Buscar

Seminário de História Fenomenologia

Prévia do material em texto

INTRODUÇÃO
A seguinte pesquisa visa apresentar dados relevantes referente a Fenomenologia que se tem pelo estudo de um conjunto de fenômenos e define como eles se manifestam, seja através do tempo ou do espaço. Sendo essa uma matéria que consiste em estudar a essência das coisas e como elas são percebidas no mundo.
Pode-se dizer que a fenomenologia é um método para tornar manifesta, a partir do discurso, a essência das verdades.
A fenomenologia por assim dizer é uma palavra que foi apontada por Aristóteles, Kant e Hegel com conotações consideradas completamente distintas. No entanto, foi com Edmund Husserl (1859-1938), que o estudo sobre esse termo foi aprofundado e quem deu um conteúdo novo à essa palavra, já utilizada anteriormente. O termo Fenômeno origina-se etimologicamente do verbo grego phaínesthai, que significa "mostrar-se", e fenômeno que quer dizer: "o que se mostra em si mesmo, o que se revela".
Desse modo, considera-se que o método fenomenológico husserliano, é considerado primordialmente como o mais conhecido e utilizado, aquele que apresenta a fenomenologia como uma filosofia de rigor e propõe a observação e descrição prévia do fenômeno, sem que aquele para o qual o fenômeno se mostra esteja mergulhado em seus pré-conceitos. 
FENOMENOLOGIA
A Fenomenologia é um conceito filosófico que ao longo da história da filosofia foi se desenvolvendo e aparecendo com diferentes definições, mas que no século XX se consolidou como o método filosófico dos existencialistas, tendo características próprias e propondo uma volta das pesquisas filosóficas ao homem abrangendo seus aspectos racionais e irracionais. Ela aparece como crítica tanto ao idealismo, que visava a ideia ou consciência como a interesse último de criação de realidade, quanto ao positivismo que afirmava o conhecimento com sua origem estritamente vinculada aos sentidos.
O método fenomenológico então abre mão de afirmar uma realidade ou coisa-em-si (kantiana) para voltar-se ao homem e sua experiência, provenientes tanto dos aspectos racionais quanto irracionais. Seu foco está em avaliar a experiência humana do mundo no campo das coisas como aparecem (fenômeno). Apresentava assim a concepção de como as coisas do mundo se apresentam à consciência, o filósofo pretendia explorar essa aparição no sentido de captar a sua essência (aquilo que o objeto é em si mesmo), isto é, “ir ao encontro das coisas mesmas” (HUSSERL, 2008, p. 17).
A palavra fenomenologia vem do grego phainómenon, que se traduz como: “aquilo que se manifesta” e vem também de logia que é traduzido como: “estudo”, desse modo, etimologicamente falando, fenomenologia pode ser entendida como o estudo daquilo que se manifesta.
A fenomenologia pode ser vista como uma corrente idealista dentro do campo de estudo da filosofia, pois foca na mente pensante, mais precisamente nos fenômenos intelectuais que se manifestam na mente. Assim, na fenomenologia estuda-se os fenômenos da consciência do indivíduo buscando-se interpretá-los, pois essa seria a realidade passível de inquietação. Com isso, pode-se dizer que o método de reflexão fenomenológico é empirista e intuitivo. 
Pode-se destacar como grandes nomes da Fenomenologia no século XX nomes como Jean Paul Sartre, Martin Heidegger, Max Scheler, Maurice Merleau-Ponty e Edmund Husserl. Sendo Husserl, considerado o grande desenvolvedor desse método, que buscou trabalhar aquilo que se manifesta. 
EDMUND HUSSERL
Edmund Gustav Albrecht Husserl nasceu em Prossnitz, na Morávia, no antigo Império Austríaco (hoje Prostejov, na República Checa), em 8 de abril de 1859, e morreu em Freiburg, em 27 de abril de 1938 (FRAZÃO, 2015).
