Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Brasília-DF. EmagrEcimEnto E mEtabolismo Elaboração Rodrigo Luiz Targino Dutra Guilherme da Silva Ferreira Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR ................................................................. 9 CAPÍTULO 1 MUDANÇAS ALIMENTARES E SEU IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA .......................................... 9 UNIDADE II DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS ............................................................................................. 28 CAPÍTULO 1 DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS E SEU IMPACTO NA ESTÉTICA E QUALIDADE DE VIDA ............................................................................................................................... 28 UNIDADE III METABOLISMO E NUTRIENTES ............................................................................................................... 46 CAPÍTULO 1 ENERGIA, NUTRIENTES, GASTO ENERGÉTICO E METABOLISMO ................................................. 46 CAPÍTULO 2 PACIENTE OBESO E DIETAS DA MODA ..................................................................................... 79 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 89 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Com o passar dos anos, a sociedade evoluiu tecnologicamente, essa evolução associada à globalização e ao contato com diferentes culturas em conjunto com o desenvolvimento econômico e a mudança do status social fez com que houvesse a inserção de novos produtos alimentares disponíveis ao consumidor, sendo em sua maioria produtos ultraprocessados com alta densidade calórica, o que resultou em um aumento dos índices de sobrepeso e obesidade em todo o mundo. Este movimento, conhecido como transição nutricional, é definido como a mudança de forma progressiva no comportamento alimentar que vem ocorrendo nas últimas décadas na sociedade. Esse movimento acompanha a expansão da urbanização e a industrialização. Deste modo, o padrão alimentar de qualidade, baseado no consumo de grãos e cereais, é cada vez mais extinto e substituído por alimentos, refeições e hábitos nutricionais menos adequados ao estilo de vida saudável (PALMA; OLIVEIRA; ESCRIVÃO, 2009). Alterações nos padrões dietéticos e nutricionais da população brasileira de todos os estratos sociais e faixas-etárias vêm sendo analisadas no processo da transição nutricional. Essa transição nutricional caracteriza-se pela redução nas prevalências dos deficits nutricionais e aumento expressivo de sobrepeso e obesidade (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003 apud DE SOUZA, 2017). Todas essas mudanças vão de encontro aos padrões modernos de beleza, saúde e bem-estar, sendo notável o crescimento de indivíduos interessados em procedimentos estéticos que visem à perda de peso. Neste módulo serão abordados os efeitos adversos da obesidade, entendendo-se o processo fisiológico da concepção do tecido adiposo, além dos efeitos metabólicos e o processo de emagrecimento, associado à estética. Objetivos » Compreender a fisiologia e comportamento do tecido adiposo, seu histórico e prevalência. » Distinguir os processos de emagrecimento e obesidade, entendendo seus mecanismos fisiológicos. 8 » Identificar os marcadores bioquímicos e hormonais envolvidos no processo de obesidade e emagrecimento. » Observar o papel da microbiota intestinal e dos radicais livres no metabolismo. » Compreender os efeitos das dietas da moda e sua influência sobre o desenvolvimento de transtornos alimentares. 9 UNIDADE I MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR CAPÍTULO 1 Mudanças alimentares e seu impacto na qualidade de vida O poder da influência alimentar A alimentação é, após a respiração e a ingestão de água, a mais básica das necessidades humanas. A alimentação, além de uma necessidade biológica, é um complexo sistema simbólico de significados sociais, sexuais, políticos, religiosos, éticos, estéticos etc. A fome biológica distingue-se dos apetites, expressões dos variáveis desejos humanos e cuja satisfação não se resume apenas ao curto trajeto que vai do prato à boca, mas se materializa em hábitos, costumes, rituais e etiquetas (CARNEIRO, 2003). O comportamento alimentar do ser humano não se limita à mera ingestão de alimentos. Para o homem, comer é muito mais do que nutrir o corpo. Não comemos exclusivamente para manter as atividades vitais, mas recorremos às refeições como forma de alcançar prazer, propiciar a convivência e conter determinadas ansiedades. Por isso, a alimentação é um processo complexo, que ultrapassaa necessidade puramente biológica e recebe influência de vários fatores (LAROUSSE, 2005). As políticas e programas de alimentação e nutrição no Brasil tiveram início na década de 1930, quando ficou estabelecido que o alimento essencial deveria ser um dos itens garantidos pelo salário mínimo (instituído em 1940). No entanto, o salário mínimo não era suficiente para oferecer uma alimentação adequada para os trabalhadores. Essa situação levou à criação, em 1940, do Serviço de Alimentação e Previdência Social (SAPS) cujos objetivos principais eram baratear o preço dos alimentos, criar restaurantes para os trabalhadores e fazer com que as empresas fornecessem alimentos para os operários em seus próprios refeitórios. (CARDOSO et al., 2007). 10 UNIDADE I │ MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR Em 1993, foi criado o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA), elaborando um Plano de Combate à Fome e à Miséria, e que tinha como prioridade a geração de emprego e renda, a democratização da terra, o combate à desnutrição materno-infantil, a descentralização e o fortalecimento do Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE) (CARDOSO, et al., 2007). Desde a última metade do século XX, em decorrência da urbanização e modernização, o mundo vem passando por um processo chamado transição nutricional. A transição nutricional é definida pelo declínio marcante da subnutrição e aumento da prevalência em excesso de peso e obesidade. Essa mudança foi provocada por questões econômicas, sociais e demográficas, que consequentemente influenciam no perfil de saúde dos indivíduos (VAZ, 2014). Segundo dados apresentados pelo IBGE (2009), nos anos de 1974 a 1985, 18,5% dos homens e 28,7% das mulheres apresentavam excesso de peso e 2,8% dos homens e 8% das mulheres estavam obesos. Enquanto nos anos 2008 a 2009, 50,1% dos homens e 48% das mulheres apresentavam excesso de peso e 12,4% dos homens e 16,9% das mulheres estavam obesos, ou seja, a porcentagem de pessoas com excesso de peso e obesidade duplicou e até triplicou com o passar dos anos. Além do sobrepeso e da obesidade, a transição nutricional também é responsável por desencadear as denominadas doenças crônicas não transmissíveis, conhecidas como doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão arterial. De acordo com o ranking das 10 principais causas de morte no mundo da OMS (2012), elas ocupam a primeira, oitava e a décima posição. Os altos índices de excesso de peso e obesidade da população brasileira são causados pelas mudanças nos padrões alimentares, tanto de consumo quanto de produção e comercialização dos alimentos. Essa situação é caracterizada pela substituição de alimentos tradicionais como: cereais, raízes e tubérculos por alimentos industrializados ricos em gorduras e açucares (VAZ; BENNEMANN, 2014). O estilo de vida, a diminuição da prática de atividade física, bem como fatores ambientais, também estão cooperando para essas alterações. Existem hábitos de vida e práticas alimentares que são prejudiciais à saúde, porém, existem aquelas que auxiliam na prevenção de diversas patologias, proporcionando qualidade de vida, bem-estar e diversos benefícios ao homem (VAZ; BENNEMANN, 2014). 11 MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR │ UNIDADE I Alimentação na prevenção de doenças O cenário epidemiológico e nutricional das últimas décadas tem se mostrado dinâmico, decorrente de modificações globais nos estilos de vida. A urbanização e a industrialização contribuem com a modificação nos padrões de alimentação, bem como com o surgimento de comportamentos sedentários. Com a transição alimentar, o perfil dietético das populações passou a ser definido por alta densidade energética, sendo os alimentos ricos em fibras e equilibrados em termos nutricionais substituídos por produtos ricos em gorduras e açúcares, que apresentam alto grau de processamento (COSTA, 2018). De acordo com a classificação nova, os alimentos ultraprocessados (AUP) são produtos que, em geral, diferentemente dos processados, não mantêm sua identidade básica por sofrerem diversas etapas e técnicas de processamento e por conterem substâncias utilizadas exclusivamente em indústrias. Os AUP são nutricionalmente desbalanceados e altamente consumidos em países de alta renda. Em países de média renda, como o Brasil, o seu consumo está crescendo aceleradamente. São exemplos desses produtos: biscoitos recheados, salgadinhos “de pacote”, refrigerantes, macarrão “instantâneo”, entre outros. A baixa qualidade nutricional desses alimentos tem impacto negativo na saúde dos indivíduos, sendo o consumo de AUP relacionado a alterações no perfil lipídico em crianças, à presença de síndrome metabólica em adolescentes e de obesidade em adolescentes e adultos (RAUBER F, CAMPAGNOLO P, HOFFMAN D, VITOLO M, 2015; LOUZADA MLC, et al. 2015). A escolha da