Buscar

Uma Pequena História Ambiental do Pampa para distr

Prévia do material em texto

See	discussions,	stats,	and	author	profiles	for	this	publication	at:	https://www.researchgate.net/publication/264802896
Uma	pequena	história	ambiental	do	Pampa:
Proposta	de	uma	abordagem	baseada	na	relação
entre	perturbação...
Chapter	·	January	2012
CITATION
1
READS
227
2	authors:
Some	of	the	authors	of	this	publication	are	also	working	on	these	related	projects:
Projeto	HidroGest	View	project
Projeto	Fragrio	View	project
Rafael	Cabral	Cruz
Universidade	Federal	do	Pampa	(UNIPAMPA)…
36	PUBLICATIONS			8	CITATIONS			
SEE	PROFILE
Demétrio	Luis	Guadagnin
Universidade	Federal	do	Rio	Grande	do	Sul
29	PUBLICATIONS			333	CITATIONS			
SEE	PROFILE
All	content	following	this	page	was	uploaded	by	Rafael	Cabral	Cruz	on	02	December	2015.
The	user	has	requested	enhancement	of	the	downloaded	file.
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
Uma Pequena História Ambiental do Pampa: proposta 
de uma abordagem baseada na relação entre 
perturbações e mudança. 
 
Rafael Cabral Cruz
1 
Demétrio Luis Guadagnin
2 
 
1 Campus de São Gabriel, Universidade Federal do Pampa, São Gabriel, RS. rafaelcruz@unipampa.edu.br. 
2 Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Santa Maria. dlguadagnin@gmail.com. 
 
 
Resumo 
 
Neste artigo propomos uma síntese da história ambiental do Pampa no Rio Grande do 
Sul, abordando as mudanças nos regimes de perturbações e as fases de estabilidade e 
transformação ocorridas desde o Pleistoceno. Reconhecemos a existência de quatro 
ciclos de transformações e estabilidade: a chegada do ser humano, a chegada do 
europeu, o advento da agricultura industrial e as mudanças climáticas induzidas pelas 
atividades humanas. O ritmo das transformações acelerou de milhares de anos no 
primeiro ciclo para dezenas de anos no último. Segundo este modelo, a paisagem atual 
do Pampa atual é fruto da co-evolução entre o bioma e a cultura do gaúcho surgidos a 
partir do segundo ciclo, sendo sua conservação dependente do manejo humano. 
 
Palavras-Chave: História Ambiental, Bioma Pampa, Gaúcho. 
 
Abstract 
In this article we propose a synthesis for the environmental history of 
the Pampa Biome in Rio Grande do Sul, South Brazil, describing the changes in 
disturbance regimes and the phases of stability since Pleistocene. We recognize four 
cycles of transformations: the arrival of man, the arrival of European, the advent of 
industrial agriculture and human induced climate change. The rhythm of 
transformations is accelerated from thousands of years in the first cycle to dozens of 
years in the last one. According to our proposal current Pampa's landscapes are the 
outcome of coevolution between the biome and the gaucho culture after the second 
cycle, being dependent on human management to be conserved. 
 
Key Words: Environmental History, South American Grasslands, Pampa, Gauchos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
 
Introdução 
 
O problema da conservação do Bioma Pampa como uma construção social é 
embrionário no Brasil. Nos setores acadêmicos e ambientalistas este bioma foi 
considerado negligenciado pelas politicas públicas de conservação da biodiversidade 
(OVERBERCK et al.,2009). Tratando-se de um problema novo, persistem importantes 
lacunas na construção das alegações para a conservação do Bioma Pampa. Neste artigo 
propomos uma sistematização da história ambiental do bioma, baseada nas informações 
disponíveis, com o objetivo de apresentar uma síntese abrangente das transformações 
ocorridas e das forças que as determinaram. Nossa abordagem se situa num campo da 
ciência relativamente novo, ainda pouco definido, que se constrói na interface entre a 
História Ambiental e a Ecologia Histórica (GRAGSON, 2005; BALLÉ & ERICKSON, 
2006; SOLÓRZANO et al., 2009). 
 
A História Ambiental foca “os acontecimentos históricos que modificaram e, ao mesmo 
tempo, foram modificados pelo ambiente” (SOLÓRZANO et al., op. cit.). Este enfoque 
permitiria construir uma investigação sobre como o ser humano alterou o 
funcionamento dos ecossistemas onde estava inserido e como estes ecossistemas em 
transformação condicionaram a vida destes seres humanos. Por outro lado, a Ecologia 
Histórica “procura compreender os fenômenos e componentes ecológicos, como a 
funcionalidade de ecossistemas, a composição e a estrutura de comunidades, etc., à luz 
dos processos históricos de transformação da paisagem” (SOLÓRZANO et al., op. cit.). 
Ou seja, embora ambas as abordagens envolvam a relação entre ser humano e natureza, 
o foco da História Ambiental está voltado para o ser humano, enquanto da Ecologia 
Histórica mais voltado para a natureza. Neste trabalho, adota-se a abordagem da 
História Ambiental, pois os questionamentos envolvem forte conteúdo cultural. No 
entanto, não se trabalha com a dicotomia ser humano x natureza. 
 
Neste artigo procuramos sistematizar os grandes ciclos de transformações ambientais 
provocadas pelo ser humano na região hoje coberta pelo Bioma Pampa no estado do Rio 
Grande do Sul, sob o enfoque da compreensão da evolução do Ecossistema Humano 
Total – ETH (NAVEH et al., 2001). Segundo este conceito, que não opõe ser humano e 
natureza, os elementos da paisagem transformados pelo ser humano interagem com os 
demais elementos através de fluxos de massa, energia e informação, constituindo uma 
entidade hierarquicamente superior que funciona como um todo (hólon). A estabilidade 
de sistemas auto-organizativos é dependente da sua interação com o regime de 
perturbações e com a capacidade de não se alterar perante uma perturbação (resistência) 
ou de retornar para condições próximas das iniciais após a perturbação (resiliência) 
(MARGALEF, 1977; NAVEH et al., 2001). Deste modo, pode-se considerar que a 
estabilidade de um sistema dependerá da relação que existe entre auto-organização e 
adaptação, onde o regime de perturbações estabelece as condições de contorno para que 
o processo de adaptação ocorra e, através de mecanismos de resistência e resiliência, 
persistir em um ambiente em constante mudança. Quando há uma mudança brusca no 
regime de perturbações o sistema deriva para um novo estado de estabilidade. 
 
