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FUPAC - LAFAIETE MÁQUINAS DE FLUXO Parte 2 Engenharia Industrial Mecânica Prof.: Edilberto FUPAC – Lafaiete 2.5 TURBINAS HIDRÁULICAS USINAS HIDRELÉTRICAS 2.5.1) Introdução Hoje em dia é muito fácil você chegar em casa, ascender a luz, ligar o forno de micro-ondas para preparar uma refeição, ligar a TV e assistir seu programa preferido. Mas, já parou para pensar como seria o mundo sem energia elétrica? Basta acabar a energia por alguns minutos para percebermos a falta que ela nos faz. Energia é tudo aquilo que resulta da transformação de trabalho ou que se pode transformar em trabalho. Existem dois tipos: Energia Cinética, que é a energia em movimento e Energia Potencial, que está armazenada, pronta para ser transformada em energia cinética e utilizada. A utilização da energia cinética e potencial das águas, pela Humanidade, remonta a tempos imemoriais, já que, desde sempre, se instalaram variados dispositivos nas margens e nos leitos dos rios. Foi, porém, no século XIX que o aproveitamento dessa forma de energia se tornou mais atraente do ponto de vista econômico, pois, com a invenção dos grupos turbinas-geradores de energia elétrica e a possibilidade do transporte de eletricidade a grandes distâncias, se conseguiu obter um elevado rendimento econômico desse aproveitamento. No Brasil, devido a sua enorme quantidade de rios, a maior parte da energia elétrica disponível é proveniente de grandes Usinas Hidrelétricas. Figura 2.5.1: Usina Hidrelétrica. A energia primária de uma hidrelétrica é a energia potencial gravitacional da água contida numa represa elevada. Antes de se tornar energia elétrica, a energia primária deve ser convertida em energia cinética de rotação. O dispositivo que realiza essa transformação é a turbina. Ela consiste basicamente em uma roda dotada de pás, que é posta em rápida rotação ao receber a massa de água. O último elemento dessa cadeia de transformações é o gerador, que converte o movimento rotatório da turbina em energia elétrica. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.2: Esquema de Usina Hidrelétrica. 2.5.2) Propriedades Uma usina hidrelétrica pode ser definida como um conjunto de obras e equipamentos cuja finalidade é a geração de energia elétrica, através de aproveitamento do potencial hidráulico existente em um rio. O potencial hidráulico é proporcionado pela vazão hidráulica e pela concentração dos desníveis existentes ao longo do curso de um rio. Isto pode se dar: de forma natural, quando o desnível está concentrado numa cachoeira; através de uma barragem, quando pequenos desníveis são concentrados na altura da barragem; através de desvio do rio de seu leito natural, concentrando-se os pequenos desníveis nesse desvio. A construção de uma usina hidrelétrica envolve muitos aspectos, principalmente os naturais. Há necessidade de desníveis para a água adquirir mais velocidade. Um rio não é percorrido pela mesma quantidade de água durante o ano inteiro. Em uma estação chuvosa, é claro, a quantidade de água aumenta. Para aproveitar ao máximo as possibilidades de fornecimento de energia de um rio, deve-se regularizar sua vazão, a fim de que a usina possa funcionar continuamente com toda a potência instalada. A vazão de água é regularizada pela construção de lagos artificiais. Uma represa, construída de material muito resistente (pedra, terra, freqüentemente cimento armado) fecha o vale pelo qual corre o rio. As águas param e formam o lago artificial. Dele pode-se tirar água quando o rio está baixo ou mesmo seco, obtendo-se assim uma vazão constante. A construção de represas quase sempre constitui uma grande empreitada da engenharia civil. Os paredões, de tamanho gigante, devem resistir às extraordinárias forças exercidas pelas águas que ele deve conter. Às vezes, têm que suportar ainda a pressão das paredes rochosas da montanha em que se apóiam. Para diminuir o efeito das dilatações e contrações devido às mudanças de temperatura, a construção é feita em diversos blocos, separados por juntas de dilatação. Quando a represa está concluída, em sua massa são colocados termômetros capazes de transmitir a medida da Máquinas de Fluxo temperatura a distância; eles registram as diferenças de temperatura que se possam verificar entre um ponto e outro do paredão e indicam se há perigo de ocorrerem tensões que provoquem fendas. Figura 2.5.3: Principais partes de uma Usina Hidrelétrica. As partes principais de uma usina hidrelétrica são: Barragens - como o próprio nome diz, têm a função de barrar o fluxo de água, formando, a represa, um grande lago onde a água fica armazenada. Esta deve ter uma grande altura para que adquira mais velocidade durante a queda. Comportas e Vertedouro - controlam o nível de água, evitando que ela transborde quando o nível da represa passa do limite. As comportas são abertas e a água escoa pelo vertedouro. Casa de Máquinas - onde estão instaladas as turbinas que geram a energia elétrica. A água represada entra na casa de máquinas por tubos (que são chamados dutos forçados); a força da água é que movimenta as turbinas, fazendo girar o eixo que tem um grande ímã na parte superior, o qual, em contato com as turbinas, produz um campo magnético que gera a energia elétrica. Figura 2.5.4: Principais partes de uma Usina Hidrelétrica. Máquinas de Fluxo Cada parte se constitui em um conjunto de obras e instalações projetadas harmoniosamente para operar, com eficiência, em conjunto. Tab. 2.5.1 - Tabela de comparação de algumas Usinas. 2.5.3) Funcionamento A água captada no lago, formado pela barragem, é conduzida até a casa de força através de canais, túneis e/ou condutos metálicos. Após passar pela turbina hidráulica, na casa de força, a água é restituída ao leito natural do rio, através do canal de fuga. Figura 2.5.5: Turbinas Francis e Kaplan. Dessa forma, a potência hidráulica é transformada em potência mecânica quando a água passa pela turbina, fazendo com que esta gire, e, no gerador (que também gira acoplado mecanicamente à turbina) a potência mecânica é transformada em potência elétrica. