Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 1 www.especificasconcursos.com.br Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 2 www.especificasconcursos.com.br Olá, prezados colegas! Gostaria de desejar boas vindas e afirmar com toda certeza que a equipe da Específicas Concursos preparou um material diferenciado, de qualidade, focado e com muitos exercícios. Todos sabemos que o caminho para o sucesso é árduo, porém, todo o esforço e dedicação valem muito a pena. Contem comigo para auxiliá-los na trilha do caminho de seu sucesso: Ser Analista Jurídico de Defensoria Pública – Especialidade– Assistente Social, no DPE-AM. Nosso objetivo é garantir que você possa gabaritar sua prova. Para isso, os estudantes matriculados no curso terão acesso ao seguinte conteúdo: 1. Material em PDF. 2. Questões comentadas de várias bancas de concursos. O foco é abarcar as questões anteriores das últimas provas da disciplina de todo o país. 3. Figuras para facilitar a memorização dos principais tópicos da disciplina entre outros. Apresentação Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 3 www.especificasconcursos.com.br Aula 00 (Disponível) Aula demonstrativa, questão Social; Aula 01 (31/10/2017) Planejamento e gestão social: análise institucional, formulação de propostas, alternativas metodológicas, instrumentos e técnicas de elaboração, monitoramento e avaliação de políticas, planos, programas e projetos sociais; Aula 02 (03/11/2017) A dimensão investigativa da profissão, processos de planejamento e de intervenção profissional; Formulação de projeto de intervenção profissional: aspectos teóricos e metodológicos; Fundamentos, instrumentos e técnicas de pesquisa social; O trabalho do/a assistente social no sócio-jurídico, e a atuação na equipe multidisciplinar. Aula 03 (07/11/2017) A dimensão investigativa da profissão, processos de planejamento e de intervenção profissional; Formulação de projeto de intervenção profissional: aspectos teóricos e metodológicos; Fundamentos, instrumentos e técnicas de pesquisa social; Aula 04 (12/11/2017) Aula 00 – Questão Social Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 4 www.especificasconcursos.com.br Fundamentos históricos, teóricos, metodológicos e éticos do Serviço Social; Serviço Social e Formação Profissional; Serviço Social na contemporaneidade; Análise crítica das influências teórico- metodológicas e as formas de intervenção construídas pela profissão em seus distintos contextos históricos; Aula 05 (18/11/2017) Instrumentalidade profissional do/a assistente social; Elementos constitutivos da inserção da profissão no mundo do trabalho e dimensões da competência profissional - ético-política, teórico- metodológica, técnico-operativa e crítico-investigativa; Aula 06 (23/11/2017) Ética profissional e as Legislações que pautam a profissão (Lei de Regulamentação da Profissão, Código de Ética Profissional do/a Assistente Social e Resoluções do conjunto CFESS-CRESS); Aula 07 (30/11/2017) A atuação do/a assistente social nas diversas políticas sociais e espaços sócioocupacionais, as condições, relações de trabalho e as atribuições profissionais; O trabalho do/a assistente social no sócio-jurídico, e a atuação na equipe multidisciplinar. Aula 08 (03/12/2017) A dimensão técnico-operativa do serviço social: concepções sobre instrumentos e técnicas; Entrevista; Visita Domiciliar; Visita Institucional; Trabalho em Rede; Ação Socioeducativa com Indivíduos, Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 5 www.especificasconcursos.com.br Família e Grupos; Abordagens individual e coletiva; Estudo Social; Perícia Social; Relatório Social; Laudo Social; Parecer Social; Condições e relações de trabalho nos vários espaços sócio-ocupacionais e suas atribuições contemporâneas; Serviço Social e interdisciplinaridade;. Análise de Conjuntura; Relação Estado/Sociedade; Aula 09- Parte 1 (10/12/2017) Política social: fundamentos e história; Seguridade Social brasileira: Saúde, Previdência e Assistência Social (organização, gestão, financiamento, controle social e legislações específicas e complementos; Serviço Social e Assistência Social: trajetória, história e debate contemporâneo; Serviço Social e Saúde: trajetória, história e debate contemporâneo; Serviço Social e Previdência Social: história e debate contemporâneo; Aula 10- Parte 2 (15/12/2017) Política social: fundamentos e história; Seguridade Social brasileira: Saúde, Previdência e Assistência Social (organização, gestão, financiamento, controle social e legislações específicas e complementos; Serviço Social e Assistência Social: trajetória, história e debate contemporâneo; Serviço Social e Saúde: trajetória, história e debate contemporâneo; Serviço Social e Previdência Social: história e debate contemporâneo; Aula 11- Parte 2 (20/12/2017) Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 6 www.especificasconcursos.com.br Política social: fundamentos e história; Seguridade Social brasileira: Saúde, Previdência e Assistência Social (organização, gestão, financiamento, controle social e legislações específicas e complementos; Serviço Social e Assistência Social: trajetória, história e debate contemporâneo; Serviço Social e Saúde: trajetória, história e debate contemporâneo; Serviço Social e Previdência Social: história e debate contemporâneo; Aula 12 (23/12/2017) Serviço Social no campo do trabalho e da saúde do trabalhador: Segurança no Trabalho e Saúde Ocupacional, Absenteísmo, Qualidade de vida no trabalho; Serviço Social e recursos humanos; Assessoria e consultoria em serviço social. Aula 13 (27/12/2017) Neoliberalismo, transformações no mundo do trabalho e mudanças nas organizações; Terceiro Setor; Movimentos sociais; Pobreza; Desigualdade e exclusão social Aula 14 (30/12/2017) Concepções e modalidades de famílias, estratégias de atendimento e acompanhamento; Intervenção junto às famílias em suas diversas dimensões: conceitos, historicidade, configurações contemporâneas, violência doméstica. Aula 15 (06/01/2018) Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 7 www.especificasconcursos.com.br Políticas, diretrizes, ações e desafios na área da família, da criança e do adolescente; Resolução de conflitos: mediação e conciliação. 1.1- Conceito 07 1.2- Surgimento 11 1.3- Capitalismo no século XX: aspectos da Questão Social 16 1.4- Questãosocial se configura a partir de determinantes históricos 22 1.5- Histórico das Políticas de enfrentamento da questão social 33 1.6-. Questão social 37 1.7- Questão Social e Serviço social 54 1.8. Questões com comentários 67 1.1- Conceito É no contexto da sociedade capitalista que entra em cena a Questão Social'. E o Serviço Social, como resposta às suas manifestações, terá junto à Questão Social uma relação inerente, indissociável. 1. Questão Social Sumário Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 8 www.especificasconcursos.com.br Questão social pode ser apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que têm uma raiz comum: a produção social é cada vez mais colectiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos se mantém privada, monopolizada por uma parte da sociedade. A banca, FCC-2012- TJ-RJ: Analista Judiciário - Assistência Social (adaptada), considerou certo o seguinte enunciado: Uma estrutura social de extrema desigualdade e injustiça, nos países latino-americanos, resultam dos modos de produção e reprodução social por meio de relações sociais assimétricas e concentração de poder e riqueza. Este conceito pode ser entendido como questão social. Comentário: Segundo Iamamoto (1999, p. 27), a Questão Social pode ser definida como: O conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que têm uma raiz comum: a produção social é cada vez mais colectiva, o trabalho torna-se mais amplamente Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 9 www.especificasconcursos.com.br social, enquanto a apropriação dos seus frutos se mantém privada, monopolizada por uma parte da sociedade. Assim, a ausência de inclusão na América Latina passa a ser analisada não como falta de capacidade dos Estados locais de inserirem-se ao modelo econômico hegemônico ou a falta de integração dos setores da sociedade, mas como fenômeno decorrente do sistema capitalista dependente. A banca FESMIP-BA-2011- MPE-BA: Analista - Serviço Social, considerou como certa a alternativa C. O Serviço Social se gesta e se desenvolve como profissão tendo por pano de fundo o desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana. Com relação ao processo histórico do Serviço Social e sua estreita relação com a questão social, é verdadeiro o que se afirma em a) A principal corrente que influenciou o Movimento de Reconceituação do Serviço Social no Brasil foi a teoria sistêmica. b) A reatualização do conservadorismo foi fortemente influenciada por autores e conhecimentos oriundos do estruturalismo e do funcionalismo. c) A questão social não é senão o conjunto das expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade. d) A perspectiva teórica e metodológica funcionalista garante a compreensão das expressões da questão social na contemporaneidade. