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SERVIÇO-SOCIAL-E-QUESTÃO-SOCIAL

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Prévia do material em texto

1 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 1 
2 O SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO SOCIAL ........................................... 3 
3 A QUESTÃO SOCIAL COMO OBSTÁCULO À COESÃO SOCIAL ............ 9 
4 A QUESTÃO SOCIAL VERSUS A NOVA QUESTÃO SOCIAL ................ 10 
5 BEM-ESTAR SOCIAL E COESÃO SOCIAL ............................................. 14 
6 SERVIÇO SOCIAL, QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICAS SOCIAIS EM 
TEMPOS DE DEGRADAÇÃO DO TRABALHO HUMANO, SOB O DOMÍNIO DO 
CAPITAL FINANCEIRO ............................................................................................ 19 
7 SERVIÇO SOCIAL E QUESTÃO SOCIAL NO CAPITALISMO 
FINANCEIRO ............................................................................................................ 20 
8 O SERVIÇO SOCIAL E A DEFESA INTRANSIGENTE DOS DIREITOS 
HUMANOS: DEMANDAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE ................... 23 
9 POBREZA, “QUESTÃO SOCIAL” E SEU ENFRENTAMENTO ................ 25 
10 POBREZA E “QUESTÃO SOCIAL”: UMA ANÁLISE 
HISTÓRICO‑CRÍTICA .............................................................................................. 27 
11 QUESTÃO SOCIAL, QUESTÃO RACIAL E SERVIÇO SOCIAL: ENSAIO 
ACERCA DA INTERVENÇÃO ESTATAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO ........... 28 
11.1 Intervenção social do estado ........................................................... 29 
12 SERVIÇO SOCIAL E “QUESTÃO SOCIAL”: FUNDAMENTOS 
TEÓRICOS E ANÁLISE CONTEMPORÂNEA .......................................................... 35 
12.1 Aspectos da discussão contemporânea sobre a “questão social” ... 37 
12.2 O persistente conservadorismo e a “questão social” ...................... 38 
13 QUESTÃO SOCIAL EM DIFERENTES PERSPECTIVAS ..................... 40 
14 QUESTÃO SOCIAL: UM BREVE OLHAR ............................................. 42 
15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 45 
16 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2 O SERVIÇO SOCIAL E A QUESTÃO SOCIAL 
O Serviço Social, como área de conhecimento trabalha com a problemática da 
vida social, considerando o contexto de desenvolvimento integral do homem, 
compreendido enquanto ser social, passando por uma visão crítica de seu cotidiano, 
buscando aprofundamentos históricos, sociais, econômicos, culturais, psicológicos, 
entre outros. 
A profissão do Serviço Social se constitui historicamente como uma forma de 
especialização do trabalho coletivo, uma profissão inscrita na divisão social técnica do 
trabalho. Seu significado social e ideo-político se inscrevem no âmbito das relações 
entre as classes sociais fundamentais, suas frações e das relações desta com o 
Estado brasileiro em quadros conjunturais específicos, através de um conjunto de 
práticas acionadas no enfrentamento da questão social. 
Ao considerar a questão social como eixo central, o Serviço Social assumiu um 
caminho teórico metodológico que permite apreender as especificidades das 
demandas e repostas profissionais na dinâmica da realidade. Desse modo, a questão 
social em suas múltiplas expressões conforma a matéria-prima do trabalho 
profissional. Trata-se de apreender as novas configurações da questão social, 
desenvolvendo a lógica de suas determinações no contexto das profundas 
transformações que vêm sendo operadas no mundo do trabalho, com amplas 
repercussões na esfera do Estado, nas novas conformações assumidas pela 
sociedade civil, assim como nas mudanças no campo da cultura e da subjetividade. 
Estes processos históricos reais se expressam em situações concretas que mobilizam 
a ação profissional e, ao mesmo tempo, indicam as possibilidades reais de recriação 
do seu exercício (CADERNO ABESS, nº 8, 1998). 
A formação profissional tem na questão social sua base de fundação sócio 
histórica, que lhe confere um estatuto de elemento central e constitutivo da relação 
entre profissão e realidade social, compreendida no seu movimento contraditório. 
Entende-se que a apreensão da sociedade brasileira é tida como base para a 
definição das diretrizes fundamentais da formação na explicitação de sua direção 
social. 
Em relação ao entendimento e a concepção sobre a questão cabe esclarecer 
que ela não é unívoca, pois encerra diversas interpretações que se desdobram em 
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múltiplas possibilidades de leitura, e diferentes denominações, bem como, distintas 
explicações. A construção de cada conceito é determinada a partir da base de analise 
adotada. Estes diferentes enfoques estão representados nos aspectos econômicos, 
políticos e culturais. 
A concepção que a vê a partir de sua indissociabilidade com as questões 
assumidas pelo trabalho, afirma que ela está situada na arena de disputas entre 
projetos societários, na condução de políticas econômicas e sociais distintas; sua 
produção e reprodução apresentam características de acordo com diferentes 
contextos históricos e geográficos: as disparidades econômicas, políticas e culturais 
das classes sociais estabelecem relações diversas entre os seguimentos da 
sociedade civil e do Estado. 
A questão social foi explicitamente colocada pela primeira vez em 1830, nos 
primórdios da industrialização. É a ameaça de fratura, quando as primeiras 
concentrações de proletários acampam na sociedade industrial, sem estarem nela 
encaixados, integrados. Cortadas de seus vínculos rurais ameaçam a ordem social, 
seja pela violência revolucionária ou como uma doença sob a forma de pobreza 
extrema. 
Assim sendo, foi uma necessidade social problematizada por atores 
estratégicos - o pauperismo das massas trabalhadoras, no século XIX — que 
desencadeou o processo de constituição da questão social, num quadro particular de 
relações entre classes antagônicas e de conscientização dos dominados das 
determinações sociais e políticas daquela necessidade. Nesta perspectiva a questão 
social constitui um estágio mais avançado, conflituoso e consciente do movimento de 
reação das classes subalternas à dominação social capitalista, exigindo definições 
dos atores em presença. Nesse sentido, Iamamoto (1991, p. 77) diz que a questão 
social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da 
classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu 
reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a 
manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a 
burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e 
repressão. 
Potyara Pereira (2001) entende que a Questão social sempre expressou a 
relação dialéticaentre estrutura e ação na qual os sujeitos estrategicamente situados 
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assumiram papeis politicamente fundamentais na transformação de necessidades 
sociais em questões, com vistas a incorporá-las na agenda pública e nas instâncias 
decisórias. 
O Serviço Social tem a questão social como elemento central na relação entre 
a profissão e a realidade. Entende que ela diz respeito ao conjunto das expressões 
das desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, 
impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da 
produção. Desse modo, a questão social, matéria prima da intervenção profissional 
dos assistentes sociais, assume novas configurações e expressões, entre as quais a 
insegurança e vulnerabilidade do trabalho e a penalização dos trabalhadores. 
Sendo uma profissão de intervenção, o Serviço Social vê a manifestação da 
questão social sob diferentes expressões, uma vez que suscita enfoques diferentes e 
contraditórios. Assim, as reivindicações, os protestos e as revoltas não se esgotam no 
nível da economia e da política, implicam aspectos culturais que podem levar tanto à 
reforma das relações e instituições sociais como a sua revolução. 
Conforme destaca Ianni (1996), há diferentes modos de expressar o conceito 
que a questão social encerra. Há aqueles que procuram equacioná-la e por 
isso a chamam de desemprego, subemprego, marginalidade, periferia, 
pobreza, miséria, menor abandonado, mortalidade infantil, desamparo, 
ignorância, analfabetismo, agitação, baderna, violência, caos, subversão; há 
os que falam em harmonizar trabalho e capital, conciliação de empregados e 
empregadores, paz social, pacto social; Há os que a identificam com 
Movimento social, pauperismo, protesto, invasão de terras, ocupação de 
habitação, saque, expropriação, revolta, revolução. (Apud FURLAN A. 2018) 
Essas são algumas das expressões mais frequentes no pensamento e prática 
de cientistas sociais, jornalistas, políticos, membros de tecnocracia pública e privada, 
civil e militar e outros. Apanham aspectos básicos das desigualdades sociais que 
atravessam a sociedade brasileira. Mas sempre repõem a questão social, como uma 
dimensão importante dos movimentos da sociedade nacional. 
Ao referir-se à questão social, Yazbek (2001), destaca que pobreza e exclusão 
social resulta da questão social que perpassa a vida das classes subalternas no 
cotidiano da sociedade, onde o Serviço Social realiza a sua intervenção. Nesse 
contexto está presente o sistema de proteção social com as políticas públicas. Este 
sistema foi sempre precário em nosso país, mas na contemporaneidade enfrenta uma 
crise global, particularmente no que se refere às políticas sociais. 
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Yazbek (2001) vê a questão social como resultado da divisão da sociedade em 
classes que se apropria da riqueza socialmente produzida de forma extremamente 
diferenciada. Desse modo, ela coloca em questão a luta pela apropriação da riqueza 
social. 
