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Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica Definição: limitação do fluxo aéreo não totalmente reversível (inclui o enfisema, bronquite crônica e doença das pequenas vias respiratórias) tem que haver uma obstrução crônica do fluxo aéreo Patologia respiratória prevenível e tratável, que se caracteriza pela presença de obstrução crônica do fluo aéreo parcialmente reversível Geralmente progressiva, associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões à inalação de partículas ou gases tóxicos, sedo caudada primariamente pelo tabagismo Epidemiologia: Morbidade: 5ª causa de internações (SUS) – custo de 72 milhões Mortalidade: nos últimos anos variando entre a 4ª e 7ª causa de óbitos no Brasil Fatores de risco: Tabagismo: relação dose-resposta entre a função pulmonar e intensidade do tabagismo maior prevalência de DPOC com o aumento da idade Prevalência histórica de tabagismo mais alta entre os homens maiores índices de DPOC no sexo masculino (modificado recentemente) Charutos e cachimbos: doses menores de produtos do tabaco Reatividade das vias respiratórias: a hiper-reatividade depende de interações entre fatores genéticos predisponentes e ambientais, e é um fator preditivo da redução subsequente da função respiratória Infecções respiratórias: causas importantes das exacerbações de DPOC, mas associações a longo prazo ainda não são comprovadas Exposições ocupacionais: poeira (minas de carvão e ouro) e fumaça no local de trabalho agravamento dos sintomas respiratórios e obstrução ventilatória, menos importante que o efeito do tabagismo Poluição do ar ambiente sintomas agravados em pacientes que residem na zona urbana, fumaça de combustão da biomassa, menos importante que o tabagismo Exposição passiva à fumaça de cigarro: crianças expostas ao tabagismo materno reduzem o crescimento pulmonar Fatores externos: Tabagismo Fumaça de lenha Condi socioeconômicos Poeira ocupacional Infecções respiratórias graves na infância Irritantes químicos Industrias de borracha, plásticos, couro, têxtil e moagem de grãos Fatores individuais: Alfa 1 antiquimiotripsina Hiper-responsividade brônquica Desnutrição Prematuridade Deficiência de alfa 1 antitripsina Deficiência de glutationa transferase História Natural: Efeitos do tabagismo sobre a função pulmonar dependem da intensidade de exposição ao tabaco, fase do crescimento no qual houve a exposição e da função pulmonar inicial do indivíduo, assim como fatores ambientais e genéticos Curso da vida: aumento gradativo da função (infância e adolescência) seguida de declínio gradativo (envelhecimento) Problemas gerados pela DPOC podem ocorrer em três períodos: Fase de crescimento reduzida com uma taxa normal de declínio Início precoce do declínio após crescimento normal Declínio acelerado após crescimento normal A interrupção do tabagismo em uma idade menos avançada tem maior benefício do que abandonar após reduções acentuadas da função pulmonar Fisiopatologia: Obstrução do fluxo aéreo: determinada pela espirometria (expiração forçada, VEF1, CVF), não demonstra boas respostas aos broncodilatadores, disfunção detectável no componente expiratório da curva de fluxo-volume Hiperinsuflação: na DPOC geralmente há retenção de ar e Hiperinsuflação progressiva nos estágios avançados (para preservar o fluxo expiratório máximo), mas isso pode retificar o diafragma, que dificulta os movimentos inspiratórios, e exigir maior esforço dos músculos inspiratórios Troca gasosa: a elevação do nível de CO2 no sangue (PaCO2) é esperada quando o VEF1 fica abaixo de 25% do normal, reduções extremas do VEF1 + hipoxemia crônica = hipertensão pulmonar grave A elevação modesta dos níveis de O2 inspirado no tratamento de hipoxemia por DPOC é muito eficaz, e quando não for eficaz é necessário investigar outros problemas Etiopatogenia: Alterações dos brônquios bronquite crônica Alterações de bronquíolos (obstruídos) bronquiolite obstrutiva Alterações de parênquima destruição dos alvéolos e septos