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Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase OAB 1ª FASE DIREITO DO CONSUMIDOR PROF. VERIDIANA MARIA REHBEIN Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase Conteúdo programático (conforme temas recorrentes no exame da ordem): 1. Breve contextualização e finalidade do direito do consumidor. 2. Sujeitos e objetos da relação de consumo. 3. Princípios da Política Nacional das Relações de Consumo. 4. Direitos básicos do consumidor: revisão contratual e inversão do ônus da prova. 5. Responsabilidade civil nas relações de consumo: por vício e por fato. 6. Da prescrição e da decadência; 7.Das práticas comerciais. 8. Da proteção contratual. 9. Infrações penais. 10. Da defesa do consumidor em juízo. 11. Da convenção coletiva de consumo. 1. Breve contextualização e finalidade do direito do consumidor Até o surgimento do Direito do Consumidor como ramo autônomo, o consumidor era classificado e denominado apenas como contratante, cliente ou comprador, pois era simplesmente parte de algum negócio jurídico, sem integrar, contudo, uma categoria reconhecida e protegida em lei. Foi a Constituição Federal de 1988 que reconheceu este novo sujeito de direitos, o consumidor, nas suas relações individuais e enquanto categoria. O direito do consumidor é um direito fundamental, por força do artigo 5º, XXXII e é também um princípio da ordem econômica nacional, conforme art. 170, V. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa do consumidor; O dispositivo constitucional afirma que o Estado promoverá a defesa do consumidor. Promover significa assegurar afirmativamente que o Estado (em seus três poderes) realize de forma efetiva a defesa dos interesses dos consumidores. Surge assim o Código de Defesa do Consumidor por expressa determinação constitucional, especialmente para proteger o mais vulnerável em suas relações econômicas. Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias. Do disposto no art. 1º percebe-se claramente que o Código de Defesa do Consumidor é uma norma que visa proteger um sujeito de direitos: o consumidor. “As normas de ordem pública estabelecem valores básicos e fundamentais de nossa ordem jurídica, são normas de direito privado, mas de forte interesse público, daí serem indisponíveis e inafastáveis através de contratos”. (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 70). 2. Sujeitos e objetos da relação de consumo. Segundo Claudia Lima Marques, o direito privado brasileiro divide-se em um direito geral, o direito civil, e dois direitos especiais, o direito comercial ou empresarial, voltado para as relações entre empresas; e o direito do consumidor, voltado para a proteção da parte mais frágil. Compreender as diferenças e saber identificar quando uma relação é de consumo é primordial para o estudo do Direito do Consumidor e para o êxito no Exame de Ordem. Assim, o grande desafio do intérprete e aplicador do CDC, como Código que regula uma relação jurídica entre privados, é saber diferenciar e saber “ver” quem é comerciante, quem é civil, quem é consumidor, quem é fornecedor, quem faz parte da cadeia de produção e distribuição e quem retira o bem do mercado como destinatário final, quem é equiparado a este, seja porque é uma coletividade que intervém na relação, porque é vítima de um acidente de consumo ou porque foi quem criou o risco no mercado. No caso do CDC é este exercício, de definir quem é o sujeito ou quem são os sujeitos da relação contratual e extracontratual, que vai definir o campo de aplicação desta lei, isto é, a que relação ela se aplica. Como vimos, o diferente no CDC é seu campo de aplicação subjetivo (consumidor e fornecedor), seu campo de aplicação ratione personae, uma vez que materialmente ele se aplica em princípio a todas as relações contratuais e extracontratuais (campo de aplicação ratione materiare) entre consumidores e fornecedores. (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 95). Dessa forma, a identificação dos sujeitos de uma relação de consumo é extremamente importante para distinguir o tipo de relação e identificar o direito Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase que deverá ser aplicado. A relação será de consumo quando integrada por um consumidor e um fornecedor. 2.1 Conceito de consumidor O conceito básico de consumidor é definido no art. 2º, caput, e complementado pelo seu parágrafo único e pelos artigos 17 e 29. Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. Dessa forma, pode-se, sobre o conceito de consumidor, concluir que: Não é definido apenas sob a ótica individual, mas também enquanto categoria (direito transindividual); Não é apenas o contratante, mas a vítima de acidentes (onde não há contrato entre as partes) e de práticas abusivas (realizadas antes da contratação); Não é apenas o que adquire, mas o que utiliza os produtos ou serviços; Pode ser pessoa física ou jurídica; A principal característica para conceituação de consumidor é ser “destinatário final”. No entanto, o legislador deixou ao intérprete a tarefa de esclarecer o sentido da expressão. Para tanto, surgiram algumas teorias. Para a corrente finalista, o conceito de consumidor está ligado à destinação econômica dada ao produto ou serviço, sendo consumidor somente o destinatário final fático e econômico, ou seja, aquela pessoa não profissional que adquire um produto ou serviço para si ou sua família. Para esta corrente, se alguém adquire ou utiliza produto ou serviço para Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase continuar a produzir, para fazer uso profissional, não se enquadraria no conceito de consumidor. Já para os adeptos da teoria maximalista, não importa se a pessoa física, jurídica ou profissional adquiriu o produto ou serviço para consumo próprio ou com a finalidade de obter lucro. Como lembra Miragem (2013), “a interpretação maximalista considera consumidor o destinatário fático do produto ou serviço, ainda que não o seja necessariamente seu destinatário econômico”. Em meio às duas correntes, uma terceira via se desenvolveu nos tribunais:a interpretação finalista aprofundada ou mitigada, dando relevância ao fator vulnerabilidade. Nesse sentido o consumidor pode ser pessoa física ou jurídica, desde que seja destinatário final fático e econômico ou, caso faça uso profissional (seja destinatário final fático e não econômico), que enfrente essa relação em situação de vulnerabilidade. É uma interpretação finalista mais aprofundada e madura, que deve ser saudada. Em casos difíceis, envolvendo pequenas empresas que utilizam insumos para a sua produção, mas não em sua área de expertise ou com uma utilização mista, principalmente na área dos serviços, provada a vulnerabilidade, conclui-se pela destinação final de consumo prevalente. Esta nova linha, em especial do STJ, tem utilizado, sob o critério finalista e subjetivo, expressamente a equiparação do art. 29 do CDC, em se tratando de pessoa jurídica que comprove ser vulnerável e atue fora do âmbito de sua especialidade, como o hotel que compra gás. Isso porque o CDC conhece outras definições de consumidor. O conceito-chave aqui é o da vulnerabilidade. (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 103). Hoje, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, se encontra consolidada no sentido de que a conceituação de consumidor deve ser feita mediante a utilização da teoria finalista mitigada, conforme segue: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SERVIÇO DE RASTREAMENTO E COMUNICAÇÃO DE DADOS. FALHA. ROUBO DE VEÍCULO. RESCISÃO CONTRATUAL. 1. OFENSA AOS ARTS. 165 E 535 DO CPC. NÃO OCORRÊNCIA. TEMAS APRECIADOS PELAS INSTÂNCIAS DE ORIGEM. 2. APLICAÇÃO DO CDC. RELAÇÃO DE CONSUMO. TEORIA FINALISTA MITIGAÇÃO. 3. RESPONSABILIDADE. NEXO CAUSAL. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE. SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. 4. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. IMPOSSIBILIDADE. NOVA ANÁLISE DA SITUAÇÃO FÁTICA. 5. AGRAVO IMPROVIDO. 1. Não viola os arts. 165 e 535 do CPC o acórdão que, integrado pelo Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase julgamento proferido nos embargos de declaração, se pronuncia de forma suficiente para a solução da controvérsia deduzida nas razões recursais. 2. A jurisprudência desta Corte Superior tem mitigado a teoria finalista para aplicar a incidência do Código de Defesa do Consumidor nas hipóteses em que a parte, pessoa física ou jurídica, apesar de não ser tecnicamente a destinatária final do produto ou serviço, se apresenta em situação de vulnerabilidade. [...] 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL 2014/0264397-3) Essa vulnerabilidade, esclarece Bruno Miragem, não se restringe apenas a hipótese econômica, mas especialmente na fragilidade técnica quando, “por exemplo, pessoa jurídica que pretenda a equiparação demonstre que não era especialista e não conhecia as informações técnicas relativas ao produto ou serviço contratado, assim como que tais conhecimentos não lhe eram exigíveis” (MIRAGEM, 2012, p. 135). 2.2 Conceito de fornecedor Conforme já mencionado, os conceitos de consumidor e de fornecedor são interdependentes, pois só haverá relação de consumo com a presença dos dois sujeitos. Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Percebe-se que o conceito é amplo e que o legislador não criou requisitos relacionados à natureza jurídica ou situação fiscal e administrativa do fornecedor. O caput do artigo 3º esclarece que fornecedor é gênero, do qual são espécies aqueles que desenvolvem as atividades listadas no artigo (produção, Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase montagem, importação, comercialização...). O elemento definidor do conceito é “desenvolver atividade”. Desenvolver uma atividade, conforme definições doutrinárias, está relacionado a habitualidade e ao profissionalismo, mas de maneira ampla e não limitada a uma formação profissional específica. Assim, uma concessionária de veículos que decide vender um computador da loja para substituí-lo por um mais moderno, não se transforma em fornecedora de computadores, pois essa não é a sua atividade. Já o conceito de fornecedor de serviços, conforme o parágrafo 2º do art. 3º, tem outro elemento além do desenvolvimento de atividade: a remuneração. Saliente-se que o legislador optou pela expressão “remunerados” ao invés de “onerosos”, que são aqueles que se contrapõem aos “gratuitos”, assim, a remuneração indireta não afasta a incidência do Código de Defesa do Consumidor. Alguns serviços que são prestados sem remuneração direta do consumidor, mas lucrativos, ou seja, remunerados de outra forma, sofrem a incidência do Código de Defesa do Consumidor. Neste sentido a seguinte decisão: CIVIL E CONSUMIDOR. INTERNET. RELAÇÃO DE CONSUMO. INCIDÊNCIA DO CDC. GRATUIDADE DO SERVIÇO. INDIFERENÇA. PROVEDOR DE CONTEÚDO. FISCALIZAÇÃO PRÉVIA DO TEOR DAS INFORMAÇÕES POSTADAS NO SITE PELOS USUÁRIOS. DESNECESSIDADE. MENSAGEM DE CONTEÚDO OFENSIVO. DANO MORAL. RISCO INERENTE AO NEGÓCIO. INEXISTÊNCIA. CIÊNCIA DA EXISTÊNCIA DE CONTEÚDO ILÍCITO. RETIRADA IMEDIATA DO AR. DEVER. DISPONIBILIZAÇÃO DE MEIOS PARA IDENTIFICAÇÃO DE CADA USUÁRIO. DEVER. REGISTRO DO NÚMERO DE IP. SUFICIÊNCIA. 1. A exploração comercial da internet sujeita as relações de consumo daí advindas à Lei nº 8.078/90. 2. O fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de internet ser gratuito não desvirtua a relação de consumo, pois o termo mediante remuneração, contido no art. 3º, § 2º, do CDC, deve ser interpretado de forma ampla, de modo a incluir o ganho indireto do fornecedor. 3. A fiscalização prévia, pelo provedor de conteúdo, do teor das informações postadas na web por cada usuário não é atividade intrínseca ao serviço prestado, de modo que não se pode reputar defeituoso, nos termos do art. 14 do CDC, o site que não examina e filtra os dados e imagens nele inseridos. 4. O dano moral decorrente de mensagens com conteúdo ofensivo inseridas no site pelo usuário não constitui risco inerente à atividade dos provedores de conteúdo, de modo que não se lhes aplica a Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase responsabilidade objetiva prevista no art. 927, parágrafo único, do CC/02. 5. Ao ser comunicado de que determinado texto ou imagem possui conteúdo ilícito, deve o provedor agir de forma enérgica, retirando o material do ar imediatamente, sob pena de responder solidariamente com o autor direto do dano, em virtude da omissão praticada. 6. Ao oferecer um serviço por meio do qual se possibilita que os usuários externem livremente sua opinião, deve o provedor de conteúdo ter o cuidado de propiciar meios para que se possa identificar cada um desses usuários, coibindo o anonimato e atribuindo a cada manifestação uma autoria certa e determinada. Sob a ótica da diligência média que se espera do provedor, deve este adotar as providências que, conforme as circunstâncias específicas de cada caso, estiverem ao seu alcance para a individualização dos usuários do site, sob pena de responsabilização subjetiva por culpa in omittendo. 7.A iniciativa do provedor de conteúdo de manter em site que hospeda rede social virtual um canal para denúncias é louvável e condiz com a postura esperada na prestação desse tipo de serviço - de manter meios que possibilitem a identificação de cada usuário (e de eventuais abusos por ele praticado) - mas a mera disponibilização da ferramenta não é suficiente. É crucial que haja a efetiva adoção de providências tendentes a apurar e resolver as reclamações formuladas, mantendo o denunciante informado das medidas tomadas, sob pena de se criar apenas uma falsa sensação de segurança e controle. 8. Recurso especial não provido. (REsp 1308830 / RS) A aplicabilidade do CDC também não é afastada somente pelo fato de o contrato ser disciplinado por lei específica. RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PLANO DE SAÚDE. RESPONSABILIDADE CIVIL.DESCREDENCIAMENTO DE CLÍNICA MÉDICA. COMUNICAÇÃO PRÉVIA AO CONSUMIDOR. AUSÊNCIA. VIOLAÇÃO DO DEVER DE INFORMAÇÃO. PREJUÍZO AO USUÁRIO. SUSPENSÃO REPENTINA DE TRATAMENTO QUIMIOTERÁPICO. SITUAÇÃO TRAUMÁTICA E AFLITIVA. DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. 1. Ação ordinária que busca a condenação da operadora de plano de saúde por danos morais, visto que deixou de comunicar previamente a consumidora acerca do descredenciamento da clínica médica de oncologia onde recebia tratamento, o que ocasionou a suspensão repentina da quimioterapia. 2. Apesar de os planos e seguros privados de assistência à saúde serem regidos pela Lei nº 9.656/1998, as operadoras da área que prestam serviços remunerados à população enquadram-se no conceito de fornecedor, existindo, pois, relação de consumo, devendo ser aplicadas também, nesses tipos contratuais, as regras do Código de Defesa do Consumidor (CDC). Ambos instrumentos normativos incidem conjuntamente, sobretudo porque esses contratos, de longa duração, lidam com bens sensíveis, como a manutenção da vida. São essenciais, portanto, tanto na formação quanto na execução da avença, a boa-fé entre as partes e o cumprimento dos deveres de informação, de cooperação e de lealdade (arts. 6º, III, e 46 do CDC). Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase 3. O legislador, atento às inter-relações que existem entre as fontes do direito, incluiu, dentre os dispositivos da Lei de Planos de Saúde, norma específica sobre o dever da operadora de informar o consumidor quanto ao descredenciamento de entidades hospitalares (art. 17, § 1º, da Lei nº 9.656/1998). 4. É facultada à operadora de plano de saúde substituir qualquer entidade hospitalar cujos serviços e produtos foram contratados, referenciados ou credenciados desde que o faça por outro equivalente e comunique, com trinta dias de antecedência, os consumidores e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). 