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Trabalho Hiistória da Engenharia Civil No Brasil

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Faculdade de Saúde, Ciências Humanas e Tecnológicas do Piauí UNINOVAFAPI 
GABRIEL DOS SANTOS PACHECO
HISTÓRIA DA ENGENHARIA CIVIL NO BRASIL
Parnaíba – PI
2015
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Antes que conquistasse o prestígio e alcançasse o desenvolvimento que tem hoje, foi preciso que a Engenharia percorresse um longo trajeto de seis mil anos, desde que o homem deixou as cavernas e começou a pensar numa moradia mais segura e confortável para a sua família. Já os templos, os palácios e os canais, que foram marca registrada na Antigüidade, começaram a fazer parte da paisagem cerca de dois mil anos depois do aparecimento das primeiras habitações familiares.
	Foi na Idade Média, quando o Império Bizantino sofria ataques freqüentes de outros povos, que a Engenharia ganhou novo e decisivo impulso. Entre os séculos VI e XVIII, os conhecimentos da área foram aproveitados, sobretudo para fins militares, como a construção de fortalezas e muralhas ao redor das cidades. A atividade religiosa, principalmente na Idade Média, período em que a Igreja foi uma força paralela ao Império, impulsionou a construção de catedrais cada vez mais suntuosas.
	Ao longo de sua História, a Engenharia foi amealhando quase só sucesso. Vez por outra, até suas eventuais falhas se tornaram célebres como no caso da Torre de Pisa, construída na cidade de Pisa, na Itália, no século XII, em solo incapaz de sustentá-la, hoje, ela apresenta uma inclinação de cinco metros em relação ao solo e, não fossem os inúmeros recursos da mais moderna tecnologia ali empregados, já teria tombado. Mas a torre italiana pode ser considerada um acidente de percurso, embora esteja longe de ser o único. Afinal, naquela época não havia escolas de Engenharia Civil e o conhecimento era limitado. Foi só no século XVIII que as escolas começaram a se formar, a partir da fundação da École de Ponts et Chaussées, em 1747, na França. 
	No Brasil, a Engenharia deu seus primeiros passos, de forma sistemática, ainda no período colonial, com a construção de fortificações e igrejas. Logo em 1549, com a decretação do Governo Geral, o engenheiro civil Luiz Dias foi incumbido pelo "governador das terras do Brasil", Tomé de Souza, de levantar os muros da cidade de Salvador (BA), a capital. Dias acabou construindo também o edifício da alfândega e o sobrado de pedra-e-cal da Casa da Câmara e Cadeia, que se tornou célebre como o primeiro do gênero na colônia. Mas a criação de uma escola de Engenharia Civil brasileira só se daria 258 anos depois, com a chegada da Família Real ao País, em 1808, e a conseqüente fundação da Real Academia Militar do Rio de Janeiro. Seu objetivo era formar oficiais da artilharia, além de engenheiros e cartógrafos. Em 1842, a academia foi transformada em Escola Central de Engenharia e, 32 anos depois, convertida em curso exclusivo de Engenharia Civil.
	Essa instituição é, hoje, a Escola Nacional de Engenharia. Organizada em instituições, a Engenharia Civil ganhou estudos mais sistematizados e as cidades passaram a crescer vertiginosamente, numa velocidade nunca antes registrada. Vieram os altos edifícios, as pontes quilométricas, o sistema de saneamento básico, as estradas pavimentadas e o metrô. Para construir obras tão distintas, o engenheiro precisou adquirir conhecimentos profundos em pelo menos cinco grandes áreas: estruturas, estradas e transportes, hidráulica e saneamento, geotécnica, materiais e construção civil. São essas modalidades que hoje compõem a base dos currículos das escolas de Engenharia Civil. 	
	No Brasil, desde o início da década de 80, a Engenharia Civil vem sofrendo os efeitos de uma prolongada crise de falta de investimentos, que reduziu os seus atrativos como área de desenvolvimento profissional perante os postulantes à formação técnica de nível médio ou superior. Enfatizamos que a crise é de falta de investimentos, para que não se confunda a estagnação brasileira com a européia, por exemplo, cujas origens são estruturalmente diversas.
