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Aplicacao de Fluidos Supercriticos.pdf 12 Biotecnologia CiŒncia & Desenvolvimento observaçªo experimen- tal do aumento da solubi- lidade de substâncias químicas com o aumento simultâneo da pressªo e da temperatura, feita por Hannay e Hogard, em 1879, conduziu a um importante avanço científico e tecnológico: o uso de fluidos supercríticos. Apesar de bem conhe- cidos a partir dos experimentos rea- lizados por Buchner em 1906, atØ o início da dØcada de 80 o uso de fluidos supercríticos era ainda muito tímido. Uma das principais razıes dessa limitaçªo deveu-se às dificul- dades em se operar, com segurança, temperaturas e pressıes elevadas (às vŒzes superior a 1000 atm). Apesar de usualmente definido a partir de dia- gramas de fases, onde o fluido supercrítico Ø conceituado como uma regiªo física a qual se encontra acima do ponto crítico da substância, este conceito tem pouca importância prÆ- tica, uma vez que a passagem do estado gasoso ou líquido para o supercrítico ocorre de uma forma contínua e nªo como usualmente sugerido por estes diagramas (descontínuo). Na prÆtica, o estado supercrítico Ø obtido elevando-se a pressªo e a temperatura de um gÆs ou de um líquido de forma que se altere o estado de agregaçªo e, como consequŒncia, modifique as proprie- dades da substância de interesse. Esta alteraçªo do estado de agregaçªo em funçªo de mudanças na pressªo e na temperatura de um gÆs ou líquido conduz a uma mudança na densida- de e no poder de solvataçªo, o que modifica o comportamento químico da substância. Um dos principais fa- Novas Tecnologias Desenvolvimento de instrumentaçªo para fluidos supercríticos - uma experiŒncia brasileira bem sucedida Fluidos Supercríticos Fernando Mauro Lanças Dr. Professor Titular do Instituto de Química de Sªo Carlos Universidade de Sªo Paulo flancas@iqsc.sc.usp.br tos medidos recentemente de forma experimental foi a mudança na cons- tante dielØtrica de vÆrios solventes em funçªo das condiçıes de tempe- ratura e pressªo ( por ex., o dióxido de carbono, apolar em condiçıes normais de temperatura e pressªo, em elevadas pressıes, apresenta cons- tante dielØtrica equivalente a subs- tâncias polares em condiçıes nor- mais de temperatura e pressªo; a Ægua, considerada como substância altamente polar em condiçıes nor- mais de temperatura e pressªo apre- senta constante dielØtrica próxima de zero em elevadas temperaturas e pres- sıes). Este fato abre perspectivas para que se explorem novas possibi- lidades de reaçıes químicas em con- diçıes diferentes das usualmente co- nhecidas, incluindo-se: extraçıes, em- pregando-se solventes com densida- des mais apropriadas de forma a obter-se extraçıes mais rÆpidas, sele- tivas e com maior rendimento; cromatografia com solventes, os quais superam as dificuldades da ausŒncia de solvataçªo dos gases empregados como fase móvel em cromatografia gasosa e da baixa difusividade e alta viscosidade dos líquidos emprega- dos em cromatografia líquida; alØm de muitas outras aplicaçıes ainda a ser descobertas. Na verdade, um flui- do supercrítico Ø apenas uma das possibilidades situadas entre os dois extremos : gases e líquidos. A Figura 1 ilustra esta situaçªo, onde estªo exemplificados o estado gasoso e o líquido como dois extremos e o flui- do supercrítico como intermediÆrio; existem vÆrias outras possibilidades intermediÆrias, a depender da esco- lha da temperatura e da pressªo. Assim, iniciando-se com uma subs- tância no estado líquido e aumentan- do-se sua temperatura a uma pressªo constante, diminui-se de forma con- tínua sua densidade, tendendo ao estado gasoso. Se a pressªo for sufi- cientemente alta para nªo deixar a substância atingir o estado gasoso, esta estarÆ em um estado intermedi- Ærio entre os dois extremos (gÆs e líquido). Assim, se, nestas condiçıes, a pressªo e a temperatura ( ambas ) forem superiores à temperatura e à pressªo críticas, a substância Ø dita Figura 1: Estado físico dos solventes empregados em tØcnicas de extraçªo Figura 2: Esquema genØrico de um sistema para extraçªo com fluido supercrítico Biotecnologia CiŒncia & Desenvolvimento 13 estar no estado supercrítico. Caso esteja, pelo menos uma delas, abaixo destes valores, diz-se que a subs- tância estÆ no estado sub- crítico. Esta condiçªo (en- tre o estado líquido e o super-crítico) tem sido uti- lizada em vÆrias tØcnicas modernas instrumentais, in- cluindo a extraçªo (sub-FE ) e cromatografia (sub-FC) sub-críti- cas; extraçªo acelerada com solventes (ASE, de Accelerated Solvent Extraction); cromatografia com flui- dez aumentada (EFC, de Enhanced Fluidity Chromatography), entre ou- tras possibilidades. De forma anÆloga ao líquido, Ø possível alterarem-se as condiçıes físicas de um gÆs de forma que se obtenham novas proprieda- des de interesse. O aumento da pres- sªo de um gÆs a uma temperatura constante tende a aumentar sua den- sidade em direçªo ao estado líquido (Figura 1). Assim, vÆrios estados in- termediÆrios entre os dois extremos (gÆs e líquido) podem ser obtidos, incluindo o estado supercrítico (se a pressªo e a temperatura ambos - estiverem acima da crítica ). Caso um dos parâmetros nªo esteja acima do crítico, outros estados intermediÆrios entre o gasoso e o supercrítico po- dem ser obtidos, como, por exemplo, o gÆs denso, o qual estaria com sua densidade modificada pela pressªo, mas abaixo do estado crí- tico. Apesar do envolvimento do Grupo de Cromatografia (CROMA) do IQSC-USP com todas estas tØcnicas, desde os aspectos teóri- cos, o desenvolvimento de equipamentos e as aplica- çıes, no presente artigo o enfoque serÆ o emprego de fluidos supercríticos como solventes para extraçªo, tØcnica de- nominada Extraçªo com Fluido Supercrítico (SFE). Considerando o fato de que, recentemente, foi publi- cado nesta revista um artigo apresen- tando as definiçıes bÆsicas na Ærea, o enfoque neste serÆ no desenvolvi- mento ( projeto e construçªo ) de equipamentos para SFE, segundo o enfoque do nosso laboratório nessa tØcnica nos œltimos 15 anos. INSTRUMENTA˙ˆO A Figura 2 ilustra um sistema genØrico empregado para Extraçªo com Fluidos Supercríticos (SFE), que consiste em um módulo capaz de pressurizar o fluido atØ o valor de- sejado; um forno que permite atingir a temperatura desejada na cela de extra- çªo nele instalada; um restritor para manter a pressªo constante dentro do sistema e um coletor para receber o extrato obtido. Este sistema permite, com algumas modificaçıes, a inclusªo de acessórios, dependendo da finali- dade de seu emprego. Em nosso gru- po de pesquisas, iniciamos os estudos com fluidos supercríticos em meados da dØcada de 80, praticamente quan- do a mesma encontrava-se em desen- volvimento, a nível internacional, como uma ferramenta analítica. Como nªo dispœnhamos, na Øpoca, de uma bom- ba de alta pressªo para impulsionar o fluido a elevadas pressıes (exigidas, por ex., para trabalhar com dióxido de carbono como fluido supercrítico), op- tamos pelo emprego de fluidos os quais eram líquidos à pressªo e tem- peratura ambientes. Neste caso, ape- sar de empregarmos temperaturas re- lativamente elevadas, podíamos tra- balhar com pressıes relativamente baixas, as quais obtínhamos atravØs da pressurizaçªo direta do solvente com Figura 3: Esquema de um equi- pamento para SFE desenvolvido no Laboratório de Cromatografia (CROMA) do IQSC/USP, na dØ- cada de 80 Figura 4: Esquema de um equipamento para SFE com entrada para solventes líquidos, gasosos ou mistura de ambos, desenvolvido pelo CROMA Figura 5: Equipamento para SFE com possibilidade de trabalhar em escala analítica ou semipreparativa desenvolvido pelo CROMA 14 Biotecnologia CiŒncia & Desenvolvimento Figura 6: Sistema CROMA para SFE de alta pressªo Figura 7: Acoplamento "on- line" entre extraçªo com flui- do supercrítico e eletroforese capilar (SFE-CE) nitrogŒnio proveniente de um cilindro (cerca de 2000 psi). A Figura 3 ilustra um destes sistemas, onde o pentano, empregado como fluido extrator, Ø colocado em um recipiente de aço inox projetado e confeccio- nado em nossa oficina me- cânica. Uma evoluçªo deste sistema, ilustrada na Figura 4, permitiu o uso de CO2 misturado com solventes lí- quidos (denominados modificadores). Para tal, in- troduziu-se como uma opçªo a entra- da de mais um gÆs no vaso de pressurizaçªo contendo o solvente líquido, permi- tindo o uso de apenas um dos dois solventes, ou a mistura