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.6:Interior de uma turbina. Figura 2.5.7:Interior de uma turbina. A energia, assim gerada, é levada através de cabos ou barras condutoras dos terminais do gerador até o transformador elevador, onde tem sua tensão (voltagem) elevada, aproximadamente 10 vezes maior, para adequada condução, através de linhas de transmissão, até os centros de consumo. O gerador é um dispositivo que funciona com base nas leis da indução eletromagnética. Em sua forma mais simples, consiste numa espira em forma de retângulo. Ela fica imersa num campo magnético e gira em torno de um eixo perpendicular às linhas desse campo. Quando fazemos a espira girar commovimento regular, o fluxo magnético que atravessa sua superfíc ie varia continuamente. Surge assim, na espira, uma corrente induzida periódica. A cada meia volta da espira o sentido da corrente se inverte, por isso ela recebe o nome de corrente alternada. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.8: Vista de um gerador interligado a uma turbina. Quando a energia chega nas cidades, um outro transformador na subestação rebaixadora reduz a energia de volta ao nível adequado para os aparelhos que usamos. O consumo de energia elétrica depende da potência do aparelho utilizado e do tempo de utilização. A energia que pode ser fornecida por unidade de tempo chama-se potência, e é medida em watt (W). Como as potências fornecidas pelas usinas hidrelétricas são muito grandes, sempre expressas em milhares de watts, utiliza-se para sua medida um múltiplo dessa unidade, o quilowatt (kW), que equivale a 1.000 W. A potência de uma fonte de energia elétrica pode ser calculada multiplicando-se a tensão em volts, que ela é capaz de fornecer, pela corrente em ampéres, que distribui. Dessa maneira, uma fonte capaz de distribuir 1.000 A, com uma tensão de 10.000 V, possui uma potência de 10 milhões de watts, ou 10.000 kW. Uma linha de transmissão, portanto, é capaz de transportar a mesma potência de duas maneiras: com voltagem elevada e corrente de baixa intensidade, ou com voltagem baixa e alta corrente. Quando a energia elétrica atravessa um condutor, transforma-se parcialmente em calor. Essa perda é tanto maior quanto mais elevada for a intensidade da corrente transportada e maior for a resistência do fio condutor. Assim, seria conveniente efetuar a transmissão da energia elétrica por meio de fios muito grossos, que apresentam menos resistência. Porém, não se pode aumentar excessivamente o diâmetro do condutor, pois isso traria graves problemas de construção e transporte, além de encarecer muito a instalação. Assim, prefere-se usar altos valores de tensão, que vão de 150.000 até 400.000 V. A energia elétrica produzida nas centrais não é dotada de tensão tão alta. Nos geradores, originalmente, essa energia tem uma tensão de cerca de 10.000 V. Valores mais altos são inadequados, porque os geradores deveriam ser construídos Máquinas de Fluxo com dimensões enormes. Além disso, os geradores possuem partes em movimento e não é possível aumentar arbitrariamente suas dimensões. A energia elétrica é, pois, produzida a uma tensão relativamente baixa, que em seguida é elevada, para fins de transporte. Ao chegar às vizinhanças dos locais de utilização, a tensão é rebaixada. Essas elevações e abaixamentos são feitos por meio de transformadores. Os aparelhos elétricos possuem diferentes potências, consumindo mais ou menos energia. Essa potência é expressa em watts (W) e deverá estar mencionada na placa de identificação afixada no próprio aparelho. É o medidor de energia elétrica (relógio de luz) que registra o consumo de eletricidade. Mensalmente a Eletropaulo, Cemig, Light, etc, realizam a leitura do consumo, para que seja emitida a fatura (conta) de energia elétrica. O consumo do mês é calculado com base na diferença entre a leitura obtida no mês em curso e a do mês anterior. A eficiência energética desse trabalho é muito alta, ao redor de 95%. O investimento inicial e os custos de manutenção são elevados e o combustível (a água) é nulo. É uma fonte renovável de energia. Veja na tabela a produção de energia das maiores usinas do mundo. Nome País Potência ( M W) Itaipu Brasil 12.600 Guri Venezuela 10.300 Grand Coulee EUA 6.494 Federação Sayano Russa 6.400 Federação Grasnoyarsk Russa 5.428 Churchil Falls Canadá 5.428 La Grande Canadá 5.328 Federação Brstsk Russa 4.500 Federação Ust - Clim Russa 4.320 Tucuruí Brasil 3.960 Fonte Eletrobras Tab. 2.5.2 - Produção de energia. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.9: Usinas a reservatório e a fio d’água, do Sudeste. Figura 2.5.10:Ilustração mais simplificada de Usina. Máquinas de Fluxo 2.5.4) Impacto Ambiental O principal problema para o meio ambiente está vinculado à formação do lago do reservatório, que pode causar danos à área inundada, principalmente se estiver coberta por florestas; às vezes, cidades inteiras ficam submersas. As hidrelétricas sempre foram consideradas um modelo de geração de energia limpa, mas produzem quantidades consideráveis de metano, gás carbônico e óxido nitroso, gases que provocam o chamado efeito estufa. Em alguns casos, elas podem emitir mais gases poluentes do que as próprias termoelétricas movidas a carvão mineral ou a gás natural. Três fatores são responsáveis pela produção desses gases quentes: a decomposição da vegetação pré-existente, submersa na construção dos reservatórios; a ação de algas primárias que emitem CO2; e o acúmulo, nas barragens, de nutrientes orgânicos trazidos por rios e pela chuva. A emissão de gás carbônico e de metano não acaba com a decomposição total da vegetação. Há uma renovação constante, com a chegada de novos materiais orgânicos trazidos pelos rios e pelas chuvas. Lagos profundos em áreas pequenas, e com grande potência energética, emitem poucos gases deste tipo. É o caso de Itaipu, por exemplo. Na produção de metano (CH4), a hidrelétrica de Três Marias é a que mais