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DIREITO CRIMINAL PSICOPATIA

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FACULDADES INTEGRADAS RIO BRANCO
CURSO DE DIREITO
A DIFICULDADE DO SISTEMA PENAL NA APLICAÇÃO DE UMA PENA EFICAZ AO CRIMINOSO PSICOPATA
DIEGO RIBEIRO DE SOUZA
SÃO PAULO - SP
2017
DIEGO RIBEIRO DE SOUZA
A DIFICULDADE DO SISTEMA PENAL NA APLICAÇÃO DE UMA PENA EFICAZ AO CRIMINOSO PSICOPATA
Projeto apresentado à Disciplina de Direito Penal como requisito básico para apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso de Bacharel em Direito das Faculdades Integradas Rio Branco.
Orientadora Geral: Prof.ª Angela Tsatlogiannis
Orientadora Especialista: 
SÃO PAULO - SP
2017
Banca Examinadora 
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Prof. 
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Prof. 
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 Prof.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente а Deus, por ser essencial em minha vida, autor de meu destino, meu guia, socorro presente na hora da angústia, à minha mãe Floripe, ao meu pai José, que sempre prezaram e fizeram questão que eu tivesse acesso ao estudo, ao conhecimento, persistindo sempre no saber. Na mesma oportunidade, agradeço às Faculdades Integradas Rio Branco, seu corpo docente, direção e administração, que oportunizaram a janela que hoje vislumbro no horizonte superior, eivado pela acendrada confiança no mérito e ética. À minha orientadora, por todo suporte no pouco tempo que lhe coube, pelo incentivo e pela clareza ao lecionar sua matéria que me serviu como base na escolha do tema. Sem deixar também de agradecer aos meus colegas de sala compartilhando o mesmo sonho no dia a dia, assim como meus familiares e amigos pessoais pela força e encorajamento.
RESUMO
			O presente projeto busca esclarecer, de forma sucinta, o conceito de psicopatia, discriminando suas características e seu comportamento no mundo criminoso. Elencando as medidas disponíveis para punição desse tipo de indivíduo com base no Direito Penal Brasileiro e na doutrina, no intento de conseguir identificar qual seria a sanção mais adequada considerando o seu grau de periculosidade. Desta forma, caberá à Psicologia Forense juntamente com a Ciência política, determinar se o indivíduo psicopata é semi-imputável, imputável ou inimputável, com o objetivo de saber qual é a sanção mais eficiente, a pena ou a medida de segurança. Será exposto as diversas falhas no que se refere a penalização do criminoso psicopata. Ponderar-se-á que o sistema jurídico está atrasado em relação a esse tema, não acompanhando as novas análises e imposições da Psicologia Moderna. Neste diapasão, o presente projeto buscará apresentar as irregularidades do atual sistema penal quanto a aplicação de uma pena adequada ao criminoso psicopata e a sua possibilidade de ressocialização ou tratamento eficaz.
Palavras-chave: Psicologia; Doença Mental; Psicopatia; Sociopatia; Medida de Segurança; Direito Penal; Imputabilidade Penal; Constituição Federal.
ABSTRACT
			The present project seeks to clarify, in a succinct way, the concept of psychopathy, discriminating its characteristics and its behavior in the criminal world. List the measures available for punishment of this type of individual based on Brazilian Criminal Law and doctrine, in an attempt to identify what would be the most appropriate sanction considering their degree of danger. In this way, it will be up to Forensic Psychology together with Political Science to determine if the psychopathic individual is semi-imputable, imputable or unputable, in order to know what is the most efficient sanction, penalty or security measure. The various shortcomings will be exposed as regards the criminalization of the criminal psychopath. It will be considered that the legal system lags behind this theme, not following the new analyzes and impositions of Modern Psychology. In this context, this project will seek to present the irregularities of the current penal system regarding the application of an adequate penalty to the criminal psychopath and his possibility of resocialization or effective treatment.
Keywords: Psychology; Mental disease; Psychopathy; Sociopathy; Security measure; Criminal Law; Criminal Imputability; Federal Constitution.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................	8
CAPÍTULO 1 - A PSICOPATIA.............................................................................	10
	1.1 Breve histórico......................................................................................	10
	1.2 Conceito e característica da psicopatia................................................	12
	1.3 Causas da psicopatia............................................................................	14
	1.4 Psicopatia x Sociopatia.........................................................................16
	1.5 Tratamento............................................................................................	17
CAPÍTULO 2 – DIREITO PENAL...........................................................................	18
	2.1 A Psicopatia e o Direito Penal...............................................................	18
	2.2 Responsabilidade Penal........................................................................19
	2.3 Medida de Segurança...........................................................................	24
	2.4 Sanção Infligida ao Psicopata...............................................................	26
3. CONCLUSÃO....................................................................................................	29
4. BIBLIOGRAFIA..................................................................................................	31
INTRODUÇÃO
			Ao pensar em psicopata, logo vem à mente um sujeito aparentemente cruel, agressivo, com vestes de um ser descuidado, o típico porte de um assassino e com comportamentos tão inadequados que chegaria a ser óbvio a possibilidade de reconhece-lo sem pestanejar. És uma grande tolice, o mal nunca vem disfarçado de mal. 
