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Anotações Curso CERS 2013 Direito Civil - Mod. 01 - Aula 10

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AULA 10.1
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
- As relações privadas se subdividem fundamentalmente:
- Existenciais (extrapatrimoniais); e
	- Ex: direitos da personalidade.
- Patrimoniais: aqui vamos encontrar ainda 2 categorias:
	- Reais:
- O sujeito passivo de um direito real é a coletividade, por conta da oponibilidade erga omnes. É o sujeito passivo universal.
- É o exercício de uma pessoa sobre uma coisa.
- É sempre perpétua.
- Rol Taxativo – art. 1225 do CC.
	- Obrigacionais:
		- O sujeito é determinado ou determinável.
- É exercido sobre uma pessoa, pois o direito obrigacional há uma prestação de uma pessoa em favor de outra.
- É sempre transitória.
- Rol Exemplificativo.
	* Tratando-se de direitos diferentes, terão uma Tutela Processual diferente.
		- Direitos Obrigacionais -> Ações Pessoais;
- São ações que visão obrigar uma pessoa ao cumprimento de uma obrigação.
Ex: Ação de Perda e Danos; Tutela Específica; ...
		- Direitos Reais -> Ações Reais;
- São ações dirigidas à coisa. São dirigidas à recuperação da coisa (sequela).
- Ex: Ação Reivindicatória.
* Nem sempre liame entre direito real e direito obrigacional está bem delimitado. Assim, em determinadas categorias encontraremos figuras híbridas.
Veja-se 2 Categorias Hibridas/Afins:
1) Obrigações propter rem: são relações jurídicas obrigacionais com características do direitos reais, notadamente a eficácia erga omnes e a sequela. É uma obrigação aderida/cravada a uma coisa.
			- Também chamadas de Obrigações Ambulatórias.
- Ex: Cota condominial é obrigação propter rem. Como é obrigação que adere a coisa, se o proprietário decide vender o imóvel, as cotas condominiais em atraso deverão ser pagas pelo comprador, pois este será o novo proprietário. [1: É o valor mensal pago mensalmente por todos os condôminos para fazer frente às despesas do condomíno.]
In casu, cabe direito de regresso do comprador contra o vendedor.
- Ex: Direitos de Vizinhança são limites ao exercício do direito de propriedade. 
Supondo a situação em que o vizinho não tem acesso à via pública, logo tem o direito de vizinhança de passagem forçada.
Caso o proprietário venda o imóvel que obsta a passagem decida vender o imóvel, o comprado terá a obrigação de respeitar o direito de passagem do vizinho, pois trata-se de obrigação aderida à cosia (obrigação propter rem).
- Ex: IPVA, IPTU, ITR, ... São imposto que aderem à coisa.
2) Obrigações com eficácia real: são aquelas relações obrigacionais em que o ordenamento lhes confere eficácia erga omnes.
- Depende de que a lei dê a relação obrigacional algo que por essência ela não possui, a oponibilidade erga omnes.
- Ex: Promessa irretratável de Compra e Venda é uma relação obrigacional com efeitos real.[2: Na prática, a promessa de compra e venda é utilizada quando se deseja realizar a alienação de bem, mas o comprador não tem o dinheiro para pagar a vista. Assim, não se celebra uma compra e venda, mas a promessa de compra e venda, em que o promitente comprador promete realizar o pagamento, em geral parcelado, e o promitente vendedor promete transferir a propriedade.]
Supondo que Marcos queira comprar o imóvel pertencente a Cristiano, porém não tem o dinheiro para pagar a vista.
Assim, para efetivar venda, os dois celebram contrato de promessa de compra e venda, no qual é firmado que Marcos pagará 60 parcelas e terá a posse do imóvel de imediato e Cristiano fará a transmissão do bem ao final do pagamento das parcelas.
Passados 5 anos e todas as parcelas pagas, Marcos exige a transmissão da propriedade do imóvel. Cristiano, porém, nega a transcrição, pois o mesmo, vendo que o imóvel teve uma valorização muito grande nos últimos 5 anos, desiste do negócio.
Nesse caso, como a promessa de compra e venda tem eficácia real, Marco tem o direito de ajuizar uma Ação de Adjudicação Compulsória (Ação Real). Assim, ele terá o direito de adquirir a propriedade da coisa, provando que já quitou todas as prestações.