	Regredindo no tempo, no caso europeu, o fim da Segunda Guerra Mundial foi um marco representativo. De um lado, devastação radical da economia dos países e a destruição de vias de transporte, indústrias, usinas geradoras de energia e cidades inteiras. Do outro, a disputa de áreas de influência política entre os vencedores do conflito. Era o início da Guerra Fria.
Os Estados Unidos, cujo território continental havia permanecido incólume e a indústria havia experimentado um crescimento avassalador e definitivo, consolidava a sua presença militar estratégica através da criação da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O amadurecimento dos dirigentes mundiais evitou que fossem cometidos os mesmos erros da I Guerra Mundial, quando o Tratado de Versalhes e suas pesadas e intermináveis indenizações findaram por gerar solo fértil para o advento do Nazismo.
	Com os compreensíveis rancores controlados por uma intensa propaganda conciliadora, isentando a população dos países derrotados da insanidade dos seus líderes, os vencedores auxiliaram na recuperação dos vencidos, reintegrando-os ao concerto das nações sob a condução dos principais vitoriosos: Estados Unidos e União Soviética, cada um tratando de garantir a sua reserva de mercado.
	Esta intensa recuperação, que se prolongou pelas décadas de 50 e 60, provocou a interiorização de países de índole colonialista, como Inglaterra, França etc. Voltados para a reconstrução da sua infra-estrutura e influência, viram seus territórios ultramarinos passarem a sofrer as influências da Guerra Fria num momento em que não dispunham de recursos e nem de motivação nacionalista para preservá-los.
	Bom para a democracia, ótimo para a indústria bélica das potências mundiais, que lucrou e lucra até hoje com os conflitos das antigas colônias.
	Essa perda de colônias também contribuiu para o incremento da recuperação européia. A busca competitiva de mercados gerou o surgimento de indústrias modernas, redução de custos de produção, desenvolvimento de tecnologias etc.
	Mais ou menos 20 anos depois do conflito, a Europa Ocidental ressurgiu como potência econômica, relativamente autônoma, disputando não mais extensões territoriais, mas influência econômica: o Colonialismo moderno. Para tanto, foram efetuados grandes investimentos financeiros. Cidades, estradas, obras de arte, portos e indústrias foram reconstruídos de forma massiva, mobilizando governo, empresários, técnicos e operários num esforço poucas vezes visto na história da humanidade.
	Este foi o paraíso contemporâneo da Engenharia Civil como de outras áreas profissionais também. A premência de conclusão das obras conduziu, também, ao desenvolvimento de novos métodos de concepção, emprego de novas técnicas construtivas, equipamentos e materiais.
	Com a Europa reconstruída, houve uma queda de investimentos nas áreas internas de interesse de profissionais da Engenharia Civil. A ênfase ficou por conta de empreendimentos habitacionais, majoritariamente, privados. As grandes obras de infra-estrutura ficaram por conta de granes empreendimentos pontuais, ampliação das linhas de trens de grande velocidade e abertura do mercado da Europa do Leste, de demanda reprimida por anos de vinculação compulsória à União Soviética.
	A Engenharia Civil passou a perder interesse profissional em prol de outras atividades ligadas, sobretudo, à informatização.
	A saída das escolas européias foi buscar novos mercados em parceria com o governo e empreendedores. É comum, nas universidades e escolas européias, encontrar cursos de Engenharia Civil com a presença significativa de estudantes de países não-europeus, particularmente, ex-colônias.
	De certa forma, isso é indicativo de que, apesar do fim da dominação física, o Colonialismo não se preocupava com a autonomia de territórios ultramarinos. Normalmente, estas colônias eram dotadas de infra-estrutura precária. Precisavam, e precisam de investimento e obras que garantissem insumos para o desenvolvimento econômico e estabilidadepolítica.
	A analogia com o Brasil está mais para a situação das ex-colônias do que para a da Europa. Também ex-colônia, nosso país viveu, até a década de 40, sob um sistema produtivo predominantemente agrário e extremamente frágil por estar sujeito ao desempenho de economias mais pujantes e diversificadas. Além disso, tínhamos um histórico de incompetência administrativa e política que nos mantinha na esfera da influência das potências mundiais.	