 A fim de completar seus estudos de matemática, iniciados nas universidades alemãs, foi, em 1884, para Viena, onde, sob a influência de Franz Brentano, descobriu sua vocação filosófica. Em 1887, Husserl, que fora judeu, converteu-se à Igreja Luterana. Ensinou filosofia, como livre docente, em Halle, de 1887 a 1901; em Göttingen, de 1901 a 1918; e, em Freiburg, de 1918 a 1928, quando se aposentou (FRAZÃO, 2015). 
ANTECEDENTES FILOSÓFICOS
A fenomenologia tem como influência os filósofos pré-socráticos, sendo estes os primeiros sábios gregos à formular explicações ao mundo sem recorrer ao sobrenatural. Possuíam alguns aspectos em comum: em primeiro lugar estudavam a natureza. Por buscarem entender a organização racional do universo, a partir de princípios e leis que o regem, pode-se dizer que eram voltados para à cosmologia. Em segundo lugar, tentavam encontrar uma relação de causalidade entre os fenômenos da natureza. Por fim, todos buscavam um princípio ou elemento essencial a partir do qual explicariam os fenômenos naturais. Sendo eles divididos em escolas do pensamento, sendo elas: Escola Jônica, Escola Itálica, Escola Eleática e Escola Atomística; cada uma de acordo com o local e problemas abordados.
AUTORES
FRANZ BRENTANO
Franz Clemens Honoratus Hermann Brentano, nasceu na província do Reno, em 1838. Sobrinho do poeta alemão Clemens Brentano, lecionou em Würzburg e na Universidade de Viena. Em 1864 foi ordenado padre, mas envolvendo-se em controvérsias sobre a doutrina da infalibilidade papal, abandonou a Igreja em 1873, morreu em 1917 em Zurique na Suiça. Sua filosofia evoluiu em direção de um aristotelismo moderno, nitidamente empírico em seus métodos e princípios. Seus trabalhos mais importantes são no campo da psicologia, definida por ele como ciência dos fenômenos psíquicos. Seu objeto de estudo não foram os estados mas sim os atos e processos psíquicos, em sua visão à psicologia deveria ser à responsável por estudar as maneiras pelas quais a consciência estabelece suas relações para com os objetos existentes nela mesma, descrever a natureza desta relação, bem como o modo de existência deste objeto (BRUNS; HOLANDA, 2003). 
Brentano é considerado por todos os historiadores do pensamento como um dos pais da fenomenologia. Muitos pensariam que isso se deve apenas ao fato de ele ter sido tutor e professor de Husserl durante alguns anos.
Brentano pode não ter fundado uma abordagem filosófica ou psicológica completa, mas sua contribuição mais específica está na abertura do horizonte da pergunta fenomenológica, de maneira simplificada: como ser rigoroso na pesquisa e teoria psicológica e , ao mesmo tempo não deixar de lado sua dimensão especificamente humana? (BRUNS; HOLANDA, 2003). 
A primeira obra marcante para o pensamento da psicologia por Brentano foi a “Psicologia de um Ponto de vista empírico” (1874). Expõe o núcleo das elaborações teóricas do pensador ali aparece uma série de temas importantes para toda psicologia que o seguirá posteriormente. Os temas são delimitados através de uma longa discussão teórica sobre o método e natureza da psicologia enquanto ciência e, incomodamente a cavalo entre filosofia e fisiologia (BRUNS; HOLANDA, 2003). Brentano inspira em seus discípulos um “realismo taxonômico” resumido em cinco princípios:
1.       A descrição deve preceder a explicação: é de suma importância o pesquisador entender-se antes de entender e explicar um dado fenômeno. Tem a ver com a tradição baconiana da crítica aos ídolos.
2.       As tarefas da filosofia e ciência não podem ser separadas. São duas maneiras de se olhar a realidade que devem unir-se em sua tarefa de construir um todo coerente.
3.       Os dados relevantes da realidade confirmam a existência de aspectos gerais, verdadeiros “universais imanentes”- a serem observados, respeitados, descritos.
4.       A descrição adequada da realidade não deve proceder construindo modelos abstratos, mas “referindo-se diretamente as coisas mesmas”.
5.       A tarefa de elaborar uma descrição apropriada da realidade engloba a necessidade de se construir um sistema taxonômico dos elementos que formam, de seus domínios, e relações entre esses domínios. 