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 10 www.especificasconcursos.com.br e) A perspectiva teórica que influenciou o Serviço Social foi a teoria social critica nas décadas de 50 e de 60. Comentário: A questão social tem sua gênese na relação capital X trabalho, na qual os meios de produção se tornaram privados e aqueles que os detêm, a minoria, explora aqueles que possuem somente sua força de trabalho para vender: a classe trabalhadora. Deste modo, a questão social é o conjunto de expressões que surgem dessa apropriação privada dos meios de produção bem como da riqueza socialmente produzida visto a divisão da sociedade em classes sociais e a não equidade na divisão dessa riqueza. A classe trabalhadora, ao perceber a exploração que sofre pela outra classe que é minoria e que usurpou os meios de produção, como o acesso a terra por exemplo, adquire consciência de classe a passa de classe em si para classe para si. Nesse processo, a classe trabalhadora já organizada publiciza esse modo de produção, suas mazelas e exploração, extrapolando a questão social do âmbito privado para o público. Dessa forma, o Estado e a classe dominante temendo uma revolução da classe dominada que compreende a forma de exploração a qual está submetida, passa a intervir nas suas expressões. Assim, através das políticas sociais as expressões da questão social passam a ser respondidas. Como exemplo de expressões da questão social podemos citar o desemprego estrutura, a fome, a miséria, a precarização do trabalho, discriminações de gênero, de etnia, e outras. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 11 www.especificasconcursos.com.br 1.2- Surgimento Resultante da divisão da sociedade em classes e da disputa pela riqueza socialmente gerada, cuja apropriação é extremamente desigual no capitalismo. Supõe, desse modo, a consciência da desigualdade e a resistência à opressão por parte dos que vivem de seu trabalho. A expressão “questão social” surgiu na Europa Ocidental, na terceira metade do século XIX, para designar o fenômeno do pauperismo. Netto (2001) afirma que, pela primeira vez, a pobreza crescia na proporção em que aumentava a capacidade produtiva do capitalismo. Os pobres passavam a protestar e a se constituir como uma real ameaça às instituições sociais existentes. 2015-CESPE- MPOG: Assistente Social. considerou errado o seguinte enunciado: O tratamento da questão social sob a noção de pobreza é reconhecido desde o fim da segunda guerra mundial, a partir da crescente presença dos organismos internacionais. Comentário: onforme Netto (Capitalismo Monopolista e Serviço Social. 5ª edição. São Paulo, Cortez, 2006), a expressão questão social data do século XIX e está ligada ao pauperismo da Europa Ocidental e seu processo de industrialização. O fenômeno de pauperização massiva da Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 12 www.especificasconcursos.com.br classe trabalhadora era completamente novo e consequência direta da industrialização iniciada na Inglaterra no século XVIII. A pobreza, por si só, não era inédita. O que possuía caráter de novidade é o fato de se ter a possibilidade de produção de riqueza e mesmo assim a pobreza aumentar. Diante disso, a classe trabalhadora ao começar a se organizar e compreender o processo de acumulação que estava se instalando, extrapola a questão social para a esfera pública. Aquele novo contexto de emergência de lutas sociais poderia vir a colocar em xeque o sistema capitalista que buscava progredir caso não houvesse interferência. A questão social e sua publicização nos marcos do capitalismo dos monopólios poderia vir a ser um entrave para a expansão daquela ordem. Portanto, a questão social apresenta-se como corolário e tem sua origem no capitalismo devido a apropriação privada pelos donos dos meios de produção da riqueza produzida peloconjunto dos trabalhadores. Por isso, ela está também vinculada ao trabalho livre e assalariado, sendo que o trabalhador possuirá somente sua força de trabalho para vender como meio de subsistência. Sendo assim, a questão social vai muito além da noção de pobreza. Ela compreende desde as desigualdades até as lutas sociais que têm suas produções e reproduções na contraditória sociedade capitalista. A questão social não é suprimível dentro do sistema capitalista, podendo ser até controlada, mas será produzida e apresentará diversas expressões (fome, pobreza, desemprego, degradação do meio ambiente, população em situação de rua, Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 13 www.especificasconcursos.com.br desigualdade social, violência, aumento da população carcerária, etc.) em cada estágio de desenvolvimento desse sistema. Questão social é produto e expressão da contradição entre capital e trabalho. Tome nota! Nesse período, a pobreza passou a se constituir como um problema. Pela primeira vez, a naturalização da miséria foi politicamente contestada (Pereira, 2004) e o processo de urbanização, somado com a industrialização, culminou na combinação dos seguintes determinantes indissociáveis: (a) o empobrecimento agudo da classe trabalhadora; (b) a consciência desta classe de sua condição de exploração e (c) a luta desencadeada por esta classe contra os seus opressores a partir dessa consciência. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 14 www.especificasconcursos.com.br Podemos, assim, vincular o surgimento da questão social com o surgimento da classe trabalhadora e identificá-la no momento em que a contradição fundamental do capitalismo, como modo de produção social, se desenvolve e se revela, ou seja, quando se evidencia que, no capitalismo, quem produz a riqueza não a possui e ainda, que não há espaço para todos no mercado. Nesses termos, “a sociedade capitalista é nada mais, nada menos que o terreno da reprodução contínua e ampliada da questão social” (Mota, 2000, p. 1). Cabe destacar que a questão social só toma características de “problema” e passa a ser enfrentada pela sociedade burguesa (principalmente através de políticas sociais) porque é publicizada, denunciada pela classe trabalhadora, ou seja, porque retrata uma resistência por parte desta classe. “Ao mesmo tempo em que a questão social é desigualdade, é também rebeldia, pois envolve sujeitos que vivenciam estas desigualdades e a ela resistem e se opõem” (Iamamoto, 1999, p. 28). Devido a estas características de resistência e rebeldia, Iamamoto afirma ser necessário, também, para apreender a questão social, captar as múltiplas formas de pressão social, de invenção e de re-invenção da vida, construídas no cotidiano. É também com este caráter de Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 15 www.especificasconcursos.com.br desigualdade e resistência que Pastorini (2004) irá tratar a questão social. Para esta autora, é necessário pensar a questão social sem perder de vista a processualidade, ou seja, “analisar a emergência política de uma questão, adentrar nos processos e mecanismos que permitem que essa problemática tome força pública, que se insira na cena política” (Pastorini, 2004, p. 98). Portanto, não se pode perder de vista na análise um outro elemento: os sujeitos envolvidos nesse processo, “aqueles que colocam a questão na cena política”. Não considerar esses sujeitos é tratar a questão social de forma “des-historicizada, des-economizada e des-politizada ” (Pastorini, 2004, p. 99). A banca, FCC (2015)- DPE-MT: Assistente Social, considerou certo o seguinte enunciado: Um elemento fundamental a todo projeto é a sua fundamentação teórica. Dessa forma, quando o pressuposto teórico é alimentado por uma visão de mundo dialético-crítica, ele se baseia na compreensão das refrações da “questão social” como intrínseco ao modo de produção capitalista. