Buscar

Filosofia da Educação - Conteúdo Online

Prévia do material em texto

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
AULA 1 – DO MITO À RAZÃO
Na Grécia Antiga, a religião e o mito eram as fontes originárias de conhecimento. Através deles, os gregos tinham as respostas fundamentais para as grandes questões da existência.
A partir do século VI a.C., no entanto, surgiram alguns sábios que propuseram uma outra forma de pensar e de explicar o mundo. Eles passaram a utilizar os argumentos racionais (não mais os religiosos ou míticos) para teorizar a realidade a partir de elementos presentes no próprio mundo natural, sem que precisassem apelar a um mundo sobrenatural.
Nesse contexto, nasce a Filosofia.
O nascimento da polis (cidade), no século VIII a.C., provocou grandes transformações na Grécia Antiga.
O saber deixou de ser sagrado e tornou-se objeto de discussão. Os cidadãos da polis, passaram a ir à ágora (praça pública) para debaterem os problemas de interesse comum e para decidirem os rumos da cidade.
Tal mentalidade libertou os homens das ideias de pré-determinação e dos desígnios divinos que lhes impunham o destino do qual não poderiam escapar.
A política, por sua vez, permitiu aos cidadãos debaterem e traçarem o seu próprio destino em praça pública.
A passagem de uma visão mágica, mítica e religiosa do mundo para uma interpretação racional, humana, marca o nascimento da Filosofia no Ocidente e o início do período chamado Filosofia Antiga.
O nascimento da Filosofia ocorreu no século VI a.C., nas colônias gregas da Magna Grécia (sul da Itália) e Jônia (atual Turquia).
A Filosofia, tendo como fundamento a razão (logus), estabeleceu uma nova forma de interpretação da realidade.
A Filosofia nasceu fincada no chão da sociedade grega, sob condições políticas, econômicas e culturais que determinaram todo o edifício racional que fora construído pelos inúmeros pensadores.
Fatores políticos, religiosos e econômicos contribuíram para o surgimento da Filosofia na Grécia Antiga.
Fatores Políticos
As origens da Filosofia vinculam-se ao processo de consolidação da democracia grega em torno da polis.
A cidade-estado grega era o espaço legítimo e legitimador de sua liberdade, a ponto de o Estado tornar-se horizonte ético do homem grego.
Esta era a base da cidadania grega: os cidadãos são a finalidade última do Estado, o bem do Estado é seu próprio bem, sua liberdade, sua grandeza.
A democracia grega se apoiava em uma concepção de cidadania excludente. Eram considerados cidadãos, apenas os homens (varões) que possuíam bens ou riquezas. Portanto, estavam excluídos da cidadania as mulheres, os estrangeiros, os escravos e os homens pobres.
Fatores Religiosos
Os gregos conseguiram alcançar um patamar de liberdade religiosa muito elevado em relação a outros povos da Ásia Menor e do Oriente Próximo.
Enquanto em outras nações o poder religioso, aliado às monarquias de cunho tributário, servia para legitimar o Estado absoluto e o poder do rei, algumas cidades-estado da Grécia construíram uma relativa liberdade, baseada na autoridade do Pater Familias (Pai de Família).
A religião grega não se baseava em um livro Sagrado. Portanto, os gregos não tinham dogmas a serem defendidos, ortodoxia, nem heresias, ou uma casta sacerdotal. Estava aberto o caminho para o livre pensar.
Fatores Econômicos
O florescimento das cidades-estado gregas deveu-se principalmente ao desenvolvimento da indústria artesanal e do comércio. Antes disso, a Grécia era predominantemente agrária, sendo dominada politicamente por grandes proprietários de terras. Neste contexto, é mais compreensível que cultivasse uma visão mítica do mundo, mais ligada aos ciclos do clima.
O crescimento industrial e comercial fez florescerem as cidades-estado, fazendo surgir novos atores sociais, que começavam a dominar o cenário político e ameaçar o poder da nobreza fundiária. É nessas circunstâncias que a Filosofia nasce, fazendo justificar o poder emergente de comerciantes e artesãos.
Mítico - Religioso na Grécia Antiga.
Os gregos cultuavam muitos deuses. Estes múltiplos deuses estavam no mundo e faziam parte dele. 
Diferente dos judeus ou dos cristãos, os gregos não desenvolveram a ideia de um Deus criador, transcendente, absolutamente separado do mundo criado, cuja existência deriva e depende inteiramente dele.
Os deuses gregos nasceram no mundo. A geração dos deuses deu-se ao mesmo tempo da geração do universo. Os deuses e o mundo, a partir de uma espécie de caos primordial, foram diferenciando-se, ordenando-se, até tomarem a sua forma definitiva de cosmo organizado.
A gênese dos deuses e do mundo operou-se a partir de potências primordiais, como o Caos e a Gaia (terra), donde saíram, ao mesmo tempo e no mesmo movimento, o mundo, tal como pode ser contemplado pelos humanos, e os deuses que presidem a ele invisíveis na sua morada celeste.
Há, portanto, o divino no mundo, assim como o mundano nas divindades. O homem grego vive num mundo cheio de deuses e, por isso, não separa natureza e sobrenatureza, como dois domínios opostos.
A religião dos gregos não se apoiava em um Livro sagrado, fonte da revelação divina para os humanos, e não havia uma verdade que se encontrasse, de uma vez por todas, vertida em texto. Como consequência, também não havia dogma ou ortodoxia, nem profetas ou messias, tampouco uma casta sacerdotal. Talvez, por causa destas características da religião dos gregos, vigorava grande liberdade para pensar e para divergir, o que é fundamental para a Filosofia.
Tais saberes sobre os deuses eram veiculados por narrativas eminentemente orais. Ou seja, por histórias que eram transmitidas de boca a ouvido, e que passavam adiante, de boca em boca, através das fábulas contadas pelas mulheres às crianças nos lares e das vozes e dos cantos dos poetas ao público em geral. Mais tarde, no século VII a.C., esta tradição oral foi escrita por Hesíodo em textos que ficaram conhecidos como Teogonia e Cosmogonia (respectivamente, a origem dos deuses e a origem do mundo). Esta tradição de base oral constitui o que chamamos de mito.
Filosofia na Grécia Antiga
A princípio, os filósofos pré-socráticos, também chamados de "naturalistas" ou filósofos da physis, tinham como escopo especulativo o problema cosmológico, ou cosmo-ontológico, e buscavam o princípio (ou arché) das coisas.
Cada um dos filósofos pré-socráticos sugeriu um elemento primordial (princípio) ou causa de todas as coisas que compõem a realidade física.
Em um segundo momento, surge a sofística e o foco da filosofia muda do cosmo para o homem e o problema moral.
O pensamento filosófico rompeu com a tradição mítico-religiosa na Grécia Antiga.
O grande entendimento dos gregos pré-socráticos foi a compreensão de que as causas explicativas do mundo estavam presentes no próprio mundo. Portanto, através dos elementos primordiais (água, terra, fogo, ar etc.) era possível explicar a realidade, sem a necessidade de apelo às forças divinas, sobrenaturais, extramundanas.
AULA 2 – SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES
Sócrates, Platão e Aristóteles são os mais importantes expoentes da Filosofia grega. As doutrinas desses filósofos compõem o período clássico da Filosofia grega, tendo longa vigência nos séculos seguintes.
Sócrates deu uma nova direção à Filosofia. Enquanto o interesse dos filósofos pré-socráticos recaiu sobre os estudos da natureza (physis), Sócrates interessou-se pelas questões humanas, a ética, a política, o conhecimento, a educação, entre outros problemas que afetam o homem. 
As fontes mais importantes de informações sobre Sócrates são as escritas por Platão, Xenofonte e Aristóteles. Sócrates foi mestre de Platão.
Alguns historiadores afirmam que só se poder falar de Sócrates como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria.
A principal preocupação de Sócrates era a de levar os seus concidadãos a pensarem.
Nos diálogos de Platão, Sócrates é apresentado como homem dotado de uma mente rigorosa, racional e inquisitiva, que questionava continuamente as crenças fundamentais das pessoas. O Método Socrático consistia emfazer perguntas e desvendar o que estava oculto em cada uma delas, num processo denominado maiêutiva.
A filosofia de Sócrates exprimia-se por meio de diálogos. Na sua doutrina, a confiança na razão assumia um papel central: “ninguém é mau voluntariamente”, sendo o mal conseqüência da ignorância. O grande princípio socrático era o conhecimento de si próprio: “Conhece-te a ti mesmo”.
Sócrates desempenhou um papel importante no Estado ateniense, fazendo parte do governo da cidade. Porém, em 403 a.C., foi acusado e declarado culpado de corromper a juventude ao ensinar doutrinas que feriam as tradições religiosas da cidade de Atenas, tendo sido condenado à morte por ingestão de cicuta. Embora pudesse se exilar, Sócrates optou por beber tranquilamente o veneno e submeter-se a um fim doloroso.
Platão
Platão nasceu em uma família aristocrata de Atenas. Foi brilhante escritor e filósofo e se destacou entre os pensadores mais influentes da civilização ocidental. 