Esta é uma questão que se reformula e se redefine, permanecendo 
substancialmente a mesma pelo fato de ser estrutural, isto é, baseada num modelo 
de formação econômico social excludente. 
 
Fonte: deboranms.blogspot.com 
A conjuntura atual vem causando impactos devastadores sobre o trabalho 
imprimindo nele novas configurações e expressões que são as transformações das 
relações de trabalho; a perda dos padrões de proteção social dos trabalhadores e dos 
setores mais vulnerabilizados da sociedade que veem seus apoios, suas conquistas 
e direitos ameaçados. 
A pobreza é fenômeno multidimensional (não se restringe ao usufruto de bens, 
serviços e à riqueza socialmente produzida), é categoria política que implica 
carecimentos no plano espiritual, no campo dos direitos, das possibilidades e 
esperanças. Configura um modo de pertencimento e de inserção na vida social. Trata-
se de uma inclusão que se faz pela exclusão, de um modo de inserção que se faz pela 
não participação e pelo mínimo usufruto da riqueza socialmente construída. 
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Diante desse quadro afirma Yazbek (2001), que a subalternidade diz respeito 
à ausência de protagonismo, de poder, expressando a dominação e a exploração que 
mostram um leque de desigualdades, injustiças e opressões que acabam por 
reproduzir a desigualdade (de gênero, etnia, raça, etc.), expressando as relações 
vigentes na sociedade. Essas relações produzem e reproduzem as desigualdades no 
plano social, político, econômico e cultural atribuindo um lugar para o pobre na 
sociedade. Um lugar onde são desqualificados por suas crenças, por seu modo de 
expressar-se e por seu comportamento social. O mundo ocupado pelos dominados 
não está contraposto ao mundo dos dominadores. Eles possuem pontos de contato, 
exatamente onde o domínio se exerce. Do ponto de vista cultural são realidades que 
se interpenetram sem linhas rígidas de demarcação. Paradoxalmente, observa-se que 
as ações e representações das classes subalternas correspondem às características 
impingidas pelo lugar que ocupam na trama das relações sociais. 
Uma outra face da pobreza é o descarte da mão de obra barata que faz parte 
da expansão capitalista, que em última instância será mão de obra sobrante com 
desemprego de longa duração, trabalho precário e instável. 
O discurso dos direitos e da cidadania tinha pertinência ao cenário público, hoje 
é ocupado pelo discurso humanitário da filantropia tão bem ao gosto dos neoliberais 
que querem assistir os pobres desde que não se transforme em direito e ou políticas 
públicas dirigidas à justiça e à igualdade. Assim, as sequelas da questão social se 
transformam em alvo de ações solidárias e da filantropia revisitada. 
Para construir um projeto ético-político na direção de uma sociabilidade há que 
se fundar a política como espaço de criação e de universalização de direitos. E, aqui 
cabe algumas indagações: como construir este projeto no tempo miúdo da ação 
profissional, trabalhando com o homem comum, fragmentado, divorciado de si mesmo 
e de sua obra, mas que quer mudar a sua vida e construir sua história? Como resgatar 
esse homem comum que se apresenta diante de nós com fome, analfabeto, sem 
trabalho, vítima de violência, criança, adolescente, mulher, velho desamparado, etc.? 
Como apoiar seu processo emancipatório, criar condições para ao seu protagonismo, 
compreender a dialética de um fazer história à margem da realidade dominante e das 
ideias dominantes? 
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À intervenção profissional do assistente social se dá num terreno de disputa 
onde está colocado o desafio de construir, reinventar mediações capazes de articular 
a vida social das classes subalternas com o mundo público dos direitos de cidadania. 
Para Robert Castel (1998) a questão social é um desafio que questiona a 
capacidade de uma sociedade de existir como um todo, como um conjunto ligado por 
relações de interdependência. 
O debate sobre a manifestação da questão social apresenta na atualidade uma 
nova versão sobre ela, afirmando que a questão social não representa apenas a 
constituição de uma “periferia precária”, mas também o da “desestabilização dos 
estáveis” que atinge algumas áreas de emprego que estiveram estáveis durante muito 
tempo. 
Não há nada de marginal nessa dinâmica. Assim como o pauperismo do século 
XIX estava inserido no coração da dinâmica da primeira industrialização, também a 
precarização do trabalho é um processo central, comandadopelas novas exigências 
tecnológicas e econômicas da evolução do capitalismo moderno. Assim a 
precarização conduz a uma desestabilização dos estáveis que contribui para 
aumentar a vulnerabilidade social. 
O crescimento da vulnerabilidade é produto da degradação das relações de 
trabalho e das proteções correlatas que produzem uma nova questão social. 
Não se trata de pauperismo, mas sim de precarização que não sendo 
controlada ou reduzida continuará alimentando a desfiliação, tal como vem fazendo 
desde a década de 1970, colocando em risco a coesão social. 
Existe uma forte relação entre integração pelo trabalho (emprego estável, 
emprego precário, expulsão do emprego) e a participação nas redes de sociabilidade 
(inserção relacional forte, frágil e isolamento). 
Castel, chama a atenção a respeito do seguinte aspecto: as antigas formas de 
solidariedade encontram-se hoje numa fase de esgotamento, que exige uma outra 
forma de intervenção estatal (que não significa menos Estado, nem mais Estado), ou 
seja, requer um Estado estrategista (Estado Protetor), já que sem proteção social não 
se pode pensar em coesão social. 
Sem a intervenção estratégica do Estado, cada vez mais, a sociedade passa a 
ser de indivíduos numa crescente desagregação dos princípios de solidariedade em 
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decorrência da desresponsabilização do Estado de sua função de proteção dos 
direitos de cidadania. 
3 A QUESTÃO SOCIAL COMO OBSTÁCULO À COESÃO SOCIAL 
O desenvolvimento do Estado de Bem-Estar Social decorre da ampliação do 
conceito de cidadania advinda das crises econômicas e políticas enfrentadas durante 
o século XX, como forma de expurgar pretensões totalitárias e como alternativa ao 
socialismo. No âmbito do Welfare State, todos os indivíduos possuem direitos sociais, 
os quais são indissociáveis de sua existência, tendo, portanto direito a certos bens e 
serviços que devem ser garantidos pelo Estado. Dentre esses direitos, está a 
educação, a garantia de renda mínima, bem como a assistência médica gratuita, 
dentre outros. 
Todavia, este modelo encontrou diversos problemas em sua implementação, 
diante dos elevados custos necessários para a disponibilização dos serviços de forma 
gratuita para toda a população. No Brasil, a situação não foi diferente, sendo 
complicado afirmar a existência de um Estado de Bem-Estar Social implementado ao 
longo de nossa história. 
Fato é que no Brasil vivencia-se atualmente um agravante da situação, com a 
precarização cada vez maior dos serviços disponibilizados à população, diante dos 
sistemáticos cortes de repasses financeiros efetuados pelo governo. Para piorar o 
cenário, é evidente a nova questão social apontada por Rosavallon existente na 
sociedade brasileira, diante da reforma trabalhista implementada resultante da 
aprovação da Lei 13.467/2017, a qual trouxe uma maior flexibilização e precarização 
das relações de trabalho. 
Diante da existência da questão social, e de outras problemáticas sociais na 
comunidade brasileira, verifica-se que estas se transformam em obstáculos à coesão 
social, seja diante da ausência de igualdade de resultados ou de oportunidades, a 
população não vê seus anseios e necessidades atendidos de forma satisfatória. Deve-
se ressaltar ainda que diante da imensidão territorial de nosso país, a situação se 
agrava, já que cada região, cada estado, cada cidade pode ter a sua própria 
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formulação de coesão social, por ter necessidades próprias daquele local, o que 
dificulta a implementação de mecanismos universais de proteção social. 
4 A QUESTÃO SOCIAL VERSUS A NOVA QUESTÃO SOCIAL 
A identificação e a utilização do termo questão social teve início a partir da 
distinção entre o setor econômico e social, ganhando força com o desenvolvimento 
da sociologia. Conforme leciona Montaño: 
A expressão "questão social" começa a ser empregada maciçamente a partir 
da separação positivista, no pensamento conservador, entre o econômico e o social, 
dissociando as questões tipicamente econômicas das "questões sociais" (cf. Netto, 
2001, p. 42). Assim, o "social" pode ser visto como "fato social", como algo natural, a-
histórico, desarticulado dos fundamentos econômicos e políticos da sociedade, 
portanto, dos interesses e conflitos sociais. Assim, se o problema social (a "questão 
social") não tem fundamento estrutural, sua solução também não passaria pela 
transformação do sistema. 
