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COMUNIDADE INDÍGENA
	O ÍNDIO NO BRASIL
Os habitantes das Américas foram chamados de índios pelos europeus que aqui chegaram. Uma denominação genérica provocada pela primeira impressão que eles tiveram de haver chegado às Índias.
Mesmo depois de descobrir que não estavam na Ásia, e sim em um continente até então desconhecido, os europeus continuaram a chamá-los assim. Ignoravam-se propositalmente as diferenças linguperiodo colonial, ístico-culturais. Era mais fácil torná-los todos iguais, tratá-los de forma homogênea, já que o objetivo era um só: o domínio político, econômico e religioso.
Nas últimas décadas, o critério da auto-identificação étnica vem sendo o mais amplamente aceito pelos estudiosos da temática indígena. Na década de 50, o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro baseou-se na definição elaborada pelos participantes do II Congresso Indigenista Interamericano, no Peru, em 1949, para assim definir, no texto “Culturas e línguas indígenas do Brasil”, o indígena como: “(…) aquela parcela da população brasileira que apresenta problemas de inadaptação à sociedade brasileira, motivados pela conservação de costumes, hábitos ou meras lealdades que a vinculam a uma tradição pré-colombiana.
Ou, ainda mais amplamente: índio é todo o indivíduo reconhecido como membro por uma comunidade pré-colombiana que se identifica etnicamente diversa da nacional e é considerada indígena pela população brasileira com quem está em contato”.
Uma definição muito semelhante foi adotada pelo Estatuto do Índio (Lei no. 6.001, de 19/12/1973), que norteou as relações do Estado brasileiro com as populações indígenas até a promulgação da Nova Constituição da República Federativa do Brasil.
Em suma, um grupo de pessoas pode ser considerado indígena ou não se essas pessoas se considerarem índias ou se assim forem consideradas pela população que as cerca. Mesmo sendo o critério mais utilizado, ele tem sido colocado em discussão já que muitas vezes são interesses de ordem política que usam tal definição, da mesma forma como acontecia há 500 anos.
RETROSPECTO DA HISTÓRIA DO ÍNDIO A PARTIR DA DESCOBERTA DO BRASIL 
1500: primeiro contato do índio brasileiro com o colonizador português. Para os portugueses, os índios eram seres selvagens e sem alma. Essa situação só começou a mudar a partir de 1537, quando, através de uma bula, o papa Paulo III afirmou que o índio era um ser humano.
1570: surgimento de uma lei proibindo a escravização dos índios. Mas, para o colonizador, ainda era necessário torná-los “civilizados”, isto é, convertê-los aos costumes e ao modo de vida europeu.
· 1758: o marquês de Pombal reconhece a liberdade dos índios, isto é, declara o fim da escravidão indígena e garante-lhes a posse de seus bens.
1808: início de um período de massacre e extermínio dos índios com a declaração da “guerra justa” (combate aos índios inimigos), feita por D. João VI, contra os índios botocudos de Minas Gerais. Esse período estendeu-se até 1910, quando foi criado o Serviço de Proteção ao Índio (SPI).
1910: criação do SPI, chefiado pelo marechal Rondon, que deu início ao período de pacificação dos índios e do reconhecimento do direito deles à posse da terra e de viver de acordo com os próprios costumes. O lema de Rondon era: “Morrer, se preciso for. Matar, nunca”.
1967: extinção do SPI e criação, em seu lugar, da Fundação Nacional do Índio (Funai). A extinção do SPI deveu-se às inúmeras denúncias de irregularidades administrativas, abuso de poder, corrupção, matança de índios e diversos outros problemas que envolviam esse órgão público de “proteção” ao índio, após a saída do marechal Rondon.
Década de 70: promulgação do Estatuto do Índio, cuja finalidade maior era a de regularizar a situação jurídica do índio. De acordo com o Estatuto, ou seja, para o governo, o índio é considerado uma pessoa relativamente incapaz, por isso tutelado pelo Estado. A década de 70 coincidiu com a criação do Plano de Integração Nacional (PIN) e a conseqüente implantação de grandes projetos na Amazônia: rodoviários (Transamazônica, Perimetral Norte, Cuiabá – Santarém, Manaus – Boa Vista etc.), de colonização (agrovilas), agrominerais, agropecuários e industriais por grandes empresas nacionais e multinacionais. A implantação desses projetos normalmente implicava a ocupação de terras indígenas, a matança de índios e de outras pessoas defensoras da causa indígena (padres, missionários etc.). A omissão da Funai, no cumprimento de seus deveres, favorece as reações indígenas e o surgimento de várias entidades e movimentos de defesa ou de apoio ao índio, tais como: o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 1972; as Assembléias de Chefes Indígenas, em 1974 e 1975; a Associação nacional de Apoio ao Índio (Anai), em 1977; e a União das Nações Indígenas (UNI), em 1980.
