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Desenvolvendo competências para o empreendedorismo de base tecnológica na Embrapa Informática Agropecuária BAMBINI, M.D. 1 ,MENDES, C.I.C. 2 , HANASHIRO, M.M. 3 , OLIVEIRA, D. R. M. S. 4 , PEREIRA, G. L. 5 1. Introdução O objetivo deste trabalho é relatar a primeira experiência da Embrapa Informática Agropecuária6, unidade descentralizada de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa7, no desenvolvimento de competências empreendedoras de seus pesquisadores e técnicos, culminando na elaboração de quatro Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica - EVTEs para incubação de empresas de base tecnológica. Esta ação se insere no Programa de Apoio ao Desenvolvimento de Novas Empresas de Base Tecnológica Agropecuária e à Transferência de Tecnologia (Proeta), criado pela Embrapa com o objetivo de viabilizar um mecanismo sustentável para incubação de empresas voltadas para o agronegócio. O processo de capacitação dos pesquisadores e técnicos foi realizado no âmbito de um projeto desenvolvido em parceria com a Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP8 e com aporte financeiro da Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP9, em atendimento ao edital do Programa Nacional de Incubadoras – PNI. Este projeto, desenvolvido no período de janeiro de 2006 a abril de 2007, teve como principal objetivo a elaboração de EVTEs visando estimular a criação de empresas de base tecnológica para transferência dos resultados das atividades de pesquisa e desenvolvimento realizadas pelas instituições parceiras. O Instituto de Inovação10 foi a empresa de consultoria contratada para este trabalho, contribuindo com sua experiência na área de gestão da inovação. A metodologia aplicada contou com cinco etapas: Sensibilização (realização de seminários abertos ao corpo de pesquisadores e técnicos sobre inovação e transferência de tecnologia); Treinamento Embate (voltado para o empreendedorismo de base tecnológica); 1 Martha Delphino Bambini, Embrapa Informática Agropecuária, martha@cnptia.embrapa.br , (19) 37895832 2 Cássia Isabel Costa Mendes , Embrapa Informática Agropecuária, cassia@cnptia.embrapa.br, (19) 37895799 3 Marcelo Mikio Hanashiro , Embrapa Informática Agropecuária, mikio@cnptia.embrapa.br, (19) 37895729 4 Deise Rocha Martins dos Santos Oliveira, Embrapa Informática Agropecuária, deise@cnptia.embrapa.br, (19) 37895741 5 Guilherme Luiz Pereira, Instituto de Inovação, guilherme.pereira@institutoinovacao.com.br, (19) 32890353 6 http://www.cnptia.embrapa.br 7 http://www.embrapa.br 8 http://www.unicamp.br 9 http://www.finep.gov.br 10 http://www.institutoinovacao.com.br Diligência da Inovação®11 (análise do potencial mercadológico de tecnologias envolvendo sua caracterização, prova de conceito, estudo de mercado e análise de viabilidade econômica); Definição do Modelo de Negócios e Estruturação do Plano de Negócios. Os resultados deste projeto evidenciam a relevância da participação do pesquisador no desenvolvimento de estudos e planos de negócios de base essencialmente tecnológica. A postura intra-empreendedora dos pesquisadores-inventores é o ponto de partida para potencializar a identificação e aproveitamento de novas oportunidades de negócios a partir das tecnologias produzidas por instituições de pesquisa científica. 2 . Revisão de Literatura 2.1 Panorama das competências do pesquisador brasileiro Fleury e Fleury (2001) definem competência como “um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo” (p.21). Saber agir, segundo os autores, envolve saber o que e por que faz. Saber julgar, escolher, decidir. Mobilizar implica na mobilização de recursos humanos, financeiros e materiais criando sinergia. Comunicar se refere à compreensão, processamento e transmissão de informações e conhecimentos, assegurando-se de que os receptores tenham entendido a mensagem. Saber aprender envolve: trabalhar o conhecimento e a experiência, rever modelos mentais, saber desenvolver-se e propiciar o desenvolvimento de outros. O comprometimento com os objetivos da organização e o engajamento para com eles são fundamentais. O “saber assumir responsabilidades” se refere à atitude responsável, assumindo riscos e conseqüências de suas ações, sendo por isso, reconhecido. A visão estratégica reflete o entendimento do negócio da organização, de seu ambiente, identificando oportunidades e alternativas. Zarifian (2001), por sua