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 16 www.especificasconcursos.com.br A banca, CEPERJ (2014)- VIVA COMUNIDADE-VIVA RIO: Assistente Social, considerou certo o seguinte enunciado: Sobre o debate da Questão Social, Netto (2001) nos oferece elementos essenciais para compreender a gênese de utilização desta expressão e sua relação com fenômenos objetivos presentes na realidade social. O autor informa que a expressão “Questão Social” começa a ser utilizada na terceira década do século XIX e surge para dar conta do fenômeno do pauperismo, evidente na Europa Ocidental nesse período. Sendo assim, pode-se compreender, a partir do autor citado, que as expressões da “Questão Social”, estão relacionadas aos aspectos mais imediatos da: instauração do capitalismo em seu estágio industrial concorrencial. 1.3 Capitalismo no século XX: aspectos da Questão Social A Questão Social se fez presente no quadro sócio-econômico onde o Serviço Social inseriu-se, bem como as influências que tangenciaram a profissão. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 17 www.especificasconcursos.com.br Para dar conta desse cenário, necessário se faz reconstituir e compreender, ainda que brevemente o modo de produção capitalista, que traz consigo marcas profundas de antagonismos e contradições. Como bem respalda Martinelli (2005), as origens deste modo de produção podem ser buscadas já no mundo feudal, mas foi na primeira metade do século XIX, mediante impactos da Revolução Industrial, que foram sentidos os efeitos mais profundos no contexto social. O Capitalismo fez de sua expansão um período de grande dominação e confronto principalmente no que tange à relação capital x trabalho, instaurando-se peculiarmente em forma de sociedade de classes pautada principalmente na compra e venda da força de trabalho. A sociedade de classes trouxe um modo de relação social pautado na posse privada de bens, gerando um mundo de cisão, de quebra, de exploração da maioria pela minoria, onde a luta de classes é senão, a luta pela vida. O Capitalismo mostrou a dura realidade vivida no século XX, mesmo diante da promessa de progresso econômico e financeiro feitas ainda no século XIX. Primeiramente porque seu desenvolvimento se fez às custas da exploração da classe trabalhadora e então a medida em que a riqueza concentrava-se junto a uma minoria dos donos de capital, crescia uma imensa massa de trabalhadores a viverem em miséria generalizada. Além Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 18 www.especificasconcursos.com.br disto, este século foi abalado pela Grande Depressão' que atingiu toda a Europa e seus efeitos pulverizaram-se em todos os países. Esta dinâmica histórica apresentadapelo capitalismo não vem a ser puramente um acúmulo de choques de classes, como salienta Chesnais (2003), que destaca inclusive, que uma análise mais profunda irá demonstrar que o Capitalismo imprime à sociedade um combate histórico, cuja importância é inquestionável pois remete à dialética das relações de produção e ao papel motor da luta de classes. Ou seja, o Capitalismo marcou profundamente a sociedade ao fazer a cisão das classes, pois alterou as relações sociais. lamamoto e Carvalho (2001) explicam que o processo capitalista é uma construção histórica em que os homens produzem e reproduzem as condições materiais da existência humana e também as relações sociais. Capital e trabalho são extremos diferentes dentro de uma mesma unidade, um expressa- se no outro, e/ou nega-se no outro, numa relação dependente. O capital entende o trabalho enquanto parte inerente a si, pois o trabalhador entrega diariamente ao capitalista o valor de uso de sua força de trabalho, formando um ciclo sem meio e sem fim. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 19 www.especificasconcursos.com.br Assim, o modo de produção capitalista anunciou uma forma peculiar no que diz respeito às relações sociais dos homens, quando promoveu a divisão das classes, formadas pelos que detinham os meios de produção e por aqueles que nada mais possuíam além da própria força de trabalho, ou seja, "ser capitalista significa ocupar não somente uma posição pessoal, mas também uma posição social na produção. "O capital não é, portanto, um poder pessoal: é um poder social" (MARX; ENGELS, 2005, p. 33). No mesmo sentido, Martinelli (2005) afirma que o elemento central de análise deste modo de produção não é o caráter comercial nem seu empreendedorismo e sim as relações sociais que dele emanam e resultam na separação do capital e do trabalho. As relações entre os homens são relações de classes. Marx (2001), cuja literatura pioneira permitiu interpretar e descrever este modo de produção, traz que a ação interativa entre os homens obviamente gerou progresso econômico, social e cultural, mas trouxe também a alienação, a dominação do homem sobre seu semelhante e as desigualdades sociais que são cruciais em sociedades em processo de industrialização. Marx criticou a ideologia da sociedade capitalista, que sujeita demasiadamente o trabalho ao capital, assim como traz a alienação e a exploração dos trabalhadores. O Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 20 www.especificasconcursos.com.br processo de acumulação do capital dá-se e intensifica-se com a apropriação da mais valia pelos proprietários dos meios de produção e assim, a concentração de bens de produção em mãos de poucos, em detrimento daqueles que só possuíam sua força de trabalho, culminou no agravamento dos problemas sociais da classe trabalhadora. Destaque também à Marx e Engels (2005) que propuseram-se a demonstrar ao operariado como o Capitalismo veio a desvirtuar a vida e as relações sociais da humanidade na sua busca incessante por satisfazer as exigências do capital. Gradativamente, a classe trabalhadora foi percebendo esta exploração e também, foram crescendo os problemas sociais advindos da acumulação capitalista o que levou os trabalhadores a organizarem-se em categorias. O avanço capitalista torna a distribuição de renda cada vez mais desigual, crescendo a distância entre as classes e gerando profundas desigualdades sociais ao mesmo tempo em que a evolução tecnológica gera o progresso e enriquecimento de uma pequena parcela do país. A hegemonia de classes configura um espaço de atuação do Estado que, nas palavras de Oliveira (1996, p. 18), é o tutor do bem comum. Seu papel não é somente o de regulador, ou o árbitro neutro do bem - estar, mas de agente básico na definição e na manutenção da ordem social. Assim sendo, é inevitável que o Estado configure uma relação social permeada Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 21 www.especificasconcursos.com.br de conflitos, já que é o espaço onde os interesses das classes hegemônicas confrontam-se. Assim, o Estado capitalista é "hegemonia e dominação", conforme Faleiros (1982 apud OLIVEIRA, 1996, p. 18). O Estado, através das políticas sociais, buscará instituir meios que compensem as desigualdades geradas pelo Capitalismo, intervindo deste modo na chamada Questão Social. A Banca (2015) – FGV - DPE-MT: Assistente Social. considerou certo o seguinte enunciado: Um elemento fundamental a todo projeto é a sua fundamentação teórica. Dessa forma, quando o pressuposto teórico é alimentado por uma visão de mundo dialético-crítica, ele se baseia na compreensão das refrações da “questão social” como intrínseco ao modo de produção capitalista. A Banca (2014) - CEPERJ: VIVA COMUNIDADE-VIVA RIO: Assistente Social. considerou certo o seguinte enunciado: Sobre o debate da Questão Social, Netto (2001) nos oferece elementos essenciais para compreender a gênese de utilização desta expressão e sua relação com fenômenos objetivos presentes na realidade social. O autor informa que a expressão “Questão Social” começa a ser utilizada na terceira década do século XIX e surge para dar conta do fenômeno do pauperismo, evidente na Europa Ocidental nesse período. Sendo Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 22 www.especificasconcursos.com.br assim, pode-se compreender, a partir do autor citado, que as expressões da “Questão Social”, estão relacionadas aos aspectos mais imediatos da: instauração do capitalismo em seu estágio industrial concorrencial. 