			“O escorpião aproximou-se do sapo que estava à beira do rio. Como não sabia nadar, pediu uma carona para chegar à outra margem. Desconfiado, o sapo respondeu: ‘Ora, escorpião, só se eu fosse tolo demais! Você é traiçoeiro, vai me picar, soltar o seu veneno e eu vou morrer.’ Mesmo assim o escorpião insistiu, com o argumento lógico de que se picasse o sapo ambos morreriam. Com promessas de que poderia ficar tranquilo, o sapo cedeu, acomodou o escorpião em suas costas e começou a nadar. Ao fim da travessia, o escorpião cravou o seu ferrão mortal no sapo e saltou ileso em terra firme. Atingido pelo veneno e já começando a afundar, o sapo desesperado quis saber o porquê de tamanha crueldade. E o escorpião respondeu friamente: – Porque essa é a minha natureza!” (SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes Perigosas. FONTANAR, Rio de Janeiro, 2014, p. 11)
			Esse conto retirado do livro da Psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, Mentes Perigosas, ilustra claramente as atitudes de um psicopata que geralmente se exibe de forma sedutora, charmosa, convincente e mesmo despertando desconfiança conseguem ludibriar o seu alvo. 
			O infrator psicopata é um tipo peculiar de criminoso, não são todos os criminosos que são psicopatas, não são todos os psicopatas que são criminosos, bem como não são enfermos mentais, também não são todos doentes mentais que são psicopatas, ele são um tipo de infratores que fogem dos conceitos, devido sofrerem esse transtorno de personalidade não têm a capacidade de serem ressocializados assim como os presos normais, ou ao menos tratarem-se com remédios psiquiátricos como se doentes mentais fossem.
			O número de criminosos com psicopatia só vem aumentando cada vez mais, o que gera grande preocupação à sociedade, visto que devido à ausência de emoções, culpa, remorso e empatia, faz com que possuam mais facilidade no cometimento de crimes. 
			Torna-se mais preocupante ainda a ausência de solução partindo da relação entre o sistema penal e a psiquiatria paraa aplicação de uma sanção adequada e eficaz para a prevenção de futuros crimes cometidos por esse gênero de criminosos.
			Por tal razão, o tema é de grande relevância ao universo jurídico, visto que não há uma lei específica que trate desse assunto que é pouco explorado pela doutrina e, da mesma forma, inexistindo estudos eficazes para tentar identificar qual seria a sanção correta para amenizar o cometimento de crimes por parte dos psicopatas que, além de apresentar um número de reincidência maior que os criminosos “comuns”, quando reclusos, passam a manipular os presos normais, resultando em mais delitos no interior das penitenciárias. 
CAPÍTULO 1 – A PSICOPATIA
			
 Breve histórico 
			A existência de indivíduos que, mesmo não aparentando sintomas de alguma doença mental típica ou intelectual, comportam-se socialmente de forma incomum, é um fato que tem prendido a atenção dos autores desde os primórdios da psiquiatria. Esses casos, geralmente, são caracterizados por um comportamento antissocial que constitui a expressão primária desse distúrbio, ao passo em que a atuação contra o meio externo é a forma escolhida para agir aos conflitos internos. Carecendo de lealdade, consciência, culpa, consistência, distinguem-se das outras pessoas, que ao terem comportamentos antissociais, lidam numa continuidade motivacional compreensível para eles e para os outros. Deste modo, criam frequentemente impasses do ponto de vista clínico e legal.	
			Historicamente, o primeiro conceito formulado se refere a uma perturbação moral de caráter hereditário. Esta posição é estabelecida pelo psiquiatra francês Phillipe Pinel, que, em 1809, descreve uma forma de mania sem delírio (Manie sans delire), utilizando-se de uma descrição clínica de padrões comportamentais e afetivos que se aproximaram do que é hoje denominado psicopatia. Nele, o autor relatou o quadro de pacientes que, mesmo envolvidos em comportamentos de extrema violência, haviam um perfeito entendimento do caráter irracional de suas ações e não podiam ser considerados delirantes. 
			Ainda em cenário estudiense, “Moral alienation of the mind” foi o termo cunhado pelo psiquiatra Benjamin Rush (1812/1827), ao estudar sujeitos marcados por uma lucidez do pensamento aliado a comportamentos socialmente desviantes, cujas características principais, baseavam-se na falta de escrúpulos, irresponsabilidade e agressividade. Contudo, enfatizando aspectos morais do fenômeno, associou o transtorno a manifestações antissociais e imorais.
			Em 1837, por intermédio do livro Treatise of Insanity and Other Disorders Affecting the Mind, James Pichard propôs a nomenclatura “moral insanity”, quando relatou um transtorno apresentado por sujeitos que haviam um distúrbio de suas faculdades morais, exibindo uma perversão mórbida dos sentimentos naturais, caráter e afeto. Porém, não demonstravam ilusões, alucinações ou qualquer tipo de problema aparente em suas capacidades intelectuais.
			A terminologia psicopatia foi somente introduzida no século XIX, diante do projeto do psiquiatra alemão, Julius Ludwig Koch, chamado Psychopathic Inferiorities. Diante dos seus estudos, novamente na história da psiquiatria, referiu-se a sujeitos que não eram loucos, mas que apresentavam comportamentos anormais. 
			Em 1904, influenciado pelo conhecimento de Koch, Emil Kraepelin amplia sua concepção utilizando-se do termo personalidades psicopáticas, refletindo formas mórbidas de disfunções de personalidade, classificadas degenerativas. O psiquiatra alemão, identificou quatro tipos de sujeitos que possuíam a personalidade psicopática, pois haviam características associadas a comportamentos antissociais, (i) os mentirosos e vigaristas mórbidos – encantadores, mas desprovidos de moralidade interna –, (ii) criminosos impulsivos – que não controlam sua vontade e se envolvem normalmente em crimes contra o patrimônio –, (iii) criminosos profissionais – socialmente aprovados, mas são manipuladores e egocêntricos – (iv) e os vagabundos mórbidos – sem responsabilidade, vivem na vadiagem –.
