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AULA 7.1 FATOS JURÍDICOS (CONTINUAÇÃO) • Planos do negócio jurídico [1: Escada Ponteana.] 1) Existência: o NJ precisa atender a pressupostos. - É um plano ôntico (ser). - Na Itália, ao invés de chamar de pressupostos, chamam de elementos estruturais. 2) Validade: o NJ precisa atender a requisitos. - Precisa atender os requisitos impostos pelo ordenamento jurídico (plano normativo). - Na Itália, ao invés de chamar de pressupostos, chamam de elementos essenciais. - O plano da não pode ser imposto aos fatos jurídicos que vêm da natureza (fatos jurídicos stricto sensu), pois estes não estão compelidos a atenderem os requisitos do sistema jurídico. 3) Eficácia: o NJ precisa atender aos fatores de controle. - Plano volitivo. Controle dos efeitos pela vontade das partes. - Na Itália, ao invés de chamar de pressupostos, chamam de elementos acidentais. • Plano de existência e seus pressupostos - Os pressupostos são: 1) Agente; 2) Objeto; 3) Forma; 4) Vontade externada. - É um plano pré-judicial, pois se o negócio não existe ele é um nada. Assim, não se pode falar em eficácia de algo que não existe. - Ex: Em um leilão de gado, Cristiano levanta a mão para chamar um garçom. Contudo, o leiloeiro, ao ver a atitude de Cristiano, imagina que ele estaria ofertando um lance. In casu, se o leiloeiro bater o martelo e atribuir a arrematação do lote para Cristiano, esse NJ é inexistente, pois não houve manifestação de vontade de Cristiano. - • Plano da validade e seus requisitos[2: São os pressupostos de existência qualificados/adjetivados.] - Os requisitos são (CC, art. 104): 1) Agente Capaz; 2) Objeto Lícito, Possível e Determinado ou Determinável; 3) Forma Prescrita ou não Defesa em lei; 4) Vontade Livre e Desembaraçada. - Ex: No exemplo do leilão, suponha agora que Jean ameaçou Cristiano a levantar o braço para ofertar um lance. Nesse caso, não se esta a discutir a existência (já pressuposta), mas sim a validade. O plano da existência nunca estará na lei, pois não é um plano normativo (dever-ser), mas ontológico (ser). Ele antecede a norma, logo não discute a lei, mas essência do NJ. • A invalidade do negócio jurídico - O primeiro artigo do Título sobre NJ não fala do plano da existência, mas trata da invalidade. Isso acontece, porque a existência é pressuposta. O que está na norma (CC) é sempre o plano da validade, e não o da existência. - Regime das invalidades: o CC dividiu as invalidades em dois grupos: 1) Anulabilidade (invalidade relativa): - Em relação aos requisitos de validade, são somente 2 causas de anulabilidade (CC, art. 171). Todas as demais são causas de nulidade. São elas: - Incapacidade relativa do agente; e - Vícios/Defeitos de vontade. 2) Nulidade (invalidade absoluta): - Todas as causas que não forem de anulabilidade acima citadas, serão de nulidade (CC, art. 166). São elas: - Agente incapaz; - Objeto Ilícito, impossível ou indeterminável; - Motivo Ilícito; - Violação da forma prescrita em lei; - Preterição de Solenidade; - Fraude à lei; - Quando a lei declarar taxativamente nulo. * OBS: No CC/16, a Simulação era causa de anulabilidade, pois contava no rol dos vícios de vontade. Todavia, os arts. 167 e 168 do CC/2002 modificam essa situação, retirando a Simulação do rol dos vícios de vontade. Assim, a Simulação deixou de ser causa de anulabilidade, para se tornar causa de nulidade autônoma. O CC/2002 entendeu que a Simulação merecia um tratamento mais recrudescido/grave/intenso. - Somado o art. 168, é nulo o NJ por simulação absoluta (maliciosa) ou simulação relativa (inocente). - art. 167 do CC: “subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma”. - Ex: A doação para concubina é anulável. Mas se sujeito, separado de fato, faz doação para irmão da concubina, para este passar