de ambos. Uma evoluçªo natural destes sistemas consistiu no de- senvolvimento de um novo sistema (Figura 5), significativamente mais versÆtil que os anteriores e que permite o uso de celas de extraçªo de vo- lumes bastante variÆveis (desde mililitros para es- cala analítica atØ litros para escala semi-preparativa). Este siste- ma, projetado em 1993, tem sido amplamente empregado em nosso laboratório com grande sucesso, ha- vendo proporcionado o treinamento de vÆrios pesquisadores do Bra- sil, Argentina, Peru, Chi- le, Venezuela, Holanda, ItÆlia, e permitindo que se estabelecesse cola- boraçªo com profissio- nais dos mais diferentes ramos da ciŒncia e tecnologia. O sistema permite o uso dos mo- dos estÆtico, dinâmico, sequencial e combina- do; permite o uso de uma ampla gama de fluidos de diferentes características; permite o emprego de modificadores; permite o uso de celas de extraçªo de diferen- tes volumes e geometrias; Ø simples para operar e de baixo custo para construir-se. Em alguns casos, parti- cularmente quando se pre- tende extrair compostos de polaridade intermediÆ- ria ou bastante polares, torna-se necessÆrio o em- prego de pressıes mais elevadas quando preten- de-se usar dióxido de car- bono puro como agente extrator. Neste caso, em- pregamos bombas do tipo seringa para garantir pres- sıes elevadas de CO2 (atØ 500 atm) e empregamos o forno de um cromatógrafo a gÆs para controlar a temperatura do fluido (Figura 6). Esta opçªo permite um sistema mais automatizado, o qual, para operaçªo em rotina, se torna mais interessante do que os anteriormente des- critos. Neste caso, devido à versatilidade deste siste- ma e as possibilidades de automaçªo, efetuamos o acoplamento on-line en- tre este sistema de extra- çªo e um sistema de eletroforese capilar. O sis- tema assim projetado, ilus- trado na Figura 7, permite a extraçªo, clean-up, concentraçªo e anÆlise das substânci- as de interesse em uma œnica etapa, sem interferŒncia do analista. Isto evita problemas de perda de analitos durante as vÆrias etapas do processo off-line e transferŒncia do analito durante as mesmas; em- prega quantidades me- nores de amostras e solventes; minimiza er- ros de operaçªo; permite maior repetibilidade de cada etapa atravØs da automaçªo; Ø mais flexí- vel devido aos vÆrios mo- dos de operaçªo da interface desenvolvida. Estes modelos de equi- pamentos desenvolvidos de- ram ao CROMA uma experiŒncia gran- de na Ærea de instrumentaçªo e per- mitiram o desenvolvimento de vÆrios outros instrumentos, tais como um sistema SFE-SPE-CGC (Extraçªo com Fluido-Supercrítico-Extraçªo em Fase Figura 8: Acoplamento "on- line" entre extraçªo com flui- do supercrítico, extraçªo em fase sólida e cromatografia gasosa (SFE-SPE-HRGC) Biotecnologia CiŒncia & Desenvolvimento 15 Sólida-Cromatografia Gasosa Capilar), apresentado de forma esquemÆtica na Figura 8. Neste caso, a amostra (usual- mente no estado líquido) Ø direcionada para a cela de extraçªo em fase sólida, onde Ø percolada. Os analitos de inte- resse sªo aprisionados na cela, enquan- to que a matriz Ø eliminada. A seguir, aciona-se o dióxido de carbono como agente extrator para a etapa SFE; o extrato obtido Ø dirigido para o injetor do cromatógrafo a gÆs, onde a separa- çªo irÆ ocorrer. CONCLUSˆO No presente trabalho sªo descri- tos alguns dos equipamentos desenvol- vidos com sucesso pelo Grupo de Cromatografia (CROMA) do Instituto de Química de Sªo Carlos, da USP, para trabalhos com fluidos no estado supercrítico. Os interessados em obter maiores informaçıes sobre estes e ou- tros trabalhos do grupo devem contactar o autor. AGRADECIMENTOS O autor agradece o apoio financeiro dado ao CROMA pela FAPESP, CNPq , CAPES e FINEP. Bibliografia Lanças, F.M., Galhiane ,M.S., Rissato ,S.R. Supercritical Fluid Extraction of Flumetralin from Tobbaco Samples. (2000). 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ALMEIDA1, WENDEL A. MAIA1 e ANDRE L. D. RAMOS1 1Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Engenharia Química, Av. Marechal Rondon, S/N, São Cristóvão-SE, Brasil, CEP: 49100-000, Tel (79) 2105-6556, *E-mail: marilia_pupo@hotmail.com. Resumo: Tendo em vista a demanda crescente por recursos energéticos alternativos, o desenvolvimento de rotas de produção de biodiesel é uma corrente de pesquisa cada vez mais marcante. Assim, o presente estudo busca analisar catalisadores ácidos para aplicação na reação de hidroesterificação de óleo de soja para produção de biodiesel. Os catalisadores foram caracterizados em termos de acidez. Algumas técnicas de caracterização ainda serão realizadas, tais como fisissorção de N2 e difração de raios-X . Os catalisadores preparados foram avaliados na etapa de hidrólise de óleo de soja em reator pressurizado de aço inox, na condição padrão de 230 °C, 5% de catalisador e razão volumétrica água/óleo de 1:1. Estudos preliminares de hidrólise apontam que a zircônia sulfatada seria o catalisador mais ativo para esta etapa. Pretende-se, ainda, otimizar as condições operacionais e realizar experimentos de esterificação de ácidos graxos. Palavras-chave: Catalisadores; hidroesterificação; biodiesel. 1. Introdução Considerando o crescimento populacional e a demanda energética que acompanha o mesmo, rotas alternativas de suprimento desta demanda precisam ser consideradas e desenvolvidas. A queima do combustível fóssil não renovável para geração de energia, além de ser acusado como um dos grandes vilões da poluição ambiental, guarda consigo o perigo iminente do fim de suas reservas e a necessidade de nos tornarmos menos dependentes do mesmo (HOWARTH, 2009). Dentro deste cenário, pode-se considerar a produção de biodiesel como uma rota de suprimento que progressivamente viria a substituir o uso do diesel. O biodiesel pode ser definido quimicamente como um éster alquílico de cadeia longa de ácidos graxos derivado de fontes renováveis, provenientes de óleos vegetais ou gordura animal utilizado em motores de ignição por compressão (MEHER, 2006). O mesmo pode ser extraído de óleos vegetais, como óleo de soja, colza, girassol, palma, pinhão manso e algodão (SANTOS, 2007). UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA Dentre as inúmeras vantagens do uso do biodiesel frente ao diesel podemos citar: a redução da emissão de material particulado, hidrocarbonetos, compostos de enxofre (SOx), monóxido e dióxido de carbono - CO e CO2 (MUNIYAPPA, 1996; LEUNG, 2010), redução dos gastos de petróleo destinados à produção de diesel e da dependência do diesel importado, além da possibilidade do seu uso diretamente em motores ou misturados com o diesel do petróleo (PARK, 2006). Os biodieseis produzidos apresentam propriedades similares aos de diesel produzido a partir de petróleo, tais como número de cetano, poder calorífico, viscosidade e ponto de fusão. A simples substituição do diesel por uma mistura de biodiesel (etanol: biodiesel: diesel, na proporção 5:20:75), sem que haja nenhum tipo de alteração no motor, diminui as emissões de MP em 30% e elimina a emissão de SOx (SHI, 2005). Estudos recentes mostraram que veículos de carga com biodiesel puro tiveram uma queda de 45% na taxa de emissão de materiais particulados, 65% em hidrocarbonetos e 100% em óxidos sulfúricos, ao passo que aumentaram a emissão de óxidos de nitrogênio quando comparados com o diesel em torno de 10% (SAGAR, 2007). Uma variedade de formas de obtenção do biodiesel encontra-se em desenvolvimento, entre elas a mais comumente aplicada é a transesterificação alcalina, que consiste na reação de um triglicerídeo com um álcool (preferencialmente de cadeia curta (KUSDIANA, 2004), como visto na Figura 1. Figura 1 – Reação de transesterificação (KUSDIANA, 2004). Embora tenha grande aplicação no mercado industrial corrente, apresenta problemas operacionais referentes à reação de saponificação dos ácidos graxos livres UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA presentes na matéria-prima com o catalisador básico (LEUNG, 2010), conforme descrito abaixo: R1-COOH + NaOH → R1COO-Na+ + H2O (1) O sabão consome catalisador, decresce rendimento (uma parte do óleo não é convertido em biodiesel) e torna a separação difícil (favorece formação de emulsões), exigindo um longo tempo de decantação para a separação. Ainda, a água formada durante o processo de saponificação diminui o rendimento da reação de transesterificação por meio da hidrólise de triglicerídeos a diglicerídeos, gerando ácidos graxos, conforme visto na Figura 2 (LEUNG, 2010). Figura 2 – Reação de Hidrolise (LEUNG, 2010). Dentre as rotas alternativas de obtenção do biodiesel, a hidroesterificação mostra- se como uma opção promissora. A hidroesterificação consiste do processo de hidrólise seguido de uma esterificação. A hidrólise pode ser representada pela Figura 2, enquanto a esterificação é representada pela Figura 3. Figura 3 – Reação de esterificação (KUSDIANA, 2004). Por meio dessa sequência de reações, obtêm-se um produto final considerado mais puro e menos propenso à formação de sabão durante seu processo de produção. