Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
i NUTRIAQUA Nutrição e alimentação de espécies de interesse para a aquicultura brasileira ii EDITORES Débora Machado Fracalossi Laboratório de Nutrição de Espécies Aquícolas Departamento de Aquicultura, Centro de Ciências Agrárias Universidade Federal de Santa Catarina Rodovia Admar Gonzaga, 1346 88034-001 Florianópolis, SC José Eurico Possebon Cyrino Departamento de Zootecnia Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz Universidade de São Paulo Av. Pádua Dias, 11 - Caixa Postal 09 13418-900 Piracicaba, SP iii NUTRIAQUA Nutrição e alimentação de espécies de interesse para a aquicultura brasileira DÉBORA MACHADO FRACALOSSI & JOSÉ EURICO POSSEBON CYRINO Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática Florianópolis – 2012 iv © 2012 dos editores Projeto Gráfico, Diagramação e Capa Rita Motta - editoratribo.blogspot.com Revisão de formatação e citações bibliográficas Jenniffer Silveira Luiz Eduardo Lima de Freitas Maria Fernanda Oliveira da Silva Tatiana Vieira Poletto Impressão Gráfica e Editora Copiart Ltda. N976 Nutriaqua : nutrição e alimentação de espécies de interesse para a aquicultura brasileira / Débora Machado Fracalossi & José Eurico Possebon Cyrino [editores]. – Florianópolis : Sociedade Brasileira de Aquiculura e Biologia Aquática, 2012. xxiii, 375 p. Inclui referências bibliográficas 1. Aquicultura. 2. Peixe – Criação. 3. Peixe – Alimentação e rações. 4. Nutrição. I. Fracalossi, Débora Machado. II. Cyrino, José Eurico Possebon. CDU: 639.3 Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071 vv Dedicamos esta obra aos nossos alunos vii Agradecimentos Ao Ministério da Aquicultura e Pesca pelo finan- ciamento do projeto PLATAFORMA NUTRIAQUA – Base de dados sobre exigências nutricionais de espécies de interesse para a aquicultura brasileira, em especial a Eric Arthur Bastos Routledge, Rodrigo Roubach e Felipe Matias, que acreditaram na ideia da criação da plata- forma. Aos autores dos capítulos, pela boa vontade com que abraçaram a ideia da plataforma e pelo pronto atendimento aos inúmeros questionamentos. Acredi- tamos fortemente que o esforço conjunto dos autores, tanto de diferentes regiões do Brasil, como pertencen- tes a diferentes segmentos – pesquisa e indústria – se constitui em importante diferencial desta obra. Aos alunos Jenniffer Silveira, Luiz Eduardo Lima de Freitas, Maria Fernanda Oliveira da Silva e Tatiana Vieira Poletto, pela força-tarefa na revisão de forma e citações bibliográficas. À Cynthia Pacheco Cobra de Castro, Dariane Schoffen Enke, Maria Fernanda Oliveira da Silva, Tarcila Souza de Castro Silva, Ricardo Basso Zanon e Thyssia Bomfim Araújo da Silva, pela organi- zação e suporte nas oficinas em Florianópolis e Piraci- caba. À Sônia Rejane da Silva, pelo auxílio na gestão fi- nanceira do projeto e tratativas com a editora e gráfica. Débora Machado Fracalossi José Eurico Possebon Cyrino Editores ix Autores Alberto Jorge Pinto Nunes Instituto de Ciências do Mar [LABOMAR] Universidade Federal do Ceará [UFC] Avenida da Abolição, 3207 – Meireles 60165-081 Fortaleza, CE Alexandre Sachsida Garcia Laboratório de Piscicultura Marinha Setor de Ciências Terra, Centro de Estudos do Mar Universidade Federal Paraná [UFPR] Avenida Beira Mar, s/n 83255-000 Pontal Paraná, PR Álvaro José de Almeida Bicudo Laboratório de Pesquisa em Piscicultura [LAPPIS] Unidade Acadêmica de Garanhuns [UAG] Universidade Federal Rural de Pernambuco [UFRPE] Avenida Bom Pastor s/n – UAG-UFRPE 55292-270 Garanhuns, PE Ana Cristina Belarmino de Oliveira Laboratório de Matérias Primas Aquícolas [LAMPAQ] Departamento de Ciências Pesqueiras Faculdade de Ciências Agrárias Universidade Federal do Amazonas [UFAM] Av. Rodrigo Otávio Jordão Ramos, 3000 69.049-680 Manaus, AM Ana Paula Oeda Rodrigues Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecúaria [EMBRAPA] EMBRAPA Pesca e Aquicultura Avenida JK, Quadra 103 Sul, nº 164, Conj. 1, Piso Térreo 77015-012 Palmas, TO Ariovaldo Zani Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Ani- mal [SINDIRAÇÕES] Avenida Paulista, 1313 - 100 andar 01311-923 São Paulo, SP Dalton José Carneiro Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos [LANOA] Centro de Aquicultura Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” [UNESP] Rodovia Prof. Paulo Donato Castellane, km 5 14884-900 Jaboticabal, SP Dariane Beatriz Schoffen Enke Laboratório de Nutrição de Espécies Aquícolas [LABNUTRI] Departamento de Aquicultura Centro de Ciências Agrárias Universidade Federal de Santa Catarina [UFSC] Rodovia SC 406 - km 03, 3532 - Lagoa do Peri 88066-000 Florianópolis, SC Débora Machado Fracalossi Laboratório de Nutrição de Espécies Aquícolas [LABNUTRI] Departamento de Aquicultura Centro de Ciências Agrárias Universidade Federal de Santa Catarina [UFSC] Rodovia Admar Gonzaga, 1346 88034-001 Florianópolis, SC Edma Carvalho de Miranda Laboratório de Enzimologia Aplicada e Análises Bromatológicas [LENAB] Instituto de Química e Biotecnologia [IQB] Universidade Federal de Alagoas [UFAL] Avenida Lourival Melo Mota, s/n – Cidade Universitária 57072900 Maceió, AL Eduardo Gianini Abimorad Pólo Regional do Noroeste Paulista Departamento de Descentralização do Desenvolvimento Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios [APTA] Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo Rod. Péricles Belini, km 121 – Caixa Postal 61 15500-970 Votuporanga, SP x Eduardo Cargnin-Ferreira Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, [IFSC] Campus Garopaba Rod. SC 434, nº 1190 – Campo D’Una 88495-000 Garopaba, SC Elizabeth Romagosa Instituto de Pesca Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios [APTA] Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo Avenida Francisco Matarazzo, 455 – Água Branca 05001-000 São Paulo, SP Elisabete Maria Macedo Viegas Laboratório de Aquicultura Departamento de Zootecnia Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos Universidade de São Paulo [USP] Avenida Duque de Caxias Norte, 225 – Jardim Elite 13635-900 Pirassununga, SP Fábio Bittencourt Centro de Aquicultura da UNESP Universidade Estadual Paulista ”Júlio de Mesquita Filho” [UNESP] Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n 14.870-000 Jaboticabal, SP Felipe de Azevedo Silva Ribeiro Setor de Aquicultura Departamento de Ciências Animais Universidade Federal Rural do Semi-Árido [UFERSA] Av. Francisco Mota, 572 – Costa e Silva 59.625-900 Mossoró, RN Giovanni Vitti Moro Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária [EMBRAPA] EMBRAPA Pesca e Aquicultura Avenida JK, Quadra 103 Sul, nº 164, Conj. 1, Piso Térreo 77015-012 Palmas, TO Janessa Sampaio de Abreu Ribeiro Departamento de Zootecnia e Extensão Rural Faculdade de Agronomia Medicina Veterinária e Zootecnia Universidade Federal de Mato Grosso [UFMT] Av. Fernando Corrêa da Costa, 2367 78060-900 Cuiabá, MT João Radünz Neto Laboratório de Piscicultura Departamento de Zootecnia Centro de Ciências Rurais Universidade Federal de Santa Maria [UFSM] Avenida Roraima, 1000 97105-900 Santa Maria, RS José Eurico Possebon Cyrino Departamento de Zootecnia Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz [ESALQ] Universidade de São Paulo [USP] Av. Pádua Dias, 11 – Caixa Postal 09 13418-900 Piracicaba, SP Juliane Renata Gaiotto Phytobiotics Brasil Av. Dez de Dezembro, 6681 86047-780 Londrina, PR Leandro Portz Universidade Federal do Paraná [UFPR] Campus Palotina Rua Pioneiro, 2.153 – Jardim Dallas 85950-000 Palotina, PR Ligia Uribe Gonçalves Departamento de Zootecnia Escola Superior de Agricultura “Luiz Queiroz” [ESALQ] Universidade de São Paulo [USP] Av. Pádua Dias, 11. Caixa Postal nº 09 13418-900 Piracicaba, SP Luiz Edivaldo Pezzato Laboratório AquaNutri Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” [UNESP] Caixa Postal 560 – Lageado 18618-970 Botucatu, SP Marcelo Vinícius do Carmo e Sá Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos [LANOA] Laboratório de Ciência e Tecnologia Aquícola [LCTA] Departamento de Engenharia de Pesca Centro de Ciências Agrárias Universidade Federal do Ceará [UFC] Av. Mister Hull, 2977, bloco 827 60021-970 Fortaleza, CE Margarida Maria Barros Laboratório AquaNutri Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” [UNESP] Caixa Postal 560 – Lageado 18618-970 Botucatu, SP xi Maria Célia Portella Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária Centro de Aquicultura Universidade Estadual Paulista ”Júlio de Mesquita Filho” [UNESP] Via Prof. Paulo Donato Castellane s/n 14884-900 Jaboticabal, SP Maria do Carmo Gominho Rosa Grupo de Pesquisa em Recursos Pesqueiros e Limnologia [GERPEL] Centro de Engenharias e Ciências Exatas Universidade Estadual do Oeste do Paraná [UNIOESTE] Rua da Faculdade, 645 85903-000 Toledo, PR Maude Regina de Borba Universidade Federal da Fronteira Sul [UFFS ] Campus Laranjeiras do Sul Avenida Oscar Pereira Guedes, 01 – Vila Albert 85303-820 Laranjeiras do Sul, PR Natalia de Jesus Leitão Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos [LANOA] Centro de Aquicultura Universidade Estadual Paulista ”Júlio de Mesquita Filho” [UNESP] Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n 14884-900 Jaboticabal, SP Ricardo Franklin de Mello Evialis do Brasil Nutrição Animal Indústria e Comércio Ltda. Rua João Augusto Cirelli, 274 – Bairro Tamanduá 13690-000 Descalvado, SP Rodrigo Roubach Coordenação-Geral de Pesquisa e Geração de Novas Tecnologias da Pesca e Aquicultura Ministério da Pesca e Aquicultura [MPA] SBS, Quadra 02, Lote 10, Edifício Carlton Tower, 10° andar 70070-120 Brasília, DF Rodrigo Takata Laboratório de Aquicultura Escola de Veterinária Universidade Federal de Minas Gerais [UFMG] Av. Antônio Carlos, 6627 31270-901 Belo Horizonte, MG Ronaldo Olivera Cavalli Laboratório