1.4 Questão social se configura a partir de determinantes históricos Vejamos algumas questões objetivas e subjetivas que contribuirão para o surgimento da questão social: Questões objetivas para o surgimento da questão social: ➢ Surgimento de novos problemas vinculados às modernas condições de trabalho urbano; ➢ Aparecimento da burguesia e proletariado; Q u e st ão s o ci al s e co n fi gu ra a p ar ti r d e d et er m in an te s h is tó ri co s Objetivas Subjetivas Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 23 www.especificasconcursos.com.br ➢ Introdução de uma nova forma de exploração, diferente da escravista e feudal, escondida na produção ( liberdade); ➢ Pauperização crescente da classe trabalhadora Questões subjetivas para o surgimento da questão social: ➢ Consciência da classe trabalhadora de sua situação de exploração, permitindo que passasse de uma “classe em si “ a uma classe “para si “, impondo os seus interesses; ➢ Organização dos trabalhadores para encontrar respostas às suas necessidades sociais; ➢ Inclusão das demandas dos trabalhadores no discurso dos políticos, classe dominante, como uma questão que ameaçava a coesão social.➢ Reconhecimento que o pauperismo era um fato histórico, produzido e reproduzido socialmente, passível de enfrentamento e superação. ➢ Pressão dos trabalhadores para uma regulação baseada na cidadania. A banca, CESPE-2015- STJ: Analista Judiciário - Serviço Social, considerou errado o seguinte enunciado: A questão social se configura Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 24 www.especificasconcursos.com.br a partir de determinantes históricos objetivos, sem interferência de dimensões subjetivas. 1.5 Histórico das Políticas de enfrentamento da questão social Segundo Iamamoto para o efetivo enfrentamento da questão social é necessário apreendê-la como o conjunto das expressões das desigualdades produzidas pela sociedade capitalista como resultado da contradição entre capital e trabalho. Capitalismo monopolista No capitalismo monopolista com a formação do operariado urbano- industrial e a consolidação do movimento operário, visando alcançar legitimação junto às classes operárias e percebendo o perigo iminente da questão social, o Estado burguês passa a responder às sequelas da questão social através de políticas sociais, incorporando demandas advindas dos trabalhadores e adquirindo consenso junto à eles. Tais políticas atendiam diretamente às requisições do capitalismo monopolista, o qual necessitava de preservar e ao mesmo tempo controlar a força de trabalho. Em alguns casos o Estado se antecipava nas respostas a algumas demandas para evitar futuros embates e conflitos de classe, o que gerava, inclusive, certo reconhecimento de representação perante as classes subalternas. Observa-se, deste modo, o peso de tais políticas para o desenvolvimento e consolidação Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 25 www.especificasconcursos.com.br do capital monopolista. É fato também que a análise das políticas sociais deve reconhecer que esta é uma via de mão dupla, ao passo que tais políticas são funcionais e necessárias para o estabelecimento da ordem no capitalismo e, de certo modo, compatíveis com esse sistema, mas elas são também fruto das lutas e reivindicações históricas dos trabalhadores. Portanto, no capitalismo monopolista o Estado deixa de intervir somente coercitiva e repressivamente nas expressões da questão social, passando a realizar também uma intervenção sistemática por meio das políticas sociais. Apesar de assumir o caráter público da questão social, o Estado ao executar aquelas políticas faz de forma fragmentada, atingindo somente suas refrações e reforçando a natureza privada da questão social. Capitalismo concorrencial A expressão "questão social" começa a ser empregada maciçamente a partir da separação positivista, no pensamento conservador, entre o econômico e o social, dissociando as questões tipicamente econômicas das "questões sociais" (cf. Netto, 2001, p. 42). Assim, o "social" pode ser visto como "fato social", como algo natural, a-histórico, desarticulado dos fundamentos econômicos e políticos da sociedade, portanto, dos interesses e conflitos sociais. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 26 www.especificasconcursos.com.br Assim, se o problema social (a "questão social") não tem fundamento estrutural, sua solução também não passaria pela transformação do sistema. Tome nota! Começa-se a se pensar então a "questão social", a miséria, a pobreza, e todas as manifestações delas, não como resultado da exploração econômica, mas como fenômenos autônomos e de responsabilidade individual ou coletiva dos setores por elas atingidos. A "questão social", portanto, passa a ser concebida como "questões" isoladas, e ainda como fenômenos naturais ou produzidos pelo comportamento dos sujeitos que os padecem. A partir de tal pensamento, as causas da miséria e da pobreza estariam vinculadas (nessa perspectiva) a pelo menos três tipos de fatores, sempre vincula-dos ao indivíduo que padece tal situação. Primeiramente a pobreza no pensamento burguês estaria vinculado a um déficit educativo (falta de conhecimento das leis "naturais" do mercado e de como agir dentro dele). Em segundo lugar, a pobreza é visto como um problema de planejamento (incapacidade de planejamento orçamentário familiar). Por fim, esse flagelo é visto Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 27 www.especificasconcursos.com.br como problemas de ordem moral-comportamental (mal-gasto de recursos, tendência ao ócio, alcoolismo, vadiagem etc.). Surgem com isso as bases para o desenvolvimento de concepções, como a da "cultura da pobreza", onde a pobreza e as condições de vida do pobre são tidas como produto e responsabilidade do limites culturais de cada indivíduo. Com esta concepção de pobreza (típica da Europa nos séculos XVI a XIX), o tratamento e o enfrentamento da mesma desenvolve-se fundamentalmente a partir da organização de ações filantrópicas. Tome nota! Mais tarde, por volta dos anos 30 do século XIX, a pobreza deixa de ser tratada com ações filantrópicas/assistencialistas e passa a ser reprimida e castigada (como sendo uma questão delitiva ou criminal dos pobres). A beneficência e os abrigos passam a ser substituídos pela repressão e reclusão dos pobres. A ideológica expressão de "marginal" começa a adquirir uma conotação de "criminalidade". O pobre, aqui identificado com "marginal", passa a ser visto como ameaça à ordem. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 28 www.especificasconcursos.com.br A República Velha (1889 a 1930) no Brasil e a questão social. Durante a República Velha, a “questão social” era efetivamente tratada como um caso de polícia. Os governos oligárquicos não toleravam as reivindicações, protestos e greves dos trabalhadores, por isso usavam a violência militar do Estado para reprimi-los. Os sindicatos e os jornais operários eram fechados pela polícia, as greves eram enfrentadas a bala e os líderes eram presos, e, caso fossem imigrantes, expatriados, pois eram encarados como cidadãos “indesejáveis”. Portanto, pode-se concluir que o Estado republicano, liberal e oligárquico, quando deixava no mais completo desamparo o proletariado, assumia uma clara defesa dos interesses patronais. Por esse motivo, os assalariados urbanos olharam esperançosos o movimento militar de 1930, que derrubou a Primeira República e instalou a Era Getulista. Capitalismo monopolista No capitalismo monopolista com a formação do operariado urbano- industrial e a consolidação do movimento operário, visando alcançar legitimação junto às classes operárias e percebendo o perigo iminente da questão social, o Estado burguês passa a responder às sequelas da questão social através de políticas sociais, incorporando demandas advindas dos trabalhadores e adquirindo consenso junto à eles. Tais Conhecimentos EspecíficosServiço Social Aula 00 29 www.especificasconcursos.com.br políticas atendiam