depois para ela, há em tese a nulidade do NJ por simulação, visto que o sujeito queria doar para a concubina, mas se utilizou do de doação para o irmão pra simular o NJ. Contudo, como o sujeito já estava separado de fato, o STJ entende que essa doação para concubina, que agora é companheira, deixa de ser anulável. Assim, in casu, será nula a doação para o irmão, mas é válida a doação para ela. * OBS: o regime jurídico das invalidades do NJ é completamente distinto do regime jurídico das invalidades do processo civil. No processo civil, o regime das invalidades submete-se ao princ. da instrumentalidade das formas – pas de nullité sans grief – não há nulidade sem prejuízo (CPC, art. 244). No NJ, a premissa é pas de nullité sans texte - não há nulidade sem texto (previsão legal). AULA 7.2 • Regime Jurídico – características nulidade e anulabilidade NULIDADE (invalidade absoluta) ANULABILIDADE (invalidade relativa) Decorre de lei (ope legis) Decorre de decisão judicial (ope judicis) Não produz qualquer efeito jurídico Produz efeitos jurídicos até que sobrevenha a decisão judicial anulatória Interesse público Interesse privado Pode o juiz conhecer de ofício e o MP suscitar (quando estiver intervindo no processo) Não pode ser conhecida de ofício pelo juiz ou provocada pelo MP[3: Não pode, pois a anulabilidade é de interesse privado.] Não admite convalidação (embora admita conversão substancial) Admite convalidação pelos interessados Ação meramente declaratória[4: Ação declaratória exatamente porque a nulidade não produziu efeito. Como decorreu de lei, basta declarar a nulidade. Além disso, essas Ações Declaratórias podem ser proposta pelo MP, pois os casos de nulidades são de interesse público.] Ação (des)constitutiva – ação anulatória[5: Não pode ser declaratória porque o NJ anulável vinha produzindo efeitos. A ação anulatória é desconstitutiva negativa.] Imprescritível Prazos decadenciais para a propositura de ação anulatória[6: Se não for proposta ação anulatória dentro do prazo decadencial, o NJ produzirá efeitos para sempre. O art. 178 do CC estabelece um prazo genérico para a propositura das ações anulatória.] Hipóteses de cabimento: arts. 166 e 167 do CC Hipóteses de cabimento: art. 171 do CC * Prazos decadenciais para as ações anulatórias[7: Prazo decadencial não se interrompe nem se suspende.] - Prazos genéricos (CC, art. 178): será de 4 anos, contados da celebração do NJ, para as hipóteses genéricas de anulabilidade, quais sejam: - Agente relativamente incapaz; e - Vícios/Defeitos da Vontade. * A regra é a contagem da data de celebração do NJ. Contudo, no caso de coação, conta-se da data que a mesma cessar (CC, art. 178, I).[8: Se assim não fosse, bastava que o sujeito mantivesse a coação por mais de 4 anos.] - Em direito de família, essa regra de contagem do prazo em caso de coação não se aplica ao casamento. Neste caso, a data começa a fluir da data de celebração do casamento. Portanto, se o sujeito casou e manteve a cônjuge coagido por mais de 4 anos, o casamento estará convalidado. - Para prof., trata-se de uma regra antiquada, na qual CC quis dar um tratamento especial ao casamento. - Prazos específicos: o art. 171 do CC diz expressamente “além dos casos expressamente declarados na lei”, ou seja, além das hipóteses genéricas citadas, admite-se outras hipóteses de anulação previstas em lei. - Quando a lei exprime uma hipótese de anulação, ela vai criar o prazo. - Ex: art. 550 do CC – prazo de 2 anos, contados da dissolução do casamento, para a anulação de doação a amante. - Para prof., esse artigo é de uma falso moralismo incrível. Uma pessoa maior e capaz pode doar a sua cota disponível para um estranho, mas não pode doar para a amante. Se o patrimônio é do sujeito e a família não está sendo prejudicada (legítimas está blindada), não há razão para esta regra. - É anulável pelo outro cônjuge (corno) ou por seus outros herdeiros necessários. * Pode ser que o casamento tenha terminado e o cônjuge enganado tenha descoberto a doação para amante depois de 2 anos.In casu, há perda do prazo? Sim. Para o prof., o prazo deveria contar do conhecimento (Teoria da Actio Nata).