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Casos Clínicos de Freud e Breuer

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Casos Clínicos de Freud e Breuer
Emmy Von N. (Freud)
	Essa foi a primeira tentativa de Freud utilizar o método catártico de Breuer.
A paciente era uma histérica, de mais ou menos 40 anos, que tinha como sintomas: fala com interrupções espásticas, agitação incessante nas mãos, tiques, estalido com a boca. Freud também suspeitava de alucinações.
"Minha terapia consiste em eliminar esses quadros, de modo que ela não possa mais vê-los diante de si. Para reforçar minha sugestão, passei a mão suavemente por seus olhos várias vezes." (pág. 83).
	
Sob hipnose, Freud a sugestionava e massageava seu corpo onde doía. Mas percebia o bem-estar da paciente apenas com sua presença, sua atenção. Por mais que ele eliminasse alguns sintomas através da sugestão hipnótica, eles só cessavam realmente quando ele fazia uma análise psíquica (pág.122).
	Perceber que a paciente melhorava com a presença do médico já é um indício da relação transferencial, relação que só pode aparecer com toda a sua especificidade quando há o abandono da hipnose e do método catártico e o uso da associação livre.
	Nesta página anterior, Freud fala em análise psíquica. Essa análise que, para Freud, desde 1895, era o que cessava o sintoma, não é apenas trazer a tona, sob hipnose, a lembrança traumática. Freud, desde muito cedo, percebeu que era preciso ressignificar a lembrança insuportável, traumática, dar a ela um novo sentido, o que permite que ela se torne consciente e não cause mais sintomas e/ou padecimentos psíquicos.	
	Freud, na p. 99, fala em falsas ligações. Falsas ligações seriam aquelas que fazemos para "explicar" um ato realizado por uma causa inconsciente. Diz-nos Freud:
	"Parece haver necessidade de estabelecer uma conexão causal entre os fenômenos psíquicos de que tomamos consciência e outros materiais conscientes. Nos casos em que a verdadeira causalidade foge à percepção, não se hesita em tentar fazer outra ligação, na qual se acredita, embora seja falsa" (p. 99).
	
Essas falsas ligações sempre aparecem numa análise, e é a partir delas que vamos trabalhar, para tentar seguir sua trilha e chegar àquilo que, inconscientemente, causou o ato do sujeito. Sendo assim, estamos sempre, no processo analítico, na ordem das falsas ligações, é delas que partimos na busca da causa inconsciente, causa essa que sempre conhecemos indiretamente. 
	Voltando ao relato de Freud relativo ao caso, ele afirma que os "efeitos e resíduos de excitações que atuaram no sistema nervoso como traumas" encontraram uma saída através do corpo, já que por ab-reação ou pela atividade do pensamento elas não puderam escoar. Freud reparou na diferença entre os resultados da sugestão como forma de cortar o 
sintoma físico e da análise psíquica, que consistia numa atividade da memória, em que a paciente ia falando dos traumas e seus afetos concomitantes.
	Como resumo do caso, podemos citar Freud:
	O relato do caso esclarece suficientemente a maneira como o trabalho terapêutico foi conduzido durante o sonambulismo. Como é praxe na psicoterapia hipnótica, lutei contra as representações patológicas da paciente por meio de garantias e proibições e apresentando toda espécie de representações opostas. Mas não me contentei com isto. Investiguei a gênese dos sintomas individuais a fim de poder com bater as premissas sobre as quais se erguiam as representações patológicas. No curso dessa análise costumava acontecer que a paciente expressava verbalmente, com a mais violenta agitação, assuntos cujo afeto associado até então só se manifestara como uma expressão de emoção. Não sei dizer quanto do êxito terapêutico, em cada situação, deveu-se ao fato de eu ter eliminado o sintoma in status nascendi, e quanto se deveu a transformações do afeto por ab-reação, já que combinei esses dois fatores terapêuticos. Por conseguinte, este caso não pode ser rigorosamente utilizado como prova da eficácia terapêutica do método catártico; ao mesmo tempo, devo acrescentar que só os sintomas de que fiz uma análise psíquica foram de fato eliminados de forma permanente. (pág. 129).
Anna O. (Breuer).