Desde jovem, Platão tinha ambições políticas, mas logo se decepcionou com a liderança política de Atenas. Ele se tornou discípulo de Sócrates, seguindo sua filosofia e aderindo ao método por ele utilizado: a busca da verdade.
Após a morte de Sócrates, Platão abandonou a cidade. As suas viagens levaram-no a lugares como Egito, Cirene e Sicília. Quando regressou a Atenas, co-fundou uma escola que ficou conhecida por Academia, situada no Jardim de Academos, onde se ensinavam os mais diversos assuntos, desde a Matemática à Biologia, da Filosofia à Astronomia.
Os ensinamentos de Platão foram escritos em forma de diálogo (aproximadamente trinta), de uma conversa ou um debate entre várias pessoas. Seus diálogos são divididos em três fases.
Em oposição aos sofistas, Platão propõe um novo método: a dialética (ou arte de pensar), que vai das palavras às ideias. Estas constituem a própria essência, fundamento e modelo das coisas sensíveis e individuais.
Teoria do Conhecimento de Platão
Platão foi o responsável pela formulação de uma nova maneira de pensar e de perceber o mundo. Este ponto fundamental consiste na descoberta de uma realidade causal supra-sensível, não-material, eterna e imutável. Tal realidade subsistiria num mundo separado do mundo sensível e material: o mundo das formas ou das ideias.
Platão, portanto, divide o existente em duas partes: o mundo das ideias e o mundo físico em que vivemos. No mundo das ideias, tudo é constante e real. Já no mundo físico (ou mundo sensível), tudo está sujeito ao fluxo, à mudança, daí seu caráter relativo e aparente. De um lado, o mundo das ideias ou das formas puras e imutáveis, e de outro, o mundo das coisas mutáveis.
Assim, as únicas coisas, de fato, permanentes e verdadeiras para Platão, seriam as ideias. Observar o mundo físico (tal como a ciência faz hoje em dia) pouco serviria, portanto, para alcançarmos uma compreensão da realidade, embora servisse para reconhecermos, ou recordarmos, as ideias perfeitas que traríamos dentro de nós.
Ideias ou formas são arquétipos imutáveis. De acordo com Platão, só essas ideias/formas são o fundamento do verdadeiro conhecimento. Platão distinguiu dois níveis de saber: opinião e conhecimento.
A República é a maior e mais reconhecida obra política de Platão. A obra se foca na questão de justiça: Como é um Estado justo? Quem é um individuo justo?
Segundo Platão, a melhor forma de governo é a aristocracia por mérito. Ele divide o estado ideal em três classes: a classe dos comerciantes, a classe dos militares e a classe dos filósofos-reis.
A República aborda diversos temas sobre justiça, governo e apresenta um governo utópico. Essa obra vem sendo amplamente lida através dos séculos, por mais que suas propostas nunca tenham sido adotas como uma forma de governo concreta.
Na República, também encontramos o famoso Mito da Caverna (ou Alegoria da Caverna). Trata-se de uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância. 
Em outras palavras, podemos dizer que a Alegoria da Caverna trata da passagem gradativa do senso comum, enquanto visão de mundo e explicação da realidade, para o conhecimento filosófico.
Aristóteles
É considerado um dos mais fecundos pensadores de todos os tempos.
Nasceu em Estagira, na península macedônica da Calcídica (por isso, ele também é chamado de o Estagirita). Era filho de Nicômano, amigo e médico pessoal do rei Amintas 2º, pai de Filipe e avô de Alexandre, o Grande.
Aos 16 ou 17 anos, Aristóteles mudou-se para Atenas (centro intelectual e artístico da Grécia) e estudou na Academia de Platão até a morte do mestre, no ano 347 a.C.
Após a morte de Platão, Aristóteles passou algum tempo em Assos, no litoral da Ásia Menor (atual Turquia), onde casou-se com Pítias, a sobrinha do tirano local. Sendo este assassinado, o filósofo fugiu para Mitilene, na ilha de Lesbos. Foi depois convidado para a Corte da Macedônia onde, durante três anos, exerceu o cargo de tutor de Alexandre, mais tarde “o Grande”.
Em 355 a.C., Aristóteles voltou a Atenas e fundou uma escola próxima ao templo de Apolo Lício, que recebeu o nome de Liceu. O caminho coberto ("peripatos") por onde costumava caminhar enquanto ensinava deu à escola um outro nome: Peripatética. A escola se tornaria a rival e ao mesmo tempo a verdadeira herdeira da Academia platônica.
Com a morte de Alexandre, em 323 a.C., o imenso império erguido por ele esfacelou-se. Em Atenas eclodiu um movimento que visava a restaurar a independência da cidade-estado. Malvisto pelos atenienses por causa da sua origem macedônica, Aristóteles foi acusado de “ateísmo” ou “impiedade”. Para não ter o mesmo fim de Sócrates, condenado ao suicídio, exilou-se voluntariamente em Cálcida, na ilha da Eubéia, onde morreu um ano depois.
As investigações filosóficas de Aristóteles consideraram várias áreas do conhecimento. Podemos citar a Biologia, a Zoologia, a Física, a História Natural, a Poética, a Psicologia, sem falar em disciplinas propriamente filosóficas como a Ética, a Teoria Política, a Estética e a Metafísica.
A metafísica aristotélica é a ciência que estuda “o ser enquanto ser”, ou os princípios e as causas do ser e de seus atributos essenciais. Podemos sintetizar a metafísica aristotélica em quatro questões gerais: potência e ato; matéria e forma; particular e universal; e movido e motor. Conheça, inicialmente, duas dessas questões.
Potência e do Ato 
Todo ser, que não seja o Ser perfeitíssimo (Deus), é uma síntese (um sínolo), um composto de potência e de ato, em diversas proporções, conforme o grau de perfeição, de realidade dos vários seres.
Um ser desenvolve-se, aperfeiçoa-se, passando da potência ao ato. Esta passagem da potência ao ato é a atualização de uma possibilidade, de uma potencialidade anterior. Por exemplo, um ovo está em ato, mas é potência de uma ave. 
Esta doutrina é aplicada e desenvolvida por Aristóteles, especialmente, quando este trata da doutrina da matéria e da forma, que representam a potência e o ato no mundo, na natureza em que vivemos.
Matéria e Forma
O composto de matéria e forma (o sínolo) constitui a substância.
A matéria aristotélica, porém, não é o puro não-ser de Platão (mero princípio de decadência), pois esta é também condição indispensável para concretizar a forma.
Então, não existe a forma sem a matéria, ainda que a primeira seja princípio de atuação e determinação da segunda. Com respeito à matéria, a forma é, portanto, princípio de ordem e finalidade, racional, inteligível. 
Diversamente da ideia platônica, a forma aristotélica não é separada da matéria, e sim imanente e operante nela. Ao contrário, as formas aristotélicas são universais, imutáveis, eternas, como as ideias platônicas.
Os elementos constitutivos da realidade são, portanto, a forma e a matéria. A realidade, porém, é composta de indivíduos, substâncias, que são um composto (um sínolo) de matéria e forma.  
Por consequência, estes dois princípios não são suficientespara explicar o surgir das substâncias e dos indivíduos que não podem ser atuados, a não ser por um outro indivíduo, isto é, por uma substância em ato.   
Com isso, existe a necessidade de um terceiro princípio, a causa eficiente, para poder explicar a realidade efetiva das coisas.  
A causa eficiente, por sua vez, deve operar para um fim, que é precisamente a síntese da forma e da matéria, produzindo esta síntese o indivíduo.
Daí uma quarta causa, a causa final, que dirige a causa eficiente para a atualização da matéria mediante a forma.
Particular e Universal
Mediante a doutrina da matéria e da forma, Aristóteles explica o indivíduo, a substância física, a única realidade efetiva no mundo, que é precisamente o composto (sínolo) de matéria e de forma.  
A essência, que é igual em todos os indivíduos de uma mesma espécie, deriva da forma. Já a individualidade, pela qual toda substância é original e se diferencia de todas as demais, depende da matéria. 
O indivíduo é, portanto, potência realizada, matéria enformada, universal particularizado.  
Mediante a doutrina da matéria e da forma é explicado o problema do universal e do particular, que tanto atormenta Platão. Aristóteles faz o primeiro (a ideia) imanente no segundo (a matéria), depois de ter eficazmente criticado o dualismo platônico, que fazia os dois elementos transcendentes e exteriores um ao outro.
Movido e Motor
Da relação entre a potência e o ato, entre a matéria e a forma, surge o movimento, a mudança, o vir-a-ser, a que é submetido tudo que tem matéria, potência. A mudança é, portanto, a realização do possível.  
Esta realização do possível, porém, pode ser levada a efeito unicamente por um ser que já está em ato, que possui já o que a coisa movida deve vir-a-ser, visto ser impossível que o menos produza o mais, o imperfeito o perfeito, a potência o ato, mas vice-versa. 
Mesmo que um ser se mova a si mesmo, aquilo que move deve ser diverso daquilo que é movido, deve ser composto de um motor e de uma coisa movida. Por exemplo, a alma é que move o corpo.
O motor pode ser unicamente ato, forma. A coisa movida, enquanto tal, pode ser unicamente potência, matéria. 