dieta afeta profundamente as perspectivas de saúde a longo prazo. Apenas dois hábitos comuns do estilo de vida conseguem ser mais influentes: o tabagismo e outros usos de tabaco, e a ingestão exagerada de álcool. Muitas pessoas mais velhas sofrem de condições de saúde debilitantes, que, em grande parte, poderiam ter sido evitadas se elas tivessem conhecimento dos princípios de nutrição que conhecemos hoje, e aplicassem esses princípios durante toda sua vida (SIZER, 2003). A alimentação é um dos determinantes e condicionantes da saúde e um direito próprio a todas as pessoas. As consequências da insegurança alimentar e nutricional da população, a exemplo da obesidade, desnutrição e carências nutricionais específicas, recaem sobre o setor saúde e têm feito com que, historicamente, este tenha incorporado a responsabilidade de políticas e programas de alimentação e nutrição no Brasil. Porém, a garantia da Segurança 12 UNIDADE I │ MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR Alimentar e Nutricional requer uma conjunção de políticas públicas, dentre as quais a Política Nacional de Alimentação e Nutrição do SUS tem papel fundamental (ALVES, 2014). Transição nutricional São escassos os estudos de base populacional produzidos até hoje com a população brasileira cujo foco principal sejam os problemas nutricionais. Como exemplos, devemos ressaltar o Estudo Nacional sobre Despesas Familiares (ENDEF), realizado entre 1974 e 1975; a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN), de 1989; e mais recentemente, a Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), desenvolvida em 1997. A adequada análise dos resultados desses estudos foi de grande importância por vários motivos; primeiro, porque permitiu avaliar a magnitude dos agravos nutricionais mais importantes, bem como mapear alguns dos seus principais determinantes; segundo, porque depois de realizados em intervalos sistemáticos, permitiu estudar a tendência dos problemas nutricionais. É importante que se fale, que esses estudos, quando bem explorados, se constituem na base de boa parte da discussão sobre transição nutricional feita no Brasil até os dias de hoje. Entende-se por transição nutricional o fenômeno no qual ocorre uma inversão nos padrões de distribuição dos problemas nutricionais de uma determinada população no tempo, ou seja, uma mudança na magnitude e no risco atribuível de agravos associados ao padrão de determinação de doenças atribuídas ao atraso e à modernidade, sendo, em geral, uma passagem da desnutrição para a obesidade (KAC; MELÉNDEZ, 2003). Segundo Popkin e colaboradores (1993), o conceito de transição nutricional equivale às mudanças dos padrões nutricionais, modificando a dieta das pessoas e se ligando com mudanças sociais, econômicas, demográficas e relacionadas à saúde. Aspectos diferentes de nutrição e economia de um país ou região podem determinar diferenças no processo de transição. Contudo, a característica básica foi de crescimento da dieta rica em gorduras, açúcares, alimentos refinados e redução em carboidratos complexos e fibras. Normalmente,o aumento da obesidade está associado a esta dieta, conjuntamente com a diminuição da atividade física. Ela ocorre em regiões urbanas, mas pode acontecer também com a população das regiões rurais (TARDIDO; FALCÃO, 2006). 13 MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR │ UNIDADE I De acordo com Soares et al., (2013, p. 1): No Brasil impera uma transição nutricional fundamentada na má- alimentação. A desnutrição, um transtorno corporal baseado no desequilíbrio entre o aporte de nutrientes ingeridos e as necessidades do indivíduo, pode ser primária ou secundária, podendo também ser classificada em leve, moderada ou grave. O custo dos alimentos é um dos determinantes cardinais dos modelos de consumo, e os preços elevados dos alimentos podem levar a efeitos negativos importantes no conteúdo nutricional da população, principalmente da fração economicamente menos favorecida. Mas, a desnutrição infantil vem sendo cada vez mais erradicada e banida globalmente, sendo substituída pela má-nutrição (baseada no crescente consumo de alimentos industrializados) e pela obesidade. A conjectura global atual deriva dos padrões de vida inadequados provenientes do consumo alimentar hipercalórico e sedentarismo. O Brasil, vive um período de transição epidemiológica, com mudança no perfil de saúde pública, com predomínio de doenças crônico-degenerativas, sem, no entanto, resolver as doenças infectocontagiosas. A desnutrição diminui à medida que a obesidade se eleva em proporções epidêmicas. O consumo de alimentos com alta densidade energética declina a qualidade nutricional, levando ao ganho ponderal e ingestão inadequada de micronutrientes, o que pode estar ligado à baixa renda. A prevenção de desnutrição e da obesidade, deve se iniciar na infância, pela amamentação exclusiva e introdução de alimentos que componham uma dieta saudável, pela educação alimentar e nutricional e prática regular de atividade física. Com a transição nutricional dos últimos anos, a desnutrição como causa de morbimortalidade cede espaço para a obesidade como problema de saúde pública. Investimentos públicos em educação, saúde e saneamento, devem ser estimuladas e implantadas. Segundo Souza (2010) apud Batista Filho, Rissin, Kac e Velásquez-Meléndez (2003), apesar de um cenário agitado, envolvendo momentos marcantes nos campos da política, do esporte, da saúde e da educação, o Brasil, assim como outros países menos desenvolvidos, passou por importantes mudanças no processo de saúde/doença. Especialmente nos últimos cinquenta anos, são observadas alterações na qualidade e na quantidade da dieta, e, associadas a mudanças no estilo de vida, nas condições econômicas, sociais e demográficas, observam-se repercussões negativas na saúde populacional desses países. 14 UNIDADE I │ MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR Como consequência desses fatos, a prevalência de sobrepeso e da obesidade cresce consideravelmente e, como consequência, as doenças crônicas não transmissíveis, principalmente diabetes, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e cânceres, acarretando mudanças no padrão da distribuição das morbimortalidades das populações (SARTORELLI; FRANCO, 2003). Iatrogenia nutricional A alimentação compõe uma das atividades humanas mais importantes, não apenas por razões biológicas, como também por envolver aspectos econômicos, sociais, políticos, científicos, psicológicos e culturais, tornando-se fundamentais na dinâmica da evolução das sociedades (LOUZADA et al., 2015). A Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos (SBCTA) define tecnologia de alimentos como a aplicação de métodos e técnicas para o preparo, armazenamento, processamento, controle, embalagem, distribuição e utilização destes. Há ainda quem duvide da utilidade de incluir na dieta produtos alimentícios industrializados, pois a elaboração pode destruir, em pequena proporção, alguns nutrientes. Nos últimos tempos tem-se conseguido reduzir consideravelmente essas perdas pelo uso de técnicas aperfeiçoadas (GAVA, 1984). Por outro lado, conforme o autor supracitado, a utilização em grande escala de alimentos elaborados proporciona uma boa oportunidade para aumentar o valor nutritivo de certos alimentos de consumo, com a incorporação de determinados nutrientes (vitaminas, proteínas etc.) deficientes no produto natural. Essa complementação nutricional é difícil, senão praticamente impossível, de ser realizada no produto em estado natural. Porém, apesar dos benefícios, alguns alimentos prejudicam a saúde da população, quando consumidos de maneira inadequada. Um dos assuntos mais evidentes sobre a alimentação atual é o processo de distanciamento humano relacionado aos alimentos. A história da alimentação humana reflete que a preocupação constante com a busca e a produção de alimentos vem passando por modificações, tanto na forma de produzir quanto na de distribuir os alimentos. As possibilidades tecnológicas de produção de alimentos em larga escala e a sua conservação por longo tempo, bem como a viabilidade global de transporte e negociação desses itens, vêm ocasionando a ruptura espacial e temporal da produção e do acesso (PROENÇA, 2010). 