 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
Como era o Pampa quando o ser humano aqui chegou? 
 
A presença humana no Pampa provavelmente teve início no Pleistoceno, a cerca de 
13.000 anos antes do presente (AP) (KERN, apud BELLANCA & SUERTEGARAY, 
2003; CONSENS, 2009), No período compreendido entre cerca de 18.000 e 12.000 
anos AP imperava um clima mais seco efrio e nível do mar abaixo do atual 
(CARVALHO, 2003). De acordo com Villwock (1989), o máximo da regressão 
marinha se deu a 14.000 anos AP, no terceiro ciclo regressão-transgressão do 
Pleistoceno, atingindo a isóbata de 100m, praticamente expondo toda a plataforma 
continental. Mahiques et al. (2010) revisaram dados sobre as últimas regressões, 
identificando evidências de que em cerca de 18.000 anos AP o nível do mar 
determinava uma linha de costa que acompanhava a isóbata de 130m em relação ao 
nível do mar atual. No final do Pleistoceno houve uma lenta transição climática com 
pelo menos três períodos de estabilização do nível médio do mar, correspondendo, em 
relação ao nível atual, a terraços situados em profundidades entre 60 e 70m (cerca de 
11.000 anos AP), entre 32 e 45m (cerca de 9.000 anos AP) e entre 20 e 25m (cerca de 
8.000 anos AP). 
 
A combinação das informações disponíveis indica que no final do Pleistoceno 
predominava uma paisagem campestre com rios em geral sem matas ciliares, povoada 
por uma fauna de vertebrados de grande porte (megafauna). Scherer & da Rosa (2003) 
interpretando fósseis de mamíferos encontrados em sedimentos datados entre 11.740 e 
14.830 anos AP, descrevem o paleoambiente do final do Pleistoceno como aberto, 
úmido e frio. De acordo com Behling et al. (2005), com base em análise do diagrama de 
pólen de amostra em São Francisco de Assis, a vegetação era predominantemente de 
campos, dominados por Poaceae, com baixas percentagens de Cyperaceae, Asteraceae e 
outras ervas. Representantes de mata ciliar e de vegetação aquática eram raros. A baixa 
representação de partículas carbonizadas demonstra que incêndios espontâneos 
ocorriam raramente. 
 
Segundo Kerber & Oliveira (2008), os registros fósseis do Pleistoceno Superior da 
formação Touro Passo indicam uma fauna de vertebrados que continha Propraopus sp. 
(um tatu gigante), Pampatherium typum (tatu gigante), Holmesina paulacoutoi (tatu 
gigante), Glyptodontidae indet., Glyptodon sp., Glyptodon cf. G. reticulatus (os 
gliptodontes eram próximos dos tatus, e chegavam a 3 metros pesando até duas 
toneladas), Panochthus sp. (gliptodonte de até 3 metros), Neothoracophorus aff. N. 
elevatus (gliptodonte), Mylodontidae indet. (tipo de preguiça gigante), Canidae indet. 
(cão), Hydrochoerus cf. H. hydrochaeris (capivara), Caviidae indet.(roedor), Toxodon 
sp. (notoungulado terrestre similar em tamanho ao rinoceronte), Equidae indet. (cavalos 
e similares), Equus (A.) neogeus (similar ao cavalo atual), Hippidion sp. (similar a um 
cavalo com tamanho de pônei), Morenelaphus sp. (cervo maior que os atuais), Antifer 
sp., Cervidae indet. (cervo), Camelidae indet. (camelídeo, similar a lhama, guanaco), 
Hemiauchenia paradoxa (camelídeo de cerca de 1,80 metros de altura), Lama sp. 
(camelídeo, similar a lhama, guanaco) e uma forma indeterminada de Testudines (grupo 
das tartarugas e similares). No Uruguai, estudos demonstram a ocorrência de 
mastodonte (Stegomastodon waringi; ALBERDI et al., 2007; ALBERDI & PRADO, 
2008). A megafauna de pastadores possuía a capacidade de controlar a sucessão vegetal 
e a probabilidade de incêndios espontâneos através da redução da biomassa e do 
pisoteio, criando heterogeneidade de estádios sucessionais na matriz campestre, 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
transformando-a em um mosaico de manchas com intensidades de pisoteio/pastoreio 
diferentes. Este efeito tem sido documentado e testado experimentalmente em parques 
africanos (WALDRAM et al., 2007). 
 
 
 
 
 
Primeiro Ciclo de Transformações Ambientais: Chegada do Ser 
Humano 
 
Embora exista certa incerteza referente ao período da chegada do ser humano no Pampa 
riograndense
1
, pode-se considerar que esta chegada torna-se significativa por volta de 
12.000 anos AP. Sustentamos a hipótese de que a chegada de seres humanos induziu 
nesta época à extinção da megafauna e à manutenção das paisagens abertas, porém com 
um novo padrão de vegetação, estabilidade e perturbações. Os campos baixos 
dominados por geófitas adaptadas ao pastoreio deram lugar para uma paisagem de 
campos altos dominados por hemicriptófitas adaptadas ao fogo. O novo regime de 
perturbações se estendeu por um período de 4.000 anos (fase de mudanças), quando 
ocorreu a extinção da megafauna, e estabilizou a nova fisionomia dos campos por um 
período de cerca de 7.600 anos (fase de estabilização), até a chegada do gado europeu. 
 
Os primeiros povos que chegaram Pampa, na região do rio Uruguai Médio, eram 
caçadores-coletores. Dadas as características dos instrumentos líticos utilizados, 
incluindo pontas de projéteis e também pela presença de bolas de boleadeiras, estes 
indígenas pré-colombianos foram classificados como da Tradição Umbu (BELLANCA 
& SUERTEGARAY, 2003). Os membros da Tradição Umbu ocupavam ambientes 
abertos, onde podiam caçar. Carvalho (2003) descreve que as comunidades da Tradição 
Umbu enterravam seus mortos sobre cinzas, mesmo na presença de brasas. Eles não 
dominavam o polimento de rochas. A presença de ossos de exemplares da megafauna 
em vários sítios de ocorrência de vestígios da Tradição Umbu demonstra que estes 
caçadores predavam sobre a megafauna que povoava os campos (SUERTEGARAY & 
PIRES DA SILVA, 2009). No noroeste do Uruguai foram encontrados vários sítios 
arqueológicos em que se encontram evidências da exploração da paleofauna pelos 
primeiros habitantes da região (CONSENS, 2009). Aspecto importante é que eles 
dominavam o fogo. De acordo com Kern (1994) e Schmitz (1996), citados em Overbeck 
et al. (2009), e Leonel (2000), citado em Behling et al. (2009), provavelmente estes 
caçadores utilizavam o fogo para caçar. O fogo, nas caçadas, é utilizado para conduzir a 
fauna em direção aos caçadores, reduzindo o gasto energético para a perseguição da 
caça e aumentando a eficiência da mesma. Dias (2004), revisando os sítios do rio 
Uruguai Médio, cita que não foram encontrados ossos de megafauna nos locais que ela 
considerou válidos, pois foram encontrados ossos de uma preguiça gigante 
(Glossotherium robustus) no sítio datado em 12.770 anos AP, o qual não é totalmente 
 