 Embora esta distinção tenha se operado e a questão social tenha passado a 
habitar o campo da sociologia, que não significa que ela afigura-se como elemento 
estranho à influência de influxos econômicos e políticos. Em verdade, a questão social 
deita suas bases em razões de matizes econômicos e políticos, como resultado da 
interação dialética entre ambos. Nesse sentido: 
A “questão social” é separada dos seus fundamentos econômicos (a 
contradição capital/trabalho, baseada na relação de exploração do trabalho 
pelo capital, que encontra na indústria moderna seu ápice) e políticos (as 
lutas de classes). É considerada a “questão social” durkheimianamente como 
problemas sociais, cujas causas estariam vinculadas a questões culturais, 
morais e comportamentais dos próprios indivíduos que os padecem. (Apud 
CHAVES L.A. 2019) 
 
 Esses fundamentos de ordem econômica e política desempenharam papel 
decisivo no surgimento da questão social. É que se convencionou entre os estudiosos 
do tema que apenas com o surgimento do Estado Moderno, e sobretudo com a 
revolução industrial, o mundo ocidental passou a reunir as condições necessárias ao 
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estabelecimento da relação trabalho-capital e, por consequência, ao surgimento da 
questão social. 
Essas condições, de caráter político e econômico, consistiam, em apertada 
síntese, na formação de uma poderosa classe produtora desejosa de que seus 
interesses fossem protegidos pelo Estado, associada a uma generalizada 
insatisfação, por parte deste grupo, com a marginalização política destes 
interesses. O Estado revelara-se, então, incapaz de atender aos anseios de um grupo 
que, afinal, era o responsável pela manutenção de sua riqueza, e, por isso, precisava 
ser reformulado. 
Apenas com o sepultamento do Estado Moderno e com o surgimento do Estado 
Contemporâneo, portanto, é que se adota um modelo de organização social 
confessadamente forjado nos interesses dos detentores dos meios de 
produção. Nesse modelo, a atividade produtiva, embora detida pelas classes 
dominantes, era materialmente executada pela classe dominada, a quem ficava 
reservada condições abusivas de trabalho e todos os reveses sociais e econômicos 
daí decorrentes. 
Tendo como pano de fundo os processos de urbanização e industrialização na 
sociedade capitalista da Europa no transcurso do século XIX, poderíamos afirmar que 
a “questão social” deve ser entendida como conjunto de problemáticas sociais, 
políticas e econômicas que se geram com o surgimento da classe operária dentro da 
sociedade capitalista. Ela relaciona-se necessariamente no continente europeu à 
ordem burguesa; ou seja, refere-se ao processo de desenvolvimento do próprio 
capitalismo. 
É o cenário de evidente exclusão e desigualdade social, decorrente do embate 
entre os interesses da classe dominada com os da classe dominante, a que se 
denomina “questão social”. As condições de pactuação e execução do trabalho neste 
período inicial do Estado Contemporâneo deram azo a toda sorte de insatisfações 
relacionadas, sobretudo, a ausência de garantias mínimas estabelecidas em benefício 
daqueles que não dispunham denada senão da própria força laboral, mal 
remunerada, ilimitadamente exploradora e responsável pela perpetuação de mazelas 
sociais. 
A questão social, assim, seria a expressão do processo de formação e 
desenvolvimento da classe operária e do seu ingresso no cenário político da 
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sociedade, com a exigência de seu reconhecimento pelo empresariado e pelo Estado, 
cujo núcleo problemático cinge-se, em síntese, na regulamentação e organização da 
força de trabalho assalariada (PASTORINI). 
 
Fonte: attasconcursos.com.br 
Nesse contexto, a exploração do trabalho pelo capital ocasiona a acumulação 
da riqueza gerada pelo trabalhador nas mãos dos detentores dos meios de produção, 
criando desigualdade econômica e a separação da sociedade em classes 
antagônicas. Os trabalhadores, apesar de inseridos no mercado de trabalho, não 
possuíam os recursos necessários ao gozo de uma vida minimamente digna, nem 
para a aquisição de bens e serviços, por eles mesmos produzidos ou executados. 
Assim, a pobreza e a miséria, expressões mais representativas da 
desigualdade característica da questão social, passam a serem visualizadas como um 
problema de distribuição do mercado. Isso porque a concentração de renda impedia 
ou dificultava sobremaneira o acesso dos trabalhadores ao mercado de consumo e, 
assim, ao mesmo tempo em que havia elevado contingente de mão de obra, inexistia 
uma massa de consumidores ampla o suficiente para absorver os bens e serviços 
ofertados na sociedade (MONTAÑO). 
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A partir da década de 1970 iniciou-se o desenvolvimento de pesquisas acerca 
da existência de uma dita nova questão social, originada do acúmulo de problemas 
da sociedade pós-moderna, como o acentuado desemprego e a exclusão social e 
econômica, decorrentes do agigantamento do Estado Providência e de falhas na 
gestão deste. Trata-se de período em que, uma vez mais, as questões atinentes aos 
direitos sociais passam a ocupar a centralidade dos esforços estatais. 
O surgimento de uma nova questão social traduz-se pela inadaptação dos 
antigos métodos de gestão do social, como testemunha o fato de que a crise do 
Estado Providência, diagnosticada no fim dos anos 1970, mudou de natureza, 
iniciando uma nova fase a partir do princípio da década de 1990. Além dos problemas 
lancinantes de financiamento, e das disfunções sempre onerosas dos aparelhos 
estatais, são discutidos os princípios fundamentais da organização da solidariedade e 
a própria concepção dos direitos sociais. 
Os estudiosos da nova questão social acreditam que o contexto de 
desigualdade do século XIX e início do XX foi superado pelo Estado 
Providência. Contudo, a adoção e a falta de planejamento deste modelo político-
econômico teriam sido responsáveis pelo surgimento de novos problemas, 
identificados sob o nome de nova questão social. Nesse cenário, o desenvolvimento 
tecnológico aparece como causa principal do aumento do desemprego e oportuniza a 
precarização das condições de trabalho. 
A precarização, resultado da reestruturação internacional do capitalismo nas 
últimas décadas, segundo o autor, conduz a uma desestabilização dos estáveis que 
contribui para aumentar a vulnerabilidade social. Esse crescimento da vulnerabilidade 
(que seria produto da degradação das relações de trabalho e das proteções 
correlatas) supostamente estaria indicando a presença de uma “nova questão social.” 
A precarização consistiria num dos mais evidentes reflexos da nova questão 
social, ante o aumento do desemprego como circunstância favorável ao 
desenvolvimento de novos modelos de pactuação do trabalho, tendentes e restringir 
direitos. Esses novos modelos podem ser bem exemplificados nas figuras da 
terceirização do trabalho, contrato por tempo determinado, jornadas parciais e, 
sobretudo, à genérica admissão do discurso da flexibilização de direitos como 
instrumento apto a garantir o emprego. 
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Ora, o debate sobre a questão social não pode ignorar este pano de fundo em 
que as características do trabalho estão profundamente transformadas. Estando 
estreitamente associada ao esboroamento da sociedade salarial e aos fenómenos de 
desemprego e de precarização, a exclusão não corresponde apenas a situações 
individuais, mas a “uma angústia coletiva face ao risco de perda do emprego e das 
regalias sociais” (Paugam, 1997, p. 35). Como sustenta Bourdieu (1988), hoje a 
precariedade está em toda a parte, agindo diretamente sobre aqueles que toca (e que 
deixa sem condições de se mobilizarem) e indiretamente sobre todos os outros, pelo 
medo que suscita e que é metodicamente explorado pelas estratégias de 
precarização, como a introdução do princípio da flexibilidade. 
Neste novo estado de coisas, também, a exclusão parece se operar não 
decisivamente pelo estabelecimento de um modelo estatal voltado aos interesses do 
capital, mas por dificuldades circunstanciais advindas de políticas públicas 
malsucedidas, insuficiência dos serviços de assistência social e uma enorme 
dificuldade de inclusão social e econômica de determinados grupos de pessoas. 
5 BEM-ESTAR SOCIAL E COESÃO SOCIAL 
O Bem-estar Social é a organização política que irá se preocupar em assegurar 
à sociedade uma qualidade mínima de vida, fornecendo serviços sociais básicos, 
sistema de transferência de renda, mecanismos jurídicos de proteção ao indivíduo, 
dentre outros bens e serviços. 
A Coesão social, por sua vez, diz respeito à eficácia com que os serviços e 
mecanismos implementados pelo Estado irão atuar, de modo a minimizar a exclusão 
social. Uma sociedade será coesa, portanto, quando apresentar mecanismos eficazes 
para promover a inclusão social, diminuindo as desigualdades sociais existentes. 
A coesão social refere-se, pois, tanto à eficácia dos mecanismos instituídos de 
inclusão social como aos comportamentos e apreciações de parte dos sujeitos que 
conformam a sociedade. Esses mecanismos incluem, entre outros, o emprego, os 
sistemas educacionais, a titularidade de direitos e as políticas que fomentam a 
equidade, o bem-estar e a proteção social. Já os comportamentos e as apreciações 
de parte dos sujeitos abrangem âmbitos tão diversos quanto a confiança nas 
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instituições, o capital social, o sentido de pertencimento e solidariedade, a aceitação 
de normas de convivência e a disposição para participar em espaços de deliberação 
e em projetos coletivos. 
De modo resumido, pode-se dizer que “a coesão social é definida como a 
dialética entre mecanismos instituídos de inclusão e exclusão social e as respostas, 
percepções e disposições dos cidadãos diante do modo como tais mecanismos 
funcionam”. Uma sociedade coesa pode ainda ser aferida pelo sentimento de 
pertencimento dos cidadãos àquela comunidade, já que aquele cidadão preterido, que 
não tem direitos reconhecidos ou garantidos, pode não se sentir como parte integrante 
da comunidade. 