vez, diferencia cinco tipos de competências profissionais: o Sobre processos: conhecimento do processo global de trabalho de forma profunda; o Técnicas: conhecimento específico; o Sobre a organização: conhecer parâmetros de funcionamento da organização; o De serviço: conhecer os impactos que o desenvolvimento de suas atividades profissionais e o produto final terão para seus destinatários (avaliação de utilidade); o Competências sociais: saber ser (traços de personalidade e aptidões) e 11 Marca registrada pelo Instituto de Inovação. comportamentos e atitudes. Manifesta-se em três campos: autonomia, tomada de responsabilidade e comunicação. O precursor da utilização do conceito de competências na área organizacional foi David McClelland. O conceito introduzido por este autor implica um fluxo causal no qual as características pessoais (motivações, traços, auto-conceito e conhecimento) embasam a intenção do indivíduo, que parte para a ação, observável em comportamentos e habilidades. Da ação obtém-se um resultado, traduzido pelo desempenho profissional. Indivíduos que atuam em ciência, tecnologia e inovação são essencialmente trabalhadores do conhecimento. Na sociedade da informação, o trabalhador aplica sua iniciativa e inteligência, desenvolve sua capacidade de abstração com base em suas experiências profissionais, obtendo a re-tradução destas experiências em formalizações conceituais (Zarifian, 2003). As atividades de Iniciação Científica, vivenciadas antes da conclusão do ensino superior, representam, em geral, o primeiro contato do indivíduo com a pesquisa científica. Velho (2001) afirma que “desde a emergência da ciência moderna no período da revolução científica, a formação de pessoas para desempenhar atividades de investigação é feita por outros pesquisadores, através de uma relação do tipo mestre e aprendiz” (p. 1) Gleiser em seu depoimento à CBPF (2005) acrescenta que teoricamente, na ciência, não existe uma estrutura hierárquica. Verifica-se uma relação horizontal e democrática que vigora apenas depois da conclusão do doutorado. Este autor defende que a interação pessoal é muito importante para ser bem sucedido na ciência. Assim, após a conclusão dos estudos formais (doutoramento) o pesquisador deveria ser um mentor dos que estão começando. Segundo Bell (2005), o mentor é um professor, um guia, um sábio e, sobretudo, uma pessoa que age para melhorar sua habilidade, de maneira compassiva e integral, tendo em vista o aprendiz. Com esta interação mentor-aprendiz, o futuro cientista desenvolve suas competências em fazer ciência, escrever e pesquisar. E, principalmente, aprende a fazer as perguntas certas. Bariani (1998) cita Simão (1994) ao abordar atitudes, habilidades e conhecimentos apreendidos durante o processo de Iniciação Científica. As atitudes destacadas são: “curiosidade diante dos fenômenos e fatos observados, supostos, inferidos; flexibilidade de idéias ao fazer suposições a respeito deles; disposiçãopara embasar as próprias opiniões; persistência na busca de possíveis respostas às questões; responsabilidade e disponibilidade no cumprimento de tarefas; assiduidade e pontualidade (...); colaboração (...); cuidado no uso de equipamentos; engajamento na rotina do grupo, buscando eventualmente melhorá-la”. Como habilidade, destaca-se a desenvoltura em tarefas consideradas mecânicas e concretas e em situações novas e abstratas, envolvendo indagações, comparações, sínteses e conclusões. No que se refere ao conhecimento, pode- se citar domínio conceitual do projeto de pesquisa e compreensão da literatura relacionada ao seu tema de estudo. Bariani (1998) destaca ainda algumas características do pesquisador, referenciando- se em diversos autores. Evidenciam-se: interesse, curiosidade intelectual, criatividade, perseverança no trabalho, integridade intelectual, independência cognitiva, auto-disciplina, e reflexão no tratamento das questões sob estudo. Algumas características pessoais do cientista foram extraídas a partir dos depoimentos de expoentes na pesquisa em Física, brasileiros e estrangeiros, publicados pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF, 2005). Elas são descritas no Quadro 2. Outro estudo consultado (Ribeiro,1997) relaciona-se às práticas profissionais de pesquisadores atuando na Empresa Pública de Pesquisa Agropecuária – Embrapa caracterizando o perfil de um pesquisador “reflexivo”. Para a autora, o ato reflexivo é uma maneira de ser