polui. Com relação a emissão de dióxido de carbono (CO2), Tucuruí (TO) é quem mais polui. Apesar de algumas hidrelétricas produzirem mais gases de efeito estufa do que termoelétricas movidas a carvão mineral ou a gás natural, essas últimas são mais prejudiciais ao ambiente. A termoelétrica não emite só gases quentes, mas também dióxidos de enxofre e de nitrogênio, além de material particulado, prejudicial à saúde. Isso não acontece nas hidrelétricas. A energia hidrelétrica representa cerca de um quarto da produção total de eletricidade no mundo. Em alguns países, foram instaladas centrais pequenas, com capacidade para gerar entre um quilowatt e um megawatt. Muitas nações em desenvolvimento estão utilizando esse sistema com bons resultados. USINA ÁREA ALAGADA PRODUÇÃO DE ÍNDICE MEGAWATTS MEGAWATTS POR Km INUNDADO Itaipu 1,7 MIL KM2 12,6 MIL 7,2 Tucuruí 2,8 MIL KM2 8,3 MIL 3 Balbina 2,3 MIL KM2 250 0,1 Belo Monte 400 KM2 11 MIL 27,5 Tab. 2.5.3 - Comparação entre Usinas. A preocupação com o ambiente concentra atenções nessa fonte de energia renovável. Há algumas centrais baseadas na queda natural da água, quando a vazão é uniforme. Estas instalações se chamam de água fluente. Uma delas é a das cataratas do Niágara. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.11: Rede hidrográfica e localização de barragens na Amazônia e em Tocantins. Países que possuem uma boa rede hidrográfica e um relevo acidentado, são os maiores usuários dessa tecnologia considerada limpa, pois não queima nenhum combustível fóssil (carvão ou petróleo) ou nuclear (urânio) na obtenção de eletricidade.2.5.5) Vantagens e Desvantagens Vários fatores influem na hora de optar por uma forma de gerar energia. Os principais são o custo de construção da usina e os gastos para mantê-la operando. O impacto ambiental também tem que ser considerado. Outro dado é o tempo real de operação, que mede a porcentagem do tempo que a central efetivamente produz energia, descontadas interrupções causadas, por exemplo, pela falta de gás, chuva ou sol. Máquinas de Fluxo TIPO DE ENERGIA Hidrelétrica Eólica Solar Termoelétrica a gás Termoelétrica a carvão Nuclear CUSTO DE CONSTRUÇÃO (USS/KWH) de 1000 a 1500 de 1100 a 2300 de 2500 a 5000 de 400 a 600 de 800 a 1000 3000 CUSTO DE OPERAÇÃO (USS/KWH) de 25 a 40 de 45 a 65 de 45 a 65 de 50 a 80 de 50 a 65 70 IMPACTO AMBIENTAL destruição de ecossistemas, bloqueio nos rios praticamente nenhum insignificante poluição do ar, aquecimento do planeta poluição do ar, aquecimento global riscos de acidentes graves, lixo atômico TEMPO REAL DE PRODUÇÃO de 50% a 65% 25% de 50% a 65% 15% acima de 80% de 40% a 50% Tab. 2.5.4 - Relação dos tipos de energia. Existem inúmeros meios viáveis de gerar eletricidade além das hidrelétricas, que são ignorados ou mal-aproveitados no Brasil. Nesse pacote tecnológico de ponta estão, entre outras, a energia do vento (ou eólica), a solar e a da biomassa, ou seja, a produção de eletricidade pela queima de matériaprima vegetal como o bagaço de cana ou o óleo de dendê. Estes recursos, assim como as fontes de energia tradicionais, também têm suas vantagens e desvantagens (veja o quadro acima), mas poderiam complementar e ampliar a produção de energia no Brasil, onde mais de 90% da eletric idade consumida ainda vem das hidrelétricas, principalmente em épocas de escassez de chuvas, por exemplo (relembrando o caso do “Apagão”). Obs: Se o lago de Itaipu fosse coberto de células solares geraria toda a eletricidade de que o Brasil necessita e nem precisaríamos ter destruído Sete Quedas. 2.5.6) Crise Energética O Brasil já enfrentou uma crise de energia, em que não havia energia elétrica suficiente e toda energia disponível deveria ser usada de maneira inteligente. Essa crise representou uma etapa difícil na história do País. Para entender as causas da crise energética é preciso conhecer um pouco sobre como a energia é gerada. Máquinas de Fluxo Causa da Crise 1º - Redução de Investimentos Os investimentos em geração no Brasil não acompanharam o crescimento da demanda. 2º - Aumento da demanda O crescimento da capacidade de geração não foi proporcional ao aumento populacional. 3º - Dependência de usinas hidrelétricas e de linhas de transmissão Como dito, a dependência do Brasil em relação às usinas hidrelétricas é um fator agravante para uma crise. As hidrelétricas respondem por quase a totalidade da energia consumida no País. É importante você saber que a energia produzida em um local pode ser transportada a outro local e isso é feito por meio de linhas de transmissão que funcionam como verdadeiras estradas para a eletricidade. No Brasil, nem todas as regiões estão interligadas , o que impossibilita um tráfego contínuo entre todas as regiões, como é o caso das regiões Norte e Nordeste, que não estão ligadas às demais. Em relação à Região Sul, o problema é outro. Embora esteja ligada ao Sudeste e ao Centro-Oeste, o sistema de transmissão limita o transporte da energia excedente gerada no Sul. 4º - Clima Para que seja possível gerar energia nas usinas hidrelétricas é preciso que os reservatórios tenham volume suficiente de água para acionar as turbinas. Com a falta de investimentos na ampliação do parque gerador, as reservas de água das usinas em operação são utilizadas de forma intensiva, reduzindo os níveis de armazenamento dos reservatórios. Isso aumenta a dependência por índices de chuva mais altos para recompor o volume de água dos reservatórios. 