	Anna O. foi uma paciente do Dr. Breuer que aos 21 anos de idade adoeceu. Era inteligente, gentil, saudável, perspicaz, extremamente persistente e, graças a um agudo senso crítico e bom senso que controlavam seus dotes poéticos e imaginativos, Anna era inteiramente não sugestionável. Ela só era influenciada por argumentos e nunca por meras asserções.
	Como características marcantes de personalidade, podemos sublinhar seu gosto por ajudar as pessoas, seu instinto de solidariedade e seu humor oscilante: estava muito alegre ou muito triste, não havendo meio-termo.
	Algo que chamou a atenção de Breuer foi que a "noção da sexualidade era surpreendentemente não desenvolvida nela". Nunca se apaixonou, nunca demonstrou desejos sexuais.
	A doença se agravou com a morte do pai, o que foi um trauma muito grande na vida da paciente. Seus sintomas eram bastante graves como paralisias dos membros sob a forma de contraturas, alterações da visão, sonambulismo, momentos de ausência da consciência, ou melhor, presença de um "outro estado de consciência" em que ficava agressiva e depois não se lembrava do havia acontecido.
	Gradativamente perdeu a capacidade de falar, misturava vários idiomas para a construção de uma mesma frase, o que culminou na perda da fala durante duas semanas. "E então, pela primeira vez, o mecanismo psíquico do distúrbio ficou claro. Como eu sabia, ela se sentira extremamente ofendida com alguma coisa e tomara a deliberação de não falar a este respeito. Quando adivinhei isto e a obriguei a falar sobre o assunto, a inibição , que também tornara impossível qualquer outra forma de expressão, desapareceu." (pag.60).
	Após a morte do pai (fato que pode ter sido o mais importante desencadeador de todos os seus sintomas - trauma), houve um momento de tranqüilidade, redução da angústia, descontração da musculatura hiper-rígida que a paralizava, que foi logo seguida de uma amnésia, um não reconhecimento das pessoas próximas e uma inquietude diante da 
presença de alguns parentes chegados. A única pessoa com quem Anna mantinha uma relação de contato permanente, contínuo, era com seu médico.
	Apresentava sonambulismo e alucinações constantes. O que aliviava a tensão e angústia provocados por tais sintomas era a fala. Dar expressão verbal a suas alucinações provocava um grande alívio. Anna chamava isto de "limpeza de chaminé". Este processo era tão eficaz que Breuer pôde até mesmo diminuir a dose dos narcóticos que a tranqüilizavam e aliviavam suas dores.
	"Seu estado moral era uma função do tempo decorrido desde a última expressão oral. Isto ocorria porque cada um dos produtos espontâneos de sua imaginação e todos os fatos que tinham sido assimilados ela parte patológica de sua mente persistiam como um estímulo psíquico até serem narrados em sua hipnose, após o que, deixavam inteiramente de atuar." (pag. 66).
	Os sintomas decorrentes de algum trauma eram tratados de maneira isolada e diminuíam quando recebiam expressão verbal. Cada um dos sintomas surgia sob a ação de um afeto.
	"Durante toda a doença seus dois estados de consciência persistiram lado a lado: o primário, em que ela era bastante normal psiquicamente, e o secundário, que bem pode ser assemelhado a um sonho, em vista de sua abundância de produções imaginárias e alucinações, suas grandes lacunas de memória e a falta de inibição e controle em suas associações. Nesse estado secundário, a paciente ficava numa situação de alienação. O fato de que toda a condição mental da paciente estava na dependência da intrusão desse estado secundário no normal parece lançar uma considerável luz sobre pelo menos um tipo de psicose histérica. Cada uma de suas hipnoses à noite oferecia provas de que a paciente estava inteiramente lúcida e bem ordenada em sua mente e normal no tocante a seus sentimentos e a sua volição, desde que nenhum dos produtos de seu estado secundário atuasse como estímulo 'no inconsciente'. A psicose extremamenteacentuada que surgia sempre que havia um intervalo considerável nesse processo de desabafo revelou o grau em que esses produtos influenciavam os fatos psíquicos de seu estado 'normal'” (pag.79).
	"Não obstante, embora seus dois estados fossem assim nitidamente separados, não só o estado secundário invadia o primeiro, como também- e isso se dava com freqüência em todas as ocasiões, mesmo quando ela se encontrava numa condição muito ruim- um observador lúcido e calmo ficava sentado, conforme ela dizia, num canto de seu cérebro, contemplando toda aquela loucura ao seu redor." (pag. 80).
