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Análise Crítica de 'O príncipe de Nicolau Maquiavel'

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O Príncipe é um livro escrito por Nicolau Maquiavel em 1512, cuja primeira edição foi publicada postumamente. Trata-se não só de um pequeno manual da conduta de príncipes, como também de uma das teorias políticas mais bem elaboradas pelo pensamento humano, e que, com eximia perícia, descreve o Estado (principalmente enquanto monarquia), e como um chefe do mesmo deve operar para conservar o poder – e caso queira de um principado assenhorar-se – para conquistá-lo. Maquiavel deixa de lado o tema da República, uma vez que este será mais bem discutido em outra ocasião, sendo que, através de sua obra, Maquiavel parece querer contribuir para o processo de unificação italiano.
No decorrer do livro, Nicolau aconselha ao príncipe destinatário sobre como manter seu governo da forma mais eficiente possível. Essa eficiência é a ciência política de Maquiavel. Ele começa descrevendo os diferentes tipos de Estado e como cada tipo afeta a forma de governo do príncipe, descreve as maneiras de conduzir-se nos negócios públicos internos e externos, e fundamentalmente, ensina como um príncipe pode conquistar um Estado e manter o domínio sobre ele. Por exemplo, no caso dos principados hereditários, por já estarem afeiçoados à família do príncipe, a facilidade em mantê-los é maior: apenas continuar agindo de acordo com seus antecessores é suficiente. E mesmo que o príncipe não seja bom e acabe perdendo o Estado, ele o readquire por pior que seja o ocupante.
Nos séculos XV e XVI, existia um amontoado de cidades rivais, conflitando por autonomia, riqueza e poder; Cidades prósperas, abarrotadas de magníficos monumentos e de belas construções, produzidas por diversos artistas. Cada uma dessas cidades vivia os seus próprios conflitos internos. Maquiavel portanto, se desenvolveu em meio a um cenário violento, dissimulado, de traições, reviravoltas políticas e assassinatos.
Ao ler a obra podemos extrair lições que sem duvida são de grande valia na construção de um senso político crítico, mas que também foram de ainda maior valor a um (ou aspirante de) Príncipe do século XVI. Segundo o autor, o príncipe deve agir austuciosamente, enquanto parece ter como foco o bem comum. Vivendo no meio de tantos homens maus e totalmente dissimulados, o príncipe deve saber também o momento de não ser bom. Definir a cada ocasião contra quem, quando e também como e em que medida deve se fazer uso do mal. Essas são algumas das prerrogativas daqueles que agem políticamente neste meio tumultuado. O príncipe deveria sempre manter a aparência de bondade e saber, por de trás da máscara, agir de acordo com a necessidade do momento, fazendo uso do mal na medida certa contra os seus inimigos.
 Talvez daí tenha surgido o termo "maquiavélico", pelo qual podemos entender a negação radical da moralidade cristã ou qualquer outra; uma certa forma de ação que atenderia a interesses individualistas e egoístas, objetivando a conquista do poder por qualquer meio ou a qualquer custo, como por exemplo a utilização da tortura, mentira, violência, intriga, manipulação e conspiração. É neste livro que surge a famosa expressão os fins justificam os meios, significando que não importa o que o governante faça em seus domínios, desde que seja para manter-se como autoridade.
O livro possui 26 capítulos, além de uma dedicatória a Lourenço II de Médici, Duque de Urbino. Mediante conselhos, sugestões e ponderações realizadas a partir de acontecimentos anteriores na esfera política das principais localidades de então, o tratado pretendia ser uma forma de ganhar confiança do duque, que lhe concederia algum cargo. No entanto, Maquiavel não alcançou suas ambições.
O Príncipe foi escrito a quase quinhentos anos e ainda assim é lido por milhões pessoas de todo o mundo a cada ano. Não se pode negar que Maquiavel imortalizou seu nome neste livro. Talvez sua popularidade se dê pela linguagem direta, fácil e pela forma instrutiva como foi escrito, mas o fato é que por tratar da natureza humana e não apenas dos fatos ou ideias de sua época este é um escrito atemporal. Sabemos que as ideias são voláteis, assim como os costumes, até mesmo a própria história muda com o passar do tempo, ganhando mais e mais capítulos, mas nosso âmago permanece permeado com os mesmos instintos e inclinações.

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