			Certamente, os pareceres supracitados foram de grande importância para o desenvolvimento dos estudos e na definição de psicopatia, entretanto, os estudos de Hervey Cleckey, em 1941, fizeram com que ele se tornasse o principal autor a escrever sobre psicopatia diante de sua obra The mask of sanity, oferecendo uma classificação mais refinada, comparando os conceitos das gerações anteriores. Desta forma, tentou esclarecer os termos “transtorno de personalidade antissocial” propondo a alteração pelo termo “demência satânica”, que, basicamente, consiste na dificuldade em entender os sentimentos humanos, embora possam compreendê-los. Em sua obra esclarece, ainda, que nem todo psicopata é criminoso e podem se tornar empresários, médicos e advogados.
			Diversos estudiosos clínicos contribuíram para refinar cada vez mais o conceito de psicopatia, mas o trabalho de Cleckey, sem dúvidas, foi o mais importante servindo como base para os pesquisadores que seguiram, tornando-se a principal referência dentro da abordagem clínica. Após esse episódio, passaram a se desenvolver instrumentos de mensuração da psicopatia, à fim de definir melhor o seu conceito. 
			Posteriormente, os conhecimentos sobre a psicopatia ampliaram-se cada vez mais, psiquiatras e estudiosos complementaram de diversas formas as concepções já apresentadas. Entretanto, a partir do século XX, seu conceito foi se restringindo e se associando ao antissocial que passou a predominar.
 Conceito e características da psicopatia
			
			A palavra psicopata tem origem grega, cujo seu desmembramento significa “doença da alma”, caracterizando o indivíduo que sofre de uma doença mental.
			 No entanto, ao analisar estudos psiquiátricos e jurídicos, cabe afirmar que psicopatas não são loucos, seus atos não resultam de uma mente doente, pois não são pessoas desorientadas ou que perderam o contato com a realidade, não têm alucinações ou angústia subjetiva intensa, que é a característica da maioria dos transtornos mentais, mas de uma racionalidade fria e calculista, combinada com uma incapacidade de tratar os outros indivíduos como humanos. 
			O sujeito que possui essa personalidade, é perfeitamente capaz de prever e entender a consequência de seus atos, mas não ligam se suas atitudes iram ferir alguém, desde que atenda seus propósitos, sendo incapaz de sentir remorso ou culpa.
			O autor Cleckey apresentou uma lista com 16 características para identificar um indivíduo psicopata. No entanto, ressaltou que não é necessário a presença de todos os aspectos para reconhecê-lo. São elas:
Um charme superficial e boa inteligência;
Ausência de delírios e outros sinais de pensamento irracional;
Ausência de nervosismo e manifestações psiconeuróticas;
Não confiabilidade;
Tendência a mentira e insinceridade;
Falta de remorso ou vergonha;
Comportamento antissocial inadequadamente motivado;
Juízo empobrecido e falha em aprender com a experiência;
Egocentrismo patológico e incapacidade para amar;
Pobreza generalizada em termos de reações afetivas;
Perda específica de insight (clareza súbita na mente, no intelecto de um indivíduo);
Falta de reciprocidade nas relações interpessoais;
Comportamento fantasioso e não convidativo sob influência de álcool e às vezes sem tal influência;
Ameaças de suicídio raramente levadas a cabo;
Vida sexual impessoal, trivial e pobremente integrada;
Falha em seguir um plano de vida.
			Os traços apontados enfatizam os aspectos relativos ao comportamento dos psicopatas no comportamento emocional, evidenciando que comportamentos como vingança, crueldade e agressividade não são essenciais em sua conceituação.
			Analisando esses atributos, percebe-se que este sujeito é capaz de demonstrar uma boa impressão agindo com bom senso e com raciocínio lógico, podendo prever a consequências dos seus atos. Apresenta argumentos convincentes e aparenta não ter emoções, com a capacidade de ludibriar com os sentimentos adequados nas situaçõesem que é exposto. 
			Outrossim, mesmo aparente boa impressão em primeira vista, demonstrará que não possui senso de responsabilidade, pois é inevitável a dificuldade em assumir compromissos mesmo que trivial e a curto prazo.
			O atributo principal é a falta de culpa pelos transtornos causados buscando eximir-se de sua responsabilidade e transferindo para a outra pessoa quando possível.
Causas da psicopatia
			Primordialmente consentia-se que o princípio dos indivíduos com personalidade psicopática estava estritamente limitado aos aspectos externos, assim como, por exemplo, as preponderâncias utilizadas do meio. Hodiernamente, já se sabe que os aspectos genéticos e as danificações cerebrais são capazes de dar causa a psicopatia. Pertinente aos aspectos genéticos, encontra-se divergências ao ponto que se equipara o estudo de gêmeos univitelinos (idênticos), que tanto podem ter tendência ao distúrbio, quanto somente um deles.
			Para exemplificar este argumento, existe uma história contada no livro “Sem consciência” de Robert Hare (2013, pg. 33), em que relata o caso de duas garotas, irmãs gêmeas, idênticas, com a idade de 30 anos, mas de personalidade desigual. Aline, sempre doce e meiga, formou-se na faculdade de Direito e trabalhava na empresa que almejava desde o início de seus estudos. Já Alice, desde criança demonstrava comportamentos estranhos, como, por exemplo, maus tratos aos animais, não era uma boa aluna no primário e na universidade abandonou o curso logo nos primeiros meses. Nunca conseguiu um bom emprego, fazia o consumo de álcool e o uso de entorpecente. Quanto atingiu a maior idade, foi presa diversas vezes por pequenos delitos. Aos 30 anos, Alice estava internada em uma clínica, localizada em New Hampshire. 
			No caso mencionado, repara-se que as duas garotas, irmãs gêmeas, tiveram destino completamente controversos, demonstrando que nem sempre a genética pode ser considerada como causa, excluindo, também, a hipótese de ter sido sob influência da criação, já que as duas sempre foram tratadas da mesma forma. 