CARL STUMPF
Carl Stumpf, nascido em 1848 em Wiesentheid na alemanha, foi um filósofo e psicólogo, estudou com Franz Brentano na universidade de Würzburg, antes de receber seu doutorado nauniversidade de gottingen em 1868. Ele também lecionou o escritor de literatura modernista Robert Musil na Universidade de Berlim, além de trabalhar com Hermann Lotze, famoso por seu trabalho com à percepção, em gottingen. Stumpf é conhecido por seu trabalho na psicologia dos tons. Ele teve uma importante influência em seus alunos, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka que foram fundamentais na fundação psicologia da Gestalt  bem como Kurt Lewin,que também fazia parte do grupo Gestalt e era fundamental no estabelecimento da psicologia social experimental na América (BRUNS; HOLANDA, 2003). Stumpf é considerado um dos pioneiros na Etnomusicologia, como documentado em seu estudo sobre as origens da cognição musical humana “The Origins of Music” (1911). Ele ocupou posições nos departamentos de filosofia nas Universidades de Göttingen, Würzburg, Praga, Munique e Halle, antes de obter uma cátedra na Universidade de Berlim. Faleceu em 1936 aos 88 anos de idade em Berlim (SPIEGELBERG, 1982).
Segundo Spielgelberg (1982), Stumpf é o principal responsável por levar à fenomenologia ao seu uso científico. Pode-se dizer que à própria noção de fenomenologia experimental veio de stumpf, que, além de supervisionar Husserl na universidade de Halle, orientou as teses de diversos psicólogos experimentais em berlim entre 1890 e 1900. considerava-se empirista como Franz Brentano (1838-1917), e pŕoximo à Gottfried Leibniz (1646-1716) e John Locke (1632-1704).
OSWALD KÜLPE
Nascido em 1862 em Kandava na Letónia, Estudou com Wilhelm Wundt e foi professor em Würzburg, Bona e Munique. Fez importantes pesquisas sobre o estado mental de preparação para a ação. Destacou-se no estudo da diferença qualitativa entre uma lembrança e o objeto que à representa. Também conduziu com seus alunos em Würzburg pesquisas sobre os efeitos da atitudes e tarefas sobre a percepção e o processo de recordação e pensamento. Demonstrou que o que é lembrado por uma palavra depende da tarefa que é colocada para o indivíduo: tarefa é citar a classe que pertence à uma palavra, a pessoa lembra-se dessa classe; se ela consiste em exemplificar,será lembrada. O princípio foi extrapolado para todo o processo do pensamento e a Escola de Würzburg pretendia descobrir através da introspecção experimental a existência de um pensamento-imagem, reagindo contra as concepções do associacionismo.
A introspecção experimental diferia muito do método experimental que ocorria nos laboratórios de pesquisa daquela época, pois, além de se preocupar em controlar e registrar o estímulo aplicado ao sujeito e sua reação, também utilizava a observação e descrição que o próprio sujeito fazia daquilo que se passava com ele próprio durante a experiência.
O uso mais direto do método fenomenológico de Husserl na psicologia alemã encontra-se no trabalho de Oswald Külpe e seus estudantes na universidade de Wüzburg, Külpe defendeu sua tese sob à orientação de Wundt, mas abandonou o método de seu orientador para se aproximar da proposta de Husserl (CASTRO; GOMES, 2015). 
Os experimentos na escola de Wurzburg foram criticados por Wundt, que considerou os procedimentos de seu aluno muito sugestionáveis à interferências e pouco rigorosos, chegou à referir-se  aos trabalhos como “pseudoexperimentos” (CASTRO; GOMES, 2015).     
JEAN PAUL SARTRE
Jean-Paul Charles Aymard Sartre nasceu em Paris, França, em 1905. Filho de Jean Baptiste Marie Eymard Sartre, oficial da Marinha Francesa e de Anne-Marie Sartre, ficou órfão de pai com dois anos de idade. Mudou-se com sua mãe para Meudon. Teve uma boa formação literária. Aos 19 anos, ingressou no curso de Filosofia da Escola Normal Superior de Paris. Fez o mestrado em Filosofia, na Sorbonne, onde conhece sua futura companheira Simone de Beauvoir. Foi filósofo e escritor francês. Sendo um dos maiores representantes do pensamento existencialista na França, juntamente com Albert Camus e Simone de Beauvoir. Ele morreu em Paris, no dia 15 de abril de 1980.
