Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ATENÇÃO DIETÉTICA E ATIVIDADE FÍSICA NO TRATAMENTO DE PESSOAS OBESAS E/OU COM SOBREPESO COORDENADORA Profª Elenice Haruko Murate EQUIPE EXECUTORA Profª Suely T.S.P. Amorim, Prof Raul Von Der Heyde, Profª Maria Emilia Von Der Heyde, Maria Gisele Santos. Bolsistas de Extensão: Kellem Vincha, Alexandre Silva. Bolsistas de Extensão Voluntários: Thais Bordenowsky da Silva, Patrícia Blasco Silva, André Luis Zytkowski. AUTOR DO ARTIGO Profª Elenice Haruko Murate RESUMO A obesidade é considerada uma síndrome multifatorial na qual a genética, o metabolismo e o ambiente interagem assumindo diferentes quadros clínicos nas diversas realidades sócio-econômicas. Ela já é considerada um problema de saúde publica pelo rápido crescimento nas últimas décadas. Essa doença tem sido classificada como uma desordem primariamente de alta ingestão energética e redução do gasto calórico diário, conseqüência da vida moderna. O tratamento da obesidade ainda é discutível, pois muitos métodos falham à longo prazo, porém, sabe-se que é de importância para o sucesso a associação de uma reeducação alimentar com a atividade física regular, pois os benefícios adicionais obtidos com a inclusão de um programa de exercícios favorecem o controle metabólico, facilitando a manutenção do peso. Este projeto tem por finalidade promover o bem estar de discentes e servidores da Universidade Federal do Paraná, obesos e/ou com sobrepeso, através da normalização do peso e da composição corporal com atenção integral à saúde, propiciando a melhoria da qualidade de vida. INTRODUÇÃO A obesidade é um dos mais graves problemas de saúde pública e sua prevalência vem crescendo acentuadamente nas últimas décadas, inclusive nos países em desenvolvimento, o que levou a doença à condição de epidemia global. Apesar do avanço da ciência, os mecanismos etiopatogênicos, desconhecida em parte, estão relacionados com a composição corporal, gasto energético, fatores alimentares, culturais, psicosociais, hormônios implicados com o metabolismo do tecido adiposo etc. Por outro lado, a urbanização e a industrialização, acompanhadas de maior disponibilidade de alimentos e menor atividade física, contribuíram para a crescente prevalência da obesidade nas populações, que além de ser fator de risco cardiovascular independente, associa-se a uma série de outros, como a dislipidemia, a hipertensão arterial, o diabetes mellitus e a resistência à insulina (LERARIO, 2002). Por estar a obesidade aumentando no país, entendendo a seriedade do problema e sendo esta condição um fator de risco para patologias importantes decidiu-se realizar este projeto de atenção primária à saúde para a comunidade acadêmica da Universidade Federal do Paraná como um espaço para o exercício da integração do ensino, pesquisa e extensão. E desta forma, o planejamento do tratamento do sobrepeso/obesidade com orientação alimentar continuada e da regularidade da atividade física, propiciará um espaço fértil para o exercício e formação de profissionais saudáveis e uma contribuição para a melhoria da qualidade vida dos participantes, alunos e servidores da UFPR. OBJETIVO GERAL Promover o bem estar de indivíduos obesos (discentes e servidores) através da normalização do peso e da composição corporal com atenção integral à saúde, propiciando a melhoria da qualidade de vida. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Identificar os fatores e causas que contribuem no aumento da prevalência e incidência da obesidade; Educar e motivar as pessoas para a importância de uma alimentação adequada, atividade física e saúde; Valorizar e identificar os ambientes e condições que favorecem e promovem a manutenção do peso saudável REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A obesidade emergiu como uma epidemia em países desenvolvidos durante as últimas décadas do século XX. No entanto, atualmente, atinge todos os níveis socioeconômicos e vem aumentando sua incidência também nos países em desenvolvimento (BERNARDI, 2005). No Brasil, as mudanças demográficas, sócio-econômicas e epidemiológicas ao longo do tempo permitiram que ocorresse a denominada transição nos padrões nutricionais, com a diminuição progressiva da desnutrição e o aumento da obesidade (PINHEIRO, 2004). Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares 2003-2004, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são 38,8 milhões de pessoas com 20 anos ou mais de idade que estão acima do peso, o que significa 40,6% da população total do país; e dentro deste grupo, 10,5 milhões são obesos. A pesquisa também revelou que o problema se agrava com a idade, onde a faixa etária que vai dos 20 aos 44 anos concentra o maior número de homens com excesso de peso, e as mulheres predominam nas faixas posteriores (IBGE, 2004) indicando que os homens tendem a ganhar peso de forma mais rápida e as mulheres de forma mais lenta e em um espaço maior de tempo. Em termos regionais, o total de homens com excesso de peso é maior nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste do que no Norte e Nordeste. E ainda, o problema afeta mais os homens das áreas urbanas do que das rurais. Entre mulheres, o excesso de peso difere menos entre as regiões, exceto no Nordeste. Ao contrário dos homens, há mais mulheres com esse problema nas áreas rurais do que nas urbanas (IBGE, 2004). Outra informação importante é em relação às pessoas obesas, problema caracterizado por IMC igual ou superior a 30. Assim, segundo a pesquisa, a obesidade afeta 8,9% dos homens adultos e 13,1% das mulheres adultas do País. E mais: os obesos representam cerca de 20% do total de homens e um terço do total de mulheres com excesso de peso. A obesidade é considerada uma doença integrante do grupo de Doenças Crônicas Não- Transmissíveis (DCNT), as quais são de difícil conceituação, gerando aspectos polêmicos quanto à sua própria denominação, como doenças não-infecciosas, doenças crônico-degenerativas ou como doenças crônicas não-transmissíveis, sendo esta última a conceituação atualmente mais utilizada (PINHEIRO, 2004). Há diversas formas de conceituar e classificar a obesidade, primariamente pode ser um “acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo”, porém a grande dificuldade deste conceito básico é como medir esse tecido adiposo e como estabelecer o limiar a partir do qual um determinado indivíduo será rotulado como obeso. O Índice de Massa Corporal (IMC) definido pelo peso em quilogramas dividido pela altura em metros quadrados, uma medida de excelente correlação com a quantidade de gordura corporal e é largamente usado em estudos epidemiológicos e clínicos. Os valores considerados normais e a classificação da obesidade em graus progressivamente maiores de morbimortalidade são: indivíduo com IMC < 25kg.m-2 é considerado normal; a faixa entre 25 e 29,9kg.m-2 é denominada pré-obesidade ou sobrepeso, no qual os riscos de complicações são ainda baixos. A partir do IMC de 30kg.m-2, existe a obesidade propriamente dita e a morbidade e a mortalidade aumentam exponencialmente, sendo a obesidade com IMC ≥ 40kg.m-2 denominada obesidade grave ou mórbida, embora este último termo esteja em desuso (VASQUES, 2004). EPIDEMIOLOGIA DA OBESIDADE Laurenti (1990) define a Transição Epidemiológica como "uma evolução gradual dos problemas de saúde caracterizados por alta morbidade e mortalidade por doenças infecciosas que passa a se caracterizar predominantemente por doenças crônicas não- transmissíveis". As variações comportamentais dos padrões de morbimortalidade e fecundidade determinam mudanças na estrutura populacional ao se processarem as alterações na maneira de adoecer emorrer (PINHEIRO, 2004). A Transição Nutricional é conceituada de um processo de modificações seqüenciais no padrão de nutrição e consumo, que acompanham mudanças econômicas, sociais e demográficas, e do perfil de saúde das populações No entanto, o processo de Transição Epidemiológica/Nutricional, ainda não se concluiu. Apesar do aumento significativo das causas de morte por DCNT, a prevalência de doenças infecciosas como causa ainda é significativa. Em países como o Brasil, com grande extensão territorial, significativo número de habitantes e diferenças socioeconômicas e culturais, a heterogeneidade destes processos é bastante visível e complexa. Pode-se dizer que "em média" o Brasil está no estágio intermediário da Transição (PINHEIRO, 2004). O processo de modernização e transição econômica observada na maioria dos países tem promovido alterações na industrialização da produção alimentícia, que colabora para o consumo de dietas ricas em proteína e gordura e baixa em carboidratos complexos. Atualmente, existe maior quantidade de alimentos disponíveis, enquanto a demanda energética da vida moderna tem caído drasticamente, ocasionando estilo de vida sedentário com transporte motorizado, equipamentos mecanizados que diminuem o esforço físico de homens e mulheres tanto no