Assim, é possível inferir que a coesão social se refere tanto à eficácia dos 
mecanismos instituídos de inclusão social como aos comportamentos e avaliações 
dos sujeitos que fazem parte da sociedade. Entre esses mecanismos, destacam-se o 
emprego, os sistemas educacionais, a titularidade de direitos e as políticas para 
promover a igualdade, o bem-estar e a proteção social. 
Aqueles indivíduos que não se sentem como parte integrante da comunidade, 
que são excluídos dos instrumentos e mecanismos de proteção social a fim de 
apaziguar a desigualdade econômica, podem ser considerados como indivíduos 
desconectados da sociedade, e, portanto, caracterizar uma exclusão social existente. 
A desfiliaçãofaz com que os indivíduos não estejam mais inscritos nas formas 
coletivas de regulação, de proteção social, o que os torna “indivíduos portadores de 
carências”, desde econômicas até simbólicas. Têm-se, então, indivíduos 
desconectados da sociedade, salientando-se, porém, que esse conceito refere-se a 
processos feitos de rupturas e pertencimentos e não a uma situação estática. Castel 
(2003) distingue três zonas de variação da coesão social: 
1. Uma zona de integração social que não apresenta dificuldades reais; 
2. Uma zona de vulnerabilidade onde se acumulam precariedade de empregos 
e fragilidade de suportes relacionais; 
3. Uma zona de exclusão onde estão concentrados os indivíduos mais 
fragilizados. 
Uma sociedade em que os indivíduos tenham um mínimo de bem-estar 
compatível com o desenvolvimento alcançado por aquele país será uma sociedade 
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coesa, já que garantirá a integração social destes indivíduos, que não estarão à 
margem da sociedade. 
Também se aproxima da noção de coesão social a de integração social, 
entendida como o processo dinâmico e multifatorial que possibilita às pessoas 
participar do nível mínimo de bem-estar compatível com o desenvolvimento alcançado 
em um determinado país. Essa definição opõe a integração à marginalização. 
A coesão social é um conceito mais amplo do que a equidade, porém relaciona-
se à equidade, já que esta diz respeito à existência da igualdade de oportunidade e 
da igualdade de resultados. A igualdade de oportunidades nada mais é do que a 
garantia de que todos os cidadãos possuam o mesmo direito garantido, ao passo que 
a igualdade de resultados equivale a garantir a efetividade dos direitos para todos os 
cidadãos. 
De modo exemplificativo, podemos colocar a questão do direito a saúde pública 
no Brasil, que é garantida constitucionalmente de forma gratuita a todos os cidadãos 
brasileiros, existindo, portanto, uma igualdade de oportunidades. Todavia, não há uma 
igualdade de resultados ao passo que na realidade parte da população não tem o 
direito na prática, devido à falta de investimentos públicos e inexistência de hospitais 
com capacidade para toda a população. 
Fato é que em diversas cidades pequenas do interior do Brasil, a população se 
vê sem acesso a hospitais e a alguns procedimentos básicos, como exames e 
medicamentos que não são disponibilizados pela rede pública de saúde. O mesmo 
exemplo pode ser dado com o direito à educação, já que apesar de existir uma 
igualdade de oportunidades com sua previsão constitucional, não há uma igualdade 
de resultados, já que é de conhecimento público e notório que em algumas cidades 
rurais crianças precisam caminhar quilômetros ou se dirigir a outras cidades para 
receber o ensino escolar básico. 
A igualdade de oportunidades encontra na educação um dos seus mecanismos 
privilegiados. Isso porque, mesmo em uma sociedade com grandes lacunas salariais 
e de renda, é possível conseguir maior equidade aumentando-se a igualdade de 
oportunidades entre os filhos de famílias dos estratos alto, médio e baixo para que 
tenham acesso a melhores postos de trabalho no futuro. Uma distribuição melhor de 
ativos simbólicos (entre outros, conhecimentos e habilidades) feita hoje facilita a 
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melhor distribuição de ativos materiais (rendas, bens e serviços) no futuro, o que 
permite reverter a reprodução da pobreza entre gerações. 
Um Estado de Bem-Estar Social irá buscar a coesão social, já que irá tentar 
garantir toda a assistência necessária para a população. Todavia, esse bem-estar 
proporcionado para a comunidade não será o mesmo, havendo grandes diferenças 
entre as cidades, os estados e até mesmo países. Afinal, o bem-estar de uma cidade 
com população majoritária rural, não será o mesmo bem-estar de uma cidade onde a 
maior parte da população é urbana, tendo em vistas que suas necessidades não são 
as mesmas. 
A coesão social será então buscada pelo governo de bem-estar social, através 
de diversas ferramentas, dentre elas por meio da implementação de políticas públicas, 
sejam estas para proporcionar bens e serviços gratuitos para a população, ou ainda 
para garantir algum sistema de transferência de renda. 
Como assinalado nas seções anteriores, a coesão social é uma relação 
dinâmica entre fatores objetivos e subjetivos que se relacionam entre si. A política 
pública pode exercer importante influência na coesão social mediante a ampliação das 
oportunidades produtivas, o fomento do desenvolvimento de habilidades pessoais, a 
conformação de redes mais inclusivas de proteção contra vulnerabilidades e riscos, e 
uma gestão eficiente das finanças públicas. Também em todas essas áreas um 
esforço sério e perseverante deve ser empreendido, a fim de dotar de plena 
legitimidade as instituições da democracia. 
As políticas públicas implementadas pelo governo funcionarão como 
instrumentos de proteção social, a fim de se equalizar as disparidades econômicas 
existentes entre as classes sociais e promover a coesão social. 
A questão social é um problema existente na realidade moderna, seja 
considerada apenas como a questão social “originária”, a problemática social gerada 
pela dicotomia entre capital e trabalho, ou ainda que se considere a nova questão 
social, como a precarização das relações de trabalho com a constante flexibilização 
dos contratos de trabalho e formas de empregos. 
Ao mesmo tempo, percebe-se que a coesão social de uma comunidade será 
determinada por diversos fatores, dentre eles a equidade, aqui considerada como 
igualdade de oportunidades e igualdade de resultados. Neste diapasão, a existência 
da questão social caracterizada pelos elevados níveis de desemprego, e uma mão de 
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obra reserva abundante para barateamento dos salários, formaria um obstáculo para 
a coesão social, e consequentemente ao sentimento de pertencimento dos indivíduos 
à sociedade. 
Para Castel, a vulnerabilidade social traria em seu bojo a precariedade do 
trabalho e, ao mesmo tempo, a ausência dos suportes de proximidade, dos 
suportes sociais geradores de confiança. Desta forma, a questão social seria 
caracterizada por uma inquietação quanto à capacidade de manutenção da 
coesão social. (Apud CHAVES L. A. 2019) 
Fonte: sensoincomum.org 
Da mesma maneira, a aferição da existência da nova questão social, com 
a consequente precarização das relações de trabalho, e a configuração de elevadas 
desigualdades sociais entre as classes, sem que haja instrumentos eficazes para 
promover a inclusão social será também um obstáculo para que a sociedade tenha 
um bom nível de coesão social. 
Tal seria a “nova questão social”, ou seja, a crise do caráter integrador que o 
trabalho pode proporcionar, ocasionando a perda da coesão social e sofrimento dos 
indivíduos que não acessam mais um lugar na organização social através do trabalho. 
Desta forma, desemprego e precarização seriam as marcas da nova questão social. 
Como já mencionado, três processos marcariam o quadro no qual essa nova questão 
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social se desenvolve: a desestabilização dos estáveis, a instalação da precariedade e 
o déficit de lugares. 
Percebe-se assim que tanto a questão social quanto a nova questão social 
ensejariam o bloqueio na busca pela coesão social. Fato é que “o indivíduo hoje é 
vulnerável, uma vulnerabilidade gerada pelo afrouxamento dos mecanismos de 
proteção social”, este estado vulnerável do indivíduo é decorrente das questões 
sociais existentes, as quais agravam as desigualdades sociais. 
Cabe ao Estado, portanto, buscarnovos mecanismos eficazes de promoção à 
inclusão social. Porém tais instrumentos devem se atentar para a superação das 
questões sociais, a fim de descaracterizá-las como um obstáculo à coesão social, 
podendo proporcionar um maior sentimento de pertencimento à comunidade, bem 
como uma maior equidade entre os indivíduos. 
6 SERVIÇO SOCIAL, QUESTÃO SOCIAL E POLÍTICAS SOCIAIS EM TEMPOS 
DE DEGRADAÇÃO DO TRABALHO HUMANO, SOB O DOMÍNIO DO CAPITAL 
FINANCEIRO 
Analisar o Serviço Social brasileiro em suas orgânicas relações com a “Questão 
Social” e a desigualdade fundante que a constitui, no atual contexto de transformações 
estruturais e conjunturais que se processam sob a dominância do capital financeiro é 
enfrentar uma temática bastante ampla e complexa, que nos coloca especialmente 
frente à “uma nova era de devastação, uma espécie de fase ainda mais destrutiva da 
barbárie neoliberal e financista que almeja a completa corrosão dos direitos do 
trabalho em escala global.” (ANTUNES, 2018, p. 10). 