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA A grande vantagem da hidroesterificação em relação à transesterificação é que o ácido graxo livre é reagente da mesma, não sendo, portanto, uma limitação em termos de especificação de matéria-prima. Isto faz com que seja possível a utilização de matérias-primas de alta acidez, tais como o biodiesel de algas, óleos e gorduras residuais e óleos vegetais com acidez acima de 1% (Ex: óleo de dendê), sem a necessidade de um pré-tratamento da matéria- prima através de uma reação de neutralização. A rota se torna ainda mais atrativa se conjugada ao uso de catalisadores heterogêneos, eliminando a formação de sabão, diminuindo o número de operações unitárias de separação, tornando possível a reutilização do catalisador e produzindo uma glicerina de alta pureza, livre de sais (ARANDA, 2009). A hidrólise é uma reação homogênea que acontece na fase água-óleo. A capacidade da água de dissolver triglicerídeos não polares depende da temperatura e do peso específico da água, o qual pode ser quantificado pela constante dielétrica (KUTSDIANA, 2004). A reação de hidrólise pode ser representada como: Triglicerídeo + 3 Água → 3 Ácido Graxo + Glicerol (2) O desenvolvimento de estudos com o uso de catalisadores heterogêneos para promoção da reação de hidrólise ainda se encontra em fase inicial, sendo do nosso conhecimento apenas o trabalho desenvolvido por Ngaosuwan et al (2009), onde foi realizada a hidrólise da tricaprilina usando a zircônia tungstênio (WZ) e o ácido sólido SAC-13 (resina de nanopartículas de Nafion em sílica mesoporosa) como catalisadores, com uma temperatura variando entre 110-150°C, em um reator semibatelada com adição contínua de água a baixas taxas de fluxo, obtendo-se conversões baixas (<40%). Neste contexto, o presente trabalho busca selecionar um catalisador ácido ativo para a reação de hidrólise de óleo de soja em condições operacionais mais brandas que a hidrolise não catalítica. Em seguida, buscar-se-á um catalisador ativo para a reação subsequente, a esterificação de ácidos graxos, buscando-se, de preferência, um mesmo catalisador ativo para ambas as reações. 2. Metodologia 2.1. Materiais UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA Os catalisadores a serem utilizados nesta dissertação foram elaborados a partir do óxido de titânio (P 25 - Evonik), hidróxido de zircônio (97% Aldrich) e óxido de nióbio (HY 340 - CBMM), com sulfatação a partir do sulfato de amônia (99% Sigma) para a zircônia e do ácido sulfúrico para a titânia. A resina ácida comercial Amberlyst-15 foi adquirida da Fluka Analytical. O óleo de soja (Liza tipo 1) utilizado no experimento foi obtido em estabelecimentos de varejo local. Alguns experimentos serão conduzidos utilizando o ácido sulfúrico como catalisador homogêneo. 2.2. Preparo dos catalisadores Esta etapa já foi realizada dentro do cronograma previsto. A resina comercial Amberlyst-15 (A15) foi colocada em estufa a 120 °C por 3 horas anteriormente à reação, no intuito de retirar a umidade contida no material. A zircônia sulfatada (S-ZrO2) foi obtida a partir de uma mistura de 10g de Zr(OH)4 suspensas em 200 mL de água deionizada. Em seguida foi adicionada certa quantidade de sulfato de amônia ((NH4)2SO4) numa razão molar Zr(OH)4/((NH4)2SO4) de 1:6. A mistura foi agitada à temperatura ambiente por 2 horas, sendo posteriormente filtrada e seca numa estufa a 100ºC por aproximadamente 12 horas. Em seguida a amostra foi calcinada durante 5h a uma temperatura de 500ºC utilizando uma rampa de aquecimento de 5ºC/min com fluxo de ar. Essa metodologia foi adaptada do trabalho de Stichert et al. (2001). A zircônia não sulfatada foi obtida a partir da calcinação do hidróxido de zircônio, nas mesmas condições da zircônia sulfatada. A titânia sulfatada (S-TiO2) foi sintetizada a partir de uma mistura de 20 g de óxido de titânio e aproximadamente 20,83 mL de uma solução 0,5 M de H2SO4. Foram adicionados 100 mL de água deionizada para promover uma melhor agitação na mistura. O volume de sulfato adicionado foi de 5% em relação à massa do óxido de titânio. A mistura foi preparada na temperatura de 100°C sob refluxo e agitação constante por 3 horas. Em seguida, foi lavada com água deionizada e filtrada com um funil de vidro sintetizado. O material filtrado foi seco na estufa por 12 horas a 100°C. Logo após foi calcinado por 4 horas a uma temperatura de 400°C, utilizando uma rampa de aquecimento de 5°C/minuto com fluxo de ar de 5 mL/minuto (ALMEIDA et al., 2008). A titânia sem sulfatar foi apenas calcinada, nas mesmas condições. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA A calcinação do óxido de nióbio (Nb2O5) foi realizada em calcinador a uma temperatura 300 °C por 3 horas utilizando uma rampa de aquecimento de 5°C/min com fluxo de ar. 2.3. Caracterização de catalisadores No intuito de relacionar o desempenho catalítico com as propriedades dos catalisadores, algumas técnicas de caracterização serão aplicadas, conforme descrito a seguir. 2.3.1. Análise textural De forma a obter as características texturais dos catalisadores (área superficial, volume de poros, etc), serão realizadas medidas de fisissorção de N2, com a área específica sendo obtida pelo método BET. A principio será feito um pré-tratamento da amostra, secando a mesma a uma temperatura de 300 °C sob vácuo de 5x10-3 Torr, em períodos de 24 horas. Posteriormente será feito a análise a uma temperatura de – 196 °C. 2.3.2. Análise de cristalinidade As análises de cristalinidade serão realizadas em difratômetro com radiação CuK (30 kV e 15 mA). A metodologia analisada será de intervalos de análise de 5º 2 90º com passo de 0,05°, utilizando um tempo de contagem de 1 segundo por passo. 2.3.3. Análise de acidez Esta etapa experimental já se encontra finalizada. A quantidade de sítios ácidos de Bronsted dos catalisadores foi estimada por meio de uma técnica de titulação ácido-base. Cerca de 0,2 g de catalisador foi pesado e imerso em 10 mL de uma solução de cloreto de sódio (NaCl) 3,42 M sob agitação por 30 horas. Durante esse período ocorre uma troca de íons entre o H+ da superfície do catalisador e o Na+ na solução. Em seguida a mistura foi filtrada e a solução titulada com uma solução de hidróxido de sódio 0.05 N, sendo monitorada por um pHmêtro. O ponto final da titulação era determinado quando com o pH era igual a 7 (LOPEZ et al., 2007). UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA 2.4. Reação de hidrólise Esta etapa experimental encontra-se em andamento. Os catalisadores heterogêneos sintetizados durante etapa prévia à reação de hidrólise foram mantidos em condições ambientes, em recipiente lacrado dentro de um ressecador. Antes do uso na hidrólise, o mesmo foi posto em estufa por cerca de 3 horas a uma temperatura de 120°C, para que a umidade presente fosse removida. Para a reação de hidrólise, água foi adicionada ao óleo de soja em razão volumétrica 1:1 (razão molar de 52:1) e finalmente adicionado o catalisador em uma relação de 5% referente à massa de óleo de soja. Esta mistura foi colocada em um reator pressurizado de aço inox, com controle microprocessado de temperatura (através de um forno de cerâmica) e agitação, que permitia a retirada de alíquotas durante a reação sem a necessidade de abertura do mesmo, onde se elevou a temperatura até 230 °C com uma agitação de 1000 RPM, por cerca de 2 horas. A partir do momento quando se atingiu a temperatura de 230 °C considerou-se o inicio da reação. Alíquotas foram retiradas do reator nos tempos de 0, 5, 10, 20, 30, 45, 60, 90 e 120 minutos. Estas foram filtradas por meio de filtração à vácuo com o uso de uma bomba de vácuo (Sl 61 Bolab), e as amostras resultantes analisadas através de titulação ácido-base. Antes da