	Breuer nos fala de uma divisão da consciência, como se uma parte fosse patológica e a outra fosse saudável. Os traumas psíquicos estavam sempre relacionados a afetos que precisavam de uma expressão verbal para que os sintomas físicos desaparecessem. A cura catártica, através da fala, era o método de Breuer.
	Essa divisão da consciência é importante porque já é um indício da noção freudiana de inconsciente.
Miss Lucy R. - 30 anos (Freud)
	Paciente encaminhada a Freud por um colega médico que estava tratando a rinite supurativa desta paciente. Quando chega à Freud, Lucy já havia perdido completamente o olfato, sofria de analgesia no nariz e era perturbada constantemente por um cheiro de pudim queimado.
	Aqui, Freud não se utiliza somente da hipnose para tratar da paciente. Apenas pede que ela se deite, feche os olhos, e se concentre, atingindo assim um estado alterado de consciência em que podem acessar lembranças e identificar ligações que aparentemente não estão presentes no estado de consciência normal.
	Ele partia do pressuposto de que os pacientes sabiam o significado da patogenia que os acossava, a questão era obrigá-los a comunicá-lo. O esquecimento é muitas vezes intencional e desejado, e seu êxito nunca é nada além de uma aparência. Isto porque, aquilo que é esquecido é algo insuportável para o sujeito.
	No caso de Miss Lucy, as tentativas de hipnotizá-la não produziam o sonambulismo. Ela ficava deitada de olhos fechados e num "estado acessível a um discreto grau de influência" (pag. 133).
	A palavra 'interpretação' aparece para denotar o ato de fazer a ligação de fatos que aparentemente (para o estado normal de consciência) não estão relacionados (pag 136). Mas neste caso, o ato de ligar fatos e falar de seu desejo não eliminou os sintomas e nem modificou seu estado de depressão e angústia. O que aconteceu foi um enfraquecimento do sintoma (sentir cheiro de pudim queimado quando ficava agitada) conforme a paciente falava dele, ligando-o a outros fatos, outros acontecimentos.
	Não satisfeito com este resultado (típico de um tratamento sintomático, em que se elimina um sintoma para que seu lugar seja ocupado por um outro), Freud dedicou-se à tarefa de eliminar este novo símbolo mnêmico através da análise. 
Esta consistia na busca da cena traumática, do "trauma realmente atuante". [Quando miss Lucy falou de uma cena, que estava ligada a várias outras, mas que se destacava por sua relação com o sintoma do distúrbio nasal].
	Miss Lucy falou de várias cenas traumáticas mas quando o momento traumático real (que é aquele em que a incompatibilidade entre um afeto e uma idéia se impõe ao ego e este repudia a idéia incompatível) foi falado, ganhou expressão verbal, o afeto que tinha se desligado da idéia e se ligado a uma reminiscência da cena se "encontrou" com sua idéia de origem. Só quando idéia e afeto relativos a uma cena traumática se ligaram no discurso da paciente é que seus sintomas físicos desapareceram "O método histérico de defesa reside na conversão da excitação em uma inervação somática; e a vantagem disso é que a idéia incompatível é forçada para fora do ego consciente. Em troca, essa consciência guarda então a reminiscência física surgida por meio da conversão (em nosso caso, as sensações subjetivas de olfato da paciente) e sofre por causa do afeto que se acha de forma meia ou menos clara ligado precisamente àquela reminiscência." (pag. 140). 
Com o desaparecimento dos sintomas relativos ao afeto traumático a paciente foi considerada curada.
	Seja "um ato de covardia moral" (pag. 141) ou uma medida defensiva que se acha à disposição do ego, o mecanismo que produz a histeria tem no seu centro um desejo, que sendo ou não reconhecido pelo sujeito, não deixa de atuar. Os sintomas são a expressão, a via que sinaliza o conflito entre um afeto e uma idéia.
Vemos, portanto, que neste caso, Freud não utiliza a hipnose, mas sim algo muito próximo da livre associação. 
Desta forma, ele percebe que falar a cena traumática é algo que não acontece com o relato da mesma isoladamente. Esta cena está ligada a outras no psiquismo do sujeito. Sendo assim, para que o sujeito fale do trauma, ele fala também de outras idéias que não são o trauma em si, mas que têm relação com o mesmo.