5. O termo "entidade hospitalar" inscrito no art. 17, § 1º, da Lei nº 9.656/1998, à luz dos princípios consumeristas, deve ser entendido como gênero, a englobar também clínicas médicas, laboratórios, médicos e demais serviços conveniados. De fato, o usuário de plano de saúde tem o direito de ser informado acerca da modificação da rede conveniada (rol de credenciados), pois somente com a transparência poderá buscar o atendimento e o tratamento que melhor lhe satisfaz, segundo as possibilidades oferecidas. 6. O descumprimento do dever de informação (descredenciamento da clínica médica de oncologia sem prévia comunicação) somado à situação traumática e aflitiva suportada pelo consumidor (interrupção repentina do tratamento quimioterápico com reflexos no estado de saúde), capaz de comprometer a sua integridade psíquica, ultrapassa o mero dissabor, sendo evidente o dano moral, que deverá ser compensado pela operadora de plano de saúde. 7. Recurso especial não provido. (REsp 1349385 / PR) Por fim, o legislador esclareceu que serviço é a atividade fornecida no mercado de consumo. A expressão “mercado de consumo” traz uma ideia de relação mercantilizada e acaba por afastar a incidência do CDC a algumas relações que decorrem de políticas públicas, como financiamento estudantil ou imobiliário. O mesmo argumento também afasta, segundo o STJ, a aplicabilidade do CDC à prestação de serviços advocatícios, por força do art. 133 do CF, que atribuiu ao advogado um munus público, ou seja, que ao postular em nome do cidadão o advogado não exerce apenas uma profissão, mas uma atividade essencial, indispensável à administração da justiça. 2.3 Objeto da relação jurídica de consumo Segundo o parágrafo 1º, produto é qualquer bem móvel ou imóvel, material ou imaterial. Dessa forma, prevendo expressamente a caracterização do produto também como bem imaterial, tornou a norma plenamente aplicável também às relações estabelecidas pela internet. O conceito de serviço, como Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase dito, inclui o elemento remuneração. Assim, serviço é atividade fornecida no mercado de consumo mediante remuneração. Conforme visto, essa remuneração pode ser direta (contraprestação pelo próprio consumidor) ou indireta (vantagens econômicas auferidas pelo fornecedor). Ainda sobre o objeto das relações de consumo, resta avaliar a aplicação do CDC à prestação de serviços públicos, questão ainda controvertida. O legislador fez referência ao serviços públicos em diversos dispositivo: art. 3º, caput; 4º, VII; 6º, X e 22. Todavia, não são todos os serviços públicos que se subordinam às normas de proteção do consumidor. A distinção dos serviços a que se aplica o regime do CDC e aqueles que se subordinam exclusivamente ao regime de direito administrativo é realizada, em nosso direito, por Adalberto Pasqualotto, em estudo de referência sobre o tema. Observa então, Pasqualotto, que a aplicação do CDC não prescinde da distinção entre os serviços públicos uti singuli e uti universi. Serviços públicos uti singuli são aqueles prestados e fruídos individualmente e, por isso, de uso mensurável, os quais são remunerados diretamente por quem deles se aproveita, em geral por intermédio de tarifa (e. g. serviços de energia elétrica, água). Já os serviços uti universi, prestados de modo difuso para toda a coletividade, não são passíveis de mensuração, sendo custeados por intermédio de impostos pagos pelos contribuintes (relação de direito tributário). (MIRAGEM, 2012, p. 150) Dessa forma, será aplicado o CDC à prestação de serviços uti singuli (energia elétrica, água, telefonia, transporte...) e não será aplicado o CDC à prestação de serviços públicos custeados pela coletividade, através de tributação (uti universi), como segurança pública, por exemplo. 3. Princípios da Política Nacional das Relações de Consumo O princípio da vulnerabilidade é o princípio fundamental da proteção do consumidor. Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; Destaque-se que uma vez identificada a presença de um consumidor, nos termos dos artigos 2º, 17 e 29, do CDC, a vulnerabilidade passa a ser presumida, nos termos do inciso I, do art. 4º. A noção de vulnerabilidade no direito associa-se à identificação de fraqueza ou debilidade de um dos sujeitos da relação jurídica em razão de determinadas condições ou qualidades que lhe são inerentesou, ainda, de uma posição de força que pode ser identificada no outro sujeito da relação jurídica. Neste sentido, há possibilidade de sua identificação ou determinação a priori, in abstracto, ou ao contrário, sua verificação a posteriori, in concreto, dependendo, neste último caso, da demonstração da situação de vulnerabilidade. A opção do legislador brasileiro, como já referimos, foi pelo estabelecimento de uma presunção de vulnerabilidade do consumidor, de modo que todos os consumidores sejam considerados vulneráveis, uma vez que a princípio não possuem o poder de direção da relação de consumo, estando expostos às práticas comerciais dos fornecedores no mercado. (MIRAGEM, 2012, p. 100). Embora a vulnerabilidade do consumidor seja dividida em diversas espécies por alguns doutrinadores (técnica, jurídica, fática e informacional), importa compreender a origem desta presunção de vulnerabilidade, que remonta ao episódio de despersonalização e massificação dos contratos. A partir do momento que os produtos passaram a ser concebidos exclusivamente pelo fabricante e produzidos em grande escala, aumentaram os riscos ao consumidor, fragilizando-o nesta relação. Estes riscos decorrem da produção massificada com redução do controle da qualidade final, da complexidade técnica do produto, cada vez mais distante da compreensão do consumidor leigo; da contratação em forma de mera adesão; do estímulo constante ao consumo conduzido por um agressivo marketing; da rápida obsolescência dos produtos, entre outras tantas modernas situações. Conforme enunciado de questão do XII Exame da ordem Unificado, “a doutrina consumerista dominante considera a vulnerabilidade um conceito jurídico indeterminado, plurissignificativo”. Entre tantos princípios importantes referidos no art. 4º, importa mencionar também o princípio da boa-fé objetiva. “O princípio da boa-fé objetiva implica a Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase exigência nas relações jurídicas do respeito e da lealdade com o outro sujeito da relação, impondo um dever de correção e fidelidade, assim como o respeito às expectativas legítimas geradas no outro” (MIRAGEM, 2012, p. 110). Veja questão do Exame de Ordem sobre o princípio da boa-fé objetiva (em negrito a alternativa correta): No âmbito do Código de Defesa do Consumidor, em relação ao princípio da boa-fé objetiva, é correto afirmar que a) sua aplicação se restringe aos contratos de consumo. b) para a caracterização de sua violação imprescindível se faz a análise do caráter volitivo das partes. c) não se aplica à fase pré-contratual. d) importa em reconhecimento de um direito a cumprir em favor do titular passivo da obrigação. 4. Direitos Básicos do Consumidor: revisão contratual e inversão do ônus da prova. O artigo 6º dispõe sobre os direitos básicos do consumidor. Na sua maioria, esses direitos são regulados posteriormente em artigos específicos, como os direitos à proteção da vida, saúde e segurança e proteção contra a publicidade enganosa e abusiva; outros, contudo, são disciplinados no próprio artigo 6º, como o direito a modificação e revisão dos contratos e o direito à inversão do ônus da prova. CAPÍTULO III Dos Direitos Básicos do Consumidor Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012) Vigência IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX - (Vetado); X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. 