titulação as amostras eram lentamente aquecidas até cerca de 110 °C em uma chapa aquecedora, de forma a eliminar por meio de evaporação qualquer resquício de água contida em cada amostra. O intuito da análise final era obter o índice de acidez e a conversão da reação em termos de ácidos graxos produzidos. Para a titulação fez-se necessário a padronização da solução de NaOH a 0,25N utilizada na titulação, utilizando o biftalato de potássio(C8H5KO4). O índice de acidez foi determinado utilizando a equação, descrita na Equação 3 abaixo. ��� = ����� ×�����×� � � �� (3) Onde: mA é a massa das amostras, VNaOH é o volume de NaOH gasto em cada titulação ácido-base, utilizando fenolftaleína como indicador, e M é a média ponderada das UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA massas moleculares da mistura de ácido formada na reação. Para o cálculo da média ponderada das massas molares foi utilizado os dados da Tabela 1. Tabela 1 – Porcentagem e massas molares dos ácidos graxos para o óleo de soja. Acido Graxo Porcentagem Massa Molar (g/mol) C14:0 0,1 228,36 C16:0 10,5 256,42 C18:0 3,2 284,48 C18:1 22,3 282,47 C18:2 54,5 280,46 C18:3 8,3 278,44 C20:0 0,2 312,53 C20:1 0,9 310,51 As percentagens de conversões das reações foram estimadas a partir da equação na Equação 4 abaixo: ��%� = ��� ��� � 100 (4) Onde, IAA seria o índice de acidez obtido e IAB o índice de acidez do branco (ácido oléico puro). À medida que a reação prossegue, ácidos graxos são produzidos, gerando amostras de maior índice de acidez. Através das curvas cinéticas de conversão x tempo, determina-se qual catalisador apresenta maior capacidade de converter óleo em ácido na etapa de hidrólise, processo intermediário que poderá ser futuramente estudado na aplicação de um sistema de hidroesterificação. 2.5. Reação de esterificação A matéria-prima para esta etapa será um ácido graxo modelo, no caso o ácido oléico. O metanol será utilizado como álcool reagente, produzindo ésteres metílicos (biodiesel). Os catalisadores heterogêneos a serem utilizados serão os mesmos da etapa anterior, assim como o aparato experimental e as variáveis a serem estudadas, só que com a avaliação do efeito da UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA razão molar ácido graxo/álcool. A conversão de esterificação será monitorada pela diminuição da acidez devido ao consumo dos ácidos graxos, utilizando também uma titulação ácido-base. 2.6 Cronograma Experimental Tabela 2 – Cronograma Experimental Ano I (bimestre) Ano II (bimestre) Atividade 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Atualização da Revisão Bibliográfica Compra de materiais e equipamentos Síntese de catalisadores heterogêneos Caracterização de catalisadores heterogêneos Reações de hidrólise de óleo de soja Reações de esterificação de ácidos graxos Elaboração de relatórios, artigos científicos, trabalhos para congressos e patentes 3. Resultados e Discussões Os catalisadores heterogêneos a serem utilizados nesta dissertação já foram sinterizados. Alguns resultados parciais já foram obtidos e serão apresentados a seguir. A acidez dos catalisadores heterogêneos a serem utilizados nesta dissertação encontra-se na Tabela 3. Observa-se que a Amberlyst – 15 apresenta uma acidez muito superior aos outros catalisadores sintetizados, enquanto a zirconia sulfatada foi o catalisador sintetizado de maior acidez, ao passo que o nióbio e a titânia sulfatada apresentaram acidez similares. Tabela 3 – Densidade dos sítios ácidos. Catalisadores Sítios ácidos (µmol/g cat) S-ZrO2 295 ± 6 Nb2O5 49 ± 7 S -TiO2 68 ± 4 A15 1896 ± 50 Seguindo a metodologia previamente descrita para as reações de hidrólise, uma comparação do desempenho dos catalisadores heterogêneos pode ser encontrada na Figura 4 Observa-se que todos os catalisadores foram ativos, mostrando um desempenho superior ao visto em reação na ausência de catalisador. Destaca-se que o processo de sulfatação da zircônia gerou um catalisador mais ativo. O segundo catalisador que proporcionou maior foi o UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA óxido de nióbio, enquanto a titânia sulfatada obteve a menor conversão (aproximadamente 68%). Figura 4 – Conversão obtida para a reação de hidrólise com aplicação dos catalisadores estudados a 230 °C, 5% de catalisador e razão volumétrica água/óleo de 1:1 Considera-se que as conversões obtidas foram coerentes com os dados de acidez obtidos, com exceção da resina Amberlyst – 15, cuja acidez foi muito superior mas obteve uma atividade catalítica menor que o óxido de nióbio e a zircônia com e sem sulfatação. Contudo, vale salientar que indicações do fabricante apontam a temperatura máxima de operação da resina como 120 °C, muito inferior à temperatura utilizada no presente trabalho e em reações a condições supercríticas, acima de 300 °C (Wing et al. 1999)(KUSDIANA et al., 2004). Os resultados apontam forte potencial dos catalisadores para promover a reação de hidrólise dos óleos vegetais. A otimização das condições operacionais da reação encontra-se em andamento. Espera-se, por meio dos procedimentos experimentais previamente descritos, determinar o catalisador, sua metodologia de síntese e condições experimentais ideais para que se atinja maiores conversões de óleo de soja em biodiesel por meio do processo de hidrólise e posterior esterificação. 4. Conclusão Dos resultados encontrados até o momento, nota-se uma relação direta da densidade de sítios ácidos e atividade dos catalisadores, desconsiderando casos de degradação 0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 Co n ve rs ão (% ) Tempo (min) ZrO2 S-ZrO2 Amberlyst Nb2O5 S-TiO2 não catalítica UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA do material (como visto com a Amberlyst – 15). Por meio dos testes de acidez e análises de conversão, estima-se que o melhor catalisador encontrado até o momento para a reação de hidrólise proposta no presente trabalho seria a zircônia sulfatada, demonstrando que o seu processo de sulfatação aumentou consideravelmente a densidade de sítios ácidos encontrados na mesma. Conversões acima de 83% foram encontradas em uma reação de duas horas de duração a 230 °C, superior às reportadas em condições supercríticas, destacando o potencial da aplicação deste catalisador em processos industriais de hidroesterificação. Espera-se obter dados de caracterização dos catalisadores por meio de difratometria de raios-X e fisissorção de N2, relacionando o desempenho catalítico com estas propriedades, além de caracterização dos produtos gerados durante as reações realizadas por meio de cromatografia gasosa. Espera-se encontrar um sistema catalítico ativo tanto para hidrólise quanto para a esterificação de ácidos graxos. 5. Referências ALMEIDA, R. M., NODA, L. K., GONÇALVES, N. S., MENEGHETTI, S. M. P., MENEGHETTI, M. R. Transesterification reaction of vegetable oils, using superacid sulfated TiO2-base catalysts. Applied Catalysis A, 347, p. 100–105, 2008. ARANDA, D. A. G.; GONÇALVES, J. A.; PERES J. S.; RAMOS A. L. D.; MELO - JUNIOR C. A. R. ; ANTUNES, O. A. 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Nova, Vol. 30, No. 5, 1369-1373, 2007 Ed uc aç ão *e-mail: rmgeris@ufba.br BIODIESEL DE SOJA – REAÇÃO DE TRANSESTERIFICAÇÃO PARA AULAS PRÁTICAS DE QUÍMICA ORGÂNICA Regina Geris*, Nádia Alessandra Carmo dos Santos, Bruno Andrade Amaral, Isabelle de Souza Maia, Vinicius Dourado Castro e José Roque Mota Carvalho Instituto de Química, Universidade Federal da Bahia, Campus de Ondina, Rua Barão de Geremoabo, s/n, 40170-290 Salvador – BA, Brasil Recebido em 18/4/06; aceito em 9/11/06; publicado na web em 14/5/07 BIODIESEL FROM SOYBEAN OIL – EXPERIMENTAL PROCEDURE OF TRANSESTERIFICATION FOR ORGANIC CHEMISTRY LABORATORIES. The transesterification procedure of triacylglycerides from soybean oil (in natura and waste oil) to give biodiesel was adapted to semi-micro laboratory scale as an additional experimental technique of nucleophilic acyl substitution for undergraduate courses in Chemistry and related areas. Keywords: biodiesel; transesterification; undergraduate experiment. INTRODUÇÃO O objetivo deste manuscrito é propor um experimento de Quí- mica Orgânica Experimental envolvendo a obtenção de biodiesel a partir de óleo de soja in natura e de óleo de soja usado em frituras, como um experimento alternativo aos já existentes destinados ao estudo das reações de