e estar na profissão. Este profissional reflexivo é capaz de pensar, analisar, investigar e mudar práticas, com o intuito de promover o desenvolvimento de um pensamento ou ação. Diante de ambientes de mudanças e incertezas, mobiliza seus recursos intelectuais (conceitos, teorias, técnicas, etc) para avaliar contextos, diagnosticar situações, definir hipóteses e estratégias. As pesquisas de Ribeiro (1997) identificaram 5 campos de competências: o Competências de interação e éticas: disposição para interagir com parceiros internos e externos, cooperação, colaboração e espírito de equipe, relacionamento e interação com parceiros, condutas e comportamentos. o Competências de reflexão: percepções sobre as várias experiências profissionais, atualização e aquisição de conhecimentos, reflexões sobre o contexto externo subjacente à atividade profissional. o Competência de elaboração e proposição: elaboração de metodologias de trabalho, criatividade na execução das atividades profissionais, postura proativa e empreendedora. o Competência de cidadania: compromisso profissional para com a sociedade. o Competência de ensino e aprendizagem: fator de reflexão sobre a prática profissional. As competências identificadas na pesquisa de Ribeiro (1997) estão bastante alinhadas com as experiências e depoimentos dos pesquisadores entrevistados pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (2005), conforme indica o Quadro 2. Considerando os cinco tipos de competências identificados por Zarifian (2001), verificou-se, pela comparação dos estudos de Ribeiro (1997), Bariani (1998) e pelos depoimentos relatados em CBPF (2005) uma predominância de dois tipos de competências: técnicas, relativas a aquisição de conhecimento específico, e sociais: relativas ao “saber ser” (traços de personalidade e aptidões) e comportamentos e atitudes. Quadro 2 – Quadro comparativo das competências selecionadas pelos autores Ribeiro (1997) Bariani (1998) Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (2005) Interesse Dedicação, interesse, entusiasmo Atualização e aquisição de conhecimentos Curiosidade intelectual Integridade intelectual Curiosidade, vontade de explorar o desafio intelectual Criatividade Criatividade Capacidade de explorar o mundo, “ver o o que os outros não viram” Perseverança no trabalho Auto-disciplina Perseverança, trabalhar duro por longas horas, dedicação aos estudos. Independência cognitiva Reflexão Reflexão Reflexão, questionamento sobre o mundo, Flexibilidade de idéias Enxergar possibilidades não vistas. Colaboração Colaboração Espírito de equipe Engajamento e melhoria da rotina do grupo Ser um “eterno aprendiz” Fonte: autoria própria. As competências relativas a processos (conhecimento do processo global de trabalho de forma profunda), sobre a organização (conhecer parâmetros de funcionamento da organização) e de serviço (conhecer os impactos que o desenvolvimento de suas atividades profissionais e avaliar a utilidade e impacto que o produto final terá para seus destinatários) pouco aparecem na comparação dos três trabalhos. Observa-se que a postura empreendedora é uma competência citada por Ribeiro (1997) mas não está presente no trabalho dos outros autores estudados. De maneira geral, pode-se considerar a existência de uma lacuna em competências cuja abordagem está voltada para a obtenção de resultados, utilidade e impactos da atividade realizada. Este tipo de competência é essencial para o desenvolvimento de novos negócios e empreendimentos. Apesar de envolver generalizações baseadas em trabalhos descritivos do perfil cognitivo do pesquisador, esta análise comparativa indica as competências mais demandadas na prática profissional de pesquisa científica. Com certeza, poderão ser encontradas diferenças individuais, caso a caso, dependendo da personalidade e do contexto de atuação de cada cientista, bem como de sua experiência prévia. 