4.1 Modificação e revisão das cláusulas contratuais O direito à revisão e/ou modificação das cláusulas contratuais decorre do direito ao equilíbrio contratual. Conforme Bruno Miragem (2012, p. 171), “o direito subjetivo do consumidor ao equilíbrio contratual constitui efeito da principiologia do direito do consumidor, muito especialmente dos princípios da boa-fé, da vulnerabilidade e, especialmente, do próprio princípio do equilíbrio”. O Inciso V menciona a possibilidade de modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. Assim, pode o consumidor, diante de alguma abusividade (art. 51), buscar a nulidade de determinada cláusula e também pode buscar a revisão e modificação de cláusulas que, desde a contratação, violem o equilíbrio do contrato. Enquanto que pelo direito civil a revisão do desequilíbrio existente desde a celebração do contrato só pode se dar mediante a demonstração de um vício de consentimento, para o direito do consumidor basta demonstrar a desproporção (injustiça), sem necessidade de invalidação de todo o negócio jurídico. Já quanto à revisão por fato superveniente que torne a obrigação excessivamente onerosa, também há diferenças em relação a disciplina do Código Civil. Segundo o art. 317 do diploma civil, o fato superveniente deve ser imprevisível, já o CDC não faz referência à imprevisibilidade. Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase A norma do art. 6º do CDC avança em relação ao Código Civil (arts. 478-480 – Da resolução por onerosidade excessiva), ao não exigir que o fato superveniente seja imprevisível ou irresistível. Apenas exige a quebra da base objetiva do negócio, a quebra do seu equilíbrio intrínseco, a destruição da relação de equivalência entre prestações, o desaparecimento do fim essencial do contrato. Em outras palavras, o elemento autorizador da ação modificadora do Judiciário é o resultado objetivo da engenharia contratual, que agora apresenta a mencionada onerosidade excessiva para o consumidor, resultado de simples fato superveniente, fato que não necessita ser extraordinário, irresistível, fato que podia ser previsto e não foi. O CDC, também não exige, para promover revisão, que haja “extrema vantagem para a outra” parte contratual, como faz o Código Civil (art. 478). (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 81). No XVII Exame da Ordem Unificado foi questionado sobre a possibilidade de um consumidor buscar a revisão de um contrato de financiamentode veículo com alienação fiduciária, em razão de, alguns meses após a realização do negócio, entender que a obrigação assumida lhe era excessivamente onerosa. As alternativas versavam, além da possibilidade de revisão de contrato, sobre a aplicabilidade do CDC aos contratos de financiamento com alienação fiduciária e sobre a necessidade de propositura de ação independente para exibição de documentos. Conforme entendimento jurisprudencial, não há necessidade de pedido prévio de exibição de documentos, pois este pode ser efetuado incidentalmente na própria ação que busca a revisão contratual. Também conforme entendimento do STJ, a ação cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e segunda via de documentos) é cabível como medida preparatória a fim de instruir a ação principal, bastando a demonstração da existência de relação jurídica entre as partes, a comprovação de prévio pedido à instituição financeira não atendido em prazo razoável, e o pagamento do custo do serviço conforme previsão contratual e normatização da autoridade monetária. A jurisprudência consolidou o entendimento de que é possível o pedido incidental de exibição de documentos, nos termos do art. 355 e seguintes do CPC anterior e do art. 396 do novo CPC, inclusive com aplicação da presunção de veracidade em caso de negativa: Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase A jurisprudência deste Tribunal Superior, inclusive firmada em recurso especial representativo de controvérsia, é no sentido de ser descabida a multa cominatória na exibição, incidental ou autônoma, de documento relativo a direito disponível (Súmula nº 372/STJ). Quando houver descumprimento injustificado da determinação judicial, em se tratando de ação cautelar de exibição, o magistrado poderá ordenar a busca e apreensão do documento ou, nas hipóteses de exibição incidental de documento, sendo disponível o direito, poderá aplicar a presunção de veracidade (art. 359 do CPC), a qual será relativa. (AgRg no REsp 1491088/SP). Assim, a resposta correta é que “a questão comporta aplicação do CDC, e a ação revisional pode ser proposta independentemente de medida cautelar preparatória de exibição de documentos, já que o pleito de exibição do contrato poderá ser formulado incidentalmente e nos próprios autos”. Outra questão do Exame de Ordem sobre o direito básico de revisar contratos: Analisando o artigo 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor, que prescreve: “São direitos básicos do consumidor: V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas”, assinale a alternativa correta. a) Não traduz a relativização do princípio contratual da autonomia da vontade das partes. b) Almeja, em análise sistemática, precipuamente, a resolução do contrato firmado entre consumidor e fornecedor. c) Admite a incidência da cláusula rebus sic stantibus. d) Exige a imprevisibilidade do fato superveniente. 4.2 Inversão judicial do ônus da prova Ter o ônus de provar significa suportar o risco pela falta de prova de um fato pertinente (o risco é a improcedência da ação). A inversão do ônus da prova pode decorrer da lei (ope legis), como na responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço (arts. 12 e 14 do CDC), ou por determinação judicial (ope judicis) como no caso do art. 6º, VIII. A norma (no caso da inversão judicial) autoriza o julgador a inverter o ônus da prova em favor do consumidor em duas hipóteses: quando for verossímil a afirmação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência. Ora, na estrutura das relações de consumo, o domínio do conhecimento sobre o produto ou o serviço, ou ainda sobre o processo Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase de produção e fornecimento dos mesmos no mercado de consumo é do fornecedor. Da mesma forma, não se pode desconhecer que a defesa judicial de interesses exige do titular da pretensão a disposição de recursos financeiros e técnicos para uma adequada demonstração da pertinência e procedência do seu interesse. (MIRAGEM, 2012, p. 183) Impõe-se assim a compreensão dos conceitos de hipossuficiência e verossimilhança. Os doutrinadores esclarecem que, apesar da semelhança, não se pode confundir os significados de vulnerabilidade e hipossuficiência. Conforme visto, todos os consumidores são presumidamente vulneráveis, conforme o disposto no art. 4º. Já a hipossuficiência relaciona-se com a ausência de condições de provar sua pretensão. “Já a verossimilhança se estabelece a partir de um critério de probabilidade, segundo os argumentos trazidos ao conhecimento do juiz, de que uma dada situação relatada tenha se dado de modo igual ou bastante semelhante ao conteúdo do relato” (MIRAGEM, 2012, p. 187). A regra geral da distribuição do ônus da prova (que deverá ser invertida) está prevista no art. 373 do Novo Código de Processo Civil: Art. 373. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. A inversão judicial do ônus da prova deve ocorrer preferencialmente na fase de saneamento do processo ou, pelo menos, assegurando-se à parte a quem não incumbia inicialmente o encargo, a reabertura da oportunidade para apresentação de provas. PROCESSUAL CIVIL. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. REGRA DE INSTRUÇÃO. EXAME ANTERIOR À PROLAÇÃO DA SENTENÇA. PRECEDENTES DO STJ. 1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a inversão do ônus da prova prevista no art. 6º, VIII, do CDC, é regra de instrução e não regra de julgamento, sendo que a decisão que a determinar deve - preferencialmente - ocorrer durante o saneamento do processo ou - quando proferida em momento posterior - garantir a parte a quem incumbia esse ônus a oportunidade de apresentar suas provas. Precedentes: (julgado em 30/09/2014) Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase 5. Responsabilidade civil nas relações de consumo: por vício e por fato. A responsabilidade civil é uma das áreas do direito que melhor reflete as transformações sociais, políticas e econômicas do último século. Considerando que vivenciamos um modelo econômico fundamentado no acesso crescente aos bens de consumo, não surpreende a afirmação de que a responsabilidade civil decorrente das relações de consumo assumiu extrema importância na sociedade contemporânea. Inicialmente fundamentada na teoria da culpa, a responsabilidade civil hoje volta seus olhos para a vítima. O Direito preocupa-se com o dano sofrido pela vítima; o resultado ou objeto. A responsabilidade civil nas relações de consumo é, portanto, objetiva e fundamentada na teoria do risco. O Ministro Herman Benjamin, com muita perspicácia, elaborou uma teoria que define com precisão os fundamentos da responsabilidade civil nas relações de consumo: A teoria da qualidade. Segundo o Ministro, o Código de Defesa do Consumidor, ao dividir o dever de responder em duas órbitas distintas, inseriu nas relações de consumo o inafastável dever de qualidade dos produtos e serviços oferecidos no mercado. No direito do consumidor é possível enxergar duas órbitas distintas – embora não absolutamente excludentes – de preocupações. A primeira centraliza suas atenções na garantia da incolumidade físico- psíquica do consumidor, protegendo sua saúde e segurança, ou seja, preservandosua vida e integridade contra os acidentes de consumo provocados pelos riscos de produtos e serviços. Esta órbita, pela natureza do bem jurídico tutelado, ganha destaque em relação a segunda. A segunda esfera de inquietação, diversamente, busca regrar a incolumidade econômica do consumidor em face dos incidentes (e não acidentes!) de consumo capazes de atingir seu patrimônio. Não obstante em termos éticos a proteção da incolumidade físico-psíquica do consumidor seja prioritária, são os ataques a sua incolumidade econômica que mais aparecem no seu relacionamento com o fornecedor. Em outras palavras: enquanto a primeira órbita afeta o corpo do consumidor, a outra atinge seu bolso. Todavia, mesmo quando a atividade do fornecedor provoca danos a incolumidade físico-psíquica do consumidor, reflexamente está atingindo igualmente sua incolumidade econômica, ocasionado diminuição de seu patrimônio. Portanto, na identificação do tipo de esfera – e do regime jurídico – atacada pela atividade do fornecedor, não deve o intérprete buscar um Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase traço exclusivo e sim preponderante. (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2007, p. 100/101) Desta forma, conclui o autor que o dever de qualidade se subdivide em qualidade segurança (responsabilidade pelos fatos ou acidentes) e qualidade adequação (responsabilidade pelos vícios). O primeiro assunto é tratado no CDC no artigos 12 ao 17 e o segundo nos artigos 18 ao 24. 5.1 Da responsabilidade por fato do produto ou serviço A responsabilidade pelo fato do produto ou serviço, também chamada de responsabilidade pelos acidentes de consumo (dever de segurança), é aquela decorrente dos danos provocados por produtos ou serviços. Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - sua apresentação; II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi colocado em circulação. § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: I - que não colocou o produto no mercado; II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso. Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido. § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. Art. 15. (Vetado). Art. 16. (Vetado). Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Conforme o parágrafo 1º do artigo 12, o produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera. “O dano é pressuposto inafastável da responsabilidade civil. Não há que se falar em responsabilidade civil sem dano – o que pode qualificar-se como patrimonial ou moral” (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 169). Os fornecedores responsáveis são aqueles mencionados no artigo. O comerciante só será responsabilizado (por fato do produto) nas hipóteses do artigo 13. A responsabilidade dos fornecedores é objetiva, exceto a dos profissionais liberais, conforme art. 14, §4º, que determina que quanto a estes a responsabilização se dará mediante a verificação de culpa. Sobre a responsabilidade por fato do produto, a seguinte questão do Exame de Ordem: Determinado consumidor, ao mastigar uma fatia de pão com geleia, encontrou um elemento rígido, o que lhe causou intenso desconforto e a quebra parcial de um dos dentes. Em razão do fato, ingressou com medida judicial em face do mercado que vendeu a geleia, a fim de ser reparado. No curso do processo, a perícia constatou que o elemento Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase encontrado era uma pequena porção de açúcar cristalizado, não oferecendo risco à saúde do autor. Diante desta narrativa, assinale a afirmativa correta. A) O fabricante e o fornecedor do serviço devem ser excluídos de responsabilidade, visto que o material não ofereceu qualquer risco à integridade física do consumidor, não merecendo reparação. B) O elemento rígido não característico do produto, ainda que não o tornasse impróprio para o consumo, violou padrões de segurança, já que houve dano comprovado pelo consumidor. C) A responsabilidade do fornecedor depende de apuração de culpa e, portanto, não tendo o comerciante agido de modo a causar voluntariamente o evento, não deve responder pelo resultado. D) O comerciante não deve ser condenado e sequer caberia qualquer medida contra o fabricante, posto que não há fato ou vício do produto, motivo pelo qual não deve ser responsabilizado pelo alegado defeito. 5.2 Da responsabilidade por vício do produto ou serviço A responsabilidade pelos vícios dos produtos ou serviços refere-se a seu adequado funcionamento e a sua adequação aos fins aos quais se destinam. Nada mais natural e justo que os produtos e serviços oferecidos no mercado de consumo tenham qualidade, atendam à sua finalidade própria e, consequentemente, às necessidades e expectativas dos consumidores. O Código de Defesa do Consumidor determina que, independentemente da garantia oferecida pelo fornecedor (garantia de fábrica), os produtos e serviços devem ser adequados aos fins a que se destinam, ou seja, devem funcionar bem, atender às legítimas expectativas do consumidor (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 199). O caput do artigo esclarece a existência de quatro modalidades de vícios: a) aqueles que tornam o produto impróprio ao consumo; b) aqueles que tornam o produto inadequado ao consumo; c) aqueles que lhe diminuam o valor e d) aquelesem desconformidade com o que foi informado sobre eles. Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor. § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. § 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo. § 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor. § 6° São impróprios ao uso e consumo: I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam. Percebe-se, assim, que o fornecedor, em regra, tem até 30 dias para sanar o vício do produto. Não terá este prazo, contudo, nas hipóteses do parágrafo 3º do art. 18, conforme questão (EO) que segue: Dulce, cinquenta e oito anos de idade, fumante há três décadas, foi diagnosticada como portadora de enfisema pulmonar. Trata-se de uma doença pulmonar obstrutiva crônica caracterizada pela dilatação excessiva dos alvéolos pulmonares, que causa a perda da capacidade respiratória e uma consequente oxigenação insuficiente. Em razão do avançado estágio da doença, foi prescrito como essencial o tratamento de suplementação de oxigênio. Para tanto, Joana, filha de Dulce, adquiriu para sua mãe um aparelho respiratório na loja Saúde e Bem- Estar. Porém, com uma semana de uso, o produto parou de funcionar. Joana procurou imediatamente a loja para substituição do aparelho, oportunidade na qual foi informada pela gerente que deveria aguardar o prazo legal de trinta dias para conserto do produto pelo fabricante. Com base no caso narrado, em relação ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor, assinale a afirmativa correta. A) Está correta a orientação da vendedora. Joana deverá aguardar o prazo legal de trinta dias para conserto e, caso não seja sanado o vício, exigir a substituição do produto, a devolução do dinheiro corrigido monetariamente ou o abatimento proporcional do preço. B) Joana não é consumidora destinatária final do produto, logo tem apenas direito ao conserto do produto durável no prazo de noventa dias, mas não à devolução da quantia paga. Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase C) Joana não precisa aguardar o prazo legal de trinta dias para conserto, pois tem direito de exigir a substituição imediata do produto, em razão de sua essencialidade. D) Na impossibilidade de substituição do produto por outro da mesma espécie, Joana poderá optar por um modelo diverso, sem direito à restituição de eventual diferença de preço, e, se este for de valor maior, não será devida por Joana qualquer complementação. Assim, ao contrário do que normalmente o consumidor imagina, o vício não lhe dará o direito à substituição imediata do produto. Conforme dispõe a parte final do caput e o parágrafo primeiro, o fornecedor tem o direito de sanar os vícios, substituindo as partes viciadas, no prazo de até 30 dias. Não sendo o vício sanado, poderá o consumidor fazer uso das alternativas do parágrafo 1º. Neste sentido, a seguinte questão do Exame de Ordem: Ao instalar um novo aparelho de televisão no quarto de seu filho, o consumidor verifica que a tecla de volume do controle remoto não está funcionando bem. Em contato com a loja onde adquiriu o produto, é encaminhado à autorizada. O que esse consumidor pode exigir com base na lei, nesse momento, do comerciante? a) A imediata substituição do produto por outro novo. b) O dinheiro de volta. c) O conserto do produto no prazo máximo de 30 dias. d) Um produto idêntico emprestado enquanto durar o conserto. O art. 19 trata dos vícios de quantidade. Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - o abatimento proporcional do preço; II - complementação do peso ou medida; III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios; IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos. § 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior. § 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os padrões oficiais. O art. 20 trata dos vícios na prestação de serviços. Diferentemente do art. 18, ao fornecedor de serviços o Código não disponibiliza prazo para que o vício seja sanado. Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos; III - o abatimento proporcional do preço. § 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. § 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade. Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedorde empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do consumidor. Recentemente, uma questão do Exame de Ordem mesclou os temas “vício na prestação de serviços” e “validade e forma do orçamento”. Hugo colidiu com seu veículo e necessitou de reparos na lataria e na pintura. Para tanto, procurou, por indicação de um amigo, os serviços da Oficina Mecânica M, oportunidade na qual lhe foi ofertado orçamento escrito, válido por15 (quinze) dias, com o valor da mão de obra e dos materiais a serem utilizados na realização do conserto do automóvel. Hugo, na certeza da boa indicação, contratou pela primeira vez com a Oficina. Considerando as regras do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, assinale a afirmativa correta. A) Segundo a lei do consumidor, o orçamento tem prazo de validade obrigatório de 10 (dez) dias, contados do seu recebimento pelo consumidor Hugo. Logo, no caso, somente durante esse período a Oficina Mecânica M estará vinculada ao valor orçado. B) Uma vez aprovado o orçamento pelo consumidor, os contraentes estarão vinculados, sendo correto afirmar que Hugo não responderá por quaisquer ônus ou acréscimos no valor dos materiais orçados; contudo, ele poderá vir a responder pela necessidade de contratação de terceiros não previstos no orçamento prévio. C) Se o serviço de pintura contratado por Hugo apresentar vícios de qualidade, é correto afirmar que ele terá tríplice opção, à sua escolha, de exigir da oficina mecânica: a reexecução do serviço sem custo adicional; a devolução de eventual quantia já paga, corrigida monetariamente, ou o abatimento do preço de forma proporcional. D) A lei consumerista considera prática abusiva a execução de serviços sem a prévia elaboração de orçamento, o que pode ser feito por qualquer meio, oral ou escrito, exigindo se, para sua validade, o consentimento expresso ou tácito do consumidor. Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase 5.3 Da responsabilidade solidária Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. No XIV Exame de Ordem Unificado foi questionado sobre a responsabilidade solidária nas relações de consumo, mediante o seguinte enunciado: Um homem foi submetido a cirurgia para remoção de cálculos renais em hospital privado. A intervenção foi realizada por equipe médica não integrante dos quadros de funcionários do referido hospital, apesar de ter sido indicada por esse mesmo hospital. Durante o procedimento, houve perfuração do fígado do paciente, verificada somente três dias após a cirurgia, motivo pelo qual o homem teve que se submeter a novo procedimento cirúrgico, que lhe deixou uma grande cicatriz na região abdominal. O paciente ingressou com ação judicial em face do hospital, visando a indenização por danos morais e estéticos. No caso apresentado, a equipe médica que realizou o procedimento não integrava o quadro de funcionários do hospital acionado, mas foi indicada ao consumidor por este hospital. Em síntese, as alternativas versavam sobre a responsabilização ou não do hospital. A alternativa correta foi a de que “o hospital responde objetivamente pelos danos morais e estéticos decorrentes do erro médico, tendo em vista que ele indicou a equipe médica”. O Superior Tribunal de Justiça, em julgamento de um Recurso Especial em maio de 2015, entendeu também pela responsabilidade solidária em caso semelhante. A autora sustentou a ocorrência de erro médico consistente na perfuração do seu intestino durante a realização de cirurgia de laparatomia, o que a obrigou, dias depois, a realizar diversos outros atos cirúrgicos, permanecendo internada na UTI e correndo risco de morte. Postulou, com isto, o pagamento de indenização por danos morais em valor não inferior a 500 salários mínimos. O juízo de primeiro Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase grau, após regular instrução, julgou procedente o pedido, condenando solidariamente os réus ao pagamento de indenização no valor equivalente a 500 salários mínimos. Interpostas apelações pelos réus, o Tribunal de origem reduziu o valor da indenização para 200 salários mínimos. Para a manutenção da condenação solidária, o Tribunal reconheceu a atuação coordenada dos réus na prestação de serviços médico-hospitalares à autora, tendo a cirurgia sido praticada por médicos credenciados à administradora de planos de saúde, cuja rede de atendimento compreende o hospital réu. Em seu recurso especial, o HOSPITAL AVICCENA questiona o reconhecimento da obrigação de indenizar o erro médico em solidariedade com a administradora de planos de saúde ré, ressaltando, na linha do que constou do acórdão recorrido, que os médicos que realizaram a cirurgia eram credenciados junto ao plano de saúde, sendo, pois, externos ao corpo clínico-hospitalar. Alegou, assim, a violação do art. 932, III, do CC/02 e a existência de dissídio jurisprudencial frente ao seguinte precedente, in verbis: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. NEGLIGÊNCIA. INDENIZAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. 