esterificação. Um dos tópicos abordados nas aulas práticas de Química Or- gânica é a reação de substituição nucleofílica acílica, apresentada através das reações de esterificação e transesterificação. De modo geral, no ensino dessas reações se utilizam compostos de partida simples e de baixo custo, como por ex., ácido benzóico, ácido salicílico, anilina para preparação do benzoato de metila, ácido acetilsalicílico e acetanilida, respectivamente1,2. Essas reações apre- sentam grande simplicidade em suas execuções, além de se ade- quarem à carga horária de uma aula prática (em média 4 h/aula). Entretanto, é importante a realização de experimentos laboratoriais que estejam em sintonia com as pesquisas mais re- centes envolvendo novos desafios tecnológicos, proporcionando aos alunos de graduação em Química e áreas correlatas, a aplicação de seus conhecimentos básicos, despertando o interesse científico ou tecnológico nos mesmos. No presente trabalho, descrevemos um procedimento bastante sim- ples de obtenção do biodiesel, possível de ser conduzido em um labo- ratório experimental de química em, no máximo, 8 h (2 aulas práticas de 4 h, na qual, a primeira é destinada ao trabalho de síntese e a outra para discussão e análise dos resultados obtidos). Inicialmente os en- saios pilotos foram otimizados com 4 alunos de iniciação científica, co-autores do trabalho e, posteriormente, aplicado na aula prática de Química Orgânica Experimental I. Biodiesel Combustíveis a diesel são de vital importância no setor econô- mico de um país em desenvolvimento. A alta demanda de energia no mundo industrializado e no setor doméstico, bem como os pro- blemas de poluição causados devido ao vasto uso desses combustí- veis, têm resultado em uma crescente necessidade de desenvolver fontes de energias renováveis sem limites de duração e de menor impacto ambiental que os meios tradicionais existentes3, estimu- lando, assim, recentes interesses na busca de fontes alternativas para combustíveis à base de petróleo. Uma alternativa possível ao combustível fóssil é o uso de óleos de origem vegetal, os quais podem ser denominados de “biodiesel”3. Quimicamente, os óleos e gorduras animais e vegetais consistem de moléculas de triacilglicerídeos, as quais são constituídas de três áci- dos graxos de cadeia longa ligados na forma de ésteres a uma molé- cula de glicerol. Esses ácidos graxos variam na extensão da cadeia carbônica, no número, orientação e posição das ligações duplas3,4. Entretanto, o uso de óleos vegetais como combustível alternativo para equipamentos a diesel é considerado insatisfatório e impraticá- vel, por apresentar uma série de fatores limitantes, como alta visco- sidade, conteúdos de ácidos graxos livres, combustão incompleta e baixa volatilidade que resulta na formação de depósitos nos injetores de combustível das máquinas3-5. Para superá-los, os triacilglicerídeos devem ser derivatizados para se tornarem compatíveis com as má- quinas existentes4. Várias alternativas foram consideradas para redu- zir esses problemas, como por ex., diluição; emulsificação através da formação de micro-emulsões usando como solventes, metanol, etanol ou butanol; pirólise; craqueamento catalítico empregando sais metálicos (ex. SiO2/Al2O3 a 450 oC); transesterificação com etanol ou metanol4-6. Das várias metodologias descritas na literatura para obtenção do biodiesel, a transesterificação de óleos vegetais é atualmente o método de escolha, principalmente porque as características físi- cas dos ésteres de ácidos graxos são muito próximas daquelas do diesel4,5. Além disso, este processo relativamente simples reduz a massa molecular para um terço em relação aos triacilglicerídeos, como também reduz a viscosidade e aumenta a volatilidade6. Embora o conceito sobre biodiesel esteja sob discussão, este ter- mo pode ser empregado para descrever ésteres de ácidos graxos de cadeia longa (monoésteres alquílicos) derivados de fontes renováveis, tais como óleos vegetais e gorduras animais3,7,8. O biodiesel surgiu como uma alternativa para a substituição ao óleo diesel, contribuin- do para minimizar a dependência das importações do petróleo, como também para a redução da poluição ambiental, através da diminui- ção das emissões de gases poluentes. Esta fonte renovável de ener- gia vem sendo amplamente pesquisada em diversos países8. 1370 Quim. NovaGeris et al. O Brasil é um país que contém grandes plantações de oleagino- sas e, conseqüentemente, usufrui de uma diversidade de opções para produção de biodiesel a partir de plantas como palma, babaçu, soja, girassol, amendoim, mamona e dendê. Em 14/9/2004, o Congresso Nacional aprovou a Medida Provisória 214, abrindo a possibilidade do uso do biodiesel fora do campo de pesquisa, com fins efetivos de uso em larga escala9. Posteriormente, em 13/1/2005, a lei Nº 11.097 regularizou a introdução do mesmo no território brasileiro, estipu- lando a meta de 5% de adição do produto ao óleo diesel em um prazo máximo de 8 anos9. Conseqüentemente, grandes investimen- tos serão realizados nessa área, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, como por ex., o de US$ 381 milhões oriundos da Petrobrás para investir no biodiesel até 2010. Somados aos aportes dos parcei- ros, os projetos poderão chegar a US$ 1 bilhão10. Transesterificação Transesterificação é um termo geral usado para descrever uma importante classe de reações orgânicas onde um éster é transfor- mado em outro através da troca do resíduo alcoxila5,11. Quando o éster original reage com um álcool, o processo de transesterificação é denominado alcoólise (Figura 1a). Esta reação é reversível e pros- segue essencialmente misturando os reagentes. Contudo, a presen- ça de um catalisador (ácido ou base) acelera consideravelmente esta conversão, como também contribui para aumentar o rendi- mento da mesma3-5. Na transesterificação de óleos vegetais, um triacilglicerídeo re- age com um álcool na presença de uma base ou ácido forte, produ- zindo uma mistura de ésteres de ácidos graxos e glicerol, confor- me esquematizado na Figura 1b. O processo geral é uma seqüência de três reações consecutivas, na qual mono e diacilglicerídeos são formados como intermediários5. Para uma transesterificação estequiometricamente completa, uma proporção molar 3:1 de ál- cool por triacilglicerídeo é necessária3-5. Entretanto, devido ao ca- ráter reversível da reação, o agente transesterificante (álcool) ge- ralmente é adicionado em excesso contribuindo, assim, para au- mentar o rendimento do éster, bem como permitir a sua separação do glicerol formado3,12. Uma grande variedade de óleos vegetais pode ser utilizada para preparação do biodiesel. Entre os mais estudados encontram-se os óleos de soja, girassol, palma, amêndoa, babaçu, cevada e coco5,6 e a composição diversificada de seus ácidos graxos é um fator que influencia nas propriedades do biodiesel6. Óleos vegetais usados também são considerados como uma fonte promissora para obten- ção do biocombustível, em função do baixo custo e por envolver reciclagem de resíduos13. O produto obtido é comparável com o biodiesel obtido a partir do óleo refinado14. Com relação ao agente transesterificante, o processo reacional ocorre preferencialmente com álcoois de baixa massa molecular, como por ex., metanol, etanol, propanol, butanol e álcool amílico15, mas metanol e etanol são os mais freqüentemente empregados4. Metanol é o mais utilizado devido ao seu baixo custo na maioria dos países e às suas vantagens físicas e químicas (polaridade, álcool de cadeia mais curta, reage rapidamente com o triacilglicerídeo e dissolve facilmente o catalisador básico)4. Além disso, permite a separação simultânea do glicerol5. A mesma reação usando etanol é mais complicada, pois re- quer um álcool anidro, bem como um óleo com baixo teor de água para levar à separação do glicerol5. Este procedimento pode ser realizado tanto em meio ácido como em meio básico ou utilizando enzimas. Entre os catalisadores bási- cos estão os hidróxidos de metais alcalinos, carbonatos e alcóxidos de metais alcalinos (metóxido de sódio, etóxido de sódio, propóxido de sódio e butóxido de sódio)4. A maior parte dos trabalhos descri- tos na literatura emprega catalisadores básicos, tais como KOH e NaOH onde foram observados maior rendimento e seletividade16. No entanto, outros catalisadores básicos não iônicos podem ser usados na transesterificação