
economia imperialista. 
 
[...] transformaram o resto do mundo, na medida em que o tornara 
um complexo de territórios coloniais e semicoloniais que 
crescentemente evoluíram em produtores especializados de um ou 
dois produtos primários de exportação para o mercado mundial, de 
cujo os caprichos eram totalmente dependentes (HOBSBAWM, 2008, 
p. 98). 
 
 
Hobsbawm (2008) justifica a expansão imperialista dizendo que as economias 
globais sentiram, ao mesmo tempo, a necessidade de expansão de seus mercados. Já 
Arendt (1989) considera que o principal evento do imperialismo foi a emancipação da 
burguesia, que cresceu junto e dentro do Estado, delegando a este último as suas 
decisões políticas. Com isso, podemos compreender que a burguesia instrumentalizou 
o Estado para fazer valer os seus interesses por novos mercados. A expansão 
continuada, característica central do imperialismo, voltava-se, para o crescimento da 
produção industrial, tanto dos bens a serem produzidos, quanto consumidos. 
O imperialismo surgiu quando a classe detentora da produção 
capitalista rejeitou as fronteiras nacionais como barreira à expansão 
econômica: como não desejava abandonar o sistema capitalista, 
cuja a lei básica é o constante crescimento econômico, a burguesia 
tinha de impor essa lei aos governo, para que a expansão se 
tornasse o objetivo final da política externa (ARENDT, 1989, p. 156, 
grifo nosso). 
 
 
Além do aspecto econômico do imperialismo, também gostaríamos de chamar a 
atenção para a questão política. O período mencionado, também é conhecido pela 
ascensão do nacionalismo, como veremos mais adiante, por isso, Arendt (1989) 
argumenta que diferentemente do fator econômico, que pode ser levado e multiplicado 
em outros territórios, o Estado-nação não pode ser replicado indefinidamente. Em 
consequência disso, a conquista de povos estrangeiros não comporta a ideia de 
integração, mas, quando muito, de mera assimilação. O Estado-nação deve ter a 
convicção de que está a impor uma lei superior a dos povos conquistados (ARENDT, 
2012). Cabe aqui, esclarecer que a noção de que os países imperialistas, considerados 
“avançados” estariam conquistando povos ditos inferiores. Entretanto, essa intervenção 
do país imperialista, criava na nação conquistada o desejo de soberania, criando 
obstáculos para a criação do Império de fato. 
A ideia da existência de povos “inferiores” e “superiores”, encontrada como uma 
justificativa moral para o imperialismo, estava fortemente ancorada nos ideários de 
progresso econômico, moral, científico, bem como na concepção de darwinismo social. 
Mayer (1987), aponta que o darwinismo social se transformou na acepção aceita entre 
as classes dominantes e os governantes. Mas, afinal, do que trata tal ideologia? 
Em primeiro lugar, é importante dizer que entre o final do século XIX e início do século 
XX as ciências naturais se legitimavam como campo de conhecimento e passavam a 
gozar de grande prestígio. Charles Darwin com a publicação da Origem das espécies, 
abalou o mundo ao descobrir o mecanismo de seleção natural, que selecionava os 
indivíduos mais aptos, explicando a variabilidade das espécies e sua evolução não-linear 
e aleatória. De acordo com Mayer (1987), as descobertas de Darwin acerca da evolução 
natural, influenciaram pensadores a elaborar o darwinismo social e também do 
evolucionismo social. Acredita-se que nas sociedades em geral vigorava a ideia de 
competição, da qual sairiam vencedores os mais fortes. Já no que concerne ao 
evolucionismo social, admitia-se que as sociedades estariam em diferentes estágios de 
evolução, em que, de grosso modo, países europeus estariam em um estágio mais 
avançado e os povos dominados em um estágio anterior ou, até mesmo, primitivo. 
O que vimos até agora é o imperialismo em seu estado clássico, focado 
principalmente nas apropriações europeias, que, para Hobsbawm (2008) e outros 
historiadores de renome, vai até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914. Mas é 
salutar que os EUA também tenham vigorado como nação imperialista a partir do final 
do século XIX, já que até então eram um país dedicado à agricultura, à pecuária, ao 
extrativismo e ao comércio e em pouco tempo se tornaram uma potência militar e 
industrial. 
Os EUA vêm expandindo seu território desde a fundação da república em 1776, 
em constantes guerras com o México – anexando 40% do território vizinho até 1848 – e 
também com os nativos a oeste. Acreditava-se que ocupar as terras indígenas ou dos 
católicos hispânicos era parte de um desígnio divino para com a nação estadunidense, 
que acreditava ser “dotada de ética e moral” (MUNHOZ, 2009, p. 246). Assistiu-se 
também a anexaçãoem uma Guerra que durou 45 anos e quais foram as 
suas consequências. 
No primeiro capítulo, compreenderemos como surgiu a Guerra Fria e quais eraas 
superpotências que estavam nessa guerra. Desse modo, entenderemos suas 
ideologias e o que eles procuravam para aumentar a sua influência no mundo. Com isso, 
teremos o contexto sobre a corrida armamentista e conseguiremos compreender a 
tensão que o mundo viveu com o medo de uma guerra utilizando armas nucleares. 
Seguiremos desenvolvendo a ideia de como a economia afetou cada ideologia 
participante da guerra e como a indústria de armas ajudou os países a evoluírem. Desse 
modo, entenderemos o que significa os trinta anos gloriosos que ocorreram durante um 
período onde o mundo vivia em tensão. Você perceberá que cada fato que ocorria neste 
período poderia ser um estopim para surgir uma guerra ainda pior que a própria Guerra 
Fria. 
Então, vamos entender e conhecer o evento que mudou o mundo e como um 
muro em Berlim ficou anos sendo um ponto chave para o fim da guerra fria. Iremos 
refletir sobre como cada momento foi decisivo para a derrubada deste muro e, por fim, 
veremos quais rumos as superpotências tomaram após o fim da Guerra Fria. 
1 CAPITALISMO X SOCIALISMO: A GUERRA FRIA E A AMEAÇA NUCLEAR 
 
 
Fonte: https://www.shutterstock.com/image-illustration/usa-flag-on-ussr-496979689 
 
 
 
1.1 Capitalismo X Socialismo na Guerra Fria: Contexto Histórico 
 
Com o fim da segunda guerra mundial, tendo como conclusão lançamentos de 
bombas atômicas, o mundo entrou em um período conhecido como Guerra Fria, em que 
ficamos divididos entre duas superpotências econômicas, sendo elas: os EUA 
(capitalismo) e a URSS (socialismo). O que fez com que a humanidade tivesse medo de 
entrar em mais uma guerra mundial, que poderia vir a ser ainda pior do que as até então 
vividas. 
Na visão das superpotências não teria risco de ter uma nova guerra mundial, mas 
o risco iminente era sempre uma preocupação, pois a diferença cultural entre elas 
poderia ocasionar em uma nova ameaça. 
A URSS controlava uma parte do globo, ou sobre ela exercia 
predominante influência – a zona ocupada pelo Exército e/ou outras 
Forças armadas comunistas no término da guerra (...). Os EUA 
exerciam controle e predominância sobre o resto do mundo 
capitalista, além do hemisfério norte e os oceanos, assumindo o que 
restava da velha hegemonia imperial das antigas potências coloniais” 
(HOBSBAWM, 1994, p. 179). 
http://www.shutterstock.com/image-illustration/usa-flag-on-ussr-496979689
 
As superpotências entendiam que a divisão do mundo estava desigual e para 
conquistar mais território ou ter mais igualdade no poder evitava-se ao máximo o 
uso de forças armadas, para que não houvesse uma futura guerra. “Na verdade, na 
hora da decisão, ambas confiavam na moderação uma da outra para, mesmo nos 
momentos que se achavam oficialmente à beira da guerra, ou mesmo já nela” 
(HOBSBAWN, 1995). 
Como os EUA desconfiava da URSS e vice-versa havia a utilização de espiões 
e sistemas de serviços secretos, sendo a KGB o serviço secreto da URSS e a CIA dos 
EUA. Esses serviços afetaram a cultura mundial e, principalmente, nos locais onde 
estavam instaurados, influenciando na produção cinematográfica, quadrinhos, livros e, 
até mesmo, na criação de personagens que vieram a tornar-se muito populares, como 
James Bond de Ian Fleming. 
A Guerra fria que de fato tentou corresponder a sua retórica de luta 
pela supremacia ou aniquilação não era aquela em que decisões 
fundamentais eram tomadas pelos governos, mas a nebulosa disputa 
entre seus vários serviços secretos reconhecidos ou não reconhecidos, 
que o ocidente produziu esses tão característicos subprodutos da 
tensão internacional, a ficção de espionagem e assassinato 
clandestino (HOBSBAWM, 1995, p. 179). 
 
 
Entretanto, o medo de ataques nucleares foi uma realidade durante o período 
da guerra fria, pois a qualquer momento as superpotências poderiam entrar em 
conflito. Porém, mesmo com o risco, a população abraçava as ideologias de ambas as 
nações. 
1.2 Guerra Nuclear Durante a Guerra Fria 
 
Os EUA e a União Soviética estavam em uma corrida armamentista e cada vez 
mais buscavam inovar seus arsenais de armas buscando novas tecnologias para armas, 
aviões, carros, tanques e mísseis convencionais ou nucleares. Como afirma McMahon 
(2012,88) “Tanto os Estados Unidos quanto a União Soviética inauguraram grandes 
arsenais de armas – convencionais e nucleares”. 
A mostra de poderio militar era um fator muito importante na época, pois era a 
forma como as nações mostravam que estavam prontas para entrar em uma guerra a 
qualquer momento. Os EUA chegaram a ter em suas forças armadas mais de um 
milhão de soldados, expandindo a sua produção de aviões, navios de guerra e veículos 
blindados. Mas, o que deixou marcado o avanço militar dos EUA aconteceu em 
outubro de 1952, onde testaram um dispositivo termonuclear, ou, como ficou 
conhecido, bomba H, que era mais potente que as bombas nucleares de Hiroshima e 
Nagasaki. 
Porém, ao fim da década, os Estados unidos tinham aumentado o seu 
poder de ataque nuclear com o posicionamento de alguns 
bombardeiros intercontinentais 538 B-52, cada um capaz e atingir os 
alvos soviéticos a partir das nos Estados Unidos (...) em 1955, 
Eisenhower ordenou também o desenvolvimento de mísseis 
balísticos intercontinentais (ICBMs) que permitiam o lançamento de 
ogivas nucleares contra a União Soviética a partir do solo americano 
(MCMAHON, 2012, p. 89). 
 
A URSS se equiparava aos EUA na corrida armamentista, produzindo mísseis 
nucleares e armamento militar do Exército Vermelho, que passaram de três milhões de 
soldados para quase 5,8 milhões. Também criaram dispositivos termonucleares em 
agosto de 1953 e outro ainda mais potente em novembro de 53, mas os mísseis da 
União Soviética não tinham forças de lançamento igual aos americanos, sendo assim 
um pouco limitados. “Antes de 1995, os soviéticos continuavam incapazes de realizar 
um ataque nuclear contra os Estados Unidos e consequentemente dependiam, 
dependiam, para fins dissuasivos” (MCMAHON, 2012, p. 90). 
Segundo McMahon (2012, p.91) “os anos de 1958 a 1962 apresentaram 
precedentes de confrontos Leste-Oeste, vários dos quais envolviam estratégia nuclear 
arriscada”, sendo alguns exemplos a intervenção americana na Indonésia, o golpe 
Estado Sangrento para derrubar o governo pró-ocidental no Iraque e o envio de 
fuzileiros americanos ao Líbano. 
A Guerra Fria tem a visão de uma corrida militar para um futuro confronto. 
A corrida armamentista no Ocidente teve pouco impacto, chegando a ter armas 
nucleares nunca usadas, mas era de se esperar que os dois lados militarizados usassem 
essa capacidade para atrair aliados e clientes para conquistas de territórios e também 
lucrativas. 
Os dois complexos industrial-militares eram estimulados por seus 
governos a usar sua capacidade excedente para atrair e armar aliados 
e clientes, e, ao mesmo tempo, conquistar lucrativos mercados de 
exportação, enquanto reservavam apenas para si os armamentos mais 
atualizados e, claro, suas armas nucleares (HOBSBAWM, 1994, p. 185). 
 
Havia algo que preocupava muito os EUA, e que os preocupou por muitos anos. 
Foi o país de Cuba, que em sua época tinha um revolucionário que possuía muito carisma, 
Fidel Castro. Ele lutou até chegar ao poder de Havana, derrubando a histórica 
dependência de Cuba da economia americana. 
Em parte para se opuser à hostilidade americana, e em parte por causa 
de suas próprias afinidades ideológicas, Fidel Castro voltou-se para a 
União Soviética, acolhendo o seu apoio diplomático e econômico 
(MCMAHON, 2012, p. 104). 
 
Cuba tornou-se, então, o maior problema para os Estados Unidos. Na década de 60 
o presidente Kennedy persistia em dizer que Cuba era um problema e que Fidel 
Castro, seu principal opositor, principalmente por este permitir “satélitescomunistas”. Robert J, McMahon (2012, p. 105) diz que “a crise de outubro ou a 
crise do mísseis, como é conhecida, constitui o confronto soviético-americano mais 
perigoso de toda a Guerra Fria”. Os EUA tinham acesso a imagens de sítios de 
lançamentos de mísseis de alcance intermediário de Cuba, e, com estas, tinham a visão 
de que Cuba era uma aliada da União Soviética e que já teria recebidos mísseis que 
poderiam fazer com que a Guerra Fria avançasse cada vez mais na corrida 
armamentista e nuclear. 
2 OS TRINTA GLORIOSOS 
 
 
Fonte: Toda Matéria, 2011 - 2022. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/american-way-of-life/. Acesso 
em: 03 fev. 2022. 
 