			Um outro estudo, no sentido contrário fora realizado por Jorge Teixeira, mencionado no livro de Luma Gomides de Souza, em seu livro “Serial Killer: Discussões sobre a imputabilidade”, em que relatou uma situação parecida, onde foram feitos acompanhamentos de 13 (treze) pares de gêmeos univitelinos (mesmo óvulo), dos quais dez deles haviam praticado crimes semelhantes. No mesmo sentido, analisou-se também 17 (dezessete) duplas de bivitelinos (material genético diferente), constatando que apenas 2 (duas) delinquiram de maneira congênere. 
			Sendo assim, pode-se afirmar que, de acordo com esses estudos, a psicopatia pode ser causada pelo fator genético, porém não se tem uma totalidade dentro dos casos, o que demonstraria incoerência ao afirmar que seria um problema genético ou não.
			No que tange os aspectos externos, do ambiente, se insere momentos em que os sujeitos sofrem no decorrer da sua infância, a título de exemplo, os abusos sexuais e os demais descuidos que favorecem a desenvoltura de uma personalidade psicopática. Na criação do indivíduo, há o desenvolvimento do intelecto da criança, contudo, ocasiões que se observa com regularidade são aprendidas como se corretas fossem. Por tal razão, é que os pesquisadores pressupõem que esse distúrbio forma antes do sujeito entrar na puberdade. No entanto, na medicina não é aceito diagnosticar um indivíduo menor de idade como psicopata, havendo como especificação coerente a de “desvio de conduta”.
			Já no que se refere às lesões cerebrais, observa-se que cada compartimento desde órgão tem a responsabilidade voltada para alguma função vital do corpo humano. A simples desconformidade pode gerar sérias sequelas não somente físicas, como em seu comportamento. A título de exemplo, pode-se relembrar da situação do ferreiro Phineas Gage, em 1848, que após uma explosão na estrada em que trabalhava, teve seu cérebro perfurado por uma barra ferro, atingindo precisamente na região do córtex pré-frontal (parte responsável pelas decisões), mas sobreviveu. O ferreiro não perdeu a consciência e aparentemente não havia consequências. Porém, de uma pessoa bondosa, trabalhadora, um ótimo chefe de família, tornou-se uma pessoa indiferente afetivamente, agressivo, aspectos bem semelhantes a uma personalidade psicopática. O esclarecimento sobre essa questão, foi de que Gare teve a parte do cérebro que lida com aspectos neuropsicológicos, atingida, fazendo com que houvesse essa mudança.
			Mesmo após de grande desenvolvimento das análises acerca da psicopatia, ainda há incógnitas sobre o tema.
 
Psicopatia x Sociopatia
			Muitos estudiosos consideram que psicopatia e sociopatia são apenas sinônimos, contendo o mesmo significado. Porém, para a maioria, embora sejam doenças que indicam uma personalidade antissocial, distinguem-se pelo fato de terem origem distintas. Desde o conhecimento desse distúrbio, o questionamento era se a origem é proveniente da hereditariedade ou sob a influencia do meio social em que vive.
			Considera-se que psicopatia é de origem hereditária (genética), enquanto a sociopatia possui não somente isso como causa, mas também como a influência do meio como fundamento de sua eclosão. O indivíduo psicopata já nasce com esse distúrbio, apresentando um comportamento delineado, inexistindo a sensação da culpa, é impulsivo, se envolvendo em situações de risco, devido a sua ausência de medo, e uma grande dificuldade de atender as normas sociais. Já o indivíduo sociopata tem um comportamento assemelhado à pessoa comum, são estáveis em seus relacionamentos e não é raro terem relações que são simbióticas ou parasitárias. Podem ser charmosos, inteligentes, se misturando à sociedade sem levantar suspeitas. 
			Sendo assim, os sociopatas são indivíduos que tem uma predisposição a serem bem sucedidos, influentes. Ao contrário dos psicopatas, que mesmo ambos sendo incapazes de ter emoções como um indivíduo comum, os sociopatas conseguem compreender o seu sentido a ponto de poder manipular os seus alvos. 
Tratamento 
			Mesmo com recentes avanços no estudo sobre a psicopatia, ainda há divergências sobre uma forma adequada para tratamento, dada a dificuldade de saber a causa exata desse distúrbio. 
			As possibilidades são limitadas, pois quem tem esse tipo de transtorno não estabelece vínculo estável e não aprendem com a experiência. E é por este motivo que quando presos não se ressocializam, voltando a delinquir. Como explicado em tópicos anteriores, os psicopatas não sentem culpa e sempre têm argumentos racionais para poder explicar o motivo deles. 
			Sabe-se que a psicopatia pode ser identificada em crianças, então aqueles indivíduos que não desenvolveram a psicopatia em razão do meio social (sociopatia), mas aqueles que já nasceram com esse distúrbio, há a possibilidade de um tratamento eficaz por intermédio de uma terapia corretiva à base do contato social, e também de tranquilizantes à fim de reduzir a agressividade e a extroversão instável da criança. Quanto mais jovem for a criança, mais chances de se obter uma melhora significativa. 
			No entanto, essa possibilidade na fase adulta é considerada nula, tendo em vista a sua capacidade cognitiva formada. Assim, mesmo na tentativa de um tratamento convencional para curar esse distúrbio, seria infrutífero o resultado que, em alguns casos, este tipo de terapia até ajudaria esses indivíduos a melhorar o seu dom de manipulação sobre as demais pessoas.