dos triacilglicerídeos, evitando a for- mação de subprodutos indesejáveis como os sabões, entre eles trietilamina, piperidina, guanidinas5. Ácido sulfúrico, ácidos sulfônicos e ácido clorídrico são geral- mente empregados como catalisadores ácidos. A conversão enzimática de óleos vegetais em biodiesel oferece uma opção ambientalmente mais atrativa que os processos convencionais17,18. Enzimas hidrolíticas como as lipases são usadas como biocata- lisadores, embora o processo enzimático não tenha sido desenvol- vido comercialmente5. Outros tipos de transesterificações também se encontram des- critos na literatura. Aos leitores recomendamos artigos de revisão que discutem essas metodologias, entre elas a transesterificação com álcoois ramificados, transesterificação in situ, metanólise di- reta empregando lipases imobilizadas em dióxido de carbono supercrítico, catálise heterogênea utilizando polímeros orgânicos incorporados com catalisadores3-6. PARTE EXPERIMENTAL Reagentes e equipamentos Reagentes Óleo de soja comercial; óleo de soja usado na fritura de salga- dinhos; metóxido de potássio recentemente preparado; hidróxido de potássio (Synth); sulfato de sódio anidro (Quimex); iodo ressublimado (Merck); éter de petróleo (Quimex); éter dietílico (Quimex); ácido acético glacial (Mallinckrodt); ácido oléico (Merck); oleato de metila (sintetizado no laboratório); clorofór- mio deuterado (Cambridge Isotope Laboratories, Inc). Equipamentos Densímetro (Arba) e espectrômetro de RMN Varian (Gemini 300). Metóxido de potássio A solução de metóxido de potássio foi preparada dissolvendo- se 1,5 g de hidróxido de potássio (KOH) em 35 mL de metanol com o auxílio de agitação e controle de temperatura (45 oC) até a completa dissolução de KOH. O volume de metanol e a massa de KOH para a reação de transesterificação têm por finalidade alcan- çar um melhor rendimento da produção do éster19. Segundo Rabelo19 o melhor rendimento ocorreu com 1,5 g de KOH e 35% de metanol em relação a 100 mL de óleo. Observação: Essa solução deve ser manipulada cuidadosamen- te utilizando a capela e os alunos portando seus EPIs (equipamen- Figura 1. a) Equação geral para uma reação de transesterificação; b) equação geral da transesterificação de um triacilglicerídeo 1371Biodiesel de soja – reação de transesterificação para aulas práticas de química orgânicaVol. 30, No. 5 tos de proteção individual), devido ao caráter corrosivo da base e à toxicidade do metanol. A reação de transesterificação Em um balão de fundo chato (500 mL) foram adicionados 100 mL do óleo de soja (in natura ou usado em frituras, sendo este último previamente filtrado através de algodão para remoção de resíduos sólidos). Esse material foi aquecido em banho-maria, sob agitação com o auxílio de uma barra magnética, até atingir a tem- peratura de 45 oC. Em seguida, foi adicionada a solução de metóxido de potássio recentemente preparada, e a mistura reacional perma- neceu 10 min a 45 oC sob agitação. Elaboração do biodiesel Posteriormente, a mistura reacional foi transferida para um funil de separação para permitir a decantação e separação das fases: su- perior contendo biodiesel e inferior composta de glicerol, sabões, excesso de base e álcool (tempo de espera para separação das fa- ses: 15 min). A fase inferior foi recolhida em uma proveta de 50 mL e o volume obtido foi anotado. Este material foi submetido à destilação a 80 oC para recuperar o álcool que não reagiu. O volume de biodiesel (fase superior) foi medido utilizando-se uma proveta de 250 mL e então retornado ao funil de separação para os procedimentos de lavagem: inicialmente com 50 mL da solução aquosa de ácido clorídrico a 0,5% (v/v); em seguida, uma lavagem com 50 mL de solução saturada de NaCl e, finalmente, com 50 mL de água destilada. A ausência do catalisador básico no biodiesel pode ser confirmada através da medida do pH da última água de lavagem, a qual deve estar neutra. Nos casos em que houve a formação de emulsão, a mesma foi desfeita com auxílio de um bastão de vidro, agitando-se lentamente a camada emulsificada. O tempo gasto para os procedimentos de lavagem foi de 01h30min. Para remoção dos traços de umidade o biodiesel foi filtrado utili- zando-se sulfato de sódio anidro e transferido para uma proveta de 250 mL para medição do volume. O biodiesel aparece como um líquido límpido de coloração amarela. Análise do biodiesel O produto final da reação foi analisado qualitativamente atra- vés de cromatografia em camada delgada (CCD), densidade, RMN 1H e teste de combustão. O biodiesel e o material de partida foram dissolvidos em éter de petróleo e aplicados sobre a placa de CCD contendo sílica como fase estacionária. Utilizou-se como fase móvel uma mistura ternária de éter de petróleo:éter etílico:ácido acético (80:19:1). Após a eluição, a cromatoplaca foi revelada com vapores de iodo. Foram empregados como padrões cromatográficos ácido oléico e oleato de metila. Os valores de fatores de retenção (Rf) do biodiesel, dos padrões e do óleo foram comparados. Ambos, óleo de soja e produto final, foram analisados por RMN 1H. Sinais correspondentes à presença de triacilglicerídeos no mate- rial de partida e a ausência dos mesmos no produto, juntamente com o aparecimento do sinal que caracteriza os ésteres metílicos confir- mam a obtenção do biodiesel. Utilizou-se clorofórmio deuterado como solvente e tetrametilsilano como padrão interno de referência. O teste de combustão foi realizado utilizando cadinhos de porce- lana contendo chumaços de algodão embebidos com óleo de soja, biodiesel, metanol e glicerina. Como fonte de calor para promoção da combustão foi usado um palito de fósforo. A densidade dos produtos aferida utilizou-se um densímetro (Arba) de faixa 0,850 – 0,900. RESULTADOS E DISCUSSÃO Uma série de metodologias para obtenção de biodiesel encon- tra-se disponível na literatura7-10,12-19. Nelas são discutidas as variá- veis que influenciam a eficiência do processo, bem como a quali- dade do produto formado, como por ex., a quantidade de material catalítico, a razão molar álcool/óleo vegetal, a intensidade da agi- tação mecânica, a pureza dos reagentes, o teor de ácidos graxos livres no material de partida e o tempo reacional. Visando preparar um experimento prático que pudesse ser realizado por alunos de graduação durante uma aula prática de Química Orgânica, várias otimizações e adequações foram realizadas nos experimentos-pi- loto feitos pelos alunos de iniciação científica e, posteriormente, foi desenvolvida uma metodologia rápida, simples e de baixo cus- to para obtenção do biodiesel. O método envolveu a transesterificação do óleo de soja (in natura e usado em frituras) utilizando como agente transesterificante o metanol em condições básicas com hidróxido de potássio a 45 oC. Embora o uso da solução saturada de NaCl não seja um procedimen- to adotado na lavagem durante o processo de obtenção do biodiesel, optamos por utilizar a fim de evitar a formação de emulsão e dificul- tar o processo de separação do biodiesel. As principais etapas da transesterificação dos óleos vegetais catalisada por bases são apresentadas na Figura 2. O primeiro passo é a reação da base com metanol, produzindo alcóxido (base conjugada) e água (ácido conjugado). O alcóxido, agindo como nucleófilo, ataca o átomo de carbono deficiente em elétrons do gru- po carbonila do triacilglicerídeo, conduzindo à formação do inter- mediário tetraédrico; a ruptura da ligação entre carbono e oxigênio do glicerídeo no intermediário tetraédrico conduz ao produto carbonilado (éster metílico) e ao diacilglicerídeo, este último for- mado após a remoção do átomo de hidrogênio do metanol, obtendo o ânion metóxido, permitindo a continuidade do processo reacional. Diacilglicerídeos e monoacilglicerídeos são convertidos pelo mes- mo mecanismo para a mistura de ésteres metílicos e glicerol. Vale ressaltar que a reação do hidróxido de potássio com o álcool leva à formação de água e, na presença do catalisador bá- sico, poderá levar à hidrólise de algum éster produzido, com con- seqüente formação de sabão (Figura 3). Esta saponificação inde- sejável reduz o rendimento do éster e dificulta consideravelmen- te a recuperação do glicerol, devido à formação de emulsão5. Além disso, o consumo do catalisador reduz a eficiência da reação. Por- tanto, para uma transesterificação catalisada por bases, ambos os