1. A doutrina tem afirmado que a responsabilidade médica empresarial, no caso de hospitais, é objetiva, indicando o parágrafo primeiro do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor como a norma sustentadora de tal entendimento. Contudo, a responsabilidade do hospital somente tem espaço quando o dano decorrer de falha de serviços cuja atribuição é afeta única e exclusivamente ao hospital. Nas hipóteses de dano decorrente de falha técnica restrita ao profissional médico, mormente quando este não tem nenhum vínculo com o hospital – seja de emprego ou de mera preposição –, não cabe atribuir ao nosocômio a obrigação de indenizar. 2. Na hipótese de prestação de serviços médicos, o ajuste contratual – vínculo estabelecido entre médico e paciente – refere-se ao emprego da melhor técnica e diligência entre as possibilidades de que dispõe o profissional, no seu meio de atuação, para auxiliar o paciente. Portanto, não pode o médico assumir compromisso com um resultado específico, fato que leva ao entendimento de que, se ocorrer dano ao paciente, deve-se averiguar se houve culpa do profissional – teoria da responsabilidade subjetiva. No entanto, se, na ocorrência de dano impõe-se ao hospital que responda objetivamente pelos erros cometidos pelo médico, estar-se- á aceitando que o contrato firmado seja de resultado, pois se o médico não garante o resultado, o hospital garantirá. Isso leva ao seguinte absurdo: na hipótese de intervenção cirúrgica, ou o paciente sai curado ou será indenizado – daí um contrato de resultado firmado às avessas da legislação. 3. O cadastro que os hospitais normalmente mantêm de médicos que utilizam suas instalações para a realização de cirurgias não é suficiente para caracterizar relação de subordinação entre médico e hospital. Na verdade, tal procedimento representa um mínimo de organização empresarial. 4. Recurso especial do Hospital e Maternidade São Lourenço Ltda. provido. (REsp 908359/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/08/2008, DJe 17/12/2008).Não se controverte mais, portanto, acerca do defeito na prestação do serviço ocorrido durante a cirurgia de laparatomia, a perfuração do intestino da parte autora e o nexo de causalidade (art. 14 do CDC), mas tão-somente a relação de solidariedade existente entre o hospital recorrente e a outra ré, que administrava o plano de saúde a que eram credenciados os médicos. Em que pese a circunstância de os médicos que realizaram a cirurgia não pertencerem ao corpo clínico do hospital, em face da Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase jurisprudência do STJ a este respeito, entendo que, no específico caso dos autos, a responsabilidade do hospital frente à consumidora autora deriva do princípio da solidariedade existente entre os integrantes da cadeia de fornecimento de produto ou serviço, que é matéria de fato. A solidariedade entre os fornecedores integrantes da mesma cadeia de fornecimento de produtos ou serviços é reconhecida de forma tranquila na jurisprudência e na doutrina. No âmbito deste STJ, destaco os seguintes precedentes, proferidos tanto pela Terceira como pela Quarta Turma: CONSUMIDOR. CONTRATO. SEGURO. APÓLICE NÃO EMITIDA. ACEITAÇÃO DO SEGURO. RESPONSABILIDADE. SEGURADORA E CORRETORES. CADEIA DE FORNECIMENTO. SOLIDARIEDADE. 1. A melhor exegese dos arts. 14 e 18 do CDC indica que todos aqueles que participam da introdução do produto ou serviço no mercado devem responder solidariamente por eventual defeito ou vício, isto é, imputa-se a toda a cadeia de fornecimento a responsabilidade pela garantia de qualidade e adequação. 2. O art. 34 do CDC materializa a teoria da aparência, fazendo com que os deveres de boa-fé, cooperação, transparência e informação alcancem todos os fornecedores, diretos ou indiretos, principais ou auxiliares, enfim todos aqueles que, aos olhos do consumidor, participem da cadeia de fornecimento. 3. No sistema do CDC fica a critério do consumidor a escolha dos fornecedores solidários que irão integrar o polo passivo da ação. Poderá exercitar sua pretensão contra todos ou apenas contra alguns desses fornecedores, conforme sua comodidade e/ou conveniência. 4. O art. 126 do DL nº 73/66 não afasta a responsabilidade solidária entre corretoras e seguradoras; ao contrário, confirma-a, fixando o direito de regresso destas por danos causados por aquelas. 5. Tendo o consumidor realizado a vistoria prévia, assinado proposta e pago a primeira parcela do prêmio, pressupõe-se ter havido a aceitação da seguradora quanto à contratação do seguro, não lhe sendo mais possível exercer a faculdade de recusar a proposta. 6. Recurso especial não provido. (REsp 1077911/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/10/2011, DJe 14/10/2011) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. INCLUSÃO INDEVIDA DE NOME NO CADASTRO DE INADIMPLENTES. EMPRESA DE TELEFONIA DE LONGA DISTÂNCIA. SOLIDARIEDADE. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. CABIMENTO. 1. A empresa que integra a cadeia de fornecimento de serviços de telefonia é responsável solidária pelos danos causados ao consumidor pela indevida inclusão de seu nome nos órgãos de restrição ao crédito. 2. Agravo regimental provido para, reconsiderando decisão anterior, conhecer do recurso especial e dar-lhe parcial provimento. (AgRg no Ag 1226738/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 17/02/2011, DJe 25/02/2011). Na doutrina, entre outros, esta é a posição de Cláudia Lima Marques (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor , 2ª ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, p. 289 e ss). e de Sergio Cavalieri Filho (Programa de direito do consumidor . 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 274). A solidariedade entre os fornecedores, diretos ou indiretos, integrantes de uma mesma cadeia de produção ou de prestação de serviço significa que, independentemente de quem tenha de fato sido o responsável pelo defeito do produto ou do serviço, todos se apresentam, frente ao consumidor, como responsáveis de direito. Assim, uma vez reconhecida a obrigação de indenizar de um dos fornecedores, a responsabilidade dos demais frente ao consumidor é atribuída pelo próprio CDC, conforme destacou com propriedade o eminente Ministro Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase Luis Felipe Salomão quando do julgamento do Recurso Especial n.