• Evolução da Relação Obrigacional
- Lei do Talião (Código de Hamurabi): a relação obrigacional vinculava a pessoa e sua personalidade.
- Lex Poetelia Papiria: À época do baixo Império Romano. Ela humanizou a relação obrigacional, impedindo que o devedor respondesse com a sua pessoa. Consagrou-se a regra da responsabilidade patrimonial.
- Esta regra da responsabilidade patrimonial está consagrada em nosso sistema jurídico : art. 391 do CC e art. 591 do CPC.
* Em alguns casos, a responsabilidade patrimonial do devedor é mitigada, ou seja, nem mesmo o patrimônio do devedor responde por certas dívidas.
		- Ex: Bens de família – garantido o mínimo existencial.
- Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Interamericana de Direitos Humanos): no art. 7º, estabelece que o devedor somente poderá ser preso no caso de dívida de alimentos.
- Para Carlos Roberto Gonçalves, “A obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório, cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível.”
- Para Caio Mário, “A obrigação é o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra uma prestação economicamente apreciável”.
- Desses conceitos, podemos extrair os elementos da relação obrigacional:
	a) Caráter transitório;
		- A relação não é perpétua, pois do contrário seria uma escravidão.
b) Vínculo jurídico com exigibilidade patrimonial; 
	- art. 391 do CC e art. 591 do CPC
c) Prestação exigível; 
- Essa prestação é uma conduta humana positiva ou negativa (dar, fazer e não fazer).
d) Relação existente entre pessoas.
	- É um vínculo estático, em que o credor exige do devedor uma prestação.
No entanto, desde o CC de 2002 a relação obrigacional recebeu novos referenciais. E esses novos referenciais vão submeter a relação obrigacional a uma nova compreensão.
	1) Boa-fé objetiva;
	2) Equilíbrio econômico e financeiro;
	3) Função social do contrato.
Com esses 3 elementos, a relação obrigacional ganha um conceito complexo/funcionalizado. O vínculo passa a ser dinâmico (obrigação como um processo), ou seja, deixa de ser apenas o credor exigindo do devedor uma prestação.[3: No sentido de que passam a se movimentar em torno da relação jurídica credor, devedor e terceiros com o objetivo de auxiliar o cumprimento da prestação. A relação obrigacional deixa de ser estática e passa a ser cooperativa.]
Um dos primeiros autores a trabalhar com essa nova perspectiva foi Clóvis Couto e Silva. Para ele “A obrigação é o conjunto de atividades necessárias à satisfação do interesse do credor”.
* Prof. usa como analogia a essa mudança (relação estática -> relação cooperativa) a diferença entre uma partida de tênis e de frescobol. No tênis os jogadores jogam um contra o outro, enquanto no frescobol os jogadores jogam um a favor do outro.
No CC de 16, prevalecia o interesse do credor em satisfazer o seu crédito. 
Já no CC de 2002, há uma relação obrigacional complexa. Tanto credor como devedor assumem deveres recíprocos, colaborando para a satisfação do crédito.
Observe, todavia, que a relação jurídica não deixou de tender à satisfação do crédito. Porém, mesmo almejando a satisfação do crédito, não quer o sacrifício das partes.
Com isso, verificam-se novos elementos da relação jurídica obrigacional: [4: Esses novos elementos complementa o já tradicionais, quais sejam: a) caráter transitório; b) vínculo jurídico com exigibilidade patrimonial; c) prestação exigível; d) relação existente entre pessoas.]
a) ordem de cooperação entre as partes; 
b) deveres anexos impostos a ambas as partes; 
c) cumprimento mais largo (não basta adimplir os deveres obrigacionais do contrato).
• Relações obrigacionais e pacta sunt servanda
	- O contrato faz lei entre as parte. Essa era regra absoluta no CC/16.
- Com o CC/2002, o pacta sunt servanda será revisitado, pois agora precisa se submeter a boa-fé objetiva, equilíbriofinanceiro econômico e função social do contrato.
• A intervenção estatal e a sua intensificação (constitucionalização do Direito Civil X publicização do Direito Civil)
- Temos, portanto, uma modificação na intervenção estatal sobre o contrato. Assim, no que tange à relação privada, 2 novos movimentos vão surgir:
1) Constitucionalização do Direito Civil: é a compreensão dos institutos do direito civil em interpretação conforme os valores constitucionais.