óleos e álcool devem ser isentos de água4. Um baixo teor de áci- dos graxos livres no óleo também é necessário se o processo de alcoólise ocorrer por catálise básica. Óleos vegetais que conte- Figura 2. Equações da reação de transesterificação de um triacilglicerídeo com metanol catalisada por hidróxido de potássio 1372 Quim. NovaGeris et al. nham alto teor de ácidos graxos livres ou água devem ser proces- sados via catálise ácida4. Em nossos experimentos utilizamos o metanol como agente transesterificante, ao invés de etanol, para facilitar o procedimento de separação do biodiesel de glicerol. Embora menos reativo que o metanol e com os problemas tecnológicos envolvidos, o etanol, no Brasil apresenta um grande potencial devido a sua baixa toxicidade e fácil disponibilidade6. Dessa forma, o biodiesel obtido a partir de óleos vegetais e etanol seria considerado como um biocombustível obtido a partir de fontes totalmente renováveis de energia. Nas condições utilizadas no experimento proposto, os biodieseis obtidos a partir do óleo de soja in natura e usado em frituras apre- sentaram aspecto límpido de coloração amarela, pH neutro (7,0) e densidade de 0,877 g/mL a 25 oC. A eficiência da reação foi monitorada utilizando CCD e RMN 1H, pois o produto final pode- ria possuir alguns traços do material de partida. A análise do cromatograma sugeriu a conversão total dos triacilglicerídeos em ésteres metílicos, visto a presença de mancha única na cromatoplaca sem vestígios do material de partida. Além disso, os valores de Rf dos produtos foram comparados com pa- drões de ácido oleico, éster metílico e triacilglicerídeo, os quais se encontram descritos na Tabela 1. Os sinais encontrados nos espectros de RMN 1H dos produtos formados, confirmaram a conversão de forma bastante eficiente. O óleo de soja contém triacilglicerídeos e esses compostos são iden- tificados, no espectro de RMN 1H, pelos sinais em δ 4,15 (dd), 4,30 (dd) e 5,35 (m) que caracterizam os hidrogênios carbinólicos da porção do glicerol esterificado. Esses sinais não foram observa- dos nos espectros dos produtos obtidos, indicando o desapareci- mento do material de partida. Além disso, o produto pode ser iden- tificado pela presença de um singleto a δ 3,64 correspondente à presença de ésteres metílicos. Partindo apenas da quantidade de óleo utilizado na reação (100 mL), o rendimento obtido para o biodiesel a partir do óleo in natura e do usado em fritura foi de 89,5 e 88 mL, respectivamente, ou seja, uma taxa de conversão de 89,5 e 88%. Rabelo9 realizou reações de transesterificação em pequena escala para determinar o volume de metanol e a massa de hidróxido de potássio, tendo obtido um rendi- mento de 93% de biodiesel a partir de 1,5 g de KOH e 35 mL de metanol para 100 mL de óleo usado. Embora o procedimento envol- vendo a reação de transesterificação e as lavagens usados por Rabelo8 tenham sido diferentes da nossa proposição, podemos inferir que os rendimentos obtidos em nosso experimento foram satisfatórios. Os resultados obtidos com o biodiesel produzido a partir do óleo usado em frituras foram similares aos obtidos com o óleo de soja in natura, permitindo deduzir que esses óleos podem ser pro- missores para a produção do biodiesel, mas convém levar em conta alguns pré-tratamentos que devem ser realizados antes do processo de transesterificação. O óleo, depois de usado, torna-se um resíduo indesejado e sua reciclagem como biocombustível alternativo não só retiraria do meio ambiente um poluente, mas também permiti- ria a geração de uma fonte alternativa de energia13. A metodologia de obtenção do biodiesel foi usada com os alunos que cursavam a disciplina de Química Orgânica Experimental I. Oito duplas foram formadas, quatro delas utilizaram óleo de soja in natura e as restantes, óleo de soja usado em fritura. Os produtos obtidos tam- bém apresentaram aspecto límpido de coloração amarela. A medida da densidade, a análise da cromatoplaca e dos espectros de RMN 1H para esses produtos foram muito similares aos obtidos nos experimen- tos-piloto, mostrando a eficiência da reação, bem como a adequação dessa prática alternativa no tempo de 2 aulas práticas de 4 h cada. Entretanto, perdas durante a execução dos experimentos foram obser- vadas e, conseqüentemente, o rendimento médio da reação foi de 81%. Finalmente o teste de combustão mostrou que o biodiesel recém- preparado apresentou reação de combustão imediata, cuja chama rica em fuligem negra apresentou um cone de chama totalmente amarelado, diferentemente do observado para o álcool metílico, cujo cone apresentava tonalidade azul. O óleo de soja resistiu ao máximo à reação de combustão sendo, praticamente, um líquido não infla- mável. A glicerina destilada também não apresentou combustão. A compreensão das reações envolvidas nesse experimento foi alcançada através das discussões pré e pós-laboratorial em sala de aula, elaboração de relatórios envolvendo algumas questões, tais como o mecanismo da reação de transesterificação utilizada nesse experimento3,5; o mecanismo da reação de transesterificação em meio ácido3,5; outras rotas alternativas para produção de ésteres metílicos a partir de ácidos graxos; a utilização de HCl no procedi- mento de lavagem; a relação entre os valores de Rf com as estrutu- ras dos triacilglicerídeos, ácidos graxos e ésteres metílicos; a ra- zão pela qual se adiciona metanol em excesso; a quantidade neces- sária de metanol para a reação de transesterificação utilizando 100 mL de óleo de soja (dados: 1 mol de triacilglicerídeos no óleo de soja: ~ 882 g; densidade do óleo de soja: 0,925 g/mL; densidade do metanol: 0,79g/mL); o cálculo da porcentagem do metanol que não reagiu; o conceito de resíduo, rejeito e insumo. CONCLUSÕES O principal objetivo deste trabalho foi preparar uma aula prática na qual o conteúdo referente às reações de esterificação, exigido na ementa do curso, fosse aplicado na obtenção de um produto de gran- de interesse econômico, utilizando ferramentas comuns em um la- boratório de química orgânica. Um dos aspectos positivos observa- dos foi a grande motivação por parte dos alunos ao realizar o experi- mento devido à discussão nacional sobre as vantagens do uso de biodiesel, uma vez que este é oriundo de uma fonte renovável de energia e polui menos o ambiente. Além disso, os conceitos de resí- duo, insumo e rejeito foram introduzidos, aproximando os alunos da terminologia industrial. Mostrou-se também a importância do trata- mento adequado de resíduos gerados em reações orgânicas. MATERIAL SUPLEMENTAR Os espectros de RMN 1H do óleo usado em frituras antes da reação de transesterificação e do biodiesel obtido encontram-se dis- Tabela 1. Valores de Rf de padrões e do biodiesel formado a partir de óleo de soja in natura e usado em frituras Substância Rf* Óleo in natura (triacilglicerídeos) 0,67 Óleo usado em fritura (triacilglicerídeos) 0,67 Biodiesel (óleo in natura) 0,82 Biodiesel (óleo usado) 0,82 Ácido oléico 0,52 Oleato de metila 0,82 *Condições de análise: sílica como fase estacionária; éter de petróleo:éter etílico:ácido acético, na proporção 80:19:1 como fase móvel e iodo como revelador cromatográfico. Figura 3. Principal reação secundária durante a transesterificação: reação de saponificação 1373Biodiesel de soja – reação de transesterificação para aulas práticas de química orgânicaVol. 30, No. 5 poníveis em http://quimicanova.sbq.org.br, na forma de arquivo pdf, com acesso livre. AGRADECIMENTOS Aos Profs. L. A. Cardoso, F. Andrade, N. F. Roque, M. Malta (DCET-UNEB) e aos alunos da disciplina de Química Orgânica Experimental I – QUI 140, da turma do 2º semestre de 2005 pela dedicação nesta nova prática de ensino. REFERÊNCIAS 1. Vogel, A. I.; Química Orgânica – Análise Orgânica Qualitativa, 3a ed., Ao Livro Técnico: Rio de Janeiro, 1985. 2. Soares, B. G.; Souza, N. A.; Pires, D. X.; Química Orgânica: Teoria e Técnicas de Preparação, Purificação e Identificação de Compostos Orgânicos, Ed. Guanabara: Rio de Janeiro, 1988. 3. Meher, L. C.; Sagar, D. V.; Naik, S. N.; Renew. Sustain. Energy Rev. 2004, 10, 248. 4. Ma, F.; Hanna, M. A.; Bioresour. Technol. 1999, 70, 1. 5. Schuchardt, U.; Sercheli, R.; Vargas, R. M.; J. Braz. Chem. Soc. 1998, 9, 199. 6. Pinto, A. C.; Guarieiro, L. L. N.; Rezende, M. J. C.; Ribeiro, N. M.; Torres, E. A.; Lopes, W. A.; Pereira, P. A. P.; de Andrade, J. B.; J. Braz. Chem. Soc. 2005, 16, 1313. 