1
 De acordo com Behling et al. (2005) foram localizados artefatos líticos junto com ossos de 
megafauna em um sítio junto ao rio Ibicuí, datado de 15.400 anos AP. Outros sítios foram datados em 
13.470 e 9.550 anos A.P. No entanto, Kern (1998, apud BELLANCA & SUERTEGARAY, 2003; DIAS, 
2004) apresenta esta entrada do ser humano em 12.770 ± 220 anos A.P. 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
aceito como sítio válido, uma vez que os artefatos líticos encontrados podem ser de 
origem não humana. No entanto, realçou que os locais não foram investigados 
intensivamente, pois as escavações foram efetuadas unicamente para obtenção de 
amostras para datação. Apesar desta ausência de confirmação de caça de megafauna nos 
sítios citados em Dias (2004), existem descobertas na margemesquerda do rio Quaraí, 
no Uruguai, que demonstram a caça de animais da megafauna pelos primeiros 
moradores do Pampa uruguaio (17 espécies identificadas
2
), na fronteira com o Brasil 
(SUÁREZ, 2003; SUÁREZ & LÓPEZ, 2003; CONSENS, 2009). 
 
Evidências, obtidas a partir de registros obtidos em testemunhos de sedimentos de 
turfeiras, permitem reconstruir a história da composição da vegetação e da freqüência de 
incêndios e queimadas. O estudo de Behling et al. (2005), efetuado em São Francisco de 
Assis, apresentado na Figura 1, nos permite fazer algumas observações. As datas da 
chegada dos primeiros habitantes (por volta de 12.000 anos AP) e da extinção provável 
da megafauna
3
 (por volta de 8.000 anos AP) foram realçadas. Observa-se que a 
dominância dos campos ocorre em todo o perfil, mas diminui aproximadamente a partir 
de 5.000 anos AP, quando aumenta gradualmente a participação da vegetação de matas 
ciliares, indicada pela redução da participação do pólen de espécies de campo. De 
acordo com Pillar (2003), o clima, em comparação com o presente, era mais seco e frio 
até 10.000 anos AP, mais quente e estacional entre 10.000 e 4.000 anos AP passando, 
então, a mais frio e úmido, aproximando-se do clima atual. Segundo Marchiori (2004), 
este aquecimento em relação ao Pleistoceno e umidecimento ocorrido neste último 
período permitiram que a vegetação silvática penetrasse no Rio Grande do Sul, a partir 
de centros de dispersão situados ao norte, através de duas rotas migratórias: uma 
litorânea e outra pelo interior do continente, ao longo dos rios Paraná e Uruguai. O 
clima mais úmido e com baixa estacionalidade permitiu a implantação de vegetação 
florestal primeiro ao longo da rede de drenagem e, a partir daí, nas vertentes, para então 
dominar sobre os campos. 
 
Esta dinâmica é uma evidência contrária à hipótese climática para a extinção da 
megafauna (ver BURNEY & FLANNERY, 2005). A teoria climática previa que a 
mudança climática mudaria a vegetação, tornando-a inadequada para a megafauna. No 
entanto, observa-se que a penetração da vegetação silvática somente ocorreu de forma 
significativa a partir de 4.000 a 5.000 anos AP, ou seja, pelo menos 3.000 anos depois 
da extinção da megafauna. 
 
O mesmo palinograma nos traz informações sobre concentração e taxa de acumulação 
de partículas carbonizadas, que nos conta a história da presença do fogo na região de 
São Francisco de Assis. Os dados nos mostram que a presença de partículas 
carbonizadas era pequena mas constante até cerca de 12.000 anos AP, quando aumenta 
drasticamente e de forma contínua até atingir um máximo por volta de 9.000 anos AP. 
A partir de então o carvão desaparece dos registros até cerca de 6.000 anos AP, quando 
retorna em taxas comparáveis às máximas anteriores e crescentes, com vários picos nos 
últimos 1.000 anos AP. Quando comparam-se estes dados com a chegada dos primeiros 
 
2
 Glyptodon sp.; Stegomastodon sp.; Hemihauchenia paradoxa; Scelidoterium leptocephalum; 
Glossotherium robustus; Pampatherium humboldti; Toxodon platensis; Glyptodon clavipes; Hippidion 
principale; Equus neogeus; Megatherium americanum; Smilodon populator; Macrauchenia patachonica; 
Morenelaphus brachyceros; Morenelaphus lujanensis; Paraceros fragilis; Antifer ultra. 
3
 Segundo Kern (1997, apud PILLAR, 2003) a megafauna tornou-se extinta há 8.000 anos AP. 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
seres humanos, a cerca de 12.000 anos AP, observa-se que existe uma sincronia entre o 
aumento da presença de partículas carbonizadas no período em que a megafauna se 
extinguiu. Neste período também houve o predomínio de um clima mais quente e 
sazonal que deve ter atuado sinergicamente com a redução rápida das populações de 
grandes herbívoros para facilitar a propagação do fogo e provocar uma mudança na 
heterogeneidade da quantidade de biomassa inflamável. 
 
O papel da megafauna na manutenção de vegetação herbácea rasteira de gramíneas, 
predominantemente geófitas adaptadas ao pastoreio e pisoteio, e no controle das 
espécies cespitosas hemicriptófitas mais adaptadas ao fogo, já foi experimentalmente 
demonstrado na savana (WALDRAM et al., 2007). Neste estudo a exclusão de 
rinocerontes tornou a paisagem mais homogênea e mais sujeita à propagação de 
incêndios em grandes extensões. É provável que a redução das populações da 
megafauna no Pampa tenham causado efeitos similares. Quando há uma mudança 
brusca no regime de perturbações do sistema, como a ocorrida com a introdução do 
manejo humano do fogo para caça, de forma crônica e com intensidade crescente, o 
sistema deriva para um novo estado de estabilidade, com ajustes que levaram à extinção 
da megafauna e mudanças da fisionomia dos campos. 
 