2.2 Características do Pesquisador-empreendedor Empreender, do francês entreprendre, significa assumir riscos, começar algo novo (Chiavenato, 2005). O empreendedor, segundo este autor, é aquele que inicia ou opera um negócio para realizar uma idéia ou projeto pessoal, assumindo riscos e inovando sempre. Suas três características básicas são: necessidade de realização, disposição para assumir riscos e autoconfiança. Desta forma, pesquisadores, gestores e colaboradores de um empreendimento de base tecnológica necessitam ter consciência dos desafios associados à geração de inovações. Mesmo uma tecnologia com alto potencial inovador pode gerar um negócio mal- sucedido (Instituto, 2008) se os gestores não possuírem as competências empreendedoras. As principais causas de insucessos nos negócios, conforme Chiavenato (2005), referem-se a fatores econômicos provocados por inabilidade do empreendedor, falta de experiência no ramo de atuação ou por dificuldades de gerenciamento. Outro componente importante são perdas de mercado ou lucros reduzidos advindos de inexperiência dos gestores. As dificuldades logísticas (estoque insuficiente, localização inadequada) bem como fraca competitividade podem resultar em vendas insuficientes para a manutenção do negócio. A gestão de despesas é outro fator de destaque, podendo gerar dívidas e encargos. O autor cita o trabalho de McClelland para descrever as principais características do empreendedor bem sucedido: iniciativa e busca de oportunidades; perseverança; comprometimento; busca de qualidade e eficiência; coragem para assumir riscos (calculados); fixação de metas objetivas; detalhamento de planos e controles; capacidade de persuasão; capacidade de estabelecer redes pessoais; independência; autonomia; autocontrole. Estas características ou competências devem ser dominadas de forma equilibrada entre os colaboradores do empreendimento para constituir uma equipe harmoniosa. Uma proposta para o desenvolvimento de competências empreendedoras junto ao corpo de pesquisadores das Instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação torna-se relevante à medida em que se busca formas inovadoras de transferência de tecnologia visando a apropriaçãodos resultados da pesquisa científica pela sociedade. 2.3 Incubação de Empresas de Base Tecnológica Uma empresa de base tecnológica está fundamentada em seu capital humano e social, geralmente instrumentais (Brush et al., 2002). Estes capitais são utilizados para alavancar as demais necessidades do negócio, transformando e organizando os ativos iniciais em recursos organizacionais únicos. A dificuldade, porém, ainda é transportar a idéia inicial para a realidade, principalmente quando se trata da criação de novos bens ou serviços. A existência de um ambiente de incubação de empresas é ser um grande catalisador para o desenvolvimento de novas oportunidades de negócio, de base tecnológica ou não. Porém, ele não constitui, sozinho, a chave para o sucesso de um empreendimento. Este caminho, que o empreendedor deve traçar para atingir suas metas, é caracterizado pelo processo de transformação de uma idéia em uma realidade, processo este repleto de barreiras e tentativas múltiplas (Katz, 1993). No mundo inteiro, a relação entre os centros de conhecimento, empresas e governo formam a base dos sistemas de inovação e desenvolvimento de oportunidades tecnológicas. A alta incerteza associada aos processos de desenvolvimento das empresas de base tecnológica e o dinâmico ambiente de mudanças da economia moderna constituem fontes de risco ao planejamento de negócios e, portanto, se faz necessário o uso de ferramentas e técnicas que foquem na minimização destes riscos e no foco das oportunidades (Quadros, 2004). Portanto, tornam-se cada vez mais necessários os estudos de viabilidade técnica e econômica e o desenvolvimento de planos de negócios muito bem estruturados. No Brasil, o governo, em geral, garante subsídios, através de agências de fomento, para a implantação de projetos de prospecção e análise das oportunidades tecnológicas. Estas, no entanto, estão na maioria concentradas nas instituições de ensino e pesquisa e são aplicadas ou replicadas no setor privado da economia (Harding e Bosma, 2007). No país, esta articulação entre as universidades, governo e setor produtivo ainda é modesta (Frois e Parreiras, 2007). A Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP, dentro de um conjunto de ações em prol da Inovação, lançou em 2005 o edital Apoio ao Programa Nacional de Incubadoras – PNI. Uma de suas linhas estimulava a execução de Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica de Tecnologias geradas nas Universidades e Centros de Pesquisas, com o intuito de avaliá-las sob a ótica de mercado, possibilitando a geração de novas empresas ou a transferência destas para o setor produtivo. A Embrapa Informática Agropecuária, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP , obteve a aprovação de um projeto submetido a este edital com o objetivo de elaborar Estudos de Viabilidade Técnica de Empresas de Base Tecnológica – EVTEs. Com aporte financeiro da FINEP foi possível contratar uma empresa de consultoria especializada em gestão da inovação e tecnologia – Instituto Inovação Ltda. A metodologia desenvolvida por esta empresa foi aplicada durante a execução do projeto viabilizando a elaboração dos respectivos estudos. 