2.5.7) Glossário Energia Hidráulica - Energia potencial e cinética das águas. Represa - Grande depósito formado artificialmente, fechando um vale mediante diques ou barragens e no qual se armazenam as águas de um rio com o objetivo de as utilizar na regularização de caudais, na irrigação, no abastecimento de água, na produção de energia elétrica, etc. Central Hidroelétrica - Instalação na qual a energia potencial e c inética da água é transformada em energia elétrica. Bacia Hidrográfica - Superfície do terreno, medida em projeção horizontal, da qual provém efetivamente a água de um curso de água, até o ponto considerado. Máquinas de Fluxo Nível Máximo de Exploração - É o nível mais alto permitido normalmente numa represa (sem ter em conta as sobre-elevações devido às cheias). Corresponde ao nível de pleno armazenamento da represa. Nota: O nível máximo da represa corresponde ao maior nível admissível em caso de cheias. Nível Mínimo de Exploração - É o nível mínimo admitido para a exploração de uma represa, medido num local determinado. Nota: Abaixo do nível mínimo de exploração pode-se fazer o esvaziamento da represa até o nível da descarga de fundo. Capacidade Útil - Volume de água disponível numa represa entre o nível de pleno armazenamento e o nível mínimo de exploração normal. Zona lnundável - Zona de uma represa compreendida entre o mais alto nível admitido pela sua exploração normal e o nível de água máximo possível (nível de máxima cheia). POTÊNCIAL HIDRELÉTRICO BRASILEIRO 1990-1999 Estágio Potência (MW) Nº registros Remanescente 31.742,18 2345 Individualizado 66.762,91 732 Total Estimado 98.505,09 3.077 Inventário 47.486,37 478 Viabilidade 37.873,66 62 Projeto Básico 15.242,17 75 Construção 7.696,60 25 Operação 53.855,07 391 Desativado 8,82 12 Total 161.162,69 1.043 Inventariado TOTAL 259.667,78 4.120 Potencial Teórico Hidráulico Bruto - Quantidade máxima de energia elétrica que pode-se obter numa região determinada ou numa bacia hidrográfica durante um ano médio, tendo em conta os desníveis correspondentes referidos a um dado ponto dessa região ou bacia. Tempo de Funcionamento - Intervalo de tempo durante o qual uma instalação, ou parte dela, fornece energia utilizável. Pico de Demanda - MW - Máxima demanda instantânea requerida num intervalo de tempo (dia, mês, ano, etc). Carga de Base - Parte constante da carga de uma rede durante um período determinado (por exemplo: dia, mês, ano). Instalação Elétrica - Conjunto de obras de engenharia civil, edifícios, máquinas, aparelhos, linhas e acessórios que servem para a produção, Máquinas de Fluxo conversão, transformação, transporte, distribuição e utilização de energia elétrica. Linha - Conjunto de condutores, isoladores e acessórios, usado para o transporte ou distribuição de eletricidade. Subestação de Transformação - Instalação elétrica na qual, por meio de transformadores, se realiza a transferência de energia elétrica entre redes a tensõesdiferentes. Rede Elétrica - Conjunto de linhas e outros equipamentos ou instalações elétricas, ligados entre si, permitindo o movimento de energia elétrica. Rede de Transmissão - Rede ou sistema utilizado para transmissão de energia elétrica entre regiões ou entre países, para alimentação de redes subsidiárias. Rede de Distribuição - Rede destinada à distribuição de energia elétrica no interior de uma região delimitada. Alta Tensão - Tensão cujo valor entre fases é igual ou superior a uma tensão dada, variável de país para país. Baixa Tensão - Tensão cujo valor entre fases é inferior a uma tensão dada, variável de país para país. Tensão Nominal - Tensão que figura nas especificações de uma máquina ou de um aparelho, a partir da qual se determinam as condições de ensaio e os limites da tensão de utilização. Tensão de Exploração (efetiva) - Tensão sob a qual se encontram em serviço as instalações elétricas (produção, transporte, etc). Perdas de uma Rede - Perdas de energia que ocorrem no transporte e/ou distribuição de energia elétrica, na rede considerada. Qualidade de Serviço de uma Rede Elétrica - Grau de conformidade com cláusulas contratuais entre distribuidor e consumidor, de uma entrega de energia elétrica num período de tempo determinado, ou, mais geralmente, grau de perturbação de uma alimentação de eletricidade. Potência Elétrica Disponível - Potência elétrica máxima que, em cada momento e num determinado período, poderia ser obtida na central ou no grupo, na situação real em que se encontra nesse momento, sem considerar as possibilidades de colocação da energia elétrica que seria produzida. Máquinas de Fluxo 2.5.8) Observações Finais As usinas respondem por 18% da energia elétrica global. São responsáveis pelo fornecimento de 50% da eletric idade em 63 países e por 90% em outros 23, entre eles o Brasil. PRÓ: são uma fonte de energia renovável, que produz eletric idade de forma limpa, não poluente e barata. CONTRA: exigem grande investimento inicial na construção de barragens. Podem ter a operação prejudicada pela falta de chuvas. Máquinas de Fluxo TURBINAS HIDRÁULICAS 2.5.9) Introdução Turbinas são máquinas para converter energia hidráulica em energia elétrica. O custo total de uma usina hidrelétrica (reservatório, tubulações, turbinas, etc) é mais alto do que o de uma central termelétrica, mas ela tem muitas vantagens, algumas das quais são: 1. Alta eficiência 2. Flexibilidade de operação 3. Fácil manutenção 4. Baixo desgaste 5. Suprimento de energia potencialmente inesgotável 6. Nenhuma poluição 2.5.10) Classificação Os principais tipos de turbina são aquelas de impulso e de reação. O tipo predominante de máquina de impulso é a roda Pelton (inventada por Lester Allen Pelton) que é apropriada para alturas de 150-2000m. As turbinas de reação são de dois tipos principais: 1. de escoamento radial ou misto 2. de escoamento axial Dos tipos de escoamentos radiais predomina a turbina Francis (patenteada por Samuel Dowd e aperfeiçoada por James Bicheno Francis). As turbinas Dériaz são similares às turbinas Francis rápidas, mas com um mecanismo que permite variar a inclinação das pás do rotor. Os tipos principais de máquinas axiais são turbinas de hélice (Propeller), cujas pás do rotor são fixas, e as turbinas Kaplan com as pás do rotor ajustáveis. Outros tipos de máquinas axiais são as turbinas Tubulares, Bulbo e Straflo. 