Após a extinção da megafauna, o fogo continuou a ser utilizado pelos indígenas da 
Tradição Umbu e por seus descendentes, como os Charruas e Minuanos, para caça de 
animais de menor porte, como demonstrado na continuidade dos registros de partículas 
carbonizadas do testemunho de São Francisco de Assis. É provável que em ambientes 
relictuais abrigados dos incêndios as espécies adaptadas ao pastoreio e pisoteio tenham 
permanecido como uma reserva de informação, de modo que tornou possível a 
adaptação dos campos ao novo ciclo de perturbações que se inicia com a chegada dos 
europeus e sua biota acompanhante. 
 
 
 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
Figura1. Palinograma de São Francisco de Assis. Destacadas as prováveis datas de 
chegada dos primeiros indígenas da Tradição Umbu e da extinção da megafauna. 
Adaptado de Behling et al. (2005). 
 
 
Segundo Ciclo: Chegada do Europeu 
 
A paisagem dominada por campos altos de hemicriptóficas adaptadas ao fogo iniciou 
um novo ciclo de transformações com a chegada de europeus e a introdução do gado. 
Missões Jesuíticas foram estabelecidas a partir de 1605, estancieiros Lagunenses a partir 
de 1719 (ASSUNÇÃO, 2007). Em 1737 é fundada a primeira povoação oficial. Assim, 
cerca de 7.600 anos após a extinção da megafauna, os novos colonizadores trouxeram 
novos grandes herbívoros para o bioma Pampa, principalmente bovinos e eqüinos. 
 
Crosby (1993), revisando as conseqüências ecológicas da introdução de espécies 
exóticas na região pampeana, registrou que em 1638, os jesuítas abandonaram uma 
estância com 5.000 cabeças de gado. De acordo com o mesmo autor, o grande 
naturalista espanhol Félix de Azara estimou que no ano de 1700 haviam 48 milhões de 
cabeças de gado bovino no Pampa. O jesuíta Thomas Falkner (apud CROSBY, 1993) 
descreveu que no ano de 1744 ele e quatro indígenas permaneceram por quinze dias 
completamente cercados por cavalos asselvajados, de tão numerosos. O relato cita ainda 
que em ocasiões as manadas eram tão grandes que passavam a pleno galope por três 
horas seguidas. Felix de Azara também descreveu que a prática da queima anual dos 
campos, pastoreio e pisoteio estavam eliminandoos capins mais altos e abrindo espaço 
para invasoras como o cardo (Cynara cardunculus), malvas (Malva spp.) e outras 
invasoras. O naturalista Charles Darwin descreveu centenas de quilômetros quadrados 
de áreas dominadas por cardos no Uruguai, impenetráveis para cavaleiros (DARWIN, 
2010). Na mesma obra, Darwin descreve os efeitos de uma grande seca ocorrida entre 
1827 e 1830 em que, somente na Província de Buenos Aires, foram perdidas, no 
mínimo, um milhão de cabeças de gado, e que, na ocasião, o país inteiro se aparentava a 
uma estrada poeirenta. 
 
Esses quadros relatados por diferentes naturalistas, em diferentes épocas, permitem a 
construção de uma hipótese sobre a dinâmica do sistema em resposta ao novo regime de 
perturbações. A descrição de Félix de Azara permite interpretar como se deu o ajuste da 
vegetação com a reintrodução de uma fauna herbívora de grande porte sobre campos 
que estavam a 7.600 anos sem pressão de seleção pelo pisoteio e pastoreio. Pode-se 
imaginar que, logo após a disseminação do gado bovino e eqüino sobre os campos, sem 
que houvessem predadores especializados e com ampla abundância de alimentos, 
houvesse um crescimento exponencial das populações, as quais rapidamente, sobre um 
período de 42 anos, passaram de 5.000 cabeças para 48 milhões de cabeças (taxa anual 
de crescimento exponencial de 17,8%). 
 
O crescimento populacional acelerado das populações asselvajadas de gado bovino e 
equino, associado ao fogo utilizado pelos índios para caça e estancieiros para renovar a 
pastagem, deve ter causado uma grande pressão sobre as espécies de hemicriptófitas que 
dominavam os campos. É provável que tenha ocorrido uma grande perda de cobertura 
vegetal. A redução cobertura vegetal pode ter criado as condições para a expansão de 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
espécies oportunistas, incluindo os cardos exóticos. Da introdução do gado no Pampa 
em 1638 até a viagem de Darwin, passaram-se 194 anos. Neste período, ainda havia 
sinais de que os campos não haviam conseguido ajustar sua composição para o novo 
regime de perturbações estabelecido, como pode ser deduzido da baixa cobertura 
vegetal em alguns lugares e de grandes extensões de terras cobertas por cobertura 
homogênea de oportunistas exóticas. No entanto, gradualmente as espécies geófitas, que 
dominavam os campos no final do Pleistoceno, foram se disseminando e permitindo a 
existência de uma cobertura vegetal contínua e resistente a seca, ao pisoteio e pastoreio. 
O fogo foi utilizado pelos estancieiros para controlar o processo de sucessão. 
 
É provável que o processo de ajuste tenha sido alcançado em algumas regiões do 
Pampa, estabelecendo uma nova fase de estabilidade. No entanto, também é provável 
que a maior parte do Pampa não tenha tido tempo suficiente para que esta fase de 
estabilidade se implantasse plenamente. Isto porque o regime de perturbações não 
permaneceu relativamente constante por período suficiente. As mudanças econômicas e 
o crescimento populacional humano tiveram um papel coadjuvante neste processo. 
 
Durante este período, diversas fases foram regulando o manejo dos campos. Na primeira 
fase, manadas de gado asselvajado (reiúno), eram caçados (preia) pelos changadores 
(gaudérios) e indígenas remanescentes das missões jesuíticas, que se utilizavam do gado 
para alimento, obtenção do couro para vestuário e construção dos toldos, assim como 
por estancieiros para a indústria do charque, exportado para a região sudeste do Brasil 
(ASSUNÇÃO, 2009). 
 