CAPÍTULO 2 – DIREITO PENAL
2.1	A Psicopatia e o Direito Penal
			
			Um dos maiores objetivos da Criminologia, além de entender as peculiaridades especiais, sempre foi compreender quais são as melhores maneiras de sancionar criminosos, principalmente, doente mentais e psicopatas.
			No que tange ao estudo da psicopatia, a escola jusnaturalista e juspositivista sempre tentaram entender por seus próprios fundamentos, como se opera a mente deste tipo de criminoso e, também, as penas mais adequadaspara possibilitar a sua ressocialização.
			De acordo com Castro, em sua concepção histórica, o direito sempre se atentou ao tratamento de criminosos portadores de doenças mentais. Dentro da escola clássica, a dignidade da pessoa humana e o direito do cidadão perante o Estado, desde a época do iluminismo, agregavam ideias científicas para explicar os fatos da sociedade, assim, iniciou-se o estudo do que é crime e do que é criminoso, ou seja, os primeiros passos da Criminologia Moderna.
			Ignorar as personalidades de cada um desses indivíduos seria a mesma coisa que violar o principio da pessoa humana, sendo que a penalização inadequada significaria em uma total injustiça, como é o que acontece na maioria dos casos. Além do mais, a analise das condições especificas desse tipo de criminoso torna-se mais relevante quando se verifica que dos intuitos da pena é a recuperação do indivíduo, caso a pena seja inadequada, isso não ocorre.
			Se especializar quanto aos diferentes tipos de personalidade, auxilia a prever a maneira que certos indivíduos se comportarão em algumas circunstâncias ambientais. Mais relevante ainda, no caso de pessoas portadoras de psicopatia, que, por sua vez, são capazes de se adaptar a qualquer tipo de ambiente e enganar todos ao seu redor. 
			Sendo assim, aos olhos do direito penal brasileiro, o psicopata é considerado um inimputável ou semi-imputável, alterando conforme o caso. Em vista que a psicopatia é considerada uma doença mental, a pena deste indivíduo deve ser reduzida, conforme relata o parágrafo único do art. 26, do Código Penal.
			No entanto, análises e experimentos constataram que o distúrbio é altamente resistente. Ou seja, o criminoso psicopata não aprende com as experiências e, muito menos, com sua penalização. Contudo, de nada adianta a redução da pena, já que maior ou menor tempo, o indivíduo dificilmente mudará o seu jeito. 
			
2.2	Responsabilidade Penal
			Responsabilidade penal condiz a capacidade de responder pela ação delituosa, isto é, a eficácia de compreender o caráter ilícito do fato e responder de acordo com esse entendimento. 
			Os crimes cometidos por indivíduos portadores desse distúrbio são, na grande maioria, agressivos e atrozes. São abastecidos pelo prazer de humilhar a vítima ou se aproveitar do sofrimento dela. Obtendo sucesso em sua empreitada criminosa, sentem-se mais à vontade para cometer o delito com outras pessoas, tornando-se, dessa forma, assassinos em série, mais conhecidos como serial killers.
			Dada as características do psicopata, propiciam-no a práticas de crimes. Em razão disso, a Psicologia Forense e a Criminologia questionam se este tipo de criminoso deve ou não ser responsabilizado pelos seus atos. Com a finalidade de chegar a uma conclusão clara é necessário entender os componentes do crime segundo a Teoria do Delito e, assim, observando o modo que é o psicopata é lidado pelo Direito Penal brasileiro.
			Há três perspectivas de se analisar um crime, são elas, o crime formal, o crime material e o crime analítico. No crime material, o tipo descreve a conduta e o resultado naturalístico, para consumar o delito é necessário o resultado (ex.: homicídio, furto, roubo). Sob o aspecto formal, o tipo descreve uma conduta que possibilita a produção de um resultado naturalístico, mas não exige a realização deste, como, por exemplo, no crime de extorsão mediante sequestro o tipo descreve a conduta de sequestrar, como, também, do resultado, que é o recebimento da vantagem, mas para a sua consumação basta o sequestro com o fim de alcançar o resultado. Já sob o aspecto analítico, tende a analisar os elementos estruturais do crime que são a culpabilidade, tipicidade e antijuridicidade. A intenção dessa análise é conduzir o infrator à uma sanção penal cuidadosa e justa, fazendo com que o judiciário julgue em estágios, observando as três características do delito. A ótica analítica é a corrente majoritária do Brasil. 
			 Sendo assim, para considerar um fato como crime, ele deve ser um fato típico (estar presente no Código Penal), antijurídico (contrário aos ditames do direito) e ser reprovável pela sociedade, assim como o autor deverá ser imputável e ter a exigibilidade e possibilidade dele agir de um modo diverso ao crime. 
			Francisco Assis de Toledo, adota a concepção analítica, conceituando que:
Substancialmente, o crime é um fato humano que lesa ou expõe a perigo bem jurídico (jurídico-penal) protegido. Essa definição é, porém, insuficiente para a dogmática penal, que necessita de outra mais analítica, apta a pôr à mostra os aspectos essenciais ou os elementos estruturais do conceito de crime. E dentre as várias definições analíticas que têm sido propostas por importantes penalistas, perece-nos mais aceitável a que considera as três notas fundamentais do fato crime, a saber: ação típica (tipicidade), ilícita ou antijurídica (ilicitude) e culpável (culpabilidade). O crime, nessa concepção que adotamos, é, pois, ação típica, ilícita e culpável.
(TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios Básicos do Direito Penal, São Paulo: Saraiva 1999, p. 80)
			Contudo, crime é a conduta repudiada pela sociedade que merece a aplicação de uma sanção prevista em lei, constituindo uma ação ou fato típico, ilícito e culpável. 
			Não é possível analisar o crime sob elementos fragmentados, ele é um todo sistemático e inseparável. Como analisado, o mais conveniente é dizer que ele contém características, que são a tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade. Atentando-se a esta última, já que compreende a análise subjetiva do delito.