2.5.11) Tipos de Turbinas Hidráulicas 2.5.11.1) Turbinas Francis Em 1847 o inglês James Bicheno Francis (1815-1892) trabalhando nos EUA melhorou uma máquina de escoamento centrípeta desenvolvida em 1838 por Samuel Dowd (1804-1879), de modo que a partir disso, elas receberam o nome de turbinas Francis. A Figura 1 mostra um corte longitudinal de uma turbina Francis, indicando os órgãos principais. Essencialmente constam das seguintes partes: 1) uma caixa, geralmente com forma de caracol do tipo fechado, a qual é substituída por uma câmara ou poço de adução no tipo aberto; 2) um distribuidor dotado de pás orientáveis, para proporcionar a descarga correspondente à potência demandada, com o ângulo mais adequado para a entrada da água no rotor; 3) um rotor dotado de pás com formato especial; 4) um tubo de sucção que conduz a água que sai do rotor a um poço ou canal de fuga. Figura 2.5.12: Turbina radial típica do tipo Francis. As turbinas Francis são máquinas de reação do tipo ação total (a água ao passar pelo rotor preenche simultaneamente todos os canais das pás). Quanto ao posicionamento do eixo podem ser: de eixo vertical de eixo horizontal. Quanto às velocidades do rotor, as turbinas Francis podem ser: lentas (55<ns<120 rpm); normais (120<ns<200 rpm); rápidas (ou Deriaz) (200<ns<300); extra rápidas ou ultra-rápidas (300<ns<450). Com a velocidade específica definida pela fórmula: ns = (nPe)/(H 4H) ; [n] em rpm, [Pe] em CV e [H] em m. Quanto ao modo de instalação que caracteriza como recebem a água motriz, as turbinas Francis podem ser: de instalação aberta ou fechada. - Instalação aberta: Quando a turbina é colocada num poço, ao qual vem ter a água conduzida em um canal de adução, havendo geralmente uma comporta ou adufa para que se possa esvaziá-la na manutenção. Este tipo de instalação é conveniente apenas para pequenas quedas (até 10 m) e potências pequenas (algumas centenas de CV). - Instalação fechada: Vale ressaltar que quando a descarga é grande e o desnível é pequeno, há vantagem de se utilizar um tubo de sucção curvo. Quando a queda é superior a 10 m é preferível colocar a turbina numa caixa à qual vem ter a água conduzida em uma tubulação forçada (pentstock). Estas caixas tem a forma de caracol, voluta ou espiral e são envolvidas pelo concreto armado. As vantagens das turbinas de eixo horizontal sobre as de eixo vertical é que nas primeiras a turbina e o gerador podem ser independentes; há uma melhor disposição da sala das máquinas já que a turbina e o gerador estão no mesmo nível, fácil montagem e entendimento, facilidade de manutenção e custo reduzido em cerca de 20% para as mesmas condições. Prova modificada. 2.5.11.2) Turbinas Pelton Como toda turbina hidráulica, a Pelton possui um distribuidor e um receptor. As partes principais das turbinas Pelton são descritas a seguir: Figura 2.5.13: (a) Esquema de uma turbina Pelton. (b) Fotografia da roda de uma turbina Pelton. 1) Distribuidor: O distribuidor é um bocal de forma apropriada a guiar a água, proporcionando um jato cilíndrico sobre a pá do receptor, o que é conseguido por meio de uma agulha. 2) Rotor: O rotor consta de um certo número de pás com forma de concha especial, dispostas na periferia de um disco que girapreso a um eixo. A figura 2.5.14 (a) e (b) mostra fotos de um rotor da turbina Pelton. Figura 2.5.14 (a) e (b): Rotor de uma turbina Pelton com as pás desmontadas. A pá possui um gume médio, que fica sobre o plano médio da roda, e que divide simetricamente o jato e o desvia lateralmente. As figuras 2.5.15 e 2.5.16 mostram respectivamente uma foto e um desenho esquemático da pá. Figura 2.5.15: Pás de uma turbina Pelton. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.16: Fixação das pás no rotor de uma turbina Pelton. As figuras 2.5.17 e 2.5.18 mostram respectivamente uma foto e um desenho esquemático da incidência do jato sobre as pás. Figura 2.5.17: Incidência dos jatos sobre as pás. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.18: Distribuição dos jatos em pás sucessivas. 3) Defletor de jato: O defletor intercepta o jato, desviando-o das pás, quando ocorre uma diminuição violenta na potência demandada pela rede de energia. Nessa hipótese, uma atuação rápida da agulha para reduzir a descarga poderia vir a provocar uma sobrepressão no bocal, nas válvulas e ao longo do encanamento adutor. O defletor volta à sua posição inicial liberando a passagem do jato, logo que a agulha assume a posição que convém, para a descarga correspondente à potência absorvida. A figura 2.5.19 mostra detalhes do defletor de jato. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.19: Detalhes do bocal injetor e do defletor de jato. 4) Bocal de frenagem: O bocal de frenagem faz incidir um jato nas costas das pás, contrariando o sentido de rotação, quando se desejar frear a turbina rapidamente. As turbinas Pelton são do tipo tangenciais e de ação parcial como visto no item anterior. Quanto ao número de jatos, as turbinas Pelton podem ser: de um jato, dois, quatro ou seis jatos e, excepcionalmente, de 3 jatos. Quanto maior o número de jatos, maior a potência para uma mesma queda, maior o desgaste por abrasão se a água tiver areia em suspensão e menor o tamanho do rotor (o que representa uma redução no custo por unidade de potência instalada). A incidência de jatos sobre o rotor, em cada volta, depende do número de jatos, de modo que, quanto maior a queda, menor deverá ser o número de impactos sobre a pá por minuto. Quanto ao posicionamento do eixo, as turbinas Pelton podem ser de: Eixo horizontal : geralmente utilizada para um ou dois jatos, a instalação. é mais econômica, de fácil manutenção, além de ser possível montar, numa mesma árvore, dois rotores. Eixo vertical: geralmente utilizado para quatro ou seis jatos sobre as pás do rotor. As turbinas Pelton são recomendadas para quedas elevadas, para as quais a descarga (vazão) aproveitável normalmente é reduzida, uma vez que a captação se realiza em altitudes onde o curso d'água ainda é de pequeno deflúvio. Por serem de fabricação, instalação e regulagem relativamente simples, além de empregadas em usinas de grande potência, são também largamente. Máquinas de Fluxo empregadas em microusinas, em fazendas, etc., aproveitando quedas e vazões bem pequenas para geração de