	Observando isso, Freud pode teorizar o mecanismo através do qual funciona uma análise: associação livre, onde o que é dito pelo paciente não é livre, e sim determinado pelas ligações previamente estabelecidas no psiquismo do sujeito.
Katharina (Freud)
	Numa viagem de férias, Freud é abordado por Katharina, que lhe fala sobre seus sintomas de falta de ar, sufocação, etc. Apesar de estar de férias, Freud, interessa-se pelo caso porque achou interessante constatar que uma neurose tivesse florescido numa cidade pequena, situada a mais de 2000 metros de altitude. (É preciso lembrar que, antes de Freud inventar a psicanálise, um dos tratamentos recomendados para as doenças nervosas era o repouso numa região de clima ameno - o que esta cidade tinha, pela sua altura - e tranquila).
	Pela descrição dos sintomas, Freud percebeu que Katharina sofria de crises de angústia. E a angústia, segundo ele, é algo relacionado, nas moças, com "o horror de que mentes virginais são tomadas ao se defrontarem pela primeira vez com o mundo da sexualidade" (p. 153).
	Partindo dessa premissa, Freud faz uma intervenção - não se tratava de uma paciente em tratamento, mas sim de uma conversa informal - onde afirma, para Katharina, que talvez seus ataques tenham sido causados por algo que ela viu ou ouviu e que a constrangeu.
	A moça concorda prontamente com essa intervenção e começa a relatar o que havia desencadeado o sintoma. Mas, neste ponto, Freud encontra uma resistência e não insiste. Apenas pede para que Katharina relatasse o que se seguiu ao ocorrido (p. 153-4).
	Após isso, Katharina abandonou "o fio da meada" e começou a contar a Freud duas histórias mais antigas, realtivas a dois ou três anos antes da cena relatada anteriormente. Apesar de ocorridas anteriormente, estas recordações estavam ligadas com o sintoma e o trauma (p. 155-6).
	Ao final deste relato, ela parou e parecia ter passado por uma transformação. Freud relata:
	A última parte que me contara, numa forma aparentemente sem sentido, proporcionou uma admirável explicação do seu comportamento na cena da descoberta. Naquela ocasião, ela carregava consigo dois conjuntos de experiências de que se recordava mas que não compreendia, e das quais não havia extraído nenhuma inferência. Quando vislumbrou o casal no ato sexual, estabeleceu de imediato uma ligação entre a nova impressão e aqueles dois conjuntos de lembranças, começou a compreendê-los e, ao mesmo tempo, rechaçá-los. Seguiu-se, então, um curto período de elaboração, de "incubação", após o qual os sintomas de conversão se instalaram, com vômitos funcionando como um substituto para a repulsa moral e física (p. 156-7).
	
Assim, neste caso, sem o uso da hipnose, percebemos claramente as associações que fazem com que o trauma se instaure sempre em dois tempos. A cena do trauma, para fazer efeito enquanto tal, precisa se ligar a uma outra cena (aqui, no caso, são a duas outras histórias), ligação que dá o sentido de traumático à primeira. Entre elas, há um tempo, um período de incubação.
	Também vemos claramente a lógica temporal do inconsciente. O inconsciente não segue a cronologia, o tempo do relógio. Neste caso,uma cena que aconteceu anteriormente se liga posteriormente a uma outra cena, gerando o trauma a posteriori.
	Ainda sobre esse caso, podemos dizer que ele é exemplar no que diz respeito à idéia de que é a sexualidade que está por trás dos sintomas histéricos.
Elisabeth Von R.
	O método utilizado foi o método catártico. Para fazer uso deste, Freud partiu do pressuposto de que Elisabeth sabia a origem e causa precipitante da doença e a guardava como um segredo, mas ao longo do tratamento percebeu que o segredo era um corpo estranho. 
	"Este processo consistia em remover o material psíquico patogênico camada por camada e gostávamos de compará-lo à técnica de escavar uma cidade soterrada. Eu começava por fazer com que a paciente me contasse o que sabia e anotava cuidadosamente os pontos em que alguma seqüência de pensamentos permanecia obscura ou em que algum elo da cadeia causal parecia estar faltando. E depois penetrava em camadas mais profundas de suas lembranças nestes pontos, realizando uma investigação sob hipnose ou utilizando alguma técnica semelhante. Todo o trabalho baseava-se, naturalmente, na expectativa de que seria possível identificar um conjunto perfeitamente adequado de determinantes para os fatos em questão." (pág. 155).