[9: Essa teoria aduz que os prazos extintivos (prescrição e decadência) devem começar a fluir da data do conhecimento, e não da data da lesão. Ex: Súmula 278 do STJ.] - Além disso, considerando a situação em que o cônjuge enganado descobre a doação no decorrer do casamento, contudo perdoa o marido e nada faz. Porém, anos depois, por motivo diverso, o casal resolve se separar. Nesse caso, poderia o cônjuge enganado propor ação anulatória contra a doação? Não. Seria uma situação de venire contra factum proprium, pois haveria um comportamento visivelmente contraditório. Por essa razão, melhor seria contar o prazo da data do conhecimento (Teoria da Actio Nata). - Anulabilidades sem prazo: situações em que o legislador cria por lei uma espécie anulatória, mas esquece de estabelecer o prazo. - O art. 179 do CC estabelece prazo de 2 anos para essas situações. - Trata-se d regra residual. - Ex: art. 496 do CC – o legislador criou a hipótese de anulabilidade da compra e venda de ascendente para descendente (salvo consentimento dos outros interessados), porém esqueceu de definir o prazo. - Não pode se adotar o prazo de 4 anos do art. 178 do CC, pois ele é aplicável as hipóteses genéricas (Agente relativamente incapaz e Vícios/Defeitos da Vontade). - Antes do CC/2002, a Súmula 494 do STF dizia que o prazo decadencial do exemplo era de 20 anos. Agora, conforme art. 179 do CC, o prazo reduziu para 2 anos, contados da data de celebração do NJ.[10: Dizia ainda que o prazo era prescricional, e não decadencial.] • Aproveitamento da vontade (princípio da conservação) - Está expresso no CC, que criou meios para conservar a manifestação de vontade. - O aproveitamento da vontade é a possibilidade de conservar a vontade diante da quebra de um dos requisitos de validade do NJ. AULA 7.3 - Está manifestado no CC em 3 diferentes figuras: 1) Ratificação (CC, art. 172): é a convalidação (sanar/ acobertar) de um vício em NJ. - Só é possível em NJ anuláveis. Os nulos não são ratificáveis. - A convalidação pode ser expressa ou tácita. - Ex: Convalidação expressa – NJ realizado por incapaz, que após os 18 anos (tornando-se capaz) expressa a convalidação do ato. - Ex: Convalidação tácita – sujeito que deixa passar o prazo para apresentar ação anulatória. 2) Redução Parcial (CC, art. 184): incide nos NJ em que há duas ou mais manifestações de vontade, em que nem todas estão viciadas. Assim, a redução parcial é o aproveitamento das manifestações de vontade que não estão viciadas no NJ.[11: O prof. em seu livro chama a redução parcial de Isolamento da Invalidade.] - Incide tanto nos NJ nulos quanto anuláveis. - STJ 302: “É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado.” - Trata de um tipo de redução parcial. - Se em um contrato de seguro de saúde existem duas ou mais manifestações de vontade, e uma delas é viciada, não significa que o contrato como um todo inválido. Será invalidade a somente aquela vontade viciada, aproveitando-se as demais. - No caso da súmula, é inválida comente a cláusula limitadora do tempo de internação, as demais podem ser apreveitadas. 3) Conversão Substancial (CC, art. 170): Como os NJ não são ratificáveis (convalidáveis), é possível imaginar hipótese em que o NJ é nulo por vício de forma ou objeto, p.ex., apesar da validade da vontade nele manifestada. Nessa situação, estar-se-ia sacrificando o mais importante dos elementos do NJ, a vontade. Assim, a conversão substancial é a aproveitamento da vontade manifestada (válida) em NJ nulo por vício de forma ou objeto.