de Piscicultura Marinha [LPM] Departamento de Pesca e Aquicultura Universidade Federal Rural de Pernambuco [UFRPE] Av. Dom Manoel Medeiros, s/n – Dois Irmãos 52171-900 Recife, PE Roselany de Oliveira Corrêa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecúaria [EMBRAPA] EMBRAPA Amazônia Oriental Piscicultura Trav. Dr. Enéas Pinheiro, s/n – Marco 66095-100 Belém, PA Silvia Cristina Gibello Pastore JobNutrire Consultoria Empresarial Ltda. Rua Manoel Soares da Rocha, 334 – Barão Geraldo 13.085-055 Campinas, SP Taís da Silva Lopes Centro de Aquicultura Universidade Estadual Paulista ”Júlio de Mesquita Filho” [UNESP] Via Prof. Paulo Donato Castellane s/n 14884-900 Jaboticabal, SP Tarcila Souza de Castro Silva Departamento de Zootecnia Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” [ESALQ] Universidade de São Paulo [USP] Avenida Pádua Dias, 11 13418-900 Piracicaba, SP Wilson Massamitu Furuya Departamento Zootecnia, Centro de Ciências Agrárias e de Tecnologia Universidade Estadual de Ponta Grossa [UEPG] Campus Uvaranas Avenida Carlos Cavalcanti, 4748 84030-900 Ponta Grossa, PR Wilson Rogério Boscolo Grupo de Estudos de Manejo na Aquicultura [GEMAq] Curso de Engenharia de Pesca Centro de Engenharias e Ciências Exatas Universidade Estadual do Oeste do Paraná [UNIOESTE] Rua da Faculdade, 645 – Jardim La Salle 85903-000 Toledo, PR xiii Prefácio O Ministério da Pesca e Aquicultura [MPA] tem en- tre seus objetivos, fomentar e apoiar a geração de co- nhecimento e o desenvolvimento de tecnologias para dar suporte ao setor produtivo pesqueiro e aquícola. Foi com esse intuito que o MPA apoiou esta iniciativa da Plataforma NutriAqua, liderada pela Dra. Débora Ma- chado Fracalossi, da Universidade Federal de Santa Ca- tarina [UFSC], e pelo Dr. José Eurico Possebon Cyrino, da Universidade de São Paulo [USP], a qual resultou nesta obra, que tenho o privilégio de apresentar. O livro tra- duz o resultado do trabalho de diversos pesquisadores de universidades e instituições de pesquisa, além de representantes da indústria de rações e do próprio MPA. Assim, foi desenvolvido um banco de dados digital que sistematizou as informações sobre as exigências nutri- cionais para as principais espécies de peixes produzidos no Brasil, agora disponível para produtores, pesquisa- dores e demais usuários. São também apresentadas ta- belas de composição de ingredientes comumente utili- zados em rações, e outras informações sobre nutrição e alimentação. Finalmente, contribui para o apontamento de lacunas e orienta sobre as prioridades de pesquisas futuras. Parabéns aos autores. O Brasil, por esta obra de inestimável valor, agradece. Marcelo Bezerra Crivella Ministro de Estado da Pesca e Aquicultura xv Apresentação Esta obra representa o esforço conjunto de qua- renta profissionais que atuam na nutrição de peixes, tanto na academia, institutos de pesquisa e indústrias de produção de ração e aditivos para compilar os avan- ços recentes na área e, particularmente, as exigências nutricionais e práticas de alimentação de algumas espé- cies aquícolas criadas no Brasil. O livro inicia com uma perspectiva histórica so- bre a aquicultura e nutrição de peixes no Brasil e segue com uma descrição interessante sobre morfologia e fisiologia do sistema digestório, com ênfase especial em espécies brasileiras. O capítulo sobre metodologia em estudos de nutrição de peixes padroniza técnicas e fornece diretrizes para pesquisadores iniciantes e ini- ciados. Seguem revisões sobre exigências nutricionais e utilização de macro e micro nutrientes em dietas para peixes, incluindo estudos realizados no Brasil e no ex- terior, bem como sobre fases de desenvolvimento com exigências especiais, como a larvicultura e reprodução. As exigências nutricionais e manejo alimentar do pacu, tambaqui, jundiá, tilápia-do-Nilo e beijupirá foram com- piladas nos capítulos seguintes por especialistas em nu- trição destas espécies, assim como a digestibilidade dos nutrientes e energia em ingredientes. Os avanços na nutrição de peixes carnívoros de água doce, com ênfase para as espécies brasileiras, são discutidos no capítulo seguinte. A formulação e boas práticas de fabricação de rações são amplamente discutidas na sequência, incluindo detalhamento sobre processamento de ra- ções e descrição dos principais ingredientes emprega- dos. Por fim, um capítulo sumariza a legislação brasileira que rege a produção de rações e outro reúne a compo- sição centesimal dos principais ingredientes utilizados no fabrico de ração para peixes no Brasil. Na compilação das exigências nutricionais das es- pécies aquícolas criadas no Brasil, com exceção da tilá- pia, fica evidente a necessidade de direcionar esforços para estabelecer níveis mínimos de proteína e energia, bem como de aminoácidos para as diferentes fases de desenvolvimento. Para as espécies carnívoras, como os surubins e o pirarucu, as lacunas são ainda maiores. Apesar disso, a produção de carnívoros de água doce, principalmente de surubins, cresce a cada ano. A nutrição e alimentação adequada são os pilares da lucratividade e sustentabilidade de um empreen- dimento aquícola. À medida que a produção aquícola brasileira aumentar, também aumentará a necessidade de uma maior eficiência no aporte de nutrientes, a qual resultará em menores perdas destes para o ambiente e maior crescimento. Com a iniciativa pioneira desta publicação, objetiva-se contribuir na preparação dos técnicos, pesquisadores e estudantes para enfrentar os grandes desafios da aquicultura, atividade emergente no agronegócio, na qual o Brasil tem atributos de sobra para se tornar um dos maiores produtores mundiais. Os editores xvii Sumário 1 A PESQUISA EM NUTRIÇÃO DE PEIXES E O DESENVOLVIMENTO DA AQUICULTURA NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA 1 José Eurico Possebon Cyrino e Débora Machado Fracalossi Referências bibliográficas, 5 2 MORFOLOGIA E FISIOLOGIA DO SISTEMA DIGESTÓRIO DE PEIXES 9 Ligia Uribe Gonçalves, Ana Paula Oeda Rodrigues, Giovanni Vitti Moro, Eduardo Cargnin-Ferreira e José Eurico Possebon Cyrino Introdução, 9 Estrutura do trato digestório, 9 Órgãos sensoriais, 10 Olfato, 10 Paladar, 11 Órgãos de apreensão, 11 Boca, 12 Dentes, 12 Rastros branquiais, 13 Esôfago, 13 Órgãos digestórios, 14 Estômago, 14 Cecos pilóricos e válvula espiral, 17 Intestino, 18 Fígado, 20 Vesícula biliar, 21 Pâncreas, 21 Plasticidade e histopatologia do trato digestório em resposta à dieta, 22 Microbiota gastrointestinal, 23 Processo de digestão, 24 Físico, 24 Químico e enzimático, 24 Absorção, 28 Controle hormonal da digestão, 28 Plasticidade enzimática, 29 Considerações finais, 30 Agradecimentos, 31 Referências bibliográficas, 31 3 TÉCNICAS EXPERIMENTAIS EM NUTRIÇÃO DE PEIXES 37 Débora Machado Fracalossi, Ana Paula Oeda Rodrigues, Tarcila Souza de Castro Silva e José Eurico Possebon Cyrino Introdução, 37 Desenho experimental e análise estatística, 37 xviii Planejamento, 37 Metodologia e coleta de dados, 42 Análise estatística dos dados e interpretação dos resultados, 42 Dietas experimentais, 46 Manejo alimentar, 49 Material biológico e condições experimentais, 50 Variáveis-resposta, 50 Desempenho, 50 Outras variáveis, 52 Tipos de experimentos, 53 Determinação de exigências nutricionais, 53 Avaliação de alimentos, 54 Ensaios de digestibilidade, 55 Ensaios de substituição de ingredientes, 58 Experimentos de laboratório versus experimentos a campo, 58 Considerações finais, 59 Agradecimentos, 59 Referências bibliográficas, 59 4 ENERGIA, PROTEÍNA E AMINOÁCIDOS 65 Leandro Portz e Wilson Massamitu Furuya Introdução, 65 Energia na nutrição de peixes, 65 Balanço energético-proteico na dieta dos peixes, 66 Retenção e acúmulo de energia em peixes, 67 Proteína e aminoácidos na nutrição de peixes, 68 Quantificação da proteína e aminoácidos para peixes, 68 Fontes alimentares proteicas para peixes, 69 Importância da digestibilidade da proteína e aminoácidos para peixes, 71 Fatores que afetam as exigências em proteínas e aminoácidos para peixes, 71 Conceito de proteína ideal para peixes, 72 Considerações finais, 74 Referências bibliográficas, 74 5 LIPÍDIOS 79 Alexandre Sachsida Garcia, Ligia Uribe Gonçalves, Ronaldo Olivera Cavalli e Elisabete Maria Macedo Viegas Introdução, 79 Definição das principais classes de lipídios presentes no meio aquático, 80 Ácidos graxos, 80 Triglicerídeos, 82 Fosfolipídios, 83 Esteróis, 83 Ésteres de cera, 83 Principais funções dos lipídios nos peixes, 84 Produção de energia, 84 Função estrutural nas membranas celulares, 84 Precursores de hormônios e outras moléculas bioativas, 85 Os lipídios no meio aquático, 86 Níveis ótimos de lipídios em dietas para peixes, 89 Exigência nutricional de fosfolipídios para larvas e juvenis de peixes, 89 Exigência nutricional de ácidos graxos essenciais para peixes, 90 Considerações finais, 95 Referências bibliográficas, 95 xix 6 CARBOIDRATOS E FIBRA 101 Débora Machado Fracalossi, Ana Paula Oeda Rodrigues e Maria do Carmo Gominho Rosa Introdução, 101 Caracterização dos carboidratos nos ingredientes de origem vegetal, 101 Os carboidratos na nutrição de peixes, 103 Morfologia intestinal e digestão de carboidratos, 105 Absorção e transporte de glicose: comparação entre peixes e mamíferos, 106 Metabolismo de carboidratos em peixes, 107 Fibra alimentar, 109 Efeitos fisiológicos em animais monogástricos, 110 Fibra alimentar na nutrição de peixes, 112 Considerações finais, 114 Agradecimentos, 114 Referências bibliográficas, 114 7 VITAMINAS E MINERAIS 121 Maude Regina de Borba, Janessa Abreu e Marcelo Vinícius do Carmo e Sá Vitaminas, 121 Introdução, 121 Vitaminas lipossolúveis, 123 Vitamina A, 123 Vitamina D, 125 Vitamina E, 128 Vitamina K, 130 Vitaminas hidrossolúveis, 132 Tiamina – B1, 132 Riboflavina – B2, 132 Niacina, 