Em uma segunda fase os indígenas já haviam sido aniquilados e os sobreviventes 
incorporados nas estâncias e ocorreram mudanças na legislação de terras (Lei de Terras 
de 1859, citada em CHELOTTI, 2010; SUERTEGARAY & PIRES DA SILVA, 2009), 
que obrigaram ao cercamento das propriedades. Tornou-se então possível um manejo de 
lotação que, associado com o fogo, permitiu uma maior estabilização do regime de 
perturbações e favoreceu o estabelecimento de uma nova fase de estabilidade na 
composição dos campos com dominância de uma cobertura de geófitas com hábito 
rasteiro. Quando em lotação adequada estes campos permitem a persistência de uma 
grande biodiversidade. 
 
Uma terceira fase pode ser identificada a partir da segunda metade do século XX, por 
necessidades econômicas ou por pressão da política fundiária. Nesta fase a estabilidade 
é rompida por excesso de lotação, gerando uma redução da cobertura vegetal e 
resultando em campos degradados, com perda elevada de biodiversidade. Estes campos 
degradados tem sua produtividade em carne reduzida e oferece a oportunidade para que 
o terceiro ciclo de transformações ambientais avance sobre o Pampa: as atividades 
agrícolas industriais. 
 
Cabe realçar a escala temporal das mudanças decorrentes do novo regime de 
perturbações. As duas fases, de ajuste e estabilização, ocorreram em um período de 
cerca de 400 anos, possivelmente com cerca de 200 anos para cada uma (escala de 
centenas de anos). Ou seja, em uma velocidade muito maior do que aquela que decorreu 
do primeiro ciclo de transformações, que ocorreu em escala de milhares de anos. 
 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
Este segundo ciclo de transformações ambientais tem importância cultural para o Rio 
Grande do Sul. Foi em torno das duas primeiras fases, que duraram praticamente 350 
anos, que foi forjado o tipo humano do Gaúcho, através da atividade das estâncias, da 
miscigenação entre brancos, índios e negros e através da incorporação de elementos 
culturais destes três na cultura gaúcha. A cultura do gaúcho é de ambientes abertos. A 
palavra Pampa, de origem na língua trazida dos Andes pelos primeiros povoadores da 
Tradição Umbu, o quéchua, significa ambiente plano e aberto (SUERTEGARAY & 
PIRES DA SILVA, 2009). 
 
A paisagem aberta é herança do clima e do ser humano, que maneja estes campos a 
12.000 anos. O clima atual é florestal (BURIOL et al., 2007), ou seja, se não houvesse 
manejo humano, uma grande proporção do Pampa seria coberta por florestas. A 
dominância da vegetação campestre é mantida por um processo de manejo que implica 
em um sistema de perturbações que provoca regressão no processo de sucessão que, se 
não houvesse manejo, levaria a uma substituição do bioma Pampa pelo bioma Mata 
Atlântica, com ritmos diferenciados, dada a heterogeneidade de solos que ocorre na 
região. Pode-se assim dizer que o Pampa que existe hoje, e que deve ser preservado, 
gerou e foi gerado pelo gaúcho. Pode-se afirmar que houve uma co-evolução entre a 
cultura do gaúcho e o sistema de campos atual do bioma Pampa. 
 
 
 
Terceiro Ciclo: Agricultura industrial 
 
O terceiro ciclo, envolve um processo perda e fragmentação dos campos naturais do 
bioma Pampa e sua substituição por uma matriz de agroecossistemas. De acordo com 
MMA (2007), a velocidade de substituição de ecossistemas de campo por 
agroecossistemas é de 60% da área original em 60 anos. Restam somente 40% daárea 
original, sendo que destas somente 22% são campos nativos, 5% são florestas, 13% 
mosaicos de campos e florestas. Entre 11 a 13% destes remanescentes encontram-se em 
bom estado de conservação. O ritmo das mudanças está, portanto, na escala de décadas. 
Diferentemente dos ciclos anteriores, que tenderam a novos padrões de estabilidade 
ajustados a diferentes regimes de perturbações, este novo ciclo envolve a substituição 
do ecossistema de campo por outro ecossistema: o agroecossistema. É um regime de 
perturbação tão intenso que descaracteriza completamente o sistema de campo. 
 
De acordo com Overbeck et al. (2009), a cultura do milho cresceu sobre os campos do 
sul do Brasil de 1,4 para 11,8 milhões de toneladas entre 1940 e 1996. No mesmo 
período, o soja aumentou de 1.530 toneladas para 10,7 milhões de toneladas. O trigo, de 
95 mil para 1,4 milhão de toneladas. Segundo os autores, este aumento de produção se 
deu, principalmente em cima de áreas de campo. Nas várzeas, o grande avanço da 
orizicultura provocou quase a extinção dos ecossistemas de banhados, sendo que os 
remanescentes, na sua maior parte, estão muito fragmentados e alterados (CARVALHO 
& OZORIO, 2007). Este avanço da agricultura sobre os campos se dá em resposta à 
revolução verde, a implantação do capitalismo no campo e a integração entre a indústria 
mecânica e química com a agricultura. Com taxas de retorno por unidade de área 
maiores que a pecuária tradicional em campos degradados pelo mau manejo de lotação, 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
rapidamente os campos passaram a ser utilizados, geralmente através de arrendamento, 
para a agricultura empresarial. 
 
Enquanto que o efetivo pecuário de bovinos na região da Campanha, no Rio Grande do 
Sul (IBGE, 2011a), estabilizou-se entre 4 e 5 milhões de cabeças entre 1990 e 2006, a 
produção de grãos se expandiu de 300.000 para 500.000 hectares de área colhida 
(IBGE, 2011b). Estes dados sugerem um aumento de lotação de gado nos 
remanescentes de campo nativo (BENCKE, 2009; CARVALHO et al., 2009). Segundo 
Overbeck et al. (2009), para manter esta maior lotação, há um aumento das pastagens 
cultivadas e da introdução de espécies exóticas em plantio direto sobre campo nativo 
(“melhoramento de campo”). Uma das espécies introduzidas na década de 1950 foi o 
capim-anonni (Eragostis plana), que tem mostrado grande potencial invasor sobre 
campos nativos pastejados (pelo menos 400.000 hectares invadidos), com perda de 
qualidade forrageira e de biodiversidade (OVERBECK et al.; op.cit.). 
 