Eis a grande doutrina aristotélica do motor e da coisa movida, doutrina que culmina no motor primeiro, absolutamente imóvel, ato puro, isto é, Deus.
Como todo pensamento e todo juízo, a proposição aristotélica está submetida aos três princípios lógicos fundamentais, condições de toda verdade:
Princípios da identidade: um ser é sempre idêntico a si mesmo: A é A.
Princípios da não-contradição: é impossível que um ser seja e não seja idêntico a si mesmo ao mesmo tempo e na mesma relação. É impossível que A seja A e não-A.
Princípios do terceiro excluído: dadas duas proposições com o mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma afirmativa e outra negativa, uma delas é necessariamente verdadeira e a outra necessariamente falsa. A é x ou não-x, não havendo terceira possibilidade.
O sistema aristotélico invalida o dualismo platônico, representado pela teoria das ideias.
Ora, a forma aristotélica não existe separada, num mundo inteligível e apartado do mundo das coisas sensíveis e materiais. 
A forma, junto com a matéria, constituiria os indivíduos, as substâncias. Portanto, a forma é parte constitutiva das coisas e faz parte do único mundo existente.
Aristóteles, diferente de Platão, valoriza o conhecimento sensível, desvalorizado por Platão, como fonte de erro e de engano. 
Ao contrário de Platão, Aristóteles entende que todo o conhecimento possível inicia-se com os sentidos ou a sensação. 
Os sentidos, entretanto, são insuficientes, e precisam ser superados por outros graus mais elevados de abstração, passando pela memória, a experiência, a arte (téchne) e chegando à teoria (epistemé), grau mais perfeito do conhecimento.
AULA 3 – FILOSOFIA MEDIEVAL (PARTE I)
A Filosofia Medieval compreende um período histórico que vai do final do helenismo (séculos IV e V) até o Renascimento (final do século XV e início do século XVI). É a maior parte da produção filosófica da Idade Média.
A fase final da Filosofia Medieval (séculos XI e XV) equivale ao desenvolvimento da escolástica (designa todos aqueles que pertencem a uma escola ou que se vinculam a uma determinada escola de pensamento e de ensino) e a criação das universidades.
A filosofia de São Tomás de Aquino, que se aproximou dos textos de Aristóteles, resultou numa nova contribuição para o desenvolvimento da escolástica.
Posições controvertidas que foram assumidas na Filosofia, na Teologia e na Política.
A presença da tradição aristotélica na Europa ocidental.
O levantamento de questões que aproximavam a Teologia da Filosofia, investigando racionalmente os fundamentos da fé cristã.
O pensamento de Santo Agostinho.
A transição do helenismo para o cristianismo.
A religião cristã originária do judaísmo surge e se desenvolve no contexto do helenismo. A cultura ocidental da qual somos herdeiros até hoje é a síntese entre o judaísmo, o cristianismo e a cultura grega.
O helenismo permitiu a aproximação entre a cultura judaica e a filosofia grega, que tornou possível, mais tarde, o surgimento de uma filosofia cristã. Em Alexandria, essas culturas conviveram e se integraram, de forma que se falavam várias línguas na região. Nessa época, foi possível encontrar uma aproximação entre a cosmologia platônica e a narrativa da criação do mundo.
Inicialmente, o cristianismo não se distinguia claramente do judaísmo. Ele era visto como uma seita reformista dentro da religião da cultura judaica.
Para os gregos, o príncipe divino operava no mundo, essa visão influenciou fortemente o desenvolvimento da filosofia cristã.
É em São Paulo que encontramos a concepção de uma religião universal. Ele defendia a necessidade de pregar a todos. Esta é uma diferença básica em relação ao judaísmo e as demais religiões da época.
A cultura de língua grega hegemônica permitiu a concepção de uma religião universal, que corresponde, no plano espiritual e religioso, a concepção de império no plano político e militar. Essa concepção foi consolidada com o batismo do imperador Constantino, em 337, e com a institucionalização do cristianismo como religião oficial. Entretanto, não havia ainda uma unidade no cristianismo. 
A filosofia grega teve uma importância fundamental no processo de unificação do cristianismo, quando as discussões levaram a formulação de uma unidade doutrinária hegemônica, ortodoxa. Os primeiros representantes dessa filosofia cristã pertenceram a, assim, chamada escola neoplatônica cristã Alexandria.
Uma questão que acompanhou todo o pensamento medieval foi o conflito entre razão e fé, que era foco de tensão permanente. Diversos concílios fixaram a doutrina considerada legitima e condenaram os que não aceitavam esses dogmas expulsando-os da Igreja.
A filosofia grega se incorporou de maneira definitiva à tradição cristã: a lógica e retórica forneceram meios de argumentação; e a metafísica de Platão e de Aristóteles forneceu conceitos chaves (substâncias, essências e etc.), em função dos quais questões teológicas eram discutidas.
Santo Agostinho
Foi um dos grandes pensadores cristãos. A sua influência filosófica e teológica se estendeu até o período moderno. Veja abaixo os três aspectos fundamentais da contribuição desse pensador para o desenvolvimento da Filosofia.
A formulação das relações entre Teologia e Filosofia, entre razão e fé.
A criação da teoria do conhecimento com ênfase na questão da subjetividade e da interioridade.
A elaboração da teoria da história que foi desenvolvida na monumental cidade de Deus.
Pode ser considerado o primeiro pensador a desenvolver uma noção de uma interioridade que prenuncia o conceito de subjetividade do pensamento moderno.
Encontra-se no pensamento de Santo Agostinho a oposição interior/exterior e a concepção de que a interioridade é o lugar da verdade: é olhando para a sua interioridade que o homem descobre a verdade pela iluminação divina. 
A teoriada iluminação divina vem substituir a teoria platônica, explicando o ponto de partida do processo de conhecimento e abrindo o caminho para a fé.
A concepção agostiniana teve uma grande influência no desenvolvimento da noção ocidental de tempo histórico, raiz da visão hegeliana.
Santo Agostinho viveu em tempos conturbados: a ruína do mundo antigo, a decadência do Império Romano, as invasões dos bárbaros pagãos. Ele mostrou que os eventos históricos devem ser interpretados à luz da revelação, que a cidade divina prevalecerá, já que a história tem uma direção.
Fatores Históricos que Contribuíram Para o Desenvolvimento da Escolástica.
As culturas bárbaras que se estabelecem na Europa Ocidental não tinham conhecimento e, nem tampouco, interesse pela Filosofia. Só a partir do século IX, cinco séculos após a morte de Santo Agostinho, a situação começa a mudar.
Em 529, São Bento fundou, na Itália, a ordem monástica beneditina, diferente das ordens monásticas das igrejas orientais, que eram exclusivamente contemplativas. Graça aos monges copistas foram preservados os textos da antiguidade clássica grego-romana, nas bibliotecas.
Progressivamente, o mundo europeu ocidental começava a se reestruturar. A primeira grande tentativa de reestruturação aconteceu no natal do ano 800, quando o papa Leão III, convidou Carlos Magno para ir à Roma e lá o consagrou imperador do sacro império romano germânico. Após a morte de Carlos Magno, seu império foi dividido entre o seu filho e os sucessores deste, levando a uma nova fragmentação política, que gerou grandes conflitos.
É, portanto, em torno dos séculos XI e XII que vamos assistir o surgimento da chamada escolástica. Neste contexto, aparece a famosa querela entre a razão e a fé que percorre toda a Filosofia Medieval. No entanto, o desenvolvimento da Filosofia torna-se possível devido à difusão de consolidação das escolas nos mosteiros e catedrais.
Santo Anselmo
É considerado o primeiro grande pensador da escolástica. Ele elaborou sua filosofia buscando articular a razão e a revelação, a fé e o entendimento.
Deu a sua principal contribuição à Filosofia na formulação do famoso argumento ou prova ontológica, como ficou conhecido posteriormente (desde Kant). Trata-se de um dos argumentos mais clássicos da tradição filosófica, tendo sido questionado por outros filósofos na Idade Média, dentre eles São Tomás de Aquino. 
A conclusão de Santo Anselmo é que não se pode pensar a inexistência de um ser do qual nada maior pode ser pensado sem contradição. Desse modo, fica provada a existência de Deus.  
AULA 4 – FILOSOFIA MEDIEVAL (PARTE II)
A Filosofia Medieval contou com a valiosa contribuição do pensamento árabe.
Conheça os fatores históricos que contribuíram para a fusão entre a cultura árabe, a filosofia grega e o pensamento cristão.
(FILOSOFIA GREGA) A fusão começa a partir do momento em que Alexandre (século IV a.C.) inicia a expansão (mesmo após a morte de Alexandre, a expansão continua por regiões como Egito, Síria, norte da Mesopotâmia e Pérsia) do seu Império, levando e difundindo a cultura grega pelo Oriente Médio, conquistando a Índia. 
A partir desse momento, não restou mais dúvida a mistura entre a língua local e a grega com suas ricas tradições, formando os principais núcleos de cultura.