alveolares enfisema pulmonar perda da mecânica respiratória, formação de bolhas (nem sempre acontece) Patologia: A fumaça dos cigarros pode afetar as vias respiratórias de grande calibre (tosse, expectoração), de pequeno calibre e alvéolos (alterações fisiológicas) Vias de grande calibre: o tabagismo causa dilatação das glândulas mucosas e hiperplasia das células caliciformes (aumentam em número e extensão) tosse e expectoração de muco (bronquite crônica) Metaplasia escamosa dos brônquios: predisposição a carcinogênese e interrupção da depuração mucociliar Pode ter hipertrofia da musculatura lisa e hiper-reatividade brônquica limitação do fluxo aéreo Afluxo de neutrófilos: expectoração purulenta das infecções (elastase) Vias de pequeno calibre: principal local de aumento da resistência Metaplasia das células caliciformes (substituem as células Clara secretoras de surfactante) Pode haver infiltração de macrófagos e hipertrofia da musculatura estreitamento do lúmen por fibrose, excesso de muco, edema e infiltração celular Redução de surfactante: predispões o estreitamento e colapso das vias distais Bronquiolite com acumulo de mononucleares nas vias distais: destruição das fibras elásticas dos bronquíolos e ductos alveolares Destruição da MEC: perda das inserções bronquiolares distorção e estreitamento das vias Parênquima pulmonar: Enfisema: destruição dos espaços aéreos (bronquíolos respiratórios, ductos alveolares e alvéolos) – paredes perfuradas e lúmen obstruído pela coalescência de espaços anormais e maiores; acúmulo de macrófagos, neutrófilos e linfócitos TCD8 Enfisema centroacinar: dilatação envolvendo os bronquíolos respiratórios, geralmente focal, envolve mais os lobos superiores ou segmentos superiores dos lobos inferiores Enfisema pan-acinar: espaços aéreos anormais e grandes uniformes ao longo das unidades acinares, predileção por lobos inferiores Enfisema trivial associado ao tabagismo geralmente é misto Patogenia: A limitação do fluxo aéreo é resultado da obstrução das pequenas vias e do enfisema, a fibrose em torno das vias pode contribuir Eventos na patogenia do enfisema: Exposição crônica à fumaça de cigarros recrutamento de células inflamatórias para áreas distais Células inflamatórias liberam proteinases que destroem a MEC dos pulmões Morte celular estrutural por estresse oxidativo e perda da aderência células-matriz Reparo ineficaz da elastina e componentes da MEC alargamento dos espaços aéreos (enfisema) Hipótese elastase:antielastase indivíduos com deficiência no gene que codifica o inibidor da elastase têm maior propensão à DPOC Inflamação e proteólise da MEC: os oxidantes da fumaça do cigarro ativa os macrófagos distais, que irão produzir proteinases (degradam a MEC) e quimiocinas (atraem outras células inflamatórias) Mecanismos autoimunes podem promover a progressão da doença Perda simultânea dos cílios de epitélio das vias respiratórias e o comprometimento da fagocitose de macrófagos predispõem à infecção bacteriana com neutrofilia Morte celular: pode ocorrer por aumento do stress oxidativo e pelo comprometimento da ingestão de células apoptóticas pelos macrófagos (impede a interrupção da inflamação) Reparo ineficaz: capacidade de reparo dos pulmões adultos é limitada, o processo de septação não pode ser reativado, as células progenitoras não conseguem repopular o pulmão, a MEC apropriada não consegue ser recuperada Diagnóstico: Sintomas crônicos respiratórios: tosse, secreção, dispneia, sibilos Exposição a fatores de risco: tabagismo, poeira ocupacional, fumaça de lenha Fatores individuais conhecidos: deficiência de alfa 1 antitripsina Outros exames: RX de tórax, espirometria, gasometria (saturação de O2 < 90%) CVF, VEF1, VEF1/CVF < 0,7 P-B Índice de Dispneia Modificado do MRC: 0- Tenho falta de ar ao realizar exercício intenso 1- Tenho falta de ar quando apresso o meu passo, subo escadas ou ladeiras 2- Preciso parar algumas vezes quando ando no meu passo, ou ando mais devagar que outraspessoas de minha idade 3- Preciso parar muitas vezes