Os trinta anos gloriosos, também conhecidos como “os anos dourados” na concepção de 
Hobsbawm (1995), duraram de 1946 até 1975. Nesse período, houve um crescimento vertiginoso 
econômico e social nos países desenvolvidos, sendo considerado pelos observadores como a era 
de ouro do capitalismo. Os EUA, que haviam saído fortalecidos da Segunda Guerra, continuaram 
avançando e outros países da Europa viram uma recuperação vertiginosa. 
Observamos um aumento da produção de alimentos, mais rápido do que o crescimento 
da população, isso não significa, entretanto que a pobreza foi extirpada e a desigualdades entre 
os países ricos e os do chamado Terceiro Mundo desapareceram. Hobsbawm (1995) aponta que 
na década de 1960 era evidente o crescimento singular da economia, como nunca se havia visto 
antes. O crescimento da produção de manufaturados também quase quadruplicou, mas isso teve 
um custo ecológico grande, apesar disso não ser pauta recorrente na época, onde se colocava 
em voga o domínio da natureza pelo ser humano e o progresso ilimitado. 
http://www.todamateria.com.br/american-way-of-life/
Contudo, não há como negar que o impacto das atividades humanas sobre a 
natureza, sobretudo as urbanas e industriais, mas também, como se acabou 
compreendendo, as agrícolas, aumentou acentuadamente a partir de meados 
do século. Isso se deveu em grande parte ao enorme aumento no uso de 
combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural etc.), cujo possível 
esgotamento vinha preocupando os que pensavam no futuro desde meados do 
século XIX (HOBSBAWM, 1995, p. 206). 
 
Segundo Hobsbawm (1995), o que permitiu esse crescimento também foi o preço baixo 
do petróleo saudita, cujo barril custava menos de dois dólares. Isso também fomentou a 
indústria automobilística, levando a popularização do automóvel na Europa e também entre as 
classes médias latino-americanas. Com base no modelo de Henry Ford de produção, outras 
indústrias também conseguiram aumentar sua produtividade, o caso do McDonald’s foi um 
exemplo de sucesso de aplicação do modelo fordista. Outros bens e serviços, especialmente nos 
EUA, que antes eram restritos a uma pequena parcela, foram popularizados. Itens como 
geladeiras, telefones, eletrodomésticos, entre outros, foram largamente disseminados. 
O boom tecnológico não se restringiu à produção de bens de consumo, mas também à 
produção de novos materiais sintéticos, como o plástico, que de acordo com Hobsbawm (1995) 
foi uma invenção sem precedentes. Os materiais sintéticos, bem como outros produtos, foram 
resultados de pesquisas no período da Segunda Guerra Mundial: 
A guerra, com suas demandas de alta tecnologia, preparou vários processos 
revolucionários para posterior uso civil, embora um pouco mais do lado 
britânico (depois assumido pelos EUA) que entre os alemães com seu espírito 
científico: radar, motor a jato e várias idéias e técnicas que prepararam o 
terreno para a eletrônica e a tecnologia de informação do pós-guerra 
(HOBSBAWM, 1995, p. 207). 
 
O computador foi exemplo de tecnologia construída para a Guerra, mas se mostrou bastante 
útil entre os civis. Bem como a tecnologia nuclear, que mais tarde foi usada no setor de 
eletricidade. Ainda sim, Hobsbawm (1995) analisa que três elementos podem ser observados: 1) 
A era de ouro transformou radicalmente o cotidiano nos países ricos e em menor medida nos 
países pobres, com a disseminação do rádio, a chegada da “revolução verde”, entre outros 
aspectos que interferiram no dia a dia das pessoas. 2) Com a complexidade cada vez maior dos 
produtos, foi necessário um investimento mais abrangente em pesquisas e a inovação passou a 
ser regra nos países desenvolvidos. 3) Os produtos que surgiam durante a era de ouro exigiam 
pouca mão-de-obra e mais consumidores, no entanto, isso não significou uma baixa no número 
de trabalhadores, já que a produção estava em constante crescimento. 
3 A QUEDA DO MURO E MAIS ALÉM 
 
 
 
Um dos maiores marcos históricos durante a Guerra Fria foi o Muro de Berlim, sendo o 
mais importante de toda a história entre o capitalismo e o socialismo. O muro foi construído em 
13 de agosto de 1961, pela Alemanha Oriental (soviética) e derrubado em 9 de novembro de 
1989, depois de 28 anos. Ele dividia a cidade de Berlim em duas, sendo a parte Ocidental e a 
Oriental, fazendo com que as pessoas tivessem suas vidas totalmente modificadas. Seu objetivo 
era impedir que as pessoas da parte capitalista (ocidental) se mudassem para o lado comunista 
(oriental). Desse modo, com a proibição da passagem de um lado para o outro, muitas famílias 
ficaram divididas. Ramirez (2021) diz que “em um momento embaraçoso, o primeiro-ministro 
soviético Khrushchev ordenou que o infame Muro de Berlim fosse construído entre Berlim 
Oriental e Ocidental”. 
A Alemanha após o rendimento na segunda guerra mundial se tornou o maior símbolo 
de polarização na Guerra Fria, isso quer dizer que as duas superpotências tinham um objetivo 
em comum de dominá-la para mostrar como exemplo para o resto do mundo. Como a 
derrota do nazismo foi feita com a união da URSS e os EUA, houve um entendimento para dividir a 
Alemanha para as duas superpotências na época, mas o estopim para a construção do muro 
pelo lado Oriental estava ligado ao Plano Marshall que consistia na ajuda dos EUA para 
aqueles que se aliassem com eles. 
Isolando o enclave ocidental nessa cidade dividida localizada 201 quilômetros 
dentro da Alemanha oriental ocupados pelos soviéticos, Stalin visava a expor a 
vulnerabilidade de seus adversários, desarranjando com isso a criação do 
Estado separado da Alemanha Ocidental que ele tanto temia (MCMAHON, 
2012, p. 43). 
 
Figura 1 - Divisão de Berlim 
 
 
Fonte: https://www.shutterstock.com/image-photo/berlin-germany-november-8-2019-sign-1554637622 
 
 
Com a construção do muro de Berlim muitos moradores tiveram medo de ficar de um 
lado, isso fazia que eles tentasse pular o muro, arriscando se machucar com arames farpados, 
altura ou até mesmo ser alvejado por tiros dos soldados soviéticos, como afirma Mitchell (2017) 
“poucos dias depois da construção da cerca de concreto e arame, os alemães orientais estavam 
pulando janelas de construções adjacentes à fronteira ao longo de vários quarteirões da Bernauer 
Strasse no distrito de Mitte (ou “meio”), para calçada de Berlim Ocidental”. 
Com a população da Berlim oriental querendo passar para o outro lado, alguns 
bombeiros ficavam perto do muro com redes para pegar as pessoas que pulavam o muro de 
Berlim que tinha 3,6 metros. Apesar de ser um tamanho não muito alto, muitos desses saltos 
tinham que ser por prédios perto do muro, “isso só era possível em partes da cidade onde 
as fachadas dos prédios marcavam a fronteiras, em alguns casos bombeiros de Berlim 
http://www.shutterstock.com/image-photo/berlin-germany-november-8-2019-sign-1554637622
Ocidental usavam redes para pegar pessoas que pulavam” (MITCHELL, 2017, p. 17). 
Além das tentativas de fugas por salto pelo muro, as pessoas também usavam os sistemas 
de túneis e esgotos que ligavam as cidades da Alemanha oriental e ocidental, ficando esses 
sistemas tão conhecidos que foram utilizados em filmes sobre espionagem e também na cultura 
pop. 
Os alemães orientais que procuravampassar para o outro lado estavam apenas 
procurando uma maneira de reconstruir suas vidas e ter melhores condições na Alemanha 
ocidental. Algumas vezes a Alemanha Ocidental enviou suprimentos alimentares para a 
Alemanha oriental através de aviões, entretanto, querendo impedir qualquer contato com a 
Alemanha Ocidental, a parte oriental proibiu a circulação de aviões no espaço aéreo da Alemanha 
oriental. “Em resposta, os Estados Unidos e outros países ocidentais voaram sobre a cidade e 
lançaram suprimentos de comida e outras necessidades (bem como materiais de propaganda) 
pelo ar” (RAMIREZ, 2021, p. 17). 
A tensão durante esses 28 anos e crescia cada vez mais entre os lados, chegando a 
momentos de tensão como no dia 27 de outubro de 1961, em que o mundo inteiro voltou os 
olhos para Berlim, quando os tanques de ambos os lados tiveram um encontro no ponto 
conhecido como Checkpoint Charlie, ficando uma tensão de início de uma guerra que poderia ser 
o início da terceira guerra mundial. 
 
3.1 A queda do muro de Berlim 
 
O dia 9 de novembro de 1989 ficou marcado na história. Foi o dia em que o muro de 
Berlim finalmente caiu após 28 anos de sua construção. O muro que dividiu a Alemanha em 
duas superpotências que lutavam entre si para ter um domínio maior no mundo foi abaixo e 
esse dia ficou marcado como um rompimento da tensão que existia na Guerra Fria. 
Uma das coisas que ajudaram a sua derrubada foi que o lado soviético passava por uma 
crise econômica. A população de ambos os lados sempre realizavam manifestações pedindo 
mais liberdade. 
Em muitos aspectos, a demolição do Muro de Berlim e a implosão 
concomitante, mas todo o sistema de aliança do Pacto de Varsóvia significou o 
fim da Guerra Fria. O conflito ideológico estava terminado (MCMAHON, 2012, 
p. 188). 
 
Desse modo, nem o comunismo e nem o estado soviético eram uma ameaça para o 
governo dos Estados Unidos. A maior ameaça que eles tinham era a Alemanha oriental, para 
muitos historiadores marca o ano de 1989 como o fim da Guerra Fria, pois a grande tensão que 
havia entre essas superpotências havia se quebrado. A Alemanha ocidental, durante o governo 
do chanceler Helmut Kohl, para que houvesse uma reunificação do país o mais rápido 
possível assim a Alemanha deixaria de oriental ou ocidental e viraria apenas uma como é 
atualmente, mesmo com o muro derrubado demorou algum tempo para que a Alemanha 
se reunificasse devidos a problemas do passado com as Guerras Mundiais que o país passou. 
No livro Guerra Fria de McMahon (2012, p. 189), o autor fala que o maior medo da 
Alemanha reunificada era se tornar uma ameaça para segurança russa “O maior temor de 
Gorbachev era uma Alemanha incontrolada e recém-habitada torna-se uma futura ameaça 
para segurança russa que estava atrás da maneira de Stalin abordar o problema alemão e pouco 
depois da Segunda Guerra mundial”. Após uma conversa entre o chanceler da Alemanha 
ocidental (Helmut Kohl) e o Soviético Mikhail Gorbachev, foi feito um acordo em que a União 
Soviética concordou retirar as tropas da Alemanha depois de 45 anos de ocupação. Junho de 
1990 foi realizada a união monetária entre as duas Alemanhas e no dia 3 de outubro foi feito 
definidamente a reunificação do país. 
 
4 O MUNDO APÓS 1990 
 
 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/moscow-russia-november-10-2018- stamp-1259780164 
 
 
Após os anos 1990 o mundo não sentia mais tanto o impacto da segunda guerra 
mundial. O fim da Guerra Fria estava próximo, ainda mais com a reunificação da 
Alemanha depois da queda do muro de Berlim, a retirada de tropas soviéticas da 
Alemanha feita pelo líder soviético Gorbachev e o uso de uma moeda para a Alemanha. 
O colapso da própria União Soviética em 1991, produto de forças 
ativadas pelas reformas de Gorbachev que ele se mostrou incapaz de 
controlar, representa um marco histórico crucialmente importante 
por seus próprios méritos. Na época em que a União Soviética 
desapareceu a própria Guerra Fria já era história (MCMAHON, 2012, 
p. 190). 
 
Pouco tempo depois, a União Soviética viria a cair no dia 29 de agosto de 1991, 
sendo assim o governo soviético teve seu fim e as políticas russas foram passadas para 
Boris Iéltsin em 1992. Com isso, os Estados Unidos da América se tornaram a maior 
superpotência mundial, tornando-se uma referência para vários países, influenciando 
em até mesmo no que diz respeito à cultura do cinema, música e livros. 
Muitos filmes foram feitos sobre o período da Guerra Fria, a maioria 
deles usando o lado soviético como vilão de toda a história, alguns se tornando famosos 
como o clássico Rocky IV em que o personagem principal é um americano e o vilão do 
filme é um lutador russo da União Soviética. 
Com os anos, após 1991, dava-se início a uma nova era, que viria a ser conhecida 
http://www.shutterstock.com/pt/image-photo/moscow-russia-november-10-2018-
por ter multipolaridade. Sendo assim, os governos não seriam reféns apenas dos EUA, 
mas sim do próprio sistema que adotavam para governar, em sua maioria a democracia. 
No ano de 2001, que marcou a virada do século XX para o século XXI, deixou os 
Estados Unidos marcado com uma nova ameaça, que mais uma vez mexeria com o 
cenário americano. Mesmo sendo uma referência de armamento militar, os Estados 
Unidos foi quem sofreu um ataque terrorista em 11 de setembro de 2001. 
Agora o medo não era mais a Guerra Fria e sim ataques terroristas que poderiam 
acontecer a qualquer momento em qualquer país do mundo, como no caso dos EUA 
onde teve um impacto bastante grande e mundial. 
Durante a presidência de George W Bush, após os ataques terroristas 
de 11 de setembro, o presidente emitiu o que ficou conhecido como 
a Doutrina Bush. Nele ele dedicou o país a encontrar e destruir o 
terrorismo onde quer que ele exista (MCMAHON, 2012, p. 190). 
 
Com este ato o mundo viu que um novo mundo surgia e que o século XXI seria 
marcado por novos medos e também novos avanços na economia e tecnologia. Fazendo 
com que mais uma vez a História tivesse novos rumos. 
 
REFLITA 
 
 
Estamos no início de uma nova era, caracterizada por grande 
insegurança, crise permanente e ausência de qualquer tipo de status 
quo [...] Devemos compreender que nos encontramos numa daquelas 
crises da história mundial que Jakob Burckhardt descreveu. Não é 
menos significativa que a de depois de 1945, embora as condições 
iniciais para superá-la pareçam melhores hoje. Não há potências 
vitoriosas nem derrotadas hoje, nem mesmo na Europa Oriental. (M. 
STÜRMER, in BERGEDORF, 1993, p. 59). 
 
#REFLITA# 
 
 
 
SAIBA MAIS 
 
Hoje assumimos o impacto econômico da globalização na distribuição de 
produtos e serviços, mas quando isso de fato foi empreendido? É fato que a globalização 
é consequência do fim do mundo bipolar, entretanto as atividades econômicas já não 
estavam mais circunscritas a critérios de território e Estado desde a década de 1960, a 
era de ouro do capitalismo, quando começou a se fundamentar uma economia 
transnacional, o que foi se fundamentando nas décadas posteriores. 
 
Fonte: HOBSBAWM, 1995. 
 