2) Publicização do Direito Civil: é a intervenção do Estado em uma relação privada para assegurar a igualdade/equilíbrio dessa relação.
	- Orlando Gomes chamava de Dirigismo Contratual.
	- Ex: intervenção das agências reguladoras.
* Na atualidade, vamos encontrar os 2 fenômenos na relação obrigacional.
* No CDC e na CLT temos exemplos muito claros de concorrência simultânea desses 2 fenômenos.
• O papel (re) unificador da CF/88: declínio do individualismo: Novos valores para a relação obrigacional.
- Evolução de uma relação obrigacional egoística para uma relação pautada em solidariedade social e dignidade humana (relação colaborativa). Essa é a nova visão da relação obrigacional.
- A dignidade da pessoa humana como valor supremo das relações obrigacionais.
- “A concepção atual de relação jurídica [obrigacional], em virtude da incidência do princípio da boa-fé, é a de uma ordem de cooperação, em que aluem as posições tradicionais do devedor e do credor” (COUTO E SILVA, Clóvis. A obrigação como processo, São Paulo: José Butschasky, 1976, p.120).
- “Não se quer com isso negar que a relação jurídica obrigacional está destinada à satisfação do interesse do credor, mas enfatizar a necessidade de que este também deve cooperar na consecução deste fim” (PERLINGIERI, Pietro. Perfis do Direito Civil, Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p.212).
• 3 novas feições/valores/paradgimas do Direito das Obrigações
	1) Boa-fé objetiva (CC, arts. 113 e 422): é a eticidade aplicada à relação obrigacional.
		- É ética que se espera das partes.
- A ética que se espera das partes é diferente entre uma relação de consumo e uma relação societária, p.ex.
- “A boa-fé objetiva não pode ser aplicada da mesma forma às relações de consumo e às relações mercantis ou societárias, pela simples razão de que os ‘standards’ de comportamento são distintos.” (TEPEDINO, Gustavo; SCHREIBER, Anderson, “A boa-fé objetiva no Código de Defesa do Consumidor e no novo Código Civil”, In TEPEDINO, Gustavo – coord., Obrigações: estudos na perspectiva civil-constitucional, Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p.40)
- Não importa no sacrifício de vantagens contratuais. O que se quer é uma compreensão ética da relação obrigacional.
- “Justamente por não exigir a proteção aos interesses íntimos e privados da contraparte, mas somente a colaboração para aqueles interesses objetivamente extraídos da própria realização do negócio, a boa-fé objetiva não importa em sacrifício de posições contratuais de vantagem” (TEPEDINO, Gustavo; SCHREIBER, Anderson, “A boa-fé objetiva no Código de Defesa do Consumidor e no novo Código Civil”, In TEPEDINO, Gustavo – coord., Obrigações: estudos na perspectiva civil-constitucional, Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p.40).
- Assim, a boa-fé objetiva não é uma proteção do hipossuficiente, ou seja, não quer corrigir posições de hipossuficiência. O que ela quer é somente exigir comportamento ético e probo das partes envolvidas.
		- Tripla Função:
			1) Interpretativa das declarações de vontade;
2) Integrativa: estabelecer deveres anexos/implícitos para o NJ, queiram as parte ou não.
- Com esses deveres anexos, o conceito de adimplemento se alargou, pois adimplir agora não significa tão somente cumprir a obrigação, mas também cumprir os deveres anexos. 
Isso se chama de Violação Positiva de Contrato (Ver anotações da Aula 8).
3) Limitadora/Restritiva: significa que a boa-fé objetiva impede o exercício de direitos obrigacionais de forma abusiva.
- Ex: Anatocismo (juros compostos ou juros sobre juros) – O STJ vem dizendo que o juiz pode controlar a relação obrigacional para evitar anatocismo.
	2) Equilíbrio econômico e financeiro (CC, arts. 317 e 478).
- Nos arts. 317 e 478 do CC, temos expressa a Teoria da Imprevisão, que mitiga o pacta sunt servanda e garante o equilíbrio da relação.
- Evitar a onerosidade excessiva.
- Essa onerosidade excessiva deve ser superveniente. Isso porque, se a onerosidade excessiva estiver no momento da celebração do contrato, produzirá um efeito diferente.
Se a onerosidade for:
	- Na celebração: afeta a validade;
- Efeito decorrente dos institutos da Lesão ou do Estado de Perigo.