				Assim, conceitua Luiz Regis Prado:
A culpabilidade é a reprovabilidade pessoal pela realização de uma ação ou omissão típica e ilícita. Assim, não há culpabilidade sem tipicidade e ilicitude, embora possa existir ação típica e ilícita inculpável. Devem ser levados em consideração, além de todos os elementos objetivos e subjetivos da conduta típica e ilícita realizada, também, suas circunstâncias e aspectos relativos à autoria.
(PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume 1:parte geral. 1. 7ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 408.)
			Para analisar a culpabilidade o Brasil adota a teoria normativa pura, também conhecida como teoria finalista. Para esta teoria, constitui-se elemento da culpabilidade a possibilidade da consciência da antijuridicidade, ou consciência potencial da antijuridicidade. Visto que ela possibilita o juízo da reprovação da culpabilidade, sua importância é vital. Para essa teoria, o comportamento humano é abastecido por uma finalidade particular. 
			 Destarte, segundo a teoria finalista o elemento da culpabilidade é um simples juízo de valor normativo, não levando em consideração as condições psicológicas de culpa ou dolo que, consequentemente, são deslocados à tipicidade. 
			Sob a ótica finalista, a culpabilidade possui três elementos, são eles a imputabilidade, a exigibilidade de conduta diversa e a potencial consciência da ilicitude. Sendo assim, o indivíduo só será penalizado se ele for imputável (ter capacidade psicológica e maturidade), saber sobre o fato ilícito e que seja imposto comportamento distinto daquele realizado no crime. 
			Partindo desse estudo referente a culpabilidade, cabe a examinar a imputabilidade, que para muitos estudiosos faz parte da culpabilidade, excluindo-se como elemento.
			A expressão imputar, significa responsabilizar o ato cometido por alguém. Juridicamente, esse termo refere-se à capacidade do autor em razão do entendimento do crime praticado.
			Para ser considerado imputável o indivíduo deve conter algumas características pessoais, tal como entender o caráter ilícito do fato e a plena consciência volitiva. Na pendência de um desses atributos, o infrator será considerado imputável ou semi-imputável. Conforme prevê o art. 26, do Código Penal, a posição do infrator perante a lei penal se define, então, nos três momentos: imputabilidade, culpabilidade e responsabilidade penal. Sendo assim, a imputabilidadeé a capacidade de entendimento e de querer.
			Neste sentido, consigna Fernando Capez que:
“a imputabilidade apresenta, assim, um aspecto intelectivo, consistente na capacidade de entendimento, e outro volitivo, que é a faculdade de controlar e comandar a própria vontade”
(CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, 13ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2009, 311 p.)
			A imputabilidade penal é voltada ao indivíduo com capacidade de entendimento, um homem inteligente e livre, com vontade consciente, que por ter tomado tal decisão deve ser penalizado por suas ações praticadas, além de quando se comportar antijuridicamente e antissocialmente. Desta forma, o sujeito que não apresenta as características apresentadas é inimputável, ou seja, não deverá ser responsabilizado pelos seus atos por lhe faltar os atributos humanos essenciais como a capacidade de entendimento e a razão.
			Na doutrina há três sistemas para se aferir a inimputabilidade: o biológico, psicológico e o biopsicológico. No biológico somente é observado se o agente possui ou não insanidade mental. Quanto ao psicológico, leva em consideração a capacidade do indivíduo em compreender o que esta fazendo no momento do crime, se é certo ou errado. E, por último, o biopsicológico, em que se une os dois elementos, há a verificação da existência de doença mental e se o sujeito possuía discernimento na ocasião do crime.	A corrente majoritária adota o fator biopsicológico para determinar se o agente é imputável. 
			Contudo, constatada a imputabilidade do agente, o sujeito não será preso como os demais indivíduos, a ele será aplicada a medida de segurança. Nestes casos a sua reprovabilidade não será baseada na culpabilidade, como acontece no caso dos imputáveis, mas se analisará o seu grau de periculosidade. Tendo como sistema vicariante adotado pelo Brasil, ao réu somente será aplicada a pena privativa de liberdade ou a medida de segurança, caso seja constada. Contudo, ao psicopata não será aplicada as penas cumulativamente, sendo sancionado apenas uma das medidas punitivas. 
2.3	Medida de Segurança
			Prevista pelos artigos 96 a 99, do Código Penal, a medida de segurança, além de ter caráter curativo e terapêutico, considera-se uma espécie de sanção penal que visa a privação da liberdade.
			Nesse sentido, leciona Nucci sobre a medida de segurança:
Trata-se de uma forma de sanção penal, com caráter preventivo e curativo, visando a evitar que o autor de um fato havido como infração penal, inimputável ou semi-imputável, mostrando a periculosidade, torne a cometer outro injusto e receba tratamento adequado.
(NUCCI, Fernando de Souza. Manual de direito penal: parte geral, parte especial. 7ª ed. rev., atual. E ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, pg. 576)
			Em nosso país prevalece o sistema vicariante, em que o inimputável e o semi-imputável somente poderão ser penalizados com a pena privativa de liberdade reduzida (art. 26, par. único, CP) ou a medida de segurança. 