 
 
#SAIBA MAIS# 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
 
Caro (a) aluno (a), nesta unidade, vimos o quanto de impacto que o fim da 
Segunda Guerra Mundial trouxe ao mundo e, também, os efeitos que a Guerra Fria 
trouxe, deixando o mundo em estado de tensão por mais de 40 anos. 
No primeiro tópico, tivemos a ideia de como foi o surgimento de cada 
superpotência, logo após a Segunda Guerra Mundial e como elas tinham modos de 
operar diferentes, fazendo uma corrida armamentista que ia de armas convencionais 
até armas nucleares. O que colocava o mundo em perigo, pois havia a chance de uma 
guerra nuclear. 
Conseguimos compreender o surgimento de um movimento econômico que 
ajudou as superpotências a enriquecer durante o período da Guerra Fria e, o que foi os 
Trinta Gloriosos Anos, como foi formado e o tempo de duraçãodele na Guerra Fria, 
concluindo, assim que foi possível lucrar com vendas de armas. 
No terceiro tópico estudamos o fenômeno mais importante da Guerra Fria, que 
foi a construção do mudo de Berlim. Vimos como os lados defendiam seu território e o 
que o muro representava para União Soviética, como as pessoas precisavam de 
liberdade e os sacrifícios que eles faziam para ir da Alemanha oriental para ocidental ou 
vice-versa. 
Por fim, no último tópico vimos como a União Soviética chegou ao seu fim e como 
todo o contexto histórico fez com que a história do mundo chegasse ao que estamos 
vivendo atualmente. 
 
LIVRO 
 
 
 
• Título: Guerra Fria: A história da guerra épica entre Capitalismo x Socialismo 
 
• Autor: Saul Ramirez. 
 
• Editora: Book Brothers. 
 
• Sinopse: O livro nos mostra de maneira simples e sucinta de como foi à disputa entre 
as superpotências da época os Estados Unidos (EUA) e a União Soviética (URSS), este 
período que ficou conhecido como Guerra Fria onde nenhuma das superpotências não 
entravam em conflitos, pois poderia ser o estopim para uma nova guerra mundial. 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título: Adeus, Lênin 
 
• Ano: 2003. 
 
• Sinopse: Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra. Kerner (Katrin Sab) 
passa mal, entra em coma e fica desacordada durante os dias que marcaram o triunfo 
do regime capitalista. Quando ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim 
Oriental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander (Daniel Brühl), temendo 
que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa lhe prejudicar a saúde, decide 
esconder-lhe os acontecimentos. Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada, Alex não 
tem muitos problemas, mas quando ela deseja assistir à televisão ele precisa contar com 
a ajuda de um amigo diretor de vídeos. 
REFERÊNCIAS 
 
 
HOBSBAWM, E. A Era dos extremos 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 
1995. 
 
MCMAHON, Robert. Guerra Fria. Porto Alegre: L&PM, 2012. 
 
MITCHELL, Greg. Os túneis: a história jamais contada das espetaculares fugas sob 
muro de Berlim. Belo Horizonte: Vestigo, 2017. 
 
RAMIREZ, Saulo. Guerra Fria: A história da guerra épica entre Capitalismo x Socialismo. 
São Paulo: Book Brothers, 2021. 
 
UNIDADE IV 
 
O NEOLIBERALISMO E A GLOBALIZAÇÃO 
 
Professora Mestra Maria Helena Azevedo Ferreira 
 
 
 
 
Plano de Estudo: 
 
• O que é neoliberalismo? 
 
• A Inglaterra e a Dama de Ferro; 
 
• Estados Unidos e o Neoliberalismo; 
 
• Globalização no mundo contemporâneo. 
 
 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
• Conceituar e contextualizar sobre neoliberalismo; 
 
• Compreender sobre quem foi a dama de ferro e sua influência; 
 
• Entender como a globalização está mudando o mundo. 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
Prezado (a) aluno (a), nesta unidade, vamos continuar com a história 
contemporânea e encerrá-la. Nos tópicos a seguir vamos entender a ideia do 
neoliberalismo, o que significa e o que ele influencia. 
No primeiro tópico entenderemos a origem do Neoliberalismo e a diferença que 
ele tem do liberalismo de Adam Smith, saberemos as principais diferenças entre eles. 
Seguindo, no segundo tópico conheceremos Margaret Thatcher, a sua 
importância para sociedade e história do mundo. Descobriremos o motivo dela ser 
conhecida como Dama de Ferro e sua influência sobre o mundo. 
Com isso, teremos uma noção de como os Estados Unidos do governo de Reagan 
teve a influência de Margaret Thatcher e como ela ajudou a ter um controle sobre o 
neoliberalismo, entendendo o motivo de também adotar o Neoliberalismo nos EUA. 
E, por fim, teremos uma ideia de como a globalização teve impacto do 
neoliberalismo e como as tecnologias de hoje em dia estão ajudando o mundo a ficar 
mais globalizado. 
 
1 O QUE É NEOLIBERALISMO 
 
 
1.1 Neoliberalismo: Contexto histórico 
 
Ao longo da existência humana na história e na sociedade tivemos muitos 
sistemas de economia como o mercantilismo, capitalismo, socialismo, capitalismo e 
liberalismo. Como toda história tem mudanças e adaptação, alguns desses sistemas têm 
também as suas adaptações para se compactuar com a nossa sociedade atual e assim 
continuar “vivendo”, mesmo que não seja adotada como plano econômico de algum 
país, mas continue como uma ideia. 
Antes de entender sobre o que é Neoliberalismo temos que entender sobre 
seu antecessor, o liberalismo. Liberalismo sempre é lembrado como seu criador Adam 
Smith, principalmente em sua obra A riqueza das nações, publicada em 1776. Segundo 
Smith (1983), para um mundo melhor teria que haver uma livre iniciativa, atitudes 
econômicas dos indivíduos e que suas relações não fossem limitadas por regras e 
regulamentos que o Estado opõe. 
A livre concorrência equivale a uma recompensa que se concede 
àqueles que fornecem as melhores mercadorias pelos preços mais 
baixos. Ela oferece uma recompensa imediata e natural, que uma 
multidão de rivais alimenta a esperança de conseguir, e atua com 
maior eficácia que um castigo distante, do qual cada um talvez 
espere escapar (SMITH 1983, p. 104). 
 
Para a doutrina liberal, se houver uma procura para o lucro o ser humano terá 
motivação e interesse para buscar este lucro, sendo assim a pessoa não se sentirá 
limitada pelo Estado e começará a buscar o lucro que ela precisa ou até mais do que ela 
necessita, sendo ela responsável pelas suas ações. Esse sistema revelaria de modo 
espontâneo o que a sociedade necessita. 
A ideia de liberalismo de Adam Smith ficou muito famosa, tanto que a sua obra 
mais famosa “a riqueza das nações” foi reeditada e citada várias vezes no mundo 
acadêmico e na economia. Nessa obra, Adam Smith afirma sobre os interesses privados 
dizendo “Sem qualquer intervenção da lei, os interesses e os sentimentos privados das 
pessoas naturalmente as levam a dividir e distribuir o capital de cada sociedade” (SMITH, 
1983, p. 104). 
Assim como outras ideologias, o neoliberalismo também é uma forma de ver o 
mundo. Ele surgiu na década de 70, tendo o objetivo de estimular o desenvolvimento 
econômico, mas diferente do liberalismo sua ênfase não é sobre a interferência do 
estado sobre a economia. Para os neoliberais sua principal defesa na economia está 
baseada no livre mercado, pois segundo eles isso irá garantir o crescimento 
econômico e também o desenvolvimento social do país. As principais características 
do Neoliberalismo são: 
● Privatização de empresas estatais; 
● Livre circulação de capitais internacionais; 
● Uma abertura econômica para empresas multinacionais; 
● A redução de impostos e tributos que são cobrados indiscriminadamente. 
 
O modelo de neoliberalismo é pensado para que influencie no mundo todo, até 
mesmo, na educação, já que a escola também é vista como meio de mercado e seria 
privatizada, de modo que as escolas poderiam oferecer cursos para que o aluno saia e 
vá direto para o mercado de trabalho. 
Harvey (2005, p. 20) nos diz “O neoliberalismo como potencial antídoto para 
ameaças à ordem social capitalista e como solução para as mazelas do capitalismo havia 
muito se achava oculto sob as asas da política pública”. Sendo assim, esta ideologia nos 
daria um fim para uma antiga guerra entre capitalismo x socialismo. 
 
 
 
1.2 Neoliberalismo no Brasil e na América Latina 
 
No Brasil, na época em que tivemos como presidente Fernando Henrique 
Cardoso, foram implantadas reformas econômicas. Com isso, tivemos um ideal de 
liberalismo no Brasil, tendo essência para modernizar o país e garantir estabilidade 
econômica. 
O neoliberalismo no Brasil foi aceito nas décadas de 1980 e 1990, tendo mais 
força com o fim do socialismo no Leste europeu. Integrantes do FMI e do Banco Mundial 
reuniram- se para organizar e analisar a economia do continente, além dessas 
organizações também tinham representantes dos EUA e países latinos americanos. 
No fim dessa reunião resultou um conjunto de medidas para controlar a 
inflação sendo elas:● Ajuste fiscal: limitação dos gastos do Estado sendo de acordo com a 
arrecadação e eliminação do déficit público; 
● Redução do tamanho do Estado: limitar a intervenção do Estado na 
economia; 
● Abertura comercial: redução das alíquotas na importação estimula ao 
intercâmbio sendo assim impulsionar a globalização; 
● Abertura financeira: Colocar um fim nas restrições de capital e 
permissões em instituições financeiras internacionais, então terá que 
atuar com igualdade dentro das condições do país; 
● Fiscalização de gastos públicos; 
● Serviços de terceirização; 
● Investimento na infraestrutura básica. 
 
No Brasil, existem críticas a algumas medidas do neoliberalismo que foram 
implantadas, não resolvendo alguns casos de desigualdade e até mesmo os 
aumentando. Além do Brasil, temos ideias neoliberais nos outros países da América 
latina com a Argentina. 
Na América latina o neoliberalismo chegou pelos EUA após Washington 
implantar o consenso de Washington. Os interesses dos EUA na América latina são 
considerados incidentes. 
 
Os interesses dos povos latino-americanos são meramente” 
incidentais” e não um problema nosso”. Ele reconheceu que “pode 
parecer que nos baseamos em puro egoísmo”, mas afirmou que a 
doutrina não tem motivos Mais elevados ou generosos. Os Estados 
Unidos lutaram para desalojar a Inglaterra e a França, seus rivais 
tradicionais, e estabelecer uma aliança regional sob controle à parte 
do sistema mundial, onde tais arranjos não eram admissíveis” 
(CHOMSKY, 1999, p. 10). 
 
As funções da América latina ficaram esclarecidas nas conferências que houve 
quando foi feito o consenso de Washington, sendo assim alguns ideais neoliberalistas 
ficaram implantados na América latina, sendo iguais aos que temos no Brasil. 
Neoliberalismo no Brasil nunca deixou de existir, sempre tem sua influência em 
vários governos começando pelo governo Collor, que mesmo após sua saída do governo 
o país seguiu algumas ideias neoliberais que teve durante sua gestão. 
2 A INGLATERRA E A DAMA DE FERRO 
 
 
Fonte:https://www.shutterstock.com/image-photo/london-july-1-hon-margaret-thatcher-31562749 
 
 
 
 
Margaret Thatcher teve uma grande influência na história da humanidade e, 
também, na Inglaterra ficando conhecida como a mulher com mais influência em toda 
história. Ela nasceu no dia 13 de outubro de 1925 em Grantham, Lincolnshire no Reino 
Unido e ainda quando criança Thatcher e sua irmã mais velha reuniam dinheiro para 
uma viagem em que conheceriam Alfred Roberts que era um vereador e pregador da 
igreja metodista, dando assim início aos primeiros passos na carreira política de 
Thatcher. 
Em 1950 Thatcher com seus 25 anos entrava no meio político pelo partido 
conservador. Mesmo não estando entre os aprovados do partido ela conseguiu chamar 
atenção da mídia na época. Em 1955 ela sofreria uma derrota em uma eleição, mas em 
1959 conseguiria ser eleita como deputada. 
https://www.shutterstock.com/image-photo/london-july-1-hon-margaret-thatcher-31562749
Thatcher teve muita influência pelo seu modo e por conquistar apoio na 
política muito rápido, sendo convidada em 1970 pelo partido conservador a ser 
secretária da Educação, assumindo o cargo no dia 20 de junho de 1970. Também, nessa 
época, foi quando Thatcher teve um episódio famoso em que ela tirou o fornecimento 
gratuito de leite para crianças nas escolas, visando fazer economia nos gastos da 
educação que ganhou o apelido “Margaret Thatcher, Milk Snatcher” (em tradução livre 
seria algo Margaret Thatcher sequestradora de leite). 
A decisão, que provocou uma onda de protestos no Partido 
Trabalhista e na mídia inglesa, gerou reflexão da ex-primeira-ministra 
na sua autobiografia, frase que melhor resumiria seus 11 anos de 
poder: “Provoquei o ódio político máximo por um benefício mínimo”. 
Ela se tornou amada e odiada em igual ao subjugar sindicatos, 
privatizar vastos setores da indústria britânica, brigar com a União 
Europeia e travar uma guerra com a Argentina pelas Ilhas Malvinas. 
(EXTRA. O Globo, 2013, s/p). 
 
Esta não seria a última vez que Thatcher chamaria a atenção da mídia e provocou 
protestos, ela também ficou conhecida por ter pulso firme em seus discursos e opiniões 
políticas. 
No ano de 1976, Thatcher fez um discurso político em que ela criticava a União 
Soviética por buscar o “domínio mundial”. O episódio ficou conhecido como “Britain 
Awake”, que no português seria Alerta do Reino Unido, seu discurso fez com que o jornal 
soviético Estrela Vermelha refutasse a postura de Thatcher dando-a o título de Dama de 
Ferro, que ela abraçou e que a acompanhou por toda sua carreira política. 
Em 4 de maio de 1979 tornou-se a Primeira-ministra do Reino Unido, sendo um 
dos cargos mais altos na política do país. Foi reeleita nas eleições gerais de 1983, ficando 
quase toda a década de 80 no poder, sendo considerada uma das mulheres mais 
influentes do mundo. 
 
