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Resolução prova 1 vitorino

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1) A partir das vertentes interpretativas acerca das origens do desenvolvimento industrial brasileiro, analise a relação café-indústria no decorrer do período 1850-1929.
No período analisado, a economia brasileira se mostrava com um caráter exportador de matérias-primas e importador de produtos industrializados.
A teoria dos choques adversos afirma que um choque adverso (guerra, crise de exportação, crise financeira, queda da oferta externa etc) afeta o setor externo da economia (com redução do valor das exportações). Tal economia, dependente da importação de produtos industrializados, aumenta os preços e/ou dificulta a importação. Em consequência, a demanda interna desloca-se para atividades substitutas da importação, uma vez que a rentabilidade se torna maior, passando a produzir internamente (ou mesmo utilizando melhor a capacidade já instalada). Isso pressupõe uma substituição da variável exógena demanda externa como determinante da renda para a variável endógena investimento. O desenvolvimento dependia do desempenho da economia agroexportadora, logo, a crise do setor externo é considerada um ponto de inflexão no desenvolvimento industrial, pois o papel do setor externo acaba perdendo importância na determinação da renda do país.
A ótica da industrialização liderada pelas exportações afirma haver uma relação direta entre o desempenho do setor exportador e o desenvolvimento do setor industrial. O primeiro abria meios para a importação de recursos e de insumos à indústria e à infraestrutura, promovendo o avanço desses setores e, consequentemente, o crescimento da renda interna. Além disso, o aumento da massa salarial faz com que haja expansão do mercado consumidor.
Já a ótica do capitalismo tardio sugere que o desenvolvimento da américa latina é um desenvolvimento capitalista com caráter de dependência, determinado por fatores internos e externos. Ela interpreta o crescimento industrial como resultado da acumulação prévia de capital no setor agroexportador (exportação de café).
Então, é possível concluir que essas três óticas analisam o processo de industrialização levando em conta os cenários e eventos econômicos da época, dando bastante importância à atividade cafeeira.
Por sua vez, a ótica da industrialização promovida pelo governo atribui importância à políticas públicas, argumentando que a sobrevalorização da taxa de câmbio favorecia o investimento mas reduzia a proteção da indústria interna, e que períodos de depreciação do câmbio favoreciam o crescimento da produção por meio de melhor utilização da capacidade, mas desestimulava os investimentos, que se tornavam caros. Ou seja, a teoria defende que os ciclos de desenvolvimento da indústria alternam entre períodos de investimento com períodos de produção e são determinados por políticas de câmbio executadas pelo governo. Topik (1987) afirma que a economia era dependente de materiais básicos, por isso os políticos resolveram deixar o país mais autossuficiente nas indústrias básicas.
2) Discorra sobre o Estado brasileiro em desenvolvimento a partir da Revolução de 30, abordando a via analítica das "vias de desenvolvimento".
O processo de desenvolvimento do Estado brasileiro se deu por uma Revolução Burguesa, sob a forma de um Estado capitalista moderno. As transformações sociais presentes nessa revolução podem ser vistas sob três vias de desenvolvimento, e possuíam ideais ligados com o passado (questão agrária), presente (relação entre capitais) e futuro (relação capital-trabalho), mas nenhuma ligada diretamente a um partido político. O estado, então, serve como um intermediador dos interesses e balanceador das forças, ajustando-se (pelo menos teoricamente) para atender o "interesse de toda a Nação". Essas vias devem ser entendidas como possibilidades estruturais de equacionar a revolução burguesa segundo seus interesses, sendo elas desequilibradas, assimétricas e imperfeitamente definidas no tempo.
A primeira delas é a via conservadora, formada pelos ideais conjuntos da burguesia agroexportadora. Essa era contrária à reforma agrária por razões óbvias e tinha interesse em uma industrialização relativamente lenta, centrada em produtos necessários para a sua própria atividade. O seu limite é o de qualquer sociedade agroexportadora.
A segunda via é a via moderada, formada pela burguesia industrial. Tal via era indiferente à reforma agrária, pois via vantagens para si em ambas as alternativas; tinha interesse em uma industrialização moderada, de modo a não perder sua hegemonia com a entrada de capitais estrangeiros. O limite é dado pelo ritmo da própria indústria.
A terceira via é a nacional-popular, formada pela classe operária, na qual se inferem os interesses do proletariado no processo de industrialização. Tinha interesse em consolidar a reforma agrária (acesso à terra e diminuição da mão de obra urbana) e desejava uma industrialização rápida e forte, que elevasse os salários e reduzisse o preço das mercadorias. Para o proletariado, a relação entre capitais requer uma mediação do Estado. O limite dela é dado pela capacidade de financiamento e articulação com capital internacional.
3) Discorra sobre os determinantes da resolução da crise econômica – de produção econômica e de sistema econômico – brasileira do final dos anos 1920.
A Crise de 29 foi menos intensa no país, com temporalidade menor (em 33 já saímos) e alcance restrito e controlado. Nessa perspectiva, foi adotada uma política de defesa do café (promovida pela União) com a compra do estoque, que estava elevado, por um preço bem menor que o de mercado a fim de mantê-lo no mesmo nível e preservar a demanda, o que não conseguiram. Então, houve uma política de centralização do câmbio no Banco Central com depreciação da moeda (melhorando a balança comercial e diminuindo a inflação). Consequentemente, a indústria foi motivada a produzir internamente e se desenvolver. Com isso, não era possível mais importar máquinas e expandir a capacidade produtiva. A solução foi aproveitar da capacidade ociosa existente ou comprar meios de produção já usados no mercado por empresas em falência – a produção industrial dobra e passa a agroexportação já em 30. Em consequência disso, a complexidade industrial se eleva no mercado nacional e o Estado passa a praticar políticas fiscais e monetárias creditícias expansionistas com caráter intervencionista. 
4) Defina/explique/explicite/exemplifique os seguintes termos:
a) Economia escravista, economia assalariada;
Economia escravista: modo de produção que utiliza mão-de-obra escrava; ocorreu no setor cafeeiro brasileiro no século XIX. Economia assalariada: modo de produção que usa mão-de-obra livre que trabalha em troca de uma quantidade nominal de moeda (salário); é característica de qualquer sistema de produção ou economia que não utiliza escravos.
b) Economia agroexportadora, economia industrial;
Economia agroexportadora: economia voltada para a exportação de commodities/produtos básicos; a economia cafeeira no Brasil (1850 a 1929) é um exemplo.
Economia industrial: economia voltada para a produção e exportação de bens processados e bens de capital. A economia inglesa durante a primeira revolução industrial é um exemplo desse modelo.
c) Capital cafeeiro, capital industrial;
Capital cafeeiro: capital investido na produção e exportação do café, dominante no Brasil em meados do século XIX. Capital industrial: capital investido na produção de bens de capital e de bens processados, no Brasil, essa forma de capital é resultante de "transbordamentos" do lucro do setor cafeeiro.
d) Demanda interna, demanda externa;
Demanda interna: montante de bens e serviços que a população do país deseja e pode comprar. Demanda externa: montante de bens e serviços que a população do resto do mundo deseja e pode adquirir.
e) Decisões de produção, decisões de investimento.
As decisões de produção no Brasil foram, no início do século XX, fruto da depreciação da moeda onde, segundo a ótica da industrialização promovida pelo governo, isso desestimula investimentose a importação de bens, incentivando a produção. Já as decisões de investimento ocorriam durante as fases apreciadas da moeda, pois incentivava a entrada de novos bens de capital, mas ao mesmo tempo deixava a indústria interna mais desprotegida.

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