Ainda neste ciclo pode ser caracterizada uma nova fase, marcada pelo esgotamento do 
modelo tradicional de pecuária extensiva e progressiva degradação e desvalorização das 
as áreas de campos, tornando-as atrativas para empresas de silvicultura. Entre 2002 e 
2008, a área de silvicultura aumentou em 30% no Rio Grande do Sul, a maior parte 
sobre campos (BENCKE, 2009). Na região sudoeste do RS, apenas uma empresa, a 
Stora Enso adquiriu 50.000 hectares para plantio de eucalipto (SUERTEGARAY & 
PIRES DA SILVA, 2009). A silvicultura é menos susceptível às secas e apresenta 
portanto menos pressões de controle do que os cultivos anuais. A expansão da 
silvicultura produz uma radical transformação da paisagem pela introdução de um 
elemento novo na matriz – a presença de maciços florestais em substituição aos 
ecossistemas abertos que caracterizam a região a pelo menos 15.000 anos. 
 
Estas transformações foram ainda acompanhadas pelo estabelecimento de espécies 
exóticas invasoras, A primeira revisão sobre a presença de espécies vegetais exóticas no 
Bioma Pampa na Argentina, Brasil e Uruguai registrou a presença de 356 que 
conseguiram estabelecer populações espontâneas em campos naturais, a maioria delas 
introduzidas de forma intencional (GUADAGNIN et al. 2009). 
 
O efeito da perda e fragmentação dos hábitats e invasão por espécies exóticas é a perda 
da biodiversidade. Boldrini (2009) cita que 213 espécies da flora de campos nativos 
estão ameaçadas de extinção. Destas, 146 são exclusivas do bioma Pampa e 28 ocorrem 
tanto neste como nos campos do bioma Mata Atlântica. Bencke (2009) elenca 21 
espécies da fauna ameaçada de extinção do Rio Grande do Sul como habitantes 
obrigatórias de campos nativos e outras 11 espécies são semi-dependentes, utilizando 
outros hábitats. Considerando outras espécies que usam ecossistemas associados ao 
campo nativo, chega-se a 49 espécies ameaçadas. 
 
Uma das conseqüências culturais destas transformações ambientais é o processo de 
desterritorialização (CHELOTTI, 2010) do Gaúcho, acompanhado de uma 
territorialização de um empresariado rural. A base objetiva sobre a qual se construiu a 
co-evolução do gaúcho e do Pampa se rompe com a substituição da estância pela granja. 
Existe o risco de erosão do patrimônio cultural, que somente não é maior porque ainda 
existem fortes movimentos culturais (tradicionalismo) e ainda sobrevivem práticas 
tradicionais em algumas propriedades. 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
 
 
 
Quarto Ciclo: Mudança Climática Induzida pelo Ser Humano 
 
 
 
O clima global apresenta uma tendência de aquecimento, com importantes 
conseqüências para a sociedade e a biodiversidade. A Figura 2 apresenta um conjunto 
de estimativas relativas à temperatura média mundial para os últimos 2.000 anos. 
Observa-se que a temperatura em 2004 ultrapassa a média verificada no período mais 
quente da Idade Média. A maioria dos cenários resultantes de inúmeros modelos 
rodados de forma independente e relatados pelo IPCC (IPCC, 2007; SOLOMON, 2007) 
demonstram tendências de aquecimento global, ainda que persistam algumas incertezas. 
O clima é resultante de complexas relações entre a quantidade de radiação recebida do 
sol, sua absorção heterogênea na superfície do planeta e a movimentação do envoltório 
fluído, que transporta energia do Equador para os pólos. Modificações no uso da terra, 
com correspondente mudança no albedo, associadas ao acúmulo de gases do efeito 
estufa, resultantes do desmatamento, da queima de combustíveis fósseis, podem 
sinergicamente modificar as relações complexas que existem entre os oceanos e as 
massas de ar e mudar o clima da Terra. 
 
 
Figura 2. Temperatura média medida (linha preta) e dez séries reconstruídas (estimadas 
de temperatura média global. Fonte: Rhode (2005). 
 
 
 
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE (MARENGO, 2007) tem 
apresentado estudos que detalham para a realidade brasileira os cenários produzidos 
pelo Painel Intergovernamental para Mundaça Climática – IPCC. Dependendo do 
cenário de emissões de gases de efeito estufa até 2100, a temperatura global média à 
superfície pode subir de 1,5 ºC até 5,5 ºC. Avaliações subjetivas, que são tomadas como 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidadeda Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
referência, estimam que aumentos da temperatura média global acima de 3 ºC teriam 
grande potencial para causar severos danos na economia. 
 
Na Bacia do Prata, onde se encontra o Pampa, o cenário A2, de alta emissão de gases do 
efeito estufa, sugere que poderiam haver aumentos na precipitação da ordem de 1 a 5 
mm por mês, e aumento de temperatura média de cerca de cerca de 3 a 5 ºC. No 
entanto, o aumento da precipitação causaria um forte aumento na evapotranspiração 
durante os meses de maior déficit hídrico, tornando o clima mais sazonal que o atual, 
com possíveis impactos negativos sobre a agricultura e geração de energia. O aumento 
da temperatura também pode transferir os limites geográficos de distribuição de 
espécies praga e de vetores de doenças tropicais mais ao sul, exigindo adaptação das 
culturas (MARENGO, 2007). 
 
Embora exista muita incerteza quanto ao futuro, a aplicação deste cenário sobre o 
Pampa remete a uma savanização do clima – tendência de um clima mais quente, com 
chuvas sazonais. O balanço entre espécies C3 e C4 seria alterado e haveria uma grande 
extinção de espécies, talvez em parte substituídas por outras em dispersão desde regiões 
tropicais. A Figura 3 apresenta uma simulação sobre diagrama climático da que seria a 
trajetória do clima considerando este cenário. O ponto de partida seriam campos 
temperados. Na representação, a localização do mesmo é aproximada. 
 
 
Figura 3. Trajetória do clima, de acordo com o cenário IPCC A2 (alta emissão) para 
a cidade de São Gabriel, situada no Pampa Gaúcho, estado do Rio Grande do Sul, 
Brasil. Fonte: adaptado de Ricklefs (1996). 
 
 
 
 
Comentários finais 
 
 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
Neste estudo apresentamos uma proposta de sistematização da história ambiental do 
Bioma Pampa no Rio Grande do Sul, enfatizando os diferentes regimes de perturbações 
resultantes da interação entre o clima, os campos naturais e sua biota e o ser humano. 
Foram propostos 4 ciclos de transformações ambientais: 
 
• Ciclo 1: Entrada do ser humano. Escala temporal: milhares de anos. Resposta 
adaptativa da biota. 
 