	- Superveniente: afeta a eficácia;
		- Será caso de Revisão ou Resolução de contrato.
AULA 10.3
	3) Função social do contrato (CC, art. 421).
		- Preocupação do impacto das relações obrigacionais sobre 3º. 
- Um contrato não pode prejudicar a coletividade e 3º não podem prejudicar a relação obrigacional alheia.
- Tutela externa e interna do crédito: A relação obrigacional passa a ter, além da proteção interna do crédito (entre as partes), uma também proteção externa.
- O 3º e eventualmente o MP podem ter legitimidade para requerer revisão de contratos por conta dos quais estejam sendo prejudicados.
- “Considerando que o segurado não teria recursos para indenizar a vítima pelos danos causados, é possível condenar diretamente a seguradora a pagar à vítima o valor da indenização prevista em caso de sinistro?” (STJ, REsp.97.590/RS, rel. Min. Ruy Rosado Aguiar, RSTJ 99:230)
	- É a vítima (3º) acionando diretamente a seguradora.
- STJ 308: “A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.”
	- Consagra a figura do “Terceiro Ofendido”.
- Ex: A construtora quer vender os apartamentos e para isso toma emprestado recursos para construir o prédio.
Não pagando a hipoteca, o banco não poderá executar os adquirentes.
- art. 608 do CC: “Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos.”
	- Consagra a figura do “Terceiro Ofensor”.
	- Terceiro ofensor é aquele que aliciou o prestador de serviço.
- Ex: Trata-se daquele caso em que o cantor Zeca Pagodinho prestava serviço à Schin, e derrepente foi fazer propaganda para propaganda para a Brahma.
Nesse caso, a Brama é o terceiro ofensor, pois aliciou o cantor a fazer propaganda contra a concorrente.
* Tais situações representam revisão indubitável do pacta sunt servanda.
- A relação obrigacional parte da premissa de que as partes são iguais. 
Assim, uma ou outra podem merecer uma proteção diferenciada por algum motivo, porém isso não quer dizer que são vulneráveis ou hipossuficientes.
- Se a norma reconhece uma das partes como vulneráveis/hipossuficientes, nesse caso não é direito civil.
- O CDC, p.ex., estabelece uma relação obrigacional diferenciada (protetiva) fundamentada na tutela do vulnerável/hipossuficiente, o consumidor.
Essa tutela se justifica pela incidência da “Teoria Finalista Aprofundada nas Relações de Consumo” – STJ, AgRegREsp. 1.149.195/PR.
Essa teoria significa que o CDC só pode ser aplicado em favor do consumidor. E o consumidor é um conceito finalístico, isto é, é aquele que adquire um produto ou serviço para certa finalidade. Assim, se o sujeito é o destinatário final, ele é um consumidor.
* Em relação a essa teoria, o STJ vem fazendo algumas concessões, permitindo que a pessoa jurídica seja considerada consumidor em determinados casos.
• Elementos constitutivos da relação obrigacional: 
- Orlando Gomes aduzia que não são elementos constitutivos da relação obrigacional o Fato jurídico e a Garantia.
		- O fato jurídico pode ser fonte das obrigações, mas não elemento. 
			- Fato jurídico poderia ser causa da obrigação.
- A garantia também não, pois ela fica em estado latente/potencialse a obrigação garantida não for voluntariamente adimplida.
	- Garantia poderia ser efeito da obrigação.
- São 3 elementos:
		1) Sujeito: credor e devedor.
- Ambos os contratantes são a um só tempo credor e devedor de relações distintas.
- No CDC, teremos as denominações de consumidor e fornecedor (CDC, arts. 2º e 3º).
Além disso, o próprio CDC amplia o conceito de fornecedor, falando, p.ex., Consumidor por equiparação, Bystander, Coletividade (enquadrada como consumidor), ...[5: Vítima de um acidente de consumo.]
- Em qualquer relação obrigacional sempre haverá uma bipolaridade de sujeitos.
- Se houver o mesmo sujeito em ambos os polos, extingue-se a relação obrigacional pelo fenômeno da Confusão (CC, art. 381).
- Ex: No direito sucessório, o credor pode terminar transmitindo os seus direitos e deveres para o seu devedor.
- Ex: Na cessão de crédito ou de débito, pode haver o fenômeno da confusão.
- É possível pensar em mutações (modificação) do sujeito da relação obrigacional. 