2.4 Elaboração de Estudos de Viabilidade Técnica de Empresas de Base Tecnológica No sentido geral de análise de tecnologias, a experiência da consultoria, investigando o potencial de tecnologias geradas nos laboratórios de institutos de pesquisa e ensino, constatou que (Inovação, 2008): é possível trabalhar a tecnologia respeitando os valores que são caros à comunidade científica na instituição de ensino e pesquisa (tais como autonomia e liberdade para a pesquisa básica que gera o avanço do conhecimento) considerando seu potencial valor para uso da sociedade; não se logra benefício algum em patentear por patentear já que nem sempre tecnologia patenteada é sinônimo de licenciamento. Partindo destas constatações e somando-se a experiência com a gestão de empresas nascentes (start-up’s) baseadas em novas tecnologias, a empresa de consultoria desenvolveu metodologia de investigação e modelagem de tecnologias que ainda se encontram no laboratório em estágio de bancada e que normalmente são objetos de pedidos de patente. Ao se tratar de investigação do potencial de um projeto, comumente se associa diretamente esta análise a um plano de negócios. Este tipo de estudo é utilizado para se avaliar projetos de novos produtos ou processos em empresas já constituídas ou, no mínimo, para o planejamento de um novo negócio para o qual já se consiga obter as variáveis mínimas para a tomada de decisão. A metodologia é composta por quatro etapas: treinamento EMBATE – Empreendedorismo de Base Tecnológica, Diligência da Inovação®, definição do modelo de negócios e estruturação do plano de negócios. As etapas descritas foram aplicadas segundo o cronograma constante da Figura 1. Figura 1: Cronograma de execução do projeto. Fonte: Instituto de Inovação. 3. Metodologia: Eventos de Capacitação e Aprendizado em Ação As atividades de início consistiram de seminários, promovidos na Embrapa Informática Agropecuária, visando sensibilizar técnicos e pesquisadores quanto ao contexto atual de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil. Foram abordados temas como a Lei da Inovação, conceituação básica sobre inovação, estudos sobre a inovação no Brasil, cases de spin-off, programa de inovação e propriedade intelectual. Em seguida foi desenvolvido o Treinamento EMBATE – Empreendedorismo de Base Tecnológica, visando nivelar conhecimentos entre todos os participantes, motivando a equipe a entender o que é necessário para o sucesso do projeto. Utilizou-se de uma metodologia dinâmica e participativa para capacitação dos pesquisadores (Relatório, 2007), empreendedores e bolsistas envolvidos no projeto visando fornecer embasamento teórico aos participantes das tecnologias em análise. O perfil dos envolvidos na atividade empreendedora é um dos fatores críticos para o desenvolvimento do negócio, mesmo quando temos uma tecnologia com alto potencial inovador. O objetivo deste primeiro passo foi tornar o pesquisador consciente dos desafios de transformação da tecnologia em real inovação, despertando o seu perfil empreendedor. O treinamento busca a convergência entre os comportamentos desejados de um empreendedor e as atividades envolvidas em um processo inovativo (Relatório, 2007), conforme a figura 2. Foram abordados os seguintes temas durante o treinamento: o empreendedor; características empreendedoras, quebrando padrões, percepção de oportunidades, processo de criação e inovação, venda de idéias, análise e oportunidades. Figura 2: Treinamento EMBATE Fonte: Instituto de Inovação A realização do segundo treinamento, Diligência da Inovação®, teve como objetivo capacitar os participantes do projeto nos conceitos necessários ao entendimento das atividades a serem realizadas na próxima etapa do projeto. Foram abordados os seguintes temas: contexto da inovação, pesquisa e inovação em instituições de ensino e pesquisa, inovação nas empresas e diligência da inovação. No último tema, apresentou-se o objeto da análise, as características e aplicações da diligência, o processo de investigação, a coleta de dados e a estrutura de