• Ciclo 2: Chegada do europeu. Escala temporal: centenas de anos. Restauração e 
co-evolução – criação do Pampa e do Gaúcho. 
 
• Ciclo 3: Agricultura industrial. Escala temporal: dezenas de anos. Perda e 
fragmentação de hábitats naturais e introdução de espécies exóticas. Substituição 
de ecossistemas nativos por agroecossistemas. Escala temporal: dezenas de anos. 
 
• Ciclo 4: Savanização do clima pela mudança climática e desaparecimento dos 
campos como são hoje conhecidos. Escala temporal: dezenas de anos. 
 
Todo esforço de síntese ajuda nas tarefas de gerar novas perguntas e alimentar as 
discussões, bem como facilitar a transmissão do conhecimento para a população em 
geral. Por outro lado, toda síntese envolve generalização e esta, uma certa subjetividade 
dos autores para selecionar os aspectos sistêmicos mais relevantes para a construção do 
modelo conceitual. Deste modo, este modelo pode ser reconstruído por autores com 
outro ponto de vista. 
 
Referências 
 
ALBERDI , M.T. ; PRADO, J .L. ; PEREA , D. & UBILLA , M. Stegomastodon 
waringi (Mammalia, Proboscidea) from the Late Pleistocene of northeastern 
Uruguay. Neues Jahrbuch für Geologie und Paläontologie, Abhandlungen, v. 243, 
2007. p. 179-189. 
ALBERDI, M., & PRADO, J. Presencia de Stegomastodon (Gomphotheriidae, 
Proboscidea) en el Pleistoceno Superior de la zona costera de Santa Clara del Mar 
(Argentina). Estudios Geológicos, v. 64, n.2, 2008. p. 175-185. 
doi: 10.3989/egeol.08642.044 
ASSUNÇÃO, F.O. Historia del Gaucho. El Gaucho: Ser y Quehacer. 2 ed., Buenos 
Aires: Ed. Claridad, 2007. 309 p. 
BALLÉ, W. & ERICKSON, C.L. Time, Complexity, and Historical Ecology. In: 
BALLÉ, W. & ERICKSON, C.L. (eds.) Time and Complexity in Historical 
Ecology: studies in the neotropical lowlands. New York: Columbia University 
Press, 2006. p. 1-17. 
BEHLING, H. et. al. Dinâmica dos campos no sul do Brasil durante o Quaternário Tardio. 
In: PILLAR, V.D. et. al. (eds.) Campos Sulinos - conservação e uso sustentável da 
biodiversidade. Brasília: MMA, 2009. p. 13-25. 
BEHLING, H; PILLAR, V.D. & BAUERMANN, S.G. Late Quaternary grassland 
(Campos), gallery forest, fire and climate dynamics, studied by pollen, charcoal 
and multivariate analysis of the São Francisco de Assis core in western Rio 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
Grande do Sul (southern Brazil). Review of Palaeobotany and Palynology, v.133 
2005. p. 235– 248. 
BELLANCA, E.T. & SUERTEGARAY, D.M.A. Sítios Arqueológicos e Areais no 
Sudoeste do Rio Grande do Sul. Mercator - Revista de Geografia da UFC, ano 02, 
n. 4, 2003. p. 99-114. 
BENCKE, G.A. Diversidade e conservação da fauna dos Campos do Sul do Brasil. In: 
PILLAR, V.D. et. al. (eds.) Campos Sulinos - conservação e uso sustentável da 
biodiversidade. Brasília: MMA, 2009. p. 101-121. 
BOLDRINI, I.I. A flora dos campos do Rio Grande do Sul. In: PILLAR, V.D. et. al. 
(eds.) Campos Sulinos - conservação e uso sustentável da biodiversidade. 
Brasília: MMA, 2009. p. 63-77. 
BURIOL, G.A.; ESTEFANEL, V.; CHAGAS, A.C. de; EBERHARDT, D. Clima e 
vegetação natural do estado do Rio Grande do Sul segundo o diagrama climático 
de Walter e Lieth. Ciência Florestal, Santa Maria, v. 17, n. 2, 2007. p. 91-100. 
BURNEY, D.A. & FLANNERY, T.F. Fifty millennia of catastrophic extinctions after 
human contact. Trends in Ecology and Evolution, v.20, n.7, 2005. p.395-401. 
CARVALHO, A.B.P. & OZORIO, C.P. Avaliação sobre os banhados do Rio Grande do 
Sul. Revista de Ciências Ambientais, Canoas, v.1, n.2, 2007. p. 83-95. 
CARVALHO, F. L. de. A Pré-História Sergipana. Aracaju: Universidade Federal de 
Sergipe, 2003. 159p. 
CARVALHO, P.C.F. et al. Lotação animal em pastagens naturais: políticas, pesquisas, 
preservação e produtividade. In: PILLAR, V.D. et. al. (eds.) Campos Sulinos - 
conservação e uso sustentável da biodiversidade. Brasília: MMA, 2009. p. 214-
228. 
CHELOTTI, M.C. Reterritorialização e Identidade Territorial. Sociedade & Natureza, 
Uberlândia, v.22, n.1, 2010. p. 165-180. 
CONSENS, M. Prehistoria del Uruguay: realidad y fantasía. Montevideo: Del Sur 
Ediciones, 2009. 194 p. 
CROSBY, A.W. Imperialismo Ecológico: A expansão biológica da Europa: 900-1900. 
São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 336 p. 
DARWIN, C. The Voyage of the Beagle. Los Angeles: Web Book Publ., 2010. 340 p. 
Disponível em: http://www.free-ebooks.net/ebook/The-Voyage-of-the-
Beagle/pdf/view. Acesso em 14/01/2011. 
DIAS, A.S. Diversificar para poblar: El contexto arqueológico brasileño en la transición 
Pleistoceno-Holoceno. Complutum, v. 15, 2004. p.249-263. 
GRAGSON, T.L. Time in Service to Historical Ecology. Ecological and Environmental 
Anthropology, v. 1, n. 1, 2005. p. 2-9. 
GUADAGNIN, D.L. et al. Árvores e arbustos exóticos invasores no Pampa: questões 
ecológicas, culturais e sócio-econômicas de um desafio crescente. In: PILLAR, 
V.D. et. al. (eds.) Campos Sulinos - conservação e uso sustentável da 
biodiversidade. Brasília: MMA, 2009. p. 300-316. 
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Pecuária 
Municipal. Tabela 73 – Efetivo dos rebanhos por tipo de rebanho. Disponível em 
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/. Acesso em 14/01/2011a. 
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Agrícola 
Municipal. Tabela 1612 - Área plantada, área colhida, quantidade produzida e 
valor da produção da lavoura temporária. Disponível em 
http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/. Acesso em 14/01/2011b. 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
IPCC. Painel Intergovernamental Sobre Mudança do Clima. Sumário para os 
Formuladores de Políticas. Geneva: OMM/PNUMA, 2007. 25 p. Disponível em 
http://www.ccst.inpe.br/Arquivos/ipcc_2007.pdf. Acesso em 12/01/2011. 
KERBER,L. & OLIVEIRA, E.V. Fósseis de vertebrados da Formação Touro Passo 
(Pleistoceno Superior), Rio Grande do Sul, Brasil: atualização dos dados e novas 
contribuições. Gaea - Journal of Geoscience, v. 4, n. 2, 2008. p. 49-64. 
MAHIQUES, M. M. de et al. The Southern Brazilian shelf: general characteristics, 
quaternary evolution and sediment distribution. Braz. j. oceanogr. [online], vol.58, 
n.spe. 2, 2010. p. 25-34. ISSN 1679-8759. 
MARCHIORI, J.N.C. Fitogeografia do Rio Grande do Sul: Campos Sulinos. Porto 
Alegre: Est Edições, 2004. 110 p. 
MARENGO, J.A. Relatório No. 1. Caracterização do clima no Século XX e Cenários 
Climáticos no Brasil e na América do Sul para o Século XXI derivados dos 
Modelos Globais de Clima do IPCC. São Paulo: CPTEC/INPE, 2007. 181 p. 
Disponível em: 
http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/prod_probio/Relatorio_1.p
df. Acesso em 10/01/2011. 
MARGALEF, R. Ecologia. 2 ed., Barcelona: Ed. Omega, 1977. 951 p. 
MMA. Ministério do Meio Ambiente. Mapas de Cobertura Vegetal dos Biomas 
Brasileiros: relatório Bioma Pampa. Brasília: MMA, 2007. Disponível em 
http://www.mma.gov.br/portalbio. Acesso em 14/01/2011. 
NAVEH,Z.; LIEBERMAN, A.S.; SARMIENTO, F.O.; GHERSA, C.M. & LEÓN, 
R.J.C. 2001. Ecologia de Paisajes. Buenos Aires: Editorial Facultad Agronomia, 
Universidad de Buenos Aires. 571 p. 
OVERBECK, G.E. et. al. Os Campos Sulinos: um bioma negligenciado. In: PILLAR, 
V.D. et. al. (eds.) Campos Sulinos - conservação e uso sustentável da 
biodiversidade. Brasília: MMA, 2009. p. 26-41. 
PILLAR, V.D. Dinâmica da Expansão Florestal em Mosaicos de Floresta e Campos no 
Sul do Brasil. In: Claudino-Sales, V. (org.) Ecossistemas Brasileiros: Manejo e 
Conservação. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2003. p.209-216. 
RHODE, R.A. 2000 Year Temperature Comparison. Disponível em: 
http://en.wikipedia.org/wiki/File:2000_Year_Temperature_Comparison.png. 
Acesso em 10/01/2011. Postado em 17/12/2005. 
RICKLEFS, R.E. A Economia da Natureza, 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan , 
1996. p. 98. 
SHERER, C.S. & DA ROSA, A.A.S. Um Eqüídeo Fóssil do Pleistoceno de Alegrete, 
RS, Brasil. Pesquisas em Geociências, v. 30, n.2, 2003. p.33-38. 
SOLOMON, S., D. et al. (eds.). Contribution of Working Group I to the Fourth 
Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. 
Cambridge: Cambridge University Press, 2007, 996 pp. Disponível em: 
http://www.ipcc.ch/publications_and_data/publications_ipcc_fourth_assessment_r
eport_wg1_report_the_physical_science_basis.htm. Acesso em 10/01/2011. 
SOLÓRZANO, A.; OLIVEIRA, R.B. de & GUEDES-BRUNI, R.R. Geografia, 
História e Ecologia: criando pontes para ainterpretação da paisagem. Ambiente & 
Sociedade, Campinas, v. XII, n.1, 2009. p. 49-66. 
SUAREZ, R. Paleoindian Components of Northern Uruguay: New Data on Early 
Human Occupations of the Late Pleistocene and Early Holocene. In: Miotti , L; 
Salemme, M; Flegenheimer, N. (eds.) Where the South Winds Blow. Ancient 
Citar como: CRUZ, R. C., GUADAGNIN, D. L. Uma pequena história ambiental do Pampa: proposta de uma abordagem 
baseada na relação entre perturbação e mudança In: A sustentabilidade da Região da Campanha-RS : Práticas e 
teorias a respeito das relações entre ambiente, sociedade, cultura e políticas públicas. ed.Santa Maria, RS. : UFSM, 
PPG Geografia e Geociências, Dep. de Geociências, 2010, p. 155-179. 
 