			A medida de segurança atribui duas modalidades: a primeira, é a internação, que é a introdução do condenado ao hospital de custódia e tratamento, conforme prevê o artigo 95, I, Código Penal, e, a segunda, o tratamento ambulatorial, o qual atribui ao sentenciado o dever de comparecer, em períodos, ao médico para acompanhamento, que assim dispõe no art. 96, II, do Código Penal, cabendo ao magistrado, ao analisar a situação, decidir entre uma ou outra espécie da medida de segurança. Lembrando-se de respeitar a pena mínima fixada em lei que é de um a três anos ou quando findar a periculosidade (artigo 97, § 1º, do Código Penal). De acordo com o previsto no art. 97, caput, do Código Penal, caso for constatado que o sujeito é inimputável, o juiz deverá determinar a sua internação. Caso, a situação prevista como crime for penalizável com detenção, o juiz poderá determinar o seu tratamento ambulatorial. Ressalta-se, ainda, que no caso de extinção da punibilidade, não poderá ser aplicada a medida de segurança (artigo 96, par. único, Código Penal).
			Salienta-se que a duração da medida de segurança é por período ilimitado. No entanto, a doutrina majoritária e o STF pleiteiam um prazo limite para esta sanção, visto o não somente o seu caráter preventivo, mas, também, punitivo, que é de 30 (trinta) anos, conforme prevê o art. 75, caput, do Código Penal.	
			Caso durante o cumprimento da pena privativa de liberdade, for verificado a existência de doença mental, poderá o juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da autoridade administrativa, pleitear a substituição da pena por medida de segurança, conforme preceitua o artigo 189, da Lei de Execução Penal.
			Referente a substituição da pena por medida de segurança, é possível verificar dois pressupostos, segundo Nucci. A primeira, é que se for constatada doença mental não duradoura, deverá seguir o que esta previsto no art. 41, do Código Penal, isto é, será realizada a transferência do condenado ao hospital de custódia e tratamento psiquiátrico pelo período em que levar a sua cura. Não se tratando, desta forma, de conversão da pena, mas sim uma providência provisória para tratar da enfermidade. A segunda, é de uma enfermidade mental de caráter duradoura, que necessitará da conversão da pena em medida de segurança, aplicando -se o que prevê no artigo 97, do Código Penal (NUCCI, 2011).
			Sendo assim, é de extrema importância a análise da Psicologia Forense quanto ao fato de investigar se se trata de uma doença mental temporária ou duradoura. Se, por algum equívoco, um sujeito inimputável for inserido numa penitenciária comum, caberia habeas corpus para acabar com esse constrangimento. No caso da psicopatia, seja inserido na penitenciária comum ou sujeito a tratamento ambulatorial, de nada adiantaria, já que é incurável. Porém, para os mais positivistas, o comportamento da pessoa com esse distúrbio é somente controlável. 
			
2.4	Sanção Infligida ao Psicopata
			
			Até os dias atuais, a Psiquiatria, a Psicologia e a sociedade não encontraram uma forma eficaz para o controle da personalidade psicopática. Conforme já mencionado, o psicopata apresenta um distúrbio que está ligado à sua personalidade, alterando o seu aparelho somático-cerebral, que os impedem de agir de forma normal. Nem mesmo o sistema jurídico encontrou alguma solução para ressocializar esse tipo de indivíduo. Observando-se muitas falhas em nosso sistema jurídico quanto à recuperação do sujeito portador da psicopatia. 
			Em nossa legislação há 03 (três) formas de penalização ao criminoso psicopata:
Medida de segurança – internação ou tratamento ambulatorial;
Pena integral;
Pena reduzida de um a dois terços em reclusão comum – geralmente em regime fechado
			Mesmo contendo mais de uma maneira para sancionar o criminoso psicopata, ainda pode-se destacar algumas falhas. Sabe-se que o psicopata é um indivíduo sensato, manipulador e sedutor. Sendo assim, inseri-lo em uma penitenciária comum é totalmente inútil quando a finalidade é a sua ressocialização. No interior das prisões, o prisioneiro psicopata poderá ludibriar os demais detentos para conseguir seus objetivos, sejam eles, rebeliões, mortes ou, até mesmo, fugas. A grande parte das conturbações vividas nas prisões são lideradas por psicopatas, sendo que jamais são encontrados por terem uma conduta exemplar. Encontrando maneiras de manterem-se camuflados, para que outros sejam culpados em seu lugar. Em razão disso, é necessário analisar-se a maneira mais eficiente para penalizar o psicopata, pois aloca-lo à um presídio não trará qualquer resultado positivo, ainda que colocado em cela própria. 
			Em relação aos tipos de medida de segurança, internação e tratamento ambulatorial, a princípio se verifica irregularidades quanto ao tratamento do criminoso psicopata. O psicopata é capacitado para enganar até mesmos os profissionais do hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, atitude que acaba dissipando a esperança de melhoria sob a ótica social,tendo em vista que nem ao menos os especialistas conseguem lidar com a sagacidade desse sujeito.
			Mesmo no tratamento internato, que equipara-se a pena privativa de liberdade (dado o seu alto grau de periculosidade é aprisionado no manicômio), ou no tratamento ambulatorial (que possui acompanhamento médico periódico), não há efeitos eficazes que repreenderia os atos narcisistas e cruéis do criminoso psicopata, tendo em vista que a sua notável esperteza o auxilia na celeridade do cumprimento da pena imposta, fazendo com que se comportem da maneira adequada, com a finalidade de demonstrar suas melhoras e, consequentemente, a conquista da sua liberdade.
			Reitera-se que mesmo sendo um distúrbio a psicopatia não é considerada uma doença mental como o alienado, mas um sujeito que apresenta uma personalidade fora da normalidade. Contudo, tanto no hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, quanto em uma penitenciária, ele não se ressocializará com a sanção imposta, e ainda tentará ludibriar todos que o rodeiam. Sendo assim, afirma-se que nenhuma medida sancionadora existente terá quaisquer efeitos curativos, somente preventivos, ao passo em que excluem o psicopata do seu meio social, evitando novos delitos.