(PENSAMENTO CRISTÃO) No período cristão (IV e V d.C.), outro marco se dará aprofundando essa fusão. Vários cristãos foram condenados e buscaram exílio no Oriente, principalmente na Síria e na Mesopotâmia. Esses cristãos, além de conhecedores da filosofia e da ciência grega, usavam a língua grega.
(CULTURA ÁRABE) A fusão também foi influenciada pelo profeta Maomé (570-632), quando este assumiu a liderança religiosa do povo árabe, fundando a religião islâmica. Esse contexto, sem dúvida, favoreceu o encontro dos árabes com os núcleos de cultura de origem grega e cristã. Portanto, os cristãos da escolástica tiveram o primeiro contato com o pensamento de Aristóteles através desses núcleos de cultura.
Como você estudou na página anterior, os cristãos da escolástica tiveram o primeiro contato com o pensamento de Aristóteles através dos núcleos de cultura. Logo, podemos concluir que o grande desenvolvimento da filosofia escolástica, a partir do século XIII, foi devido à influência do pensamento árabe.
Com o desenvolvimento de uma intensa atividade artesanal e comercial, no século XIII, surgiram núcleos urbanos importantes que tiveram grande influência no enriquecimento de uma pequena parte da população.
Consequentemente, houve o rompimento com a ordem econômica (política feudal), dando lugar a um mundo em que as relações sociais permitiam a mobilidade social. Além disso, os artesões passaram a se organizar em ligas nas cidades, fazendo nascer um novo tipo de convívio social.
As obras de Aristóteles, com as suas preocupações científicas e empíricas, foram adequadas a esse novo contexto, devido a dois fatores fundamentais que são característicos do século XIII: o surgimento das universidades e a criação das ordens religiosas (franciscanos e dominicanos).
São Tomás foi um dos grandes pensadores da alta escolástica.
Teve uma profunda ligação com as universidades do século XIII, sobretudo a de Paris.
Tornou-se um grande pensador com criatividade e originalidade.
Desenvolveu uma filosofia própria, tratando praticamente de todas as grandes questões da Filosofia e da Teologia de sua época.
Teve grande interesse pelas obras de Aristóteles e dos pensadores árabes.
Mostrou que a filosofia de Aristóteles era compatível com o cristianismo.
Guilherme de Ockham foi o maior dos lógicos escolásticos. Ele combinou o racionalismo do pensamento aristotélico com a fé revelada do cristianismo.
Pelas posições que assumiu na Filosofia, na Teologia e na Política, e pelos constantes enfrentamentos com as autoridades, Ockham foi perseguido pelo Papa. 
Foi graças as suas ideias, que foram lançadas as sementes que levaram o sistema filosófico medieval à ruína, dando lugar ao novo senso de investigação crítica inspirado diretamente dos gregos.
As bases da filosofia e da ciência modernas foram lançadas nos séculos XV e XVI, levando ao Renascimento e à Reforma.
Nesse período, em oposição à escolástica (é considerada a integração entre as verdades da razão, campo da Filosofia, e as verdades da fé, campo da Teologia), é defendida a separação radical entre os campos da razão e da fé, da Filosofia e da Teologia.
No final do século XIV, a escolástica entrou em crise, porém, isso não significou o seu fim. A filosofia escolástica e o tomismo sobrevivem no período moderno, e até hoje encontram adeptos.
AULA 5 – FILOSOFIA MODERNA (PARTE I)
A ideia de modernidade foi sendo construída com o passar dos tempos.
O termo moderno já era usado na Filosofia Medieval, mas o conceito de modernidade veio de duas noções fundamentais relacionadas - a ideia de progresso e a valorização do indivíduo, que são decorrentes de fatores históricos como:
O Humanismo Renascentista (século XV); a Reforma Protestante (século XVI); a Revolução Científica (século XVII); a redescoberta do ceticismo.
O primeiro fator histórico que você conhecerá é o Humanismo Renascentista do século XV.
O conceito de Renascimento abrange os séculos: XV e XVI, que foi o período histórico intermediário entre o medieval e o moderno. Podemos dizer que o traço mais característico desse período foi o humanismo (um dos principais pontos de partida do humanismo foi o grande Concílio Ecumênico de Florença, em 1431).
O humanismo teve também uma grande importância na política. As partes centrais do ideário humanista tratam da rejeição da tradição escolástica em favor de uma recuperação da natureza humana individual, ponto de partida de uma nova ordem. O principal pensador político mais original desse período foi sem dúvida Nicolau Maquiavel (autor de O Príncipe, publicado em 1532).
A Reforma Protestante do século XVI também contribuiu para o conceito de modernidade.
Em uma visita a Roma (1510), Lutero ficou chocado com a corrupçãoda sede da Igreja e começou a defender a necessidade de uma reforma.
Portanto, o marco do início da Reforma Protestante foi a pregação por Lutero das suas 95 teses contra os teólogos católicos da universidade e contra o papa Leão X (1517).
A ideia de reforma foi bastante comum no desenvolvimento do cristianismo. 
A ruptura provocada pela Reforma é um dos fatores propulsores da modernidade, embora Lutero se aproxime mais da filosofia medieval agostiniana.  
O protestantismo, o movimento de oposição a Roma, difundiu-se por outros países, a exemplo de Calvino na Suíça, em Genebra.
Com isso, a Igreja Católica inicia uma ofensiva contra o protestantismo. O Concílio de Trento estabeleceu as bases doutrinárias e litúrgicas. A Inquisição ganhou nova força e, assim, surgiram novas ordens religiosas como a Companhia de Jesus, de caráter militante.
No século seguinte, a Guerra dos Trinta Anos opõe católicos e protestantes por toda Europa. 
A ética protestante, principalmente calvinista, proporcionou grande desenvolvimento econômico da Europa, permitindo a acumulação do capital.
Lutero combateu a escolástica, sua concepção teológica é uma interpretação da doutrina de santo Agostinho sobre a luz natural que todo o indivíduo tem em si e que permite entender e aceitar a revelação, não necessitando da intermediação da igreja, dos teólogos, da doutrina dos concílios, a fé é suficiente.
Se a discussão em torno da “regra da fé” abre caminho acerca do livre arbítrio e da salvação. Essa discussão levanta questões de natureza moral. 
Para Lutero, a salvação só é possível pela graça divina, dom de Deus que independe do saber adquirido, ou da obediência da autoridade eclesiástica, assim rejeita a doutrina ética da escolástica tomista e o esforço humano não desempenha nenhum papel na salvação.
Além do Humanismo Renascentista e da Reforma Protestante, a Revolução Científica também contribuiu para o conceito de modernidade.
Mercúrio: A Revolução Cientifica moderna teve seu ponto de partida na obra de Nicolau Copérnico, através de cálculos dos movimentos por meio dos corpos celestes.
Vênus: A obra de Nicolau Copérnico rompeu com o sistema geocêntrico, em que a terra se encontra imóvel no lugar central do universo, indo contra uma teoria estabelecida a praticamente vinte séculos.
Terra: Copérnico sacudiu a visão de mundo medieval estática imaginando a terra girando em torno do sol, desenvolvendo sua pesquisa propondo a hipótese heliocêntrica. Ele conserva uma concepção de um cosmo fechado, tendo como limite a esfera das estrelas fixas, típica da visão antiga. A ideia de um universo infinito foi incorporada progressivamente à ciência moderna.
Marte: A revolução científica moderna inspirou-se em Platão, que já havia antecipado o modelo heliocêntrico.
Júpiter: Em 1609, o astrônomo alemão Johannes Kepler defendeu a ideia de que o universo é regido por leis matemáticas.
Saturno: Porém, é na verdade Galileu quem diz “a natureza é um livro escrito em linguagem geométrica”. Esse é o ponto de partida do mecanicismo que vê a natureza como um mecanismo, como as engrenagens de um relógio impulsionado por uma força externa.
Urano: Galileu ainda postulava a ideia de órbitas circulares. Podemos considerá-lo como ponto de chegada de um processo da antiga visão de mundo e de ciência.
Netuno: Em Leonardo da Vinci, podemos encontrar um ótimo exemplo de modernidade.
Plutão: São duas as grandes transformações científicas:
do ponto de vista da cosmologia - o modelo empreendido por Galileu - universo infinito e movimento dos corpos celestes, principalmente da terra;
do ponto de vista da ideia de ciência - a valorização da observação do método experimental que se opõe à ciência contemplativa dos antigos.
Outro fator histórico que contribuiu para o conceito de modernidade foi a redescoberta do ceticismo.
O interesse pelo ceticismo antigo é retomado no Renascimento como parte do movimento de volta aos clássicos.
A Idade Média havia sido, em grande parte, ignorada pelos céticos devido à refutação do ceticismo por santo Agostinho.
Possivelmente, os céticos foram os primeiros filósofos a questionar a possibilidade do conhecimento e a levantar a questão sobre os limites da natureza humana do ponto de vista cognitivo, o que será uma das grandes temáticas do pensamento moderno até Kant. 
Um dos primeiros a tratar dessa temática argumentou que os limites do nosso entendimento só podem ser superados pela fé. A revelação e a fé são as únicas possibilidades de superar a incerteza de uma ciência incapaz de alcançar o verdadeiro saber.