algumas dezenas de CV. Quanto ao número de ejetores: 2.5.11.3) Turbinas Hélice A necessidade de obtenção de turbinas com velocidades consideráveis em baixas quedas e grandes descargas, o que não é viável com as turbinas Francis, deu origem em 1908 às turbinas Hélice ou Propeller. O rotor assumiu a forma de uma hélice de propulsão, o que explica o nome dado a estas turbinas, figura 2.5.24. O distribuidor mantém o aspecto que têm nas turbinas Francis, mas a distância entre as pás do distribuidor e as do rotor é bem maior do que a que se verifica para as turbinas Francis de alta velocidade específica. A figura 2.5.25 mostra o rotor e o distribuidor da turbina hélice. Figura 2.5.24: Rotor de turbina Hélice (pás fixas). Máquinas de Fluxo Figura 2.5.25: Rotor de 8 pás de uma turbina Hélice com as pás direcionadas ao distribuidor. As turbinas Hélice são do tipo axial, de reação e de ação total, como as turbinas Francis. As demais características são as mesmas que as das turbinas Kaplan que serão vistas a seguir. Elas são utilizadas em baixas quedas e com grandes descargas (vazões). 2.5.11.4) Turbinas Kaplan Em 1912, o engenheiro Victor Kaplan (1876-1934), após estudos. teóricos e experimentais, concebeu um novo tipo de turbina a hélice, comportando a possibilidade de variar o passo ou inclinação das pás. A figura 2.5.26 mostra um corte longitudinal de uma turbina Kaplan indicando os seus principais componentes. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.26: Corte longitudinal de uma turbina Kaplan. A figura 2.5.27 mostra o mecanismo de controle do ângulo das pás do rotor. Os principais componentes de uma turbina Kaplan são descritos a seguir: 1) Distribuidor: Se assemelha ao das turbinas Francis, tendo as mesmas finalidades. As pás do distribuidor têm sua inclinação comandada por um sistema análogo ao das turbinas Francis, e ficam a uma distância considerável das pás do rotor. Deve haver uma sincronização entre os ângulos das pás do rotor e as do distribuidor. 2) Rotor: Possui pás que podem ser ajustáveis variando o ângulo de acordo com a demanda de potência. 3) Tubo de sucção: Tem as mesmas finalidades e a mesma forma dos tubos de sucção para turbinas Francis. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.27 (a): Detalhe do sistema de movimentação das pás de uma turbina Kaplan. Figura 2.5.27 (b): Rotor Kaplan em corte total e parcial (esquemático). 4) Caracol ou caixa espiral: Pode ter seção transversal circular nas turbinas de pequena capacidade e nas quedas consideradas relativamente grandes para turbinas Kaplan, mas, nas unidades para grandes descargas e pequenas Máquinas de Fluxo quedas, a seção é aproximadamente retangular ou trapezoidal com estreitamento na direção do distribuidor e recebe a denominação de semicaracol. As turbinas Kaplan são do tipo axial, de reação e ação total como visto no item anterior. Quanto ao número de pás as turbinas Kaplan podem ser de: 4 pás (para 10 < H < 20m); 5 pás (para 12 < H < 23m); 6 pás (para 15 < H < 35m); 8 pás (para H > 35m). São utilizadas para rotaçõesespecíficas acima de 350 RPM. Permitem uma ampla variação da descarga e da potência sem apreciável variação do rendimento total. 2.5.11.5) Turbinas Dériaz Tem o nome de um engenheiro suíço que as inventou. Elas se assemelham às turbinas Kaplan e Francis rápida, porém as pás do rotor são articuladas e, pela atuação de um mecanismo apropriado, podem variar o ângulo de inclinação. Este tipo de turbina é muito utilizado em instalações onde a água do reservatório de montante precisa ser reposta quando a máquina não está produzindo potência. Sendo, quando for o caso, denominada de turbina - bomba. 2.5.11.6) Turbinas Tubulares Quando o desnível hidráulico for muito reduzido, pode não ser viável nem mesmo a instalação de turbinas tipo Kaplan. Deste modo foram desenvolvidos novos tipos de turbinas mais apropriadas para tais condições. Um destes tipos é a turbina Tubular. Nas turbinas tubulares, o receptor, de pás fixas ou orientáveis, é colocado num tubo por onde a água escoa e o eixo, horizontal ou inclinado, aciona um alternador colocado externamente ao tubo. A Figura 2.5.28 mostra duas instalações de turbinas tubulares. Figura 2.5.28: Turbinas tubulares de eixo inclinado e horizontal. Máquinas de Fluxo 2.5.11.7) Turbinas Bulbo As turbinas de bulbo podem ser consideradas como uma evolução do tipo anterior. O rotor possui pás orientáveis como as turbinas Kaplan e existe uma espécie de bulbo colocado dentro do tubo adutor de água. No interior do bulbo que é uma câmara blindada, pode existir s implesmente um sistema de engrenagens para transmitir o movimento do eixo ao alternador e/ou, nos tipos mais aperfeiçoados, no interior do bulbo fica o próprio gerador elétrico. A turbina bulbo dispensa a caixa em caracol e o trecho vertical do tubo de sucção. O espaço ocupado em planta é portanto menor que o das turbinas Kaplan. Para um mesmo diâmetro do rotor, a turbina bulbo absorve uma descarga maior que a Kaplan, resultando daí maior potência a plena carga. As turbinas bulbo podem funcionar como turbinas ou como bombas e são empregadas em usinas maré-motrizes. Um ponto a considerar na instalação deste tipo de turbina é que a limitação do diâmetro do rotor e do bulbo para redução dos custos obriga à construção de alternadores de pequeno diâmetro, mas muito alongados axialmente, o que, por sua vez, acarreta problemas de resfriamento para o gerador e de custo para o eixo e mancais. As figuras 2.5.29, 2.5.30 e 2.5.31 mostram uma foto, um desenho. esquemático e uma maquete em corte, respectivamente. Figura 2.5.29: Turbina bulbo, da Escher Wyss. Vista do rotor, do bulbo e de parte do. tubo de saída de água. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.30: Turbina bulbo Escher Wyss. Figura 2.5.31: Usina de Gersthein (França). Grupo bulbo. 