 
2.1 A Dama de Ferro e o Neoliberalismo 
 
Thatcher teve influência no pensamento de economia e monetarista por 
economistas como Milton Friedman e Alan Walters. Ela teve seu plano de governo 
econômico com base em aumentar as taxas de juros para o crescimento da oferta 
monetária. Sendo exemplo para todos os outros países. 
A “Grã-Bretanha de Thatcher” é, na verdade um exemplo igualmente 
bom “evangelho do livre mercado”. (...) a primeira-ministra Margaret 
Thatcher “interveio pessoalmente para garantir a transferência de 22 
milhões de libras do orçamento da ajuda britânica para construção do 
metro de Ancara (CHOMSKY, 1999, p. 35). 
Seu sistema de política ficou conhecido como “política thatcheriana”, que 
provocou mudanças nas importantes instituições e na sociedade britânica. Ela fez o uso 
de uma ideia do liberalismo que é a privatização de empresas que eram estatais. 
Reginaldo C. Moraes (2001, p. 71) cita que “essa privatização fundamental não foi 
motivada pela doutrina e sim pela lógica dos acontecimentos. Esse era setor que 
necessitava urgentemente de capital”. 
Margaret Thatcher teve pouca influência para a esquerda política, sendo até 
impopular pelas pessoas que têm o ideal político da esquerda, muito disso aconteceu 
devido ao pouco investimento de Thatcher em sociedade de classes baixas. O governo 
de Thatcher não era popular entre a esquerda, isso porque tinha como base o “egoísmo 
social”. 
 
Figura 1 - Manifestante contrário ao governo Thatcher 
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/thatcher-death-party-london-uk1304- protesters-
375891052 
Margaret Thatcher faleceu em 8 de abril de 2013 e sua carreira política 
influenciou várias pessoas e políticos, entretanto quando veio seu falecimento, houve 
um protesto em comemoração à sua morte, pois sua política conservadora e direitista 
acabou destruindo empregos e gerando problemas raciais. 
Embora as controvérsias que Margaret teve durante sua vida, ela é até hoje uma 
das mulheres que mais teve influência no mundo, e causando sempre polêmicas por 
pessoas que apoiam seu modo de governo e pessoas que são contra seu modelo de 
governo, sendo influência para outros governantes que seguem sua ideologia para 
governar. Margareth ganhou um filme biográfico “a dama de ferro” que foi interpretada 
por Meryl Streep oem que conseguiu um Oscar de melhor atriz. 
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/thatcher-death-party-london-uk1304-
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/thatcher-death-party-london-uk1304-protesters-375891052
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/thatcher-death-party-london-uk1304-protesters-375891052
 
3 ESTADOS UNIDOS E O NEOLIBERALISMO 
 
Fonte: https://www.shutterstock.com/image-photo/washington-dc-usa-february-1985-president- 
710469262 
 
Os Estados Unidos é uma das principais potências econômicas no mundo e isso 
sempre atraiu atenção de novas formas de políticas econômicas, mesmo o país sendo 
capitalista. Entre um governo e outro sempre trazemideais novos para os Estados 
Unidos, sendo assim o país também flertou com ideais neoliberalistas. 
A Escola de Chicago foi uma das responsáveis por colocar o liberalismo nos EUA, 
sendo assim, logo o país teve um encontro com o Neoliberalismo, mas antes de algum 
governo ter tendências neoliberais a Escola de Chicago levou, na época do presidente 
Roosevelt, o New Deal, um plano econômico que tiraria o país da depressão econômica 
que ocorreu em 1929, salvando-o país. 
Com o liberalismo já no governo estadunidense, a chegada do neoliberalismo 
ficou mais fácil, principalmente com a eleição de Ronald Reagan nos anos de 1981 e 
1989. Na mesma época em que o governo britânico tinha Margaret Thatcher, ambos 
governantes tinham ideais Neoliberalistas. O governo de Ronald Reagan ficou conhecido 
em sua época de governo como reaganistas. 
http://www.shutterstock.com/image-photo/washington-dc-usa-february-1985-president-
 
Governos de todo mundo abraçam o ‘evangelho do livre mercado’, 
pregado na década de 1980 pelo presidente Reagan e pela primeira-
ministra Margaret Thatcher, da Grã Bretanha (CHOMSKY, 1999, p. 34). 
 
A política neoliberalista auxiliava os países na movimentação de capital. O estilo 
de vida americano, junto do neoliberalismo, fez com que o plano do governo de Reagan 
tivesse boas impressões, ainda mais com a política de paz armada que resultou no 
aumento de gastos significativos na área militar. Entretanto, o que mais atraia atenção 
era o conservadorismo crescente em meio ao medo da cultura de esquerda da União 
Soviética. 
Mesmo isolados e na defensiva, os neoliberais preservaram suas 
crenças ortodoxas. E voltaram à cena, na ocasião propícia no fim dos 
Trintas Gloriosos, os anos de reconstrução e desenvolvimento do 
capitalismo (MORAES, 2001, p. 15). 
 
A inicialização do neoliberalismo envolveu muita “destruição criativa”, que foi a 
mudança que a cultura teve, que diminuiu um pouco do controle total que o estado 
tinha sobre o mercado econômico do país. Porém essas mudanças foram necessárias 
para que o Neoliberalismo começasse a ser executado nos Estados Unidos. 
Junto com o Neoliberalismo nos Estados Unidos temos também o Consenso de 
Washington que é o conjunto de ideias neoliberais onde o país têm princípios orientados 
pelas instituições financeiras internacionais. 
Chomsky (1999, p. 98) cita que “Ele (Estados Unidos) controla e por eles 
mesmo implementam de formas diversas – geralmente, nas sociedades mais 
vulneráveis, como rígidos programas de ajuste estrutural”. Com isso temos a ideia 
que o Consenso Washington tem em sua base um modo de controlar os países da 
América Latina já que a liberação de mercado e o uso de privatização são possíveis se o 
país adquirir tal ideia. 
Algumas ideias neoliberais ainda existem no governo estadunidense, podendo 
influenciar muito em outros países que usam o país como exemplo para crescimento 
econômico, como o Brasil, por exemplo. 
4 GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO CONTEMPORÂNEO 
 
Globalização é um termo que entrou em uso na época de 1980, período de 
processo de integração econômica, política e social internacional, fazendo com que o 
mundo se tornasse mais conectado. Na verdade, podemos entender que o mundo 
começou a ser globalizado muito antes da década de 80, na época em que os europeus 
iniciaram as navegações, em que deixavam seus países e iam para outros, ocasionando 
em um choque cultural. Atualmente não é mais necessário viajar para um país para 
termos acesso à sua cultura, pois com a tecnologia isso torna-se possível. 
Essas técnicas da informação são apropriadas por alguns Estados e 
por algumas empresas, aprofundando assim os processos de criação 
de desigualdades. É desse modo que a periferia do sistema capitalista 
acaba se tornando ainda mais periférica, seja porque não dispõe 
totalmente dos novos meios de produção, seja porque escapa a 
possibilidade de controle (SANTOS, 2003, p. 39). 
 
Com a globalização, temos acesso a outras culturas em tempo real, o que torna 
o conhecimento bastante acessível a quem tem acesso à internet. Entretanto, apesar de 
todos os prós, existem também os contras. Como para alguns pensadores, que criticam 
o estilo de vida ultra conectado, além de pensarem sobre como este acesso não é 
democrático, estando mais disponível para as classes sociais mais altas. Como podemos 
ver nas ideias do pensador Zygmunt Bauman. 
A informação agora flui independente dos seus portadores; a 
mudança e a rearrumação dos corpos no espaço físico é menos que 
necessária para reordenar significados e relações. Para algumas 
pessoas – para elite móvel, a elite da mobilidade - isso significa, 
literalmente, a libertação ao” físico”, uma nova imponderabilidade do 
poder (BAUMAN 1999, p. 25). 
 
 
Portanto, a globalização no mundo contemporâneo é caracterizada pelo avanço 
da ciência e da tecnologia. Com isso, faz-se necessário que questionemos se estamos 
utilizando essas ferramentas de modo benéfico para nós e para toda a humanidade e 
natureza, ou não. 
 
 
REFLITA 
 
“Antigamente as grandes nações mandavam seus exércitos conquistar 
territórios e o nome disto era colonização. Hoje as grandes nações mandam suas 
multinacionais conquistar mercados e o nome disto é globalização.” 
Fonte: (SANTOS, Milton, 1997). 
 
 
 
 
#REFLITA#
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Caro (a) aluno (a), nesta unidade, abordamos a história contemporânea, 
seguindo de modo a compreendermos melhor, no primeiro tópico, o que é o 
neoliberalismo, suas características e como ele influencia na política econômica dos 
países. Desse modo, conseguimos ter uma noção se esse é benéfico para a economia e, 
também, para a população. No segundo tópico, vimos sobre a vida e a importância de 
Margaret Thatcher, sobre como ela teve influência na mídia e economia da Inglaterra 
e do mundo e, como ficou conhecida como a Dama de Ferro. 
Seguimos compreendendo melhor o neoliberalismo nos Estados Unidos, a forma 
como Ronald Reagan adotou políticas econômicas neoliberais e, o que é o Consenso de 
Washington, importante, inclusive, para a economia brasileira. Por fim, 
compreendemos um pouco sobre a Globalização no mundo contemporâneo, com o 
questionamento se esta é somente benéfica para a sociedade como um todo, ou se 
seus benefícios são melhor vistos nas classes sociais mais altas. 
 
LIVRO 
 
• Título: O lucro ou as pessoas? 
 
• Autor: Noam Chomsky 
 
• Editora: Bertrand Brasil 
 
• Sinopse: O livro de Chomsky virou destaque na década de 90 por questionar sobre o 
Neoliberalismo e a ordem global, falando sobre crises políticas e como alguns planos 
econômicos falham quando é posto em prática. 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título: A Dama de Ferro 
 
• Ano: 2012. 
 
• Sinopse: Antes de se posicionar e adquirir o status de verdadeira dama de ferro na 
mais alta esfera do poder britânico, Margaret Thatcher (Meryl Streep) teve que 
enfrentar vários preconceitos na função de primeira-ministra do Reino Unido em um 
mundo até então dominado por homens. Durante a recessão econômica causada pela 
crise do petróleo no fim da década de 70, a líder política tomou medidas impopulares, 
visando à recuperação do país. Seu grande teste, entretanto, foi quando o Reino Unido 
entrou em conflito com a Argentina na conhecida e polêmica Guerra das Malvinas. 
REFERÊNCIAS 
 
 
BAUMAN, Zygmunt. Globalização: As consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Editor LTDA, 1999. 
 
CHOMSKY, Noam. O lucro ou as pessoas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. 
 
EXTRA. O Globo. Thatcher: de ‘Vilã do Leite’ ao embate com os sindicatos. 2013. s/p. 
Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/mundo/thatcher-de-vila-do-leite-ao- 
embate-com-os-sindicatos-8059071.html. Acesso em: 04 abr. 2022. 
 
HARVEY, David. O Neoliberalismo: histórias e implicações. São Paulo: Edições Loyola, 
2008. 
 
HOBSBAWM, E. A Era dos extremos 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 
1995.MORAES, Reginaldo C. Neoliberalismo – de onde vem, para onde vai? São Paulo: 
Editora Senac, 2001. 
 
MORAES, Reginaldo C. O legado de Margaret Thatcher. Belo Horizonte: Conjuntura 
Internacional, 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
https://extra.globo.com/noticias/mundo/thatcher-de-vila-do-leite-ao-embate-com-os-sindicatos-8059071.html
https://extra.globo.com/noticias/mundo/thatcher-de-vila-do-leite-ao-embate-com-os-sindicatos-8059071.html
 
CONCLUSÃO GERAL 
 
 
Caro (a) estudante, em nossa disciplina vimos os principais aspectos que marcaram a 
História Contemporânea. Foi um momento, que se desenrola até os dias atuais, de 
interação entre as nações do mundo. Seja uma relação de troca, de dominação e, por 
vezes, conflituosa. Esperamos que a discussão que apresentamos aqui possa abrir 
caminhos para que você se aprofunde ainda mais em seus estudos. 
Na primeira unidade, você viu o conceito de imperialismo e como este foi usado 
como ferramenta de política externa, especialmente em países da europa, bem como 
dos Estados Unidos. O mundo, neste contexto, foi repartido e subjugado, 
principalmente, na África e na Ásia. Abordamos como se deu a partilha da África e 
ocupação da Ásia, que só foi possível pela ideia que os europeus tinham que se tratavam 
de povos inferiores. Investigamos como essa perspectiva se mostra presente até os dias 
atuais. Bem como, vimos que é no século XIX que se desenvolvem os nacionalismos, cujo 
teor irá se desenvolver no início do século XX. 
Na segunda unidade, você entendeu como o crescente nacionalismo, a corrida 
armamentista e a disputa por território ocasionaram a Primeira Guerra Mundial, 
também chamada de a Grande Guerra. No começo do século, discutimos também como 
a Revolução Russa de 1917 se desenvolveu, gerando uma ordem política, econômica e 
social nunca antes vista. Falamos também sobre a ascensão dos Fascismos, focando no 
caso italiano, e também no movimento correlato na Alemanha, denominado nazismo. 
Inerente a isso, está a Segunda Guerra Mundial, a qual mudou o rumo das potências e 
fez emergir os EUA como líderes mundiais. Os EUA tiveram como adversário a URSS, que 
no contexto da Guerra Fria, se envolveram mutuamente na disputa por zonas de 
influência. 
Na terceira unidade, você viu com mais detalhes a Guerra Fria e o embate entre 
socialismo e capitalismo. Nesta unidade, abordamos também o que foram os “trinta 
gloriosos”, que representou o crescimento e fortalecimento dos países desenvolvidos. 
Após a queda do muro de Berlim e a desintegração da URSS, o mundo passou por outra 
mudança drástica, já que o mundo bipolar havia deixado de existir, pelo menos em tese. 
O fim do mundo dividido entre os interesses da URSS e dos EUA possibilitou a 
emergência do neoliberalismo. Vimos, portanto, na última unidade do que se trata esse 
conceito e a sua aplicação. Aliado a isso, temos o fortalecimento dos ideais neoliberais 
na Inglaterra de Thatcher, bem como nos Estados Unidos. 
Concluímos a unidade, abordando a globalização e seus impactos. Por fim, 
esperamos que este material forneça as bases, para que você possa conhecer 
melhor os eventos que marcaram a História Contemporânea. 
 