diretamente às requisições do capitalismo monopolista, o qual necessitava de preservar e ao mesmo tempo controlar a força de trabalho. Em alguns casos o Estado se antecipava nas respostas a algumas demandas para evitar futuros embates e conflitos de classe, o que gerava, inclusive, certo reconhecimento de representação perante as classes subalternas. Observa-se, deste modo, o peso de tais políticas para o desenvolvimento e consolidação do capital monopolista. É fato também que a análise das políticas sociais deve reconhecer que esta é uma via de mão dupla, ao passo que tais políticas são funcionais e necessárias para o estabelecimento da ordem no capitalismo e, de certo modo, compatíveis com esse sistema, mas elas são também fruto das lutas e reivindicações históricas dos trabalhadores. Portanto, no capitalismo monopolista o Estado deixa de intervir somente coercitiva e repressivamente nas expressões da questão social, passando a realizar também uma intervenção sistemática por meio das políticas sociais. Tome nota! Apesar de assumir o caráter público da questão social, o Estado ao executar aquelas políticas faz de forma Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 30 www.especificasconcursos.com.br fragmentada, atingindo somente suas refrações e reforçando a natureza privada da questão social. Assim, é na passagem no capitalismo concorrencial para o monopolista que surgem as condições históricas para a constituição do Serviço Social. Isso se deve ao fato de que o Estado no capitalismo monopolista passa a assumir novas funções para além da repressão da classe trabalhadora, tornando-se responsável também pela reprodução social desta classe. Nesse novo contexto passa a ser necessária a intervenção, por meio de políticas sociais executadas por profissionais especializados, para responder as expressões da questão social. Vale lembrar que a questão social, que já se apresentava de forma acentuada, passa a ser reconhecida pelo Estado após a entrada no cenário político da classe trabalhadora, o que poderia colocar em xeque o desenvolvimento capitalista. Desse modo, tornou-se necessário que o Estado respondesse as reivindicações dessa classe, de modo a evitar confrontos e minimizar os conflitos, preservando a classe dominante. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 31 www.especificasconcursos.com.br Assim, o Estado historicamente é o maior empregador de assistentes sociais, abrindo para esses um amplo mercado nacional de trabalho, principalmente, devido a radicalização das expressões da questão social e ampliação das políticas sociais, lócus privilegiado de trabalho dessa categoria. Inicialmente, o assistente social é demandado pelo Estado para executar tais política, sendo caracterizado como um executor terminal de políticas sociais. A banca, CESGRANRIO-2014- CEFET: Serviço Social, considerou a alternativa c como certa. Acerca do processo histórico de emergência do serviço social como profissão inscrita na divisão sociotécnica do trabalho, considere as afirmativas abaixo. I - A constituição da profissão decorreu da racionalização e da profissionalização da filantropia e da assistência. II - Foi somente no trânsito do capitalismo concorrencial para o monopolista que se gestaram as condições históricas para a profissão. III - A legitimidade profissional decorreu do espaço sócio-ocupacional garantido pelo Estado burguês no enfrentamento da questão social. IV - A profissão foi demandada, em sua emergência, para ações de formulação e execução de políticas sociais. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 32 www.especificasconcursos.com.br Está correto APENAS o que se afirma em a) I e II b) I e III c) II e III d) I, III e IV e) II, III e IV Cenário do neoliberalismo Após a década de 1970, com a crise do capital, e no Brasil após os anos de 1990, os países capitalistas adotaram a agenda de cunho neoliberal, a qual buscou implementar políticas regressistas que buscaram destituir os trabalhadores de direitos historicamente conquistados. A partir de então, o que se tem é a minimização e eliminação de diversos direitos sociais, o desmonte das políticas de seguridade social, a minimização da atuação estatal no que concerne as políticas sociais e a privatização da coisa pública. Além disso, aquelas áreas consideradas lucrativas pelo capital e, falaciosamente, apontadas como onerosas quando oferecidas pelo Estado, como a educação, a saúde e a previdência, vem sendo ofertadas por meio do mercado, o qual as oferecem com melhor qualidade e buscam "satanizar" tudo aquilo que é estatal. Desse modo, Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 33 www.especificasconcursos.com.br o que ocorre é que terão educação e saúde de melhor qualidade aqueles que podem pagar por elas. Nesse sentido, o que se tem na atualidade para enfrentamento das sequelas da questão social são políticas sociais destinadas a pessoas em situação de extrema pobreza e, por isso, seletivas e basicamente de combate a fome e a pobreza. Além disso, tem ocorrido que o Estado tem ofertado, de forma mínima, políticas de transferência de renda que possuem alcance mínimo, pois possuem critérios seletivos rígidos e excludentes. Essa políticas, então, muitas vezes não são articuladas com as questões relacionadas ao emprego, a moradia e também não efetuam, de fato, a divisão da riqueza socialmente produzida e efetivam a equidade e justiça social. Assim, no cenário do neoliberalismo, podemos afirmar que o enfrentamento das novas expressões da questão social tem-se dado mediante uma progressiva responsabilização da sociedade civil, via ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS (ONG), INCENTIVO AO VOLUNTARIADO, REFILANTROPIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA, entre outros. Importante lembrar que no neoliberalismo ocorre também uma crescente JUDICIALIZAÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL que se Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 34 www.especificasconcursos.com.br configura como a transferência de responsabilização do Poder Executivo para o Poder Judiciário no que diz respeito as formas de enfrentamento das expressões da questão social. A Banca 2014- FGV- TJ-GO: Analista Judiciário, considerou a alternativa E como certa. A introdução de políticas neoliberais em todos os quadrantes do globo terrestre implicou uma ampliação do desemprego e a exponenciação da questão social. Uma das formas de o Estado neoliberal enfrentar a questão social na contemporaneidade tem sido a: a) instituição de novos direitos trabalhistas; b) contratação de interventores sociais;c) centralização das políticas estatais; d) universalização das políticas sociais públicas; e) criminalização dos pobres. Comentário: A reestruturação da produção aliada às políticas de cunho neoliberal na atualidade têm rebatido fortemente sobre a classe trabalhadora, implicando no desemprego estrutural, no retraimento do Estado no que se refere às políticas sociais públicas, na eliminação de direitos historicamente conquistados pelas massas trabalhadoras, no aviltamento das condições de vida e de trabalho e também na Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 35 www.especificasconcursos.com.br degradação do meio ambiente. Deste modo, constata-se a acentuação das sequelas da questão social, como a fome, a miséria absoluta, o retorno de formas retrógradas de trabalho (escravo e infantil), o agravamento da saúde dos trabalhadores devido a intensificação da exploração, o aumento da violência, dentre outras expressões que podem ser citadas. O Estado, seguindo as orientações neoliberais, vem respondendo a tais expressões quando não de forma pontual e focalizada, através de políticas seletivas, basicamente de transferência de renda e de combate à fome e à pobreza, também por meio da intervenção policial, classificando as classes subalternas bem como suas lutas, como caso de polícia. Não é raro episódios em que os movimento sociais, por exemplo, são caracterizados na mídia como atos de vandalismo e de desordem, criminalizando a pobreza e os pobres por tentarem buscar formas de sobrevivência diante desse contexto. A classe trabalhadora é vista como uma classe "perigosa", sendo utilizada pelo Estado no enfrentamento das necessidades dessa classe a política focalizada e a repressão/violência neste contexto de avanço das política neoliberais. A Banca 2015,CESPE- DEPEN- Serviço Social, considerou errado o seguinte enunciado: No que diz respeito à questão social e aos direitos de cidadania, julgue o item que se segue. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 36 www.especificasconcursos.com.br Nas três últimas décadas, o combate da pobreza, tema que se tornou o eixo da questão social, esteve focado na emancipação financeira, política e social das pessoas pobres. Comentário: Nas últimas décadas, pode-se afirmar que o combate à pobreza tem sido realizado por meio de políticas focalizadas, seletivas e paliativas, basicamente de transferência de renda, as quais visam somente a minimização da pobreza e da fome extrema e não têm a pretensão de erradicá-las. Afinal, dentro do modo de produção capitalista as expressões da questão social podem até ser reduzidas mas nunca serão extintas, visto que o capitalismo produz e reproduz incessantemente a questão social. Deve-se ter em mente que a questão social é bem mais abrangente do que as suas expressões, como a pobreza. A questão social é fruto da relação contraditória entre capital X trabalho, a partir da qual a classe que detêm os meios de produção usurpa toda a riqueza socialmente produzida pela outra classe, aquela que possui somente sua força de trabalho para vender. Portanto, o combate a questão social é também a luta contra o capitalismo, a favor da ultrapassagem dessa sociabilidade e a pela construção de uma nova sociedade onde não existam classes sociais e a riqueza produzida seja igualitariamente dividida. Assim, na atualidade o que se percebe são políticas sociais, que não deixam de ser necessárias, mas que são excludentes, já que possuem como público alvo aqueles que se encontram em miséria extrema e as transferências de renda, que têm se tornado Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 37 www.especificasconcursos.com.br a possibilidade maior de uma política social. Desse modo, tais políticas apesar de importantes por amenizarem de algum modo a pobreza extrema, são funcionais ao capitalismo já que não tocam nas bases daquilo que as produz e reproduz e não vão além do alívio da pobreza e da fome, e muito menos visam a emancipação política e social da população. 1.6. Questão Social A questão social tem sido interpretada como produto da desigualdade social e sinônimo de cidadania, conforme afirma Ianni (1991); desagregação e desfiliação (CASTEL, 1997); nova questão social (ROSANVALLON, 1995). A questão social, para além do mundo do trabalho, também envolve as questões de gênero, etnia e minorias sociais, segundo Wanderley (1997); além de poder ser vista como um conjunto de problemas econômicos, políticos, sociais e culturais próprias da sociedade capitalista (CERQUEIRA FILHO, 1982), concepção esta, retomada por Iamamoto (2003) e Paulo Netto (2004). Nesse sentido, abordaremos algumas pontuações dos principais autores mais cobrados pelas bancas examinadoras. José Paulo Netto Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 38 www.especificasconcursos.com.br Segundo Netto (2001), há cinco momentos historicamente importantes para compreender a questão social. Dessa maneira, a primeira delas é que a expressão “questão social” surge para dar conta do pauperismo decorrente dos impactos da primeira onda industrializante, a designação desse pauperismo relacionava-se diretamente aos seus desdobramentos sociopolíticos, pois desde a primeira década até a metade do século XIX seu protesto tomou as mais diversas formas numa perspectiva efetiva de uma eversão da ordem burguesa. A partir da metade desse século, de acordo com a segunda nota do autor, a expressão “questão social” entra para o vocabulário do pensamento conservador, com o caráter de urgência para manutenção e a defesa da ordem burguesa, a questão social perde paulatinamente sua estrutura histórica determinada e é crescentemente naturalizada, tanto pelo pensamento conservador laico como no do confessional, no primeiro as manifestações da questão social eram vistas como características inelimináveis de toda e qualquer ordem social e para amenizá-las e reduzi-las era preciso uma intervenção política limitada, enquanto que para o segundo, a gravitação da questão social só era possível com uma exarcebação da vontade divina. Assim, para ambos, a questão social é objeto de ação moralizadora, o enfrentamento de suas manifestações deve ser função de um programa de reformas que Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 39 www.especificasconcursos.com.br preserve a propriedade privada dos meios de produção. Em contrapartida, com a exploração da revolução de 1848, os ideais da classe trabalhadora passam de classe em si para classe para si, a questão social passa a ser vista como atrelada à sociedade burguesa e a supressão desta conduz a supressão daquela. A terceira nota destaca que foi apenas em 1867 com o livro “O capital”, de Karl Marx, que se produziu uma compreensão teórica acerca do processo de produção do capital, relevando a anatomia da questão social. Para Marx a questão socialseria determinada pelo traço próprio e peculiar da relação capital-trabalho, a exploração, fruto da sociabilidade erguida sob o comando do capital. Na quarta nota Netto expõe que no período do Welfare State (1945- 1970), período dos trinta anos gloriosos, a questão social e suas manifestações pareciam remeterse ao passado, e apenas os marxistas insistiam em assinalar que as melhorias das condições de vida dos trabalhadores não alteravam a essência exploradora do capitalismo. Já a partir da década de 1970, com o esgotamento da onda longa expansiva, o capitalismo mostrou que não havia nenhum compromisso social, e a intelectualidade acadêmica descobriu uma nova questão social. Por fim, na última nota, Netto defende a tese de que não se trata de uma nova questão social uma vez que a emergência de novas expressões da questão social é decorrente da ordem do capitalismo Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 40 www.especificasconcursos.com.br A Banca (2012) - PUC-PR - DPE-PR: Assistente Social, considerou certo o seguinte enunciado: As análises de Netto (1990/1996) compreendem de forma madura a consolidação da vertente de ruptura com o conservadorismo e sua importância para a renovação teórico- cultural da profissão. Segundo o autor, é CORRETO afirmar que: Foram as lutas sociais que transformaram a questão social em uma questão política e pública, transitando do domínio privado das relações entre capital e trabalho para a esfera pública, exigindo a intervenção do Estado no reconhecimento de novos sujeitos sociais. A Banca (2014) – CEPERJ - VIVA COMUNIDADE-VIVA RIO: Assistente Social, considerou certo o seguinte enunciado: Sobre o debate da Questão Social, Netto (2001) nos oferece elementos essenciais para compreender a gênese de utilização desta expressão e sua relação com fenômenos objetivos presentes na realidade social. O autor informa que a expressão “Questão Social” começa a ser utilizada na terceira década do século XIX e surge para dar conta do fenômeno do pauperismo, evidente na Europa Ocidental nesse período. Sendo assim, pode-se compreender, a partir do autor citado, que as expressões da “Questão Social”, estão relacionadas aos aspectos mais Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 41 www.especificasconcursos.com.br imediatos da: instauração do capitalismo em seu estágio industrial concorrencial. A concepção de questão social está enraizada na contradição capital x trabalho, em outros termos, é uma categoria que tem sua especificidade definida no âmbito do modo capitalista de produção. “Questão social apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna- se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.” A concepção de questão social mais difundida no Serviço Social é a de CARVALHO e IAMAMOTO, (1983, p.77): “A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, Marilda Villela Iamamoto Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 42 www.especificasconcursos.com.br da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão”. Ou seja, tem-se o que é denominado contradição fundamental entre capital e trabalho, desenvolvendo-se o processo de construção de desigualdades. Assim, não existem questões sociais, mas sim QUESTÃO SOCIAL, que se manifesta em diversas formas de expressão, mas cuja origem é sempre a mesma. Ainda de acordo com IAMAMOTO (2005, p.28) “(...)o desenvolvimento nesta sociedade redunda, de um lado, em uma enorme possibilidade de o homem ter acesso à natureza, à cultura, à ciência, enfim, desenvolver as forças produtivas do trabalho social; porém, de outro lado e na sua contraface, faz crescer a distância entre a concentração/acumulação de capital e a produção crescente da miséria (...)” Ou seja, questão social expressa-se na desigualdade. Nunca se produziu tanto no mundo (tecnologias, produtos, serviços), mas ao mesmo tempo cada vez mais aumenta a distância entre os que possuem capital para ter acesso ao que é produzido e aqueles que tem esse acesso negado. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 43 www.especificasconcursos.com.br Nessas definições estão presentes os conceitos bases para o entendimento da questão social, na perspectiva da teoria social crítica, ou seja compreendendo que tal questão é fruto da sociedade do capital e sua contradição fundamental entre capital e trabalho. Assim, a questão social historicamente se desenvolve com o próprio modo de produção capitalista, na medida em que não é possível o desenvolvimento desse sistema sem essa contradição entre quem produz e quem tem os meios de produção. A questão social não é um fenômeno recente, típico do esgotamento dos chamados trinta anos gloriosos da expansão do capitalismo, ao contrário, trata-se de uma “velha questão social” inscrita na própria natureza das relações sociais capitalistas, mas que, na contemporaneidade, se re- produz sob novas mediações históricas e, ao mesmo tempo, assume inéditas expressões espraiadas em todas as dimensões da vida em sociedade. Esse assunto foi cobrado pela banca No marco da teoria social crítica, a questão social é considerada um fenômeno recente, típico do trânsito do padrão de acumulação no esgotamento dos trinta anos gloriosos da expansão capitalista. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 44 www.especificasconcursos.com.br Comentário: A tese a ser desenvolvida considera ser questão social indissociável do processo de acumulação e dos efeitos que produz sobre o conjunto das classes trabalhadoras, o que se encontra na base da exigência de políticas sociais públicas. Ela é tributária das formas assumidas pelo trabalho e pelo estado na sociedade burguesa e não um fenômeno recente, típico do trânsito do padrão de acumulação no esgotamento dos 30 anos gloriosos da expansão capitalista. Portanto item errado. Ou seja, a questão social está na gênese do sistema capitalista e para resolvê-la seria necessário a mudança no modo de produção. Dessa forma, o Serviço Social trabalha especificamente com as expressões da questão social, que é uma só, mas que se manifesta a partir de diversas formas. Dessa forma, o assistente social precisa compreender que as demandas que lhe são colocadas no cotidiano do trabalho profissional são expressões dessa questão e não apenas problemáticas sociais ou questõesindividuais. Elas manifestam essa problemática maior e mais profunda que é a QUESTÃO SOCIAL. Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 45 www.especificasconcursos.com.br Para autora, a questão social expressa, portanto, desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por disparidades nas relações de gênero, características étnico- raciais e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização. Destaca que foram as lutas sociais que romperam o domínio privado nas relações entre capital e trabalho, extrapolando a questão social para esfera pública exigindo a interferência do Estado para o reconhecimento e a legalização de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos. A autora assinala que o processo de naturalização da questão social é acompanhada da transformação de suas manifestações em objeto de programas assistenciais focalizados no “combate à pobreza” e que uma dupla armadilha pode envolver a análise da questão social, corre-se o risco, então, de cair na pulverização e fragmentação das questões sociais, atribuindo unilateralmente aos indivíduos a responsabilidade por suas dificuldades ou aprisionar a análise em um discurso genérico, que redunda em uma visão unívoca e indiferenciada da questão social. Por fim, aponta que na perspectiva por ela assumida, a questão social não se identifica com a noção de exclusão social, hoje generalizada, dotada de grande consenso nos meios acadêmicos e políticos. Esse assunto foi cobrado pela banca Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 46 www.especificasconcursos.com.br A antiga questão social assume roupagens novas, de acordo com Iamamoto, as expressões da questão social mais relevantes são: “(...) o retrocesso no emprego, a distribuição regressiva de renda e a ampliação da pobreza, acentuando as desigualdades nos estratos socioeconômicos, de gênero e localização geográfica urbana e rural, além de queda nos níveis educacionais dos jovens.” (Iamamoto, 2007:147) Na atualidade a questão social está sendo naturalizada, individualizada, o indivíduo é colocando como o problema social, essa tendência gera o atendimento das refrações da questão social através de projetos assistenciais focalizados e também imprime junto as classes subalternas a repressão, num processo de criminalização da pobreza. Iamamoto salienta uma dupla armadilha quando a reflexão acerca das refrações da questão social é desvinculada de sua origem: “Corre-se o risco de cair na pulverização e fragmentação das inúmeras “questões sociais, atribuindo unilateralmente aos indivíduos e suas famílias a responsabilidade pelas dificuldades vividas” E ainda, “aprisionar a análise em um discurso genérico, que redunda em uma visão unívoca e indiferenciada da questão social.” (Iamamoto, 2007:164) O acirramento da questão social gera o aumento da demanda e do público alvo do assistente social. Entretanto, as políticas sociais estão Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 47 www.especificasconcursos.com.br cada vez mais focalizadas e seletivas. Assim, este profissional encontra-se em um dilema e no cerne dos conflitos entre duas questões opostas: direito e assistencialismo. A Banca (2006) – UEG - TJ-GO: Técnico Judiciário - Assistente Social, considerou certo o seguinte enunciado: Segundo Iamamoto (O Serviço Social na Contemporaneidade, 2003, p. 27), o “Serviço Social tem na questão social a base de sua fundação como especialização do trabalho”. Nesse sentido, é CORRETO afirmar: para o efetivo enfrentamento da questão social é necessário apreendê-la como o conjunto das expressões das desigualdades produzidas pela sociedade capitalista como resultado da contradição entre capital e trabalho. A Banca (2013) - TJ-PR - TJ-PR: Serviço Social, considerou certo o seguinte enunciado:" O Serviço Social tem na questão social a base de sua fundação enquanto especialização do trabalho. Os assistentes sociais, por meio da prestação de serviços socioassistenciais, realizados nas instituições públicas e organizações privadas, interferem nas relações sociais cotidianas, no atendimento às variadas expressões da questão social" (Iamamoto, 2007). A autora, em Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 48 www.especificasconcursos.com.br seus estudos sobre o tema, alerta os profissionais para os riscos da interpretação superficial da questão social. 1. reforço ao discurso de criminalização da questão social, base das práticas autoritárias e repressivas. 2. pulverização e fragmentação das inúmeras "questões sociais", atribuindo unilateralmente aos indivíduos e suas famílias a responsabilização pelas dificuldades vividas. 3. constituição de discurso genérico, prisioneiro das análises estruturais, esvaziadas de suas particularidades históricas. 