O existencialismo sartriano baseou-se principalmente na fenomenologia de Husserl e em 'Ser e Tempo' de Heidegger, Sartre procura explicar todos os aspectos da experiência humana. A maior parte deste projeto está estruturado em seus dois grandes livros filosóficos: O ser e o nada e Crítica da razão dialética. 
Sartre demonstra, primeiramente, que a consciência é sempre consciência de algo, de algo que não é consciência dos objetos inseridos no mundo, mas nenhum desses objetos é a minha consciência. O “em-si” é o mundo, o mundo das coisas materiais. O “em-si” é o ser. Ele é idêntico a si mesmo. O “em-si” se esgota em ser o que ele é, e isso de um modo tão radical que consegue escapar à própria temporalidade (BORNHEIM, 1971).  Pode-se entender um Em-si como qualquer objeto existente no mundo e que não é nada além daquilo que é. Já o que sartre define como "Para-si" não tem uma essência definida. Ele não é resultado de uma ideia pré-existente. O existencialismo sartriano desconsidera a existência de um criador que tenha predeterminado a essência e os fins de cada indivíduo. Assim, na visão sartreana, o fato da existência precede a essência, ocorre única e exclusivamente, somente se ele é livre, ao contrário dos outros seres que são predeterminados. Somente o homem existe, as outras coisas não, elas apenas são (MARQUES, 1998).
MARTIN HEIDEGGER
Martin Heidegger nasceu em Messkirch, uma pequena cidade católica do Estado de Baden, na Alemanha, em setembro de 1889. Com o objetivo de ser padre cursou Teologia na Universidade de Friburgo, onde foi aluno de Edmund Husserl, teórico e filósofo criador da fenomenologia. Foi um filósofo alemão da corrente existencialista, um dos maiores filósofos do século XX. Foi professor e escritor, exercendo grande influência em intelectuais como Jean-Paul Sartre. Em 1913, doutorou-se em Filosofia. Ao estudar os clássicos protestantes de Martinho Lutero, João Calvino, entre outros, enfrentou uma crise espiritual e rompeu com o catolicismo. Em 1917 se casa com a Luterana Elfrid Petri. Heidegger encontra à fenomenologia na forma que tinha á época, e a partir da influência que adquiriu do professor Husserl, tornou-se seu herdeiro na liderança da fenomenologia. Faleceu em Friburgo, Alemanha, no dia 26 de maio de 1976. A filosofia de Heidegger baseia-se na ideia de que o homem é um ser que busca aquilo que não é. Seu projeto de vida pode ser eliminado através das pressões da vida e pelo cotidiano, o que leva o indivíduo a isolar-se de si mesmo. Heidegger também trabalhou com o conceito de angústia, a partir do qual o homem transcende suas dificuldades ou deixa-se dominar por elas. Assim, o homem seria um projeto inacabado (BARBOSA, 1998).
EPOCHÉ
A epoché seria a suspensão de juízo, para analisar a coisa como é conhecida, como aparece ao sujeito. Desse modo ao deter-se na análise da consciência, Husserl propõe seu método radical para "vasculhar" o fenômeno, ele então o adota sob outra perspectiva. A epoché husserliana consiste em pôr "entre parênteses" o mundo quando da apreensão do fenômeno. (MARTINS, 2006).
Dito de outra forma, a epoché consiste numa suspensão momentânea da “atitude natural” com a qual nós nos relacionamos com as coisas do mundo. Isso consiste em deixar provisoriamente de lado todos os preconceitos, teorias, definições, etc., que nós utilizamos para conferir sentido às coisas. Tal suspensão da nossa atitude natural diante do mundo tem como finalidade apreender na consciência as coisas no sentido de captá-las como elas são em si mesmas: "a fenomenologia procura enfocar o fenômeno, entendido como o que se manifesta em seus modos de aparecer, olhando-o em sua totalidade, de maneira direta, sem a intervenção de conceitos prévios que o definam e sem basear-se em um quadro teórico prévio que enquadre as explicações sobre o visto" (MARTINS, 2006, p. 16). 