132 Ácido Pantotênico, 133 Piridoxina – B6, 133 Biotina, 134 Ácido Fólico, 134 Cianocobalamina – B12, 135 Colina, 135 Mioinositol, 137 Vitamina C, 138 Minerais, 141 Introdução, 141 Cálcio e fósforo, 142 Magnésio, 147 Sódio, cloro e potássio, 147 Ferro, 148 Cobre, 149 Zinco, 151 Manganês, 153 Selênio, 153 Iodo, 154 Referências bibliográficas, 154 8 NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE REPRODUTORES 167 Elizabeth Romagosa, Fábio Bittencourt e Wilson Rogério Boscolo Introdução, 167 A utilização dos nutrientes pelos reprodutores, 169 Proteínas, 169 Lipídios, 171 xx Fêmeas, 172 Machos, 173 Fêmeas e Machos, 173 Carboidratos, 173 Fêmeas, 174 Vitaminas, 174 Probióticos, 175 Restrição alimentar, 175 Qualidade do ovo , 176 Determinação da qualidade do ovo, 176 Aspectos práticos, 176 Parâmetros morfológicos, 176 Aparência do ovo, 176 Gravidade do ovo, 176 Tamanho do ovo, 177 Taxa de fertilização, 177 Morfologia dos blastômeros, 178 Taxas de eclosão, 178 Parâmetros bioquímicos e hormonais, 178 Ferramentas moleculares, 179 Considerações finais, 179 Referências bibliográficas, 179 9 ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE LARVAS 185 Maria Célia Portella, Natalia de Jesus Leitão, Rodrigo Takata e Taís da Silva Lopes Introdução, 185 Caracterização do período larval e terminologias, 185 Nutrição endógena e absorção do vitelo, 187 Desenvolvimento dos principais sistemas orgânicos relacionados à alimentação, 187 Alimentação exógena: alimento vivo, dietas formuladas e transição alimentar, 190 Importância do alimento vivo como alimento inicial, 190 Dietas formuladas para larvas de peixes, 191 Transição alimentar do alimento vivo para o alimento sólido, 194 Técnicas e sistemas de cultivo para larvicultura, 195 Metodologias para determinação das exigências nutricionais e parâmetros de avaliação do desenvolvimento larval, 196 Estudos sobre lipídios para larvas de peixes, 199 Estudos sobre fontes proteicas para larvas de peixes: proteínas, aminoácidos, peptídeos e hidrolisados, 200 O papel das vitaminas na nutrição de larvas de peixes, 204 Considerações finais, 207 Agradecimentos, 208 Referências bibliográficas, 208 10 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E ALIMENTAÇÃO DO PACU 217 Álvaro José de Almeida Bicudo, Eduardo Giannini Abimorad e Dalton José Carneiro Introdução, 217 Exigências nutricionais, 217 Proteína e aminoácidos, 217 Lipídios e ácidos graxos, 218 Carboidratos, 219 Vitaminas e minerais, 220 Digestibilidade de ingredientes, 220 Dietas práticas, 223 Larvas, 223 Juvenis, 223 Ingredientes não convencionais, 225 xxi Práticas de alimentação, 225 Considerações finais, 226 Referências bibliográficas, 226 11 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E ALIMENTAÇÃO DO TAMBAQUI 231 Ana Cristina Belarmino de Oliveira, Edma Miranda e Roselany Correa Introdução, 231 O ambiente de cultivo, 231 Sistemas de produção, 232 Exigências Nutricionais, 232 Proteína e aminoácidos, 232 Ácidos graxos, 234 Carboidratos, 235 Vitaminas e minerais, 236 Práticas alimentares, 237 Valor nutricional dos ingredientes, 237 Considerações finais, 238 Referências bibliográficas, 238 12 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E ALIMENTAÇÃO DO JUNDIÁ 241 João Radünz Neto e Maude Regina de Borba Introdução, 241 Exigências Nutricionais, 241 Proteína, energia e aminoácidos, 241 Lipídios e ácidos graxos, 244 Carboidratos, 245 Vitaminas e minerais, 246 Dietas práticas, 248 Dietas para larvas, 248 Dietas para juvenis e engorda, 249 Dietas para reprodutores, 249 Ingredientes práticos e digestibilidade, 250 Práticas de alimentação, 250 Considerações finais, 251 Referências bibliográficas, 251 13 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E ALIMENTAÇÃO DA TILÁPIA 255 Wilson Massamitu Furuya, Luiz Edivaldo Pezzato, Margarida Maria Barros e José Eurico Possebon Cyrino Introdução, 255 Exigências em energia, 256 Exigências em proteína e aminoácidos, 256 Exigências em lipídios e ácidos graxos, 257 Exigências em minerais e vitaminas, 258 Valor nutritivo dos alimentos para as tilápias, 259 Digestibilidade dos aminoácidos dos alimentos para as tilápias, 262 Informações tabulares sobre a alimentação e nutrição de tilápias, 264 Considerações finais, 264 Agradecimento, 265 Referências bibliográficas, 265 14 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS E ALIMENTAÇÃO DO BEIJUPIRÁ 269 Ronaldo Olivera Cavalli e Alexandre Sachsida Garcia Introdução, 269 Exigências nutricionais, 270 xxii Proteína e aminoácidos, 270 Relação proteína:energia, 271 Lipídios, 271 Carboidratos, 272 Vitaminas e minerais, 273 Digestibilidade de ingredientes, 273 Dietas práticas, 275 Dietas para reprodutores, 275 Dietas para larvas, 276 Dietas para as fases de berçário e engorda, 277 Práticas de alimentação, 277 Considerações finais, 279 Referências bibliográficas, 279 15 AVANÇOS NA ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO DE PEIXES CARNÍVOROS DE ÁGUA DOCE 283 José Eurico Possebon Cyrino, Rodrigo Roubach e Débora Machado Fracalossi Introdução, 283 Os surubins pintado e cachara, 284 Dourado, 285 Pirarucu, 288 Outras espécies, 289 Considerações finais, 289 Agradecimentos, 289 Referências bibliográficas, 290 16 BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO E FORMULAÇÃO DE RAÇÕES PARA PEIXES 295 Silvia Cristina Gibello Pastore, Juliane Renata Gaiotto, Felipe de Azevedo Silva Ribeiro e Alberto Jorge Pinto Nunes Introdução, 295 Formulação de rações, 296 Principais ingredientes, 296 Macro e microingredientes, 296 Principais fontes proteicas obtidas de animais terrestres, 297 Farinha de sangue, 297 Farinha de penas hidrolisada, 298 Farinha de vísceras de aves, 298 Farinha de carne e farinha de carne e ossos, 299 Principais fontes proteicas obtidas de animais aquáticos, 299 Farinha de peixes, 299 Principais fontes proteicas obtidas de plantas terrestres, 301 Farelo de soja, 301 Farelo de girassol, 302 Farelo de algodão, 302 Glúten de milho, 302 Principais fontes energéticas (carboidratos e óleos), 302 Milho, 302 Arroz, 303 Trigo, 303 Principais fontes lipídicas (ácidos graxos essenciais e fosfolipídios), 303 Lecitina de soja, 304 Óleo de soja, 304 Óleo de peixe, 304 Suplementos e pré-misturas vitamínicas e minerais, 304 Aditivos para promover a atratividade e palatabilidade, 307 Preservantes e conservantes, 307 Hidroestabilizantes, 308 Aminoácidos sintéticos, 308 xxiii Imunoestimulantes, 309 A escolha de ingredientes para a formulação e processamento de rações, 310 Questões de natureza física e nutricional, 310 Questões de ordem econômica e de disponibilidade, 310 Questões de ordem legal e sanitária, 310 Fatores importantes na determinação dos níveis de inclusão de ingredientes e perfil nutricional da fórmula, 311 Aspectos alimentares e digestivos da espécie, 312 Fase de desenvolvimento e exigências nutricionais, 312 Dietas experimentais versus dietas práticas, 312 Aspectos relativos ao sistema de produção e nível de intensificação, 312 Métodos de formulação, 314 Métodos simples de formulação, 314 Programação linear, 317 Método simplex, 317 Construção de planilha para formulação de custo mínimo, 318 Boas práticas de fabricação, 325 Processos industriais de produção de rações para peixes, 325 Seleção e compra de matérias-primas, 327 Recepção e armazenagem de matérias-primas, 328 Moagem, 329 Pesagem e mistura, 331 Mistura de microingredientes, 332 Extrusão, 332 Peletização, 333 Secagem e resfriamento, 335 Adição de óleo, 336 Peneiramento, 336 Ensaque e armazenamento, 336 Controle de qualidade de matérias-primas, 336 Padrões de qualidade dos ingredientes e análises recomendadas, 336 Determinação do grau de rancidez, 337 Índice de peróxido, 337 Acidez, 337 Determinação do grau de deterioração da proteína, 337 Determinação de contaminantes, 337 Umidade, 337 Granulometria, 337 Micotoxinas, 338 Classificação de grãos, 338 Análise microbiológica, 338 Qualidade da proteína, 338 Atividade ureática, 338 Cor e odor, 338 Amostragem e inspeção preliminar de ingredientes, 338 Amostragem de matéria-prima ensacada, 338 Matéria-prima a granel, 338 Premix, vitaminas, aminoácidos, antifúngicos, antioxidantes, enzimas e adsorventes de micotoxinas, 339 Matérias-primas líquidas, 339 Avaliação das amostras, 339 Monitoramento da qualidade da matéria-prima no armazenamento, 339 Grãos, 340 Granel, 340 Ensacados, 340 Líquidos, 340 xxiv Premixes e aditivos, 340 Métodos para avaliações químicas do ingrediente, 340 Pontos críticos de controle de processo de fabricação, 340 Controle de qualidade de rações, 342 Balanceamento nutricional, 342 Características físicas, 342 Contaminantes, 342 Qualidade da ração na fazenda, 343 Referências bibliográficas, 343 17 LEGISLAÇÃO TÉCNICA NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS PARA ORGANISMOS AQUÁTICOS 347 Ariovaldo Zani e Ricardo Franklin de Mello 18 TABELAS DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS 353 Dariane Beatriz Schoffen Enke, José Eurico Possebon Cyrino e Débora Machado Fracalossi NOMES COMUNS E CIENTÍFICOS DAS ESPÉCIES CITADAS 357 RESUMOS BIOGRÁFICOS DOS AUTORES 359 ÍNDICE REMISSIVO 369 1 1 A Pesquisa em Nutrição de Peixes e o Desenvolvimento da Aquicultura no Brasil: uma Perspectiva Histórica JOSÉ EURICO POSSEBON CYRINO DÉBORA MACHADO FRACALOSSI O Brasil é um país de grandes contrastes, desde os ricos, industrializados e densamente povoados estados das regiões sul e sudeste até as áreas empobrecidas da região Nordeste e escassamente povoadas da bacia do rio Amazonas, ou seja, região Norte. O Brasil possui a quinta maior extensão territorial do planeta (8,5 x 106 km2) e é a sexta maior economia mundial, um impor- tante produtor e o maior exportador de açúcar, etanol, carne bovina, carne de frango, café, suco de laranja e ta- baco; o Brasil ocupa a segunda