Décadas de 80 e 90: essas décadas foram marcadas por uma participação mais ativa da comunidade indígena na defesa de seus interesses e objetivos comuns. São exemplos disso a criação da UNI, uma coligação nacional das nações indígenas; a realização do primeiro encontro das lideranças indígenas do Brasil, em Brasília (1982), e a eleição pela primeira vez na história do país, de um representante indígena na Câmara Federal (1982), o deputado xavante Mário Juruna.
A luta em defesa das comunidades indígenas e da preservação da floresta amazônica teve grande repercussão e atraiu a atenção mundial para os problemas da região. A demarcação das reservas indígenas e o movimento para a implantação das reservas extrativistas contrariaram os interesses dos garimpeiros, de fazendeiros e de empresas mineradoras, gerando inúmeros conflitos.
Assassinatos como os do padre Josino Tavares (1986), coordenador da pastoral da Terra (apoiava lavradores em conflito com fazendeiros), e do seringueiro e líder sindical dos trabalhadores rurais de Xapuri (AC), Chico Mendes (1989), ganharam destaque internacional, fortalecendo a luta em defesa da ecologia e dos povos da floresta. Resultado disso foi a decisão do Banco mundial de vincular a liberação de empréstimos à proteção do meio ambiente e, também, a decisão do governo brasileiro, às vésperas da ECO-92*, de demarcar várias reservas indígenas (por exemplo, a do Xingu e a dos Ianomâmi). Mas as violências contra os índios continuam ocorrendo.
IDENTIDADE E DIVERSIDADE
As populações indígenas são vistas pela sociedade brasileira ora de forma preconceituosa, ora de forma idealizada. O preconceito parte, muito mais, daqueles que convivem corretamente com os índios: as populações rurais.
Dominadas, política, ideológica e economicamente, as populações rurais necessitam disputar as escassas oportunidades de sobrevivência em sua região com membros de sociedades indígenas que vivem. Por isso, utilizam estereótipos, chamando-os de “ladrões”, “traiçoeiros”, “preguiçosos” e “beberrões”, enfim de tudo que possa desqualificá-los.
Procura justificar, desta forma, todo o tipo de ação contra os índios e a invasão de seus territórios.
Já as populações urbanas, que vive distanciada das áreas indígenas, tende a ter deles uma imagem favorável, embora os veja como algo muito remoto. Os índios são considerados a partir de um conjunto de imagens e crenças amplamente disseminadas pelo senso comum: eles são donos da terra e seus primeiros habitantes, aqueles que sabem conviver com a natureza sem depredá-la. São também vistos como parte do passado e, portanto, como estando em processo de desaparecimento, muito embora, como provam os dados, nas três ultimas décadas tenha se constatado o crescimento da população indígena.
Só recentemente os diferentes seguimentos da sociedade brasileira estão se conscientizando de que os índios são seus contemporâneos. Eles vivem no mesmo país, participam da elaboração das leis, elegem candidatos e compartilham problemas semelhantes, como as conseqüências da poluição ambiental e das diretrizes e ações do governo nas áreas política, econômica, saúde, educação e administração pública em geral. Hoje,há um movimento de busca de informações atualizadas e confiáveis sobre os índios, um interesse em saber, afinal, quem são eles.
Qualquer grupo social humano elabora e constitui um universo completo de conhecimentos integrados, com fortes ligações com o meio em que vive e se desenvolve. Entendo cultura como o conjunto de respostas que uma determinada sociedade humana dá as experiências por ela vivida e aos desafios que encontra ao longo do tempo, percebe-se o quanto as diferentes culturas são dinâmicas e estão em continuo processo de transformação.
