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DIREITO A SAUDE O ETNOCENTRISMO CLINICO EM RELACAO A SAUDE SURDA

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DIREITO À SAUDE: O ETNOCENTRISMO CLÍNICO EM RELAÇÃO À 
SAÚDE SURDA 
 
 
Edmarcius Carvalho Novaes1 
 
Rua Sete de Setembro, 4935/05, B. Morada do Acampamento, 
Governador Valadares, CEP: 35030-510 Telefone: (33) 84086483 
edmarcius@hotmail.com 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem por objetivo discutir questões referentes ao tratamento dado às 
pessoas surdas no setor de saúde pública e/ou privada. Para tanto, pretende-se articular este 
tratamento caracterizado predominantemente pela ótica clinica com as diretrizes previstas no 
ordenamento jurídico pátrio. 
 
Palavras-chave: surdos, saúde, direitos. 
 
 
1. INTRODUÇÃO: 
 
Vivemos num contexto onde a sociedade brasileira já se despertou para as 
necessidades vitais das camadas sociais que compõem as minorias, neste sentido, entendidas 
como as que estão à margem da sociedade tida dentro dos limites da ‘normalidade’. 
Minorias estas compostas por sociedades de risco, resultando em exclusão social de 
caráter não individual, mas sim uma situação de privação social coletiva. Dentre os 
‘segmentos’ que compõem as minorias estão as pessoas desempregadas, moradores de ruas, 
negros, prostitutas, portadores de doenças sexualmente transmissíveis e deficientes. Entre os 
últimos, notadamente, as pessoas surdas e deficientes auditivas, provavelmente em razão da 
 
1
 Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce 
 
disseminação do uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras, através de movimentos de cunho 
religioso e universitário. 
Certo é que nunca se falou tanto em inclusão de pessoas deficientes na sociedade em 
geral, e em especial, das pessoas surdas, seja na área trabalhista, esportiva e principalmente, 
educacional. 
Para se incluir as pessoas surdas na sociedade, desenvolveu-se nas ultimas décadas 
várias legislações com o fito de se estabelecer direitos e obrigações, obrigações essas quase 
sempre imputadas às instituições públicas e privadas. 
Não obstante, tais legislações em várias circunstâncias e contextos não são efetivadas 
corretamente, o que consequentemente acaba por excluir ainda mais tal segmento social, 
ferindo assim o fundamento constitucional da dignidade humana. 
No que tange ao campo da saúde as pessoas surdas são contempladas por legislações 
que se aplicam para proteção de direitos para todas as pessoas com deficiências, bem como 
por legislações de aplicação específica, como por exemplo, a Política Nacional de Atenção à 
Saúde Auditiva. Entretanto, quase sempre com uma análise clínica, visando à prevenção ou 
reabilitação das pessoas que apresentam deficiências diversas. 
O presente artigo pretende mostrar como a comunicação em Língua Brasileira de 
Sinais – Libras, no setor da saúde, é importante para a eficácia do atendimento, bem como 
analisar as diretrizes previstas nas legislações pátrias a respeito da saúde em relação às 
pessoas surdas, a luz da Constituição da República e leis extravagantes, demonstrando a 
natureza clínica das mesmas, refletindo na prática de um atendimento precário aos cidadãos 
surdos. 
 
2. A COMUNICAÇÃO COMO INSTRUMENTO 
 
A comunicação é um instrumento essencial para o desenvolvimento das atividades de 
todos os profissionais da saúde. Ela é o instrumento mais importante entre os quais estes 
profissionais possuem. A partir dela, todo o atendimento se processa. Sua qualidade afeta 
completamente a qualidade do serviço de saúde prestado. 
Neste sentido, em relação à enfermagem, sabe-se “que mais de 70% do dia de trabalho 
do enfermeiro é voltado a atividades relacionadas à comunicação, que incluem, sobretudo 
ensinar, entrevistar, fazer anotações em prontuários e solucionar problemas” (ATKINSON e 
MURRAY apud LIMA, 2007, p.25) 
Certo é que, caso “a comunicação entre o enfermeiro e o paciente não ocorrer 
efetivamente, o significado do cuidado prestado pode ser afetado profundamente”. (LIMA, 
2007, p.26). 
Destarte, levando em consideração as especificidades lingüísticas da Língua materna 
dos surdos brasileiros – Libras, língua oriunda da comunidade surda, é correto afirmar que a 
falta de profissionais de saúde habilitados, bem como a ausência de tradutores-intérpretes no 
atendimento do usuário surdo, afetará consideravelmente a comunicação e, por conseguinte, o 
serviço de saúde prestado. 
 
3. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA 
 
A interação de forma sistemática e indiscriminada de serviços públicos de saúde é 
garantia constitucional. A Carta Magna, em seu art. 196, prevê que “a saúde é direito de todos 
e dever do Estado”. Esta deve ser garantida “mediante políticas sociais e econômicas que 
visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às 
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 2004, p. 145). 
Para que este direito de assistência à saúde seja exercido proficuamente, é necessário 
que os agentes públicos da área de saúde consigam se comunicar com todos os usuários 
(princípio da universalidade) e de forma isonômica, igualitária. 
Deve o Estado proporcionar a viabilização prática dessas políticas sociais que poderão 
formar profissionais aptos para agirem visando reduzir os riscos de doenças e outros agravos, 
de cidadãos ouvintes ou surdos. 
O conjunto integrado de ações e serviços de saúde, criado pela Constituição Federal de 
1988, popularmente conhecido como Sistema Único de Saúde (SUS), visa proporcionar à 
população brasileira o acesso ao atendimento público de saúde. 
A Lei n° 8.080/90, Lei Orgânica da Saúde, consolida a criação do Sistema Único de 
Saúde, reafirmando o texto constitucional que “a saúde é direito de todos e dever do Estado” 
(BRASIL, 1990). 
O Sistema Único de Saúde deve, portanto, ser dirigido por princípios conhecidos 
como ideológicos ou doutrinários: a universalidade, equidade e integralidade. 
A universalidade “é a compreensão de que todas as pessoas têm direito ao atendimento 
independente de cor, raça, religião, situação de emprego ou renda”. Já a equidade afirma “que 
todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades”. E por fim a 
integralidade “relata que as ações de saúde devem ser combinadas e voltadas ao mesmo 
tempo para os meios curativos quanto para os preventivos” (LIMA, 2007, p. 21). 
Ressalta-se que a Constituição da República, em seu art. 199, afirma que a assistência 
à saúde “é livre à iniciativa privada”. Entretanto, seu parágrafo 1°, determina “que as 
instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema único de saúde, 
segundo diretrizes deste” (BRASIL, 2004, p. 145). 
Isto significa afirmar que os princípios aos que se deve submeter o Sistema Único de 
Saúde em sua funcionalidade, devem ser também obedecidos pelo sistema privado de saúde. 
 
 
4. PREVENÇÃO E REABILITAÇÃO À SURDEZ 
 
De forma genérica, o Decreto nº 3.298/99, que dispõe sobre a Política Nacional para a 
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e consolida as normas de proteção, em seus 
arts. 16 a 23, ao tratar do campo da saúde, determina a responsabilidade de órgãos e entidades 
da Administração Pública Federal direta e indireta, de tratar de forma prioritária e adequada, 
os assuntos objeto de tal legislação, viabilizando desta forma, medidas como a promoção de 
ações preventivas através do acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério; da 
nutrição da mulher e da criança, com o fito de controlar a gestação para evitar e imunizar 
doenças do metabolismo; bem como diagnosticar outras doenças causadoras de deficiência e 
detecção precoce de doenças crônico-degenerativas e outras potencialmente incapacitantes. 
(BRASIL, 1999). 
Além destas, outras medidas são tomadas (art. 16, III e IV), como por exemplo: a 
criação de rede de serviços regionalizados,descentralizados e hierarquizados em crescentes 
níveis de complexidade, voltada ao atendimento à saúde e reabilitação da pessoa portadora de 
deficiência, articulada com os serviços sociais, educacionais e com o trabalho; garantir o 
acesso da pessoa portadora de deficiência aos estabelecimentos de saúde públicos e privados e 
de seu adequado tratamento sob normas técnicas e padrões de conduta apropriados. (BRASIL, 
1999). 
Uma vez diagnosticada a deficiência ou incapacidade através de uma equipe 
multidisciplinar de saúde, pode-se objetivar a concessão de benefícios e serviços (art. 16, § 
2º). O objetivo da análise clínica da prevenção em relação às deficiências, segundo o art. 16, 
parágrafo 3º, visa promover a qualidade de vida das pessoas com a deficiência, sempre no 
intuito de igualar as oportunidades no campo da saúde. (BRASIL, 1999). 
Para que a assistência seja de forma integral à saúde e reabilitação, são concedidos ao 
‘deficiente’, órteses, próteses, bolsas coletoras e materiais auxiliares. São equipamentos que 
complementam, segundo o art. 18, “o atendimento, aumentando as possibilidades de 
independência e inclusão da pessoa portadora de deficiência”. Aos deficientes auditivos, 
segundo o art. 19, inciso I, é concedida a ajuda técnica de “próteses auditivas”, com o objetivo 
de permitir-lhe superar as barreiras de comunicação, possibilitando sua “plena” inclusão 
social. (BRASIL, 1999). 
O tratamento de reabilitação auditiva das pessoas surdas, por aplicação específica do 
art. 21 do Decreto em tela, deverá ser acompanhado de orientação psicológica, “prestados 
durante todas distintas fases do processo reabilitador, destinados a contribuir para que a 
pessoa portadora de deficiência atinja o mais pleno desenvolvimento de sua personalidade”. 
(BRASIL, 1999). 
Surge a dúvida e crítica no sentido de que nem todas as Administrações Públicas 
possuem profissionais da psicologia aptos para atender pessoas surdas que só dominam como 
forma de comunicação a Língua Brasileira de Sinais, e que desta forma comunicativa desejam 
ter a experiência de entrar ‘no mundo dos ouvintes’, e conhecer a sensação ‘estranha’ de 
ouvir. 
A visão clínica das pessoas surdas é também divulgada pelos meios de comunicação, 
em detrimento da percepção da existência de uma Língua de Sinais. 
Amparado pela concepção oralista, Oliveira afirma que 
 