[12: O CC da Alemanha chama isso de transinterpretação, porque o juiz transcenderá a interpretação da vontade.] - Incide somente nos NJ nulos. - Só o juiz pode determinar uma conversão substancial, pois o NJ nulo não admite ratificação. - O Enunciado 13 da Jornada de Direito Civil apresenta 2 requisitos para a conversão substancial: 1) Requisito Objetivo: Existência de uma outra categoria apta e idônea (válida) para receber aquela vontade. 2) Requisito Subjetivo: Existência de uma vontade válida, manifestada em NJ nulo por vício de forma ou objeto. * Por isso que o prof. entende que com a conversão substancial haverá uma Recategorização do NJ. Nesse sentido também, o CC da Alemanha chama de transinterpretação, pois o juiz tem de transportar a vontade para outra categoria, na qual poderá produzir efeitos. - Ex: Título de crédito nulo (cambial nula) -> Confissão de dívida: Cristiano é credor de Ian e por isso pede um título representativo de seu crédito como garantia. Ian então emite uma cambial, porém ele emitiu o título violando um requisito de forma. Logo, o título é nulo. Assim, Cristiano não pode executar o título, haja vista que lhe falta exigibilidade. Como não pode apresentar processo executivo, Cristiano apresenta Ação Monitória pedido para o Juiz converter o título de crédito nulo (cambial) em confissão de dívida. E, como confissão de dívida (prova escrita), requer-se o aproveitamento. - Ex: Testamento Público Nulo -> Testamento Particular: Uma senhora sem herdeiros necessário fez um testamento deixando o imóvel onde morava para sua enfermeira, com cláusula de usufruto vitalício. Enquanto viva ela fosse, ela moraria. Quando ela morresse ficaria para enfermeira. Contudo, esse testamento público violou uma formalidade, o que tornou o testamento nulo. Com a morte da senhora, a sobrinha da senhora, ao abrir o inventário, alegar que o testamento é nulo, logo o imóvel deverá ficar para ela. In casu, a vontade da senhora, manifestada no testamento, era de que a enfermeira ficasse com o imóvel, porém este testamento não pode produzir efeitos. O caminho seria a enfermeira se habilitar no inventário e requerer a conversão substancial, de forma a converter o testamento público em testamento particular. - Ex: Compra e venda nula -> Promessa de Compra e Venda: Ocorre muito em nosso país. Muitas pessoas celebram contrato de compra e venda de imóvel por instrumento particular.[13: Compra e venda de imóvel tem de ser por instrumento público registrado no cartório de imóveis.] Na prática, quando a pessoa vai comprar imóvel aplica todo seu dinheiro disponível na compra do bem. Às vezes a pessoa não tem dinheiro para lavrar a escritura, para fazer o registro, etc... Assim, a pessoa acaba celebrando um contrato particular de compra e venda, paga (tomando recibo) e toma posse do imóvel. Esse comprador somente se ocupará da regularização disso quando quiser vender novamente o imóvel, pois ai ele precisará da escritura. Porém, depois desse tempo, o vendedor poderá já ter morrido, estar em local incerto ou mesmo se recusar a fazer a escritura. O contrato de compra e venda de imóvel feito dessa forma é nulo, porém pode ser aproveitado como Promessa de Compra e venda. O art. 462 do CC não exige que a promessa de compra e venda tenha a mesma forma da compra e venda. Assim, pode-se pedir para o juiz que converta de compra e venda nula para promessa de compra e venda. O promitente comprador apresenta o recibo e faz-se a adjudicação compulsória. * Aplicação prática: - (TRF-5a Região/09) Apesar de prestigiar o princípio da conservação dos atos jurídicos, o Código Civil não previu meio de conservar o negócio jurídico eivado de nulidade – Falso. • Defeitos do negócio jurídico * OBS: a simulação não é mais um defeito do NJ. Ela agora é uma causa autônoma de nulidade. 