Assim sendo, cabe inicialmente trazer ao debate a Questão Social nestes 
tempos de transformações da ordem capitalista, com seus impactos no mundo do 
trabalho e na ampliação das desigualdades. 
Como se sabe, a desigualdade e a concentração de renda que se intensificam 
nas atuais formas de acumulação capitalista, resultam de mudanças na esfera da 
produção, associadas à nova hegemonia liberal‐financeira e trazem como 
consequência a radicalização da questão social. No Brasil, o número de trabalhadores 
informais superou o conjunto de empregados formais. A redução no número de 
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beneficiários do Programa Bolsa Família no último ano, também foi apontada como 
um dos principais motivos para o aumento da pobreza e da desigualdade que 
permeiam a vida das “classes que vivem do trabalho” (cf. ANTUNES, 1999) na 
sociedade e com as quais defronta‐se cotidianamente no trabalho profissional. 
 Cabe lembrar, que uma análise crítica da “Questão Social” no tempo presente 
exige que sejam considerados os processos de formação do país, desde a 
colonização, um empreendimento mercantil, que vai caminhar na direção de uma 
economia composta de senhores e escravos, na qual as marcas do patrimonialismo‐
paternalista vão plasmar a sociedade brasileira. “O par senhor‐escravo assentou as 
bases de uma estrutura social bipolar, que formou a maior parte da nação. A casa 
grande e a senzala são o brasão dessa sociedade” (OLIVEIRA, 2018, p. 29). 
Desse modo é fundamental não esquecer que o caráter predatório das relações 
coloniais e do escravismo deixou, sem dúvida suas marcas na história do país e 
implantou bases importantes na construção da lógica que vem presidindo a expansão 
do capitalismo dependente na periferia em tempos mais recentes, bem como as 
características próprias da Questão Social brasileira. 
7 SERVIÇO SOCIAL E QUESTÃO SOCIAL NO CAPITALISMO FINANCEIRO 
A profissão e o conhecimento que a ilumina, se explicam no movimento 
histórico da sociedade e assim sendo, seu significado social só pode ser desvendado 
em sua inserção na sociedade, ou seja, a análise do Serviço Social, de suas 
demandas, tarefas e atribuições em si mesmas não permitem desvendar a lógica no 
interior da qual essas demandas, tarefas e atribuições ganham sentido. Assim sendo, 
é preciso ultrapassar a análise do Serviço Social em si mesmo para situá‐lo no 
contexto de relações mais amplas que constituem a sociedade capitalista, 
particularmente, no âmbito das respostas que esta sociedade e o Estado constroem, 
frente à questão social e às suas manifestações, em múltiplas dimensões. Essas 
dimensões constituem a sociabilidade humana e estão presentes no cotidiano da 
prática profissional, condicionando‐a e atribuindo‐lhe características particulares. 
A partir dessa interlocução, no contexto de crise estrutural do capital com suas 
graves consequências para todos os domínios da vida social, econômica e cultural é 
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que situa‐se o Serviço Social brasileiro e seu processo de crescente legitimação no 
conjunto de mecanismos reguladores da Questão Social, no âmbito das políticas 
sociais, desenvolvendo sua intervenção e cumprindo objetivos que lhe são atribuídos 
socialmente e que, como se conhece, ultrapassam sua vontade e intencionalidade. 
Ou seja, o assistente social não tem se configurado como profissional autônomo no 
exercício de suas atividades, não dispondo do controle das condições materiais, 
organizacionais e técnicas para o desempenho de seu trabalho. No entanto, isso não 
significa que a profissão não disponha de relativa autonomia e de uma direção social 
que aponta para a construção de outra ordem societária. 
Como se sabe, nas últimas três décadas o Serviço Social brasileiro construiu 
coletivamente um projeto para a profissão, forjado nas lutas dos movimentos sociais 
e articulado a um projeto societário anticapitalista. Esse projeto significou uma ruptura 
com o pensamento conservador que marcou a origem da profissão, sob influência do 
pensamento social da Igreja e de teorias de cariz positivista e funcionalista. Foi 
construído à luz do pensamento de autores marxistas e fundamentalmente a partir da 
Teoria Social de Marx e de suas explicações mais abrangentes e totalizantes acerca 
da vida social e de seu sentido histórico. Esse projeto trouxe importante inflexão na 
interpretação teórica da profissão, especialmente com a contribuição de Marilda 
Iamamoto (1995, 2011) que traz a análise inaugural do Serviço Social como profissão 
no processo de produção e reprodução das relações sociais e capitalistas, 
particularizando sua inserção na divisão social e técnica do trabalho e reconhecendo 
o assistente social como trabalhador assalariado (YAZBEK, 2017a, p. 102). 
Cabe lembrar que nessa perspectiva, a reprodução das relações sociais é 
entendida como a reprodução da totalidade da vida social, o que engloba não apenas 
a reprodução da vida material e do modo de produção, mas também a reprodução 
espiritual da sociedade e das formas de consciência social através das quais o homem 
se posiciona na vida social. Dessa forma, é preciso não esquecer, a reprodução das 
relações sociais é a reprodução de determinado modo de vida, do cotidiano, de 
valores, de práticas culturais e políticas e do modo como se produzem as ideias nessa 
sociedade. O processo de reprodução da totalidade das relações sociais na sociedade 
é um processo complexo, que contém a possibilidade do novo, do diverso, do 
contraditório, da mudança. Trata‐se, pois, de uma totalidade em permanente 
reelaboração, na qual o mesmo movimento que cria as condições para a reprodução 
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da sociedade de classes cria e recria os conflitos resultantes dessa relação e as 
possibilidades de sua superação (cf. YAZBEK, 2017a). 
Serviço Social, portanto, é parte integrante do processo histórico que assume 
as relações sociais na sociedade burguesa em seus processos de mudanças, 
inserindo‐se no conjunto da classe trabalhadora, de suas lutas e apontando para a 
necessidade de um trabalho social orientado para a emancipação humana. 
Efetivamente, os assistentes sociais fazem parte da mudança, como gestores e 
operadores de políticas sociais, que se tem constituído historicamente numa das 
mediações fundamentais para o exercício profissional. 
Assim, a profissão está envolvida diretamente com a construção cotidiana da 
sociabilidade capitalista pela mediação dessas políticas, operando dentro de seus 
limites e de suas possibilidades. Neste âmbito, desenvolve tanto atividades na 
abordagem direta com a população que procura as instituições e o trabalho do 
profissional (entrevistas, atendimentode plantão social, visita domiciliar, orientações, 
encaminhamentos, reuniões, trabalho com indivíduos, famílias, grupos, comunidades, 
ações de educação e organização popular etc.), assim como atua na pesquisa e na 
produção de conhecimento, administração, planejamento, supervisão, consultoria e 
gestão dessas políticas, programas e projetos na área social. 
É por essa inserção como trabalhadores, nas relações sociais capitalistas, no 
atual contexto de crise do capital, que os assistentes sociais constroem 
cotidianamente seu projeto e sua resistência, ao operacionalizar Políticas Sociais que 
focalizam e ameaçam o direito. Convivendo muito de perto com as atuais 
manifestações da Questão Social e suas resultantes econômicas, políticas e culturais, 
cujos impactos se revelam nos espaços institucionais em que atuam 
profissionalmente, os trabalhadores assistentes sociais enfrentam novas questões 
que evidenciam as diversas manifestações da desigualdade e da diversidade humana. 
 Nos diversos espaços profissionais, sob a condição de trabalhador 
assalariado, os assistentes sociais brasileiros administram as profundas 
transformações que ocorrem nas Políticas Sociais até mesmo medidas que apontam 
para sua extinção. 
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8 O SERVIÇO SOCIAL E A DEFESA INTRANSIGENTE DOS DIREITOS 
HUMANOS: DEMANDAS E DESAFIOS NA CONTEMPORANEIDADE 
A institucionalização do serviço social está relacionada com a ampliação ao 
reconhecimento/desenvolvimento dos direitos de cidadania, com vistas à garantia do 
atendimento das necessidades básicas da população. A incorporação dos direitos 
sociais à noção de cidadania se expande à medida que o Estado assume os encargos 
sociais face às expressões concretas da questão social expandindo os serviços de 
atendimento as necessidades sociais, campo privilegiado de atuação dos assistentes 
sociais (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008). 
 Os serviços sociais, previstos nas políticas sociais, expressam duas faces do 
mesmo jogo de forças contraditórias entre as classes na sociabilidade capitalista. De 
um lado a luta da classe operária por condições mínimas de vida, trabalho e 
sobrevivência, de outro, a implementação de tais serviços ao ser mediatizada e gerida 
pela classe capitalista constitui-se em um instrumento político de controle da classe 
trabalhadora. Ainda que atendendo as necessidades sociais básicas do proletariado, 
a implementação dos serviços sociais surge como resposta às necessidades de 
reprodução do capital (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008). 