O Brasil possui uma imensa diversidade étnica e lingüística, estando entre as maiores do mundo. São 215 sociedades indígenas, mais cerca de 55 grupos de índios isolados, sob os quais ainda não há informações objetivas, 180 línguas pelo menos, são faladas pelos membros destas sociedades, as quais pertencem mais de 30 famílias lingüísticas diferentes.
No entanto é importante frisar que as variadas culturas das sociedades indígenas modificam-se constantemente e reelaboram-se com o passar do tempo, com a cultura de qualquer outra sociedade humana. E é preciso considerar que isto acontecia mesmo que não houvesse ocorrido o contato com as sociedades de origem européia e africana.
No que diz respeito a identidade étnica, as mudanças ocorridas em varias sociedades indígenas, como o fato de falarem português, vestirem roupas iguais a dos outros membros da sociedade nacional com que estão em contato, utilizarem moderna tecnologia (como câmeras de vídeo, maquinas fotográficas e aparelhos de fax ), não fazem com que percam sua identidade éticas deixem de ser indígenas.
A diversidade cultural pode ser enfocada tanto sob o ponto de vista das diferenças existentes entre as sociedades indígenas e não-indigenas, quanto sob o ponto de vista das diferenças entre as muitas sociedades indígenas que vivem no Brasil. Mas está sempre relacionada ao contato entre realidades socioculturais diferentes e a necessidade de convívio entre elas, especialmente num país pluriético, como é o caso do Brasil.
É necessário reconhecer e valorizar a identidade étnica especifica de cada uma das sociedades indígenas em particular, compreender suas línguas e suas formas tradicionais de organização social, de ocupação da terra e de uso dos recursos naturais. Isto significa o respeito pelos direitos coletivos especiais de cada uma delas e a busca do convívio pacifico, por meio de um intercambio cultural, com as diferentes etnias.
RECONHECIMENTO DA DIVERSIDADE CULTURAL
Até meados da década passada, prevalecia o cunho integracionista das legislações nacionais de proteção às populações indígenas. Da mesma forma, no plano internacional, a Convenção número 107 da Organização Internacional do Trabalho (concluída em 1957), igualmente tratava a questão indígena sob um prisma essencialmente integracionista Na ótica integracionista, as sociedades indígenas eram vistas como um estágio primitivo e inicial de um processo unilienar de evolução.
A condição do índio correspondia, assim, a um estado necessariamente transitório, que desapareceria na medida em que os grupos indígenas fossem graduais e harmoniosamente incorporados às sociedades nacionais. O integracionismo encara, portanto, portanto, as sociedades indígenas como um fenômeno cultural em vias de extinção, e sem possibilidades de permanência e de reprodução.
No plano político, essa nova postura se refletiria na afirmação crescente do direito das populações indígenas de verem respeitadas a sua diversidade cultural. O discurso integracionista começou assim a ceder espaço, nas legislações internas e no campo internacional, ao reconhecimento da realidade pluriétnica dos estados nacionais, e do direito das populações indígenas de verem realizadas suas aspirações culturais de desenvolvimento diferenciado (etnodesenvolvimento). A diversidade cultural passa a ser encarada, nesse prisma, como um fator de enriquecimento da nacionalidade.
A afirmação do direito à diversidade cultural, importa a reivindicação pelas populações indígenas de um espaço político próprio no seio do Estado de Nacionalidade. A conquista desse espaço supõe, por sua vez, o reconhecimento de níveis crescentes de participação das comunidades indígenas nas decisões que tenham impacto sobre o seu modo de vida. Até a década de 70 supunha-se com fatal, no Brasil, a integração progressiva das populações indígenas à comunhão nacional.
A própria redução do contingente populacional indígena, que em 1957 caíra a algum número entre o mínimo de 68.100, e o máximo de 99.700 indivíduos segundo a estimativa feita por Darcy Ribeiro, parecia indicar a inevitabilidade de uma rápida extinção das tribos remanescentes, e de sua assimilação a população mestiça. O que se verificou, no entanto, é que apesar de todas as pressões assimilacionistas, os grupos indígenas não se desfizeram no corpo da população mestiça. Ao contrário, seu contingente populacional vem-se recuperando progressivamente, a ponto de Ter alcançado atualmente um número em torno de 330 mil pessoas.