devido à minha falta de ar quando ando perto de 100 metros, ou poucos minutos de caminhada no plano 4- Sinto tanta falta de ar que não saio de casa, ou preciso de ajuda para me vestir ou tomar banho sozinho Quadros clínicos clássicos Soprador róseo (pink puffer): mais comum no paciente enfisematoso Soprador azul (blue bloater): mais comum no paciente bronquítico Manifestações Clínicas: Anamnese: Sintomas comuns: tosse, produção de escarro e dispneia aos esforços (meses ou anos) aparecem antes de uma exacerbação aguda (apesar de só serem notados assim pelo paciente) Atividades físicas com braços elevados no nível ou acima do nível do ombro são difíceis para pacientes com DPOC Avanço da doença: agravamento da dispneia aos esforços com interferência na capacidade de realizar atividades profissionais dispneia até mesmo nas atividades cotidianas Agravamento da obstrução do fluxo aéreo + aumento na frequência de exacerbações Pode haver hipoxemia em repouso e necessidade de oxigênio suplementar Achados Físicos: Estágios iniciais: exame físico normal, ou odor de fumaça, manchas de nicotina nas unhas e dedos da mão Doença mais grave: fase expiratória longa, sibilância à expiração, Hiperinsuflação (tórax em barril, limitação das excursões diafragmáticas na percussão) Obstrução mais grave: uso de músculos acessórios (posição em tripé), cianose nos lábios e leitos ungueais Diferenças no perfil de paciente com enfisema e bronquite crônica (grande parte apresenta ambos os elementos: Enfisema: sopradores rosados, magros, acianóticos em repouso, uso da musculatura acessória Bronquite crônica: pesados e cianóticos Doença avançada: consumpção sistêmica, perda de peso, depressão bitemporal, perda difusa do tecido adiposo subcutâneo, sinal de Hoover (movimentos paradoxais do gradil costal para dentro na inspiração) Importante: baqueteamento digital não é sinal de DPOC investigar câncer de pulmão Achados Laboratoriais: Provas de função pulmonar: redução do VEF e da razão VEF/CVF podem aumentar com a evolução da doença Capacidade de difusão reduzida no enfisema destruição parenquimatosa Fatores prognósticos: grau da obstrução do fluxo, desempenho no exercício, dispneia, IMC Gasometria arterial e oximetria: hipoxemia em repouso ou esforço Gasometria arterial: informa a ventilação alveolar e equilíbrio acidobásico pela PaCO2 e pH classificação da insuficiência ventilatória em aguda e crônica; é importante na avaliação de pacientes com sintoma de exacerbação Hipoxemia crônica: hematócrito alto, sinais de hipertrofia ventricular direita Exames radiográficos: importantes na classificação do tipo de DPOC Enfisema: bolhas evidentes, escassez de trama parenquimatosa, hipertransparência Hiperinsuflação: aumento dos volumes pulmonares e retificação do diafragma TC: exame definitivo para comprovar enfisema, mas tem pouca influencia no tratamento (exceto em casos cirúrgicos) Indicações de dosagem de alfa 1-antitripsina Enfisema pulmonar com início em adulto jovem < 45 anos Enfisema pulmonar sem fator de risco conhecido Enfisema predominante em região basal Doença hepática inexplicada Vasculite com positividade para c-ANCA História familiar de enfisema, doença hepática, paniculite ou bronquiectasia Diagnóstico diferencial: Asma ICC TB pulmonar Bronquiectasia Dados da história e exames que favorecem asma, no diagnóstico diferencial Início na infância ou adolescência História familiar Não tabagista Variação acentuada do grau de sintomas e sinais Reversibilidade completa da limitação do fluxo aéreo Boa resposta aos corticoides inalados Estadiamento com base na espirometria (GOLD) Aspectos clínicos e gasométricos adicionais aos dados espirométricos Exacerbação de DPOC Fatores pulmonares Infecções respiratórias Tromboembolismo pulmonar Pneumotórax Deterioração da própria doença de base Fatores extrapulmonares Alterações cardíacas (arritmias, infartos, descompensação cardíaca) Uso de sedativos e outras drogas Agentes etiológicos mais comuns Haemophilus influenzae Estreptococos pneumoniae Moraxella