Pode-se assim estabelecer uma relação de semelhança entre a epoché husserliana e a dúvida metódica de Descartes. Enquanto a dúvida exagerada conduziu Descartes ao porto seguro do cogito (à subjetividade), a epoché serviude sinal para Husserl adentrar na essência das aparições das coisas à consciência. (MARTINS, 2006, p. 92). 
Ainda se tratando da epoché, Husserl a apresenta sob dois níveis, a redução eidética e a redução transcendental. 
VARIAÇÃO EIDÉTICA
Segundo Husserl, os objetos do mundo se apresentam sob diversas perspectivas. Esta cadeira diante de mim pode ser apreendida sob diversas variações de perfil. Na epoché, o objeto deve ser submetido às diversas variações possíveis de perfil no intuito de se apreender a essência desse mesmo objeto, isto é, aquilo que permanece inalterado no mesmo. Nesse sentido, a redução fenomenológica (epoché) seria uma maneira de se depurar o fenômeno a fim de se alcançar o objeto com total evidência. (DARTIGUES, 2005, p. 25).
Na variação eidética Husserl estabelece uma distinção entre o objeto percebido e o noema: "o noema é distinto do próprio objeto, que é a coisa; p. ex., o objeto da percepção da árvore é a árvore, mas o noema dessa percepção é o complexo dos predicados e dos modos de ser dados pela experiência" (ABBAGNANO, 2000, p. 724). O que Husserl defende é que a atual percepção que temos de um objeto só se sustenta ante a possibilidade dos diversos perfis sob os quais esse objeto pode ser apreendido.   
Determinado assim a variação Eidética de maneira mais simplificada, essa seria a suspensão do juízo do objeto para examinar as representações enquanto tais, prescindindo da divisão sujeito/objeto. 
REDUÇÃO TRANSCEDENTAL
A redução transcendental seria o exercício da epochê num grau mais elevado ou de uma forma mais radical, se dando quando a consciência engloba as essências e os objetos de forma mais pura, considerando-os como fenômenos. Sendo assim, a redução transcendental levaria o individuo a um estágio de consciência pura, inibida de todo o interesse existencial e de toda a “mundanidade” (NASCIMENTO, [s.d.]). Em outras palavras, segundo Husserl, na consciência transcendental, as vivências perdem totalmente o seu caráter psicológico e existencial para conservarem apenas a relação pura do sujeito ao objeto enquanto consciente (SILVA, [s.d.]). 
Deste modo, atinge-se o que Husserl denominou “atitude fenomenológica” e abandona-se a “atitude natural”. Segundo ele, a “atitude natural”, que inclui a atitude cientifica e a do senso comum, considera as coisas independentemente de sua relação com uma consciência, tratando, assim, de uma atitude ingênua, por supor uma natureza da qual não se pode ter experiência alguma. Já a “atitude fenomenológica” deve restringir-se apenas àquilo que se dá à experiência, tal como se dá: o que chamamos de fenômeno. Dessa forma, a fenomenologia compreende que não se pode saber nada sobre objetos em si ou sobre supostos objetos representados, pois todo objeto é sempre um objeto para uma consciência, e toda consciência é sempre consciência de algo. Assim, Husserl refere-se a esse fato propondo que a consciência é sempre intencional e que a atitude fenomenológica retorna para “as coisas mesmas”, ou seja, para o objeto percebido por um sujeito ou, ainda, para seu fenômeno (SÁ, 2015).
Dito de outra forma, a atitude fenomenológica ou transcendental significa uma reestruturação da nossa compreensão natural do mundo, o qual não é visto mais como algo “em si” e “por si”, simplesmente posto ao sujeito que dele faz experiência. Ele se torna correspondente intencional da consciência (VIEIRA, 2016). Posto isso, o interesse não mais está voltado à experiência primordial, mas concentrado na lógica do eu, que, por seu afeto (eu sinto), cognição (eu penso) e conação (eu julgo), atribui intenção aos objetos e aos atos da consciência (GOMES, 2007).