Os grupos indígenas brasileiros têm logrado manter nas últimas décadas uma taxa de reprodução superior à da média nacional. Ao contrário do que se previa, o índio brasileiro não se transformou em branco, nem foi totalmente exterminado, mas iniciaram nas últimas décadas um lento e seguro processo de recuperação demográfica para o qual terão contribuído, em grande medida, a demarcação ainda inconclusa das áreas e a prestação de serviços assistenciais pelo Estado.
Os grupos indígenas transmutam-se, reelaborando os elementos de sua cultura num processo sempre contínuo de transfiguração étnica. Continuam, entretanto, identificando-se e sendo identificados como indígenas. Ao invés de sua extinção ou assimilação. O que se tem verificado nas últimas décadas é a vigorosa resistência da identidade étnica dos grupos indígenas brasileiros, independentemente do grau de interação que os diferentes grupos experimentam com a sociedade envolvente.
A Constituição Federal de 1988 reconhece as sociedades indígenas e sua formas de organização social, línguas, costumes, crenças e tradições, promovendo, portanto a valorização da identidade cultural diferenciada. Essa é, portanto, a base da atual política indigenista.
EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE CONQUISTA DOS DIREITOS ÍNDIGENAS
	1570
	Primeira lei contra o cativeiro indígena
	Esta lei só permitia a escravização dos indígenas com a alegação de “guerra justa”
	1609
	Lei que reafirmou a liberdade dos índios do Brasil.
	Importante lei que tentou garantir novamente a liberdade dos índios, ameaçadas pelos interesses dos colonos.
	1686
	Decreto do “Regimento das Missões”
	Estabeleceu a base de regulamentação do trabalho missionário e do 
fornecimento de mão de obra indígena no Estado do Maranhão e Grão-Pará.
	1755
	Aprovado o diretório, que visava, através de medidas específicas, a integração do índio na vida da colônia.
	Proibia definidamente a escravidão indígena.
	1758
	Fim da escravidão indígena; diretório foi estendido a toda a América Portuguesa.
	Secularização da administração dos aldeamentos indígenas, abolida a escravidão, a tutela das ordens religiosas das aldeias e proclamados os nativos vassalos da Coroa.
	1798
	Abolido o Diretório
	O espírito ” integrador” desse Diretório conservaria sua força na Legislação do Império Brasileiro
	1845
	Aprovado o Regulamento das Missões
	Renova o objetivo do Diretório, e visava, portanto, a “completa assimilação dos índios”
	1910
	Criação de Serviço de Proteção aos Índios (SPI)
	O Estado Republicano tutelou os 
indígenas
	1952
	Rondon criou o Parque Nacional do Xingu
	Objetivo era criar uma área de proteção aos indígenas
	1967
	Criação da Fundação Nacional do Índio –FUNAI
	Substituiu o extinto SPI na administração das questões indígenas
	1979
	Criação da União das Nações Indígenas
	Primeira tentativa de defesa da cultura indígena, importante para a consagraçãodos direitos dos índios na Constituição de 1988.
	1934
	Constituição de 1934
	Estabeleceu a UNIÃO para legislar sobre incorporação dos silvícolas à comunhão nacional, respeito a posse de terras.
	1967
	Constituição de 1967
	Terras ocupadas pelos silvícolas integram Patrimônio da União, usufruto exclusivo dos índios sobre os recursos naturais.
	1969
	Emenda Constitucional de 1969
	“Nulidade e extinção dos efeitos jurídicos dos atos de qualquer natureza que tivessem por objeto o domínio, a posse ou a ocupação por terceiros de terras habitadas pelos indígenas”.
	1988
	Constituição de 1988
	Inclui entre os bens da União, as terras ocupadas pelos índios, reconhece não apenas a ocupação física das áreas habitadas pelos índios, mas sim a ocupação tradicional (segundo as tradições), o que significa reconhecer toda extensão de terra necessária a manutenção e preservação das particularidades culturais de cada grupo. Ao abandonar intencionalmente qualquer referência à incorporação, ou integração dos índios a sociedade nacional, a Constituição de 1988, reconheceu o direito da populações indígenas de preservar sua identidade própria e cultura diferenciada.