	
Conforme a paciente ia falando de suas aflições e relacionando-as com as dores no corpo, Freud passou a se basear nas dores para saber se uma determinada história relativa ao sintoma já se havia esgotado. Se o sintoma não sumisse totalmente seria por que a paciente não falara tudo.
	A análise possibilitou a elucidação do mecanismo do sintoma. A carga afetiva é simbolizada e convertida para uma parte do corpo. (pág. 175).
	Relacionando os casos clínicos com o artigo "A psicoterapia da histeria", o que chama mais a atenção é que apesar de tentar de várias maneiras diferentes (hipnose, massagens corporais, eletroterapia) dar continuidade ao tratamento, a melhor forma de se obter um resultado satisfatório era pedir que a paciente falasse. A fala podia ser a narrativa de uma cena traumática, a fala livre sem conexões aparentes entre os assuntos, fala sobre as dores no corpo relacionadas com as aflições afetivas. Ela tinha o efeito de alívio de angústias, de escoamento de afetos estrangulados, possibilidade de eliminação dos sintomas e de ressignificação da cena traumática.
	Mas para que esta fala tivesse algum efeito ela precisava ser dirigida a uma pessoa em que se confiasse muito. A crença no médico tinha traços de um estado amoroso, como a submissão e a confiança, sem as quais, nada se produzia.
Mesmo com toda a eficácia da hipnose no que diz respeito às defesas psíquicas, pacientes sob hipnose apresentavam uma resistência que poderia surgir como um esquecimento súbito e até mesmo como um pedido de encerramento da sessão. A força da defesa não deixava de atuar, simultaneamente, os sintomas também não. Eles apontavam para o conflito entre um desejo e uma inibição deste, onde o afeto e a idéia referentes ao desejo se separavam, ficando a idéia na memória e o afeto no corpo. A incompatibilidade entre o ego e uma idéia a ele apresentava gerava esta divisão.
	A idéia apresentada ao ego era um desejo. Mesmo que por caminhos tortuosos, Freud conseguira fazer o paciente falar deles. Percebeu que não bastava que ele o denunciasse, era necessário que o paciente, através da fala, desse vazão àqueles afetos inervados no corpo. A este tipo de tratamento Freud deu o nome de análise.
O CASO DORA
	O presente caso clinico é a historia de uma jovem histérica, de apenas 18 anos que Freud atendeu por apenas três meses conhecida pelo pseudônimo de Dora entre outubro e dezembro de 1900. No inicio de 1901 ele escreveu sobre o caso, mais só foi publicado em 1905, com o titulo Fragmento da análise de um caso de histeria.
	Este caso trata-se de uma descrição de um fragmento do caso em si, pois este ainda possuía alguns enigmas a serem desvelados. Alguns pontos da análise ainda estavam incompletos e por isso não foi possível a Freud alcançar, ou inferir seus conteúdos devido ao abandono do caso pela própria paciente, três meses após o início do tratamento. Este abandono, por parte de Dora, a Freud fez com que ele, mais tarde, admitisse que este caso tratava-se de um fracasso clínico.
	Quanto à escolha do nome Dora para designar sua paciente, Freud, por questões éticas, usa este Pseudônimo. Mas o verdadeiro nome de Dora era Ida Bauer (1882-1945).
	Dora foi tratada durante três meses, no final de 1900. Seu caso foi descrito em Janeiro de 1901 e publicado em 1905.	
	 O circulo familiar de Dora incluía seu pai que era uma pessoa dominante deste circulo sua mãe e seu irmão um ano e meio mais velho que ela (Dora).
	O seu pai era um grande industrial e sempre proporcionou uma situação financeira muito cômoda a Dora e sua família, dominante pelos seus traços de caráter e circunstância de vida qualquer um que o observasse poderia notar ativos talentos incomuns.