Para Husserl, a consciência não é uma substância (alma), mas uma atividade concebida por atos com os quais se visa a algo. Husserl chama a esses atos de noesis, e aquilo que é visado pelos atos é nomeado de noema. Cabe à fenomenologia revelar o que há de essencial nestes atos (MOREIRA, 2010). Dessa forma, Husserl propôs um enfoque nos fenômenos que se manifestam para o indivíduo, buscando destacar aquilo que aparece igualmente para todos, deduzindo, a partir disso, a abstração e a generalização do fenômeno (GOMES, 2007).
Por último, deve-se compreender que o contexto da experiência é interpessoal, uma vez que convivemos junto a outros. O mundo vivido nos é dado também socialmente, aparecendo, assim, a intersubjetividade – uma subjetividade comum a duas ou mais pessoas, sendo que esta é a que possibilita a experiência de acesso à consciência do outro. O modo fenomenológico de pensar caracteriza-se pela consideração da experiência intencional no encontro das subjetividades envolvidas com o mundo (GOMES, 1997) (AMATUZZI, 2009).
A atitude transcendental depende da intersubjetividade. Por isso, esta seria então composta pelas apercepções que constituem a nossa “certeza” do mundo (a tese do mundo) e sua evolução se daria, não por experiências confirmadoras, mas por informações que adviriam não apenas de nossa aderência primordial ao mundo, mas também por meio dos outros egos, que conosco compartilham de uma cultura e compõem uma comunidade intencional (SILVA, 2012, p.7).
CRÍTICAS DE HUSSERL
A fenomenologia de Husserl critica todas as formas de objetivismo, evidenciando especificamente os modos como os objetos são formados na experiência do indivíduo, a estrutura e qualidade do objeto tal como experienciado pelo sujeito (MOREIRA, 2010). Além disso, sugere para a filosofia uma atitude crítica, na qual deve-se apresentar evidências para que algo seja admitido, a fim de evitar construções metafísicas (SÁ, 2015). 
Dentre as abordagens criticadas por Husserl, pode-se destacar o positivismo, psicologismo e historicismo. O positivismo baseia-se, do ponto de vista metodológico, em uma lógica indutiva, segundo a qual conhecer fundamenta-se em descrever, através da observação positiva dos fatos, a regularidade desses fatos. Para Husserl, não se pode concluir, como visam as correntes positivistas, uma lei geral com base da observação de casos particulares e da constatação de sua regularidade (TOURINHO, 2011). 
O psicologismo explica os fenômenos do conhecimento como atividades psíquicas e, de acordo com Husserl, a lógica como processo psicológico anula qualquer possibilidade de validade e de verdade universal, pois os atos psíquicos são singulares e particulares, portanto, não levam a leis. Tal crítica é essencialmente desenvolvida em seu livro “Investigações Lógicas” (RAFFAELLI, 2004). 
Por fim, Husserl procede a crítica ao historicismo, que, no seu ponto de vista, se define em relativismo e ceticismo. Nessa abordagem, os conceitos de verdade, teoria e ciência perdem sua validade absoluta, ou seja, o conhecimento submetido a condições históricas, sociais e psicológicas altera o sentido do fato em questão (BORBA, 2010). 
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA
	A psicologia para Husserl era vista como uma estrutura do ser humano, não como a psicologia que estudamos frequentemente, mas uma psicologia eidética, ou melhor, a que responde à pergunta: Quais são as estruturas do ser humano? (BELLO, 2004).
	Husserl supunha fazer um estudo do ser humano, que fosse benéfico para a psicologia e, assim, criara uma antropologia filosófica, que no conhecimento dele é uma psicologia essencial ou uma psicologia fenomenológica. Sendo assim, estava considerando mostrar, através dessa psicologia fenomenológica, que seria a definição do conjunto da estrutura psíquica do homem, a base para a psicologia como ciência. Além da psicologia, a fenomenologia deveria oferecer um campo a todas as ciências que são produtos intelectuais humanos (BELLO, 2004).