15 MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR │ UNIDADE I Nessa mesma linha, a própria industrialização é percebida como um processo que pode distanciar o alimento das pessoas, na medida em que, muitas vezes, pode dificultar a percepção da origem ou dos ingredientes que compõem um determinado alimento. Os rótulos com informações alimentares e nutricionais, por exemplo, que têm importância em políticas públicas de saúde e segurança do consumidor, podem causar estranheza pela falta de reconhecimento dos nomes de produtos químicos citados na lista de ingredientes como componentes alimentares. Alguns desdobramentos da denominada gastronomia molecular que, trabalhando quimicamente os compostos alimentares, praticamente desconstrói a identidade da comida para buscar novas sensações no ato de comer (PROENÇA, 2010). Associadamente a essas probabilidades de distanciamento, nunca se buscou tanta informação sobre alimentação, fato demonstrado pela expansão dos veículos de comunicação como publicações escritas (livros, revistas e jornais), televisão e sites de internet, com os profissionais da mídia realimentando esse interesse. Outra vertente dessa questão é o fenômeno cultural recente do tratamento de destaque dado aos cozinheiros, atualmente denominados chefs seguindo a lógica francesa. Tais profissionais, com a tendência globalizante, trabalham para além do fazer comida, divulgando comportamentos e vendendo produtos associados, muitas vezes induzindo práticas alimentares (PROENÇA, 2010). Segundo Proença (2010), a concepção de cozinha nos domicílios vem se transformando, partindo de um espaço reservado para se tornar um ambiente aberto para a área social. Porém, observa-se, muitas vezes, que essas áreas gourmet parecem não ter sido feitas realmente para cozinhar, posto que os acabamentos, equipamentos e utensílios são selecionados e adquiridos mais pela sua capacidade de combinar com a decoração do espaço do que por sua funcionalidade para o ato de preparar alimentos. De tal modo, discute-se que essas tendências podem levar tanto à homogeneização quanto à diferenciação da alimentação. Um exemplo é a ascensão das preocupações com a gastronomia, com destaque para a comida que representa etnias tradicionais. Reconhece-se que essa tendência sempre ocorreu pelas migrações humanas; contudo, com as possibilidades da globalização, as modas gastronômicas vêm se repetindo com maior velocidade. Portanto, observa-se a evidência recente da comida japonesa, mexicana, tailandesa, entre outras, em diversos lugares, além dos restaurantes ditos típicos, simplesmente misturando-se às comidas locais, como por exemplo 16 UNIDADE I │ MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR um restaurante brasileirodo tipo buffet, com o oferecimento de sushi, típico da culinária japonesa, em churrascarias (PROENÇA, 2010) Um meio primário de promover saúde e prevenir doenças em determinada população está no suprimento de alimentos saudáveis e nas boas condições de nutrição que isto acarreta. Hipócrates, (considerado o maior médico da antiguidade e pai da medicina moderna) disse: “Faça do alimento o seu medicamento e que o seu medicamento seja o alimento”. Na atualidade, está comprovado que o alimento pode se constituir um verdadeiro e eficaz medicamento, desde que se obedeça aos princípios básicos da alimentação: qualidade, quantidade, proporcionalidade e adequação. Na prática clínica, é fundamental que se esteja alerta quanto aos benefícios dos alimentos ou produtos alimentares e seus possíveis efeitos sobre as doenças, e também quanto ao potencial de risco quando em excesso no organismo. Vale salientar que vários nutrientes atuam sinergicamente (LOUZADA et al., 2015). Diferentes grupos de cientistas que se integram no National Cancer Institute e na New York Academy of Sciences concordam que a nutrição é vital na prevenção, no tratamento e na cura de diversas doenças. Bem como edições do New Engleand Journal of Medicine, Jounal of American Medical Association, European Journal of Cancer e American Journal of Clinical Nutrition, relataram que vitaminas, minerais e outras substâncias encontradas nos alimentos aparentam ter efeitos protetores contra certas doenças, incluindo câncer, hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, osteoporose e no retardo do processo de envelhecimento (JUNIOR, 2017). Observa-se que, a partir dos anos 1950, os hábitos alimentares dos americanos foram modificados por meio dos fast foods, espalhados por todo o país, constituídos de alimentos processados, ricos em gorduras e sódio. E, comparativamente, na alimentação de povos de países menos afluentes, houve diminuição na frequência de doenças cardiovasculares e de câncer. Os indícios apontam para fatores como nutrição e estilo de vida, pois a alimentação desses povos tem maior quantidade de frutas, vegetais e grãos, sendo consequentemente mais rica em fibras e pobres em gorduras, exercendo efeito protetor da saúde (JANNUZZI et al., 2016). Conforme afirma Júnior (2017), muitas vitaminas, minerais e outras substâncias químicas encontradas nos alimentos protegem contra o câncer através da produção de enzimas que ajudam a bloquear a ação dos cancerígenos. Em alguns casos, o ‘’protetor’’ pode desativar os compostos que insimulam 17 MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR │ UNIDADE I o desenvolvimento do câncer, ou mediar a cadeia de eventos que produzem resposta inflamatória, que desencadeiam atrite, psoríase e lúpus. Alguns antioxidantes evitam a formação de radicais livres, outros ajudam na ação eficaz do sistema imune, proporcionando condições ao nosso organismo para se defender contra os agentes invasores. Alguns alimentos são conhecidos como medicamentos naturais, alimentos medicinais, funcionais ou nutracêuticos, e possuem a capacidade de agir como os medicamentos. São nutrientes farmacologicamente ativos. Considera-se que haja cerca de 100 componentes alimentares que podem exercer proteção contra vários tipos de doenças, como por exemplo: antioxidantes, bioflavonoides, betacaroteno e carotenoides, catequinas, cumarinas, indóis, ácido elágico, ácidos graxos, fibras, genistein, Ômega 3, limoneno, isoflavonas, quinonas, lignanas, sulforafane, sulfito, vitaminas, minerais entre outros (NEUMANN, 2002). O corpo repara suas estruturas continuamente e diariamente as constrói moderadamente, músculos, ossos, pele e sangue, substituindo os velhos tecidos por tecidos novos. Acrescendo também um pouco de gordura, consumindo energia alimentar em excesso (calorias), ou subtraindo, no caso do consumo menor do que necessitamos. Dessa maneira, o alimento que ingerimos hoje, torna-se parte de nós amanhã. O melhor alimento é aquele que dá suporte ao crescimento e à manutenção de músculos fortes, ossos firmes, pele sadia e sangue necessários para purificar e nutrir todas as partes do corpo. Isso significa que necessitamos de alimentos que ofereçam energia, bem como nutrientes satisfatórios, ou seja, quantidade suficiente de água, carboidratos, gordura, proteína, vitaminas e minerais (LOUZADA et al., 2015). Se os alimentos que ingerimos nos fornece pouco, ou em demasia, de qualquer nutriente hoje, nossa saúde pode sofrer ligeiramente seus efeitos. Se os alimentos ingeridos fornecem poucos nutrientes diariamente durante anos, então quando envelhecermos, poderemos sofrer seus efeitos manifestados em determinadas doenças graves, por exemplo. O fato é que uma variação bem selecionada de alimentos supre a energia e a quantidade necessária de cada nutriente, para prevenção da má nutrição. Na má nutrição podemos incluir deficiência, desequilíbrios e excesso de nutrientes, e qualquer um deles pode nos cobrar uma contribuição da saúde por um longo tempo. Conforme a autora acima citada, compreendemos que uma alimentação variada e saudável compõe os requisitos necessários para o processo de funcionamento 18 UNIDADE I │ MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR curativo dos organismos humanos. Uma boa nutrição significa preservação de doenças crônicas e qualidade de vida. Através de uma alimentação saudável seguindo as proporções adequadas, podemos evitar muitos problemas de saúde. Entretanto, a modernização dos alimentos apresentou um descompasso existente entre o consumo e a obtenção destes, graças ao aumento da população mundial, o reflexo hoje está no impacto que estas escolhas alimentares estão provocando no meio ambiente e na própria saúde do indivíduo. Resultando na oferta cada vez maior de alimentos superindustrializados, pobres em fibras, sódio em excesso, corantes e gorduras trans e aditivos químicos. Determinadas dietas que possuem alta densidão energética danificam a capacidade do organismo humano de regular o balanço energético, aumentando assim o risco de ganho excessivo de peso. O consumo excessivo do açúcar livre na dieta também aumenta o risco de ganho excessivo de peso e da obesidade, além de aumentar a incidência da cárie dentária. Substâncias em excessivos de gorduras saturadas e/ou trans aumentam os índices de morbimortalidade por doenças cardiovasculares. Em contrapartida, a ingestão insuficiente de fibras aumenta o risco de diversas patologias e vários tipos de câncer, como o de cólon, reto e de mama, enquanto a ingestão insuficiente de potássio aumenta o risco de hipertensão arterial (LOUZADA, 2015). O teor excessivo de sal, açúcar e gorduras não são as únicas características nocivas à saúde. Esses alimentos comumente apresentam alta densidade energética e escassez de fibras. Implica notar que tanto o excesso como a alta densidade energética e a deficiência de fibras são características intrínsecas dos alimentos ultraprocessados na medida em que procedem da natureza dos seus ingredientes (produtos altamente refinados) e da necessidade de obter os alimentos para consumo com grande prazo de validade (BRASIL, 2014). Podemos compreender que, “o excesso da quantidade é pior que a má qualidade”, desse modo, mesmo que nos alimentemos com produtos orgânicos saudáveis, o seu excesso causará prejuízos a nossa saúde. Semelhante ao uso excessivo de medicamentos, que ingerido abusivamente, sem controle, sem indicação médica, fazendo por meio da automedicação, são causadores de transtornos ao organismo humano (CAMPOS et al., 2014). As práticas alimentares como determinantes da ampliação da obesidade têm sido reconhecidas em numerosos estudos. Entre os adolescentes, a alimentação inadequada, marcada pelo consumo excessivo de açúcares e gorduras, associada à ingestão escassa de frutas e hortaliças, contribui diretamente 19 MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR │ UNIDADE I para o ganho excessivode peso. Por se tratar de fatores susceptíveis de intervenção, recomenda-se que estratégias de caráter educativo