4. autonomização das múltiplas expressões da questão social. No que diz respeito a temática da exclusão social, Yazbek, privilegia a análise da pobreza e da exclusão social como algumas das resultantes da questão social que permeiam a vida das classes subalternas em nossa sociedade e com as quais os assistentes sociais se defrontam em sua prática profissional. A autora parte do debate acumulado no âmbito do Serviço Social que situa a questão social como elemento central na relação entre profissão e realidade ao colocá-la como referência para a ação profissional. Dessa maneira, inicia pontuando que pobreza, exclusão e subalternidade configuram-se como indicadores de uma forma de inserção na vida social, de uma condição de classe e de outras condições Maria Carmelita Yazbek Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 49 www.especificasconcursos.com.br reiteradoras da desigualdade, expressando as relações vigentes na sociedade. Tome nota! A pobreza seria uma face do descarte de mão de obra barata, que faz parte da expansão capitalista. Assim, segundo a autora, as sequelas da “questão social” expressas na pobreza, na exclusão e na subalternidade de grande parte dos brasileiros tornam- se alvo de ações solidárias e de filantropia revisitada, fazendo parte deste quadro à crônica crise das políticas sociais, seu reordenamento e sua subordinação às políticas de estabilização da economia, com suas restrições aos gastos públicos e sua perspectiva privatizadora. Yazbek (2001) faz referência a Telles quando esta aponta que no momento atual, despolitiza-se o reconhecimento da questão brasileira como expressão de relações de classe e neste sentido, desqualifica-a como questão pública, questão política, questão nacional, numa sociedade privatizada que desloca a pobreza para o “lugar de não política, onde é franqueada como um dado a ser administrado teoricamente ou gerado pelas práticas de filantropia”. Yazbek finaliza assinalando que entende que a reprodução ampliadada questão social é reprodução das contradições sociais, que não há rupturas no cotidiano sem resistência, sem enfrentamentos e que se a intervenção profissional do assistente social circunscreve um terreno de disputa, é ai que está o desafio de sair da lentidão, de construir, reinventar Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 50 www.especificasconcursos.com.br mediações capazes de articular a vida social das classes subalternas com o mundo público dos direitos e cidadania. A Banca (2013) - FCC - TRT - 5ª Região (BA): Analista Judiciário - Serviço Social, considerou certo o seguinte enunciado: Para Maria Carmelita Yazbek (2012), a Questão Social pode ser compreendida como resultante da divisão da sociedade em classes e da disputa pela riqueza socialmente gerada, cuja apropriação é extremamente desigual no capitalismo. Supõe, desse modo, a consciência da desigualdade e a resistência à opressão por parte dos que vivem de seu trabalho. A banca (2012) – VUNESP - TJ-SP: Assistente Social, considerou certo o seguinte enunciado: O fato de a presença dos pobres em nossa sociedade ser vista como natural e banal despolitiza o enfrentamento da questão e coloca os que vivem a experiência da pobreza num lugar social. Para Yazbek (2009), o uso da categoria “subalternidade” apresenta maior propriedade no sentido de apreender a situação de privação social, econômica, cultural e política, lugar social dos usuários dos serviços sociais. Nessa perspectiva, a subalternidade ganha dimensões mais amplas, não expressando apenas a exploração, mas também a dominação e a exclusão integrativa, que no mercado Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 51 www.especificasconcursos.com.br capitalista cria reservas de mão de obra e transforma o pauperismo em despesa extra da produção. Em outra linha de pensamento em relação a questão social, Telles (1996) assinala que a questão social não se reduz ao reconhecimento da realidade bruta da pobreza e da miséria. A autora, citando os termos de Castel, aponta que a questão social é a aporia das sociedades que põe em foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos da eficácia da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de poder e dominação. A aporia nos tempos correntes diria respeito também à disjunção entre as esperanças de um mundo que valha a pena ser vivido, inscritas nas reivindicações por direitos e o bloqueio de perspectivas de futuro para maiorias atingidas por uma modernidade selvagem que desestrutura formas de vida e faz da vulnerabilidade e da precariedade formas de existência, que tendem a se cristalizar como único destino possível. Dessa maneira, para Telles, a questão social é o ângulo pelo qual as sociedades podem ser descritas, lidas, problematizadas em sua história, seus dilemas e suas perspectivas de futuro. Vera da Silva Telles Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 52 www.especificasconcursos.com.br Assim, para esta, discutir a questão social significa um modo de se problematizar alguns dos dilemas cruciais do cenário contemporâneo. Ela então ressalta que nos tempos atuais as conquistas sociais alcançadas estão sendo devastadas pela avalanche neoliberal no mundo inteiro, que a destituição dos direitos também significa a erosão das mediações políticas entre o mundo do trabalho e as esferas públicas e que estas, por isso mesmo, se descaracterizam como esferas de explicitação de conflitos e dissensos, de representação e de negociação sendo que é por via dessa destituição e dessa erosão dos direitos e das esferas de representação que se constrói esse consenso de que o mercado é o único e exclusivo princípio estruturador da sociedade e da política, que diante dos seus imperativos, nada há a fazer a não ser administrar tecnicamente suas exigências que a sociedade deve a ele se ajustar e que os indivíduos, agora desvencilhados das proteções tutelares dos direitos, podem finalmente r suas energias e capacidades empreendedoras. Para Castel, a questão social pode ser caracterizada por uma inquietação quanto à capacidade de manter a coesão de uma sociedade. A ameaça de ruptura é apresentada por grupos cuja existência abala a coesão do conjunto. O autor expõe que a gênese desta questão foi Robert Castel Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 53 www.especificasconcursos.com.br suscitada por um lado, pelo distanciamento do crescimento econômico e o aumento da pobreza, e por outro, pela ordem jurídico-política que reconhecia os direitos sociais dos cidadãos e uma ordem econômica que os negava. A grande diferença da questão social na fase do capitalismo industrial seria o surgimento de novos atores e conflitos. Com a crise da década de 1970 e o abalo da sociedade salarial, as principais manifestações dessa nova questão social, reflexo do desemprego em massa e da precarização do trabalho, é o reaparecimento de trabalhadores sem trabalho, os inúteis para o mundo ou supranumerários, pessoas que não tem lugar na sociedade porque não são integradas. Dessa forma, Castel conclui que a profunda metamorfose da questão social é que enquanto anteriormente a necessidade era saber como um ator social subordinado e dependente poderia tornar-se um sujeito social pleno, hoje a questão é amenizar a presença destas populações postas à margem, torná-las discretas a ponto de apagá-las. Rosavallon (1998) ressalta que as transformações contemporâneas decorrentes da crise da década de 1970, fez surgir uma nova questão social, visto que em suas análises dos sistemas seguradores, os benefícios do crescimento econômico e das conquistas das lutas sociais Pierre Rosanvallon Conhecimentos Específicos Serviço Social Aula 00 54 www.especificasconcursos.com.br modificaram a vida dos trabalhadores e o Estado-providência quase conseguiu vencer a antiga insegurança social e vencer o medo do futuro. Assim, aponta que o crescimento do desemprego e o aparecimento de novas formas de pobreza nos faz remeter a antigas formas de exploração e que o surgimento da uma nova questão social é traduzido pela inadaptação dos métodos antigos de gestão social. Desse modo, a nova questão social se coloca a partir de novos fenômenos de exclusão social decorrentes da crise da década de 1970, crise que segundo Rosavallon apresenta três dimensões: uma financeira, uma vez que os gastos são maiores que o ingresso de recursos; uma ideológica, devido à falta de eficácia do Estado empresário para enfrentar as questões sociais; e uma filosófica, pela desintegração dos princípios que organizam a solidariedade e a concepção tradicional de direitos sociais. Logo, as políticas sociais impõem considerar
Compartilhar