Indubitavelmente essa relação antagônica e contraditória acompanha o 
processo de algumas garantias de direitos na sociedade capitalista. Isso implica dizer 
que as reivindicações e luta do proletariado pelos direitos arduamente conquistados 
sempre se fará necessário, assim como, a expansão ou restrição destes acompanha 
as estratégias e necessidade do capital a partir do desenvolvimento e acumulação 
capitalista, no qual se particulariza suas crises e as medidas adotadas para seu 
enfretamento. 
 Tais constatações se fazem necessárias para situar o serviço social, uma 
profissão que se institucionaliza para atender “[...] a necessidades sociais derivadas 
da prática histórica das classes sociais na produção e reprodução dos meios e de 
trabalho de forma socialmente determinada” (IAMAMOTO; CARVALHO, 2008, p. 16). 
Sendo o serviço social institucionalizado para atender as necessidades do capital, as 
análises aqui apontadas e fundamentadas nas referências critico-dialética, 
ultrapassam a visão unilateral acerca do exercício profissional, ou seja, o fato de se 
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tornar um instrumento do capital não exclui uma intervenção a serviço dos interesses 
da classe trabalhadora. 
 
Fonte: www.eaducam.com.br 
Isso posto, o processo de Renovação do Serviço Social brasileiro que se inicia 
na década de 1960 e ganha força nas décadas de 1970 a 1980, marca os novos rumos 
da categoria que se reconhecendo enquanto classe trabalhadora engaja-se nos 
movimentos e lutas sociais da época. Esse processo de inserção nas lutas populares 
contribuiu na renovação da profissão e construiu o distanciamento dos princípios 
característicos da sua gênese. 
Um fator importante do processo de renovação do serviço social foi a direção 
social estratégica assumida pela categoria profissional que resultou, na década de 
1990, num projeto ético-político para a profissão que orienta um fazer profissional 
comprometido com a sustentabilidade, universalização e ampliação dos direitos 
sociais. 
 Da direção social estratégica assumida pela profissão resultou na revisão do 
Código de Ética de 1986, que culminou no Código de 1993 e traz como princípios 
fundamentais a recusa a qualquer forma de violência, discriminação, opressão e 
exclusão social. Pressupõe ainda o reconhecimento da liberdade como valor central; 
ampliação e consolidação da cidadania; posicionamento em favor da equidade e 
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justiça social; garantia do pluralismo; opção por um projeto profissional vinculado a 
um projeto de uma nova ordem societária; defesa intransigente dos direitos humanos; 
exercício profissional sem ser descriminado nem discriminar (CONSELHO FEDERAL 
DE SERVIÇO SOCIAL, 1993). 
O serviço social não está imune aos processos desencadeados das velhas e 
novas formas de enfrentamento da “questão social”, que na ação direta entre 
demandas e respostas se inclui as requisições por ações pragmáticas, tecnicistas, 
seletivas, imediatistas e de controle e monitoramento dos sujeitos (BARROCO, 2015), 
um verdadeiro anel de ferro que aprisiona o assistente social entre as contradições do 
Estado burguês e das políticas sociais. 
9 POBREZA, “QUESTÃO SOCIAL” E SEU ENFRENTAMENTO 
A expressão “questão social” começa a ser empregada maciçamente a partir 
da separação positivista, no pensamento conservador, entre o econômico e o social, 
dissociando as questões tipicamente econômicas das “questões sociais” (cf. Netto, 
2001, p. 42). Assim, o “social” pode ser visto como “fato social”, como algo natural, 
a-histórico, desarticulado dos fundamentos econômicos e políticos da sociedade, 
portanto, dos interesses e conflitos sociais. Assim, se o problema social (a “questão 
social”) não tem fundamento estrutural, sua solução também não passaria pela 
transformação do sistema. A origem desta separação são os acontecimentos de 
1830-48. No momento em que a classe burguesa perde seu caráter 
crítico-revolucionário perante as lutas proletárias (cf. Lukács, 1992, p. 109 e ss.), surge 
um tipo de racionalidade que, procurando a mistificação da realidade, cria uma 
imagem fetichizada e pulverizada desta. É o que Lukács chama de “decadência 
ideológica da burguesia”. Segundo ele (1992, p. 123), “após o surgimento da 
economia marxista, seria impossível ignorar a luta de classes como fato fundamental 
do desenvolvimento social, sempre que as relações sociais fossem estudadas a partir 
da economia. Para fugir dessa necessidade, surgiu a sociologia como ciência 
autônoma [...]”. Desta forma, “o nascimento da sociologia como disciplina 
independente faz com que o tratamento do problema da sociedade deixe de lado a 
sua base econômica; a suposta independência entre as questões sociais e as 
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questões econômicas constitui o ponto de partida metodológico da sociologia” 
(Lukács, 1992, p. 132). 
 Começa-se a se pensar então a “questão social”, a miséria, a pobreza, e todas 
as manifestações delas, não como resultado da exploração econômica, mas como 
fenômenos autônomos e de responsabilidadeindividual ou coletiva dos setores por 
elas atingidos. A “questão social”, portanto, passa a ser concebida como “questões” 
isoladas, e ainda como fenômenos naturais ou produzidos pelo comportamento dos 
sujeitos que os padecem. 
A partir de tal pensamento, as causas da miséria e da pobreza estariam 
vinculadas (nessa perspectiva) a pelo menos três tipos de fatores, sempre vinculados 
ao indivíduo que padece tal situação. Primeiramente a pobreza no pensamento 
burguês estaria vinculado a um déficit educativo (falta de conhecimento das leis 
“naturais” do mercado e de como agir dentro dele). Em segundo lugar, a pobreza é 
vista como um problema de planejamento (incapacidade de planejamento 
orçamentário familiar). Por fim, esse flagelo é visto como problemas de ordem 
moral-comportamental (malgasto de recursos, tendência ao ócio, alcoolismo, 
vadiagem etc.). Surgem com isso as bases para o desenvolvimento de concepções, 
como a da “cultura da pobreza”, onde a pobreza e as condições de vida do pobre são 
tidas como produto e responsabilidade dos limites culturais de cada indivíduo. 
Com esta concepção de pobreza (típica da Europa nos séculos XVI a XIX), o 
tratamento e o enfrentamento da mesma desenvolvem-se fundamentalmente a partir 
da organização de ações filantrópicas. 
Assim, o tratamento das chamadas “questões sociais” passa a ser 
segmentado (separado por tipo de problemas, por grupo populacional, por 
território), filantrópico (orientado segundo os valores da filantropia burguesa), 
moralizador (procurando alterar os aspectos morais do indivíduo) e 
comportamental (considerando a pobreza e as manifestações da “questão 
social” como um problema que se expressa em comportamentos, a solução 
passa por alterar tais comportamentos) (cf. Netto, 1992, p. 47). A ação é então 
a educação e a filantropia. Surgem assim os abrigos para “pobres” e as 
organizações de caridade e filantropia. (Apud MONTAÑO C. 2017) 
Como podemos observar, mesmo existindo uma forte inflexão sobre a 
concepção de pobreza e seu enfrentamento, justamente com a anulação da Lei dos 
Pobres, a partir de 1834, existem algumas características e problemas dessa 
concepção de “questão social”, pobreza e tratamentos: 
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a. A “questão social” é separada dos seus fundamentos econômicos (a 
contradição capital/trabalho, baseada na relação de exploração do trabalho pelo 
capital, que encontra na indústria moderna seu ápice) e políticos (as lutas de classes). 
É considerada a “questão social” durkheimianamente como problemas sociais, cujas 
causas estariam vinculadas a questões culturais, morais e comportamentais dos 
próprios indivíduos que os padecem. 
 b. A pobreza é atribuída a causas individuais e psicológicas, jamais a aspectos 
estruturais do sistema social. 
 c. O enfrentamento, seja a pobreza considerada como carência ou déficit 
(onde a resposta são ações filantrópicas e beneficência social). Ou seja, ela entendida 
como mendicância e vadiagem (onde a resposta é a criminalização da pobreza, 
enfrentada com repressão/reclusão), sempre remete à consideração de que as 
causas da “questão social” e da pobreza encontram-se no próprio indivíduo, e a uma 
intervenção psicologizante, moralizadora e contenedora desses indivíduos. Trata-se 
das manifestações da “questão social” no espaço de quem os padece, no interior dos 
limites do indivíduo, e não como questão do sistema social. 
10 POBREZA E “QUESTÃO SOCIAL”: UMA ANÁLISE HISTÓRICO‑CRÍTICA 
Uma análise crítica sobre a pobreza e sobre a “questão social” exige a 
superação das concepções anteriormente descritas e comentadas — diferentes 
concepções desenvolvidas no interior do pensamento liberal em contextos diferentes. 
Pretendemos fazer isto apresentando alguns fundamentos para uma caracterização 
histórico-crítica da pobreza e da “questão social” na sociedade capitalista. 