	Com relação à mãe de Dora, Freud a imaginava como uma mulher inculta, fútil, concentrava todos os seus interesses nos assuntos domésticos, imaginava porque nunca conhecera pessoalmente e concluía a respeito da personalidade da mãe de Dora apenas baseado nos relatos trazidos até ele pelo seu marido e pela sua filha. Freud denominou seu caso como “psicose da dona-de-casa”, pois ocupava o dia todo em limpar e arrumar. A relação mãe e filha era muito pouco amistosa, havia vários anos. Dora menosprezava a mãe e lhe atirava críticas severas. Dora se subtraía por completo de sua influência.
	Já a relação de Dora com seu irmão antes, quando era mais nova o tinha como seu modelo, mas depois, quando já apresentava seus sintomas histéricos e à época de seu tratamento com Freud se mostrava distante com relação a ele. 
	Dora nutria grande ternura pelo pai, ternura que aumenta cada vez mais devido às graves doenças de que padecera este, desde que ela contava 6 anos de idade. Seu pai contraíra Tuberculose. Devido a esse fato a família de Dora mudara-se para a cidade B em busca de um clima propício à melhora da saúde paterna. Permaneceram por dez anos nesta cidade. Quando Dora contava com seus oito anos de idade começa a apresentar seus primeiros sintomas neuróticos. Passou a sofrer de uma dispnéia crônica com acessos agudos ocasionais, demorando cerca de seis meses para se recuperar.
	Quando Dora atingira seus dez anos de idade, seu pai se submetera a um tratamento em um quarto escuro, devido a um deslocamento de retina, a capacidade de visão de seu pai fora reduzida a esta época. Aos doze anos acontece a doença mais grave de seu pai, uma crise confusional, seguida de sintomas de paralisia e ligeiras perturbações psíquicas. Seu pai decide se consultar com Freud em Viena a pedido de um amigo. Freud trata o pai de Dora e todos os seus distúrbios cessam, conseguindo dessa forma um grande sucesso no resultado do tratamento. Neste ínterim, Dora começa a sofrer fortes dores de cabeça (enxaqueca) e extensos acessos de tosse nervosa. Devido a estes sintomas, Dora aos dezesseis anos é apresentada a Freud pelo seu pai. Dora ficara neurótica. Mas ainda não se entrega a Freud em tratamento, fato que só irá ocorrer dois anos mais tarde, quando alcançara dezoito anos de idade. Com esta idade 	Dora apresentava o seguinte quadro sintomático, que piorara bastante desde a sua última consulta com Freud em Viena, tosse nervosa acompanhadas por acessos que duravam de três a cinco semanas, chegando a durar até meses e como resultado dessas crises ficava afônica, sentimento de grande desânimo e uma visível alteração no caráter. Estava insatisfeita com a família e mantinha sempre atitudes inamistosas para com o pai e a mãe. Evitava contatos sociais. Tinha fadigas e falta de concentração. Demonstrava uma tendência psíquica de se matar, que mesmo não levada a sério pelos pais, os abalaram quando Dora escreve uma carta se despedindo de todos. Muita das vezes se via em ataques de perda de consciência seguida de amnésia. Estes sintomas se tornaram os principaistraços de sua doença e enfim entrega-se a Freud para tratamento psicoterápico. Esta era Dora quando Freud a conheceu.
	Antes de se adentrar ao tratamento analítico de Dora, algumas figuras importantes, nesta história, precisam ser consideradas, Sr. E Srª K, casal K. A família de Dora fizera amizade com esse casal na cidade B assim que se instalaram. A senhora K cuidou do pai de Dora durante suas doenças e este era muito grato a ela pelo desvelo com que se entregava a um amigo. O senhor K era extremamente agradável com Dora, levava-a para passear e dava-lhe alguns presentes, Dora se dava muito bem com os 2 filhos do casal, os tratava como se fossem seus próprios filhos. A senhora K era muito infeliz no casamento e tinha no pai de Dora seu único apoio e consolo e este por sua vez, não estimava o sr. K. O casal K sempre falava em divórcio, o único elo que os uniam eram os filhos. O sr. K não abria mão dos rebentos. 	Dora ouvia as confidencias da Sra. K. Sabia o estado das relações dela com o marido. Dora se identificava também com a Sra. K. No amor por seu pai.
	Faz se imprescindível, neste momento citar alguns fatos ocorridos entre estes personagens para se entender a funcionalidade de cada sintoma de Dora, que mais tarde seria trabalhado por Freud em sua clínica.