sejam adotadas, tanto em nível coletivo quanto individual, como forma de incentivar o consumo de alimentos saudáveis e estimular a prática regular de atividades físicas (ABREU, 2011). Conforme o autor supracitado, o ambiente escolar voltado para a promoção de hábitos de vida saudáveis também deve ser encorajado, por ser um local de claro convívio social e adepto para atividades educativas. As interferências nos hábitos de vida devem ser iniciadas rapidamente, já que é na adolescência que ocorrem mudanças enormes na personalidade do indivíduo e por este motivo é considerada uma fase favorável para a concretização de hábitos que poderão acarretar implicações diretamente para a saúde na vida adulta. O consumo excessivo de alimentos ricos em açúcares é um grande motivo de preocupação, tendo em vista as consequências causadoras destes alimentos quando consumidos de forma desequilibrada em relação à adequada alimentação. A ingestão energética em excesso pode ser proveniente do aumento da oferta de alimentos em grandes quantidades, podendo repercutir sobre a elevada prevalência do excesso de peso (sobrepeso e obesidade) (DALMOLIN et al., 2012). Segundo os autores supracitados, em vários países, nos últimos anos, tem sido observada a rápida mudança na composição dietética, a qual está associada a fatores econômicos, demográficos, sociais, epidemiológicos e nutricionais. Segundo pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi identificado um desequilíbrio entre os alimentos disponíveis em domicílios, devido à presença excessiva de açúcar, com importante incremento no consumo de refrigerantes, doces e bebidas. Os resultados dos presentes estudos revelaram consumo excessivo de açúcares nos domicílios brasileiros, ultrapassando mais de 50% o limite de consumo recomendado pela Organização Mundial da Saúde – OMS. O elevado consumo de açúcares na população brasileira excede as recomendações internacionais, destacando a necessidade de intervenções visando a sua redução. Ponderando que o açúcar proveniente de alimentos processados vem substituindo o açúcar de mesa como principal fonte de consumo dos açúcares nas últimas décadas, intervenções para reduzir o consumo de alimentos processados e incentivo a práticas alimentares saudáveis assumem um caráter emergencial (DALMOLIN et al., 2012). 20 UNIDADE I │ MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR Os carboidratos são uma das principais fontes de energia para o organismo. Como eles se encontram presentes em diferentes alimentos, o seu consumo excessivo pode acarretar doenças como obesidade e diabetes, entre outros. Estudos divulgados por pesquisadores da Universidade da Cali fórnia sobrepuseram mais um dano à saúde devido aos problemas trazidos pelo consumo de açúcar, que, a lém de aumentar os r iscos de doenças como o diabetes, também pode atrapalhar o aprendizado e a memória. Os pesquisadores conseguiram comprovar que os al tos consumos de frutose reduziram o número de conexões entre as células nervosas de ratos (ALVES, 2014). Através da história, o homem adquiriu quantidades limitadas do açúcar por meio de frutas ou mel. O consumo anual, no final do século XIX, era de 2 quilos por pessoa, atualmente é em média de 37 quilos. Essa mudança drástica acarretou ao organismo humano várias consequências. Estudos mostram que o açúcar pode ser responsável por problemas que vão de miopia e acne até o câncer (MANHANI et al., 2014). Devido à elevação nos níveis de serotonina e dopamina, substâncias produzidas no cérebro e que estão conexas ao prazer e ao bem-estar, o açúcar pode, de fato, se tornar um vício. Todavia, a dependência causada pela sensação de prazer decorrente do consumo de açúcar é de ordem psicológica e não química. Atualmente há quem acredita que se consumirmos o açúcar em pouca quantidade isso não nos trará mal algum, mas na verdade qualquer consumo de açúcar, independentemente da quantidade, fará muito mal para o organismo. Toda grama consumida de açúcar se tornará muita caloria ingerida e nada de nutriente para o corpo (SAWAYA e FILGUEIRAS, 2013). O açúcar é considerado um produto que está ligado diretamente à coparticipação para o aparecimento de muitas doenças como câncer, arteriosclerose, leucemias, varizes, enxaquecas, insônia, problemas pulmonares, distúrbios menstruais, infecções, hipertensão, constipação, diarreias crônicas, perturbações visuais, distúrbios glandulares, problemas de pele, anomalias digestivas, cáries dentárias, osteoporose, problemas de crescimento e desenvolvimento, doenças do colágeno, doenças de autoagressão, entre outras, principalmente a diabete e hipoglicemia. Estudos revelam que mais de 3 milhões de indivíduos morrem todos os anos no mundo, sendo vítimas do excesso de glicose no sangue. Destas mortes, ± 9 mil se devem inteiramente ao diabetes, e ± 2 milhões são decorrência de transtornos cardiovasculares causados pelo excesso de açúcar. Já a hipoglicemia, que é 21 MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR │ UNIDADE I a ausência de açúcar no sangue, é um distúrbio que se manifesta sob várias formas, como: fraqueza, vertigens, sensação de desmaio, tonturas, prostração, depressão, angústia, palpitação cardíaca, sudorese, entre outras sintomatologias (SAWAYA e FILGUEIRAS, 2013). Conforme os autores supracitados, o desenvolvimento natural da hipoglicemia, embora modificável, é a diabetes. Dependendo de vários fatores, o pâncreas pode se cansar após muito tempo da produção excessiva de insulina, assim sendo, ele começa a produzir menos do que o necessário e como resultado há o aumento no sangue dos níveis de açúcar, determinando a hiperglicemia. Nessa circunstância os sintomas são diferentes, o paciente não sente muito, a não ser bastante sede, muita vontade de urinar e quem sabe muita fome. O açúcar rotativo começa a ser depositado e os problemas da diabetes vão surgindo. O consumo vicioso em açúcar resulta numa condição bastante ácida no organismo, que se descalcifica e desmineraliza. O corpo passa a sentir falta de cálcio, zinco, magnésio, entre outros nutrientes protetores. Pode-se considerar também o açúcar como um fator cancerígeno, pois é imunodepressor, e com isso, ocorre a diminuição da capacidade de defesas do organismo e principalmente por eliminar íon magnésio, devido à maneira excessiva como é consumido atualmente (MACHADO, 2012). O consumismo do açúcar vem alargando-se em todas as partes do mundo. Uma nova orientação da OMS propõe que a quantidade diária de açúcar na alimentação seja reduzida à metade. Antes, do consumo total de calorias ingeridas, 10% poderia ser de açúcar. Atualmente, basta 5%, com inclusão de açúcares adicionais, aqueles inseridos nos alimentos industrializados durante seu processamento (CARVALHO, 2017). Costuma-se dizer que a alimentação dos indivíduos está mais voltada para o prazer de comer do que para o valor nutritivo do alimento, ou seja, come-se por prazer e não pelo que aquele alimento representa nutricionalmente. Nos costumes alimentares da população brasileira não há lugar de destaque para frutas e hortaliças, visto que o prazer alimentar está centrado na mistura de massas, gorduras, doces e carnes (SILVA et al., 2014). Doenças crônicas não transmissíveis Na segunda metade do século passado, o Brasil começou um processo de mudanças em sua estrutura política, econômica, social e demográfica que 22 UNIDADE I │ MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR provocou profundas transformações nas condições de saúde de sua população (PAIM, 2014). A Sociedade Brasileira tornou-se predominantemente urbana e o acesso à água potável, saneamento básico e serviços públicos, como educação e saúde, aumentou. O perfil ocupacional, o padrão dietético-nutricional e a frequência da prática da atividadefísica também se modificaram (PAIM, 2014). Em 1998, com a promulgação da nova Constituição Federal, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi fundado, estabelecendo a saúde como um direito universal dos cidadãos e um dever do Estado. Com isso, a cobertura do sistema público de saúde que antes era restrito aos segurados da previdência social, passou de 30 para 190 milhões de pessoas (PAIM, 2014). A expectativa de vida ao nascer cresceu e a taxa de fecundidade diminuiu, resultando em redução no percentual de crianças e adolescentes e em aumento do percentual de idosos na população. Como consequência dessas mudanças, as doenças infecciosas deixaram de ocupar a posição de principal grupo de problemas de saúde da população brasileira, passando o posto para as doenças crônicas não transmissíveis (PAIM, 2014). O Brasil enfrenta, atualmente, os desafios do processo do envelhecimento populacional, consequente da mudança na estrutura etária, a qual está ocorrendo em ritmo acelerado, marcada pela heterogeneidade nas diferentes regiões brasileiras e pelo contexto socioeconômico desfavorável. (VIEIRA et.al, 2016). O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo que causa várias alterações no organismo, sejam de ordem morfológica, psicológica, funcional ou biológica, acarretando diminuição da capacidade funcional e desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. As alterações se originam do acúmulo de danos, ao longo da vida, causados, sobretudo, pela interação entre fatores genéticos e hábitos não saudáveis, como dieta desbalanceada, tabagismo, etilismo e sedentarismo (VIEIRA et.al, 2016). As Doenças Crônicas ou Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como são chamados os conjuntos de doenças que não possuem ligação com fontes infecciosas, são apontadas como a maior causa de mortes anualmente em âmbito mundial, nesse contexto, grande atenção vem sendo dada e este tema e diversos estudos elencam a gravidade desse fenômeno bem como o impacto dele na saúde e bem-estar da população de todo o mundo (FERREIRA, 2014). 