7. Knothe, G.; Dunn, R. O.; Bagby, M. O.; ACS Symp. Series 1997, 666, 172. 8. http://biodiesel.org/resources/fuelfactsheets, acessada em Fevereiro 2006. 9. http://biodiesel.org.br, acessada em Fevereiro 2006. 10. http://www.rbb.ba.gov.br, acessada em Janeiro 2006, Informativo n. 101. 11. Vollhardt, K. P. C.; Schore, N. E.; Química Orgânica: Estrutura e Função, Bookman: Porto Alegre, 2004. 12. http://journeytoforever.org/biodiesel_make.html, acessada em Julho 2005. 13. Costa Neto, P. R.; Rossi, L. F. S.; Zagonel, G. F.; Ramos, L. P.; Quim. Nova 2000, 23, 531. 14. Felizardo, P.; Correira, M. J. N.; Raposo, I.; Mendes, J. F.; Berkemeier, R.; Bordado, J. M.; Waste Management 2006, 26, 487. 15. Ferrari, R. A.; Oliveira, V. S.; Scabio, A.; Quim. Nova 2005, 1, 19. 16. Freddman, B.; Butterfield, R. O.; Pryde, E.H.; J. Am. Oil Chem. Soc. 1986, 63, 1598. 17. Modi, M. K.; Reddy, J. R. C.; Rao, B. V. S. K.; Prasad, R. B. N.; Biotechnol. Lett. 2006, 28, 637. 18. Tan, T. W.; Nie, K. L.; Wang, F.; Appl. Biochem. Biotechnol. 2006, 128, 109. 19. Rabelo, I. D.; Dissertação de Mestrado, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Brasil, 2001. Quim. Nova, Vol. 30, No. 5, S1, 2007 M at er ia l Su pl em en ta r *e-mail: rmgeris@ufba.br BIODIESEL DE SOJA – REAÇÃO DE TRANSESTERIFICAÇÃO PARA AULAS PRÁTICAS DE QUÍMICA ORGÂNICA Regina Geris*, Nádia Alessandra Carmo dos Santos, Bruno Andrade Amaral, Isabelle de Souza Maia, Vinicius Dourado Castro e José Roque Mota Carvalho Instituto de Química, Universidade Federal da Bahia, Campus de Ondina, Rua Barão de Geremoabo, s/n, 40170-290 Salvador – BA, Brasil Figura 1S. Espectro de RMN 1H do óleo usado em frituras antes da reação de transesterificação (CDCl3, 300 MHz) Figura 2S. Espectro de RMN 1H do biodiesel obtido por transesterificação do óleo usado em fritura (CDCl3, 300 MHz) Estudo da Viabilidade de Microalgas para Produção de Biodiesel.pdf Estudo da Viabilidade de Microalgas para Produção de Biodiesel Francisca Pereira de Araujo¹, Gilvan Moreira da Paz², Yáscara Lopes de Oliveira 3 , Cris Hellany da Paixão Leite 4 1Especialista em Biocombustíveis e Novas Tecnologias Renováveis – IFPI. e-mail: araujofp15@gmail.com ²Professor de Química – IFPI. e-mail: gilvan@ifpi.edu.br 3Especialista em Biocombustíveis e Novas Tecnologias Renováveis – IFPI. e-mail: yascaralopes@gmail.com 4Especialista em Biocombustíveis e Novas Tecnologias Renováveis – IFPI. e-mail: escnitish@yahoo.com.br Resumo: Com a crise do petróleo e a necessidade de fontes alternativas de energia, os biocombustíveis surgem como uma opção que se ajusta ao desenvolvimento sustentável. O biodiesel é um exemplo de biocombustível oriundo de fontes renováveis e seu uso está associado à diminuição da emissão de particulados tóxicos. Para a sua obtenção, frequentemente são empregados óleos como de soja, dendê e mamona, ou ainda oriundo de frituras, no entanto, pesquisas já evidenciaram as potencialidades de microalgas na produção de biocombustível. Este trabalho objetiva uma análise do uso de microalgas para produção de biodiesel bem como a viabilidade do processo. De forma técnica, a produção de biodiesel é viável, no entanto, a viabilidade financeira ainda é discutida, assim o estímulo à produção por meio do financiamento e comercialização do subproduto advindo da biomassa são práticas necessárias para que o biodiesel de microalgas seja atrativo economicamente. Palavras-chave: biodiesel, energias renováveis, microalgas 1. INTRODUÇÃO No cenário mundial, o meio ambiente configura-se como uma das preocupações da atualidade. Segundo Mata et al (2009), a necessidade de fontes alternativas de energia e de práticas ecologicamente corretas, por exemplo, são consequências da crise do petróleo e do agravamento dos desastres ambientais, assim os biocombustíveis surgem como uma opção que se ajusta ao desenvolvimento sustentável. Produzidos a partir de fontes de energia renováveis de forma a contribuir para a redução da emissão de gases nocivos ao ambiente, os biocombustíveis mais comumente utilizados são o biodiesel e bioetanol. Lôbo e Ferreira (2009) e Lourenço et al (2010), definem o biodiesel como uma mistura de alquilésteres de cadeia linear, obtido por meio da reação de transesterificação dos triglicerídeos de óleos e gorduras com alcoóis de cadeia curta e pode ser utilizado puro ou em misturas com o diesel de petróleo em diferentes proporções, além de apresentar uma combustão mais eficiente. Para a obtenção de biodiesel, são empregados vegetais como soja, dendê e mamona, além de outras possibilidades de oleaginosas como milho, girassol, algodão, amendoim e ainda resíduos gordurosos como, por exemplo, óleo usado em frituras. No entanto, Mata et al (2009) e Pequeno et al (2012) abordam as potencialidades de microalgas para a produção de biodiesel por se tratar de uma prática socioeconômica muito promissora. Conforme Mata et al (2009), microalgas são organismos fotossintéticos procariontes (cianobactérias) ou eucariontes (algas verdes) que crescem rapidamente e vivem em condições adversas do meio ambiente devido sua estrutura, estando presentes não apenas em ambientes aquáticos, mas também terrestres, representando uma grande variedade de espécies. Assim, D’oca (2008) et al e Galvão et al (2011) expõem que esses microorganismos produzem corantes, ácidos graxos, polissacarídeos e vitaminas que são de grande interesse para indústrias farmacêuticas, alimentícia, têxtil, entre outras, além da possibilidade de serem utilizados para a produção de biodiesel. Em suma, as microalgas afiguram-se como uma excelente alternativa para a produção de energia dada a elevada taxa de duplicação de biomassa e produção de óleo. Assim, o presente trabalho objetiva uma revisão do uso de microalgas para produção de biodiesel bem como da viabilidade do processo. 2. MICROALGAS PARA PRODUÇÃO DE BIODIESEL 2.1 Informações Gerais De acordo com Chist (2007), as algas compreendem vários grupos de seres vivos aquáticos e autotróficos, ou seja, produzem a energia necessária ao seu metabolismo por meio da fotossíntese, e abrangem dois grandes grupos: macroalgas (maiores e visíveis ao olho nu) e microalgas suporte Textbox ISBN 978-85-62830-10-5nullnullVII CONNEPI©2012nullnull (microrganismos unicelulares desprovidos de raiz, caule e folhas). Na verdade, o termo microalgas não tem valor taxonômico, assim, Brown e Zeiler (1993) e Derner et al (2006) sugerem que sejam seres clorofilados que para o cultivo faz-se necessário apenas a presença de luz solar, água e dióxido de carbono (CO2), além de nutrientes e condições ambientais adequadas para cada espécie. Variadas espécies de microalgas podem ser utilizadas para produção em grande escala de biodiesel, todavia, Cunha et al (2009) e Lourenço et al (2010) explicam que fatores como a velocidade de crescimento e da sua composição química devem ser levados em consideração na escolha de cepas mais adequadas, uma vez que são influenciados pelo meio de cultura utilizado, a idade do cultivo, a intensidade luminosa, a temperatura, a salinidade e o fotoperíodo. Apesar de não existir uma espécie que satisfaça todas as condições exigidas para a obtenção de um óleo de excelente qualidade para produção de biodiesel, Brown e Zeiler (1993) sugerem aplicações de engenharia genética para estimular, por exemplo, o acúmulo de certos lipídeos. Ainda assim, Dantas et al (2010) indica a microalga Scenedesmus subspicatus como uma das espécies em potencial para a produção em larga escala visando a extração de óleo, embora a Chlorella também pareça ser uma boa opção. De acordo com Matos et al (2009), as microalgas também podem assimilar quantidades significaticas de CO2 da atmosfera contribuindo para um balanço favorável do ciclo biogequímico do carbono, além da possibilidade de serem cultivadas em em águas residuais como, por exemplo, efluentes de esgoto doméstico e industrial. Uma das características principais das microalgas visando o biodiesel, além do considerável teor de óleo extraído, é a capacidade de duplicação da biomassa e o menor espaço ocupado para seu cultivo. Pequeno et al (2012) expõem que em comparativo com a oleaginosa mais comumente utilizada para a produção de biodiesel – a soja – o cultivo desses seres vivos não compromete areas de plantios para alimentação humana e não seguem um regime de safra. Sob condições
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