catarrhalis Vírus respiratórios Objetivos na conduta: Tratar o fator desencadeante Melhorar a oxigenação do paciente (SpO2 > 90%) Diminuir a resistência das vias aéreas (broncodilatadores, corticoides fisioterapia respiratória) Melhorar a função da musculatura respiratória (suporte ventilatório não invasivo, nutrição adequada, ventilação mecânica) Conduta na exacerbação sem necessidade de internação: Antibioticoterapia se: Aumento do volume da expectoração Aumento da intensidade da dispneia Mudança do aspecto da expectoração para purulento Broncodilatador inalatório Iniciar ou aumentar a frequência de uso de beta-2 agonista de curta duração ou brometo de ipratrópio Corticoide Prednisona ou equivalente por via oral Oxigênio: titular a oferta de O2 para manter SpO2 entre 90 e 92% Condições indicativas de internação Insuficiência respiratória aguda grave Aumento acentuada da dispneia Distúrbios de conduta ou hipersonolência (sonolento, confuso, agitado) Incapacidade de se alimentar, dormir ou deambular Hipoxemia refratária Hipercapnia com acidose (comparar com gasometrias prévias do paciente) Complicações (embolia pulmonar, pneumonia, pneumotórax) Insuficiência cardíaca descompensada ou descompensação de outra condição associada, como diabetes Impossibilidade de realizar corretamente o tratamento ambulatorial, por falta de condição socioeconômica Condições que podem exacerbar o paciente estável Necessidade de procedimentos invasivos Necessidade de realizar procedimentos médicos ou cirúrgicos que requeiram o uso de hipoanalgésicos, sedativos ou anestésicos Exacerbação com necessidade de internação Antibiótico Em pacientes graves, recomenda-se sempre prescrever antibióticos, exceto se a etiologia não for infecciosa (raríssimo) Broncodilatador Beta-2 agonista de curta duração a cada 20 minutos – até 3 doses – e, em seguida de 4/4 horas até estabilização Brometo de ipatrópio a cada 4 horas Xantinas a critérios médico Corticoide: Hidrocortisona ou metilprednisolona IV por até 72 horas, seguida de prednisona ou equivalente por via oral Oxigênio Titilar a oferta de O2 para manter a SpO2 entre 90 e 92% Ventilação não invasiva Ventilação invasiva Na falência ou contraindicação da ventilação não-invasiva Fisioterapia respiratória a ser avaliada individualmente Fatores de risco para má evolução da agudização Idade > de 65 anos Dispneia grave Comorbidades significativas Cardiopatia, diabetes mellitus dependente de insulina, insuficiência renal ou insuficiência hepática Mais de 4 exacerbações nos últimos 12 meses Hospitalização por exacerbações no ano prévio Uso de esteroides sistêmicos nos últimos 3 meses Uso de antibióticos nos 15 dias prévios Desnutrição DPOC estável Broncodilatadores, corticoides, fluidificantes de secreção (N-acetilcisteína), oxigenoterapia, vacinação (gripe e pneumonia) Tratar do Cor Pulmonale (IC secundária a um quadro pulmonar) e da hipertensão pulmonar Classificação da DPOC com os patógenos causadores das exacerbações e tratamento antibiótico ambulatório recomendado Grupo I: DPOC com VEF > 50% e sem fatores de risco Agentes: H. influenzae, M. catarrhalis, M. pneumoniae, C. pneumoniae e S. pneumoniae Antibióticos recomendados: β-lactâmico + inibidor de β-lactamase 1, cefuroxima, azitromicina/claritromicina Grupo II: DPOC com VEF > 50% e com fatores de risco Agentes: H. influenzae, M. catarrhalis, SPRP Antibióticos: os anteriores, além de moxifloxacino, gatifloxacino, levofloxacino, telitromicina Grupo III: DPOC com VEF entre 50% e 35% e com fatores de risco Agentes: H. influenzae, M. catarrhalis, SPRP e gram-entéricos Antibióticos: moxifloxacino, gatifloxacino, levofloxacino, telitromicina e β-lactâmicos + inibidor da β-lactamase Grupo IV: DPOC com VEF < 35% e com fatores de risco Agentes: H. influenzae, M. catarrhalis, SPRP e gram-entéricosAntibióticos: moxifloxacino, gatifloxacino, levofloxacino e ciprofloxacino (pseudomonas) Se possui alergia a quinolonas: β-lactâmicos + inibidor da β-lactamase
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