A Marcha para o Oeste
O governo de Getúlio Vargas decidiu empreender uma nova "marcha para o oeste". Em plena Segunda Guerra Mundial e sob a ditadura do Estado Novo (1937-1945), o governo federal entendeu que era necessário ocupar de forma definitiva áreas do interior do Brasil vistas como desocupadas, evitando que fossem invadidas por colonos estrangeiros. Nesse sentido, foi organizada a Expedição Roncador-Xingu, iniciada em 1944, com a missão de explorar regiões ainda não ocupadas pelo Estado. A tarefa dos exploradores era abrir estradas e campos de pouso que seriam a porta de entrada para o tão propalado progresso e para a defesa militar da região.
A missão da Expedição não era das mais fáceis, sobretudo por conta daquilo que as autoridades consideravam um grande perigo: os índios. A região do Alto Rio Xingu, situada ao norte do estado do Mato Grosso, era alvo de interesse desde o século 19,
O Parque Indígena do Xingu 
Contando com a colaboração de outros indigenistas, como o antropólogo Darcy Ribeiro, os irmãos Villas Bôas passaram a defender a criação de um território exclusivo para os indígenas do Xingu, onde, teoricamente, ficariam resguardados do contato com a civilização exterior e suas doenças. Para isso, contariam com o auxílio do Estado, por meio do antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que seria responsável pela oferta de atendimento médico à população indígena.
Para os Villas Bôas, apenas o isolamento garantiria a sobrevivência, sobretudo física, daquelas populações. Entretanto, a ideia da organização de um território exclusivo para os xinguanos esbarrou nos planos do governo, o que fez com que os irmãos, principalmente Orlando, negociassem a criação da área que veio a corresponder ao Parque do Xingu. Em troca, o governo teria novas frentes de ocupação, como uma base aérea na Serra do Cachimbo, região entre os estados do Pará e Mato Grosso, que afetou diretamente as populações indígenas existentes na área, como os Kreen-Akarôres, quase totalmente dizimados.
Em 1952, foi apresentado à Presidência da República, então sob o comando de Juscelino Kubitschek de Oliveira, o projeto de criação do Parque Nacional Indígena do Xingu, calcado no ideal de isolamento das populações indígenas, bem como de seus recursos naturais. Contudo, o plano esbarrou no governo do Mato Grosso que, aliado aos interesses agropecuários, iniciou a distribuição das terras indígenas, detonando não só uma crise política, mas uma onda de violência e epidemias. O Parque foi criado oficialmente apenas em 1961, durante a presidência de Jânio Quadros, com contorno territorial reduzido a cerca de um quarto do que previa a proposta original.
À frente da administração do Parque, os Villas Bôas trataram de trazer para a porção norte de seus contornos populações indígenas não-originárias do Alto Xingu (Ikpeng, Kaiabi, Kisêdiê, Tapayuna e Yudja), provocando o deslocamento de aldeias inteiras. O deslocamento forçado e a introdução de bens materiais, como ferramentas agrícolas, fez com que a ideia de completo isolamento ou "proteção" apresentasse problemas.
As relações sociais e as práticas culturais passaram por mudanças consideráveis a partir do contato com os funcionários do Parque recém-criado. Além disso, a existência de profissionais responsáveis por sua tutela provocou a diminuição do reconhecimento do poder dos chefes tribais, uma vez que a população passou a depender dos Postos Indígenas estabelecidos no Parque. Ainda assim, a coesão social dos grupos não foi desarticulada e até se fortaleceu ao longo dos anos. E as políticas de saúde e de controle de entrada evitaram o retorno das epidemias.
Contudo, a criação do Parque do Xingu não eliminou as ameaças do avanço do progresso, sobretudo por parte do próprio governo. Durante o regime militar, os territórios indígenas foram constantemente ameaçados em nome do desenvolvimento e da defesa nacional, representados pela construção de rodovias (Transamazônica), hidrelétricas, mineradoras e bases militares.
A violenta expansão da ocupação territorial e do estabelecimento dos marcos da civilização no início do século 20 causou o desaparecimento de diversos povos indígenas. No ano de 1910, em meio a críticas internacionais ao banho de sangue promovido em nome do progresso, o governo brasileiro criou o Serviço de Proteção aos Índios e Localização de Trabalhadores Nacionais, visando a proteção da população indígena e a criação de colônias agrícolas no interior do país. No fundo, a intenção era transformar os indígenas em trabalhadores rurais ou operários urbanos. O conceito de índio era tido como transitório, como algo que dependia apenas da ação civilizatória promovida pelo Estado para desaparecer. Passados oito anos, índios e "trabalhadores nacionais" foram separados e então surgiu o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), sem, contudo, que se alterasse a doutrina da integração e tutela anteriormente definidas.