1) Erro ou ignorância: é a falsa percepção ou falta de percepção sobre os elementos principais de um NJ. - No erro, o agente se engana sozinho. - O art. 138 do CC exige que no erro o agente se engane sozinho e que este engano seja substancial e real. - Substancial significa que o engano deve incidir sobre as circunstâncias elementares (fundamentais/importantes) do NJ. É o erra que determinou a contratação, ou seja, o agente só contratou por causado erro. - O erro acidental ou secundário não gera anulabilidade. O erro acidental é aquele em que o agente teria contratado de qualquer maneira. - Real significa que do erro deve decorrer prejuízo. * Ex: Cristiano comprou um relógio de bronze pensando que era de ouro. É erro é real, pois há prejuízo. E se Cristiano soubesse que era de bronze, não o teria comprado, logo o erro é substancial. * Ex: Cristiano comprou imóvel em uma rua, a qual pensou que era no bairro X. Porém, a rua do imóvel, que é homônima, está no bairro Y. Logo, há erro. * OBS: Vem-se discutindo se o erro precisa ser também escusável (desculpável). A maioria dos autores entende que não por conta do princ. da confiança, decorrente da boa-fé objetiva. - Enunciado 12 da Jornada de Direito Civil. - Ex: Supondo que João comprou relógio de bronze pensando que era de ouro. Porém, João é um ourives, logo esse erro não é escusável, pois ele teria conhecimento para discernir. Mas se quem lhe vendeu era uma pessoa em que ele confiava, nesse caso, apesar de não ser desculpável, a boa-fé objetiva encaminha a anulabilidade. * Erro de cálculo (CC, art. 143): não gera anulabilidade, mas apenas retificação. - Ex: contrato de 100 que diz que vai ser pago em 5 parcelas de 25. * Falso motivo (CC, art. 140): só vicia (induz erro) quando for razão determinante da declaração de vontade. - Ex: Cristiano comprou uma camiseta que custa muito mais caro que qualquer outra, pois a valor se diz revertido a uma causa social. Porém, se não houver causa social, há no NJ um falso motivo que induziu ao erro. * Erro de direito (CC, art. 139, III): o desconhecimento da lei pode ser alegado para caracterização do erro. O agente pode alegar que somente celebrou o NJ porque não sabia que existia uma lei que privava determinado efeito. - Vai temperar o art. 3º da LINDB, que diz que ninguém pode alegar o desconhecimento da lei. - Ex: Sujeito comprou um terreno em Petrópolis para construir uma casa de veraneio. Porém, ao requerer alvará de construção junto à prefeitura descobriu que era proibida a construção no local. Assim, a sujeito pode entrar com Ação de Anulação de compra e venda sob o argumento de que soubesse da existência da lei não teria comprado o imóvel. AULA 7.4 2) Dolo: é erro provocado. É o ardil/artifício utilizado para induzir alguém a erro. Se no erro o agente errou sozinho, no dolo ele foi induzido a erro. - Por ser erro, mas provocado, as características genéricas do erro também incidiram no dolo. Logo, como no erro, o dolo deve ser substancial e real (ver anotações acima). * Dolo acidental/secundário: é o dolo não substancial. Situação em que a parte contrataria mesmo não tendo sido induzida a erro. O dolo acidental não gera anulabilidade, mas pode gerar perdas e danos. * Dolus bonus: é o dolo não real, ou seja, o que não causa prejuízo. Este não gera anulabilidade.