23 MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR │ UNIDADE I Figura 1. Índice de doenças crônicas acometidas por brasileiros. 1,40 0 24222018161412108642 1,50 1,80 2,40 4,20 4,40 6,20 7,60 12,50 18,50 21,40 Insuficiência Renal AVC Câncer Distúrbios osteomoleculares Cardiopatia Asma Diabetes Depressão Colesterol Coluna Hipertensão Incidência (%) Doenças crônicas no Brasil (%) Fonte: (ABRASCO, 2014). De acordo com Freitas e Mendes, (2007, p.07): Doença crônica é percebida como algo ruim que provoca alterações, transtornos na vida como limitação, inabilidade e disfunções orgânicas e corporais; são doenças decorrentes do modo social de organizar a vida, imperfeições transitórias ou não, decorrentes do não aperfeiçoamento da sociedade, “ainda” com mitos defeitos, além da hipertrofia dos sistemas de saúde que tratam dessas imperfeições; Doença não infecciosa, doenças crônicas não transmissíveis ou crônico-degenerativas são terminologias usadas para definir grupos de patologias caracterizadas pela ausência de micro-organismo no modelo epidemiológico, pela não transmissibilidade, pelo longo curso clinico e pela irreversibilidade. As DCNT compõem o maior problema global de saúde e têm ocasionado elevado número de mortes prematuras, perda de qualidade de vida, incapacidades, além de impactos econômicos para as famílias e a economia dos países. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que as DCNT sejam responsáveis por cerca de 70% de todas as mortes no mundo. No Brasil, as DCNT também se constituem como o problema de saúde de maior magnitude e correspondem a cerca de 75% das causas de morte (MALTA, 2017). 24 UNIDADE I │ MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR O Ministério da Saúde (2011) aponta como determinantes sociais das DCNT as desigualdades sociais, as diferenças no acesso aos bens e aos serviços, a baixa escolaridade, as desigualdades no acesso à informação, além dos fatores de risco que podem ser modificados, como tabagismo, consumo de bebida alcoólica, falta de atividade física e alimentação inadequada, tornando possível sua prevenção. De acordo ainda com o Ministério da Saúde, as DCNT têm ocasionado elevado número de mortes prematuras, perda de qualidade de vida com alto grau de limitação nas atividades de trabalho e de lazer, além de impactos econômicos para as famílias, comunidades e a sociedade em geral, piorando as iniquidades e aumentando a pobreza. Segundo Schmidt (2011) apud Brasil (2011) em 2007, a taxa de mortalidade por DCNT no Brasil foi de 540 óbitos por 100 mil habitantes, tendo visto uma redução de 20% nessa taxa na última década, principalmente em relação às doenças do aparelho circulatório. A mesma publicação afirma que um terço dessas mortes ocorre em pessoas com idade menor que 60 anos. Frente o conhecimento e descrição dos determinantes das DCNT e a alta taxa de mortalidade relacionada, importantes políticas de enfrentamento dessas doenças são realizadas pelo Ministério da Saúde nos últimos anos, dentre as quais se destaca a Organização da Vigilância de DCNT, cujo objetivo é conhecer a distribuição, a magnitude, a tendência das doenças crônicas, agravos e seus fatores de risco, além de apoiar as políticas públicas de promoção à saúde (BARBOSA, 2014). A epidemia de DCNT resulta em consequências devastadoras para os indivíduos, famílias e comunidades, além de sobrecarregar os sistemas de saúde. Estudos diversos consideram que as DCNT afetam mais populações de baixa renda, por estarem mais suscetíveis, mais expostas aos riscos e terem menor acesso aos serviços de saúde e às práticas de promoção à saúde e prevenção das doenças. A Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia que as pessoas com DCNT têm sua situação de pobreza agravada, pelos maiores gastos familiares com a doença ao procurarem pelos os serviços, dentre outros (MALTA, 2017). Malta, et al., (2012), afirmam que as DCNT também resultam em crescente impacto econômico, afetando famílias, sistema de saúde e sociedade. Estudos apresentam estratégias de controle dos fatores de risco dessas doenças, associadas com educação comunitária e monitoramento dos indivíduos de alto risco, contribuíram para uma queda substancial na mortalidade em quase todos os países desenvolvidos e o crescimento do impacto dessas doenças deve-se às mudanças na pirâmide demográfica, ao aumento da longevidade, a 25 MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR │ UNIDADE I maior intensidade e diversidade de exposição a diferentes fatores de risco e às modificações no padrão de consumo e expectativas de acesso a bens materiais, verificados em várias regiões do mundo (JUNIOR, 2014). Desse modo, as DCNT representam uma significativa e progressiva demanda no que diz respeito à atenção à saúde, exigindo tanto a proposta de medidas preventivas quanto a necessidade de controle e monitoramento (SANTOS, 2013). A fim de proporcionar melhora na qualidade de vida se fazem necessárias condutas de cuidados contínuos, apoio aos tratamentos, ações de educação em saúde, apoio social e emocional (FERREIRA, 2014). Dentre os Serviços Integrados de Saúde (SIS), destaca-se no monitoramento da mortalidade em DCNT o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH-SUS), que contém dados sobre diagnóstico das internações hospitalares, gastos, tendências, entre outros sistemas como: Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade (APAC), que apresentam informações relativas aos procedimentos considerados de alta complexidade; o Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB), contendo dados sobre procedimentos de atenção básica; os Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) e os Registros Hospitalares de Câncer (RHC), que permitem estimativas de incidência de câncer, sobrevida e mortalidade; e o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), que recolhe informações sobre as causas de morte e suastendências (TEIXEIRA NETO,2017). Com relação à dieta-modificação de hábitos alimentares, não há um tipo de tratamento dietoterápico modelo, mas o fundamental é a modificação dos comportamentos nutricionais inadequados, tais como: alimentação pouco variada, com predominância de carboidratos; aversão por frutas, verduras e legumes; pular e/ou substituir refeições importantes como café da manhã, almoço ou jantar, atitude mais frequente entre adolescentes do sexo feminino, que buscam uma forma rápida de atingirem o padrão de beleza atual; fazer refeições na frente da televisão; alto consumo de alimentos do grupo de “calorias vazias” (baixo valor nutritivo) como bala, chiclete, doce, refrigerante, ao longo do dia (LEAL, 2012). Essas doenças e seus fatores de risco afetam pessoas de todos os grupos socioeconômicos, especialmente aquelas mais vulneráveis, como os idosos e indivíduos de famílias com baixo nível educacional ou menor renda. No Brasil, inquéritos populacionais de saúde têm apontado maior frequência de tabagismo em indivíduos de ambos os sexos, e de obesidade entre mulheres e pessoas com menor nível educacional, além de dietas pouco saudáveis. Os fatores de risco 26 UNIDADE I │ MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR modificáveis compõem a causa expressa de grande parte da carga das doenças, tanto na mortalidade geral quanto nas mortes prematuras e incapacidades decorrentes relacionadas às DCNT. Parte dessa carga ocorre devido às condições em que as pessoas nascem, vivem, trabalham e envelhecem, ou seja, da atuação dos determinantes sociais sobre a saúde da população. Determinantes sociais estabelecem posições socioeconômicas, as quais, por sua vez, geram hierarquias de poder e de acesso a recursos básicos, entre eles os relacionados à promoção da saúde e prevenção de agravos (FRANCISCO, 2015). No Brasil, as DCNT transformaram-se num dos principais problemas de saúde pública (BRASIL, 2011). Demandando assim uma atenção especial tanto da sociedade quanto do governo. Um plano criado em 2011 “define e prioriza as ações e os investimentos necessários à preparação do país para enfrentar e deter as DCNT e seus fatores de riscos nos próximos dez anos”. O plano aborda os quatro principais grupos de doenças citados anteriormente, bem como seus fatores de risco em comum modificáveis, tais quais: tabagismo, álcool, inatividade física, alimentação inadequada e obesidade. Visa ainda promover o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas efetivas no que diz respeito ao fortalecimento da Atenção Básica de Saúde no país (MALTA, DYMECH, MORA e SILVA, 2013). Principais tipos de doenças crônicas não transmissíveis De acordo com Sampaio e Sabry (2007, p. 05): As doenças crônico-degenerativas são reconhecidas como as categorias de afecções como doenças cardíacas e as cerebrovasculares, as neoplasias, o diabetes, a hipertensão, as doenças autoimunes etc. Mas algumas doenças infecciosas podem apresentar um processo degenerativo. As doenças não infecciosas são as patologias caracterizadas por ausência de micro-organismos de modelo epidemiológico, pela não-transmissibilidade, pelo longo curso clínico e pela reversibilidade. As doenças crônicas não transmissíveis (DNCT) são caracterizadas por incluir doenças com: 1. História natural prolongada. 