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TRABALHO DIREITO ELEITORAL

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FUNDAÇÃO PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS – FUPAC
 FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS DE UBÁ
ATIVIDADE EXTRACLASSE DIREITO ELEITORAL
9º PERÍODO
TEXTO BASE
Tramita, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pela primeira vez, uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (“AIME”), contra um presidente empossado. 
Muito embora o Senado Federal tenha aprovado o impeachment, e Dilma perdido o mandato, Temer, seu companheiro de chapa assumiu a Presidência da República. 
Trata-se de uma ação eleitoral que merece de todos nós, especial atenção diante da sua origem constitucional.
Decotada a paixão político-eleitoral sobre o tema, pesquise, na doutrina e jurisprudência, e responda tecnicamente sobre:
Base legal da “AIME”
A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) tem fundamento nos §10 do art. 14 da CF/88:
Art. 14, § 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.
A Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) é uma ação eleitoral prevista na Constituição Federal, e tem como objetivo atacar diretamente o mandato obtido por um candidato eleito, em face da ocorrência de abuso de poder econômico, corrupção ou fraude, podendo ser proposta até quinze dias após a obtenção do diploma. 
O prazo tem natureza decadencial, não é interrompido nos sábados, domingos e feriados e exclui o dia do começo e inclui o do vencimento.
Cabimento;
Tem por objetivo impugnar o mandato obtido com abuso de poder econômico, corrupção ou fraude, podendo ser proposta até quinze dias após a obtenção do diploma, ou seja, tem como meta desfazer a relação jurídica que dá sustentação ao mandato eletivo por meio da cassação do mandato ou, no caso dos suplentes, por meio da cassação do diploma outorgado a eles. Retira- se o mandato ou o diploma em virtude de acontecimentos que tornam ilegítima a vitória do candidato nas eleições.
Sigilo;
A tramitação da AIME é sigilosa, nos termos do art. 14, § 11, da Constituição Federal. Isso quer dizer que, embora o julgamento seja público, o andamento do processo se dá em segredo de justiça. (Ac.-TSE nº 31/98 e Res.-TSE nº 21.283/2002).
Art. 14, § 11 - A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.
A doutrina e a jurisprudência, diante a literalidade do texto constitucional, optaram por não restringir integralmente a publicidade da AIME. Dessa forma, ela terá o curso de todo o processo em segredo de justiça, todavia, o julgamento da causa deverá ser público, em atenção ao princípio da publicidade das decisões judiciais destacado no inciso X do art. 93 da CF/1988. 
Natureza jurídica;
A AIME tem natureza jurídica de ação constitutiva negativa ou desconstitutiva. Compreende-se tal característica por meio da análise das possíveis consequências a serem impostas ao final do processo. Dentre elas, há a perda do mandato eletivo ou a cassação do diploma (suplentes). Nesse contexto, há uma situação já devidamente constituída (candidato efetivamente diplomado ou exercendo o mandato eletivo), logo, para que haja o desfazimento, o juiz eleitoral desconstituirá uma situação já existente, cassando o diploma ou retirando o mandato, daí que surge a natureza constitutiva negativa da AIME. Portanto, o provimento final de uma AIME é de natureza desconstitutiva.
Objetivo;
O objeto da AIME é o mandato vencido na Eleição, que se consolidou com a obtenção do diploma pelo eleito ou suplente na data da diplomação perante a Justiça Eleitoral, evento que marca o início da contagem temporal para o início da ação perante o Órgão competente para julgá-lo. Importante observar que a diplomação ocorre independentemente da presença do eleito ou suplente à cerimônia designada ou mesmo da recepção do diploma em si por parte do eleito ou suplente.
Pré-requisitos;
A respeito dos requisitos para ajuizamento da AIME, define-se para um entendimento integral das hipóteses de cabimento:
Abuso do poder econômico: algo que exorbita a esfera de atuação do candidato, além do permitido e aceitável. O candidato deve ser escolhido por suas propostas e não por sua condição.
Corrupção: quando o candidato tenta obter votos do eleitor mediante o oferecimento de vantagens, impedindo o de usufruir de seu direito de voto.
Fraude: engano mediante dolo, com intenção deliberada de burlar a lei. Conforme o TSE, o conceito de fraude relaciona-se com a votação; votar mais de uma vez ou alterar as opções feitas pelos eleitores para valer-se individualmente do resultado das urnas.