 Mas por que pensar a pobreza na sociedade capitalista, se em toda sociedade 
de classes sempre houve pobreza e desigualdade? Será que este fenômeno, quase 
sempre presente nas diversas organizações sociais ao longo da história, apresenta 
alguma característica central no modo de produção capitalista (MPC), diferente de 
outros sistemas sociais? Será que o capitalismo gera uma pobreza que se funda em 
bases diferentes de outras sociedades? 
Numa sociedade de escassez ou carências (não de abundância), onde a 
produção é insuficiente para satisfazer as necessidades de toda a população, a 
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distribuição equitativa dos bens existentes faria com que toda a produção fosse 
consumida sem sobrar um excedente para promover o desenvolvimento das forças 
produtivas. A sociedade não cresceria produtivamente. Nas sociedades de escassez, 
portanto, a desigualdade de classes (a desigual distribuição da riqueza socialmente 
existente) é que permitiria o acúmulo de riqueza por parte de alguns e o 
empobrecimento por parte de outros, permitindo que o excedente acumulado nas 
mãos de uns possa ser investido no crescimento produtivo. A desigualdade, em 
contexto de escassez, é vista pelos liberais como necessária ao crescimento e ao 
desenvolvimento das forças produtivas. Contrariamente, em sociedades de 
abundância, onde a produção é suficiente para abastecer toda a população, como é 
a sociedade capitalista na era dos monopólios, a desigualdade social é produto do 
próprio desenvolvimento das forças produtivas, e não o resultado do seu insuficiente 
desenvolvimento, nem a condição para o mesmo. Aqui a desigualdade é 
consequência do processo que, mesmo em abundância de mercadorias, articula 
acumulação e empobrecimento. 
Quanto maior o desenvolvimento, maior acumulação privada de capital. O 
desenvolvimento no capitalismo não promove maior distribuição de riqueza, mas 
maior concentração de capital, portanto, maior empobrecimento (absoluto e relativo), 
isto é, maior desigualdade. 
11 QUESTÃO SOCIAL, QUESTÃO RACIAL E SERVIÇO SOCIAL: ENSAIO 
ACERCA DA INTERVENÇÃO ESTATAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO 
Formação social e racial do brasil 
 
Há de se reconhecer que o Brasil em sua formação sócio histórica tem 
particularidades originadas em um passado que se quer esquecer, mas que se 
mantém de forma permutada entre outros motivos, pela falta do reconhecimento dos 
privilégios adquiridos por muitas gerações de pessoas brancas e mesmo não-negras, 
que de certo, não são responsáveis pelo passado (e presente) de tortura e morte de 
pessoas negras, mas, que usufruem de seus efeitos. Os mais de 300 anos nos quais 
vigorou o sistema escravista de produção, marcam o Brasil como um país de notória 
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concentração de riqueza, e o não reconhecimento da escravidão como crime contra a 
humanidade – considerando seu ensinamento nas escolas ainda hoje como tendo 
sido legal no sentido de uma pseudo-legalidade, e a falta de políticas de reparação –
, além de ter impulsionado uma série de construções ideológicas, culturais e jurídicas 
por um lado, escondem por outro as contradições e conflitos que puseram fim aquele 
sistema, mas que mantém uma racionalidade colonial e escravista no país. 
Nesse sentido um conceito fundamental para as reflexões acerca do racismo é 
a partir da compreensão como um sistema político de dominação e, portanto, de 
manutenção do status quo. Não é possível que sigamos ignorando o fato de que os 
privilégios são uma questão de “cor” (que incluem traços fenotípicos, culturas e etc), 
explicitada pelos mais graves indicadores sociais: a maioria das crianças fora daescola é negra; a maioria das pessoas privadas de liberdade é negra (seja no sistema 
adulto ou juvenil); são negras as pessoas que tem menos acesso à saúde de maneira 
geral; os salários das pessoas negras são menores do que os de pessoas brancas; e 
assim por diante. 
Nas últimas décadas, tem havido certo avanço na consideração das 
particularidades da realidade brasileira nas análises sociológicas, contudo, o racismo 
segue obscurecido pelo mito da democracia racial como bem apontou Nascimento 
(2016). Infelizmente, há certa naturalização da condição das pessoas negras na 
sociedade brasileira e isso nos coloca na condição obrigatória de trazer à baila a 
reafirmação de que o Estado brasileiro se desenvolve sob relações racistas de poder 
que se explicam pelo nosso desenvolvimento sócio histórico que se deu a partir da 
exploração da força de trabalho expropriada de pessoas negras e indígenas que foram 
desumanizadas para justificar sua utilização para a produção de riquezas enquanto 
seres não detentores de seus próprios corpos, ou seja, de sua força de trabalho. 
11.1 Intervenção social do estado 
Na fase monopólica do capital as relações se complexificam exponencialmente 
e altera-se também as formas em que se darão as contradições entre o capital e o 
trabalho, e ao Estado passa a ser acrescido de novas funções, isto é, deve assegurar 
as condições gerais de produção e ao mesmo tempo é forçado a corresponder as 
demandas sociais das classes trabalhadoras para a manutenção da ordem. O Estado 
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não perde o seu caráter de classe, porém, dado o avanço das lutas de classes o seu 
caráter meramente repressivo não é suficiente, precisa agir de forma a consensuar e 
coesionar o todo social. 
 
Fonte: otdugt.com.br 
As funções políticas e econômicas estatais a serviço dos monopólios se 
estreitam cada vez mais, sem poder jamais deixar de mediar a relação 
simultaneamente com o trabalho, atuando de diversas formas: como mantenedor 
direto da força de trabalho ocupada e excedente através de políticas sociais; 
incentivador para manter certo nível de consumo, já que se trata de uma sociabilidade 
donde todas as dimensões da vida estão submetidas à lei do valor; e a manter essa 
força de trabalho sempre disponível ao julgo dos projetos e interesses do capital 
(NETTO, 2011, Apud CORATO C. 2018). 
Justamente nessa contradição entre capital e trabalho – onde a produção é 
amplamente social e a apropriação é privada – que se encontra o cerne da questão 
social. Enquanto houver sociabilidade sob a égide do capital a questão social não 
poderá ser suprimida. Porém, o pensamento conservador ao referir-se à questão 
social a apreende em suas expressões: a fome, o desemprego, a falta de habitação 
etc.; dentro de um processo de naturalização das relações sociais, imprimindo-lhe no 
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máximo reformas que visem amenizar essas manifestações, uma vez que para essa 
corrente do pensamento, as formas de desigualdades são constituintes de todas e 
quaisquer ordem social (NETTO, 2011, Apud CORATO C. 2018). 
Nessa relação de interesses antagônicos entre as classes sociais fundamentais 
na era monopólica, o Estado na busca por amenizar tais conflitos passa a agir de 
forma sistemática e contínua acerca das manifestações da questão social através das 
políticas sociais. Nestas por sua vez, estarão impressas o conjunto de contradições 
que resultaram na sua composição, pois atenderá a interesses tanto do capital como 
do trabalho, tendo o Estado como o seu provedor, na medida em que sua principal 
incidência é para manter a força de trabalho ocupada e excedente, assim o Estado 
responde ao mesmo tempo às necessidades básicas das classes trabalhadoras e 
desonera o capital ao manter àquilo que é a sua pedra de toque: a força de trabalho 
– a fonte da produção de valor. Por conseguinte, a emersão das políticas sociais deve 
ser apreendida a partir dos movimentos do capital, das lutas de classes e das formas 
de intervenção do Estado sobre as expressões da questão social no capitalismo 
monopólico (NETTO, 2011, Apud CORATO C. 2018). 
 A intervenção estatal através das políticas sociais sempre se dará de forma 
fragmentada, setorizada, pois no contrário, atuar sobre a totalidade da questão social 
remeteria em razão direta de sua existência: na produção social e na apropriação 
privada de toda riqueza. Tal ponderação é importante porque evita-se uma análise 
das políticas sociais de forma mecânica ao colocá-la entre dois extremos: 1- de que 
são instrumentos de dominação ideológica das classes dominantes sobre as classes 
trabalhadoras; e 2 – de que são beneficies concedidas ao cidadãos, quando em 
realidade, estas são resultados de conflitos entre os interesses dos trabalhadores e 
da burguesia, afinal, em nenhum momento da história a burguesia teve ou terá o 
interesse de ampliar os direitos das classes trabalhadoras senão for para maximizar 
os seus lucros (NETTO, 2011, Apud CORATO C. 2018). 
O desenvolvimento do capitalismo traz consigo a questão social como elemento 
irresolvível em seus limites, e dado ao estágio em que se encontra, onde cada vez 
mais se substitui o trabalho vivo pela tecnologia, aumentando o exército industrial de 
reserva sem possibilidades de reingresso, tem exponenciado a tensão entre aqueles 
que produzem a riqueza social e aqueles que se apropriam dela, abrindo uma fenda 
sem precedentes entre os mais ricos e os mais pobres. Isto é, um número significativo 
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de trabalhadores que não conseguem o mínimo para sobreviver através da venda da 
força de trabalho, disso tem decorrido ao menos dois caminhos: uma parte vão compor 
o universo dos trabalhadores desempregados que sobrevivem por meio do trabalho 
informal, e devido a alta seletividade e focalização das políticas sociais não 
conseguem acessá-las; e uma outra, a população extremamente pobre conseguem, 
via programas sociais, acessar uma renda mínima que os retira da linha da inanição 
(NETTO, 2017, Apud CORATO C. 2018). 
