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RESUMO Florestan Fernandes

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Florestan Fernandes (1981) pag 79-89
Poder e Contrapoder na América Latina
O problema da Descolonização
A orientação predominante nas classes privilegiadas da América Latina, consiste em confundir a desagregação do antigo regime colonial com a descolonização como processo histórico social. Com isso tem-se a mistificação que se desenrola em países que ainda se acham em período de transação neocolonial. E a desmitificação tem sido feita em termos científicos, através da teoria do colonialismo interno, no plano da luta de classes e da oposição política articulada, ela aparece sob as bandeiras do combate ao “feudalismo”. A teoria do colonialismo interno concede uma vantagem estratégica às classes dominantes: ela negligencia demais a necessidade de uma investigação rigorosa das forças de estratificação engrenada ao capitalismo neocolonial e ao capitalismo dependente.
O problema da descolonização é diluído, como se não existisse, oque importava era as debilidades congênitas do capitalismo neocolonial e do capitalismo dependente. Nos países periféricos a descolonização constitui uma categoria histórica mascarada pela dominação burguesa. Na periferia o socialismo possui essa função de calibrar os dinamismos revolucionário da ordem existente pelos problemas e dilemas sociais que as burguesias não tentaram enfrentar e resolver, por não ser do seu interesse de classe nas formas de desenvolvimento capitalista inerentes ao semicolonial e à dependência. 
O anticolonialismo dos estratos privilegiados só era intenso em um ponto, o da conquista da condição legal e política de donos do poder. Nos demais pontos, os interesses mais avançados e profundos exigiam o congelamento da descolonização. Congelar a descolonização constituía um pré requisito estrutural e dinâmica não só da “defesa da ordem”, do “combate à anarquia”, da “preservação da propriedade” e etc; esse era o ponto numero um da nova articulação entre os estamentos senhorias e os intermediários, ou seja, do padrão neocolonial de crescimento do capitalismo.
Outra coisa que possui importância é a forma de financiamento do desenvolvimento capitalista, que seria os “custos” e deveriam ser descarregados nos agentes direta ou indiretamente, centrais ou marginais das formas de produção e de trabalho preexistentes. 
O crescimento do mercado interno, a expansão das cidades, e de suas funções urbano-comerciais, a industrialização e o próprio crescimento do aparato do Estado e a diferenciação se suas funções extrapolíticas dependeram fortemente do congelamento da descolonização. No setor rural os que são diretamente privilegiados pelo congelamento da descolonização tem mais interesse em defender a continuidade do status do que em combater os prejuízos conjunturais que possam resultar da variação de sua posição no rateio da massa de mais-valia pelas classes burguesas. E os que são indiretamente privilegiados, como os comerciantes, os industriais ou os banqueiros, sabem que o país não pode “financiar o seu desenvolvimento” de outra maneira. 
Não é o desenvolvimento capitalista por si só que fomenta a “revolução” democrática, a “revolução” nacional e as outras reformas capitalistas. Se as classes trabalhadoras não forem capazes de se unir e impedir regressões, o desenvolvimento capitalista pode operar ao contrário acelerando o enriquecimento “lícito” e “ilícito” das classes burguesas nacionais e estrangeiras. 
O congelamento da descolonização constitui uma vantagem estratégica para a burguesia na luta de classes, conferindo a ela uma supremacia permanente às classes possuidoras, aos seus estratos dominantes e às suas elites políticas, por outro lado essas vantagens estratégicas avançam por dentro da transformação capitalista e procuram impor às classes burguesas as reformas mais urgentes para sanear o desenvolvimento capitalista que chegam a criar uma situação pré-revolucionária ou revolucionária. 
A função do congelamento da descolonização então é essa, na estratégia da luta de classes dos donos do poder.

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