[14: Se contrapõe ao dolus malus.] - É aquele dolo facilmente perceptível. Ocorre geralmente em exageros de marketing. - Ex: sujeito que vende celular afirmando que pega em qualquer lugar do mundo. - Se violar a boa-fé objetiva pode gerar perdas e danos. * Dolo negativo (Reticência): é quando uma pessoa induz outra a erro pela omissão. - Ex: Suponha que o vendedor de um terreno, sabendo que o comprador quer construir uma casa, deixa de informar ao mesmo a existência de lei que proíbe construções na região onde está situado o terreno. Nesse caso, não há erro, mas dolo negativo/dolo por omissão/reticência. * Dolo recíproco (CC, art. 150): ambas as partes agem com dolo. - Não gera anulabilidade ou perdas e danos, pois ninguém pode se valer de sua própria torpeza. - Historicamente, sempre se afirmou que o dolo ocorria uma parte induz a outra a erro. O novo CC amplia esse conceito. Nos arts. 148 e149, o CC permite a caracterização do dolo também quando houver atuação por um 3º. O dolo de 3º torna o NJ anulável quando a parte que dele se beneficia sabia ou deveria saber. Além disso, o 3º responde por perdas e danos. - Se esse 3º é representante legal (estabelecida em lei), a parte beneficiada responde até o limite de seu proveito. Mas se o representante era convencional (a parte escolheu esse representante - mandato), haverá responsabilidade solidária. *Aplicação Prática - (TRF-1a Região/09) O dolo acidental, a despeito do qual o ato seria realizado, embora por outro modo, acarreta a anulação do negócio jurídico. - Falso, pois a parte contrataria mesmo não tendo sido induzida a erro. Porém, pode gerar perdas e danos 3) Coação: é a pressão psicológica. - No sistema jurídico temos 2 tipos de coação: - Física (vis absoluta): é quando a violência externa se elimina a manifestação de vontade. - Ex: Na literatura tem o exemplo da Rainha Catarina que casou coagida com o Rei Henrique VIII (Reforma – surgimento da Igreja Anglicana). Dizem que no momento do sim, a mãe da Rainha balançou em sinal afirmativo a cabeça da filha. - Gera a Inexistência do NJ por ausência de manifestação de vontade. - Psíquica (vis compulsiva): “faça isso, ou vou lhe causar um prejuízo”. - Gera a Anulabilidade. - Pode ser dirigida contra o contratante, alguém de sua família (sentido afetivo, e não biológico) ou contra o seu patrimônio. - Essa violência deve ser: - Séria; - Atual e iminente; e - Correspondência entre a violência e o ato extorquido (vontade coagida). - Aquilo que gera temor em uma pessoa, pode não gerar em outra. Assim, para analisar a coação, o juiz deve levar em conta os aspectos relativos à personalidade de cada um (elementos subjetivos) – art. 152 do CC. * Aplicação Prática - (TRF-1a Região/09) Em caso de anulabilidade por coação moral, é vedado ao juiz, sob critério subjetivo, considerar circunstâncias personalíssimas do coato que possam ter influído em seu estado moral, pois deve levar em conta o seu humano médio. - Falso. É o contrário (CC, art. 152). - Ameaça de exercício regular de direito e temor referencial: não caracterizam coação. - Ex: No MP, o promotor pode exigir da outra parte um TAC (termo de ajuste de conduta) para não entrar com ação. Isso não é coação. - Temor referencial é respeito. É muito comum na relação de família. - Ex: Pai que repreende o filho. * Apesar de alguns autores afirmarem que na relação empregatícia pode ser caracterizada situações de termo refencial, o prof. discorda. - Ex: patrão exige que o empregado se associe ao plano de saúde da empresa sob a ameaça de demissão. Isso não é temor referencial, mas coação. - Coação de 3º (CC, arts. 154 e 155): nos mesmos moldes do Dolo de 3º, o CC admitiu a Coação de 3º. - Se dará quando a parte que dela se beneficia sabia ou deveria saber. - Haverá sempre responsabilidade solidária. - Na coação, o CC agravou a sanção. No dolo, só há responsabilidade solidária se o 3º for representante convencional. 4) Lesão: é o vício que ocorre quando alguém assume um prestação excessiva por premente necessidade ou inexperiência. - É caracterizado por 2 requisitos: 1) Requisito Objetivo: assumir uma obrigação excessivamente onerosa. * Além disso, o art. 157 do CC exige que essa onerosidade excessiva esteja presente no momento da contratação, e não posteriormente. 