Podemos considerar Michele de Montaigne o filósofo mais importante desse período, quanto à retomada e ao desenvolvimento do ceticismo, inclusive devido a sua influência em Descartes.
A visão cética de Montaigne pode ser considerada um dos pontos de partida do subjetivismo e do individualismo. Diante de um mundo de incerteza, mergulhado em guerras e conflitos religiosos e políticos o homem refugia-se dentro de si.
AULA 6 – FILOSOFIA MODERNA (PARTE II)
Descartes (1596 – 1650) viveu em um tempo de profunda crise da sociedade, tempo de transição entre uma tradição que sobrevivia e outra que estava surgindo, resultando em uma nova visão de mundo. Ele acompanhou as grandes transformações da sua época.
O início das grandes navegações e a descoberta das Américas.
As teorias científicas de Copérnico e Galileu, que revolucionaram a maneira de se considerar o mundo físico.
A escolástica medieval, que estava longe de desaparecer.
A decadência do sistema feudal, substituído por uma nova ordem econômica baseada no comércio livre e no individualismo.
A Reforma de Lutero, que abalou a autoridade universal da Igreja Católica no Ocidente, e a Contra Reforma, reação ao Protestantismo, que teve como consequência a Guerra dos Trinta Anos, na qual o próprio Descartes participou.
A arte retomando os valores da antiguidade clássica, impondo uma cultura leiga, às vezes, de inspiração pagã.
A obra de Descartes é uma longa reflexão e tomada de posição sobre o seu tempo. A crença no poder crítico da razão humana individual é traço fundamental da modernidade (a modernidade é ruptura com a tradição, a autoridade da fé pela razão humana, oposição às instituições) de Descartes.
O homem da época de Descartes viveu uma grande diversidade de experiências. 
Devemos compreender o pensamento filosófico de Descartes como o resultado da reflexão sobre a experiência de vida.
É possível considerar Descartes como um dos iniciadores da modernidade, doravante, influenciará o desenvolvimento do pensamento filosófico.
Com Descartes, a necessidade de contextualização do pensamento e o sujeito pensante entram em cena: “terei a satisfação de mostrar os caminhos que segui e apresentar minha vida como em um quadro”.
Descartes sempre escreveu na primeira pessoa do singular.
Descartes foi excelente aluno, sobretudo interessado pela Matemática; viajou por diversos países da Europa; descobriu sua vocação filosófica decidindo dedicar-se a “descobrir os fundamentos dessa ciência admirável”. 
Ele considerou a Matemática como modelo de sua reflexão filosófica e, com isso, pretendia elaborar uma matemática universal para todos os assuntos. 
Nesse tempo de conflitos, crises e incertezas, Galileu foi proibido de lecionar.  Ao tomar conhecimento da condenação de Galileu, Descartes desistiu de publicar a sua obra - O tratado do mundo. 
Em 1637, Descartes publicou, em francês, seus tratados científicos que têm como introdução o discurso do método. Descarte adquiriu fama e sua obra foi condenada.
Projeto Filosófico de Descartes.
Segundo Descartes, se no início do discurso do método, o bom senso (isto é, a racionalidade) é natural ao homem, o erro resulta na realidade de mau uso da razão. 
A finalidade do método é: por a razão no bom caminho. Portanto, o método visa o conhecimento, a elaboração de uma teoria científica. Este é o sentido das regras que Descartes formula. 
Utilizando esse método saberemos como usarda intuição (é a capacidade de compreender uma verdade de “estalo”, sem precisar ficar raciocinando).
As regras de Descartes se inspiram na geometria, são simples, mas devem ser seguidas à risca. Jamais devemos deixar de observá-las.
Regra 1: Jamais aceitar como exata coisa alguma que eu não conheça evidentemente.
Regra 2: Dividir cada dificuldade a ser examinada em tantas partes quantas possíveis e necessárias para resolvê-las.
Regra 3: Impor ordem nos meus pensamentos, começando pelos assuntos mais simples de serem conhecidos.
Regra 4: Fazer para cada caso enumerações tão exatas que esteja certo de não ter esquecido nada, assim nunca se confundirá o falso com o verdadeiro, chegando ao verdadeiro conhecimento.
O conflito entre os dois modelos de ciência, o antigo e o moderno, fazia com que alguns pensadores céticos se perguntassem se as futuras gerações não descobririam as teorias da ciência nova também de forma errônea.
Descartes assume, então, a missão de fundamentar e legitimar essa ciência demonstrando de forma conclusiva que o homem pode conhecer o real de modo verdadeiro e definitivo. Portanto, Descartes negava o ceticismo. 
Descartes se propõe ainda a encontrar uma certeza básica, imune às dúvidas céticas. Então, era preciso encontrar o ponto de apoio, “ponto arquimediano”, que pudesse servir de ponto de partida seguro para o processo de conhecimento.
Na época de Descartes, havia uma crise generalizada da autoridade.
Descartes deixa bem claro que não se pode confiar na tradição, nos ensinamentos do saber adquirido, e constata que a tradição, ao contrário do que pretendia, estava muito longe de ter encontrado a verdade e de ter constituído um sistema sólido e coerente que lhe desse autoridade.
A única alternativa possível parecia ser a interioridade, a própria razão humana, a luz natural que o homem possui em si mesmo, a sua racionalidade. Portanto, o homem traz dentro de si a possibilidade do conhecimento.
Conheça também o argumento do cogito de Descartes.
“Penso logo existo”, uma das mais célebres expressões filosóficas que existe. Com esse argumento, Descartes busca uma certeza imune ao questionamento cético.
A etapa inicial da argumentação cartesiana é a formulação de uma dúvida metódica, colocando tudo em questão. Começa-se duvidando de tudo: senso comum, argumento de autoridade, testemunho dos sentidos, das informações da consciência, da realidade do exterior e do próprio corpo. A cadeia de dúvidas se interrompe diante do seu próprio ser que duvida. Se duvido, penso: “Penso logo existo”.
Assim, Descartes introduz uma grande modificação no pensamento moderno: “ a crença na autonomia do pensamento, a ideia de que a razão bem dirigida basta para encontrar a verdade sem precisar dos livros e dos “dogmas”.
Para Descartes, o espírito humano tem em si os meios de alcançar a verdade, se souber cultivar sua independência e conduzir-se com método. A certeza é possível porque o espírito humano já possui ideias gerais, claras e distintas que são inatas (inerentes à capacidade de pensar), portanto, não estão sujeitas ao erro. A primeira ideia inata é o cogito pelo qual nos descobrimos como seres pensantes.
Enquanto o racionalismo de Descartes prioriza a razão, o filósofo Francis Bacon insiste na necessidade da experiência.
Mesmo hoje, o argumento do cogito e suas consequências suscitam grandes interesses.
O objetivo de Descartes, contudo, é fundamental para a possibilidade do conhecimento científico. É necessário, portanto, encontrar um caminho de superação desse idealismo radical, no qual a única realidade certa é a existência do puro pensamento. 
No entanto, é fundamental encontrar uma ponte entre o pensamento subjetivo e a realidade objetiva.
AULA 7 – FILOSOFIA MODERNA (PARTE III)
O empirismo e o racionalismo (pensamento cartesiano) constituíram conjuntamente algumas das principais correntes do pensamento moderno na sua fase inicial.
A palavra empirismo, deriva da palavra grega “empeiria”, que significa basicamente uma forma de saber derivado da experiência sensível, e de informações acumuladas com base nesta experiência, permitindo a realização de fins práticos.
Podemos dizer que o empirismo é a posição filosófica que toma a experiência como guia e critério de validade de suas afirmações, especialmente nos campos da teoria do conhecimento e da filosofia da ciência.
O grito de guerra do empirismo é a frase de inspiração aristotélica: “Nada está no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”.  Ou seja, todo conhecimento resulta de uma base empírica, de percepções ou impressões sensíveis sobre o real, elaborando-se e desenvolvendo-se a partir desses dados da realidade sensorial. Os empiristas, portanto, rejeitam a noção de ideias inatas ou de um conhecimento anterior à experiência ou independente desta.
A seguir, você conhecerá os três principais pensadores do empirismo clássico: Francis Bacon (1561-1626), John Locke (1632-1704), e David Hume (1711-1776).
Bacon e o Método Experimental
Podemos distinguir dois aspectos inter-relacionados da contribuição de filosófica de Bacon:
a concepção de pensamento crítico contida na teoria dos ídolos;
A filosofia de Bacon, assim como a de Descartes, caracteriza-se por uma ruptura bastante explícita em relação à tradição anterior, sobretudo a escolástica de inspiração aristotélica.
A preocupação fundamental de Bacon é com formulação de um método que evite o erro e coloque o homem no caminho do conhecimento correto (este é um dos sentidos principais do pensamento crítico, que marcará fortemente a filosofia moderna, venda a tarefa da filosofia como a libertação do homem de preconceitos, ilusões e superstições). É nesse contexto que encontramos a sua teoria dos ídolos.
Os ídolos são ilusões ou distorções que, segundo Bacon, “bloqueiam a mente humana”, impedindo o verdadeiro conhecimento. Os ídolos podem ser de quatro tipos: ídolos da tribo, ídolos da caverna, ídolos do foro e ídolos do teatro.
a defesa do método indutivo no conhecimento científico e de um modelo de ciência antiespeculativo e integrado com a técnica.