			Uma possibilidade para tratamento eficaz do criminoso psicopata, seria preciso uma análise particular da história de vida de cada indivíduo portador desse distúrbio, capacitando os especialistas para descobrir a origem ou a eclosão do problema, que na maioria das vezes trata-se de traumas de infância, fazendo com que tenham tratamentos peculiares. 
			O que prejudica, ainda mais, é que em vez de dos juristas elaborarem um mecanismo mais eficaz para tratamento e identificação do psicopata, simplesmente são “jogados em qualquer penitenciária” sem a devida atenção para analise criminológica, causando uma plena desconsideração do sistema prisional.
			No ano de 2010, o deputado federal Itagiba, influenciado pelos estudos de Hilda Morana, efetuou o projeto de lei nº 6.858/10, que modifica a Lei de Execuções Penais, ao recomendar o desenvolvimento de uma comissão técnica do sistema prisional a fim de efetuar o exame criminológico do indivíduo com personalidade psicopática à sanção imposta. Desta forma, compreende-se que o mencionado projeto se demonstra promissor por ser uma tentativa de peculiarizar o indivíduo que tem esse distúrbio no ato de execução da pena.
			Conforme mencionado, nossa legislação e o referido sistema penal apresentam muitas falhas quanto ao cumprimento da pena do psicopata. A própria conceituação desse distúrbio já se alterou desde a reforma penal. Pesquisas já determinaram novas evidencias sobre esse assunto que sempre causou muita polêmica na sociedade. O psicopata é protagonista de diversos debates, dada as suas características peculiares e as suas ações que são capazes de abalar as pessoas. Portanto, cabe enfatizar a relevância do projeto de lei nº 6.858/10, que se desempenha em solucionar o problema da ressocialização do psicopata. 
3.	CONCLUSÃO
			Conclui-se do presente projeto que a psicopatia é a mutação da personalidade do sujeito, que pode ser tanto adventícia, quanto neurobiológica, apresentando como atributo principal a ausência de sentimentos. Desta forma, um psicopata pode causar prejuízos a outras pessoas sem ter qualquer remorso. Por tratar-se de um sujeito egocêntrico patológico, tem a capacidade de eliminar qualquer pessoa que obstrua a execução de suas intenções individualistas. Não obstante, ele tem a possibilidade de identificar o correto e o errado da Moral, mas o seu consciente não se sente obrigado a operar de acordo com as medidas sociais, devido ao jeito social altruísta. O psicopata só agira de acordo com a normalidade se isso trazer vantagens a ele. 
			Em nosso país, esses tipos de criminosos são amparados por muitos advogados, tendo em vista que são julgados semi-imputáveis ou inimputáveis, e devido a isso tem a possibilidade de conseguir a isenção, alteração ou minorização da pena. Este feito demonstra que muitos juristas apresentam somente interesses monetários, e não tentam pleitear o progresso da Psicologia Jurídica e da Ciência Jurídica acerca da psicopatia.
			O atual sistema jurídico penal, que se apresenta totalmente escasso quanto a eficácia de tratamento do infrator comum, muito menos demonstra aptidão para tratar um criminoso com personalidade psicopática, que requer uma peculiaridade especial para o seu tratamento.
			Não se deve esquecer que todas as normas punitivas voltadas ao criminoso psicopata, estão saciadas de falhas no que tange à resolução desse dilema. Observa-se dois tipos de sanções, a primeira, que é a pena com o fim de punição e reparação, a segunda, que é a medida de segurança que tem por finalidade o tratamento dos enfermos mentais. As duas são ineficientes para a restauração do criminoso com psicopatia, tendo em vista que esse sujeito não se impacta com a pena, e o seu distúrbio não é considerado uma doença mental que assim poderia ser tratada num hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, como se louco fosse. Porém, trata-se de um indivíduo totalmente manipulador e egocêntrico que, inserido na prisão ou no manicômio, muito provavelmente irá prejudicar os que ficam ao seu redor.
			É decepcionante a tentativa de inibir a reincidência do criminoso psicopata. Já que, quando solto, ele tenderá a reparar os erros que fizeram com que ele fosse preso, retornando a infringir a lei de um modo mais eficiente. Da mesma forma, são inúteis os tratamentos em que é obrigado, pois também tentará obter vantagem do feito. Entretanto, comportamentos que demonstram sua melhoria e progressão devem ser observados com cautela pelos profissionais que estão ao seu redor, pois na maior parte das vezes, são somente para se beneficiar de alguma forma.
			Contudo, o criminoso psicopata carece de um tratamento peculiar. Sendo assim, poderia ser desenvolvido prisões especializadas nesse distúrbio. Nos respectivos locais, o sujeito deveria ser diagnosticado de uma forma apropriada, proporcionando um tratamento individualizado. Neste sentido, o projeto de lei nº 6.858/10, demonstra-se promissor. 
			Destarte, o sistema jurídico como um todo, profissionais do Direito e membros do Legislativo deveriam estar dotados de conhecimentos do âmbito Psicológico, para compreenderem quais seriam as sanções e as medidas de segurança válidas aos criminosos psicopatas, com a finalidade de pleitear os cidadãos desses infratores, que, evidentemente, proliferam o perigo à sociedade.
			Não obstante, não podemos nos esquecer que o sistema jurídico brasileiro se leva em consideração o princípio da Dignidade da Pessoa Humana, que prevê a Constituição Federal (artigo 1º, inc. III). Desta forma, criação de medidas para uma sanção eficaz aos psicopatas não pode ser somente voltada aos interesses da coletividade, como precisará dispor-se à conservação da dignidade do sujeito que apresenta esse distúrbio, que embora sua periculosidade, não deixa de ser uma pessoa humana, conforme prevê a Lei Maior.
4.	BIBLIOGRAFIA
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