- Ex: Cessão de direitos.
- Exceção: somente não será possível a mutação quando se tratar de relação obrigacional personalíssima (infungível).
- Ex: Contratar um pintor conhecido para pintar uma obra.
- Pode ser Pessoa Natural, Pessoa Jurídica, Ente Despersonalizado ou Nascituro.
- Ex: Condomínio edilício (ente despersonalizado) pode ser empregador, contribuinte, contratante, ... Pode, em suma, titularizar relações jurídicas.
- Outros entes despersonalizados: massa falida, herança jacente ou vacante, ...
- O nascituro pode ser sujeito de relações obrigacionais condicionadas.
- O art. 542 do CC prevê a possibilidade de doação para o nascituro.
- O art. 1798 do CC permite a herança ou legado ao nascituro.
- Os incapazes podem titularizar relações obrigacionais, desde que devidamente representados ou assistidos.
- Sujeito determinado ou determinável: o sujeito da relação obrigacional não precisa ser apenas determinado. O CC permite que, caso o sujeito não seja determinado, seja pelo menos determinável.
Ou seja, é possível que o sujeito não esteja precisamente indicado no momento da constituição da obrigação, mas a sua determinabilidade venha posteriormente (indeterminabilidade relativa). Só não se admite uma indeterminabilidade absoluta.
- Ex: Promessa de recompensa – quando alguém anuncia no jornal que dará recompensa para quem achar o seu cachorro perdido, o sujeito não é determinado, mas será posteriormente.
- Ex: Testamento com beneficiário determinável – situação em que o professor deixa bem para o aluno que passar em primeiro lugar em concurso.
- Sujeito único/singular ou plural: em cada um dos polos da relação, pode-se ter 1 ou mais sujeitos.
	- Ex: marido e mulher podem ser devedores em conjunto.
	- Ex: herdeiros podem ser credores.
* No estágio atual do direito, não se fala somente em Obrigações Singulares ou Plurais, mas também em Obrigações Transindividuais.
Estas são as obrigações Difusas e Coletivas (CDC, art. 81).
	- Difuso: “de todos e de ninguém”;
- Coletivo: pertence a um grupo ou categoria determinada ou determinável.
- Ex: TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) – em um TAC podemos ter pessoas físicas ou jurídicas assumindo obrigações perante a coletividade. Em TAC ambiental, p.ex., podemos ter um interesse difuso.
- Ex: Convenções Coletivas de Trabalho – empregadores assumem obrigações perante a categoria. Esse caso é um exemplo claro de obrigação coletiva.
- Se o sujeito da relação merecer uma proteção diferenciada, termos um sistema jurídico próprio, com, p.ex., consumidor (CDC), empresário (Parte do CC acerca de Direito de Empresa), idoso (Estatuto do Idoso), criança e adolescente (ECA), torcedor (Estatuto do Torcedor) ...
Nesse cenários, se o CC contiver uma norma mais benéfica do que a específica, aplica-se o CC em diálogo das fontes (ou diálogo de conexão).
AULA 10.4
2) Objeto: não é um bem da vida, mas sempre um conduta humana (positiva ou negativa): dar, fazer ou não fazer.
- “Piscina da obrigação” (TARTUCE): 
- Parte rasa (elemento imediato: prestação); e 
- Parte funda (elemento mediato: o bem da vida).
- Este comportamento humano precisa atender aos elementos de validade do art. 104 do CC:
	- Lícito;
	- Possível;
	- Determinado ou determinável.
* Ex: Proibição de Pacto Sucessório (pacta corvina) – art. 426 do CC: relação obrigacional impossível (juridicamente).
Ex: Transporte de substância entorpecente – prestação ilícita.
* A obrigação será nula de pleno direito se a prestação humana for ilícita, impossível ou indeterminada absolutamente (CC, arts. 104 c/c 166)
3) Vínculo: vai conferir coercibilidade e relevância a uma relação obrigacional. É quem gera a exigibilidade (judicial) da relação obrigacional. 
- Não havendo cumprimento espontâneo da obrigação, a exigibilidade do vínculo implica a intervenção do poder judiciário.
- Essa atuação do poder judiciário poderá se dar por:
	- Tutela condenatória - perdas e danos; ou
	- Tutela específica (Execução Específica).
