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O ABOLUCIONISMO Variantes estruturais A variante estruturalista do filósofo e historiador francês Michael Foucault Embora não tenha se declarado, expressamente, abolicionista, deixa espaço a essa interpretação quando evidencia a debilidade que sofre o poder, quando se utiliza da violência. O objeto da abolição ou minimização (como também de estudo) não é o Direito Penal (que é a programação normativa e tecnológica do exercício de poder dos juristas), mas o sistema penal em que se institucionaliza o poder punitivo do Estado e sua complexa fenomenologia a que os abolicionistas chamam de “organização cultural do sistema de justiça criminal” e que inclui tanto a engenharia quanto a cultura punitiva, tanto a máquina quanto sua interação com a sociedade, de modo que se o sistema é, formal e instrumentalmente, o “outro”, informal, difusa e perifericamente somos todos Nós (que o reproduzimos, simbolicamente). Por sistema penal entende-se, portanto, neste contexto, a totalidade das instituições que operacionalizam o controle penal (Parlamento, Polícia, Ministério Público, Justiça, Prisão) a totalidade das Leis, teorias e categorias cognitivas (direitos + ciências e políticas criminais) que programam e legitimam, ideologicamente, a sua atuação e seus vínculos com a mecânica de controle social global (mídia, escola, universidade), na construção e reprodução da cultura e do senso comum punitivo que se enraíza, muito fortalecidamente, dentro de cada um de nós, na forma de microssistemas penais. Na síntese de Hulsman (1997, p. 212): A justiça criminal existe em quase todos nós, assim como em algumas áreas do planeta o ‘preconceito de gênero’ e o ‘preconceito racial’ existem em quase todos. A abolição é, assim, em primeiro lugar, a abolição da justiça criminal em nós mesmos: mudar percepções, atitudes e comportamentos. Louk Hulsman advoga três razões fundamentais para abolir o sistema penal: 1) causa sofrimentos desnecessários distribuídos socialmente de modo injusto; 2) não apresenta efeito positivo algum sobre as pessoas envolvidas nos conflitos; e 3) é extremamente difícil de ser mantido sob controle. A variante materialista de orientação marxista, do sociólogo norueguês Thomas Mathiesen; Se estabelece dentro de uma crítica às construções teóricas que não se fundamentem no plano prático, destacando as eternas oposição e competição entre o abolicionismo e o sistema. variante fenomenológico- historicista de Nils Christie Constata a “destrutividade das relações comunitárias do sistema penal, seu caráter dissolvente das relações de horizontalidade e os consequentes perigos e danos da verticalização corporativa”. A variante fenomenológica do criminólogo holandês Louk Hulsman “Conclui ser o sistema penal um problema em si mesmo”, tornando-se “preferível abolí-lo totalmente como sistema repressivo. buscam-se alternativas ao direito punitivo, diante da exegese de que os conflitos podem ser resolvidos sem a participação da justiça criminal. Quando retrata a raridade da criminalização, pretende-se exemplificar o rol dos crimes que não integram os dados oficiais (cifra oculta), turvando o verdadeiro nível de criminalidade de uma determinada região, o que demanda ações, por vezes errônea, em busca de controlar aquilo que não se sabe o que é, e como se desenvolve. Diante dessa vertente, e quase expondo que a falha na criminalização termina por provocar injustiças, a solução partiria de procedimentos diversos do que trata o sistema penal. Não é possível oferecer uma fórmula preconcebida de procedimentos alternativos no enfrentamento do crime. Se quisermos progredir no campo das alternativas, devemos abandonar a organização cultural e social da justiça criminal. A justiça criminal versa sobre a figura do criminoso, baseia-se na atribuição de culpa e tem um ponto de vista de “juízo universal” do mundo. Não fornece, pois, as informações e o contexto no qual definir e enfrentar, de modo emancipatório, situações problemáticas
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