	Iniciativas autônomas foi o embrião de uma mudança de ares econômicos. O Estado Novo e o governo de 1951 a 1954, de Getúlio Vargas, começaram o efetivo processo de industrialização do Brasil através da implantação de indústrias de base e os 50 anos em cinco de Juscelino deram os contornos e diretrizes necessários à consolidação do processo de diversificação da economia nacional.
	O Golpe de Estado de 1964 poderia ter apresentado resultados interessantes, mas a intransigência dos governantes, cultivada por uma conjuntura continental maniqueísta agravada pelo pânico dos Estados Unidos de que a Revolução Cubana se disseminasse pela América Latina e a falta de habilidade e exacerbação ideológica dos contra-golpistas, fizeram o jogo dos interesses externos. 
Após o Golpe, a situação do Brasil foi semelhante a da Europa do pós-guerra, mas com aspectos menos grandiosos, afinal, não havíamos guerreado e nem perdido para os Estados Unidos. Neste período, apesar de impregnado pelas trevas da opressão política e pela ocultação de situações inaceitáveis, o Governo decidiu, sabiamente, prosseguir o processo de industrialização.
	Este foi o paraíso tupiniquim da Engenharia Civil: grandes obras de infra-estrutura e algumas faraônicas e superfaturadas, implantação de indústrias, muito investimento em aquisição de tecnologia, mas pouco na pesquisa científica. A propaganda oficial era intensa. O Brasil era o País do Futuro! Na verdade, era palco de intensas diferenças sociais que o tornavam alvo fácil de ações maniqueístas, da eterna luta entre o bem e o mal, que nunca apareciam bem caracterizados.
	Na disputa por este mercado emergente, os investidores destinaram vultosas somas aos projetos do governo militar, não se importando se os recursos eram ou não totalmente aplicados no seu real objetivo. O que importava era que teriam que ser ressarcidos com polpudos juros e, para piorar, havia uma insensata busca de hegemonia na América Latina que era levada a limites extremamente perigosos pelos militares que governavam os países na época. O acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha foi um exemplo significativo disso.
	Curioso é que as duas maiores críticas ao governo de Juscelino (o endividamento externo e a escalada inflacionária) tenham sido multiplicadas por dois dígitos neste período de exceção, sem que isso fosse considerado como um estorvo, mas como o preço do desenvolvimento acelerado. Mais curioso é que muitos dos artífices desses planos ainda estejam na ativa, dizendo como seria a maneira correta de conduzir a economia brasileira.
	Em 1973, com a Crise do Petróleo, o sonho brasileiro começou a virar pesadelo. O dinheiro fácil dos investimentos internacionais mostrou sua real intenção: o Brasil era um mercado. Só interessava investir no que desse retorno às multinacionais, que já dispunham de mão-de-obra barata com alto poder de adaptação, e garantisse a manutenção do país no bloco ocidental.
	O país que ninguém segurava havia caído e estava imóvel na teia de aranha que havia ajudado a construir. Endividado, inflacionado e recessivo, o Brasil retornou à democracia com inegáveis melhorias de infra-estrutura, mas com uma conta a pagar por gerações, semelhante a do Tratado de Versalhes. Talvez isso mostre por que a Globalização não nos choca tanto.
	Para a Engenharia Civil, a experiência das grandes obras de infra-estrutura realizadas durante o governo militar permitiu o acesso competitivo ao mercado externo, disputado com as grandes empreiteiras internacionais. No caso das empresas européias, tratava-se de sobrevivência por falta de mercado interno ou necessidade de expansão, só que a realidade da Europa era diferente da nossa: tínhamos muito o quê fazer no território pátrio, mas a torneira dos investimentos estava fechada.
	Este foi o período negro da Engenharia Civil brasileira recente. Como os investimentos em infra-estrutura são altos e dependem de recursos internacionais, as grandes obras foram desaceleradas ou interrompidas, e os novos projetos foram engavetados. A atual crise energética nacional é um subproduto dessa conjuntura.
	O enorme contingente de engenheiros civis – a grande profissão das décadas de 60 e 70 – teve que abandonar o fascinante e eclético mundo dos grandes empreendimentos.