Diante do flagrante desrespeito em relação à diversidade e autonomia dos povos indígenas, os irmãos Villas Bôas, junto a outros indigenistas, defenderam a criação de um novo órgão que pudesse eliminar os problemas existentes no antigo SPI, processo que culminou com a criação da Fundação Nacional do Índio (Funai) em 1967. Entretanto, a Funai acabou por cumprir, durante os anos de ditadura militar, o papel de instituição propagadora do ideário do regime de exceção, subordinando-se aos planos de defesa e desenvolvimento, o que, obviamente fez com que a perspectiva assimilacionista do velho SPI fosse mantida e o conceito de índio continuasse sendo entendido como provisório, até que terminasse seu processo de incorporação.
A Funai manteve os moldes de órgão de tutela (e mesmo exploração) dos povos indígenas até o período de redemocratização, quando organizações de apoio aos índios, criadas ainda na década de 1970, ganharam força e visibilidade, colaborando de forma decisiva para o questionamento das políticas públicas idigenistas e estabelecendo um diálogo aberto entre os índios e a Funai.
Com a Constituição de 1988, a velha política assimilacionista e tutelar imposta aos povos indígenas foi rompida. O artigo 231 da Constituição garantiu o respeito à diversidade cultural dos povos e seu direito à posse de territórios. Já na década de 1990, a Funai sofreu uma profunda reestruturação, que culminou com a retirada de uma série de atribuições, como atendimento de saúde, redirecionados a outros órgãos federais e ministérios. Com a Fundação, ficaram a demarcação e a regulação dos territórios indígenas.	
 Os irmãos Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas tomaram a frente da empreitada e conseguiram estabelecer um contato amistoso com os povos indígenas que viviam no território a ser explorado, mesmo aqueles tidos como hostis, como era o caso dos Xavantes, contatados no anode 1944.
Em meio ao trabalho de abertura das frentes de ocupação, como os campos de pouso, os irmãos Villas Bôas estabeleceram relações com os povos Aweti, Kalapalo, Kaimaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Trumai, Wauja e Yawalapiti. Informe que, apesar da variedade linguística, formada pelas famílias Tupi-Guarani, Juruna, Aweti, Aruak, Karib, Jê e Trumai, os povos originais do Alto Xingu possuíam características culturais muito próximas, mantendo contanto profícuo entre si.
Mesmo com o aparente isolamento em que viviam, as populações indígenas contatadas pelos Villas Bôas sofreram, ao longo do tempo, a diminuição de sua população, muito em razão do contato com doenças infecto-contagiosas, adquiridas anos antes, a partir do contato com colonos brasileiros estabelecidos nos limites do território "não ocupado". Diante dos problemas causados pelo choque microbiano e pela ação predatória do Estado e de empreendedores da agropecuária - interessados na extração madeireira e na expansão de suas plantações e pastos em direção aos territórios agrícolas - os Villas Bôas deram início a uma série de ações que visavam a proteção das populações indígenas e de seus modos de vida.
	
O Xingu hoje 
Ao longo de seus 50 anos de existência, o Parque Indígena do Xingu passou por mudanças. Hoje, sem Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas e após os avanços na política indigenista brasileira, são os moradores que levantam voz em sua própria defesa. Não que não o tenham feito antes - eles participaram de forma ativa das discussões que levaram à própria concepção do Parque - mas hoje não precisam mais de intermediários. As nações xinguanas assumiram o papel político de defender sua cultura e o solo em que pisam há muito mais do que cinco décadas. 
Darcy Ribeiro e a questão indígena 
Da mesma década de 1950 foi a obra do romancista, etnólogo e político Darcy Ribeiro. Foi ele um dos primeiros autores a denunciar o aniquilamento da cultura indígena brasileira pela inadequada política Inter étnica desenvolvida pelo Estado e por órgãos como o Serviço de Proteção ao Índio, conhecido depois por Fundação Nacional do índio (Funai).
Em seus estudos, a questão indígena relacionava-se a uma ampla análise do desenvolvimento industrial e do processo civilizatório a partir dos centros hegemônicos, quer dentro do próprio país, quer a partir das relações internacionais.