Bacon propõe um modelo para a nova ciência. Segundo ele, o homem deve despir-se de seus preconceitos, tornando-se “uma criança diante da natureza”, somente assim alcançará o verdadeiro saber.  
O novo método científico é o da indução que, a partir da observação atenta da natureza, permite formular leis científicas que são generalizações indutivas, a partir das quais se pode controlar a natureza e dela tirar benefícios para o homem.
Bacon é um pensador que acredita no progresso. Para ele, o conhecimento se desenvolve na medida em que adotamos o método correto e a experiência como guia. Ele teve uma importância fundamental no sentido da ruptura com a tradição.  
A Teoria das Ideias de Locke e a Crítica ao Inatismo
Locke vê a filosofia como uma tarefa crítica e preparatória para a construção da ciência. Ele desenvolve um modelo empirista, antiespeculativo e antimetafísico de conhecimento.
Locke afirma que todas as nossas representações do real são derivadas de percepções sensíveis, não havendo outra fonte para o conhecimento. Portanto, não existem ideias inatas. Isto é, o conhecimento não é inato, mas resulta da maneira como elaboramos os dados que nos vêm da sensibilidade por meio da experiência.
Para Locke, a mente é como uma folha em branco, a “tábula rasa”, na qual a experiência deixa as suas marcas. Desta forma, para processarmos o conhecimento em nossa mente, precisamos da reflexão, assim como distinguir entre as qualidades primárias e as secundárias das substâncias.
Locke é considerado como um dos primeiros filósofos do período moderno a desenvolver uma filosofia da linguagem, mais especificamente uma teoria do significado. Ou seja, para esse filósofo, o significado das palavras é a ideia correspondente a elas em nossa mente, e é por meio das ideias que as palavras se referem às coisas. Esta é para Locke a semântica ideacional. A Linguagem é, assim, a expressão de um pensamento, criadoanteriormente à linguagem e independente dela.
O Ceticismo de David Hume
O ceticismo de Hume pode ser interpretado a partir do questionamento que dirige a dois princípios ou pressupostos fundamentais da tradição filosófica: a causalidade e a identidade pessoal.
Casualidade: Segundo Hume, a causalidade é uma forma nossa (humana) de perceber o real, uma ideia derivada da reflexão sobe as operações de nossa própria mente, e não uma conexão necessária entre causa e efeito, uma característica do mundo natural.
Identidade Pessoal: Para Hume, jamais podemos apreender a nós mesmos sem algum tipo de percepção. O “eu” (sef) é um feixe de percepções que temos em um determinado momento e que varia na medida em que essas percepções variam. Estamos, assim, em constante mudança, pois a cada momento novas percepções são acrescentadas ao feixe, e outras empalidecem ou desaparecem. 
A única coisa que assegura o nosso “eu” , o que somos e temos, é a força do hábito, do costume e da memória que conseguimos. Portanto, para esse filósofo, jamais temos um conhecimento certo e definitivo; toda a ciência é apenas resultado da indução, e o único critério de certeza que podemos ter é a probabilidade. É neste sentido e por esses motivos que ele é considerado um cético.
Por outro lado, Hume também afirma que a maneira pela qual conhecemos e pela qual agimos no real depende apenas de nossa natureza, de nossos costumes e de nossos hábitos. Por esta razão ainda não se chegou a definir se ele é mais cético ou mais naturalista.
A Contribuição Valiosa de Jean-Jacques Rousseau
Rousseau (1712-78) nasceu em Genebra e foi um dos mais importantes pensadores franceses do século XVIII no campo da política, da moral e da educação, influenciando os ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa (1789).
O ponto de partida da filosofia de Rousseau é uma concepção de natureza humana representada pela famosa ideia: “O homem nasce bom, a sociedade o corrompe” (Contrato Social, livro I, cap. 1), à qual se acrescenta a ideia de que “o homem nasce livre e por toda parte se encontra acorrentado”. 
Para Rousseau, é possível, portanto, formular um ideal de sociedade em que os homens sejam livres e iguais, ideal este que servirá de inspiração à Revolução Francesa.
A grande questão para Rousseau consiste em saber como preservar a liberdade natural do homem e ao mesmo tempo garantir a segurança e o bem-estar que a vida em sociedade pode lhe oferecer. Sua resposta se encontra fundamentalmente no Contrato Social, mas também é possível observá-la em outros textos.
Segundo a teoria do contrato social, a soberania política pertence ao conjunto dos membros da sociedade. O fundamento dessa soberania é a vontade geral, que não resulta apenas na soma da vontade de cada um. 
A vontade particular e individual de cada um diz respeito a seus interesses específicos, porém, enquanto cidadão e membro de uma comunidade, o indivíduo deve possuir também uma vontade que se caracteriza pela defesa do interesse coletivo, do bem comum.
Segundo a teoria do contrato social, é papel da educação a formação da vontade geral dos membros da sociedade transformando, assim, o indivíduo em cidadão, em membro de uma comunidade.
O processo educativo pressupõe o conhecimento profundo e deve dar a devida importância às leis psicológicas do desenvolvimento do educando. Essas leis devem orientar todo o processo educativo, deixando de lado todas as especulações teóricas a esse respeito.
Na proposta de Rousseau, para que o processo educativo não degenere num exercício estéril e até nocivo, é indispensável partir da estrutura específica do educando. Não se deve ver na criança um adulto em miniatura, como era costume na época, uma etapa passageira, provisória, da existência humana, pois a criança tem uma existência própria e acarreta direitos específicos.
AULA 8 – FILOSOFIA MODERNA (PARTE IV)
O Iluminismo foi um movimento de grande importância a partir da segunda metade do século XVIII.
Abrange não só o pensamento filosófico, mas também as artes, as ciências, a teoria política, as teorias pedagógicas e a doutrina jurídica.
Reflete a necessidade de tornar transparente à razão. O pressuposto básico do iluminismo afirma, que todos os homens são dotados de racionalidade que é uma espécie de luz natural.
Possui caráter pedagógico. O pensamento iluminista é fortemente voltado para o laico e o secular. 
Volta-se contra toda autoridade que não esteja submetida à razão e a experiência. O homem poderá atingir o que Kant chama de sua maioridade, quer dizer pensar por si mesmo. Por isso o Iluminismo tem caráter ético e emancipador.
O pano de fundo do Iluminismo é a filosofia crítica, que tem como características três pressupostos básicos: a liberdade; o individualismo e a igualdade jurídica.
Nesse sentido a Revolução Francesa (1789) pode ser considerada uma tentativa de concretização desses ideais: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Os homens nascem e permanecem livres, é o artigo primeiro da Declaração dos Direitos do Homem. 
A Enciclopédia é um projeto monumental pedagógico que pretendeu ser uma espécie de grande síntese do saber da época, sua publicação teve grande influência na Revolução Francesa e contribuiu para a contestação da monarquia absoluta, e do poder da Igreja.
Vamos conhecer as propostas do alemão Immanuel Kant, nosso último expoente deste bloco empírico-racionalista e fazer um amálgama entre as duas correntes.
A obra de Kant pode ser vista como um marco na filosofia moderna e se notabiliza por duas obras clássicas, em especial: a “Crítica da Razão Pura”, na qual desenvolve a crítica do conhecimento, e “Crítica da Razão Prática”, em que analisa a moralidade.
Entre os neo-humanistas, foi o principal que proclamou a saída do homem do estado de incapacidade, em que jazia sob o peso da tradição da autoridade. Ele desafiou o homem a se atrever servir da razão.
Kant define a filosofia como “a ciência da relação de todo conhecimento e de todo uso da razão com o fim último da razão humana”, caracterizando-se pelo tratamento de quatro questões fundamentais.
O que posso saber? 
Diz respeito à metafísica, no sentido kantiano de investigação sobre a possibilidade de legitimidade do conhecimento.
O que devo fazer? 
Cuja resposta é dada pela moral.
O que posso esperar? 
O problema da esperança, de que trata a religião.
O que é o homem?
Objeto da antropologia, à qual em última análise se reduzem as outras três e que é na verdade a mais importante das quatro.
Tendo em vista estas questões, o filósofo deve determinar: as fontes do saber humano, a extensão do uso possível e útil de todo saber e os limites da razão.
O pensamento de Kant também se insere dentro do movimento de crítica à educação dogmática, aberto pela ilustração.
Embora não concebesse as normas e os modelos conforme a própria existência concreta e variável (mas de um sujeito universal), nem por isso admite o modelo tradicional de ideal, que se impôs exteriormente ao indivíduo.
Para ele, são as leis inflexíveis e universais da razão pura e da razão prática que constroem o conhecimento e a lei moral, o que significa a valorização definitiva do sujeito como ser autônomo e livre, para o qual tanto o conhecimento como a conduta são obras suas.
É importante que você conheça a educação na concepção de Kant.
A importância atribuída por Kant à educação encontra-se fundamentada nas obras mais clássicas, como a Crítica da Razão Pura e Crítica da Razão Prática. 