2.5.11.8) Turbinas Straflo São turbinas do tipo axial caracterizadas pelo escoamento retilíneo que em inglês significa "straight flow", cuja contração dos vocábulos originou o nome STRAFLO. Na realidade, as trajetórias das partículas líquidas são hélices cilíndricas, que em projeção meridiana são retas paralelas ao eixo. Neste tipo de turbina o indutor do alternador é colocado na periferia do rotor da turbina formando um anel articulado nas pontas das pás da hélice, as quais podem ser de passo variável, análogas às da turbina Kaplan. Por esta razão é também denominada turbina geradora de anel ou periférica. As juntas hidrostáticas montadas entre a carcaça girante, funcionam como um agente de pressão e vedação. Máquinas de Fluxo Uma vantagem desta turbina é de não haver a necessidade de colocar o gerador no interior de um bulbo, o que, como vimos, cria problemas de limitação das dimensões do gerador e de resfriamento. A colocação do alternador na própria periferia do rotor da turbina possibilita uma instalação compacta e a obtenção de fator de potência maior que o conseguido com outros tipos em igualdade de condições de queda, descarga e custo de obras civis. As turbinas STRAFLO são adequadas para usinas de baixa queda, de 3 até 40m e diâmetro de rotor de até cerca de 10m. Do mesmo modo que as turbinas de bulbo e tubulares, as turbinas STRAFLO podem ser instaladas com eixo horizontal ou inclinado. As figuras 2.5.32 e 2.5.33 mostram uma maquete em corte e uma seção transversal de uma turbina STRAFLO, respectivamente. Figura 2.5.32: Representação de turbina Straflo de pás fixas. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.33: Seção transversal típica de turbina Straflo de pás fixas e mancais convencionais; 1- pás diretrizes fixas, 2- pás diretrizes móveis do distribuidor, 3- pás fixas do rotor, 4- gerador. 2.5.12) Velocidades das Turbinas Hidráulicas 2.5.12.1) Número real de rotações As turbinas acionam diretamente os geradores de energia elétrica, de modo que, naturalmente, ambos têm o mesmo número de rotações. Mas nos alternadores, pela forma como são construídos, existe uma dependência entre o número de pares de pólos (p), o número de RPM(n) e a freqüência em Hz (f), na forma: n = (60f)/p Para f = 60hz, n = 3600/p. Assim, podemos construir uma tabela que relaciona n e p (tabela 2.5.5). As velocidades reais das turbinas podem ser determinadas a partir da tabela 2.5.6. As turbinas de grandes potências têm baixa rotação real de modo à reduzir a complexidade dos problemas de estabilidade mecânica, momentos nos mancais e a melhorar as condições para a regularização do movimento. Também, por razões construtivas, empregam-se, como visto baixa velocidade real para turbinas de elevado ns e altas rotações reais para pequenos valores de ns. P 4 6 8 12 16 18 20 24 30 36 40 45 60 n 900 600 450 300 225 200 180 150 120 100 90 80 60 Tab. 2.5.5 - Rotações por minuto síncronos do alternador trifásico em função do número de pares de pólos. Máquinas de Fluxo Propeller, Kaplan, 50 a 150 rpm Bulbo Francis 80 a 300 rpm Pelton 200 a 750 RPM Tab. 2.5.6 - Número real de RPM das turbinas. 2.5.12.2) Aumento de velocidade O custo do grupo turbina-gerador diminui com o aumento da velocidade angular que pode ser conseguido com a redução do diâmetro (das dimensões do rotor). Essas vantagens, aliadas à necessidade muitas vezes de utilizar pequenas quedas, tem feito com que o progresso no projeto das turbinas evoluísse para obtenção de velocidades que podem, até certo ponto, ser consideradas altas. Dois recursos são utilizados: (a) Dar formas adequadas a seus órgãos essenciais, especialmente o rotor; b)Agrupar numa árvore, vários rotores iguais, alimentados separadamente, constituindo, assim, as chamadas turbinas múltiplas. Trata -se de uma instalação em paralelo em que cada unidade se apresenta com um rotor de pequeno diâmetro, permitindo, assim, obter uma maior velocidade angular para um mesmo valor de velocidade periférica. 2.5.13) Rendimento das Turbinas Hidráulicas A figura 2.5.34 mostra o rendimento das principais turbinashidráulicas em função da descarga. A figura 2.5.35 mostra o comportamento do rendimento em função da potência útil para as principais turbinas hidráulicas. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.34: Variação do rendimento com a descarga para os diversos tipos de turbina. Figura 2.5.35: Variação do rendimento com a potência útil. Máquinas de Fluxo 2.5.14) Campo de Aplicação das Turbinas Hidráulicas Teoricamente não é impossível construir turbinas de um tipo qualquer para todas as velocidades específicas, porém a prática do projeto e os resultados obtidos com as turbinas instaladas têm mostrado que cada um dos tipos só pode ser empregado com bom rendimento para valores de ns compreendidos entre determinados limites, o que significa dizer que, de certo modo, essa grandeza específica determina o tipo de turbina a ser usada numa instalação caracterizada pelos valores de Q, H e n. A prática mostrou ainda que, para valores dados de queda e potência, os custos das turbinas e da instalação, como um todo, diminuem quando a velocidade específica aumenta. A tabela 2.5.7 mostra o campo de aplicação das principais turbinas, em função de n e H. Baseada em turbinas instaladas que apresentam não só bons rendimentos, mas também os menores custos. Tab. 2.5.7 - Campo de aplicação dos diversos tipos de turbinas. A figura 2.5.36 mostra a representação gráfica desta tabela. Máquinas de Fluxo Figura 2.5.36: Campo de ampliação das turbinas Pelton, Francis e Kaplan de acordo com a queda e a velocidade específica. 