2. Multiplicidade de fatores de risco complexos. 27 MUDANÇAS SOCIAIS E IMPACTO NO CONSUMO ALIMENTAR │ UNIDADE I 3. Interação de fatores etiológicos conhecidos e desconhecidos. 4. Longo período de latência. 5. Longo curso assintomático. 6. Curso clínico em geral lento, prolongado e permanente. 7. Evolução para graus variados de incapacidade ou morte. Os danos para a saúde que podem acontecer devido ao consumo insuficiente ou excessivo de alimentos são, há muito tempo, conhecidos pelos seres humanos, mas recentemente surgem evidências de que características qualitativas da dieta sejam importantes na definição do estado de saúde, principalmente no que diz respeito às doenças crônicas degenerativas da idade adulta (TARDIDO; FALCÃO, 2006). 28 UNIDADE II DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS CAPÍTULO 1 Doenças crônicas não transmissíveis e seu impacto na estética e qualidade de vida Fatores que influenciam para o surgimento das DCNT’s Tabagismo De acordo com Souza et al. (2016), apud Vizzolto; Seganfredo (1992), é interessante ressaltar que a fumaça do tabaco contém mais de 4.000 substâncias químicas, todas desencadeando importantes distúrbios e lesões no organismo. A nicotina é uma destas substâncias responsáveis pela dependência física, psíquica e síndrome de abstinência; sua ação é essencial sobre o cérebro e o sistema cardiocirculatório. Além de atuar no SNC, a nicotina também causa aumento da liberação de catecolaminas séricas, promovendo vasoconstrição e aumentando a frequência cardíaca e tendo como consequência a elevação da pressão arterial. O monóxido de carbono do cigarro diminui a oxigenação das células e dos órgãos em geral, muito prejudicial para o coração e o cérebro. O alcatrão encontrado no tabaco contém também muitas substâncias cancerígenas, chamadas hidrocarbonetos. Além do alcatrão, o fumo contém outras substâncias nocivas ao organismo. Após o abandono do cigarro, a incidência de algumas doenças começa a diminuir. Depois de um ano, a de doença cardíaca cai à metade, atingindo, em dez anos, porcentagem semelhante à da população geral (NOGUEIRA e SILVA, 2004). 29 DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS │ UNIDADE II Alcoolismo Com relação ao álcool, vários estudos populacionais têm mostrado relação positiva entre o consumo dele e a pressão arterial. A maioria dos estudos demonstram que parece existir um limite. Acima deste limite passa a haver correlação direta entre o álcool e a pressão arterial e abaixo os níveis pressóricos dos bebedores são semelhantes ou talvez até menores que os do não bebedores (SAMPAIO; SABRY, 2007). A ingestão de cerca de 30 g/dia de álcool (duas doses de bebidas destiladas) pode elevar a pressão sanguínea, pois seu consumo excessivo pode reduzir o efeito dos medicamentos para HAS. Segundo outros, 90g de etanol sobem a pressão a 3 mmHg. Estudo longitudinal de base populacional mostrou aumento do risco de hipertensão arterial em homens que consumiam bebidas em excesso (oito ou mais drinques/dia), o mesmo foi observado em mulheres (SAMPAIO; SABRY, 2007). Obesidade A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera obeso o paciente que obtiver um cálculo de índice de massa corpórea (IMC) acima de 30 kg/m², sendo classificado como obesidade mórbida pessoas com IMC acima de 40 kg/m². o IMC relaciona o peso em quilos versus a altura em metros ao quadrado, sendo um importante indicador prévio para triagem de diversas comorbidades. Nas situações onde há o diagnóstico de obesidade, se torna de maior probabilidade o surgimento de várias doenças decorrentes do excesso de peso no mesmo paciente e ainda o perigo de vida. A obesidade é definida como um excesso de gordura corporal não saudável. No entanto, há dificuldade na medida correta da composição corporal, principalmente do compartimento de gordura, em função da necessidade de uso de tecnologias que não estão disponíveis na rotina ambulatorial e hospitalar tão facilmente. Contudo, o índice de massa corporal (IMC), calculado como sendo o peso corporal (kg) dividido pela altura ao quadrado (m²), tem sido bastante utilizado e aceito como um método simples para a classificação de risco para comorbidades e condições clínicas considerando o peso corporal. Por outro lado, esse índice nos possibilita, além de uma medida da relação peso e altura, um índice que está correlacionado à porcentagem de gordura corporal em adultos e jovens de meia idade. 30 UNIDADE II │ DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS No adulto, após o cálculo de IMC, como mostrado no quadro 4, os indivíduos são caracterizados obesos quando o índice atinge valores iguais ou maiores a 30 kg/m².(BUSNELO, 2007). De acordo com Scheen AJ, Luyckx FH, Desaive C, Lefebvre, PJ. (1999) e Olson TP, Dengel DR, Leon AS, Schmitz KH (1999), as já referidas comorbidades da obesidade são perigosas, afetam a fisiologia do paciente e também delas resultam danos psicológicos e sociais, compreendendo anomalias no sistema endócrino que em via consequente desenvolve doenças metabólicas (diabetes mellitus, dislipidemias, hipertensão arterial, câncer e outras), há preponderância também de osteoartrite, insuficiência respiratória, apneia do sono, e problemas de ordem psicológica como depressão, baixa autoestima e dificuldade de socialização, ressaltando-se nessa proposição abundante tendência ao desenvolvimento de patologias cardiovasculares e psicológicas. A obesidade é uma doença crônica complexa influenciada por diversos fatores que se inter-relacionam sendo caracterizada pelo excesso de massa adiposa. A obesidade é um reconhecido problema de saúde pública, o que se deve a sua grande influência negativa sobre a qualidade de vida, doenças metabólicas, cardiovasculares, alguns tipos de cânceres e mortalidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o sobrepeso e a obesidade são responsáveis pela morte de 2,8 milhões de pessoas por ano (OMS, 2018). Na maior parte das vezes, a forma de remediar as ditas comorbidades é a redução do peso, todavia, de acordo com o referendado por Dymek MP, Grange D, Neven K, Alverdy J (2002), a terapia dietética associada ao combate ao sedentarismo em pacientes portadores de obesidade mórbida, não tem surtido o efeito desejado. A princípio, com a diminuição de peso, ocorre uma melhora frente às comorbidades, porém a dificuldade na manutenção desse estado tem sido o enfrentamento a longo prazo. Ao longo das últimas décadas, o mundo vem observando um alarmante aumento do índice de massa corpórea (IMC) médio e da prevalência de excesso de peso (sobrepeso e obesidade) em todos os estratos etários, sem expectativa de retração para os próximos anos (NCD RISK FACTOR COLLABORATION, 2017). Especificamente no Brasil, inquéritos realizados a partir da década de 70 até 2013 demonstram comportamento ascendente e contínuo da prevalência de sobrepeso/obesidade. Nesse intervalo de tempo, a prevalência de sobrepeso mais que dobrou (23,6% para 58,6%) e de obesidade quadruplicou (5,4% para 21,4%) em pessoas com 20 anos ou mais (IBGE, 2010; IBGE, 2014). 31 DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS │ UNIDADE II A obesidade é usualmente classificada baseada no IMC (peso corporal em kg dividido pela altura em metros ao quadrado) devido à grande facilidade e baixo custo (tabela 1). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), classifica-se como sobrepeso o adulto com IMC entre 25 e 29,9 kg/m² e obeso aquele com IMC maior ou igual a 30 kg/m² (OMS, 1995). Existem ainda tabelas específicas para a classificação de obesidade em crianças e adolescentes que ajustam o IMC de acordo com a idade e o sexo. Embora não seja uma ferramenta para definição mais precisa do conteúdo e localização corporal de gordura, sua utilização permite uma noção da corpulência sendo útil em avaliações preliminares de saúde e estudos populacionais. Existem robustas evidências de estudos epidemiológicos demonstrando estreita relação entre o IMC e doença cardiovascular/mortalidade (e outros aspectos de saúde) que corroboram positivamente para sua utilização como parte da avaliação clínica. Uma vez que o IMC não distingue entre massa gorda e massa magra, é importante considerar que pessoas com mesmo IMC podem apresentar diferenças quanto a sua composição corporal. Assim, sua utilização em idosos, devido à sarcopenia, e atletas, especialmente aqueles com ganho importante de massa magra, deve ser observada com cuidado para não subestimar ou superestimar a classificação do IMC. Outros métodos de avaliação da composição corporal devem ser utilizados em associação ao IMC para melhor acurácia individual, como por exemplo, a quantificação das pregas cutâneas, circunferências, utilização da bioimpedância elétrica, dual-energy X-ray absorptiometry (DEXA), entre outros. Cada método deve ser considerado a depender do custo-benefício e disponibilidade do equipamento. Tabela 1. Classificação de adultos segundo o índice de massa corporal. Classificação IMC (Kg/m²) Risco de doença Magro ou baixo peso < 18,5 Normal ou elevado Normal ou eutrófico 18,5 - 24,9 Normal ou elevado Sobrepeso (pré-obeso) 25 - 29,9 Pouco elevado Obesidade, Grau I 30 - 34,9 Elevado Obesidade, Grau II 30 - 39,9 Muito elevado Obesidade, Grau III ≥ 40,0 Muitíssimo elevado Fonte: Organização mundial de Saúde, 1995. De maneira simplista, a obesidade ocorre devido a um balanço energético positivo sustentado (quando o consumo de calorias excede seu gasto). Baseado nesse conceito, historicamente indivíduos obesos são