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	be6a7f2bf313cdf14f824260ee26609fd0285b52700f3fe4e99fc059f6f6341d.pdfdo Alasca, comprado da Rússia por 7,2 milhões de dólares, em 
1867, bem como a derrubada das lideranças locais do Havaí em vista da posse daquelas 
terras, que aconteceu em 1900. Esses territórios eram considerados estratégicos do 
ponto de vista comercial e militar na Ásia. A expansão estadunidense foi para além do 
seu entorno ainda em 1899, quando, em conjunto com a Alemanha, o país assumiu o 
controle das ilhas Samoa, localizadas no centro-sul do oceano Pacífico (MUNHOZ, 2009). 
A intenção era não apenas militar, mas também comercial. Assim como os 
imperialistas europeus, os EUA viram na conquista de novos mercados uma saída para 
a crise econômica que viviam no final do século XIX. Os EUA procuraram liderar o 
continente como um todo, influenciando largamente questões que lhe eram de 
interesse próprio, exemplo disso foi a construção do canal do Panamá, após o fracasso 
do projeto francês, os Estados Unidos decidiu levar a construção adiante, mas em meio 
a desentendimentos com a Colômbia – na época, a região do Panamá pertencia ao país 
latino – os EUA apoiaram rebeldes locais, provendo militarmente a revolta, para a 
declaração da independência panamenha. Mais tarde, os EUA assumiram o controle da 
região mediante pagamento e finalizaram a obra do canal do Panamá em 1914. 
No envolto de suas práticas imperialistas, com frequência os EUA intervinham 
em questões dos países vizinhos, como foi o caso da República Dominicana, que vivia 
uma crise para com os seus credores. Os EUA ocuparam o país, justificando que era 
necessário restaurar a ordem e garantir o direito dos credos, com isso eles conseguiram 
afastar a interferência de potências europeias na região. Era isso que pregava a política 
do presidente Roosevelt (1858-1919), o big stick, que procurava afastar a influência 
europeia do continente e acabou por violar a soberania de diversos países. 
De fato, os Estados Unidos empregavam o peso da sua economia para 
subordinar países da América Latina. Isso acontecia, sobretudo, pela 
concessão de empréstimos que levavam ao endividamento, em 
especial, dos países da América Central. Quando os débitos não 
podiam ser honrados ou se vislumbrava alguma instabilidade 
regional, os Estados Unidos justificavam a intervenção como medida 
de proteção aos seus direitos e dos seus capitalistas (MUNHOZ, 2009, 
p. 250). 
 
 
Diferente do que o imaginário popular legítima, não foi a livre iniciativa que 
fizeram dos EUA uma grande potência, mas sim a sistemática intervenção do Estado na 
economia. Poderíamos citar vários exemplos de corporações, como Carnegie Steel, que 
tiveram altos lucros, pois seus produtos estavam protegidos da concorrência de 
produtos de outros países, como a Inglaterra a qual eram impostas tarifas elevadas de 
importação. Nesse sentido, o imperialismo estadunidense mostra-se como 
compromisso entre a elite capitalista e o Estado (MUNHOZ, 2009). 
O imperialismo como fenômeno histórico deixou as suas marcas até os dias 
atuais. Enquanto elemento multifatorial, que envolve economia, política, cultura e 
sociedade, subjugou inúmeros povos entendidos como inferiores e modelou a 
sociedade contemporânea a que assistimos hoje. Esse fenômeno, também tomado 
como conceito – já que sua aplicabilidade é viável em diferentes contextos – foi objeto 
de estudo de alguns teóricos, como veremos a seguir. 
 
 
 
 
 
 
1.2 Abordagens teóricas: os imperialismos 
 
 
Hoje vemos se disseminar uma postura condenatória do imperialismo, mesmo 
por parte de países que o praticam de forma velada. As diferentes formas que o 
imperialismo assumiu e assume, desde a compreensão mais geral que abrange todas as 
formas de Império, como as mais pontuais, referentes à fase histórica e classicamente 
denominada imperialista; são tributárias de teóricos que dissertam sobre este conceito. 
Dentre as interpretações sobre o conceito, temos as acepções marxistas, ainda 
que Marx em si não tenha discorrido sobre imperialismo em suas obras, mas sim tateava 
o colonialismo, que são conceitos correlatos. Os seguidores de Marx, chamando atenção 
para as contradições do capitalismo, concordam em dizer que estas contradições 
estruturais provocaram o uso de violência, que não se faria possível se não houvesse a 
mão do Estado, assim a política foi usada como instrumento pela burguesia capitalista 
(PISTONE, 1998). 
Por outro lado, o Imperialismo surge também como um instrumento 
essencial para fazer face às contradições do capitalismo e para 
prolongar a sua sobrevivência, estendendo-as ao âmbito 
internacional com a exploração de outros povos e permitindo com 
isso fazer concessões à classe operária das metrópoles capitalistas 
(PISTONE, 1998, p. 612). 
 
Nesse sentido, para os marxistas,, a superação do Imperialismo, só seria possível 
mediante a superação do próprio capitalismo. Isso teria ficado evidente mediante as 
sucessivas crises do capitalismo após o imperialismo, que seriam potencialmente 
revolucionárias, que é uma das contradições do capitalismo (PISTONE, 1998). Para 
entender essa reflexão, basta pensar que a Revolução Russa, de 1917, foi subsequente 
ao imperialismo. 
Alguns pensadores endossam a concepção marxista sobre o imperialismo, como 
Rosa Luxemburgo e Lenin que escreveu um pequeno livro intitulado um pequeno livro 
chamado Imperialismo em 1916, que abordou a divisão do mundo brevemente 
(PISTONE, 1998) (HOBSBAWM, 2008). Pensadores estadunidenses como Baran e 
Swezzy, nasceu desta corrente análises como o neocolonialismo e subdesenvolvimento, 
bem como explicações acerca do imperialismo soviético (PISTONE, 1998). 
 
Pistone (1998) segue apresentando a visão Rosa Luxemburgo sobre o 
imperialismo. O autor coloca que a pensadora via que a classe trabalhadora europeia, 
com baixo poder aquisitivo, não poderia participar do consumo preconizado pela 
expansão ilimitada do capitalismo, sendo assim, teria de haver um mundo extrínseco de 
consumo, para não refrear o capitalismo. Assim, os mercados internos se mostrariam 
insuficientes, sendo necessária a conquista de colônias. 
Já Lenin vê o imperialismo sob outros moldes: 
 
A hipótese fundamental da teoria de Lenin não se apóia[sic] no 
empobrecimento do proletariado e na sua falta de poder de 
consumo, mas na tendência à queda das taxas de lucro. Os 
monopólios financeiros dos Estados mais avançados do capitalismo 
são obrigados a explorar o mercado mundial, entrando em conflito 
com outros grupos financeiros que tentam fazer o mesmo, pois os 
lucros obtidos no mercado interno tendem a desaparecer (PISTONE, 
1998, p. 614). 
 
 
A visão de Lenin ocupa lugar central entre os marxistas ortodoxos, é considerada 
a mais próxima da realidade histórica. A teoria de Lenin obteve mais aceitação do que a 
de Luxemburgo por ser mais elástica, pois apesar de ser formulada na época do 
colonialismo, serve também para abranger outros contextos (PISTONE, 1998). 
Os economistas estadunidenses Baran e Swezzy olham para o imperialismo 
considerando um contexto de pós-guerra e sobrevivência do capitalismo. Eles entendem 
que “a exploração dos países atrasados continuou, apesar da independência, porque 
eles continuaram inseridos no sistema mundial capitalista, dominado pelos países mais 
fortes e pelas grandes empresas multinacionais” (PISTONE, 1998, p. 614). 
Outra tese acerca do imperialismo advém da corrente social-democrata. Essa 
abordagem nega a relação entre capitalismo e imperialismo, bem como a crença de que 
qualquer tendência imperialista que o capitalismo possa ter e possa ser eliminada 
através reformas democráticas e econômico-sociais. Um dos principais representante 
desses pensadores foi Karl Kautsky, que: 
 
 
[...] sustenta, contra a tese dos marxistas revolucionários sobre a 
inevitabilidade das guerras imperialistas entre os países capitalistas, 
que o Imperialismo agressivo constitui, não uma fase necessária do 
capitalismo, mas uma das suas políticas,que pode ser substituída por 
outra, por uma política "ultra-imperialista", que implique uma 
pacífica colaboração entre as potências capitalistas (mais 
conveniente entre outras coisas porque o Imperialismo agressivo 
apresenta custos muito maiores do que vantagens), na organização do 
mercado mundial e na admissão nele dos países ainda não incluídos 
(PISTONE, 1998, p. 615). 
 
 
Kautsky difere os socialistas revolucionários, segundo Pistone (1998) ao não 
pregar o fim iminente do capitalismo, mas sim a sua transformação tendo em vista um 
modelo socioeconômico colaborativo entre os países “avançados” e os “atrasados”. 
A terceira corrente, que também se encontra afastada do marxismo ortodoxo, é 
a liberal. Um dos seus principais nomes foi Joseph Alois Schumpeter, o economista 
analisou a história da antiguidade até a Primeira Guerra Mundial e discorda dos 
marxistas que dizem que o imperialismo é uma fase ou um desdobramento do 
capitalismo. Para ele, existiriam, desde período Antigo, disposições culturais, políticas, 
sociais, econômicas, psicológicas, dentre outras, as quais o capitalismo não conseguiu 
superar e que deram origem ao Imperialismo moderno. Para ele, 
[...] o capitalismo [...] é, por sua natureza, essencialmente pacífico, na 
medida em que lhe é intrínseca uma forte tendência à 
racionalização — no sentido do cálculo racional dos custos e dos 
lucros —, que estende progressivamente a sua influência a todos os 
aspectos da vida social. Ele tende particularmente a neutralizar as 
atitudes agressivo- irracionais que se revelam na praxe política interna 
e internacional, em variadas formas de violência, entre elas a guerra e 
a expansão imperialista, canalizando-as e orientando-as para a 
racional e, portanto, pacífica competição econômica no mercado, e 
fomentando com isso a instituição de procedimentos 
democráticos. Dada esta tendência do capitalismo, o fato de que 
haja fenômenos importantíssimos de política imperialista que se 
manifestam no âmbito da civilização capitalista não se pode explicar 
senão em virtude de nele persistirem atitudes psicológicas e 
culturais e interesses concretos de origem e natureza pré-
capitalistas, que manifestam sua influência através do poder político, 
orientando-o para uma política imperialista que contradiz a lógica do 
capitalismo (PISTONE, 1998, p. 616, grifo nosso). 
 
 
Isso quer dizer que para Schumpeter o imperialismo é resultado de fatores pré- 
capitalistas. Não haveria, portanto, um interesse econômico direto na expansão 
imperialista, mas sim um fator político de manutenção de poder e prestígios. Essa 
concepção teve bastante êxito, sobretudo, entre os liberais-conservadores 
estadunidenses, que tendiam a ver inclinações imperialistas clássicas apenas na União 
Soviética. 
Ao apresentarmos algumas das concepções teóricas acerca do imperialismo, 
podemos ver que não apenas a historiografia, mas também outros campos do 
conhecimento tendiam a ver a complexidade do fenômeno. Este capítulo na história 
contemporânea inaugura uma nova configuração no globo, no qual mercadorias, 
pessoas e ideias foram trocadas. Esse processo também evidenciou a visão de mundo 
européia e estadunidense e a submissão que impuseram a outros povos. 
2 A PARTILHA DA ÁFRICA 
 
 
 
 
A África foi palco de bruscas mudanças entre os anos de 1880 e 1910, que 
coincide com as investidas imperialistas de países europeus sobre o vasto continente. 
Até 1880 algumas poucas áreas estavam sob o regime colonial europeu, e havia uma 
imensa área cujo o governo estava nas mãos de seus próprios reis, rainhas, impérios, 
chefes de clã, e toda sorte de governos. 
Em toda a África ocidental, essa dominação limitava-se às zonas 
costeiras e ilhas do Senegal, à cidade de Freetown e seus arredores 
(que hoje fazem parte de Serra Leoa), às regiões meridionais da Costa 
do Ouro (atual Gana), ao litoral de Abidjan, na Costa do Marfim, e de 
Porto Novo, no Daomé (atual Benin), e à ilha de Lagos (no que consiste 
atualmente a Nigéria). Na África setentrional, em 1880, os franceses 
tinham colonizado apenas a Argélia. Da África oriental, nem um só 
palmo de terra havia tombado em mãos de qualquer potência 
europeia, enquanto, na África central, o poder exercido pelos 
portugueses restringia -se a algumas faixas costeiras de Moçambique 
e Angola. Só na África meridional é que a dominação estrangeira se 
achava firmemente implantada, estendendo -se largamente pelo 
interior da região (BOAHEN, 2010, p. 01) 
Observe o mapa abaixo: 
 
 
 
 
Figura 1: Colonização européia na África até 1880 
Fonte: Boahen (2010). 
 
 
A colonização européia no continente africano não veio sem hostilidades e resistências 
por parte das lideranças locais, que em sua grande maioria defenderam a soberania de 
seus povos ante as investidas dos europeus. Alguns tinham exércitos já formados ou 
tentavam resolver a questão com base na diplomacia. Entretanto, é importante 
pontuar que muitos viam com bons olhos a chegada de novas tecnologias e não viam a 
presença de europeus como ameaça a sua soberania, exemplo disso foi a criação de 
escolas primárias e secundárias na Costa do Ouro e na Nigéria. Além disso, muitos 
africanos ricos enviavam os filhos para a Europa, a fim de receberem educação 
superior (BOAHEN, 2010). 
Até 1880 os africanos possuíam relações de livre comércio com a Europa e outras 
localidades, bem como julgavam-se militarmente e religiosamente – a religião foi uma 
importante arma contra colonialismo – caso os europeus ou qualquer outro povo 
ousasse ameaçar sua independência: 
No entanto um fato escapava aos africanos: em 1880, graças ao 
desenvolvimento da revolução industrial na Europa e ao progresso 
tecnológico que ela acarretara – invenção do navio a vapor, das 
estradas de ferro, do telégrafo e sobretudo da primeira 
metralhadora, a Maxim –, os europeus que eles iam enfrentar tinham 
novas ambições políticas, novas necessidades econômicas e 
tecnologia relativamente avançada. Por outras palavras, os africanos 
não sabiam que o tempo do livre‑cambismo e do controle político 
oficioso cedera lugar, conforme diz Basil Davidson, à “era do novo 
imperialismo e dos monopólios capitalistas rivais” (BOAHEN, 2010, p. 
07). 
 