2) Requisito Subjetivo: assumir uma obrigação por premente necessidade ou inexperiência. - Não precisa ser conhecida da parte contrária. - Se a parte que se beneficia, se dispuser de cumprir o contrato sem a parte excessiva, convalida-se o vício. - No CDC (arts. 4º e 6º), dispensa-se o Requisito Subjetivo. Assim, a simples onerosidade excessiva já caracteriza a lesão. - No CDC, a lesão gera nulidade e não anulabilidade como no CC. * Aplicação Prática - (TRF-1a Região/09) A lesão é defeito que surge concomitantemente à realização do negócio e enseja-lhe a anulabilidade, mas ainda assim, permite-se a revisão contratual para evitar a anulação e aproveitar-se, desse modo, o negócio – Verdadeiro. - (TJ/SC/03) A lesão é vício de consentimento previsto no atual CódigoCivil. Assinale, então, entre as alternativas seguintes, a INCORRETA: a) a lesão tem como um dos seus pressupostos a premente necessidade daquele que se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta; b) a lesão ocorre, também, quando alguém, por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta; c) a lesão não é causa de anulação do negócio jurídico, se o favorecido concordar com a redução do proveito que obteve; d) a desproporção entre as prestações há que considerar, para que haja lesão, os valores vigentes quando da celebração do negócio jurídico; e) há lesão, ainda quando a manifesta desproporcionalidade entre o valor da prestação a que se obrigad alguém e o valor da prestação oposta, decorrer de fato superveniente. - Não é superveniente, mas no momento da declaração de vontade. GABARITO OFICIAL – E 5) Estado de perigo: - É caracterizado por 2 requisitos: - Requisito Objetivo: assumir uma obrigação excessivamente onerosa. - Requisito Subjetivo: conhecido como Dolo de Aproveitamento, no qual o outro contratante tem conhecimento de que a parte somente está assumindo a prestação pela premente necessidade de salvar a si ou pessoa de sua família (em sentido afetivo) de situação de risco de morte. - Na lesão, não se exige dolo de aproveitamento. - Ex: Cheque caução em hospital. - Assim como na lesão, o Estado de Perigo tem de ser apreciado no momento da contratação e cessará a anulabilidade (convalidação) se a parte beneficiada cumprir o contrato sem a vantagem. - No CDC, não se exige o elemento subjetivo. Basta a onerosidade excessiva. Logo, no CDC não há diferença Lesão e Estado de Perigo. Lá é chamado de Lesão Consumerista. 6) Fraude contra credores (Pauliana): é uma alienação fraudulenta, ou seja, quando duas pessoas celebram um contrato, reduzindo uma delas a insolvência e prejudicando os credores. - O CC exige 2 requisitos: - Requisito Objetivo (eventus damni): prejuízo patrimonial. - Requisito Subjetivo (consilium fraudis): conluio fraudatório. - Dos requisitos, o mais difícil de se provar é o consilium fraudis. Contudo, o CC, dos arts. 158 a 164, estabelece determinados NJ em que se presume a fraude. - Claro, que essa presunção é relativa, logo admite prova em contrário. - Ex: Doação, renúncia de herança, antecipação de pagamento, ... - STJ 195: “Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores”. - Deve ser discutida em Ação Anulatória (Pauliana). - Se o devedor já havia sido citado para os termos de uma ação, Trata-se de Fraude de Execução, e não mais Fraude contra credores. - Fraude de Execução não gera anulabilidade, mas ineficácia. • Plano de eficácia e seus fatores de controle - Os fatores de controle são: 1) Condição; 2) Termo; 3) Encargo/Modo. - O NJ inexistente jamais produzirá qualquer efeito. - Ex: nunca haverá a possibilidade de casamento inexistente putativo.[15: No casamento putativo, o juiz empresta efeitos ao casamento em razão da boa-fé.]
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