Evidences of Paleo South Americans. Texas: Center for the Study of the First 
Americans. Texas A & M University, 2003. p. 29-36. 
SUÁREZ,R. & LÓPEZ, J.M. Archaeology of the Pleistocene–Holocene transition in 
Uruguay: an overview. Quaternary International, v. 109-110, 2003. p. 65-76. 
SUERTEGARAY, D.M.A. & PIRES DA SILVA, L.A. Tchê Pampa: histórias da 
natureza gaúcha. In: PILLAR, V.D. et. al. (eds.) Campos Sulinos - conservação e 
uso sustentável da biodiversidade. Brasília: MMA, 2009. p. 42-59. 
VILLWOCK, J.A. A Summary of the Geology of the Coastal Province of Rio Grande 
do Sul. In: FIGUEIREDO, M.R.C.; CHAO, N.L. & KIRBY-SMITH, W. (eds.) 
Proceedings of the International Symposium on Utilization of Coastal 
Ecosystems: planning, pollution and productivity. Volume 2. Rio Grande: Editora 
da FURG, 1989. p. 471-484. 
WALDRAM, M.S.; BOND, W.J.; STOCK, W.D. Ecological Engineering by a Mega-
Grazer: White Rhino Impacts on a South African Savanna. Ecosystems, v.11, n.1, 
2007. p.101-112. 
 
View publication statsView publication stats

Outros materiais