posição entre os maiores produtores de soja do mundo. Embora 85% do território brasileiro esteja localiza- do em zona de clima tropical, muito favorável à produção aquícola, concentre 12% das reservas do planeta de água doce e seja banhado por 8.000 km de litoral, o consumo médio per capita de pescado gira ao redor de 6 kg ano-1, bem abaixo das recomendações de programas de saúde e nutrição da Organização das Nações Unidas para Ali- mentação e Agricultura [FAO-UN] (http://www.fao.org) e da Organização Mundial de Saúde das Nações Unidas [OMS-UN] (http://www.who.int). A produção pesqueira total do Brasil por captura (81,4%) e aquicultura (18,6%) equivale a meras 2,58 x 106 t (FAO, 2012), número bem modesto para garantir segurança alimentar a uma po- pulação de cerca de 200 x 106 habitantes. Este é só mais um dos fatores que faz com que a população brasileira seja considerada subnutrida. De qualquer forma, a pro- dução pesqueira por captura está em patamar cons- tante há mais de uma década, enquanto a produção da aquicultura brasileira aumentou significativamente, fa- tos destacados inclusive na análise mundial da ativida- de pela mesma FAO (2012). Isto remete a um raciocínio simples: aumentar a oferta de pescado no país depende do aumento da produção da aquicultura nacional, in- cluída a piscicultura. A viabilidade da piscicultura depende da disponi- bilidade de espécies adaptadas ou adaptáveis aos sis- temas de produção. O número de espécies de peixes, nativos e exóticos, disponíveis e já em uso ou poten- cialmente explorável para piscicultura de água doce no território brasileiro é mais possivelmente um pro- blema que uma solução. Borghetti e Ostrensky (2002) e Ostrensky et al. (2000) já listavam 48 espécies nativas sendo utilizadas na piscicultura interior no país. Esta é uma gota no oceano: as espécies de peixes de água doce listadas somente em, por exemplo, Britski et al. (1984, 2007), Ferreira et al. (1998), Santos et al. (1984), Silvano et al. (2001) e Zaniboni Filho et al. (2004), obras de autores brasileiros que tratam da identificação e ca- talogação de peixes endêmicos da fauna brasileira para ecótonos representativos da diversidade de ambientes mas de área geográfica muito restrita, totalizam 767 es- pécies. Um parâmetro balizador desta riqueza faunísti- ca é o conhecimento compartilhado de que a fauna de peixes descrita para todo o continente europeu totaliza 522 espécies de peixes. Este é um cenário de sonhos para os administradores e tomadores de decisão nas esferas político-governamentais: um mercado muito pouco explorado para os produtos da pesca e recursos abundantes disponíveis para o desenvolvimento do sector aquícola. Novas espécies para a piscicultura são ponderadas dessa fauna de peixes extremamente diversificada qua- se que diariamente. Esta situação coloca uma pergunta simples, mas inquietante: como a indústria da alimen- tação de organismos aquáticos pode ou poderia suprir os piscicultores com dietas espécie-específicas, quando ainda não se conhecem as exigências nutricionais para a maioria das espécies utilizadas ou potencialmen- te utilizáveis na piscicultura? Por essa razão, espécies NUTRIAQUA2 exóticas cosmopolitas e tradicionalmente utilizadas na aquicultura por muito tempo representaram o maior volume da produção da piscicultura no Brasil; entretan- to, a partir da explosão da indústria da pesca esportiva ao final da década de 1990 (Esteves e Sant’Anna, 2006; Venturieri, 2003), as espécies nativas começaram a ocu- par posição de destaque. A indústria de alimentação aquática reagiu, fornecendo aos piscicultores dietas for- muladas para espécies agrupadas por hábito alimentar, independentemente de suas necessidades específicas. Entretanto, as espécies variam no seu hábito alimentar e exigências nutricionais e, deste modo, respondem di- ferentemente a dietas genéricas para um mesmo hábito alimentar, apresentando desempenho desuniforme. No entanto, não importa quão adequadas sejam as condições geográficas, os recursos genéticos dis- poníveis, a eficiência da reprodução e instalações ou, ainda, quão inteligentes e bem pensados sejam os sis- temas e estratégias de produção, se os animais aquáti- cos confinados em um sistema de produção não forem alimentados e nutridos adequadamente, a viabilidade de qualquer sistema de aquicultura fica comprometida. Nutrição e alimentação sempre será o principal gargalo da aquicultura mundial, considerando a alta fração que a ração ocupa dentro do custo de produção. O primeiro relatório sobre a piscicultura no Brasil que possivelmente se tenha notícias é “Moreira, C. 1921. A Piscicultura no Brasil. Rio de Janeiro”. Essa é toda a in- formação que consta na capa da brochura, do ‘folheto’; nenhuma filiação institucional do autor, nenhuma men- ção a editora ou entidade de patrocinadora, nada enfim. Não obstante, Moreira (1921) relata as suas provações e tribulações com a propagação artificial de Characifor- mes nativos, a saber (sic), o dourado Salminus brasiliensis (née Salminus brevidens Cuvier), a traíra Hoplias malabaricus, e a piabanha Brycon insignis (née Megalobrycon piabanha). Aparentemente os pioneiros da piscicultora no país tinham um grande interesse no desenvolvimento da aquicultura baseada em espécies nativas. No entanto, a carpa comum, Cyprinus carpio carpio, já havia sido introduzido no Brasil em 1882 (Tamassia et al., 2004), fato que não causa qualquer surpresa. Ci- prinídeos em geral - a carpa comum como regra - po- dem muito bem ter sido os primeiros peixes a serem introduzidos em qualquer lugar, em todo lugar. Sendo a carpa comum a primeira espécie de peixe considerada domesticada (Bilio, 2007), as chances são de que tenha sido introduzida no Brasil para fins de piscicultura. Re- conhecer a introdução da carpa comum, bem como o ano de 1882, como o nascimento da aquicultura do Brasil, é uma inferência segura. Houve uma reação negativa e tardia à introdução da carpa comum no país. Menezes (1982), por exemplo, escreveu um relatório bastante acrimonioso intitulado “A carpa: um peixe-flagelo que deve e precisa ser com- batido”, veiculado sine die numa compilação de obras do Departamento Nacional de Obras Contra Secas [DNOCS], Publicação No. 171, Série IC, em que afirmava que a criação de carpas havia sido proibida nos EUA e o Brasil deveria seguir o exemplo. No entanto, há uma grande contradição nesta ‘declaração’ de Menezes. O Folheto de Pesca 34 (‘Fishery Leaflet 34’), divulgado em julho de 1943 pelo ‘United States Department of the In- terior, Fish and Wildlife Service’ (Serviço de Biologia Pes- queira e Fauna do Departamento do Interior dos Estados Unidos da América), é intitulado: “Alimento é uma arma de guerra! Um manual para demonstrar a culinária da carpa”. Um recurso natural é um recurso natural, uma fonte de ali- mento é uma fonte de alimento. Negligenciar fontes de ali- mento é ignorar o conceito de sustentabilidade, compro- metendo a sobrevivência da raça humana. De qualquer forma, de volta à década de 1920. Como resultado de uma extensa pesquisa sobre a fi- siologia dos Characiformes migradores do rio Mogi-Guaçu em Cachoeira de Emas, SP, no final dos anos 1920, talvez seguindo o exemplo não celebrado de Moreira (1921), Rodolfo von Ihering e Pedro de Azevedo, zoólogos pro- eminentes, publicaram um artigo sobre a desova e a hipofisação dos peixes (von Ihering e Azevedo, 1936). Uma versão resumida deste artigo publicado no exte- rior (von Ihering, 1937) é, supostamente, a contribuição mais importante do Brasil para a aquicultura mundial, tendo chamado a atenção e desencadeado o estudo e o desenvolvimento das técnicas de reprodução induzida dos peixes migradores em todo o mundo. A história que se segue é de conhecimento comum. Um estudo mais abrangente foi publicado pelo grupo de pesquisa de von Ihering (Azevedo e Canale, 1938), mas foi limitado à circulação nacional. Àquela época os tomadores de decisão e os ad- ministradores de pesquisa já entendiam o potencial do Nordeste brasileiro para a aquicultura. Entenderam também o potencial e as possibilidades que se descor- tinariam se von Ihering e seu grupo de pesquisa fossem deslocados para aquela região para o desenvolvimento da piscicultura local, e assim foi feito; von Ihering criou e passou a dirigir a comissão de Técnica de Piscicultura do Nordeste [CTPN], que realizou estudos abrangentes so- bre a limnologia e biologia das espécies nativas da Bacia Hidrográfica do Nordeste, dando origem à publicação de vários trabalhos mais tarde compilados (1981-1982) pelo DNOCS opus citatum. Foram produzidos vários relatórios de pesquisa sobre a produção de peixes de água doce regionais a partir da fertilização e adição de subprodutos regionais e ração avícola aos tanques e vi- veiros para melhorar a produção de peixes. A aplicação prática dos resultados destes estudos permitia manter e alimentar peixes em confinamento, mas só a pesquisa sobre nutrição de peixes poderia fomentar a piscicultu- ra como o agronegócio. Entretanto, foi somente cerca de trinta anos depois da instalação da CTPN, em 1971, que o DNOCS iniciou 3A PESQUISA EM NUTRIÇÃO DE PEIXES E O DESENVOLVIMENTO DA AQUICULTURA NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA estudos sobre nutrição de peixes. Paiva et al. (1971) es- tabeleceram diretrizes bastante abrangentes para pro- dução de rações e lançaram um chamado à indústria para estimular o processamento, a popularização e a comercialização de rações para peixes. Entretanto, em função das limitações do modesto parque industrial e da agricultura regionais à época, refletida na escassez local de ingredientes para a formulação e processamen- to de rações, a iniciativa não teve sucesso. A primeira espécie de tilápia a ser introduzida no Brasil foi a ‘redbelly tilapia’, Tilapia