Isso quer dizer que os europeus já não queriam apenas trocar produtos, mas sim 
exercer um controle político sobre o continente, assim naquela altura, o armamento 
europeu superava tecnologicamente as armas na África. Mas como explicar o porquê de 
naquele dado momento histórico a África ter sido tomada de assalto, repartida, 
dominada e ocupada? Por que os africanos não foram capazes de proteger sua 
soberania e afastar o colonialismo europeu? São questões amplas e multifatoriais, as 
quais iremos explorar a seguir. 
Alguns acontecimentos importantes estimularam a corrida pela partilha da 
África. O primeiro deles foi o interesse, até então inaudito, de Leopoldo I, rei dos belgas, 
em 1876. Neste ano na Conferência de Geográfica de Bruxelas, a realeza, fundamentou 
a exploração do Congo e a criação do Estado Livre do Congo. No mesmo ano, outro 
aspecto salutar, Portugal deu início a uma série de expedições, que levaram o país a 
anexar propriedades rurais moçambicanas. Um terceiro aspecto, que impulsionou a 
corrida, foi a política expansionista francesa entre 1879 e 1880, dividindo o controle do 
Egito com o Reino Unido, bem como “pelo envio de Savorgnan de Brazza ao Congo, pela 
ratificação de tratados com Makoko, chefe dos Bateke, [e] pelo restabelecimento da 
iniciativa colonial francesa tanto na Tunísia como em Madagáscar” (UZOIGWE, 2010, p. 
32). 
Os Estados europeus passaram a efetivar a ocupação de vários territórios, o que 
gerava conflito entre as nações. Foi então que Portugal sugeriu uma conferência 
internacional para resolver questões referentes à ocupação da África, apesar da ideia, 
foi Bismarck, da Alemanha, que levou a cabo esta sugestão. Inicialmente, a ideia da 
Conferênciade Berlim – que foi de 15 de novembro de 1884 a 26 de novembro de 1885 
– era discutir a abolição do tráfico de pessoas escravizadas e ao bem-estar africano, mas 
não foi isso o que aconteceu: 
 
A conferência, que, inicialmente, não tinha por objetivo a partilha da 
África, terminou por distribuir territórios e aprovar resoluções sobre 
a livre navegação no Níger, no Benue e seus afluentes, e ainda por 
estabelecer as “regras a serem observadas no futuro em matéria de 
ocupação de territórios nas costas africanas. Por força do artigo 34 do 
Ato de Berlim, documento assinado pelos participantes da 
conferência, toda nação europeia que, daí em diante, tomasse posse 
de um território nas costas africanas ou assumisse aí um 
“protetorado”, deveria informá‑lo aos membros signatários do Ato, 
para que suas pretensões fossem ratificadas (UZOIGWE, 2010, p. 33). 
 
A partir daí se estabeleceram regras que tornaram “legal” a apropriação do território 
africano. O que revela a prepotência dos Estados europeus da época, já que nunca um 
grupo de países se entendeu no direito de repartir um outro continente como lhe bem 
conviesse. Antes da Conferência de Berlim, os Estados tinham suas formas de 
dominação dos povos africanos, seja por meio da colonização, do envio de missionários, 
da manutenção de dirigentes africanos, ainda sob o regime de protetorado. Mas com a 
conferência esse domínio pôde ser expresso no papel. Poderiam ser tratados entre os 
africanos e os europeus ou entre os europeus: 
Os tratados afro‑europeus dividiam‑se em duas categorias. 
Primeiramente houve aqueles sobre o tráfico de escravos e o 
comércio, que foram fonte de conflitos e provocaram a intervenção 
política europeia nos assuntos africanos. Depois, vieram os tratados 
políticos, mediante os quais os dirigentes africanos ou eram levados a 
renunciar a sua soberania em troca de proteção, ou se 
comprometiam a não assinar nenhum tratado com outras nações 
europeias (UZOIGWE, 2010, p. 34). 
 
 
Muitos africanos concordavam com esses tratados na esperança de obterem 
vantagens para seu povo. Muitas vezes um Estado africano fraco, que estava sob o 
domínio de outro Estado africano, assinava o tratado com uma potência, esperando ver- 
se livre do domínio de seu vizinho, por exemplo. Não se tratava, entretanto, de entregar 
a soberania de seu povo de bom grado, mas muitos governantes entendiam que podiam 
resolver conflitos internos com a ajuda de empresas ou governos estrangeiros. Foi mais 
tarde, que alguns reis e governantes africanos, perceberam que estes ameaçavam a 
independência dos seus países. 
As consequências da Conferência de Berlim se mostraram na legitimação do que 
se designou zonas de influência. “Uma zona de influência, portanto, nascia de uma 
declaração unilateral, mas ela só se tornava realidade uma vez aceita, ou pelo menos 
não contestada por outras potências europeias” (UZOIGWE, 2010, p. 37-38). Ou seja, se 
não houvesse nenhuma outra potência europeia que reivindicava direitos sobre aquela 
região, pouco a pouco, o país reclamava por direitos de soberania em determinada 
região. Mas havia casos em que dois ou mais países tomavam uma região como objeto 
de disputa, assim existiam acordos que determinavam com exatidão as fronteiras, sejam 
elas naturais ou políticas, de forma ocasional se levava em consideração as fronteiras 
originais dos povos. 
 
Considera‑ se que o tratado anglo‑ alemão de 29 de abril (e de 7 de 
maio) de 1885, que definia as “zonas de intervenção” da Inglaterra e 
da Alemanha em certas regiões da África, talvez seja a primeira 
aplicação a sério da teoria das esferas de influência nos tempos 
modernos. Mediante uma série de tratados, acordos e convenções 
análogos, a partilha da África nos mapas estava praticamente 
terminada em fins do século XIX (UZOIGWE, 2010, p. 38). 
 
 
A partir daí a África foi recortada de acordo com os interesses dos países 
europeus, seja através de tratados unilaterais ou bilaterais, o que fez com que o mapa 
do continente ficasse dividido não conforme a divisão étnica do continente. Segue 
abaixo um mapa, meramente ilustrativo, da divisão étnica do continente africano, que 
evidencia como provavelmente seria a divisão da África se não houvesse a repartição 
europeia. 
 
Figura 2 - Divisão étnica do continente africano: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: História e Cultura, 2016. Disponível em: 
https://historiaecultura.ciar.ufg.br/modulo2/capitulo4/cnt/1-14.html. Acesso em: 09 dez. 2021.
Com a partilha da África, o mapa do continente foi completamente alterado. 
 
 
Figura 3 - Partilha da África até 1914 
Fonte: Overdose de Teorias. Disponível em: 
https://overdosedeteorias.files.wordpress.com/2017/03/partilha.jpg. Acesso em: 04 abr. 2022. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Você pode observar que cerca de 30% das fronteiras são linhas retas, cortando ao 
meio, muitas vezes, fronteiras étnicas e linguísticas. Antes dessa partilha, como 
pudemos contemplar na imagem 2, a África era subdivida em etnias, porém essas 
fronteiras, segundo Uzoigwe (2010) eram móveis, por conta de relações internas. A 
partilha da África fixou fronteiras, seja de maneira imposta ou seguindo alguns 
contornos pré-definidos. 
 
https://overdosedeteorias.files.wordpress.com/2017/03/partilha.jpg.
 
Vimos que a partilha da África se deu por meio de tratados unilaterais ou 
bilaterais por parte dos europeus, mas em que medida esses tratados eram válidos? 
Como e porque os africanos os “aceitaram”? 
Seu estudo leva à conclusão de que alguns deles são juridicamente 
indefensáveis, outros moralmente condenáveis, enquanto outros 
ainda foram obtidos de forma legal. No entanto, trata‑ se aí de atos 
essencialmente políticos, defensáveis somente no contexto do 
direito positivo europeu, segundo o qual a força é a fonte de todo o 
direito. Mesmo quando os africanos procuravam abertamente 
celebrar tratados com os europeus, a decisão era sempre ditada 
pela força que eles sentiam no lado europeu. Em certos casos, os 
africanos, por suspeitarem das razões apresentadas pelos europeus 
para a conclusão desses tratados, recusavam‑se a participar deles, 
mas, submetidos a pressões intoleráveis, acabavam por aceitá‑las. 
Muitas vezes, africanos e europeus divergiam sobre o verdadeiro 
sentido do acordo a que haviam chegado. Fosse como fosse, os 
governantes africanos consideravam, por sua parte, que esses 
tratados políticos não os despojavam de sua soberania. Viam 
neles, antes, acordos de cooperação, impostos ou não, que 
deveriam ser vantajosos para as partes interessadas (UZOIGWE, 
2010, p. 39, grifo nosso). 
 
 
Assim, no contexto do Imperialismo, os povos africanos sofreram duramente 
com a partilha. Em um primeiro momento, os soberanos em África acreditavam estar 
fazendo acordos com os países europeus ou mesmo acabaram por sucumbir frente às 
novas tecnologias armamentistas da Europa. De qualquer forma, essa dominação 
provocou feridas econômicas, sociais e políticas, que custam a sarar até os dias atuais.
3 IMPERIALISMO NA ÁSIA E NO PACÍFICO 
Fonte: 
https://commons.wikimedia.org/w/index.php?search=opium+war&title=Special%3ASearch&profile=adv 
anced&fulltext=1&advancedSearchcurrent=%7B%7D&ns0=1&ns6=1&ns12=1&ns14=1&ns100=1&ns106 
=1#/media/File:Second_Opium_War_British_Beijing_1860.jpg 
 
 
Assim como as nações africanas viram o exercício das esferas de influência, 
praticada por conta do imperialismo europeu, a Ásia e a região do Pacífico, que 
corresponde hoje a parte da Oceania, também sofreu com a intervenção dos países da 
Europa. Mas não apenas a Europa se mostrou interessada na região, os EUA e o Japão 
também entraram na corrida na busca de matérias-primas e mercado consumidor. 
Um dos mais poderosos Impérios no final do XIX e início do século XX, era o 
britânico, que por sua extensão era conhecido, de acordo com Mason (2017, p. 111)como “o império no qual o sol nunca se punha”. Na Ásia foi um dos países com várias 
possessões: 
 
As colônias britânicas lá consistiam no que agora são sete países: 
Índia, Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka, Birmânia, Malásia e 
Singapura. Havia outros pequenas assentamentos, como Hong Kong, e 
também esferas de influência em países nominalmente 
independentes, mas preparados a aceitar a orientação britânica 
(MASON, 2017, p. 111). 
Já a França dominava o que hoje se conhece por Vietnã, Camboja e o Laos. 
Enquanto que a Holanda dominava a metade ocidental do arquipélago do Sudeste 
asiático. As mais de 400 ilhas da região do pacífico, primeiro ficaram nas mãos dos 
espanhóis, mais tarde passaram para os Estados Unidos. A China era e é uma região de 
grande extensão territorial e os imperialistas tinham dificuldade para penetrar na região 
ou temiam que os demais o fizessem, por isso, ela foi dividida em esferas de influências. 
Entretanto, na costa chinesa foram feitas importantes concessões de portos, que se 
industrializaram e se transformaram em grandes cidades, a custo da exaustão de 
recursos, exploração da mão de obra barata, gerando intenso sofrimento, pobreza e 
doenças (MASON, 2017). 
O Japão é um caso à parte, já que: 
 
[...] manteve sua independência somente porque “ocidentalizou” sua 
economia e indústria com velocidade e energia notáveis e ganhou 
respeito dos dominadores ao se tornar uma potência colonial, 
anexando a Coreia, Taiwan e a Manchúria. A Tailândia, sob controle 
sagaz de seus reis chakri, escapou ao status colonial a se curvar aos 
ventos – abrindo mão de território onde isso parecia vantajoso – e 
aceitando orientação europeia – especialmente britânica (MASON, 
2017, p. 112). 
 
A Ásia tomou uma nova composição geográfica e por onde quer que se olhasse via-se 
povos divididos, isolados de sua maioria, isso por conta dos interesses econômicos na 
região. Uma das práticas econômicas típicas do imperialismo na Ásia era a imposição de 
monopólios, como era o caso dos monopólios de sal e ópio, no qual os países 
produtores só poderiam vender para o país que o dominava. Esses monopólios eram 
tão lucrativos que dobraram a receita vinda das colônias na primeira década de vigência. 
A prática econômica imperialista representou um duro golpe para o 
desenvolvimento de vários países asiáticos. Os imperialistas consumiam as matérias- 
primas e desestimulavam a industrialização, para não competir com seus próprios 
mercados. Um exemplo disso foi a Índia, 
 
antes da era colonial a maior fornecedora de tecidos de algodão do 
mundo, perdeu essa posição no século XIX para a massiva indústria 
têxtil que se desenvolveu nas Midlands inglesas. Efetivamente, a 
porção asiática do PIB mundial caiu de mais de 60% em 1800 para 
menos de 20% em 1940. Esse enorme declínio não foi acidental. 
Enquanto a indústria e as economias dos dominadores prosperavam, 
as das colônias estavam deliberadamente restritas (MASON, 2017, p. 
113). 
Outro aspecto econômico era a transformação de grandes extensões de terras 
em produtoras de grãos – sistema conhecido como plantation. A logística em torno da 
exportação desses insumos fez com que surgissem algumas estradas, ferrovias e portos, 
voltadas ao escoamento dos produtos e que beneficiavam em grande parte o 
dominador. 
O caso da Índia se mostrou particularmente importante, já que após muita 
resistência, o país se tornou uma colônia britânica durante um período de 
aproximadamente noventa anos, de 1858 até 1947. Durante a primeira parte desse 
período, entre 1858 e 1914, a Índia, como qualquer outra colônia, estava sob a 
supervisão e tutela do parlamento britânico. A administração do país estava subdividida 
em províncias, as quais eram geridas por representantes do governo, ainda que algumas 
vezes fossem escolhidos indianos para ocupar esses cargos, mas subordinados sempre 
a uma autoridade britânica. 
Os interesses do monopólio britânico na Índia não se baseavam 
principalmente em plantações. Eles se baseavam no transporte 
marítimo, bancário, seguro e no controle de comércio dentro do país 
através do maquinário de distribuição, porque Capitalistas indianos, 
percebendo que tinham poucas chances de independência, ajustaram- 
se à posição de agências de firmas britânicas. Nas primeiras décadas 
do nosso período, os interesses britânicos não era de estabelecer 
indústrias na Índia (PANIKKAR, 1961, p. 117, tradução nossa). 
 