	Em seu livro (Ideias relativas a uma fenomenologia, publicação original em 1913), Husserl estabelece o duplo conceito da fenomenologia: como fenomenologia psicológica e como fenomenologia transcendental, podemos dizer, ser a lógica da análise das vivencias. Isso decorre da primeira psicologia, a Psicologia Fenomenológica, que corresponde à redução à essência, ao passo que a Psicologia Essencialé o produto da redução transcendental. Tendo essa certeza de que o método rigorosamente cientifico é o que nos leva a conhecer, Husserl considera o esforço desempenhado pela psicologia e pela filosofia nesse sentido, por causa da influência de Brentano. Sendo assim, admite que se desenvolveu uma ciência nova e um novo método de pesquisa filosófico e psicológico que se chama fenomenologia, nascida na área da filosofia e da psicologia de Brentano (BELLO, 2004).
	A questão da psicologia, portanto, acompanha Husserl desde o início da pesquisa até o final, como uma base de pensamento, embora ele nunca tenha se interessado por uma psicologia empírica dos dados de fato – a qual devidamente é a tarefa do psicólogo – e se detenha na investigação dos conceitos fundamentais que constituem a estrutura do ser humano (BELLO, 2004).
	Essa é, em suma, a novidade da posição filosófica de Husserl, o qual não começa pela análise da subjetividade (como Kant e Descartes fazem), mas por uma ciência da subjetividade que é a psicologia. Ou seja, parte de uma ciência constituída historicamente e considerando essa ciência e o terreno que ela está analisando, que é o terreno do ser humano, coloca um método de análise para compreende – ló: um método de análise filosófico, pois a analise transcendental é uma análise filosófica. A ideia de realizar essa análise surge em Husserl a partir da psicologia, e não da consideração do sujeito humano abstrato (BELLO, 2004, p.129).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no desenvolvimento desta pesquisa em questão, entendemos que a Fenomenologia é, no sentido husserliano, entendida como um método para fundar a lógica pura e fundamentar a “totalidade” dos objetos. Considerando-se assim um método filosófico que se propõe a uma descrição da experiencia vivida decorrente da consciência. 
A fenomenologia por assim dizer, pode ser entendida como o estudo metodológico que procura entender a vivência dos pacientes no mundo em que vivem e como eles ainda percebem o mundo. 
Essa é uma matéria que busca estudar a essência das coisas e como elas são percebidas no mundo. Propõe ainda que as coisas existem a partir da significação que se dá a elas, colocando que o material só é material pois, atribuímos isso a ele.
Um dos tópicos abordados que seria a Fenomenologia Transcendental desenvolvida por Husserl, essa seria a mais ampla definição de fenomenologia em questão, ela procurava estudar os fenômenos que se manifestam para um individua, e busca neles aquilo que se manifesta para todos. 
Um método encontrado que melhor define/caracteriza a fenomenologia e a explica de forma mais simplificada seria imaginar uma caixa quadrada, como forma geométrica. Esse caixa, não importa seu tamanho, seja grande ou pequeno, sempre será uma caixa em essência na mente de um indivíduo. Sendo isso que explica a fenomenologia, a essência das coisas, o que dizem ser o lema “rumo as coisas mesmas”.
REFERÊNCIAS
AMATUZZI, M. M. Psicologia fenomenológica: uma aproximação teórica humanista. Estudos de Psicologia, Campinas, v.26, n.1, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v26n1/a10v26n1.pdf>. Acesso em: 26 out. 2017.
BELLO, A. A. Fenomenologia e ciências humanas: psicologia, história e religião. Bauru: EDUSC, 2004.
BORBA, J.M.P. A fenomenologia em Husserl. Revista do NUFEN, São Paulo, v.2, n.2, 2010. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912010000200007>. Acesso em: 29 out. 2017. 
BORNHEIM, G. Sartre. São Paulo: Perspectiva, 1971.
CARUZO, M. A Fenomenologia de Husserl. Disponivel em: <http://www.psicologiamsn.com/2012/04/fenomenologia-de-husserl.html>. Acesso em: 20 out 2017.