a perda auditiva parcial ou completa pode manifestar-se em pessoas de qualquer 
idade e por motivos variados como infecções congênitas, reação a medicamentos, 
traumatismo craniano e meningite bacteriana. Em situações assim, deve-se procurar 
um especialista para que ele indique o tratamento mais adequado. Pode ser por 
meio de cirurgia de Implante Coclear (IC), medicação ou uso de aparelhos 
auditivos. Com isso pode-se iniciar o processo de reabilitação (OLIVEIRA, 2007). 
 
Ainda segundo Oliveira, o implante coclear multicanal 
 
é uma prótese computadorizada inserida cirurgicamente no ouvido interno que 
transforma energia em sinais elétricos. Esses sinais são codificados e enviados ao 
córtex cerebral. Esse tipo de implante é conhecido popularmente como ouvido 
biônico. A indicação do implante acontece em casos em que o deficiente auditivo 
neurossensorial bilateral profundo não se beneficia do aparelho de amplificação 
sonora individual (AASI). A indicação da cirurgia só é feita após um processo 
minucioso de avaliação do candidato ao implante coclear. A avaliação é feita por 
uma equipe interdisciplinar formada por médicos otologistas, fonoaudiólogos, 
psicólogos e assistentes sociais (OLIVEIRA, 2007). 
 
Sobre a utilização de aparelhos auditivos, afirma que 
 
deve ser realizada imediatamente após o diagnóstico da deficiência auditiva. É o 
ideal, mas nem sempre o que ocorre. O trabalho envolve a participação dos 
familiares e das pessoas que se relacionam com a criança. Os pais precisam ser 
orientados em relação aos resultados dos exames realizados, grau da perda auditiva, 
a importância do uso correto do AASI e o ganho que a criança poderá alcançar 
usando a prótese (OLIVEIRA, 2007). 
 
Segundo o Manual de Atuação: Inclusão de Pessoas com Deficiência da Procuradoria 
Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público da União (2006) como espécie do 
gênero do processo de reabilitação, inclui-se a reabilitação profissional 
 
na qual se insere qualquer pessoa com deficiência, independentemente da origem de 
sua deficiência, sendo beneficiária ou não do Regime Geral de Previdência Social. 
Trata-se do processo no qual a pessoa com deficiência, a partir da identificação de 
suas potencialidades laborativas, passa a adquirir o nível suficiente de 
desenvolvimento profissional para ingresso, reingresso, manutenção e progressão 
no mercado do trabalho, e assim participar da vida comunitária. 
 