Gratuidade;
A AIME tramita em segredo de justiça, embora seu julgamento seja público, e é gratuita, exceto para as hipóteses de lide temerária ou má-fé, conforme redação da Lei 9.265, a qual tornou gratuitos atos necessários à cidadania, como os pedidos de informações ao poder público, em todos os seus âmbitos, objetivando a instrução de defesa ou a denúncia de irregularidades administrativas na órbita pública; as ações de impugnação de mandato eletivo (AIME) por abuso do poder econômico, corrupção ou fraude e quaisquer requerimentos ou petições que visem às garantias individuais e a defesa do interesse público.
Legitimidade ativa e passiva;
A legitimidade ativa para a impugnação de mandatos eletivos é estabelecida, por entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, de acordo com o art. 22 da Lei Complementar nº 64/1990 - Lei das inelegibilidades. Assim, estão legitimado qualquer candidato, partido político coligação ou Ministério Público. Em relação à legitimidade ativa do candidato para impugnar mandatos eletivos, não é necessário que ele esteja concorrendo ao mesmo cargo em relação ao qual deseja apresentar a impugnação, como também não é necessário que tenha logrado êxito nas eleições, o que representaria uma indevida limitação aos direitos desses legitimados ativos. Os diretórios de partidos políticos somente poderão impugnar mandatos eletivos dentro de sua própria circunscrição; logo, um diretório municipal só poderá impugnar mandatos dentro de seu município; um diretório estadual, dentro de seu estado; e um diretório federal, em todo o país. De acordo com a Lei das Eleições - Lei nº 9.504/1997, as coligações partidárias são a junção transitória de mais de um partido político com a finalidade de participarem de determinadas eleições. Em decorrência disso, a legislação as considera como único partido no relacionamento com a Justiça Eleitoral e no trato dos interesses interpartidários. Ocorre que as eleições são finalizadas com a diplomação dos eleitos e, consequentemente, as coligações também. Entretanto, o prazo para o ajuizamento da AIME é de 15 dias contados a partir da diplomação, ou seja, pela literalidade da Constituição Federal, as coligações não teriam legitimidade para ingressar com a impugnação de mandatos, pois seu termo inicial começa a correr no momento em que as coligações deixam de existir. Em contraponto a esse dispositivo constitucional, com a finalidade de tentar corrigir essa falha, defende a doutrina que a existência das coligações posterga-se no tempo com a finalidade específica de permitir o ajuizamento da AIME.
A legitimidade passiva (Candidato diplomado) se refere às pessoas que podem figurar no polo passivo da impugnação de mandato. Tal análise se torna mais fácil quando consideradas as consequências da AIME, sendo elas a perda de mandato eletivo e a cassação de diploma dos suplentes e dos vices. Dessa forma, só poderão figurar no polo passivo os titulares de mandatos e de diplomas expedidos pela Justiça Eleitoral, isto é, os candidatos que tenham sido eleitos e seus respectivos suplentes ou vice. 
Todavia, o fato de os legitimados passivos serem apenas esses não impede que ouras pessoas tenham interesse jurídico na causa, mais especificamente no polo passivo. Em consequência disso, permite-se aos partidos políticos ingressar no processo da AIME na qualidade de assistente simples.Rito;
Quanto ao rito a ser seguida para processamento da AIME, tal discussão provocou anos de debate na doutrina, debate esse fomentado pela omissão legislativa sobre o assunto. Durante mais de década, inclinou-se a jurisprudência do TSE, seguida à risca pela jurisprudência dos TRS'S, no sentido de adotar o rito processual ordinário do CPC, cedendo ao argumento de que, portanto inexistia previsão legal disciplinando dever-se-ia recorrer ao sistema processual comum. 
Consequências, em especial aquelas relacionadas à chapa (Presidente e Vice Presidente)’.
A chapa pela qual Temer foi reeleito, e que tinha Dilma Rousseff como candidata a presidente, está sendo acusada de abuso econômico na eleição de 2014, por ter usado na campanha dinheiro com origem no esquema de propina investigado pela Operação Lava Jato.
Em decisão inédita tomada em 06 de outubro de 2015, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reabriu ação para investigar campanha que reelegeu em 2014 a presidenta Dilma Rousseff e o vice-presidente vice Michel Temer. 
Trata-se de uma ação eleitoral, prevista na Constituição Federal, que tem por objetivo impugnar o mandato obtido "com vícios e ilicitudes". Segundo a legislação, a ação deve ser proposta quando o mandato tiver indícios de ter sido obtido com abuso de poder econômico, corrupção ou fraude.
Diferente do processo de impeachment, que pode derrubar um presidente isoladamente, a decisão do TSE no sentido de cassar um mandato presidencial necessariamente implica também na cassação do vice, Michel Temer. 