prejulgados 32 UNIDADE II │ DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS como preguiçosos, gulosos, indisciplinados, desconsiderando as complexas interações de fatores biológicos, comportamentais, sociais e ambientais que definem nosso peso corporal. Estudos de hereditariedade estimam uma influência da genética de cerca de 40 a 70% do peso corporal (STUNKARD et al., 1986, BRAY et al., 2015). Apesar do forte impacto da hereditariedade, nosso conhecimento sobre a genética da obesidade ainda é reduzido. Na obesidade poligênica, principal forma genética da obesidade, acredita-se que um grande número de genes de pequeno efeito module a suscetibilidade à essa condição. Contudo, variações genéticas conhecidas só explicam aproximadamente 5% da diferença no peso da população, número pequeno frente à estimativa do impacto genético (ROHDE, 2019). Na década de 60 o geneticista James Neel propôs, para explicar a prevalência de obesidade e diabetes, a hipótese do genótipo/gene econômico. Em resumo, essa teoria postula, numa perspectiva evolutiva, que genes favorecedores da deposição de gordura proporcionariam uma vantagem a seus portadores em períodos de fome, sendo privilegiados pela seleção natural (NEEL, 1962). Na sociedade moderna pós-segunda guerra mundial com grande disponibilidade de alimentos, tais genes seriam desvantajosos resultando na crescente prevalência da obesidade. Alguns autores criticam essa hipótese. É necessário ter consciência, para entendermos essas críticas, que para direcionar a seleção natural dos genes econômicos a fome deve ter grande impacto sobre a mortalidade e/ou natalidade, além de ser frequente ao longo da história. Para Speakman (2018), se imaginarmos que a fome acompanha a humanidade desde sempre, e que os genes econômicos fornecem uma forte vantagem seletiva, então esses genes deveriam estar espalhados por toda a população, e na sociedade moderna seríamos todos obesos. Outra corrente teórica afirma que a fome se tornou uma questão importante somente após o desenvolvimento da agricultura (uma vez que caçadores e coletores são resistentes a escassez de alimentos, se mudando para outras áreas ou alterando sua dieta, enquanto sociedades agrárias retiram seu alimento de culturas fixas, se tornando vulneráveis quando o sistema de produção ou distribuição falha), nesse cenário a seleção natural não teria tempo para atuar (uma vez que a agricultura surgiu cerca de 12 mil anos atrás e nesse período passamos apenas por 80 períodos de escassez de alimentos) (SPEAKMAN, 2013). 33 DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS │ UNIDADE II Alternativamente, é proposto que genes ligados à obesidade sofreram um processo aleatório de deriva genética (SPEAKMAN, 2013). Essa hipótese tem como base a ideia de regulação ativa do peso corporal, tendo um limite inferior e superior, no qual desvios para fora desses limites iniciam processos fisiológicos de anulação e recuperação do peso. O risco de inanição (limite inferior) e predação (limite superior) conduziram as pressões evolutivas necessárias para a formação desses limites. Com a descoberta do fogo, a criação de armasmais eficientes e formação de sociedades, o risco de predação tornou-se cada vez menor tornando vulneráveis a mutações aleatórias os genes a ele associados. Apesar da importante contribuição da genética, ela não explica a crescente prevalência da obesidade, uma vez que o background genético da população nessas últimas décadas não deve ter se alterado de maneira significativa. Nessa perspectiva, o incremento da prevalência da obesidade tem sido atribuído principalmente a mudanças ambientais e comportamentais. A globalização, industrialização, mudança tecnológica e urbanização observada na “vida moderna” nos oferecem maior quantidade e menor qualidade de alimentos, nos convidando a uma vida mais sedentária, resultando em desbalanço energético sustentado (principal fator de risco para obesidade) com maior chance de ganho de peso e obesidade. A contribuição do ambiente na obesidade foi observada em estudos clássicos realizados com os índios Pima: O’odham Pima dos Estados Unidos e os Pima Bajo do México, povos indígenas geneticamente relacionados, mas que se tornaram afastados a partir da metade do século 19. Os índios Pima residentes nos EUA gradativamente adotaram um estilo de vida ocidental, com uma alimentação com alto teor de gordura e reduzida atividade física, enquanto os mexicanos permaneceram isolados sem alteração no seu modo de vida, pelo menos até 1991. A avaliação dos dois povos Pima demonstrou uma maior prevalência de obesidade (64% e 75% vs 7% e 20% nos homens e mulheres respectivamente) e diabetes mellitus do tipo 2 (DM2) (38% vs 6,9%) nos índios americanos (SCHLZ et al., 2006). Quando comparado a populações não indígenas de sua localidade, o povo Pima americano possui uma prevalência de diabetes 19 vezes maior enquanto os Pima mexicanos possuem prevalência semelhante de obesidade e DM2. Esses resultados indicam que mesmo em uma população geneticamente propensa o desenvolvimento da obesidade e DM2 é especialmente determinado pelo ambiente (SCHULZ et al., 2015). 34 UNIDADE II │ DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS A prevalência de obesidade aumentou nas últimas décadas, configurando-se como um dos problemas prioritários de saúde pública da atualidade, tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento. (FERREIRA; BENÍCIO, 2015) A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou, no ano 2000, um informe sobre a epidemia de obesidade, esse informe afirmou que, na América e Caribe (Estados Unidos, Brasil, Jamaica, Barbados e Cuba), o número de mulheres afetadas tem sido maior que o de homens. De acordo com um estudo que analisou dados de 38 países, a obesidade feminina é um problema de saúde pública na América Latina e Caribe, com prevalência de 15,4% entre mulheres em idade reprodutiva. No Brasil, a Pesquisa de Orçamentos Familiares, (POF) 2008- 2009, alegou tendência de aumento da prevalência de obesidade na população adulta de 20 a 75 anos. Os valores encontrados foram maiores entre as mulheres (16,9%) do que entre os homens (12,4%) (FERREIRA; BENÍCIO, 2015). A obesidade pode ser considerada em três tipos (de acordo com a distribuição de gordura corporal): androide, ginoide ou generalizada. A obesidade androide é aquela localizada na região abdominal, vem à mente o formato de uma maçã e está relacionada às doenças cardiovasculares; a obesidade ginoide caracteriza-se por um acúmulo de gordura localizada nos quadris e lembra o formato de uma pera; já a obesidade generalizada está distribuída de forma homogênea em todo o corpo (RAMOS et al., 2014). O processo de ganho de peso que ocasiona a obesidade é multifatorial. As causas relatadas mais frequentemente que contribuem para o surgimento da obesidade são: adaptação evolutiva do ser humano, fatores dietéticos, baixa atividade física, fatores constitucionais (sexo, idade, estado fisiológico), fatores genéticos (predisposição, mutação, fatores hormonais (neuroendócrinos), fatores socioculturais, falhas na atuação institucional e profissional, entre outros fatores (SAMPAIO; SABRY, 2007). Outros fatores têm sido associados ao surgimento da obesidade, como a suspensão do tabagismo, que pode levar ao ganho de peso. Algumas doenças desencadeiam a obesidade como o hipotireoidismo, a doença de Cushing e os tumores do hipotálamo; no entanto, essas doenças são responsáveis por menos de 5% dos casos de obesidade (SAMPAIO; SABRY, 2007). A obesidade é uma doença crônica e complexa, pois engloba fatores genéticos, emocionais e ambientais, por isso, o seu tratamento deve ser feito por uma equipe multidisciplinar, com metas definidas em longo prazo. Para se atingir o emagrecimento é necessário alcançar um balanço energético negativo, ou seja, 35 DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS │ UNIDADE II consumir menos energia do que se gasta, por meio de uma restrição calórica. Dietas muito restritivas e rígidas geralmente não são mantidas, trazendo insucesso para o tratamento e frustrações. Uma reeducação alimentar é mais efetiva, por meio da aquisição de novos hábitos alimentares, com uma dieta rica em fibras (frutas, vegetais, cereais integrais), laticínios desnatados, carnes magras, baixo teor de gordura e bastante água. O tratamento requer uma mudança no estilo de vida, contendo além de uma dieta balanceada, como são apresentadas as recomendações na tabela 2, a prática de atividade física regular. (RAMOS et al., 2014). Tabela 2. Recomendações gerais para a prescrição nutricional para o manejo da perda de peso. Variável Recomendação Calorias Obrigatoriamente deve ser hipocalórico: Diminuir de 500 a 1000 kcal/dia e ou; 20 a 25cal/peso atual/dia (fórmula de bolso) ou; Usar peso ajustado* ou peso ideal** em fórmulas de necessidades energéticas diárias. Proteína (PTN) 1g de PTN de alto valor biológico (AVB)/kg de peso corporal; Em torno de 15 a 20% do Valor energético total (VET). Carboidratos 50 a 60% do VET. De preferência CHO complexos ricos em fibras. Lipídios Não superior a 30% do VET. ÁG Saturados 7% dos Lipídios. ÁG Poli-insaturados 10% dos Lipídios. AG Monoinsaturados 13% dos Lipídios. Fibras 20 - 30g/dia. Colesterol < 300mg/dia. Bebidas alcoólicas Evitar. Fracionamento Mínimo de cinco refeições diárias. Micronutrientes De acordo com as necessidades. *Peso ajustado: (peso ideal – peso atual) x 0,25 + peso atual. **Peso ideal: IMC desejado x estatura (m)². Fonte: (SCHNEIDER, 2009, p. 183). Hipertensão arterial sistêmica A hipertensão arterial é definida como um aumento da pressão do sangue que circula pelas artérias, excedendo os índices considerados normais para as diversas idades. Esse aumento pode estar vinculado a fatores hereditários do indivíduo, ao consumo excessivo de sal, ao estresse ou simplesmente à idade, uma vez que a pressão arterial tende a aumentar com o passar dos anos (LAROUSSE, 2005). Hipertensão é uma doença crônica mais conhecida pela população como “pressão alta”. A pressão arterial (PA) é a força realizada pelo sangue contra as paredes das artérias, fazendo com que o coração bata mais forte ao bombear o sangue para todo o corpo (SOUZA et al., 2016). 