 A seguridade social instituída na Constituição Federal de 1988 apontava para 
um sistema amplo de proteção social, ainda que saibamos que as políticas sociais 
não irão desconcentrar a propriedade, desmercantilizar os serviços sociais ou 
caminham para a emancipação humana, no entanto, podem contribuir para que os 
trabalhadores tenham melhores condições de vida. 
Ao considerar as transformações societárias nos pós 1970, com a 
reestruturação produtiva, as metamorfoses no mundo do trabalho e do neoliberalismo 
– condicionados pela crise do capital –, que a assistência passa a assumir uma 
centralidade frente às políticas de previdência, saúde e trabalho, na reprodução da 
força de trabalho. Contudo, o alto grau de desemprego e precarização das relações 
de trabalho, desde os anos de 1990, superou a capacidade de proteção social contida 
na política de assistência, uma vez que não objetiva e nem é capaz de superar tais 
questões, o que em razão direta leva o Estado a estender a área de atuação da 
assistência social, como nos disse Mota (2010, p. 16): “as tendências da assistência 
social revelam que, além dos pobres, miseráveis e inaptos para produzir, também os 
desempregados passam a compor a sua clientela”. 
A política de assistência se configura centralmente para assegurar a 
reprodução da força de trabalho, dito por Yazbek (2006), como resultantes das 
relações entre Estado e sociedade civil, que se modificam conforme as lutas de 
classes e na medida em que a intervenção estatal atua para a manutenção da ordem 
social, também responde às demandas das classes trabalhadoras por melhores 
condições de vida, e por isso a assistência deve ser entendida como um direito social 
importante, no entanto,no Brasil, por sua formação sócio histórica, a política de 
assistência se conforma da seguinte maneira: 
[...] os padrões brasileiros de assistência social se estruturam ao sabor do 
casuísmo histórico, em bases ambíguas e difusas, garantindo apenas um 
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atendimento difuso e precário aos seus usuários, apesar de a [sic] 
pauperização no país não ser apenas conjuntural, mas resultar da 
organização social, política e econômica da sociedade (YAZBEK, 2006, p. 51, 
Apud CORATO C. 2018). 
A assistencialização da assistência ou como foi conceituada por Yazbek (1995), 
a refilantropização da assistência, vem se impondo – dada a dinâmica do capitalismo 
na contemporaneidade e a intervenção social do Estado – no exercício profissional do 
assistente social em detrimento de outras dimensões, onde tende a um crescente 
abandono das dimensões ético-política e investigativa, ressaltando seu caráter 
puramente técnico-operativo. 
 O desemprego é uma das formas que tem agudizado a questão social, uma 
vez que impossibilita que a maioria da população consiga assegurar suas 
necessidades mais essenciais através da venda da força de trabalho e eis o porquê 
de a assistência assumir uma centralidade para garantir o mínimo de proteção social 
a essa população. No entanto, retorna o traço emergencial, principalmente através 
dos programas de transferência de renda, que não atende em sua integralidade as 
demandas dos usuários. 
Há que se ponderar que entre essa população demandante de políticas sociais 
para garantir as necessidades mais elementares, também têm sido direcionadas 
ações repressoras como forma de conter as populações sublevadas – tema que tem 
sido alvo de reflexão por parte de alguns autores contemporâneos como Castel 
(1981), Wacquant (2001; 2007) – dito de outro modo, as políticas públicas servem 
para a gestão dos riscos sociais, aqui entendidos como controle e inibição de 
comportamentos indesejáveis para a manutenção da ordem. 
Nesse sentido, concordamos com Netto (2016) quando apresenta a 
militarização da vida social no contexto de enfrentamento das novas expressões da 
“questão social” por parte do Estado. O autor dá destaque à tendência de aliar políticas 
do que chamou de “novo assistencialismo11” com políticas de repressão, trazendo 
como exemplo, a política de segurança implementada no estado do Rio de Janeiro 
amplamente apoiada pelos governos Lula da Silva (2003 a 2011) e que recebeu 
insumos políticos e financeiros nos governos Dilma Roussef (2011- 2016). 
Essas políticas de repressão segundo o mesmo autor a partir de 2008 vão se 
dar de forma diferente com o confronto armado direto e a ocupação territorial. As 
Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nesse sentido são emblemáticas, e fizeram 
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parte de um discurso político eleitoral em âmbito nacional chegando a ser levadas 
para outros estados como a Bahia, onde receberam o nome de Bases Comunitárias 
de Segurança. Essa política além de impor a presença armada do Estado através da 
polícia, já reconhecida pelas populações viventes das favelas e periferias como 
extremamente violenta, implica diretamente no comportamento. 
A busca incessante por lucros tem produzido resultados destruidores: o 
aumento das desigualdades sociais; a retomada de pautas ultraconservadoras, 
racistas, xenofóbicas; e conduzindo a humanidade a uma crise ecológica inédita, que 
no limite pode por fim a existência humana. Ou seja, todas as transformações 
societárias empreendidas no pós 1970 não resolveram nenhum dos problemas 
fundados pela sociabilidade burguesa. 
 Desse modo, a intervenção social do Estado tem sido por vista à manutenção 
da sociabilidade do capital centralmente por via das políticas públicas, que, como 
analisamos são as políticas de assistência social e se segurança. Porém, foge ao que 
foi construído na Constituição Federal de 1988, isto é, políticas universais e para a 
proteção social; ao contrário, são ações para a gestão da pobreza pelo consenso 
(política de assistência social) ou repressão (militarização da vida social nas 
periferias). 
O universo apontado por tais questões nos parece indicar caminhos para 
interessantes reflexões e debates no conjunto dos profissionais do Serviço Social, 
bem como de outras categorias que atuam direta ou indiretamente nas políticas 
públicas. É importante apontar que há ausência de profundas reflexões, elaborações 
e práticas no tange às políticas de segurança pública, pois aparentemente essa 
preocupação cabe às forças armadas, inclusive com suas agências de inteligência. 
Porém, a história do Brasil já nos deu prova suficiente de que quando são 
responsáveis pela direção política do país, sempre termina em golpe militar; e ao que 
tudo indica, as periferias dos grandes centros urbanos têm sido um grande laboratório 
de como garantir a “paz social” por meio da militarização da vida, no entanto, como 
marca do racismo típico no país, seus efeitos não incomodam a todos, 
consequentemente não é uma expressão da questão social. E concluímos que de fato 
a política de segurança pública para as periferias trata-se de extermínio da juventude 
pobre e negra para manter a ordem e o progresso, e os/ as assistentes sociais 
precisam entender que essa política é um equívoco que se contrapõe ao Projeto Ético-
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político e que, portanto, devemos estar inseridos no conjunto das lutas pela 
desmilitarização das periferias, porque isso tem a ver com os passos a serem dados 
para a socialização, para a tão almejada revolução: da política, da cultura e da 
economia. 
 
*
Fonte: www.papelarrozespecial.com.br 
12 SERVIÇO SOCIAL E “QUESTÃO SOCIAL”: FUNDAMENTOS TEÓRICOS E 
ANÁLISE CONTEMPORÂNEA 
Desde a década de 1990, a “questão social” é considerada a matéria prima do 
Serviço Social (IAMAMOTO, 2001) e se apresenta no cotidiano da vida social sob a 
forma de múltiplas expressões, todas decorrentes da exploração do trabalho pelo 
capital, e, portanto, consideradas objeto de investigação e intervenção profissional do 
assistente social. Sendo assim, a “questão social” está incorporada em todas as 
demandas atribuídas ao Serviço Social, compondo os fundamentos da profissão. 
Então, para os assistentes sociais, que atuam nas mais variadas expressões 
da “questão social”, e, tem nas políticas públicas sociais as mediações necessárias 
para o atendimento à população, a desigualdade social, decorrente da concentração 
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de renda e de propriedade se apresenta como eixo estruturante da “questão social”, 
especialmente quando visualizada em sua concretude, ou seja, no pauperismo. 
 Em 2016, os assistentes sociais comemoraram 80 anos da criação do Serviço 
Social no Brasil. O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) publicou uma nota 
alusiva ao aniversário da profissão, cuja síntese deixa clara a construção histórica de 
sua identidade. A nota afirma que o Serviço Social é uma profissão inscrita na história 
do Brasil há 80 anos. Uma profissão que foi capaz de se reinventar e se reconceituar, 
buscando romper com o conservadorismo do seu surgimento e com o tecnicismo de 
seu desenvolvimento. 
 Uma profissão que reconstruiu seus referenciais teóricos e metodológicos, 
analisando a sociedade capitalista, a desigualdade e a violação de direitos 
dela decorrentes. Uma profissão que, impulsionada pelo movimento de 
redemocratização do país, reescreveu seu Código de Ética, adotando valores 
que foram se aperfeiçoando e se tornaram princípios que, hoje, almejam 
alcançar, no

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