 
5. POLITICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE AUDITIVA 
 
A Portaria nº. 2.073/GM, do Ministério da Saúde (2004), instituiu a Política Nacional 
de Atenção à Saúde Auditiva. Nesta portaria é previsto o atendimento integral a esses 
pacientes, com ações que englobam a atenção básica (trabalhos de promoção da saúde, 
prevenção e identificação precoce de problemas auditivos), de média e de alta complexidade 
(triagem em bebês, diagnóstico, tratamento clínico e reabilitação com o fornecimento de 
aparelho auditivo e terapia fonoaudiológica). 
Trata-se da primeira abordagem específica da questão da saúde auditiva das pessoas 
surdas ou com perdas auditivas. Antes desta política, os deficientes auditivos recebiam do 
SUS somente os seus aparelhos auditivos. 
Percebendo a necessidade de uma política que englobasse diferentes ações na 
assistência à saúde auditiva, hoje não se fornece apenas aparelhos auditivos, há também um 
trabalho de acompanhamento do uso desses equipamentos e de terapia fonoaudiológica. 
A normatização desta Política ficou a cargo da Secretária de Atenção à Saúde (SAS) 
do Ministério da Saúde, que editou portarias que tratam da organização das redes estaduais de 
serviços de atenção à saúde auditiva. Os documentos prevêem a descentralização do 
atendimento, com a presença dos serviços em todos os estados da Federação. 
Os gastos do Ministério da Saúde com a atenção à saúde auditiva giram em torno de 
R$ 120 milhões de reais. Esse recurso é repassado fundo a fundo para os estados e municípios 
em gestão plena. É um recurso extra disponibilizado pelo Ministério da Saúde. 
A nova política também visa possibilitar um levantamento da situação do País em 
relação a essa deficiência, como o número de portadores de problemas auditivos, os tipos de 
perda auditiva, o fornecimento de aparelho e a satisfação dos usuários após o recebimento. 
 
6. LEI N° 10.436/2002 
 
A Lei nº 10.436/2002 dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, 
reconhecendo-a como a língua oficial da comunidade surda. (BRASIL, 2002). 
Em seu art. 3° fica evidente a necessidade das instituições de assistência à saúde 
utilizá-la para a prestação de um atendimento com qualidade, ao afirmar que “as instituições 
públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistências à saúde devem 
garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva”. 
(BRASIL, 2002). 
O artigo trata tanto do serviço público de saúde, como o que se dá de forma 
complementar pelas instituições privadas, e determina a observância de toda e qualquer norma 
que trata da saúde em relação às pessoas surdas. 
 
7. DECRETO Nº 5.625/2005 
 
O Decreto nº. 5.625/2005, que regulamentou a Lei de Libras (10.436/2002), no 
capítulo VII, trata da “Garantia do Direito à Saúde das Pessoas Surdas ou com Deficiência 
Auditiva” dentro de uma visão bilíngüe, onde a Língua Brasileira de Sinais deve ser 
valorizada pelos profissionais da área da saúde, quando do atendimento de indivíduos da 
Comunidade Surda. (BRASIL,2005). 
Em seu art. 25, caput, determina que a partir de um ano de sua publicação “O Sistema 
Único de Saúde - SUS e as empresas que detêm concessão ou permissão de serviços públicos 
de assistência à saúde”, visando uma “inclusão plena das pessoas surdas ou com deficiência 
auditiva em todas as esferas da vida social”, garantirão, com prioridade, “aos alunos 
matriculados nas redes de ensino da educação básica, a atenção integral à sua saúde, nos 
diversos níveis de complexidade e especialidades médicas”, efetivando diversas medidas, 
entre elas, “ações de prevenção e desenvolvimento de programas de saúde auditiva”, bem 
como “seleção, adaptação e fornecimento de prótese auditiva ou aparelho de amplificação 
sonora, quando indicado; acompanhamento médico e fonoaudiológico e terapia 
fonoaudiológica; atendimento em reabilitação por equipe multiprofissional”, dentre outras. 
(BRASIL, 2005). 
Seu benefício em relação às pessoas surdas que utilizam como forma de comunicação 
a Língua Brasileira de Sinais, é que o inciso VIII determina como medida que deve ser 
tomada pelo Sistema Único de Saúde e empresas que detêm concessão ou permissão de 
serviços públicos de assistência a saúde, a obrigatoriedade da informação de “orientações à 
família, sobre as implicações da surdez e sobre a importância para a criança com perda 
auditiva ter, desde seu nascimento, acesso a Libras e à Língua Portuguesa”. (BRASIL, 2005). 
Percebe-se além do caráter educacional encarregado aos sistemas de saúde, a natureza 
legislativa defensiva do Bilingüismo, que é o uso das duas línguas pelas pessoas surdas, sendo 
a primeira a sua língua natural, Libras, e de forma secundaria a língua pátria, no caso, a 
Língua Portuguesa. 
Quanto ao atendimento das pessoas surdas ou com deficiências auditivas na rede de 
serviços do SUS e das empresas detentoras de concessão ou permissões de serviços públicos 
de assistência à saúde, o Decreto determina no inciso IX, que deva ser feito “por profissionais 
capacitados para o uso da Libras ou para usa tradução e interpretação”. (BRASIL, 2005). 
Exige ainda o Decreto como medida de atenção integral a saúde das pessoas surdas ou 
com deficiência auditiva, “o apoio à capacitação e formação de profissionais da rede de 
serviços do SUS para o uso da Libras e sua tradução e interpretação” (inciso X). Vale 
ressalvar que o parágrafo 1º garante os mesmos direitos dispostos em seu art. 25 “aos alunos 
surdos ou com deficiência auditiva não usuários da Libras”, ou seja, para as pessoas que 
adotam a postura do oralismo, a mesma defendida pela concepção clinica, que despreza o uso 
da Libras. (BRASIL, 2005). 
Destarte, a legislação regulamentadora da Lei de Libras (Lei nº. 10.436/ 2002), 
determina o seu uso nas repartições publicas da área da saúde e em concessionárias ou 
permissionárias de serviços públicos de assistência à saúde, através de profissionais em 
tradução/interpretação da língua de sinais, ou mesmo, por profissionais da rede de serviços do 
SUS aptos para tal. 
 