trabalho como em casa. Deste modo, o sedentarismo e os hábitos nutricionais parecem representar o principal fator de risco no desenvolvimento da obesidade mundial (PEREIRA, 2003). Isso se torna um problema de saúde pública, uma vez que as conseqüências da obesidade para a saúde são muitas, e variam do risco aumentado de morte prematura a graves doenças não letais, mas debilitantes e que afetam diretamente a qualidade de vida destes indivíduos (PEREIRA, 2003). TRATAMENTO DA OBESIDADE A obesidade é uma doença de difícil controle, com altos percentuais de insucessos terapêuticos e de recidivas, podendo apresentar sérias repercussões orgânicas e psico- sociais, especialmente nas formas mais graves. Ainda se discute muito sobre o melhor tratamento, já que a maioria deles falha na manutenção da perda de peso em longo prazo (TROMBETTA, 2003). DIETA Um grande contribuidor para o tratamento é a reversão do balanço energético positivo, que ocorre quando o valor calórico ingerido é superior ao gasto, e pode ser conseqüência tanto de aumento na ingestão calórica, como redução no total calórico gasto, ou os dois fatores combinados. Com isso estudos já demonstraram a importância das dietas e dos exercícios de uma maneira individualizada ou combinados na redução do peso corporal (FRANCISCHI, 2000; PEREIRA, 2003). Está bem estabelecido que fatores genéticos têm influência no aumento dos casos de obesidade. No entanto, o aumento significativo nos últimos 20 anos dificilmente poderia ser explicado por mudanças genéticas que tenham ocorrido neste espaço de tempo. Sendo assim, os principais fatores envolvidos no desenvolvimento da obesidade têm sido relacionados com fatores ambientais, como ingestão alimentar inadequada e redução no gasto calórico diário (PEREIRA, 2003). Os indivíduos obesos apresentam uma tendência a consumirem maior quantidade de alimentos de alta densidade energética, principalmente com alto conteúdo de lipídios, e relativamente menor quantidade de alimentos de baixa densidade energética (alto conteúdo de água), comparados aos indivíduos não obesos, e este conteúdo de lipídios tem efeito na gordura corporal (ROSADO, 2001). Dietas hipocalóricas levam à redução da perda de peso com o tempo, em conseqüência de mudanças na composição corporal. Contudo, dietas que restringem severamente o consumo energético, bem como jejuns prolongados, são cientificamente indesejáveis e perigosos para a saúde, resultando em perdas de grandes quantidades de água, eletrólitos, minerais, glicogênio e outros tecidos isentos de gordura, com mínima redução de massa adiposa (FRANCISCHI, 2000). Um grande aliado nas dietas de redução de peso são as fibras alimentares que possuem importantes funções, tais como: redução na ingestão energética; aumento no tempo de esvaziamento gástrico; diminuição na secreção de insulina; aumento na sensação de saciedade; redução na digestibilidade; redução no gasto energético e aumento na excreção fecal (FRANCISCHI, 2000). EXERCÍCIO FÍSICO O exercício físico contribui para redução de peso através da criação de balanço energético negativo. Contudo, atingir altos gastos energéticos durante a atividade física requer a capacidade do indivíduo para se exercitar por longos períodos em altas intensidades, o que é possível para pessoas treinadas. Por esse motivo, a dieta isolada é mais eficiente para produzir déficit energético do que o exercício físico, entretanto, isto não significa que os exercícios tenham apenas um efeito marginal no processo de redução do peso corporal em longo prazo (FRANCISCHI, 2000). Ele minimiza os efeitos negativos da restrição energética, pois é capaz de reverter à queda na TMB (Taxa Metabólica Basal) durante um programa de redução de peso. Além disso, combinado à restrição energética promove redução no peso corporal, maximizando a perda de gordura e minimizando a perda de massa magra (FRANCISCHI, 2000). Outros aspectos de interesse são: o seu papel no reganho de peso, após programas de emagrecimento, nesse sentido, o exercício físico regular têm se mostrado extremamente eficiente (TROMBETTA, 2003). E a maior adesão à dieta, pessoas que praticam exercício aeróbio e fazem dieta seguem a dieta mais efetiva que pessoas que fazem exclusivamente dieta (FRANCISCHI, 2000). Resumindo, a perda de peso alcançada pela dieta isoladamente leva à melhoria de todo o quadro patológico associado à obesidade, porém, os benefícios adicionais obtidos com a inclusão de um programa de exercícios podem