Sua atuação foi sempre a de um antropólogo militante que, seguindo a linha marxista, condenou toda ortodoxia, buscando as raízes históricas da situação das populações indígenas e procurando saídas estratégicas. Exilado após o golpe militar de 1964, regressou ao Brasil em 1975 e se encaminhou para a vida política. Como os demais intelectuais de sua época, procurou unir a teoria à prática e aceitar modelos científicos, desde que adaptados à realidade longe dos modelos dos brasilianistas e folcloristas.
 Publicou, entre outras obras: A utopia selvagem, Os índios e a civilização, O processo civilizatório e O povo brasileira.
BIBLIOGRAFIA
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BRUIT, Héctor Hernan Bartolomé de Las Casas e a simulação dos vencidos – Ensaio sobre a conquista hispânica da América, Campinas: Editora da UNICAMP, 1995.
HECK & PREZIA Povos Indígenas: terra é vida / Egon Heck e Benedito Prezia, São Paulo: Ed. Atual, 1999.
LAS CASAS, Frei Bartolomé de. O paraíso destruído: a sangrenta história da conquista da América espanhola. Porto Alegre: L&PM Editores, 1984.
PREZIA & HOORNAERT Brasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo Hoornaert, São Paulo: FTD, 2000.
RIBEIRO, Darcy Os Índios e a Civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno, Petrópolis: Vozes, 1979.
MENSAGEIRO – Ameríndia Ontem e Hoje, estudo nº 4, edição 52, 1989.
RODRIGUES, Aryon. Línguas Brasileiras – Para o conhecimento das línguas indígenas. 2º Ed. São Paulo: Ed. Loyola, 1990.
TEIXEIRA, Raquel, “As línguas indígenas no Brasil”, in: A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus / Aracy Lopes da Silva e Luís Donizete Benzi Grupioni organizadores, Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995.
URBAN, Greg. “A história da cultura brasileira segunda as línguas nativas”. In: CARNEIRO DA CUNHA, Manoela. História dos Índios do Brasil, São Paulo: Companhia das Letras/Fapesp/Secretaria Municipal Cultura, 1992.
GALVÃO , EDUARDO. Áreas culturais indígenas do Brasil 1900 – 1959. Boletim Museu Paraense Emílio Goeldi, n.s., Antropologia, nº 8, Belém, 1960.
MELATTI, JÚLIO C. Índios do Brasil. Hucitec, 1980.
MELATTI, JÚLIO C. Índios da América do Sul – Áreas Etnográficas. Brasília, UNB, 1997. 2 vol. (mimeo).
RICARDO , CARLOS ALBERTO . Os Índios e a sociodiversidade nativa contemporânea no Brasil. In “A temááica indígena na escola”. Mec/Mari/Unesco, 1995.
LARAIA, ROQUE DE BARROS -1986 Cultura – Um Conceito Antropológico -Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 116p.
RIBEIRO, BERTA G. 1994 As artes da vida do indígena brasileiro.Índios no Brasil – organizado por Luís Donisete Benzi Grupioni. Ministério da Educação e do Desporto,
Brasília. 135 – 144p. 1988 Dicionário do artesanato indígena Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 343p, il.
VELTHEM, LUCIA HUSSAK VAN – 1998 A Pele de Tuluperí: Uma etnografia dos trançados Wayana – Belém: Museu Parense Emílio Goeldi. 251 p. il.
VIDAL, LUX e SILVA, ARACY LOPES DA – 1995 O sistema de objetos nas sociedades indígenas: Arte e Cultura Material A Temática Indígena na Escola: Novos subsídios para professores de 1º e 2º graus – organizado por Aracy Lopes da Silva e Luís Donisete Benzi Grupioni, MEC/MARI/UNESCO, Brasília. 369 – 402p.
SITES CONSULTADOS
http://educaterra.terra.com.br/educacao
www.cimi.com.br
www.isa.com.br
www.secret_ed_mec.com.br
www.culturabrasil.pro.br/
Instituição: Unicamp
Autor: Irineia da Silva
https://pedagogiaaopedaletra.com/o-indio-no-brasil/
http://www.funai.gov.br/index.php/quem-somos
http://sociologia-paratodos.blogspot.com.br/2012/08/darcy-ribeiro-e-questao-indigena.html
http://rede.novaescolaclube.org.br/planos-de-aula/os-irmaos-villas-boas-e-o-xingu

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