análise, além de um estudo de caso. Em seguida, a equipe de consultores iniciou o contato com os pesquisadores para conhecimento das tecnologias e primeiras sondagens ao mercado, dando início à etapa Diligência da Inovação®. A Figura 3 demonstra os passos desta etapa que visa subsidiar a elaboração do plano de negócios de base tecnológica. O objetivo é entender qual é o processo produtivoe os custos relacionados à produção, o estado da arte relacionado à tecnologia, os produtos e serviços potenciais, a identificação preliminar de um mercado alvo, identificação de competidores em potencial e a enumeração dos diferenciais competitivos. Figura 3 – Diligência da Inovação Com estas informações, os consultores podem avaliar de forma mais crítica a tecnologia e passar para a elaboração dos estudos de viabilidade técnica e econômica. A partir daí foi realizada a terceira etapa do processo: definição do modelo de negócio. São mapeadas as possibilidades de atuação da futura empresa a ser incubada, detalhando- se a oferta, os processos necessários para obterem-se os resultados esperados, o processo produtivo, as considerações sobre a transferência de tecnologia, a propriedade intelectual e os investimentos necessários. Foi realizado o treinamento Plano de Negócio visando capacitar os envolvidos na elaboração de planos de negócios, abordando os seguintes temas: definição de plano de negócios, definição do modelo do negócio, análise de mercado, o cliente, estratégia de marketing, recursos humanos, plano financeiro e “vendendo o peixe”. De forma análoga, o treinamento foi dado imediatamente antes do início das atividades de elaboração dos planos de negócio. A divisão destas duas últimas etapas foi feita de acordo com a proposta do Instituto Inovação, que caracteriza a Diligência da Inovação como uma metodologia que procura analisar as variáveis chave para que se identifique o potencial mercadológico de uma tecnologia – sendo a base para a elaboração do plano de negócios (Relatório, 2007). Após esta primeira análise, a equipe consegue ter uma visão geral do empreendimento de forma mais crítica, podendo tomar a decisão pela reavaliação dos objetivos do projeto ou, então, pela continuidade do processo para a elaboração do plano de negócio propriamente dito, a última etapa da metodologia. A confecção do plano de negócios é orientada por uma das informações que a Diligência da Inovação® avalia: o modelo do negócio. A partir deste ponto, são, então, elaborados estudos com informações atuais na tentativa de embasar a descrição do funcionamento da empresa, da oferta e demanda associadas à oportunidade, dos potenciais concorrentes e barreiras de entrada, da dinâmica do mercado, dos resultados financeiros e, por fim, uma análise da sensibilidade do conjunto de dados como um todo. A aderência do negócio ao mercado é um fator chave para o sucesso de todo o projeto, sendo uma etapa essencial da Diligência da Inovação®. Em síntese, a avaliação e confecção de um plano de negócio aliadas às outras etapas da metodologia oferecem: informações sistematizadas sobre o mercado à pesquisa científica; estudo da cadeia onde a inovação se insere; as regras de negócio e seus protagonistas; um documento estruturado sob a ótica do mercado; apresentação da tecnologia de forma detalhada, preservando as informações confidenciais; estímulo do avanço do conhecimento e criação de oportunidades concretas de aplicação da tecnologia; intercâmbio de conhecimento e acesso ao mercado, assegurando o princípio da autonomia dos pesquisadores e avalia o processo de proteção à propriedade intelectual da tecnologia em conjunto com especialistas. O quarto e último treinamento foi de técnicas de apresentação voltadas aos planos de negócios desenvolvidos. Neste módulo, os participantes aprenderam como tornar apresentações mais eficientes, atingindo o público alvo correto com a mensagem objetiva. Este treinamento foi essencial para mostrar aos envolvidos como a comunicação de suas idéias pode ajudar no estabelecimento de parcerias ou na conquista de clientes e/ou investidores. Portanto, em resumo, além de permitir um melhor entendimento do estágio de desenvolvimento de uma tecnologia e seu potencial de valor, a Diligência da Inovação® fornece os parâmetros necessários para a elaboração do plano de negócios de base tecnológica. Os planos de negócios, então, são apresentados em formato de relatório, contendo um sumário executivo, a descrição