2.5.15) Características de algumas Turbinas Hidráulicas instaladas no Brasil A tabela 2.5.8 mostra H, Q, n e N, bem como o fabricante e o tipo das Turbinas Hidráulicas instaladas nas principais usinas brasileiras. Máquinas de Fluxo Usina Tipo H (m) Q (m3.s- N (rpm) N (CV) 1) Itaipú - Rio Paraná Francis 120 660 94,2 971.500 Paulo Afonso IV - Rio Sã Francisco Francis 135 385 120 577.600 Itumbiara - Rio Paranaíba Água Francis 80 522 500 94,7 95 481.000 Vermelha - Rio Grande Francis 139,9 312.712 São Simão - Rio Paranaíba Francis 71,3 420 94,7 370.000 Foz de Areia - Rio Iguaçu Francis 29,8 302 128,6 457.000 Tucuruí - Rio Tocantins Francis 60,8 576 85 429.880 Estreito - Rio Grande Francis 60,8 306,5 113,5 231.000 Furnas (Alpinópolis) - Rio Grande Francis 88,9 190 150 210.000 Ilha Solteira - Rio Paraná Francis 46 389 86 225.000 Marinbondo - Rio Grande Francis 60,3 319 100 242.000 Salto Osório - Quedas Iguaçu Francis 72 240 120 214.500 Passo Fundo - Rio Passo Fundo Francis 253 48 300 150.000 Porto Colômbia - Rio Grande Francis 19,3 464 86 111.000 Xavantes - Rio Paranapanema Francis 73,7 141,5 129 144.000 Capivara - Rio Paranapanema Francis 48,4 375 100 225.000 Promissão - Rio Tiête Kaplan 25,0 380 90 120.000 Jupiá - Rio Paraná Kaplan 25,4 400 98 140.000 Porto Primavera - Rio Paraná Kaplan 19,2 751 67 177.000 Sobradinho - Rio São Francisco Kaplan 27,2 715 75 242.000 Moxotó - Rio São Francisco Kaplan 21,0 550 80 150.057 Bernardo Mascarenhas (Três Kaplan 57,2 150 164 90.000 Marias) - Volta Grande - Rio Grande Kaplan(5pás) 26,2 430 85,7 140.038 Jupiá - rio Paraná Kaplan 23 462 78,4 107.060 Barra Bonita - Rio Tiête Kaplan 24 148 129 47.400 Parigot de Souza - Rio Capivari Pelton 714,3 10 514 87.200 Cubatão 1- Henry Borden Pelton 719,5 12 360 92.274 Cubatão 2 - Fonte, (primitiva) Pelton 684 12,7 150 89.232 Fontes antigas - Rio Piraí Pelton 310 1,53 1094 19.264 Tab 2.5.8 - Características de algumas turbinas hidráulicas instaladas no Brasil. 2.5.16) Pré-Dimensionamento das Turbinas Hidráulicas s Nesta seção apresentaremos um roteiro juntamente com alguns gráficos que nos possibilitará fazer um pré-dimensionamento das turbinas hidráulicas dentro, é claro, das limitações do texto desenvolvido. 2.5.16.1) Dados para o Dimensionamento das Turbinas Hidráulicas Para o dimensionamento de qualquer Turbina Hidráulica é indispensável, subsidiariamente, conhecer: - As características físicas e químicas do fluido de trabalho; - As características locais, no que se refere ao ambiente e ao local de. instalação; - As características operacionais. Desse modo, mais especificamente, deve-se conhecer: - Quedas (H); - Vazões (Q); - Altura do nível d'água de jusante; Máquinas de Fluxo - Características do sistema que será acionado. 2.5.16.2) Pré-Dimensionamento de Turbinas Francis a) DADOS BÁSICOS - Q (m3/s): vazão para o ponto de projeto (nominal); - H (m): queda disponível para o ponto de projeto; - n (rps): rotação da turbina para ponto de projeto. b) CÁLCULOS PRELIMINARES - Trabalho específico (y); - Rotação específica (ηqa); - Rendimento (ηn, ηm, ηt); - Potências (hidráulica e do eixo). c) ESCOLHA DO TIPO Baseado na rotação específica (ηqa) e também na altura máxima (hsmáx) que poderá ser instalada a turbina livre do perigo de cavitação. Determina-se o coeficiente de cavitação (δmin) no gráfico 1. - Determinação do número de pólos do alternador; - Determinação do tipo de rotor (lento, normal, rápido). d) ELEMENTOS DE ORIENTAÇÃO PARA O ROTOR - O gráfico 1 trás algumas relações importantes em função de ηqa: C52máx /2y ; D4m/D5e ; b0/D5e ; ηtmáx ; ymáx; Qn/Qmáx onde: C5máx = velocidade máxima na entrada do tubo de sucção. Qn = vazão nominal. D5e = diâmetro externo da aresta de saída. D4m = diâmetro médio da aresta de entrada. b0 = largura do distribuidor. - Dado y, determinação C5máx; - Dado Q e calculado C5máx, determina-se (D5e) min através da equação da continuidade; - Determinação de (D4m)min e (b0)min; - Determinação do número e da espessura das pás do rotor; - Verificar se a equação fundamental é satisfeita; - Determinação de D4m, D5e, C5 e b0; - Determina-se os triângulos de velocidade para as arestas de entrada e saída do rotor. e) DETERMINAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO INJETOR Máquinas de Fluxo f) DETERMINAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DA CAIXA ESPIRAL g) DETERMINAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO DISTRIBUIDOR - dimensões; - número de pás, espessura e passo; - outros. h) DETERMINAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO TUBO DE SUCÇÃO - forma; - comprimento; - diâmetro de entrada e saída. i) DETERMINAÇÃO DO DIÂMETRO DO EIXO DA TURBINA Máquinas de Fluxo Gráfico 2.5.1: Elementos para Pré-Dimensionamento de Rotores Francis. Máquinas de Fluxo 2.5.16.3) Pré-Dimensionamento de Turbinas Pelton a) DADOS BÁSICOS - Q; - H. b) CÁLCULOS PRELIMINARES - Y; - ηt, ηm, ηh; - Ph, Pef. c) ESCOLHA DO TIPO - limitada a rotação específica; - Determinação do número de injetores (jatos); -Determinação da posição do eixo. d) CÁLCULO DO DIÂMETRO DO JATO (d0) e) CÁLCULO DAS PÁS - dimensões principais (gráfico 2); - passo; - número; - inclinação da Aresta. f) CÁLCULO DAS DIMENSÕES PRINCIPAIS DO ROTOR - Diâmetro do círculo tangente ao eixo do jato (Dm); - Diâmetro exterior do divisor (Dr); - Diâmetro externo; - Diâmetro interno. g) CÁLCULO DA AGULHA E DO INJETOR - Adoção dos ângulos; - Determinação do diâmetro do injetor; - Determinação do diâmetro máximo da agulha; - Determinação do diâmetro do cano. Máquinas de Fluxo Gráfico 2.5.2: Elementos para Pré-Dimensionamento de Rotores Pelton. Máquinas de Fluxo 2.5.16.4) Pré-Dimensionamento de Turbinas Kaplan a) DADOS BÁSICOS - Q; - H. b) CÁLCULOS PRELIMINARES - Y; - ηqa; - ηt, ηm, ηh; - Ph, Pef. c) ESCOLHA DO TIPO - Baseado em ηqa e hsmáx (δmin, gráfico 3). - Determinação do número de pólos do alternador. d) CÁLCULO DO ROTOR - Elementos de orientações (gráfico 3): C52máx / 2y ; Di/De; b0/De - Dimensões principais: diâmetro externo do rotor, diâmetro do cubo, seção livre para passagem de água; - Características das pás (passo, número, comprimento); - Traçado do diagrama de velocidades. e) CÁCULO DO DISTRIBUIDOR - Determinação do diâmetro; - Determinação do número de pás; - Determinação das velocidades e ângulos de incidência. f) DETERMINAÇÃO DA ESPIRAL - Determinação da velocidade de entrada; - Determinação das dimensões. g) DETERMINAÇÃO DO TUBO DE SUCÇÃO - Determinação da velocidade de entrada e saída. Máquinas de Fluxo Gráfico 2.5.3: Elementos para Pré-Dimensionamento de Rotores Kaplan e Hélice.
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