favorecer o controle metabólico, facilitando a manutenção da perda de peso (BERNARDI, 2005). MUDANÇA COMPORTAMENTAL Os problemas emocionais são geralmente percebidos como conseqüências da obesidade, a depressão e a ansiedade são os sintomas mais comuns. Pacientes obesos emocionalmente instáveis podem experienciar aumento na ansiedade e depressão quando fazem dietas, resultando no aumento do consumo de alimentos. Por isso, a mudança comportamental tem sido usada no tratamento da obesidade, através do auto-monitoramento, que consiste em auto-observação dos fatos, sentimentos, pensamentos e atitudes que ocorrem antes, durante e após as tentativas de manter um comportamento prudente ao alimentar-se e na prática de exercícios físicos. Segundo Atckinson et al. (1992), os componentes de um programa de mudança comportamental incluem: educação sobre a etiologia e a fisiopatologia da obesidade; educação alimentar, nutricional e novas técnicas dietéticas; educação através da fisiologia do exercício, estratégias, técnicas e monitoramento da atividade física; conhecimento de estratégias para evitar o ganho de gordura novamente; apoio familiar, social e acompanhamento de uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde (VARQUES, 2004; FRANCISCHI, 2000). CONSIDERAÇÕES FINAIS A importância da redução da obesidade para a saúde pública, o interesse social e os investimentos econômicos em alimentação e na qualidade de vida de pessoas obesas indicam que estudos rigorosos sobre a prevenção e o tratamento da obesidade são essenciais; Os estilos de vida saudáveis estão estreitamente relacionados com a satisfação integral das necessidades básicas através de alimentação adequada, suficiente e harmônica; a realização regular de atividades físicas é um auxílio importante para diminuir o pesocorporal e fator crítico para mantê-lo com sucesso. Por isso, é fundamental reestruturar as práticas cotidianas de saúde, empenhando-se no aumento do tempo de prática de atividade física, bem como a opção por alimentos menos ricos em gordura e menos energéticos; A perda de peso alcançada pela dieta isoladamente leva a melhoria de todo quadro patológico associado à obesidade, porém, os benefícios adicionais obtidos com a inclusão de um programa de exercícios podem favorecer o controle metabólico, facilitando a manutenção do peso. Há que se enfatizar que ao se lidar com o problema da obesidade é preciso atenção especial à criação de condições para promover mudanças nos hábitos alimentares e é preciso cautela no encaminhamento para atendimento psicológico, pois a necessidade não é generalizada. Ser gordo não significa ter problemas psicológicos; Como critério de ingresso neste projeto, foi considerado o IMC ≥ 27 kg/m2 como limite, apesar da recomendação da OMS como excesso de peso pelo IMC ≥ 25 kg/m2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERNARDI, F., CICHELERO, C., VITOLO, M., R., Comportamento de restrição alimentar e obesidade. Rev. Nutr. Campinas, v.1, n. 18, p. 85-93, jan./fev. 2005 CATANEO,C.;CARVALHO,A.M.P.;GALINDO,E.MC.Obesidade e aspectos psicológicos: maturidade emocional, auto-conceito, locus de controle e ansiedade. Psicol. Reflex. Crit., v. 18, n.1, p.39-46, jan./abr. 2005. FRANCISCHI, R.; PEREIRA, L.O;FREITAS, C.S. et al. Obesidade: atualização sobre sua etiologia, morbidade e tratamento. Rev. Nutr, v.13, n.1, p.17-28, jan./abr. 2000. IBGE, http://www.ibge.gov.br/, <acessado em 13/10/2005> LERARIO, D.G;GIMENO, S.G; FRANCO, L.J. Excesso de peso e gordura abdominal para a síndrome metabólica em nipo-brasileiros. Rev. Saúde Pública, v.36, n.1, p. 4- 11, fev. 2002. PEREIRA,LO; FRANCISCHI,R.P; LANCHA JR,A.H. Obesity: dietary Intake, sedentarism and insulin resistance. Arq Bras Endocrinol Metab, , v.47, n.2, p.111-127. Apr. 2003. PINHEIRO, A.R.O.; FREITAS, S.F.T.; CORSO, A. C.T. Uma abordagem epidemiológica da obesidade. Rev. Nutr, v. 17, n. 4, p.523-533. out./dez. 2004 ROSADO, E.L.; MONTEIRO, J.B.R.. Obesidade e a substituição de macronutrientes da dieta. Rev. Nutr. v.14, n.2, p.145-152, maio/ago. 2001 TROMBETTA, I., C., Exercício físico e dieta hipocalórica para o paciente obeso: vantagens e desvantagens, Rev Bras Hipertens. v. 2, n.10, abril/junho 2003 VASQUES, F.;MARTINS, F.C.; AZEVEDO, A P. Psychiatric aspects in the treatment of obesity. Rev. Psiquiatr. Clín., v. 31, n. 4, p.195-198, 2004. ATENÇÃO DIETÉTICA E ATIVIDADE FÍSICA NO TRATAMENTO DE PESSOAS OBESAS E/OU COM SOBREPESO RESUMO INTRODUÇÃO DIETA
Compartilhar