- Ex: Na promessa de compra e venda de imóvel, o promitente comprador pode ir ao judiciário requerer a transmissão do bem. Se o promitente comprador não o fizer, o juiz fará em seu lugar, por meio de adjudicação compulsória.
* Há determinadas relações que vamos encontrar Sujeito e Objeto, porém não existirá Vínculo.
Além disso, há outra relações em que há Sujeito e Objeto, mas o Vínculo estará desprovido de coercibilidade.
	- As obrigações podem ser:
		- Jurídicas: possuem vinculo com coercibilidade.
- Se a obrigação jurídica não for cumprida, gera execução pelo poder judiciário.
- O cumprimento da obrigação jurídica gera pagamento.
		- Morais: não possuem vínculo.
			- São obrigações puramente de consciência.
- Ex: pedido do pai ao filho de que quando morrer transfira parte da herança a sua enfermeira.
Depois da morte do pai, se o filho não está obrigado a cumprir a obrigação, pois não há coercibilidade judicial.
Se, todavia, ele decidir cumprir a obrigação moral, isso não tem natureza de pagamento, pois não se trata de obrigação jurídica. Na realidade, juridicamente o que ele fez foi um doação - liberalidade (irrevogável e irretratável).
- Naturais: possuem vínculo, mas sem coercibilidade (o sistema retira). 
- Por alguma motivo o sistema jurídico retira das obrigações naturais a coercibilidade.
- Porém são raras a hipóteses em que o sistema tira a coercibilidade do vínculo.
- Ex: Pagamento de dívida prescrita (CC, art. 882).
- Ex: Pagamento de dívida de jogo de azar.
- As obrigações naturais cumpridas geram pagamento (irrepetível), pois existe vínculo. 
* No incido III do art. 564, o CC não admite a revogação por ingratidão as obrigações feitas em cumprimento de obrigações naturais.
O problema é que a obrigação natural cumprida espontaneamente tem natureza de pagamento, e não de doação.[6: O art. 564 do CC está inserido no capítulo relativo às doações.]
Para prof., o legislador queria se referir às obrigações morais.
* Não geram Novação nem Compensação, exatamente porque não são exigíveis.
Em contrapartida, é possível falar em Pagamento Parcial e Dação em Pagamento, pois a obrigação natural pode ser cumprida voluntariamente.
- Convencionalização do Direito Civil (eficácia horizontal dos Tratados internacionais).
- O Pacto de San Jose da Costa Rica (Convenção Interamericana de Direitos Humanos) no seu art. 7º estabeleceu que os países signatários do pacto não admitirão prisão civil decorrente do descumprimento de obrigações, exceto a do devedor de alimentos.
- O problema é que a nossa Constituição admite em seu art. 5º, LXVII, a prisão civil do infiel depositário e do deve de alimentos.
- No Brasil, os tratados internacionais que tratam de direitos humanos tem eficácia supralegal (Ver anotações da Aula 1).
E a Constituição autoriza a prisão do depositário infiel na forma da lei. Contudo, acima da lei (hierarquia infraconstitucional), está o Pacto de San Jose da Costa Rica.
Por isso, o STF editou a Súmula Vinculante 25: “É ilícita a prisãocivil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”.
Na Súmula 419, O STJ ainda prevê que não cabe a prisão civil depositário judicial.
• Fontes das obrigações
	- Na sistemática do CC, as obrigações podem emanar de 3 diferentes fontes:
		1) Fatos jurídicos;
		2) Responsabilidade civil;
		3) Proibição de enriquecimento sem causa.[7: O prof. prefere não usar no direito civil a expressão enriquecimento ilícito, comum no direito adminsitrativo. Corretamente, as art. 884 e 885 do CC a usam expressão enriquecimento sem causa, pois esse enriquecimento pode decorrer de um ato lícito.]
- Impede a prática de punitive damage. No Brasil, por conta do princ. da vedação do enriquecimento sem causa, impede-se esse tipo de indenização, tão comum nos EUA.
- STF 377: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.” 
- Na situação em que ambos os cônjuges colaboraram para o acúmulo de patrimônio, para evitar o enriquecimento sem causa de um dos cônjuges, o STF recomenda a divisão.
* A função integrativa da boa-fé objetiva também pode ser fonte autônoma de obrigações (Ver anotações acima).
- Além disso, o descumprimento dos deveres anexos pode gerar um novo tipo de inadimplemento, é a chamada Violação Positiva de Contrato.

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