	O primeiro fato seria a cena do beijo, no período em que Dora estava com 14 anos de idade, o Sr.K combinou com Dora e sua esposa que fossem encontrá-lo em sua loja na praça principal, para que assistissem um festival religioso, mas ele acabou induzindo a esposa a ficar em casa, despachou os empregados e estava sozinho quando Dora chegou à loja. Em seguida, ao invés de sair voltou e estreitou subitamente Dora contra si e deu-lhe um beijo nos lábios, sendo a primeira sensação de excitação sexual sentida e vivida por Dora, mas Dora sentiu no momento uma violenta repugnância. Dora, que vinha aceitando os assédios do Sr. K., foge quando este tenta beijá-la. Mesmo assim a relação com o Sr. K prosseguiu e nenhum dos dois jamais mencionou esta cena. As conseqüências sintomáticas refletidas em Dora após esta experiência se resumem em três: a repugnância, a sensação de pressão na parte superior do corpo, e a hesitação de conversar afetuosamente com homens.
	O segundo fato, o passeio no lago, pode ser descrito da seguinte forma, Dora conta a sua mãe que o Sr. K lhe fizera uma proposta amorosa, em um passeio no lago seguidamente à proposta feita pelo Sr K, Dora o esbofeteia. Chamado a prestar contas de seu comportamento ao pai e ao tio, o acusado negou, qualquer atitude de sua parte que pudesse ter dado margem a essa interpretação. O Sr K levanta então suspeitas sobre Dora, pois a mesma mostrava interesse pelos assuntos sexuais, segundo lhe disse a Sra K. Dora queria que seu pai rompesse com o Sr K e principalmente com a Sra K pela qual seu pai nutria uma profunda amizade.
 	Neste contexto Dora é levada ao consultório de Freud pelo pai, que havia sido tratado anteriormente por ele. Quando o pai vai pedir ajuda a Freud, Dora está no ponto em que se recusa a ver novamente o casal K., além de ter deixado um bilhete, ao alcance do pai, onde ameaçava suicidar-se, caso o pai não se afastasse do casal.
	Durante o processo terapêutico Dora relata, a Freud, dois sonhos que contribuíram pra material de análise. O primeiro sonho foi descrito assim por Dora, eis o sonho tal como Dora relatou: “uma casa estava em chamas, papai estava ao lado da minha cama e me acordou. Vesti-me rapidamente. Mamãe ainda queria salvar sua caixa de jóias, mais papai disse:” não quero que eu e meus dois filhos nos queimemos por causa da sua caixa de jóias. “Descemos a escada ás pressas e, logo que me vi do lado de fora acordei.” Dora recordava ter tido este mesmo sonho três noites sucessivas em L – (lugar no lago onde acorrera à cena do lago com o Sr. K, proposta amorosa).
	Depois de algumas semanas Dora volta a sonhar com cuja resolução interrompeu-se a análise. Dora narrou: “Eu estava passeando por uma cidade que não conhecia, vendo ruas e praças que me eram estranhas.Cheguei então a uma casa onde eu morava, fui ate o quarto e ali encontrei uma carta da mamãe. Dizia que, como eu saia de casa sem o conhecimento dos meus pais, ela não quisera escrever-me que o papai estava doente. Agora ele morreu e, se quiser você pode vir. “Fui então para estação e perguntei umas cem vezes:” Onde fica a estação?” Recebia a resposta:” Cinco minutos. ”Vi depois à minha frente um bosque espesso no qual penetrei, a ali fiz a pergunta a um homem que eu encontrei. Disse-me: Mais duas horas e meia. Pediu-me que eu deixasse acompanhar-me. Recusei e fui sozinha. Vi a estação a minha frente não conseguia alcançá-la. Ai me veio um sentimento habitual de angustia de quando, nos sonhos, não se consegue ir adiante. Depois, eu estava em casa; nesse meio tempo, tinha de ter viajado, mas nada sei sobre isso. Dirigi-me à portaria e perguntei ao porteiro por nossa casa. “A criada abriu para mim e respondeu: A mamãe e os outros já estão no cemitério.” 
	Após cerca de três meses Dora desiste, para surpresa de Freud, da análise até então levada a sério. Segundo Freud, tudo se prendeu com a transferência. Dora despede-se para não mais voltar.

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