A colonização britânica na Índia, apoiava-se na ideia de uma suposta 
superioridade racial. Acreditava-se que o mais simples colonizador até um homem que 
ocupasse o mais alto escalão administrativo, era superior e estava sob a proteção e 
desígnio divino de governar e dominar aquele povo (PANIKKAR, 1961). Na verdade, a 
ideia de superioridade pairava sobre o imaginário dos europeus, cada país acreditava 
em um suposto destino em explorar, ocupar, governar os povos da Ásia e do Pacífico.
4 NACIONALISMO 
 
Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/nacionalismo.htm 
 
 
 
Como pudemos ver, o período que compreende o último quartel do século XIX 
até 1914 foi marcado pela expansão dos países da Europa sobre quase todo o globo. Um 
sentimento comum que os unia era o sentimento de nacionalidade. A historiografia tem 
poucas dúvidas que no final do século XIX se formava caldo do nacionalismo, que vinha 
se formando desde a “primavera dos povos” de 1848. 
Para Hobsbawm (1979) a Primavera dos Povos de 1848 – série de manifestações 
populares em toda a Europa – foi uma afirmação de nacionalidade. Por toda parte via- 
se a construção de Estado-Nações, não apenas na Europa, mas nos Estados Unidos, onde 
a Guerra Civil expressou a tentativa de manter a unidade dos EUA , bem como no Japão 
com a Restauração Meiji. 
Mas do que se tratava esse nacionalismo? Certamente era algo difícil de definir, 
já que a “nação” era um dado natural.
 
Certamente os ingleses sabiam o que era ser inglês, os franceses, 
alemães ou russos certamente não tinham dúvidas do que fosse sua 
identidade coletiva. Talvez não, mas na era da construção de nações 
acreditava-se que isso implicava a lógica necessária assim como a 
desejada transformação de “nações” em Estados-Nações soberanos, 
com um território coerente, definido pela área ocupada pelos 
membros da “nação”, que por sua vez era definida por sua história, 
cultura em comum, composição étnica e, com crescente importância, 
língua (HOBSBAWM, 1979, p. 127-128). 
 
Mas o nacionalismo não é tão lógico e racional como explicitado pela citação. O 
que parece estar por trás da constituição desses grupos humanos enquanto Estados- 
Nações estava assentado na recuperação das culturas orais, na herança folclórica do 
povo comum. Entretanto, aqueles que iniciaram, cada qual em sua nação, eram 
membros cultos da classe dirigente. 
Acreditava-se que as maiores nações, aquelas mais estabelecidas iriam engolir 
as pequenas e frágeis, assim, estas nações estariam destinadas a prevalecer ou a vencer 
a luta pela existência, em uma perspectiva darwinista. Esse tipo de pensamento, de cada 
ideólogo de uma nação, não era destinado apenas a pequenas minorias linguísticas que 
vivem em seus territórios, mas também a estrangeiros. Contudo, a aspiração em fazer 
um Estado-Nação sob uma mesma língua, pertencente a uma classe letrada, só se fez 
possível como reação a movimentos de pequenos povos que aspiravam à própria 
nacionalidade. Estava posto o problema. Diante da questão, os ideólogos de cada nação 
tinham algumas escolhas. Primeiramente poderiam negar a legitimidade de tais 
movimentos nacionalistas, poderiam reduzi-los a movimento de autonomia regional ou 
mesmo aceitá-los como fatos inegáveis e incontroláveis. Qualquer que fosse a 
alternativa, nenhum outro país considerava os problemas internos de um outro país 
como um problema de cunho internacional (HOBSBAWM, 1979). 
É importante pontuar uma diferença básica entre Estado-Naçãoe nacionalismo. 
O primeiro era um subterfúgio político de unificação que buscava se apoiar no 
nacionalismo. Muitos países, como foi o caso da Itália e da Alemanha possuíam dentro 
de seus territórios variedades culturais e linguísticas tão diversas, que dificilmente se 
poderia enxergar um povo único com aspirações únicas. Tal era esse disparate que 
Massimo d’ Azeglio – estadista piemontês-italiano – exclamou em 1860: “Fizemos a 
Itália; agora precisamos fazer os italianos” (AZEGLIO apud HOBSBAWM, 1979, p. 134). 
É difícil mensurar ou mesmo ratificar o nacionalismo de cidadãos ingleses, 
franceses, italianos, alemães, estadunidenses etc. em meados do século XIX. Hobsbawm 
(1979) aponta que em casos de nações emergentes, como era o caso dos EUA, o 
nacionalismo começava a tomar forma graças ao mito e a propaganda. 
 
SAIBA MAIS 
 
 
A Doutrina do Destino Manifesto 
 
 
 
Nos EUA do século XIX se expandia para oeste, essa expansão estava apoiada na 
crença de que o país tinha uma missão, designada por Deus, de conquistar o continente. 
Sendo assim, a doutrina do Destino Manifesto estava ancorada em preceitos calvinistas, 
no qual acreditava-se que Deus escolhia os seus eleitos, tendo como missão principal 
levar valores morais e iluminar povos considerados inferiores. Este quadro, ainda que 
contestável pelos próprios contemporâneos, foi importante elemento para a criação de 
um sentimento nacional. 
 
 
Fonte: Costa, 2011. 
 
 
 
#SAIBA MAIS# 
 
 
No entanto, seja nas nações emergentes, como nas nações consideradas 
“históricas”, a construção do nacionalismo fica circunscrita a camadas intermediárias 
como professores, estudantes, membros dos baixo clero e pequenos comerciantes. As 
classes mais tradicionais ou pobres foram as últimas a se comprometerem com um 
sentimento nacional, que começou a se concretizar apenas atrelada ao 
desenvolvimento econômico e político. O nacionalismo de massa era algo novo, 
diferente do nacionalismo de elite ou das classes médias. 
A ideia de nação era um artefato produzido, ainda que não fosse 
necessariamente novo, “embora incorporasse características que membros de grupos 
humanos muito antigos tinham ou pensavam ter em comum, ou aquilo que os unia 
contra estrangeiros” (HOBSBAWM, 1979, p. 142). Ou seja, o país precisava construir um 
sentimento de nação, seja por meio da educação ou do serviço militar obrigatório. 
Houve um crescimento considerável de universidades e escolas secundárias dentro e 
fora da Europa, que cresceram sob influência nacionalista. No entanto, o maior avanço 
estava nas escolas primárias, onde eram impostos valores morais, patriotismo, dentre 
outros. 
Outro aspecto importante para a criação de Estados-Nações eram os meios de 
comunicação. Esses só podiam ser viáveis na medida que a população fosse alfabetizada, 
já que estamos falando de uma era dominada pela imprensa escrita. Assim, o ensino da 
língua nacional e oficial para a diversidade de etnias que viviam em um determinado 
país, era aspecto fundamental na constituição do ideário de nacionalidade. 
Dessa forma, o nacionalismo começa a ter como característica a incorporação de 
imigrantes ou minorias étnicas em seu escopo, para formação de um Estado-Nação. O 
sentimento de ser inglês, alemão, francês, dentre outros, foi construído e construído 
para expressar unicidade e oposição ao outro. Com isso colocava em rivalidade 
diferentes povos, o que foi fermento para a primeira grande guerra, conforme veremos 
mais adiante. 
 
 
REFLITA 
 
“O poder nunca é propriedade de um indivíduo; pertence a um grupo e 
permanece em existência apenas na medida em que o grupo conserva-se unido.” 
Fonte: (ARENDT, 1989, p. 289). 
 
 
 
#REFLITA# 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Caro (a) aluno (a), nesta unidade que inaugura nossos estudos em História 
Contemporânea, você viu alguns elementos que marcaram as últimas décadas do século 
XIX e as primeiras do século XX. Temas como imperialismo e nacionalismo, continuam 
em pauta, ainda que com roupagens diferentes. 
No primeiro tópico discutimos sobre o imperialismo e suas consequências. A 
ideia de um grupo considerar-se como superior e, portanto, autorizado a dominar 
outros povos nasceu há muito tempo, mas foi só nos séculos XIX e XX que pudemos ver 
enquanto prática estabelecida de vários países da Europa e mais tarde dos EUA e do 
Japão. Essa política, que também é econômica e cultural, deixou marcas na organização 
do globo e até os dias atuais está sujeita a análises teóricas. 
Os europeus, os estadunidenses e outras nações à época viam legitimidade no 
domínio do que se considerava o “outro”. Este outro viu seu território ser invadido, suas 
riquezas exploradas e sua soberania expropriada. Conforme discutimos, isso foi 
presente no que reconhecemos hoje como a partilha da África. Um continente inteiro 
foi dividido conforme os interesses das grandes potências. Isso não se deveu a uma 
inocência dos africanos, mas sim a diversos fatores que foram explorados ao longo do 
tópico. A ideia de dominação também pairou sobre a Ásia e o Pacífico, nestes locais 
foram estabelecidas formas de administração política e econômica, mais uma vez de 
acordo com interesses de outros países. Esse foi o tema no terceiro tópico. 
No quarto e último tema falamos sobre a questão do nacionalismo. O 
nacionalismo, que começa a se formar a partir da noção da existência de um Estado- 
Nação, foi responsável por mudanças importantes no decorrer do século XX. Por isso, 
foi importante explorar suas bases, entendendo que é um artefato. 
LIVRO 
 
• Título: A Era dos Impérios: 1875 -1914 
 
• Autor: Eric Hobsbawm. 
 
• Editora: Paz e Terra. 
 
• Sinopse: Este livro faz parte da trilogia das “Eras” do importante historiador Eric 
Hobsbawm. As obras de Hobsbawm são leituras quase que obrigatórias para estudantes 
e pesquisadores de História Contemporânea. No livro em questão, o autor traz uma 
análise sobre os acontecimentos desde a crise de 1875, a expansão europeia, o 
imperialismo até os acontecimentos que deram origem à Primeira Guerra Mundial. 
 
 
 
 
 
FILME/VÍDEO 
 
• Título: O Homem que Queria ser Rei 
 
• Ano: 1975. 
 
• Sinopse: Enquanto a Índia era dominada pelos colonizadores ingleses, dois ex- 
soldados britânicos decidem explorar os países ao redor. Os destemidos Peachy 
Carnahan (Michael Caine) e Daniel Dravot (Sean Connery) viajam para o Kafiristão, onde 
pretendem conquistar o sucesso e viver como reis. 
REFERÊNCIAS 
 
 
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Trad. Roberto Raposo. São Paulo: 
Companhia das Letras, 1989. 
 
 
BOAHEN, A. A. A África diante do desafio colonial. In: BOAHEN, A. A. (ed.). História 
Geral da África, VII: África sob dominação colonial 1880-1935. 2 ed. rev. Brasília: 
UNESCO 2010. 
 
 
COSTA, P. B. da. O Destino Manifesto do Povo Estadunidense: Uma Análise dos 
Elementos Delineadores do Sentimento Religioso Voltado à Expansão Territorial. In: 
Congresso Internacional de História, 5, 2011, Maringá, Anais do V Congresso 
Internacional de História. Maringá, 2011, p. 2267-2276. 
 
 
HOBSBAWM, E. A Era do Capital 1848-1875. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 
 
 
HOBSBAWM, E. A Era dos Impérios: 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. 
 
 
MASON, C. Uma breve história da Ásia. Trad. Ceasar Souza. Petrópolis, RJ: Vozes, 
2017. 
 
 
MAYER, A. J. A força da tradição: a persistência no Antigo Regime (1848-1914). São 
Paulo: Companhia das Letras, 1987. 
 
 
MUNHOZ, S. J. A Construção do império estadunidense. In: SILVA, F. C. T.; MUNHOZ, S. 
J.; CABRAL, R. (Orgs.). Impérios na História. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2009, p. 
245-258. 
 
 
PANIKKAR, K. M. Asia and western dominance: a survey of Vasco da Gama Epoch of 
Asian History. Londres: George Allen & Unwin LTD, 1961. 
 
 
PISTONE, S. Imperialismo. In: BOBBIO, N. Dicionário de política. Brasília: Editora da 
Universidade de Brasília, 1998. 
UZOIGWE, G.N. Partilha europeia e conquista da África: apanhado geral. In: BOAHEN, 
A. A. (ed.). História Geral da África, VII: África sob dominação colonial 1880-1935. 2 
ed. rev. Brasília: UNESCO 2010. 
 
 
UNIDADE II 
 
A CRISE DO CAPITALISMO 
 
Professora Mestra Maria Helena Azevedo Ferreira 
 
 
 
 
Plano de Estudo: 
 
• Primeira Guerra e Revolução Russa; 
 
• A tentação totalitária: a ascensão dos Fascismos; 
 
• O Nazismo na Alemanha; 
 
• Segunda Guerra Mundial; 
 
• A Guerra Fria. 
 
 
 
 
Objetivos de Aprendizagem: 
 
• Compreender as causas e consequências da Grande Guerra e da Revolução Russa; 
 
• Analisar o surgimento e a anatomia do Fascismo; 
 
• Entender a ascensão do Nazismo na Alemanha; 
 
• Refletir sobre as causas da Segunda Guerra Mundial; 
 
• Analisar os principais eventos da Guerra Fria. 
INTRODUÇÃO 
 
 
Prezado (a) estudante, ao longo desta unidade veremos o desenrolar do breve 
século XX. Nas palavras de Hobsbawm este foi um momento de profunda crise do 
capitalismo, correlacionado com a derrocada dos sistemas democráticos; liberais e a 
ascensão de regimes totalitários. Com isso, esperamos que nesta unidade você possa 
ter domínio dos fatos e interpretações históricas que marcaram o mundo, 
especialmente a Europa e os EUA. 
O primeiro tópico traz dois assuntos, a Primeira Guerra Mundial e a Revolução 
Russa, que são fenômenos contemporâneos. Veremos que a Grande Guerra, como 
também é chamada, foi fruto de um crescente nacionalismo e imperialismo dos países 
beligerantes logo no início do século. Abordaremos também a queda do czar na Rússia 
e a subsequente implantação de um sistema político e econômico inspirado nas 
acepções socialista. 
O próximo tópico traz uma discussão importante sobre a ascensão do Fascismo. 
Nos debruçaremos, em especial, no caso italiano, que inspirou outras formas de 
fascismo em outros lugares do mundo. Procuraremos situar o fenômeno como 
consequência do conflito para as nações derrotadas, que viram o crescimento 
vertiginoso de movimentos ultranacionalistas, de extrema direita e de teor totalitário. 
Inerente ao fascismo temos o Nazismo na Alemanha que, como é de 
conhecimento geral, promoveu o holocausto gerando a morte de milhões de pessoas. É 
fundamental compreender que esse movimento na Alemanha também foi um 
desdobramento da Grande Guerra, da Grande Depressão de 1929, bem como de ideias 
eugenistas, racistas e do darwinismo social. Tais elementos, conforme veremos, vêm 
acompanhados da ideia de superioridade racial dos germânicos em detrimento de 
outros povos, como os judeus. Você verá com mais detalhes como aconteceu a escalada 
ao poder de Hitler. 
Além disso, a Alemanha de Hitler apregoava a necessidade de um “espaço vital”, 
justificando a política expansionista da Alemanha. Conforme abordaremos mais adiante, 
essa foi uma das causas do estopim da Segunda Guerra Mundial. Esse conflito teve como 
característica central o conceito de guerra total, quando todas as forças produtivas do 
país estão a serviço da guerra e também mobiliza não apenas militares, mas também 
civis. Por fim, discutiremos os principais eventos da Guerra Fria e seus desdobramentos. 
Dessa forma, procuraremos explorar os principais acontecimentos do século XX. 
 