	A profissão perdeu mercado específico por demanda reprimida, mas ocupou nichos de mercado importantes. Já na sua área mais tradicional (edificações), teve avanços em pesquisas, materiais e técnicas construtivas, reduzindo custos e prazos de execução de empreendimentos. 
Após mais de uma década de novas tentativas de retomada de desenvolvimento com planos econômicos tão mirabolantes quanto desastrados, com o mercado financeiro ganhando de goleada do investimento em produção e a intensa migração do campo para as cidades, o Plano Real trouxe novo alento ao país.
	Apesar dos novos e rudes golpes das nações desenvolvidas, o Brasil enxugou a máquina, modernizou a indústria, iniciou a Reforma Agrária e aprendeu a viver em democracia, retomando, gradativamente, a confiança e o respeito internacional. 
	O governo FHC (Fernando Henrique Cardoso) criou mecanismos para a reativação da economia, atraindo investimentos privados e criando novos núcleos de desenvolvimento fora do circuito: São Paulo – Rio de Janeiro – Minas Gerais. Demonstrou, ainda, perspicácia, ao impedir que o incentivo a criação de novos pólos de desenvolvimento viesse acompanhado de protecionismo regional em detrimento dos centros tradicionais, evitando a adoção, internamente, do mesmo tipo de política que criticamos no mercado internacional.
	O comportamento da economia brasileira também mostra tendência promissora de crescimento com estabilidade. Esta retomada, entretanto, trouxe à tona as nossas deficiências estruturais causadas por décadas de falta de investimento em áreas fundamentais, como transportes em geral, geração e distribuição de energia, saneamento básico, pesquisa científica, informatização, reforma agrária, distribuição de renda, educação etc.
	Todas as iniciativas dos governos, em seus vários níveis, são questionáveis e necessitam de correções, mas não se pode negar que iniciativas estão sendo tomadas. Em tudo o que está relacionado acima, a participação direta do profissional de Engenharia Civil é fundamental. Isto representa a retomada do status da profissão? Sim, na medida em que o desenvolvimento material está diretamente relacionado à capacidade de obter da natureza aquilo que ela nos dispõe, de forma racional e sustentável. E essa é a atividade da Engenharia.
	Alguém duvida ou questiona necessidades de melhoria da logística de transportes, ampliação de capacidade, modernização e multiplicação de portos, aeroportos, hidrovias e ferrovias, expansão de saneamento básico, reurbanização das cidades e melhoria da infra-estrutura rural e de gerar energia para sustentar tudo isso? Se esse processo for conduzido de forma idônea, acompanhado dela democratização das oportunidades, combate à corrupção e distribuição de renda, atingiremos, inexoravelmente, um elevado estágio de prosperidade com justiça social. Para tanto, a ordem interna deve ser: manter e modernizar o existente, interiorizar o desenvolvimento e, externamente, integrar-se ao concerto das nações sem perder a nossa identidade.
	Lembremos que, enquanto engenheiros, somos artífices da materialização de idéias e sonhos, nossos e de outros. Nosso pragmatismo é o contraponto positivo dos idealistas e a nossa obstinação em concretizar e o gosto por desafios é o passaporte para novos patamares da evolução humana.
	A EngenhariaCivil é como aquele jogador de meio-campo que a torcida não vê, mas que o técnico sabe ser imprescindível ao desempenho da equipe. Eclético e solidário, ele joga de cabeça erguida, enxerga o campo todo, antecipa as jogadas, auxilia no ataque e volta para cobrir a defesa. Nunca será artilheiro, mas dá assistência e comemora os gols como se fossem seus. Tem espírito de equipe e consciência de metas.
	É impossível vislumbrar desenvolvimento sem associá-lo à Engenharia Civil como princípio, meio e fim. Os caminhos para a Engenharia Civil estão, novamente, abertos. É certo que haverá sempre, pedras no caminho, mas para quem está habituado a construir estradas, obras de arte e edificações, isso não é problema, é matéria-prima.
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Referências:
http://www.catho.com.br/jcs/inputer_view.phtml?id=2340
http://www.rieli.com.br/profissao/pb33.htm
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