8. CRIMINALIZAÇÃO DO ATENDIMENTO PRECÁRIO 
 
Barrar ou retardar a comunicação do cidadão surdo em sua língua natural (Libras), no 
uso dos serviços públicos da saúde, pode caracterizar crime, conforme a Lei nº. 7.853/89, que 
prevê punição com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, o ato de recusar, retardar, 
dificultar internação ou deixar de prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial, quando 
possível, a pessoa portadora de deficiência (art. 8º, IV). (BRASIL, 1989). 
A falta de profissionais em tradução/interpretação da Libras nos serviços do SUS pode 
portanto caracterizar tal crime, em casos concretos, por dificultar a internação ou mesmo 
prestação de assistência médico-hospitalar e ambulatorial, em razão da barreira de 
comunicação. 
Por analogia pode-se caracterizar a mesma situação em relação ao setor privado, haja 
vista que este se dá de forma complementar a prestação do serviço público de saúde. 
 
9. DIAGNÓSTICO DA PERCEPÇÃO SURDA SOBRE A SAÚDE 
 
Pesquisa elaborada por Daniel Hugo de Freitas Lima, em outubro de 2007, no 
município paraibano de Campina Grande, com 34 pessoas surdas de ambos os sexos, alunos 
do ensino médio, sobre a Percepção do Surdo Acerca do Processo de Comunicação na 
Assistência à Saúde, revela um diagnóstico, que apesar de ser elaborado em um contexto 
local, pode servir de parâmetro para detecção da realidade das pessoas surdas em todo o país. 
(LIMA, 2007, p. 36-42). 
Tal pesquisa demonstra que 
a) 91% dos participantes afirmaram encontrar dificuldades no atendimento à saúde; 
b) Acerca da necessidade de acompanhante no atendimento à saúde, 26% recorrem a 
intérpretes, 3% aos amigos, 68% aos familiares, quase sempre a presença materna, e apenas 
3% afirmaram não precisar de acompanhante; 
c) Sobre o medo de uma possível interpretação errônea por parte dos profissionais da 
saúde acerca de seus sintomas, 82% afirmaram ter medo, em especial, no tratamento 
medicamentoso; 
d) 91% afirmaram nunca terem sido atendidos por profissionais de saúde 
conhecedores da Libras, e 
e) 94% afirmaram desconhecer os direitos da pessoa surda em relação à saúde. 
A conclusão de Lima (2007, p. 40) é que os surdos “consideram falta de respeito com 
a comunidade surda o fato de não terem intérpretes ou até mesmo profissionais conhecedores 
da LIBRAS”, e que “acreditam que o intérprete ajudaria bastante no atendimento à saúde”. 
 