 
Bons estudos! 
 
1 PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E REVOLUÇÃO RUSSA 
 
 
 
 
1.1 A Primeira Guerra 
Vimos na unidade anterior que a virada do século XIX para o século XX foi para as 
nações um momento de intensa rivalidade, seja na partilha dos continentes asiático e 
africano, como também da construção do Estado-Nação, instrumentalizado pelo 
nacionalismo. Sem dúvida, esses foram alguns dos elementos que possibilitaram que 
eclodisse um conflito sem precedentes até então. 
A Primeira Guerra Mundial foi a primeira que envolveu as massas, diferentemente de 
guerras anteriores com maior duração e número de pessoas equivalentes, como foi o 
caso da Revolução Francesa e das guerras napoleônicas, ela foi para além dos campos 
de batalha. Nunca também as nações foram capazes de canalizar praticamente toda sua 
indústria pesada para fins bélicos, bem como nunca haviam voltado ao setor 
tecnológico exclusivamente para descobrir novos modos de destruição. Perdeu-se o 
controle da guerra. Houve uma disparidade entre as intenções e as consequências, que 
foram muito além do que qualquer um poderia imaginar. 
Dito isso, Thomson nos alerta: 
 
Por esta razão, é necessário manter perfeitamente separadas as 
questões declaradamente envolvidas na guerra, quando ela 
começou, e aquelas que vieram a sê-lo, antes do seu término; devem 
ser consideradas igualmente distintas de ambas as coisas as 
consequências que, agora o sabemos, derivaram da guerra 
(THOMSON, 1976, p. 55). 
 
Desta citação, podemos retirar três perspectivas: 1) As razões primárias que 
fizeram com que o conflito se deflagrasse 2) Os motivos que se sustentaram durante o 
conflito e 3) As consequências inesperadas da guerra. A primeira perspectiva diz respeito 
às razões pelas quais a Guerra se iniciou, portanto, comecemos por elas. 
Uma guerra generalizada na Europa já era prevista desde o último quartel do 
século XIX, pelo menos em nível intelectual. Enquanto Friedrich Engels em 1880 
examinava as possibilidades de um conflito em nível mundial, Nietzsche observou a 
crescente militarização dos países da Europa. A preocupação foi suficiente para que 
fosse realizado o Congresso Mundial da Paz em 1890, o primeiro Nobel da Paz em 1897 
e a primeira das Conferências de Paz de Haia em 1899. Apesar disso, “nos anos 1900, a 
guerra ficou visivelmente mais próxima e nos anos 1910 podia ser considerada 
iminente” (HOBSBAWM, 1995, p. 419). 
Antes de tudo é preciso entender a corrida armamentista que precedeu a guerra. Os 
exércitos, cada vez maiores e mais militarizados, serviam, sobretudo, para as guerras 
nas colônias, que eram extremamente inóspitas pelo alto índice de mortalidade, 
contudo, raramente os soldados atuavam no próprio continente. Tendo isso em vista 
que os governantes passaram a investir em tecnologia bélica, que cresceu notavelmente 
a partir de 1880. Essa “tecnologia da morte” cresceu não apenas no âmbito militar, mas 
também no campo civil com a invenção das cadeiras elétricas, por exemplo. Essa corrida 
armamentista foi extremamente cara, pois os países competiam um com outro em 
termos de poder bélico, movimentando a indústria da morte. Um exemplo de capitalista 
que enriqueceu no ramo de explosivos, foi Alfred Nobel, que tentando compensar sua 
atividade, destinou parte de sua riqueza à causa da Paz. Assim, foi criada uma economia 
da morte: 
 
Os bens que essa indústria produzia eram determinados não pelo 
mercado, mas pela interminável concorrência dos governos, que os 
fazia procurar garantir para si um fornecimento satisfatório das 
armas mais avançadas e, portanto, mais eficientes. E mais, o que os 
governos precisavam não era tanto da produção real de armas, mas 
sim da capacidade de produzi-las numa escala compatível com uma 
época de guerra, se fosse o caso; isso quer dizer que ele tinham que 
zelar para que suas indústrias mantivessem uma capacidade de 
produção altamente excedente para tempos de paz (HOBSBAWM, 
1995, p. 425). 
 
 
A partir disso, fica claro que os governos para além de uma concorrência com 
outros Estados-Nação, tinham que manter a indústria nacional funcionando, ou seja, 
adotaram medidas protecionistas contra o livre-mercado e a imprevisível livre 
concorrência, por isso, os governos preferiram se aliar aos capitalistas nacionais. Ainda 
que os fabricantes de armas tenham feito acordo com os governos, não é possível 
explicar a guerra nesses termos (HOBSBAWM, 1995). 
De maneira gradual, formaram-se dois blocos de países e essa divisão foi 
originária da unificação da Alemanha, ocorrida entre 1864 e 1871, que buscava aliados 
para se defender do principal perdedor, a França, que perdeu a região da Alsácia-Lorena.Fruto, em partes, deste episódio foi a aliança entre Alemanha e a Áustria-Hungria para 
assegurar a integridade do frágil Império Alemão. Desse modo, juntou-se a aliança à 
Itália para formar a Tríplice Aliança (HOBSBAWM, 1995). 
A Áustria-Hungria enfrentava problemas na região dos Bálcãs – região disputada 
por vários países –, que se aprofundaram com a conquista da Bósnia-Herzegovina, 
gerando oposição da Rússia. Ficou claro que a Alemanha, apesar de Bismarck ter tentado 
ter boas relações com a Rússia, teria que ficar ao lado da Áustria-Hungria. Dada à 
oposição entre Alemanha e França, era óbvio que a França buscasse como aliada à 
Rússia, que foi deixada de lado pelos alemães (HOBSBAWM, 1995). 
Veja, são duas zonas de tensão, a primeira, entre a França e a Alemanha, devido 
à anexação da Alsácia-Lorena e, a segunda, entre Áustria e Rússia, devido à região dos 
Bálcãs. Mas como o conflito se generalizou a ponto de se tornar um conflito de grandes 
proporções? Os problemas entre França e Alemanha não eram de interesse da Áustria, 
bem como a questão dos Bálcãs não era relevante para a França. Sobre a nossa questão, 
Hobsbawm explica: 
 
Três problemas transformaram o sistema de aliança numa bomba- 
relógio: a situação do fluxo internacional, desestabilizado por novos 
problemas e ambições mútuas entre as nações, a lógica do 
planejamento militar conjunto que congelou os blocos que se 
confrontavam, ornando-os permanentes, e a integração de uma 
quinta grande nação, a Grã-Bretanha, a um dos blocos (HOBSBAWM, 
1995, p. 433). 
 
 
Entre 1903 e 1907, a Grã-Bretanha se uniu ao lado anti alemão, mas quais foram 
os motivos dessa oposição? Em um primeiro momento a Grã-Bretanha não tinha atritos 
com a Alemanha, nem mesmo antes da unificação e construção do Império Alemão, 
tampouco tinha razões para estar ao lado da França, já que foram antagonistas em 
inúmeras guerras desde o século XVII, bem como concorrentes imperialistas. No que se 
refere à Rússia, o Império Britânico também foi seu oponente na conquista de territórios 
do oriente e em terras mal definidas que ficavam entre a Índia e as terras czaristas. As 
alianças entre Grã-Bretanha, França e Rússia aconteceram desafiando todas as 
probabilidades. 
Aconteceu porque até então o mapa de rivalidades estava restrito à Europa e 
agora tinha ficado bem maior com a entrada dos EUA e do Japão, bem como fatores 
inerentes à nova configuração econômica mundial que mudaram a posição da Grã- 
Bretanha. Diferentemente de meados do século XIX, a Grã-Bretanha já não era a “oficina 
do mundo”, nem o principal mercado importador, pelo contrário a centralidade 
britânica agora era posta em questão. Com isso, o poderio econômico, ligado ao 
contexto de concorrência, esteve também ligada ao poder militar e a sua demonstração 
(HOBSBAWM, 1995). 
No contexto imperialista, a penetração da Alemanha no Império Otomano gerou 
preocupação nos britânicos, que tinham claras intenções de continuar e expandir sua 
influência ao redor do globo. Cada vez mais ser um grande Estado passou a ser sinônimo 
de ser uma grande economia e capitalismo, cujo núcleo é a busca por lucro, não possui 
limites. Sendo assim, um conflito de grandes proporções entre Alemanha e Grã- 
Bretanha por territórios coloniais parecia impensável, mas não era igualmente 
imprevisto que os britânicos se unissem ao lado anti-alemão. Assim foi formado o bloco 
anglo-franco-russo, ou mais conhecido por Tríplice Entente. 
A Alemanha, pós-unificação, adotava um tom cada vez mais expansionista e 
nacionalista, expressa pela frase: “Heute Deutschland, margen die ganze” (Hoje a 
Alemanha, amanhã o mundo inteiro). 
 
O perigo residia antes que um poder global exigia uma marinha global, 
e a Alemanha empreendeu (1897), portanto, a construção de uma 
grande esquadra de guerra, que tinha a vantagem incidental de 
representar não os velhos estados alemães, mas exclusivamente a 
nova Alemanha unificada [...] (HOBSBAWM, 1995, p. 440). 
 
Isso era um sinal de alerta para a Grã-Bretanha, a senhora dos mares, que entendeu 
essa posição da Alemanha como extremamente preocupante, já que ameaça seus 
domínios. Por isso, os britânicos se aliaram aos EUA, um país amigo, para proteger as 
águas americanas, e as águas do extremo oriente ficaram a cargo dos EUA e Japão, que 
na época estavam envolvidos em conflitos regionais e não pareciam representar 
uma ameaça ao Império Britânico. Diante do perigo que se avizinhava, na visão dos 
britânicos, era lógico que estes se aproximassem dos franceses e dos russos contra a 
Alemanha (HOBSBAWM, 1995). 
Essa divisão em blocos, entre Tríplice Aliança e Tríplice Entente levou um pouco 
mais de duas décadas, demonstrando o atrito internacional que foi instalado. Foram 
várias as tentativas de reaproximar os países de cada bloco, mas falharam tornando-os 
ainda mais inflexíveis. Houve algumas questões internacionais como 1) a revolução da 
Rússia de 1905 (que antecedeu a revolução de 1917), que deixou o poder czarista 
enfraquecido e abriu espaço para a Alemanha em suas investidas no Marrocos. 2) em 
1907 houve a Revolução Turca que destruiu acordos pré-firmados e permitiu que a 
Áustria se apoderasse de uma vez por todas da Bósnia-Herzegovina, 3) A Alemanha 
enviou um canhão para o porto de Agadir no Marrocos – à época estava sob o 
protetorado dos franceses – a fim de obter alguma compensação, mas desistiu porque 
a Grã-Bretanha estava ao lado da França. 
Diante da desintegração do Império Otomano por revolucionários turcos, as 
potências europeias assistiram desesperadas a região ficar fora do controle da Europa: 
O máximo que as potências europeias conseguiram foi criar um Estado 
independente na Albânia (1913) [...] A crise balcânica seguinte foi 
precipitada em 28 de junho de 1914, quando o herdeiro do trono 
austríaco, arquiduque Francisco Fernando, visitou a capital da Bósnia, 
Sarajevo (HOBSBAWM, 1995, p. 444). 
 
 
 
Quando um jovem terrorista, o ativista sérvio Gavrilo Princip, decidiu pelo 
assassinato do arquiduque não se esperava que tal ato deflagrasse a primeira grande 
guerra. Foi então que a Áustria entrou em guerra com a Sérvia em 1914, a Alemanha 
ficou ao lado dos austríacos e não tentou acalmar a situação, enquanto que a Rússia e a 
França ficaram ao lado dos Sérvios (THOMSON, 1976; HOBSBAWM, 1995). 
 
Figura 1 - Região dos Bálcãs em 1914 
 
Fonte: O Espaço da História, 2017. Disponível em: http://www.oespacodahistoria.com/index.php/ct- 
menu-item-1/201-os-balcas-em-1914. Acesso em: 09 dez. 2021.
http://www.oespacodahistoria.com/index.php/ct-menu-item-1/201-os-balcas-em-1914
http://www.oespacodahistoria.com/index.php/ct-menu-item-1/201-os-balcas-em-1914
 
Para entender a configuração dos motivos que levaram o Império Austro- húngaro a 
declarar guerra à Sérvia, é preciso entender a região dos bálcãs como um caldeirão 
multicultural, cujo o crescimento da Sérvia era vista como ameaça aos austríacos, no 
sentido de desintegrar os seus tão frágeis componentes nacionais. Já a Rússia, de 
acordo com Thomson (1976, p. 55) “não podia tolerar a Expansão Austríaca nos Bálcãs 
sem perder a simpatia dos povos eslavos da Europa Oriental”. No momento a 
Alemanha ficou ao lado da Áustria e a França ao lado da Rússia e da Sérvia era porque 
temiam perder suas alianças. A partir daí o jogo de alianças passará a ser perigoso. 
Depois disso, a Alemanha invadiu a Bélgica – que fica ao norte da Europa e faz divisa 
com a França – para atentar contra Paris “antes que os russos pudessem a atacar e antes 
que um possível apoio britânico pudesse se tornar efetivo” (THOMSON, 1976, p. 55). 
Logo em seguida, a Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha, temendo o poder 
naval do país. O Japão também declarou guerra à Alemanha com intenção de se 
apoderar de concessões na China e de ilhas no Pacífico. Depois de um certo tempo, o 
Império Turco Otomano e a Bulgária se aliaram à Alemanha, porque um

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