A Crítica da Razão Pura, visa investigar as condições de possibilidade do conhecimento, ou seja, o modo pelo qual, na experiência de conhecimento, sujeito e objeto se relacionam e em que condições. Esta relação pode ser considerada legítima, sujeito e objeto são termos relacionais que só podem ser considerados como partes da relação de conhecimento.
Kant elabora uma teoria que investiga o valor dos nossos conhecimentos. Condena os empiristas, para quem tudo o que conhecemos vem dos sentidos e também não concorda com os racionalistas,para quem tudo o que pensamos vem de nós. Para ele, a razão não é capaz de conhecer as realidades que não se oferecem à nossa experiência sensível, tal como Deus.
O filósofo mostra que além do ato do conhecimento, o indivíduo é capaz de outra atividade espiritual, o exercício da consciência moral. Kant concluiu que só o ser humano é moral e agir moralmente é agir pelo dever. Desse raciocínio decorre que a pessoa não realiza espontaneamente a lei moral, mas a moralidade resulta da luta interior. Neste sentido, a verdadeira ação moral tem por fundamento a autonomia e a liberdade.
Para Kant, cabe a educação formar o caráter moral - “o homem só pode tornar-se homem pela educação”, “ele é tão somente o que a educação fez dele”, e ainda “mandamos em primeiro lugar, as crianças à escola, não na intenção de que nela aprenda alguma coisa, mas a fim de que se habitue a observar pontualmente o que se lhes ordena”.
Kant redefine a relação pedagógica, reforçando a atividade do aluno que deve aprender “pensar por si mesmo”. O saber é ato de liberdade. 
O princípio kantiano foi reexaminado no século XX, por diversos autores na área da moral e da educação, como Piaget ou ainda Habermas.
AULA 9 – FILOSOFIA MODERNA (PARTE V)
A urbanização acelerada do século XIX, proveniente do capitalismo industrial criou forte expectativa com respeito à educação, pois a complexidade de trabalho exigia melhor qualificação da mão de obra.
O primeiro pensador que você conhecerá é o positivista Augusto Comte (1798-1857).
Para Comte, a humanidade (e o próprio indivíduo na sua trajetória pessoal), passa por diversos estágios até alcançar o estado “positivo” (o termo “positivo” designa o “real”, em oposição às formas teológicas ou metafísicas de explicação do mundo que predominavam na filosofia), que se caracteriza pela maturidade do espírito humano.
O positivismo de Comte exprime a exaltação provocada no século XIX pelo avanço da ciência moderna, capaz de revolucionar o mundo com uma tecnologia cada vez mais eficaz: “Saber é poder”. Esse entusiasmo desembocou em várias correntes de pensamento, dentre elas destacamos o cientificismo (é a visão reducionista segundo a qual a ciência seria o único conhecimento válido).
Segundo Comte, o método das ciências da natureza (baseado na observação, experimentação e matematização), deveria ser estendido a todos os campos de indagação e a todas as atividades humanas, inclusive a educação como veremos a seguir.  
Conheça as contribuições do positivismo de Comte para a educação.
Augusto Comte estava convencido de que a educação deveria levar em conta, em cada indivíduo, as etapas que a humanidade percorrera: o pensamento fetichista da criança seria superado pela concepção metafísica, e esta, finalmente, pela positivista, no momento em que atingisse a idade madura.
O positivismo passou, então, a permear de maneira eficaz a pedagogia, ora de maneira explícita, ora implícita. Essa doutrina também atuou de maneira marcante no conteúdo e na forma de educar das escolas estatais, sobretudo, na luta a favor do ensino laico das ciências e contra a escola tradicional humanista religiosa.
No século XX, ainda permaneceu viva a influência do positivismo. Por exemplo, a psicologia comportamentista de Watson e Skiner serviu de base a muitas teorias pedagógicas. No Brasil, o positivismo influenciou as medidas governamentais do início da República e, na década de 1970, a tentativa de implantação da escola tecnicista.
Johann F. Herbart (1776-1841) trouxe grande contribuição para a pedagogia como ciência, buscando o maior rigor de método. Ele também é considerado o precursor de uma psicologia experimental aplicada à pedagogia.
Segundo Herbart, a conduta pedagógica deve seguir três procedimentos básicos: o governo, a instrução e a disciplina.
O governo: É a forma de controle da agitação infantil, levado a efeito inicialmente pelos pais e depois pelos mestres, a fim de submeter a criança às regras do mundo adulto e tornar possível o início da instrução.  
A instrução: É o processo principal da educação, supõe o desenvolvimento dos interesses. Para Herbart, interesse tem um sentido bem específico de poder ativo que determina quais ideias e experiências receberão atenção.  
Herbart compreende a instrução como construção, o que leva a não separar a instrução intelectual da moral, já que uma é condição da outra.
A disciplina: É aquilo que mantém firme a vontade educada no propósito da virtude. Enquanto o governo é exterior e heterônomo, mais usado com crianças pequenas, a disciplina supõe a autodeterminação característica do amadurecimento moral, que leva à formação do caráter proposto.
Conheça mais algumas das contribuições de Herbart para a educação.
Herbart, insatisfeito com a precária assimilação do que se ensinava nas escolas, afirmava que sua ineficiência se devia aos métodos mal aplicados, que em nada se relacionavam com os conhecimentos adquiridos na prática dos alunos, e que só geravam uma memorização superficial que logo era esquecida.
Para evitar o fracasso metodológico, ele propõe os cinco passos formais, que favoreceriam o desenvolvimento do aluno. São eles: a preparação, a apresentação, a assimilação, a generalização e a aplicação.
O caráter de objetividade de análise, a tentativa de psicometria, o rigor dos passos seguidos e a sistematização são aspectos característicos do pensamento de Herbert que determinam a sua grande influência no pensamento pedagógico.
Além dos seus cinco passos formais que marcaram de maneira vigorosa o ensino expositivo da escola tradicional, que adquiriu um caráter de rigor por emprestar do método científico a indução, Herbert afirma que o caminho do raciocínio vai do concreto para o abstrato.
Para Herbert, o conhecimento é oferecido pelo mestre ao aluno, que só depois vai aplicá-lo na sua experiência de vida.
O alemão Friedrich Froebel (1782-1852) também trouxe valiosa contribuição para a educação.
No campo da Pedagogia, Friedrich Froebel aprendeu muito com as idéias de Pestalozzi. Uma visão mística marca seu pensamento e obra.
A principal contribuição pedagógica de Froebel resulta da atenção para com as crianças na fase anterior ao ensino elementar, ou seja, a educação da primeira infância. Foi pioneiro na fundação do “jardim de infância”, em alusão ao jardineiro cuidando da planta desde pequenina para que cresça bem, pressupondo que os primeiros anos são básicos para a formação humana.
Froebel valorizou as atividades lúdicas no trabalho com as crianças, por perceber o significado funcional do jogo e do brinquedo para o desenvolvimento sensório-motor, e inventou métodos para aperfeiçoar as habilidades. Ele estava convencido de que a alegria do jogo levaria a criança a aceitar o trabalho de forma mais tranquila.
Para estimular os impulsos criadores da atividade lúdica, Froebel inventou cuidadosos equipamentos, de acordo com a fase em que se encontravam as crianças. As construções da primeira série foram por ele chamadas de “dons”, como se fossem “dádivas divinas”.
Além dos dons, Froebel destaca as ocupações: tecelagem, dobradura, recorte e, também, o canto e a poesia como instrumentos importantes para facilitar, sobretudo, a educação moral e religiosa.
Embora a fundamentação teórica de sua psicologia tenha sido objeto de críticas severas, é inegável a influência da pedagogia de Froebel expressa na difusão dos jardins de infância espalhados pelo mundo.
Conheça, agora, a contribuição do suíço-alemão Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827) para a educação.
Pestalozzi atraiu a atenção do mundo como mestre, diretor e fundador de escolas. Ele exerceu profunda influência em vários países da Europa, e suas idéias chegaram até os Estados Unidos.
Estudioso de Rousseau, Pestalozzi sempre se interessou pela educação elementar, especialmente das crianças pobres, e fez algumas tentativas educacionais inéditas e audaciosas ao trabalhar com crianças em situação social bem precária. Por isso, ele é considerado um dos defensores da escola popular extensiva a todos.Pestalozzi reconhecia firmemente a função social do ensino, sem restringi-lo à formação do homem-gentil. Além disso, alertava que não bastava a simples instrução do povo, mas, sobretudo, a formação completa, pela qual o indivíduo é levado à plenitude do seu ser.
Para Pestalozzi, o indivíduo é um todo cujas partes devem ser cultivadas: a unidade espírito-coração-mão corresponde ao importante desenvolvimento da tríplice atividade conhecer-querer-agir, por meio da qual se dá o aprimoramento da inteligência, da moral e da técnica. Daí a importância dos métodos para a organização do trabalho manual e intelectual. Segundo Pestalozzi, deve-se partir sempre da vivência intuitiva, para só depois introduzir os conceitos.
Em outras palavras, o método de Pestalozzi para educar se funda em um princípio simples: seguir a natureza.  A família constitui a base de toda a educação por ser o lugar do afeto e do trabalho comum. Também é positiva a experiência religiosa, contudo não confessional.