A ação foi impetrada pela coligação Muda Brasil, que teve Aécio Neves como candidato à Presidência da República naquele ano, contra a Coligação Com a Força do Povo, PT e o PMDB, além de Dilma e Temer. É a primeira vez que a corte abre uma ação de impugnação de mandato eletivo, chamada de AIME, contra um presidente empossado.
O Código Eleitoral, com a reforma promovida pela Lei nº 13.165/2015, determina em seu artigo 224 que em caso de decisão da Justiça Eleitoral que implica em cassação de registro, diploma e perda de mandato de candidato de cargo majoritário, serão sempre realizadas novas eleições, que serão indiretas somente se o afastamento ocorrer nos últimos seis meses de mandato.
Há quem defenda a inaplicabilidade desse dispositivo do Código Eleitoral pela contrariedade ao texto constitucional, há quem defenda que Constituição e Código Eleitoral tratam de hipóteses de vacância distintas. Enquanto a Constituição Federal trata da vacância causada por fatos posteriores a uma eleição e posse legítima, o Código Eleitoral trata de uma vacância decorrente da própria ilegitimidade do mandato – no caso da cassação do registro, seria a ilegitimidade da candidatura, o que implicaria numa nulidade desde o início, o que implicaria necessariamente em novas eleições.
São duas Ações de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), uma Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) e uma representação com base no artigo 30-A da Lei nº 9.504/97. Ainda não se sabe se as ações serão julgadas em decisão única, mas a instrução dos processos – oitiva de testemunhas e demais produções de provas – estão ocorrendo em conjunto. Todas elas, em teoria, podem levar à cassação da chapa e à inelegibilidade de seus integrantes. E todas versam basicamente sobre o mesmo tema: o suposto financiamento de campanha com recursos ilícitos e o abuso de poder econômico decorrente disso.
Se Dilma for cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral e prevalecer a atual jurisprudência, Temer terá seu registro cassado também, e será afastado da presidência. Afastado o presidente e inexistindo um vice para assumir seu posto, quem assume a Presidência da República, de imediato, é o Presidente da Câmara dos Deputados (atualmente Rodrigo Maia, do DEM).
Independente de se optar por eleições diretas ou indiretas, quem preenche as condições de elegibilidade e não incorre em nenhuma das hipóteses de inelegibilidade, pode ser candidato. Se uma eventual decretação de inelegibilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral no julgamento das ações for aplicada somente à Dilma – e nesse caso é absolutamente possível que seja aplicada somente a ela –, é possível sim que Temer seja candidato e retorne como Presidente eleito.
Há outra questão pendente que envolve Michel Temer, o presidente foi condenado pelo TRE/SP por doações irregulares em campanhas anteriores. Isso, em teoria, implica em inelegibilidade de acordo com o texto da “Lei Ficha Limpa”. No entanto, essas condições de elegibilidade e as hipóteses de inelegibilidade são requisitos para a candidatura e não para o exercício do mandato, assim, são verificadas pela Justiça Eleitoral no momento de apresentação do pedido de registro. O TRE/SP não se manifestou expressamente sobre isso na decisão que condenou o presidente pela irregularidade nas doações, de forma que uma eventual inelegibilidade em razão disso ainda é uma questão indefinida.
No fim, a jurisprudência dominante do Tribunal Superior Eleitoral indicaria que, em caso de cassação da chapa, Temer sairia do cargo, seriam convocadas eleições diretas, Temer seria inelegível em razão da condenação pelo TRE/SP. Mas é claro que tudo isso é na teoria. Nem o texto da lei e nem precedentes nos dão resposta definitiva para nenhuma das questões.
Quando o assunto é Justiça Eleitoral há sempre um algo a mais para se esperar, uma virada de posicionamento, um interesse pela proteção da moralidade, a proteção do eleitor, o respeito à soberania do voto. São muitos os elementos em discussão, a resposta mesmo, só saberemos ao final. 
BIBLIOGRAFIA
Justiça Eleitoral esta imprevisível no caso de Cassação da chapa Dilma Temer. Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/03/21/justica-eleitoral-esta-imprevisivel-no-caso-da-cassacao-da-chapa-dilma-temer/>. Acesso em: 17/04/2017
Roteiro de Direito Eleitoral. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Disponível em: <http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tse-roteiro-de-direito-eleitoral-acao-de-impugnacao-de-mandato-eletivo>. Acesso em: 17/04/2017 
Tribunal Superior Eleitoral. Disponível em: http://www.justicaeleitoral.jus.br/arquivos/tse-bieje-16-maio-2014-aime>. Acesso em: 17/042017
	
BRUNO CIRINO
JÚLIO BIQUITA
SUELLEN TEODORICO XAVIER
TIAGO FORTUNATO

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