36 UNIDADE II │ DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS A hipertensão arterial sistêmica (HAS) caracteriza-se por níveis tensionais elevados, associados a alterações metabólicas e fenômenos tróficos (hipertrofia cardíaca e vascular). É bastante prevalente em indivíduos idosos, tornando-se fator determinante na morbimortalidade (BUSNELLO, 2007). A hipertensão em idosos é marcada principalmente pela hipertensão essencial, que difere em muitos aspectos da dos indivíduos mais jovens. A pressão arterial sistólica (PAS) aumenta e a pressão arterial diastólica (PAD) diminui com a idade, mesmo em indivíduos saudáveis, resultado do aumento da pressão do pulso e da rigidez das artérias, em idosos, nota-se a predominância da hipertensão sistólica isolada (HSI) em aproximadamente 60%, enquanto a sistodiastólica está presente em torno de 30% e a hipertensão diastólica em apenas 10%dessa população (BUSNELLO, 2007). De acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão (2017), o valor ótimo para a pressão arterial é <120x80 mmHg (12 por 8), valor normal <130/85 mmHg e o valor ideal de pressão arterial para pessoas com risco de diabetes e doença renal: < 130 x 80 mmHg, para a maioria da população esses valores devem estar abaixo de 140 e/ou 90mmHg. Figura 2. Índice de hipertensos em brasileiros acima dos 19 anos. 21,4 1 18,3 2 24,2 3 2,8 4 20,6 5 44,4 6 52,7 7 55,5 8 21,1 9 24,2 10 20,0 11 31,1 12 16,7 13 13,4 14 18,2 15 0,0 60,0 % 1 - Total 2 - Homem 3 - Mulher 4 - De 18 a 29 anos 5 - De 30 a 59 anos 6 - De 60 a 64 anos 7 - De 65 a 74 anos 8 - De 75 anos ou mais 9 - Branca 10 - Preta 11 - Parda 12 - Sem instrução e fundamental incompleto 13 - Fundamental completo e médio incompleto 14 - Médio completo e superior incompleto 15 - Superior incompleto Fonte: (IBGE, 2013). 37 DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS │ UNIDADE II O risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) está aumentando nos obesos porque a ocorrência de hipertensão arterial e hiperglicemia é comum, aumentando significativamente o risco de complicações macrovasculares, como a doença arterial coronariana (DAC) e o infarto agudo do miocárdio (IAM). Existe uma relação positiva entre hiperinsulinemia e risco para DAC, devido, provavelmente, à alteração do padrão lipídico e ao estado de inflamação crônica subsequente. Por isso, a avaliação de risco de DCV em obesos inclui a procura por sinais clínicos e laboratoriais, a determinação do padrão lipídico e a avaliação do nível de proteína C circulante. A hipertensão arterial é três vezes mais frequente em obesos que em não obesos, e o seu risco cresce com o aumento do peso. (TEIXEIRA NETO, 2003). Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis, a hipertensão arterial (HA) é a mais predominante, constituindo condição clínica crônica multifatorial, caracterizada por níveis altos e sustentados de pressão arterial, tem alta prevalência, porém baixas taxas de controle. Por esses motivos, é um dos mais importantes problemas de saúde pública, visto que a morbimortalidade e os custos com o tratamento desta são elevados. Além de que, gera aumento do risco de comorbidades, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular encefálico. Além disso, muitas vezes é assintomática, o que dificulta a procura, por parte dos indivíduos, pelos serviços de saúde para diagnóstico e adesão ao tratamento (VIEIRA et al., 2016). O controle da HA não está relacionado, apenas, aos hábitos de vida saudável do indivíduo e ao tratamento medicamentoso, mas também à conscientização a respeito da doença e das comorbidades associadas. Portanto, a melhor qualidade de vida dos indivíduos hipertensos pode estar diretamente relacionada ao comportamento deles frente à doença e aos cuidados tomados para o controle da pressão arterial (VIEIRA et al., 2016). De acordo com Larousse, (2004, p. 72): Como prevenir e tratar a hipertensão? » Para pessoas acima do peso é necessário eliminar o excesso por meio de uma dieta completa, mas com menor ingestão de calorias e gorduras. » Diminuir o consumo do sal na alimentação, minimizando a quantidade acrescida aos preparos e alimentos ricos neste 38 UNIDADE II │ DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS elemento. Esta é uma das orientações nutricionais mais importantes para o tratamento dessa doença. » Aumentar o consumo de verduras, legumes, frutas e alimentos ricos em fibra e potássio. » Restringir o consumo de gorduras saturadas (gorduras de origem animal). » Moderar, reduzir ou eliminar a ingestão de bebidas alcoólicas. » Abandonar o fumo. » Praticar exercícios físicos. A dieta DASH, termo em inglês Dietary Approaches to Stop Hypertension que significa Métodos Para Combater a Hipertensão, hoje em dia é indicada para o tratamento da hipertensão arterial leve, evitando o uso de medicamentos; nos casos mais graves, contribuindo para a diminuição progressiva da dosagem dos medicamentos utilizados para o controle da pressão arterial e em indivíduos com níveis pressóricos normais. O objetivo é prevenir o desenvolvimento da doença (SAMPAIO; SABRY, 2007). Ainda não está totalmente esclarecido qual o seu mecanismo de ação, mas acredita-se que a combinação dos alimentos presentes nessa dieta é responsável por esse efeito. A dieta DAHS é rica em frutas, verduras, leite e derivados desnatados, quantidades menores de gordura saturada e colesterol, por isso mesmo traz benefício à saúde (SAMPAIO; SABRY, 2007). A HAS é definida como a manutenção de níveis de pressão arterial acima de 140 mmHg na sistólica e 90 mmHg na diastólica. Está ligada a fatores intrínsecos, como hereditariedade, sexo, idade e raça; e a fatores extrínsecos, como tabagismo, sedentarismo, obesidade, estresse, dislipidemia e dieta. Além disso, há um crescimento do risco de comorbidades, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico e insuficiência renal crônica (MENDES; MORAIS; GOMES, 2014). https://www.youtube.com/watch?time_continue=76&v=MZDFdLSL6cA. 39 DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS │ UNIDADE II Diabetes A diabetes é uma doença crônica que se revela por um aumento dos níveis de açúcar (glicose) no sangue (hiperglicemia), para além dos parâmetros considerados normais. Se não for reparado de forma adequada, este desequilíbrio pode dar origem a complicações agudas e crônicas. Trata- se de uma doença frequente em todo o mundo, mas sobretudo em países industrializados. Seu nome científico é Diabetes mellitus (LAROUSSE, 2004). A causa principal desse distúrbio é uma disfunção do pâncreas, órgão que se localiza na parte esquerda do abdômen e que tem como principal função a produção de um hormônio chamado insulina, substância encarregada de levar até as células a glicose que circula no sangue, garantindo a energia para a realização de processos vitais no organismo humano. Se o pâncreas não produz insulina ou a produz em quantidade menor que o necessário, a glicose não entra nas células e fica circulando pelo sangue, aumentando os níveis e provocando uma hiperglicemia. Como a glicose é um açúcar, popularmente se diz que o diabético é a pessoa que tem excesso de açúcar no sangue (LAROUSSE, 2004). Entre as doenças crônicas em maior evidência no cenário de saúde pública destaca-se a Diabetes Mellitus, podendo defini-la como uma síndrome que pode ser resultante da falta de insulina e ou incapacidade de a insulina exercer suas ações de maneira correta. Essa doença é caracterizada pela hiperglicemia crônica e alterações no metabolismo dos carboidratos, lipídeos e proteínas. A polidipsia, poliúria, borramento da visão e perda de peso são sintomas característicos. Entre as manifestações crônicas dessa afecção predominam as doenças oculares, renais e vasculares, causas contínuas de invalidez, incapacitação para o trabalho e hospitalização (SARTORELLI; FRANCO, 2002). Nas Américas, a quantidade de indivíduos com diabetes foi estimada em 35 milhões para o ano. Nos países desenvolvidos, o aumento acontecerá principalmente nas faixas etárias mais avançadas, em consequência do aumento da esperança de vida e do crescimento populacional; nos países em desenvolvimento, o aumento será observado em todas as faixas etárias, principalmente no grupo de 45-64 anos onde sua prevalência deverá triplicar, duplicando nas faixas etárias de 20-44 e 65 e mais anos (SARTORELLI; FRANCO, 2002). Pelo fato de a diabetes estar ligada a maiores taxas de hospitalizações, a maiores necessidades de cuidados médicos, a maior incidência de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, cegueira, insuficiência renal e 40 UNIDADE II │ DOENÇAS CRÔNICAS E SEUS IMPACTOS amputações não traumáticas de membros inferiores, pode-se imaginar a carga que isso representará para os sistemas de saúde dos países latino-americanos, a grande maioria ainda
Compartilhar