rendalli, em São Paulo, por volta de 1953 (Azevedo, 1955). As tilápias-do-Nilo (Oreochromis niloticus) e de Zanzibar (O. urolepis hornorum) foram introduzidas no Nordeste do Brasil no início dos anos 1970, resultado de um acordo de pesquisa e de- senvolvimento entre o DNOCS e a Universidade de Au- burn, através da ‘The United States Agency for Interna- tional Development’ [USAID] (Agência Norte Americana para o Desenvolvimento Internacional) (Lovshin et al., 1976). Tilápias podem ser produzidas a partir de práticas de fertilização dos tanques e alimentação suplementar, mas a viabilidade da tilapicultura é muito maior quando a espécie é produzida em sistemas intensivos a partir de alimentos completos, extrudados e altamente digestí- veis. Possivelmente como reflexo da iniciativa infrutífera de Paiva et al. (1971), não há um único artigo sobre e ali- mentação de tilápias e espécies nativas originados dos projetos realizados sob os termos do referido acordo de pesquisa e desenvolvimento (vide Jeffrey, 1972; Jensen, 1974; Lovshin et al., 1974a, b, 1980;. Lovshin, 1975). A tilápia vermelha da Flórida e a linhagem Chitralada da tilápia-do-Nilo, de origem tailandesa, próprias para a tilapicultura em regime intensivo, aportaram no Brasil respectivamente em meados de 1980 e 1990 (Lovshin, 2000), como resposta ao desenvolvimento do parque industrial da indústria de rações para peixes e da ofer- ta de alimentos completos, altamente processados no mercado. A conexão entre o desenvolvimento da ciência da nutrição e da indústria da nutrição de peixes também pode ser feita pela análise do fato narrado a seguir. Na conferência FAO/CARPAS sobre a aquicultura na Améri- ca Latina (Montevideo, Uruguai, de 26 de novembro a 02 de dezembro de 1974), o Brasil foi representado por pes- quisadores das regiões Sudeste e Sul (e.g., S. Akaboshi, A. Bastos, N. Castagnolli, H. Nomura, H. Stempniewsky, en- tre outros), que apresentaram um número considerável de trabalhos independentes sobre biologia de peixes, além de um relatório (Anônimo, 1974) sobre o estado da arte da aquicultura brasileira. Em 1976, na Conferên- cia Técnica da FAO sobre Aquicultura em Kyoto, Japão - cujos anais foram transformados em livro clássico de aquicultura (Pillay e Dill, 1979) - um trabalho de autores brasileiros (Machado e Castagnolli, 1979) apresentava, aparentemente pela primeira vez, os esforços de pes- quisadores brasileiros na identificação de uma espécie neotropical nativa, Rhamdia quelen (née Rhamdia hilarii) como modelo para o desenvolvimento da piscicultura interior no país. Entretanto, o trabalho não contemplava aspectos da nutrição da espécie. Salienta-se, porém que o marco inaugural dos estudos e do desenvolvimento em nutrição de peixes (e produção) de peixes no Brasil, já tinha acontecido quando o livro sobre os avanços da Aquicultura resultante da conferência de Kyoto foi pu- blicado. Este marco foi o XI Congresso Internacional de Nutrição, no Rio de Janeiro, em 1978. Artigos de revisão apresentados por conhecidos pesquisadores de nutrição de peixes presentes na sessão homônima daquele evento foram traduzidos, editados e publicados em um livro despretensioso (Castagnolli, 1979). Os destaques deste livro são os capítulos sobre exigências de proteína e aminoácidos de peixes por C.B. Cowey; exigências em vitaminas e minerais dos peixes, por J.E. Halver; formulação de alimentos para peixes e processamento, por O.R. Braekkan; e uma revisão sobre a formulação de dietas e nutrição de peixes no Brasil, por N. Castagnolli. Esta publicação transformou-se em um divisor de águas da piscicultura brasileira e por al- gum tempo foi um guia para os piscicultores e nutricio- nistas de peixes do país. O resumo publicado nos anais daquele congresso (Macedo et al., 1978) relatando resultados preliminares sobre as exigências dietéticas em proteína do tambaqui, Colossoma macropomm, concomitantemente ao relato de Werder e Saint-Paul (1978) sobre as exigências die- téticas em proteína da matrinxã, Brycon amazonicum, são, possivelmente, os primeiros estudos detalhados sobre nutrição de peixes brasileiros veiculados interna- cionalmente, com um significado simbólico fundamen- tal: sim, se espécies nativas estavam sendo utilizadas na piscicultura interior brasileira, a pesquisa sobre nutrição e alimentação das espécies estava em andamento. O resumo de Macedo et al. (1978) foi delineado a partir de resultados do projeto que originaria a disser- tação de mestrado da Dra. E. M. Macedo-Viegas (Macedo, 1979), estudo que mais tarde seria ampliado e daria origem à sua tese de doutoramento (Macedo-Viegas, 1993). Mais tarde, outro resumo também foi tirada do mesmo trabalho acadêmico (Macedo et al., 1980), mas, infelizmente, esta peça pioneira da pesquisa em nutri- ção de peixes no país ficou restrita a prateleiras de bi- bliotecas por um longo tempo, vindo a ser publicado como um trabalho científico somente cerca de duas dé- cadas mais tarde (Macedo-Viegas et al., 1996). De qualquer forma, esses eventos atraíram muita atenção e ampliaram os horizontes da aquicultura no país: se a piscicultura passara a existir como ativida- de agropecuária regular, também deveria haver uma demanda por rações especificamente formuladas (e processadas) para animais aquáticos. Tal suposição foi logo confirmada, despertando o interesse da indústria de alimentos e encorajando os cientistas a se lançarem NUTRIAQUA4 nesta área do conhecimento. Nos anos seguintes, viria a acontecer uma sequência notável de apresentações de resumos e trabalhos na íntegra em anais de congressos e simpósios; algumas destas contribuições podem ser destacadas: Carneiro et al. (1984a,b,c; 1995), Cyrino et al. (1987), Pezzato et al. (1984, 1986). Embora o alcance dos esforços pioneiros da pes- quisa em nutrição de peixes possa ser considerado modesto, foram estes mesmos esforços que lançaram bases sólidas para o progresso que se seguiu. A pes- quisa sobre nutrição de peixes no Brasil mostrou des- de o início preocupação com a sustentabilidade. Quase concomitantemente aos estudos sobre as exigências nutricionais das espécies nativas, iniciaram-se estudos sobre a seleção e utilização de alimentos alternativos como fontes de proteína animal, sobre digestibilidade de ingredientes regionais para peixes e sobre os efeitos dos métodos de processamento sobre a eficiência ali- mentar das rações. Esta preocupação domina ainda as atuais plataformas e linhas de pesquisa, na busca pela definição de parâmetros para a prática de uma piscicul- tura ambientalmente responsável. Avanços na pesquisa em nutrição de peixes que se seguiram foram medidos e apresentados por Pezzato e Barros (2005) no I Simpósio de Nutrição e Saúde de Pei- xes, Universidade Estadual Paulista, campus de Botucatu, SP (07 a 09 de novembro de 2005), ampliados e redis- cutidos por Cyrino (2009) na terceira edição daquele evento. O número de apresentações sobre nutrição de peixes nos eventos científicos da comunidade científica da aquicultura nacional evoluiu de cinco resumos no primeiro evento nacional (SIMBRAQ 1981), para 48 resu- mos no evento realizado em 2008 (AquaCiência 2008), para 75 resumos no AquaCiência 2010 e para 82 resu- mos no AquaCiência 2012. Quando essa série de dados é contrastada com dados estatísticos sobre a produção aquícola, a correlação é óbvia. Estudos sobre nutrição e alimentação de espé- cies ictiófagas (carnívoras), nativas e exóticas, no Brasil constituem um caso específico. Voltando a meados da década de 1940, quando as fronteiras da piscicultura começavam a se deslocar da região nordeste para o sul/ sudeste do país, mais precisamente em 1948, o então Departamento de Caça e Pesca do Ministério da Agri- cultura do Brasil começou a estudar e, em 1949, reco- mendou a introdução da truta arco-íris, Onchorhynchus mykiss (née Salmo gairdneri) em rios de regiões mon- tanhosas das Serras do Mar e da Mantiqueira, na re- gião sudeste do país (Castagnolli e Cyrino, 1986; Tabata e Portz, 2004). Na verdade, foi o próprio Pedro de Azevedo, contemporâneo, colega de trabalho e amigo de von Ihering que concluiu e publicou o primeiro es- tudo abrangente na aclimatação da truta arco-íris para a região (Azevedo et al., 1961). Neste estudo, os autores referem-se a um trabalho solo de Azevedo (1953) op. cit.1 sobre a aclimatação da truta arco-íris para riachos de São Paulo, mas a referência é obscura, imprecisa, e não pode ser localizada. Produzir trutas arco-íris, ou qualquer outro sal- monídeo, depende da disponibilidade de alimento completo. O Instituto de Pesca [IP] de São Paulo lide- rou desde o início a pesquisa e o desenvolvimento da truticultura no Brasil. O grande gargalo da instituição e dos truticultores de todo o país até o final dos anos 1980 foi a indisponibilidade de rações completas de alta qualidade para salmonídeos no mercado brasilei- ro. O problema foi parcialmente resolvido no seio do IP apenas quando um protótipo de fábrica de rações de baixa tecnologia, praticamente artesanal, foi instalado na Estação Experimental de Piscicultura e Ranicultura de Pindamonhangaba, para atender tanto aquela esta- ção quanto a Estação Experimental de Salmonicultura de Campos do Jordão. No entanto, ressalve-se e ressalte-se, a truta arco-íris não foi a primeira espécie de peixe car- nívoro introduzida no Brasil. Na verdade, Godoy (1954) relata que a espécie ‘largemouth bass’ ou ‘black bass’, Micropterus salmoides, foi introduzida no estado de Minas Gerais em 1924, antes mesmo que von Ihering e seu grupo de pesquisa começassem se preocupar e traba- lhar com piscicultura interior. Aparentemente a primeira tentativa controlada de reproduzir e criar um Characiforme carnívoro nativo é aquela de Pinto e Gluglielmoni (1986a,b), que primei- ro descreveram um método de reprodução induzida e propagação artificial do dourado, Salminus brasiliensis (née Salminus maxillosus), rotineiramente praticado em algumas estações de piscicultura da Companhia Energética do Estado de São Paulo [CESP]. Logo depois, Borgheti et al. (1990a,b) publicaram os primeiros artigos sobre nutrição e alimentação de dourado. No entanto, pesquisas sobre o condicionamento, alimentação e nu- trição de espécies carnívoras, exóticas e nativas, não to- maram vulto no Brasil até a virada do século (vide Moura et al., 2000; Sampaio et al., 2000; Cyrino et al., 2000; Portz et al., 2001; Cyrino e Kubitza, 2003). A pesquisa sobre a nutrição e a alimentação de espécies nativas carnívoras, por exemplo o dourado e os surubins pintado Pseudo- platystoma corruscans e cachara P. reticulatum (née P. fasciatum), experimentou mais recentemente uma rápi- da expansão liderada por grupos de pesquisa da Univer- sidade Federal de Santa Catarina (e.g. Beaux e Zaniboni Filho, 2007, 2008; Vega-Orellana et al., 2006) e da Uni- versidade de São Paulo (e.g. Borghesi et al., 2009; Braga et al., 2007, 2008; Martino et al., 2003, 2005; Takahashi e Cyrino, 2007). Estas iniciativas são modestas, mas consistentes. De toda forma, os avanços na produção de peixes carnívoros na aquicultura brasileira vão de- pender dos resultados dos estudos sobre as exigências 1 Azevedo, P.de. 1953. A aclimatação da truta em águas paulistas. Vol. 3. Fev. S. Paulo. 