10. CONCLUSÃO 
 
O etnocentrismo ocorre quando há a tendência de postular a cultura dominante e 
vigente como padrão de essência para as demais culturas, baseado no princípio de que os seus 
valores e cultura são superiores, considerados mais esmerados e adequados. 
Percebe-se o etnocentrismo na área da saúde, tanto no setor público como no 
privado, quando de forma contínua, há a busca pela prevenção, através de campanhas 
educativas, onde se ensinam a evitar ter filhos com deficiências, e especificamente, com 
surdez. Trata-se do etnocentrismo clínico em relação à saúde surda, haja vista que através de 
uma analise clínica a pessoa surda é atendida, não se pensando na sua diferença lingüística. 
Isto se demonstra também nas buscas pela reabilitação dos indivíduos surdos ou com 
deficiência auditiva, através de ajudas técnicas, como aparelhos auditivos e implantes 
cocleares. 
Análises clínicas são baseadas na corrente filosófica do oralismo, que necessita da 
audição e não do uso de uma língua natural da comunidade surda. Posicionamento este, que 
deve ser respeitado e valorizado. Entretanto, não pode a legislador subestimá-lo em 
detrimento dos demais entendimentos, os quais valorizam a Língua e Cultura da Comunidade 
Surda. 
Os legisladores não podem esquecer da latente comunidade surda já existente, e que 
a cada ano cresce assustadoramente. Não há, por exemplo, previsão legal de produção de 
campanhas da área da saúde adaptadas em Língua Brasileira de Sinais. Falta adaptar as 
campanhas educativas de atenção a saúde, no que se refere à prevenção de gravidez 
indesejada, ao uso de drogas e de doenças sexualmente transmissíveis adaptadas na língua 
natural dos surdos. 
A Lei n.º 7.853/89, no seu artigo 2º, inciso II, garante o acesso de pessoas com 
deficiências em estabelecimento de saúde, público e privados, bem como um adequado 
tratamento nestes, sob normas e padrões de conduta apropriados. Entretanto, a camada de 
deficientes classificados como surdos não tem acesso à informações adequadas em Língua 
Brasileira de Sinais e ao atendimento com profissionais especializados em sua forma de 
comunicação, sejam em estabelecimentos de saúde publico ou privado, o que prejudica 16,7% 
dos 24,5 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, de acordo com informativos da 
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. (BRASIL, 2004, 
p. 53). 
Segundo o jurista SouzaCruz (2005, p. 259), é grave a falta de respeito aos direitos 
individuais, “no que se refere à acessibilidade do deficiente aos meios de comunicação, 
presentes em vários setores da sociedade”, entre eles, o da saúde, essencialmente vital para 
continuação da vida humana. 
Urge ressaltar que cabe ao Poder Público uma dupla obrigação: a de cuidado com 
toda pessoa humana hipossuficiente economicamente, e a prestação de serviços públicos 
adequados e eficientes, para permitir um nível mínimo de garantia da qualidade de vida. 
No caso das pessoas surdas, o nível mínimo exigido é a preparação para recepção e 
comunicação destas durante a prestação dos serviços públicos na área da saúde, em todas as 
suas etapas. 
REFERÊNCIAS 
 
ATKINSON, L. D.; MURRAY, M.E. Fundamentos de Enfermagem: introdução ao 
processo de enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989. 
 
BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 33 ed. São 
Paulo: Saraiva, 2004. 
 
BRASIL. Decreto nº 5.625, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei n°10.436, de 24 
de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei no 
10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 2005. 
 
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - 
Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 25 abr. 2002. 
 
BRASIL. Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei n° 7.853, de 24 
de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de 
Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências. Diário Oficial da 
União, Brasília, 21 dez. 1999. 
 
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a 
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços 
correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 20 set. 1900. 
 
BRASIL. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras 
de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria para a Integração da Pessoa 
Portadora de Deficiência – CORDE, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou 
difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras 
providências. Diário Oficial da União, Brasília, 25 out. 1989. 
 
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº. 2.073/GM, de 28 de setembro de 2004. Institui 
a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva. Brasília: MS, 2004. Disponível em < 
http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2004/GM/GM-2073.htm> Acesso em: 10 
set. 2007. 
 
BRASIL. Ministério da Justiça. Relatório sobre a prevalência de deficiências, 
incapacidades e desvantagens. Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora 
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