do negócio, a análise da indústria, a análise do público-alvo, a análise dos competidores, as estratégias de marketing, as estratégias de vendas, o plano operacional, a definição dos recursos humanos, o planejamento financeiro e as recomendações para entrada no mercado. Ao final do projeto, todas as tecnologias são classificadas de acordo com o seu potencial de geração de valor e seu estágio de desenvolvimento, havendo uma relativização de todos os projetos sob a ótica do potencial de inovação, ou da aderência da tecnologia ao mercado. Esta classificação permite a identificação dos projetos com maior potencial para inserção no mercado, dando um suporte na tomada de decisões estratégicas. 4. Resultados No projeto em questão, a Embrapa Informática Agropecuária apresentou quatro tecnologias para a análise (Relatório, 2007). De forma resumida, as tecnologias são: � Agência de Informação Embrapa (Agência): ferramenta de organização, tratamento e divulgação de informação tecnológica em ambiente web; � Sistema de Monitoramento Agrometeorológico (Agritempo): permite aos usuários o acesso, via internet, às informações meteorológicas e agrometeorológicas de diversos municípios e estados brasileiros; � Suite de Programas para Análise Estrutural de Proteínas (Sting): conjunto de ferramentas para visualizar e analisar estruturas de proteínas (fundamentais nos processos vitais dos seres vivos); � Árvore Hiperbólica: permite visualizar, criar e editar uma estrutura em formato arbóreo (com galhos e nós), onde se vislumbra de maneira hierárquica a relação entre os diversos temas analisados. Como atividades de capacitação envolvidas no processo de elaboração dos EVTEs foram realizados inicialmente quatro seminários técnicos (Tabela 1) para sensibilização dos pesquisadores e responsáveis pelas quatro tecnologias analisadas. Tabela 1 – Seminários Técnicos Tema Palestrante/Empresa Lei de Inovação: destaques, oportunidades e desafios Carlos Américo Pacheco Instituto de Economia/Unicamp Desafios para a Embrapa Sérgio Salles Filho Instituto de Geociências/Unicamp PROETA: o modelo Embrapa de incubação de empresas Ana Lúcia Atrasas Coordenadora do Proeta/Embrapa Propriedade intelectual: pedido de registro de programa de computador: princípios básicos Rodrigo Guerra e Argemiro Galvão Agência de Inovação da Unicamp A realização do treinamento EMBATE capacitou 40 pessoas das instituições Embrapa Informática Agropecuária, INCAMP (Incubadora da Agência de Inovação da Unicamp) e Embrapa Meio Ambiente13 nos conceitos de empreendedorismo de base tecnológica, promovendo o nivelamento de conhecimentos entre todos os participantes, já que cerca 12 13 No âmbito dos EVTEs, também foram analisadas outras tecnologias da Incubadora da Unicamp (Incamp) em parceria com a Agência de Inovação da Unicamp, e da Embrapa Meio Ambiente. Como o presente trabalho objetiva relatar a experiência da Embrapa Informática Agropecuária, nos atemos apenas a este estudo de caso. usuario Comment: favor levantar os dados sobre número de palestras, pessoas treinadas e suas instituições. 80% dos treinandos declararam inicialmente possuir pouco ou nenhum conhecimento sobre a temática do curso. A avaliação da metodologia do curso efetuada pelos participantes evidenciou alto grau de satisfação em relação às metodologias utilizadas. Os comentários efetuados foram bastante positivos enfatizando as práticas realizadas e a habilidade do instrutor. A realizaçãodo treinamento Diligência da Inovação® capacitou as mesmas 40 pessoas das instituições participantes do projeto nos conceitos de necessários ao entendimento das atividades a serem realizadas na próxima etapa do projeto. Antes do curso, 87% dos participantes declararam ter pouco ou nenhum conhecimento inicial do assunto. Foram abordados os seguintes temas: contexto da inovação, pesquisa e inovação em instituições de ensino e pesquisa, inovação nas empresas e diligência da inovação. No último tópico apresentou-se o objeto da análise, as características e aplicações da diligência, o processo de investigação, a coleta de dados e a estrutura de análise, além de um estudo de caso. Os comentários efetuados pelos participantes no formulário de avaliação enfatizaram o caráter pragmático do curso, atingindo a meta proposta e revelando sua aplicabilidade nos trabalhos da empresa. A etapa Diligência da Inovação® foi realizada para as quatro tecnologias selecionadas pela Embrapa Informática