5A PESQUISA EM NUTRIÇÃO DE PEIXES E O DESENVOLVIMENTO DA AQUICULTURA NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA nutricionais e de processamento das dietas para essas espécies. A verdade é que somente a partir do momento em que as primeiras rações completas, extrudadas, co- meçaram a ser produzidas comercialmente no Brasil, no início dos anos 1990, foram registrados saltos quantita- tivos e qualitativos na produção aquícola nacional. As estatísticas da indústria da alimentação e nutrição de peixes e da produção pesqueira da aquicultura nacional andam par e passo, de modo que fica evidente a rela- ção existente entre a produção aquícola e o aumento da demanda por alimentos processados. Entretanto, prever o que está no futuro da aquicultura brasileira como um todo e da pesquisa em nutrição de organis- mos aquáticos em particular é uma tarefa impossível de ser levada a termo com qualquer grau de sucesso. De tempos em tempos um pesquisador ou uma equipe de pesquisadores publica um artigo sobre o estado da arte e as perspectivas da aquicultura brasileira (vide Cas- tagnolli, 1995; Lovshin e Cyrino, 1998; Roubach et al., 2003; Castagnolli e Castagnolli, 2005; Queiroz et al., 2005; Valenti, 2007). Poucos exercícios são tão neces- sários quanto este; pesquisadores são responsáveis por manter a cadeia produtiva ciente de novos desenvol- vimentos, sinalizando oportunidades para avanços e investimentos, tanto nacional como internacional. No entanto, a palavra mais frequentemente utilizada nes- tes artigos é ‘potencial’. Entendemos, outrossim, que é hora de esquecer o potencial e lidar com a realidade. A criação da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca em 2003 e sua transformação no Ministério da Pesca e Aquicultura, em 2009, certamente foram mar- cos fundamentais para a ordenação e fomento da aqui- cultura nacional. O financiamento deste volume, que é a primeira referência abrangente em nutrição aquícola publicada no Brasil, é um exemplo de ação positiva para o fomento e divulgação da pesquisa. Entretanto, muitos desafios ainda existem, tais como o direcionamento da pesquisa, não só em nutrição como também em outras áreas da aquicultura, para temas fundamentais ao de- senvolvimento da atividade no país. Foco e eficiência na troca de informações são grandes desafios da pesquisa brasileira em aquicultura. Pelo menos do ponto vista dos nutricionistas de peixes, e espera-se que tanto na esfera da pesquisa como da indústria de rações, aparentemente chegamos a um ciclo virtuoso, mas não a uma situação de total conforto. Mais uma vez, concomitante ao aumento da produção aquícola cresce a demanda por rações para peixes, formuladas cada vez com maior preci- são, espécie-específicas e altamente processadas. Apesar dos esforços dos nutricionistas brasilei- ros, tanto os pesquisadores quanto os profissionais da indústria, muitas perguntas, e algumas realmente bási- cas, ainda permanecem sem resposta. Novos desafios aparecem a cada dia, mas parece que estamos à altura da tarefa. Vinte anos atrás, uma sessão sobre nutrição de peixes, dentro de um simpósio de nutrição de am- plo espectro, mudou a história da aquicultura brasileira. Consolidar e nortear a pesquisa sobre nutrição de pei- xes é o caminho para o futuro da aquicultura brasileira e o objetivo deste volume. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anônimo. 1974. La acuicultura en Brasil. Actas del Simposio de Montevideo, 26 de noviembre - 2 de diciembre de 1974. FAO Informes de Pesca 159(3): 128-136. Azevedo, P. 1955. Aclimação da tilápia no Brasil. Chácaras e Quintais 2: 191-192. Azevedo, P., e L. Canale. 1938. A hipófise e sua ação nas gonadas dos peixes neotropicos. Archivos do Instituto Biológico de São Paulo 9: 165-186. Azevedo, P.; J.O. Vaz, e W.B. Pereira. 1961. Aclimação da truta arco-íris em algumas águas de São Paulo. Boletim da Indústria Animal 19: 75-105. Beux, L.F., and E. Zaniboni Filho. 2007. Survival and growth of pintado (Pseudoplatystoma corruscans) post-larvae on different salinity levels. Brazilian Archives of Biology and Technology 50: 821-829. Beux, L.F., and E. Zaniboni Filho. 2008. Artemia sp. Proportions and effects on survival and growth of pintado, Pseudoplatystoma corruscans larvae. Journal of Applied Aquaculture 20: 184-199. Bilio, M. 2007. Controlled reproduction anda domestication in aquaculture – The current state of the art. Part I. Aquaculture Europe 32(I): 1-14. Borghesi, R.; J.K. Dairiki, and J.E.P Cyrino. 2009. Apparent digestibility coefficients of selected feed ingredients for dourado Salminus brasiliensis. Aquaculture Nutrition 15: 453-458. Borgheti, J.R.; C. Canzi, D.R. Fernandez, e S.V.G. Nogueira. 1990b. Efeito da alimentação artificial com incorporação de andrógeno natural (testosterona) no desenvolvimento das larvas de Salminus maxillosus. Arquivos de Biologia e Tecnologia 33(4): 939-948. Borgheti, J.R.; C. Canzi, e D.R. Fernandez. 1990a. Influência de diferentes níveis de proteína no crescimento do dourado Salminus maxillosus. Arquivos de Biologia e Tecnologia 33(3): 683-689. Borghetti, J.R., e A. Ostrensky. 2002. Panorama atual, problemas e perspectivas para a pesca e para a aquicultura continental no Brasil. Páginas 451-471 in A.C. Rebouças, B. Braga e J.G. Tundisi, editores. Águas Doces no Brasil: Capital ecológico, uso e conservação. 2ed. Editora Escrituras, São Paulo, SP, Brazil. Braga, L.G.T.; R. Borghesi, and J.E.P. Cyrino. 2008. Apparent digestibility of ingredients in diets for Salminus brasiliensis. Pesquisa Agropecuária Brasileira 43(2): 271-274. Braga, L.G.T.; R. Borghesi, J.K. Dairiki, e J.E.P. Cyrino. 2007. Trânsito gastrintestinal de dieta seca em Salminus brasiliensis. Pesquisa Agropecuária Brasileira 42(1): 131-134. Britski, H. A.; Y. Sato, e A. B. S. Rosa. 1984. Manual de Identificação de Peixes da Região de Três Marias. Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco [CODEVASF], Brasília, DF. Britski, H.A.; K.Z. de S. de Silimon, e B.S. Lopes. 2007. Peixes do Pantanal. Manual de Identificação. 2ed. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária [EMBRAPA], Brasília, DF. NUTRIAQUA6 Carneiro, D.J.; N. Castagnolli, C.R. Machado, e M. Verardino. 1984a. Nutrição do pacu, Colossoma mitrei (Berg, 1895), Pisces, Characidae. I – Níveis de proteína dietária. Páginas 105-124 in J.R. Verani, H.M. Godinho, M.A. Basile-Martins, E.K. Resende e F. Foresti, editores. Anais do Simpósio Brasileiro de Aquicultura III. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP. Carneiro, D.J.; N. Castagnolli, C.R. Machado, e M. Verardino. 1984b. Nutrição do pacu, Colossoma mitrei (Berg, 1895), Pisces, Characidae. II – Digestibilidade aparente da proteína em dietas isocalóricas. Páginas 125-132 in J.R. Verani, H.M. Godinho, M.A. Basile-Martins, E.K. Resende e F. Foresti, editores. Anais do Simpósio Brasileiro de Aquicultura III. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP. Carneiro, D.J.; N. Castagnolli, C.R. Machado, e M. Verardino. 1984c. Nutrição do pacu, Colossoma mitrei (Berg, 1895), Pisces, Characidae. III – Níveis de energia metabolizável em dietas isoprotéicas. Páginas 133-146 in J.R. Verani, H.M. Godinho, M.A. Basile-Martins, E.K. Resende e F. Foresti, editores. Anais do Simpósio Brasileiro de Aquicultura III. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP. Carneiro, D.J.; S.H.S. Chaim, e T.C.R.Dias. 1995. Efeito do processamento das dietas comerciais sobre o desenvolvimento produtivo do pacu, Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887). Páginas 44-51 in N. Castagnolli, M.C. Castagnolli e T.C.R. Dias, editores. Anais do Encontro Nacional de Aquicultura – VII SIMBRAQ e II ABRAPOA. Publicação ACIESP no 84. Academia de Ciências do Estado de São Paulo, São Paulo, SP. Castagnolli, N. 1979. Fundamentos de Nutrição de Peixes. Editora Livroceres, Piracicaba, SP, Brasil. Castagnolli, N. 1995. Status of aquaculture in Brazil. World Aquaculture 26: 35-39. Castagnolli, N., and M.C. Castagnolli. 2005. State of the art of Brazilian aquaculture. World Aquaculture 36(1): 22-25, 67. Castagnolli, N., e J. E.P. Cyrino. 1986. Piscicultura nos Trópicos. Ed. Manole, São Paulo, SP, Brazil. Cyrino, J.E.P. 2009. Nutrition research and aquaculture development in Brazil. Páginas 53-63 in L.E. Pezatto, M.M. Barros, W.M. Furuya, J.E.P. Cyrino e A.C. Fernandes Jr., editores. Anais do Simpósio Internacional de Saúde e Nutrição de Peixes. Botucatu, SP, de 4 a 6 de novembro de 2009. Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista campus de Botucatu, SP. Cyrino, J.E.P., and F. Kubitza. 2003. Diets for feed conditioning of the peacock bass Cichla sp. Scientia Agricola 60(4): 609-613. Cyrino, J.E.P.; N. Castagnolli, e M.Pereira-Filho. 1987. Digestibilidade da proteína de origem animal e vegetal pelo matrinxã (Brycon cephalus, 1869) (Euteleostei, Characiformes, Characidae). Páginas 49-62 in N. Castagnolli, E.K. Resende, L.E. Pezzato, M.V. Val Sella, N. Yamanaka e G. Phonlor, editores. Anais do Simpósio Brasileiro de Aquicultura IV. Universidade Federal do Mato Grosso [UFMT], Cuiabá, MT, e Fundação de Estudos e Pesquisa [FUNEP], Jaboticabal, SP. Cyrino, J.E.P.; R. Portz, e R.C. Martino. 2000. Retenção de proteína e energia em juvenis de black bass Micropterus salmoides. Scientia Agricola 57(4): 609-616. Esteves, K.E., e C.L. Sant’Anna, organizadoras. 2006. Pesqueiros sob uma visão integrada de meio ambiente, saúde pública e manejo: um estudo na região metropolitana de São Paulo. RiMa Editora, São Carlos, SP. Ferreira, E.J.G.; J.A. Zuanon, e G.M. dos Santos. 1998. Peixes Comerciais do Médio Amazonas: Região de Santarém, PA. Edição IBAMA-MMA, Brasília, DF. Food and Agriculture Organization of the United Nations [FAO]. 2012. The State of the World Fisheries and Aquaculture. FAO, Rome, Italy (www.fao.org/docrep/016/ i2727e/i2727e00.htm). Godoy, M.P. 1954. Observações sobre a adaptação do “black bass” (Micropterus salmoides) em Pirassununga, Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Biologia 14(2):32-38. Jeffery, N.B. 1972. Progress Report on Fisheries Development in Northeast Brazil. International Center for Aquaculture, Agricultural Experiment Station, Auburn University, AL, USA. Jensen, J.W. 1974. Progress Report on Fisheries Development in Brazil. . Aquaculture. Research and Development Series No. 01. International Center for Aquaculture, Agricultural Experiment Station, Auburn University, AL, USA. Lovshin, L.; A. Da Silva, S. Carneiro, y F. Melo. 1980. Situación del cultivo de Colossoma en Sudamerica. Revista Latinoamericana de Acuicultura, Perú 5:1-36. Lovshin, L.L. 1975. Progress Report on Fisheries Development in Northeast Brazil. Research and Development Series no. 09. International Center for Aquaculture, Agricultural Experiment Station, Auburn University, AL, USA. Lovshin, L.L. 2000. Tilapia culture in Brazil. Pages 133-140 in B.A. Costa-Pierce and J.E. Rakocy, editors. 2000. Tilapia Aquaculture in the Americas. Vol. 2. American Tilapia Association, The World Aquaculture Society. Baton Rouge, LA, USA. Lovshin, L.L., and J.E.P. Cyrino. 1998. Status of freshwater fish culture in Brazil. World Aquaculture 29(3): 23-28, 36-39. Lovshin, L.L.; A.B. Da Silva, J.A. Fernandes, and A. Carneiro- Sobrinho. 1974a. Preliminary pond culture tests of pirapitinga (Mylossoma bidens) and tambaqui (Colossoma bidens) from the Amazon River basin. Proceedings of the FAO/CARPAS Aquaculture Conference for Latin-America, Montevideo, Uruguay. Lovshin, L.L.; A.B. Fernandes, J.A. Silva, and A. Carneiro- Sobrinho. 1974b. Preliminary pond culture test of pirapitinga (Colossoma bidens) and tambaqui (Colossoma macropomum) from the Amazon Basin. FAO Fisheries Report 159 (1) 185-193. Lovshin, L.L.; J.T. Peixoto, e E.A. Vasconcelos. 1976. Considerações ecológicas e econômicas sobre tilápia no nordeste do Brasil. Páginas 227-237 in J.I. Vargas, C.G.C. Loureiro e R.M. de Andrade, editores. Anais do I Encontro Nacional sobre Limnologia, Piscicultura e Pesca Continental. Fundação João Pinheiro, Diretoria de Tecnologia e Meio Ambiente, Centro de Recursos Naturais. Belo Horizonte, MG, Brazil. Macedo, E.M. 1979. Necessidades Protéicas na Alimentação do Tambaqui (Colossoma macropomum Cuvier, 1818 Pisces: Characidae). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Zootecnia. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista, campus de Jaboticabal, SP. Macedo, E.M.; D.J. Carneiro, e N. Castagnolli. 1980. Necessidades proteicas na nutrição do tambaqui, Colossoma macropomum Cuvier 1818 (Pisces, Characidae). Anais do Simpósio Brasileiro de Aquicultura II v.1: 77-78. Macedo, E.M.; N. Castagnolli, e J.E.P. Cyrino. 1978. Nível proteico ideal na nutrição do Tambaqui Colossoma macropomum Cuvier, 1818 (Pisces, Characidae). Proceedings of the International Congress of Nutrition XI, Rio de Janeiro. Abstracts: 307. Macedo-Viegas, E. M.; N. Castagnolli, e D.J. Carneiro. 1996. Níveis de proteína bruta em dietas para o crescimento do tambaqui Colossoma macropomum, Cuvier, 1818 (Pisces: Characidae). Acta Scientiarum 18(2): 321-333. Macedo-Viégas, E.M. 1993. Efeito da Utilização do Destilado da Desodorização do Óleo de Soja e do Óleo de Palma Bruto Sobre o Crescimento e Composição Corporal do Tambaqui (Colossoma macropomum). Tese de Doutoramento. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. 7A PESQUISA EM NUTRIÇÃO DE PEIXES E O DESENVOLVIMENTO DA AQUICULTURA NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA Machado, C.R., and N. Castagnolli. 1979. Preliminary observations related to culture of Rhamdia hilarii, a Brazilian catfish. Pages 180-184 in T.V.R. Pillay and Wm. A. Dill, editors. Advances in Aquaculture. Fishing News Books, Ltd., Farnham, Surrey, England. Martino, R.C.; J.E.P. Cyrino, L. Portz, and L.C. Trugo. 2005. Performance, carcass composition and nutrient utilization of surubim Pseudoplatystoma coruscans (Agassiz) fed diets with varying carbohydrate and lipid levels. Aquaculture Nutrition 11: 131-137. Martino, R.C.; L.C. Trugo, J.E.P. Cyrino, and L. Portz. 2003. Use of white fat as replacement for squid liver oil in practical diets for surubim, Pseudoplatystoma coruscans. Journal of the World Aquaculture Society 34(2): 192-202. Menezes, R.S. 1951. Notas Biológicas e Econômicas Sobre o Pirarucu. Série Estudos Técnicos no 2. Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agricola. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Moura, M.A.M.; F. Kubitza, and J.E.P. Cyrino. 2000. Feed training of peacock bass Cichla sp. Revista Brasileira de Biologia 60(4): 645-654. Ostrensky, A.; J.R. Borghetti, e M. Pedini. 2000. Situação atual da aquicultura brasileira e mundial. Páginas 353-382 in W.C. Valenti, C.R. Poli, J.A. Pereira e J.R. Borgheti, editores. Aquicultura no Brasil: Bases para um desenvolvimento sustentável. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Ministério da Ciência e Tecnologia, Brasília, DF. Paiva, C.M.; J.V.F. Freitas, J.R.P. Tavares, e H. Magnusson. 1971. Rações para piscicultura intensiva no nordeste do Brasil. Boletim Técnico do DNOCS 29(2): 1-36. Pezzato, L.E., and M.M. Barros. 2005. Fish nutrition in Brazil. Páginas 10-21 in Anais do 1º Simpósio de Nutrição e Saúde de Peixes. Botucatu, SP, 07 a 09 de novembro de 2005. Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista, campus de Botucatu. Botucatu, SP. Pezzato, L.E.; I.U. Packer, A.C. Pezzato, e A.C. Silveira. 1986. Efeito de níveis de proteína sobre o crescimento da tilápia-do- nilo (Oreochromis niloticus) submetida à reversão sexual. Páginas 71-80 in N. Castagnolli, E.K. Resende, L.E. Pezzato, M.V. Val Sella, N. Yamanaka e G. Phonlor, editores. Anais do Simpósio Brasileiro de Aquicultura IV. Universidade Federal do Mato Grosso [UFMT], Cuiabá, MT, e Fundação de Estudos e Pesquisa [FUNEP], Jaboticabal, SP. Pezzato, L.E.; I.U. Packer, A.C. Pezzato, e J.A. Dalanesi. 1984. Substituição na base protéica da farinha de carne e osso pela farinha de crisálida do bico da seda (Bombyx mori) na alimentação de peixe (Oreochromis niloticus). Páginas 259- 273 in J.R. Verani, H.M. Godinho, M.A. Basile-Martins, E.K. Resende e F. Foresti, editores. Anais do Simpósio Brasileiro de Aquicultura III. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, SP. Pillay, T.V.R., and Wm. A. Dill, editors. 1979. Advances in Aquaculture. Fishing News Books, Ltd., Farnham, Surrey, England. Pinto, M.L.G., e L.A. Gluglielmoni. 1986a. Observações sobre a reprodução induzida do dourado (Salminus maxillosus, Valenciennes, 1849). Páginas 35-48 in N. Castagnolli, E.K. Resende, L.E. Pezzato, M.V. Val Sella, N. Yamanaka e G. Phonlor, editores. Anais do Simpósio Brasileiro de Aquicultura IV. Universidade Federal do Mato Grosso [UFMT], Cuiabá, MT, e Fundação de Estudos e Pesquisa [FUNEP], Jaboticabal, SP. Pinto, M.L.G., e L.A. Gluglielmoni. 1986b. Observações sobre o desenvolvimento e comportamento alimentar das larvas do dourado (Salminus maxillosus, Valenciennes, 1849). Páginas 35-48 in N. Castagnolli, E.K. Resende, L.E. Pezzato, M.V. Val Sella, N. Yamanaka e G. Phonlor, editores. Anais do Simpósio Brasileiro de Aquicultura IV. Universidade Federal do Mato Grosso [UFMT], Cuiabá, MT, e Fundação de Estudos e Pesquisa [FUNEP], Jaboticabal, SP. Portz, L.; J.E.P. Cyrino, and R.C. Martino. 2001. Effect of dietary protein and energy levels on growth and body composition of juvenile largemouth bass Micropterus salmoides. Aquaculture Nutrition 7(4): 247-254. Queiroz, J.F.; J.N.P. Lourenço, P.C. Kitamura, J.D. Scorvo Filho, J.E.P. Cyrino, N. Castagnolli, W.C. Valenti, and G. Bernardino. 2005. Aquaculture in Brazil: Research priorities and potential for further international collaboration. World Aquaculture 36(1): 45-50. Roubach, R.; E.S. Correia, S. Zaiden, R.C. Martino, and R.O. Cavalli. 2003. Aquaculture in Brazil. World Aquaculture 34 (1): 28-34. Sampaio, A. M. B. de M.; F. Kubitza, e J. E. P. Cyrino. 2000. Relação proteína:energia na nutrição do tucunaré. Scientia Agricola 57(2): 213-219. Santos, G.M.; M. Jegu, e B. Merona. 