CASTRO, T.; GOMES, W. Fenomenologia e Psicología experimental no início do século XX. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722015000300403&lng=en&nrm=iso&tlng=pt >Acesso em: out 2017. 
GOMES, W. B. A entrevista fenomenológica e o estudo da experiência consciente. Psicologia USP, São Paulo, vol. 8, n. 2,  1997. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-65641997000200015&script=sci_arttext>. Acesso em: 26 out. 2017.
GOMES, W. B. Distinção entre procedimentos técnico e lógico na análise fenomenológica. Revista abordagem Gestalt, Goiânia, v.13, n.2, 2007. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672007000200007>. Acesso em: 26 out. 2017.
GREEN, Christopher. Classics In the History of Psychology. Disponível em: <http://psychclassics.yorku.ca/Stumpf/murchison.htm>. Acesso em: out 2017.
FRAZÃO, D. Edmund Husserl. Disponível em: <https://www.google.com.br/amp/m.brasilescola.uol.com.br/amp/biografia/edmund-husserl.htm>. Acesso em: 20 out 2017. 
MARQUES, I. Sartre e o existencialismo. Disponível em < https://ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/revistalable/numero1/ilda9.pdf>. Acesso em: out 2017.
MOREIRA, V. Possíveis contribuições de Husserl e Heidegger para a clínica fenomenológica. Psicologia em Estudo, Maringá, v.15, n.4, p. 723-731, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pe/v15n4/v15n4a07>. Acesso em: 29 out. 2017. 
NASCIMENTO, C. L. A centralidade da epochê na fenomenologia husserliana. Disponível em: <http://www.ifen.com.br/artigos/artigo02.pdf>. Acesso em: 26 out. 2017.
NETTO, O. Psicologia e fenomenologia. 2013. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=PMa8nUg5pg8>. Acesso em: 29 out. 2017.
Os filósofos pré-socráticos. Disponível em: <https://guiadoestudante.abril.com.br/especiais/os-filosofos-pre-socraticos/ > Acesso em: out 2017. 
PIMENTA, F. Resenha: Fenomenologia do Espirito, de G.W.F. Hegel. Disponível em: < https://felipepimenta.com/2014/09/01/resenha-fenomenologia-do-espirito-de-g-w-f-hegel/>. Acesso em: 21 out 2017.
RAFFAELLI, R. Husserl e a psicologia. Estudos de Psicologia, Natal, v.9, n.2, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-294X2004000200002>. Acesso em: 29 out. 2017. 
SÁ, R.N. As influências da fenomenologia e do existencialismo na psicologia. In: JACÓ-VILELA, A.M.; FERREIRA, A.A.L.; PORTUGAL, F.T. (Org.). História da Psicologia. 3. ed. Rio de Janeiro: NAU, 2015. p.361-380.
Significado de fenomenologia. Disponível em: <https://www.significados.com.br/fenomenologia/ >. Acesso em: 20 out 2017.
Significado de fenomenologia. Disponível em: <https://www.significadosbr.com.br/fenomenologia>. Acesso em: 21 out 2017.
SILVA, E. Gestalt-terapia: a manifestação da intencionalidade de Edmund Husserl. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=0mkcEFsjeJA>. Acesso em 30 out. 2017.
SILVA, J.; LOPES, R.; DINIZ, N. Fenomenologia. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v61n2/a18v61n2.pdf>. Acesso em: 20 out 2017.
SILVA, P. A fenomenologia de Husserl: uma breve leitura. Revista: Meu artigo. Disponível em: <http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-fenomenologia-husserl-uma-breve-leitura.htm>. Acesso em: 19 out 2017.
SILVA, P. A. C. B. Idealismo e intersubjetividade nas meditações cartesianas de Edmund Husserl. 2012. 110f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Programa de pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal de Pernambuco, Pernambuco, 2012. Disponível em: <http://www.repositorio.ufpe.br/bitstream/handle/123456789/10678/dissertacao.pdf?sequence=1&isAllowed=y>.
TRIPICCHIO, A. Fenomenologia. Rede Psi, 2008. Disponível em: <http://www.redepsi.com.br/2008/02/12/fenomenologia/>. Acesso em: 19 out 2017.

Continue navegando