Agropecuária, sob a orientação dos consultores contratados. Essas tecnologias foram caracterizadas em termos de processo e aplicação, foi realizada uma prova de conceito que testou as tecnologias em situação real de campo, foi realizado um estudo de mercado das tecnologias e, finalizando a diligência, os estudos avaliaram a viabilidade dos negócios gerados a partir das tecnologias. Os estudos da viabilidade dos negócios consideraram a definição do modelo de negócio a ser adotado para comercialização das soluções. Com isso, foi possível calcular as principais estruturas de um negócio ou produto criado a partir da tecnologia: receita, custos operacionais e investimentos. A etapa considerou o máximo de dados reais possíveis, sem, contudo, se perder em um nível de detalhes que o estágio da tecnologia ou do negócio ainda não permita. O objetivo foi oferecer uma primeira análise financeira das tecnologias e, para duas delas que se mostraram viáveis economicamente, gerar subsídios à elaboração do plano de negócio para essas três tecnologias. A realização do treinamento Plano de Negócio capacitou, também, 40 pessoas na elaboração de um plano de negócios e abordou os seguintes temas: definição de plano de negócios, definição do modelo do negócio, análise de mercado, o cliente, estratégia de marketing, recursos humanos, plano financeiro e “vendendo o peixe”. Com relação ao curso, o índice de satisfação quanto a metodologia também foi bom, de maneira geral. Houve críticas quanto ao tempo, considerado reduzido, e quanto a uma expectativa de mais informações relativas ao plano financeiro e à realização de mais exercícios práticos. Para finalizar o projeto, foi realizado o treinamento Técnicas para Elaboração de Apresentações Eficazes que capacitou 40 pessoas. Foram abordados os conceitos de apresentações eficazes, o processo de elaboração constituído de briefing, planejamento da apresentação, preparação dos slides, formatação e lições aprendidas. 5. Considerações Os resultados dos Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica indicam, por sua qualidade e completude, a relevância dos conhecimentos e práticas difundidos dos cursos de capacitação, evidenciando o desenvolvimento de habilidades analíticas e negociais por parte dos pesquisadores envolvidos nos desenvolvimentos deste estudos. Além dos relatórios da análise de viabilidade técnica e econômica de cada uma das tecnologias, é importante ressaltar que os resultados que vão além da proposta inicial deste projeto trouxeram avanços significativos para as equipes envolvidas. Os participantes indicaram que houve um fortalecimento do espírito de equipe e de suas características intra- empreendedoras após a realização dos cursos. Os trabalhos efetuados pelo grupo de pesquisadores possibilitaram o desenvolvimento das competências de serviço descritas por Zarifian (2001) voltadas para resultado, advindas da prática de análise da utilidade e da viabilidade econômica dos projetos de pesquisa no qual vêm trabalhando nos últimos anos. Esta mudança de visão possibilitada pelos treinamentos realizados transformou o olhar do pesquisador, voltado para a ciência, em um olhar empreendedor. A interação entre os pesquisadores e analistas da Embrapa Informática Agropecuária e os técnicos do Instituto de Inovação possibilitou um rico intercâmbio de competências, disciplinas e percepções levando o universo empresarial para dentro do cenário de pesquisa e desenvolvimento. A experiência desenvolvida neste projeto evidencia a necessidade de desenvolvimento do comportamento empreendedor dos pesquisadores uma vez que este é o ponto de partida para a potencialização da geração de novas oportunidades de negócio a partir das tecnologias de instituições de pesquisa. A dedicação e envolvimento do pesquisador é uma questão crítica para a elaboração de um estudo de viabilidade de tecnologias de caráter altamente tecnológico . O capital humano é um dos principais valores que as instituições devem agregar em projetos de incubação de empresas, sendo essencial a interação entre os pesquisadores e as práticas de mercado, balizando a realidade das empresas a serem incubadas. 6. Referências Bibliográficas BARIANI, I.C.D. Estilos cognitivos de universitários e iniciação científica. 1998. 146f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000. BELL, C. R. Mentor e Aprendiz. São Paulo, Makron Books, 2005. 214p. 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