1984. Catálogo de Peixes Comerciais do Baixo Rio Tocantins. Centrais Elétricas do Norte do Brasil [ELETRONORTE], Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico [CNPq] e Instito Nacional de Pesquisas da Amazônia [INPA], Projeto Tucuruí, Manaus, AM. Silvano, R.; O. Oyakawa, B. Amaral, e A. Begossi. 2001. Peixes do Alto Rio Juruá (Amazônia, Brasil). Editora da Universidade de São Paulo [USP], Imprensa Oficial do Estado, São Paulo, SP. Tabata, Y.A., e L. Portz. 2004. Truticultura em clima tropical. Páginas 307-341 in J.E.P. Cyrino, E.C Urbinati, D.M. Fracalossi, e N. Castagnolli, editores. 2004. Tópicos Especiais em Piscicultura de Água Doce Tropical Intensiva. Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática, Jaboticabal, SP. Takahashi, L.S., and J.E.P. Cyrino. 2007. Dietary carbohydrate level on growth performance of speckled catfish, Pseudoplatystoma coruscans. Journal of Aquaculture in the Tropics 21(1): 13-19. Tamassia, S.T.J.; A. Graeff, C.L. Sachappo, H.B. Appel, H. Amaral Jr., J.M. Casaca, V. Kniess, e O. Tomazelli Jr. 2004. Ciprinicultura: O modelo de Santa Catarina. Páginas 267-305 in J.E.P. Cyrino, E.C Urbinati, D.M. Fracalossi, e N. Castagnolli, editores. 2004. Tópicos Especiais em Piscicultura de Água Doce Tropical Intensiva. Sociedade Brasileira de Aquicultura e Biologia Aquática, Jaboticabal, SP. Valenti, W.C. 2007. Brazil’s inland aquaculture: Freshwater fish dominate production. World Aquaculture Advocate 10(3): 30-32. Vega-Orellana, O.M.; D.M. Fracalossi, and J.K. Sugai. 2006. Dourado (Salminus brasiliensis) larviculture: Weaning and ontogenetic development of digestive proteinases. Aquaculture 252: 484-493. Venturieri, R.L. 2003. Pesque-pague no Estado de São Paulo: Vetor de desenvolvimento da piscicultura e opção de turismo e lazer. PNDP/IBAMA/EMBRATUR, Brasília, DF, and ECO Associação Para Estudos do Ambiente, São Paulo, SP. von Ihering, R. 1937. A method for inducing fish to spawn. The Progressive Fish Culturist 34: 15-16. von Ihering, R., e P. Azevedo. 1936. A desova e a hypophysação dos peixes. Evolução de dois Nematognathas. Archivos do Instituto Biológico de São Paulo 7: 107-124. Werder, U., and U. Saint-Paul. 1978. Feeding trials with herbivorous and omnivorous Amazonian fishes. Aquaculture 15: 175-177. Zaniboni-Filho, E.; S. Meurer, O.A. Shibatta, e A.P.O. Nuñer. 2004. Catálogo Ilustrado de Peixes do Alto Rio Uruguai. Tractebel Energia, Editora da UFSC, Florianópolis, SC. 9 INTRODUÇÃO Ao contrário dos demais vertebrados, os peixes consomem uma grande variedade de alimentos e pos- suem muitas formas de se alimentar, razão pela qual os hábitos alimentares acabam se sobrepondo (Kapoor et al., 1975). Algumas espécies se alimentam de itens mor- tos, outras de materiais vivos, enquanto outras se ali- mentam de microrganismos, de vegetais e/ou animais. A grande maioria, porém, é oportunista, alimentando-se dos itens disponíveis no meio (NRC, 2011), o que origina diferentes hábitos alimentares, com variações na sua es- trutura. Porém, as funções desse sistema são consistentes entre as espécies e incluem: (i) a digestão dos alimentos; (ii) osmorregulação; (iii) a secreção de hormônios envol- vidos nos processos de digestão e no metabolismo; (iv) a defesa do organismo contra patógenos e substâncias nocivas (Buddington e Kuz’mina, 2000). Os hábitos alimentares estão estritamente relacio- nados com as características anatômicas e morfofisioló- gicas do sistema digestório, as quais devem ser consi- deradas para o desenvolvimento de rações adequadas para cada espécie. O conhecimento da estrutura bucal e o comportamento de captura do alimento podem for- necer informações para o desenvolvimento de péletes adequados (tamanho e tempo de flutuação). Da mesma forma, dados sobre a morfologia do estômago e intes- tino podem colaborar na escolha de ingredientes com maiores ou menores quantidades de certos nutrientes (proteína, lipídio, carboidrato, fibra) que farão parte da composição da dieta. Além disso, o conhecimento da fi- siologia dos sistemas envolvidos na digestão, absorção e aproveitamento dos nutrientes permite uma maior precisão na determinação das exigências nutricionais das espécies de peixes utilizadas na aquicultura. Tendo em vista estas prerrogativas, este capítulo foi elaborado para elucidar a dinâmica de captura, di- gestão e aproveitamento de nutrientes. Primeiramen- te, são apresentados os órgãos sensoriais (olfato e pa- ladar), que detectam estímulos químicos diluídos na água e que estão envolvidos na busca e aceitabilidade do alimento. Na sequência, são explorados aspectos da estrutura e função do trato digestório, seguindo o flu- xo de passagem do alimento (boca, rastros branquiais, esôfago, estômago, cecos pilóricos e intestino), além dos órgãos anexos (fígado, pâncreas e vesícula biliar), relacionando-os com os diversos hábitos e estratégias alimentares. Também são apresentadas alterações na estrutura e fisiologia do trato digestório em resposta à dieta, a importância da microbiota intestinal para a saú- de e nutrição, e por último os processos de digestão e absorção de nutrientes. Existe uma lacuna muito grande em relação a in- formações sobre a anatomia, morfologia e fisiologia do trato digestório das espécies neotropicais. Desta forma, o texto deste capítulo é amparado principalmente em publicações relacionadas à anatomia e morfofisiologia de espécies exóticas, como Buddington et al. (1997), Kapoor et al. (1975), NRC (2011), Rust (2002), Wilson e Castro (2011) mas, sempre que possível, foi dada ênfase às espécies neotropicais e economicamente importan- tes para a aquicultura brasileira. ESTRUTURA DO TRATO DIGESTÓRIO De acordo com os principais itens alimentares predominantes na dieta natural, o hábito alimentar dos peixes é comumente dividido em detritívoro, herbívoro, 2 Morfologia e Fisiologia do Sistema Digestório de Peixes LIGIA URIBE GONÇALVES ANA PAULA OEDA RODRIGUES GIOVANNI VIT TI MORO EDUARDO CARGNIN-FERREIRA JOSÉ EURICO POSSEBON CYRINO NUTRIAQUA10 onívoro e carnívoro. Com relação à diversidade de ali- mentos consumidos, os peixes podem ser classificados em eurífagos, estenófagos e monófagos (Al-Hussaini, 1949; Kapoor, 1975; Moyle e Cech, 2004, NRC, 2011). Peixes eurífagos são aqueles cuja dieta é composta por uma grande variedade de alimentos (e.g. tambaqui Colossoma macropomum, pacu Piaractus mesopotamicus e tilápia-do-Nilo Oreochromis niloticus); consequente- mente, possuem maior plasticidade e especializações fisiológicas (Kapoor et al., 1975), sendo também as es- pécies mais utilizadas em aquicultura (Rust, 2002). Os estenófagos consomem uma variedade limitada de itens alimentares (e.g. tucunarés Cichla sp), enquanto os monófagos, somente um tipo de alimento (e.g. piapara Leporinus elongatus) (Kapoor et al., 1975). De modo geral, o trato gastrointestinal dos pei- xes pode ser dividido em quatro regiões: porção cefá- lica ‘headgut’ (boca e faringe), porção anterior ‘foregut’ (esôfago e estômago), intestino médio ‘midgut’ (intes- tino propriamente dito) e intestino posterior ‘hindgut’ (reto) (Harder, 1975). A porção cefálica é responsável pela captura e processamento mecânico do alimento (Clements e Raubenheimer, 2005). A porção anterior é onde se inicia a digestão química. No intestino pro- priamente dito, há continuação da digestão química e ocorre majoritariamente o processo de absorção dos nutrientes (Wilson e Castro, 2011). O trato digestório dos peixes consiste em um tubo composto por lúmen e uma parede formada por basi- camente quatro camadas distintas: mucosa, submuco- sa, muscular e serosa (Genten et al., 2009). A mucosa é composta por um revestimento epitelial e lâmina pró- pria (tecido conjuntivo frouxo, vascularizado, contendo nervos e leucócitos) (Wilson e Castro, 2011). O epitélio do trato digestório dos peixes é altamente revestido por substâncias mucosas variadas, de grande importância fisiológica nos processos digestivos e na proteção con- tra injúrias mecânicas e químicas (Kapoor et al., 1975). A submucosa consiste em uma camada adicional de te- cido conjuntivo e embora seja relatada em peixes, tec- nicamente, porém, estaria presente apenas em peixes com muscular da mucosa, estrutura que é raramente encontrada em peixes (Wilson e Castro, 2011). A túnica muscular é formada por camadas longitudinais e circu- lares de músculo estriado ou liso, enquanto a serosa é uma camada de tecido conjuntivo frouxo, rica em vasos sanguíneos e revestida por células mesoteliais (Wilson e Castro, 2011). ÓRGÃOS SENSORIAIS Os órgãos sensoriais são importantes na alimen- tação dos peixes, pois participam na localização e apre- ensão do alimento. Embora a fotorrecepção (visão), a mecanorrecepção (ouvido interno e linha lateral) e a eletrorrecepção (receptores ampuliformes da linha late- ral) estejam envolvidos na alimentação dos teleósteos, será dada atenção especial à quimiorrecepção, em es- pecial ao olfato e paladar. A quimiorrecepção compreende olfato, paladar, células sensoriais isoladas e sentido químico comum, sendo que os dois últimos não estão bem definidos (Hara, 2011a). Como os peixes detectam os estímulos químicos diluídos na água, a distinção entre o olfato e paladar não é tão simples como em animais terrestres (Hara, 2011b), de modo que a diferenciação entre esses sentidos é determinada anatômica e fisiologicamente (Hara, 1971). As informações detectadas pelos neurô- nios bipolares do sistema olfativo são transmitidas para o nervo cranial I e bulbo olfativo e, por fim, para o sis- tema nervoso central, enquanto que os quimiorrecep- tores localizados nas papilas gustativas transmitem as informações ao sistema nervoso central a partir dos ner- vos facial (nervo cranial VII), glossofaríngeo (IX) e vagal (X) (Caprio, 1988). Olfato O olfato é o primeiro sentido do sistema quimios- sensorial a ser desenvolvido na ontogenia (Hara,
Compartilhar