AULA 10 – QUESTÕES FILOSÓFICAS ATUAIS E DESAFIOS À PRÁTICA EDUCACIONAL
Qual foi o significado da transição do pensamento moderno para o contemporâneo com relação à educação? 
No século XX, a filosofia contemporânea é em grande parte o resultado da crise do pensamento moderno do século XIX. Este pensamento entra em crise a partir das críticas de Hegel, que aponta para a necessidade de se levar em conta o processo histórico de formação da consciência, e de Marx, que questiona seus pressupostos idealistas. Essa ruptura já vinha se manifestando tanto com relação ao racionalismo quanto ao empirismo, no que se referia ao conhecimento e à ciência como modelos privilegiados de relação do homem com a realidade.
No campo da educação, surge a necessidade de uma teoria educacional indissociável de um saber prático. A ação pedagógica deve integrar-se na experiência concreta, nos interesses e nas necessidades do educando, tornando-se um processo individualizado. Os educadores que pensam a educação concebem-na como um processo que permite ao educando recriar e reconstruir o conhecimento da realidade através da experimentação.
Em que consiste o processo educativo contemporâneo?  
O processo educativo contemporâneo é influenciado pela crise e a instabilidade às quais o mundo está sujeito desde o início do século XX, tanto no campo social, político e econômico, como também no campo da educação.
O importante nessa aula é compreender a fundamentação da complexidade da época contemporânea e analisar as ideias básicas dos educadores que marcaram o século XX e o início desse novo século.
Não resta dúvida de que o século XX foi bastante rico em experiências educacionais e no pluralismo de teorias pedagógicas. 
Constatamos notáveis transformações tanto no campo, quanto na cidade e na mentalidade, de tal forma que podemos identificar a crise que a humanidade passa na transição do milênio. Há a constatação do envelhecimento de alguma coisa que não serve mais, e ao mesmo tempo o esforço no sentido de encontrar novos caminhos de saídas.
A crise estando generalizada, é claro que a educação também será profundamente afetada. Na busca de novos caminhos a educação passando a ter um caráter político, devido à importância que exerce na sociedade, sendo instrumento de transmissão da cultura e formação da cidadania.
A sociedade contemporânea marcada profundamente pela mentalidade utilitarista e pragmática em que tudo gira em torno do que dá retorno imediato, status e poder, precisa com urgência encontrar soluções.
John Dewey, defensor do pragmatismo, trouxe para a educação uma contribuição nova onde houve avanços  em termos de preocupação com a realidade do aluno, mas que ficou limitado ao conhecimento da dimensão psicológica deste, não conseguindo envolvê-lo num projeto maior que garantisse a transformação da mesma.
Para Dewey o processo educativo depende essencialmente da ligação da escola ao lar e à comunidade que o educando faz parte.
O processo educativo deve integrar-se na experiência concreta, nos interesses e necessidades do educando, deve também se tornar processo individualizado. Nesse processo, as atividades manuais, práticas, assumem a mesma importância que desempenham na vida real.
O processo educativo agrupará os educandos não por idade ou nível de instrução, e sim, por interesses reais, por tipo psicológico ou grau de capacidade intelectual.
Nessa visão do processo educativo, o educador vem a ser o animador dentro de um processo de autoeducação. A melhor educação será aquela em que o educador menos intervém. Trata-se de imagem-ideal como energia ativa e criativa.
A verdade do conhecimento não se considera mais como função relacional objetiva da mente com o objeto, mas sim, com aquilo que é eficaz na prática, aquilo que serve efetivamente como guia e orientador da ação concreta.
Dewey, apoiando-se em Willian James, afirma que o essencial no processo educativo consiste na educação pela ação manual e intelectual, bases da própria experiência. O processo educativo consiste, portanto, na constante reconstrução da experiência. Mas essa reconstrução depende da ação responsável e consciente do educando.
Para cumprir essa função, o processo educativo deve evitar toda a aprendizagem mecânica e formal; deve evitar tudo que é rotina ou repressão, sem, no entanto cair no anarquismo.
A eficácia de todo o processo educativo depende do interesse produtivo do educando, que se mostra em um ambiente propício à liberdade e iniciativa. Trata-se de desenvolver o processo educativo dentro de um ambiente natural, onde o educando aprende a viver, e não num ambiente onde só se aprende informações, que só se referem à vida real de uma maneira oblíqua e indireta, ou que dizem respeito a um futuro remoto, que talvez o educando nunca venha a viver. Em outras palavras, a escola deve ser a réplica em miniatura da própria comunidade.
O processo educativo deve levar o educando a assumir, de acordo com os interesses, os valores culturais da comunidade, a integrar a sua experiência na experiência da comunidade, pois são as forças da comunidade que atuam na sua vida e com estas ele terá que operar. O educador deve levar o processo de tal maneira que não haja conflito entre esforço e interesse.
Concretizar o ideal da socialização do processo educativo implica na sua crescente individualização, com o objetivo de aproximar-se melhor do meio em que o educando deve desempenhar suas aptidões e capacidades. Portanto, deve fundamentar-se nas características individuais do educando, principal agente do processo educativo.
O Pragmatismo de Dewey e a Escola Nova serão trazidos para o Brasil, através do educador Anísio Teixeira que foi aluno e seu admirador nos Estados Unidos.  
O universo educacional de Anísio Teixeira aponta para uma íntima relação entre escola e sociedade, o que traz como consequência a concepção de uma escola ativa, baseada na ciência, na democracia e no trabalho. Se a sociedade passava por mudanças era preciso que a escola preparasse o novo homem, o homem moderno, para integrar-se à nova sociedade que deveria ser essencialmente democrática. É o fazer, através do método experimental, que deve definir a escola ativa e democrática.
Os nossos sistemas de educação abrigam eternos vícios do intelectualismo, do dogmatismo e de uma burocracia que impede enveredar por caminhos mais eficazes, portanto teóricos educadores tentaram buscar soluções para essa situação.
A concepção da escola nova, de um lado, resgatou a importância do sujeito da aprendizagem, mas de outro, acabou dando margem para chegar a uma visão intimista, individualista do tipo “cada um é cada um”, mas na verdade cada um é um pouco do outro, do grupo ao qual pertence.
Anísio Teixeira, sendo aluno de John Dewey nos Estados Unidos, compartilha com seu professor dessa nova visão de trabalhar a educação.
Anísio traz e implanta a tendência da Escola Nova para a educação brasileira.
Um outro educador que trouxe perspectivas diferentes para a educação foi Paulo Freire.
Ele introduziuuma nova visão e apresentou uma proposta muito mais profunda do que Dewey, pois via na educação a possibilidade da transformação da sociedade. 
Acreditava que isto seria possível por meio da conscientização que o educando tinha de si próprio e dos problemas que afetam a sociedade.
A proposta de educação de Paulo Freire está voltada para a transformação da realidade não só educacional, como a social em um sentido amplo.
Freire parte da análise da realidade vivida pelo povo brasileiro, aposta em um processo educativo que reconheça os direitos das massas populares a uma educação popular; reconhece a urgência da democratização da cultura nacional.
Para Freire, o sucesso do processo educativo depende essencialmente da liberdade do educando. É tendo liberdade que este será motivado para uma participação crítica no processo educativo e, consequentemente, social.
A visão de Freire o leva a substituir a escola tradicional, monoliticamente estruturada, por outro veículo educativo mais maleável, mais participativo e baseado no diálogo: o círculo de cultura.
No círculo de cultura, o próprio educando se coloca em primeiro plano, desde a primeira etapa da programação do processo. Desde o início, ele é orientado pelo educador, que procura esclarecer e despertar sua consciência para perceber e compreender a realidade em que vive.
O processo educativo não é transmissão, tampouco doação, mas sim, participação em uma situação concreta desafiadora de onde brota significação para o educando.
A alfabetização e a conscientização são inseparáveis das situações desafiadoras e de relevância social e política.
Todo o processo educativo deve levar à conscientização quanto à significação real dessas situações vividas pelo educando.
É fundamental que ele tome consciência dos seus interesses e lute para defendê-los, em prol de um bem maior: a sociedade. Seguindo esse caminho, ele terá uma visão mais ampla de suas possibilidades de se afirmar como sujeito e não mais como objeto na história.
Desta forma, o processo educativo levará o sujeito a se libertar do peso da exclusão e da expulsão da órbita de decisões que lhe foi imposto.
Para terminar, veja os comentários finais sobre este importante educador.
Paulo Freire conseguiu chegar até onde chegou graças à sua abertura, esperança, sonho. Isto se concretizou através de suas experiências e caminhada ao longo de sua vida, sempre disposto a aprender, pesquisador de sua prática e leitor curioso dos grandes filósofos e educadores.
Ao ser banido do Brasil no Golpe Militar, Paulo Freire levou consigo aquilo em que mais acreditava: suas esperanças com a educação.
No exílio, teve oportunidade de diálogos com outras culturas, confrontos, novas experiências e trocas e não restam dúvidas de que isso somado à novas leituras, aportou contribuições que possibilitaram enriquecer mais a sua prática e avançar saindo da visão escolanovista para uma visão de transformação da sociedade.

Continue navegando