º 997.993/MG, in verbis: Ressalte-se também que, para a responsabilização de todos os integrantes da cadeia de consumo, apura-se a responsabilidade de um deles, objetiva ou decorrente de culpa, caso se verifique as hipóteses autorizadoras previstas no CDC. A responsabilidade dos demais integrantes da cadeia de consumo, todavia, não decorre de seu agir culposo ou de fato próprio, mas de uma imputação legal de responsabilidade que é servil ao propósito protetivo do sistema. Evidentemente que, resguardado o consumidor, podem os fornecedores, no exercício do seu direito de regresso, rediscutir a parcela de responsabilidade de cada um, na forma do art. 88 do CDC. No caso dos autos, ficou reconhecido que os réus integravam, relativamente à autora, a mesma cadeia de fornecimento de serviços. Os médicos que realizaram a cirurgia eram credenciados junto à administradora do plano de saúde com quem a paciente mantinha contrato. O hospital, por sua vez, compunha a rede médico-hospitalar do mesmo plano, fornecendo as instalações e os serviços necessários para a realização da cirurgia. Essas circunstâncias foram adequadamente analisadas e reconhecidas no acórdão recorrido, ainda que sob o título de formação de grupo econômico: Assim é que o contrato com a segunda corré, administradora de plano de saúde, tem por objeto prestar serviços, através de médicos e hospitais credenciados (no caso concreto, o HOSPITAL AVICCENA S.A e os médicos que realizaram a cirurgia, (Vinícius Paula de Almeida e Marcus Aurélio Malanga), enquanto o contrato entre a autora e o hospital complementa, como adminículo, a finalidade do primeiro. Ambos, porém, visam um único objeto: prestar ("vender") serviços de saúde aos usuários do plano: a administradora, de hospital e médicos credenciados, para prestar o atendimento a que se comprometera; o hospital e os médicos, de paciente pagos pela administradora. Demais disso, analisando os contratos sociais dos corréus, vê-se que os três sócios cotistas da administradora [AVICCENA ASSISTÊCIA MÉDICA LTDA. (fl. 98)] são igualmente acionistas do HOSPITAL AVICCENA S.A [AHMED MOHAMED KADRI, ALI AYOUB AUOUB e MUSTAFÁ FAOUZI AOBOU ARABI (fl. 82)]. Não há nada mais claro e convincente de que se tratam de empresários unidos pelo mesmo escopo: prestar, uma empresa, os serviços de saúde remunerados pela outra. Não se pode, assim, negar a atuação conjunta e coordenada dos fornecedores demandados na prestação dos serviços de saúde à autora. O reconhecimento, no caso dos autos, da responsabilidade do hospital frente à consumidora não implica a inobservância dos precedentes nos quais a responsabilidade é excluída em razão dos médicos não pertencerem ao corpo clínico-hospitalar, em face das peculiaridades do caso concreto. Com efeito, cada vez mais, em planos privados de saúde, o segurado busca os serviços oferecidos pela própria administradora, incluindo médicos, hospitais, exames clínicos e laboratoriais, etc., procurando reduzir as suas despesas. Na ocorrência de um problema, como no presente caso, não se exige que ingresse contra todos os profissionais que atuaram na prestação dos serviços médicos e hospitalares, embora todos, em tese, possam ser solidariamente responsáveis. Naturalmente, poderão os réus responsabilizados ingressar com ação de regresso, em processo autônomo, contra os demais fornecedores, discutindo a parcela de responsabilidadede cada um. (REsp 1359156 (2012/0263659-3 - 26/03/2015) (inteiro teor). Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase 6. Da decadência e da prescrição Tema complexo no direito do consumidor é aquele relacionado aos prazos para reclamação por vício ou por fato. O art. 26 trata do prazo para reclamar pelos vícios e o próprio legislador o denominou de prazo decadencial. Contudo, “a decadência tem em consideração a existência de um direito potestativo ou formativo que, uma vez exercido pelo titular, produz desde logo sua eficácia na constituição, modificação, ou extinção de uma determinada relação jurídica” (MIRAGEM, 2012, p. 506). Assim, por sua natureza, pode-se denominar de prazo decadencial aquele que o consumidor tem para reclamar perante o fornecedor dos vícios aparentes ou ocultos dos produtos ou serviços. Ocorre que o fornecedor pode não atender espontaneamente ao pedido do consumidor. Neste caso, lesado o direito do consumidor e tendo este que recorrer ao judiciário, a natureza deste segundo prazo se aproximaria muito mais de um prazo prescricional. Contudo, não é este o entendimento que prepondera na jurisprudência. O parágrafo 2º do art. 26 do CDC determina que “obsta a decadência” a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca. A interpretação doutrinária da expressão “obstar” foi a de que se trata de interrupção, assim, após a resposta negativa o prazo previsto no artigo recomeça. Recomeça, segundo entendimento de nossos tribunais, para o ajuizamento de uma ação por vício. Já o prazo prescricional para o exercício da pretensão reparatória por danos causados aos consumidores-vítimas de acidentes de consumo é de cinco anos, segundo estabelece o art. 27 do CDC. Verifique a seguinte questão do Exame de Ordem: Franco adquiriu um veículo zero quilômetro em novembro de 2010. Ao sair com o automóvel da concessionária, percebeu um ruído todas as vezes em que acionava a embreagem para a troca de marcha. Retornou à loja, e os funcionários disseram que tal barulho era natural ao veículo, cujo motor era novo. Oito meses depois, ao retornar para fazer a revisão de dez mil quilômetros, o consumidor se queixou que o Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase ruído persistia, mas foi novamente informado de que se tratava de característica do modelo. Cerca de uma semana depois, o veículo parou de funcionar e foi rebocado até a concessionária, lá permanecendo por mais de sessenta dias. Franco acionou o Poder Judiciário alegando vício oculto e pleiteando ressarcimento pelos danos materiais e indenização por danos morais. Considerando o que dispõe o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, a respeito do narrado acima, é correto afirmar que, por se tratar de vício oculto, a) o prazo decadencial para reclamar se iniciou com a retirada do veículo da concessionária, devendo o processo ser extinto. b) o direito de reclamar judicialmente se iniciou no momento em que ficou evidenciado o defeito, e o prazo decadencial é de noventa dias. c) o prazo decadencial é de trinta dias contados do momento em que o veículo parou de funcionar, tornando-se imprestável para o uso. d) o consumidor Franco tinha o prazo de sete dias para desistir do contrato e, tendo deixado de exercê-lo, operou-se a decadência. Tal questão relata um caso de vício do produto. Contudo, o enunciado afirma que o consumidor ajuizou ação por danos materiais e morais (dano à incolumidade psíquica - fato, portanto). Surge então a dúvida, sua ação é meramente por vício ou também é por fato (danos morais)? Percebe-se facilmente que as assertivas “a”, “c” e “d” estão erradas, pois fazem referência a prazos que não correspondem aquele para reclamar de vício oculto em produto durável (90 dias) e, para fugir da discussão sobre o prazo ser decadencial ou prescricional, o avaliador redigiu a assertiva correta sem entrar na questão de fundo sobre o pedido versar sobre vício ou fato. Deixou-a dúbia. 7. Das práticas comerciais O art. 29 do CDC determina que, para os fins do Capítulo V (das práticas comerciais), equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas neles previstas. É importante, desta forma, não esquecer que não é apenas o contratante que é protegido pelo CDC, o que, inclusive, é tema questionado nos exames da OAB. SEÇÃO II Da Oferta Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével. (Incluído pela Lei nº 11.989, de 2009) Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto. Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por período razoável de tempo, na forma da lei. Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos utilizados na transação comercial. Parágrafo único. É proibida a publicidade de bens e serviços por telefone, quando a chamada for onerosa ao consumidor que a origina. (Incluído pela Lei nº 11.800, de 2008). Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos. Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade; II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos. Oferta, em termos gerais, é uma proposta de contrato que uma pessoa faz a outra. Contudo, no Direito do Consumidor, por suas características, abrange inclusive a publicidade. No contrato de massa, em virtude de seu caráter coletivo, a oferta deixa de ser individualizada e cristalina, e passa a ser feita também através de meios massificados, como a publicidade, a exposição das mercadorias em vitrines, em exposições, e até na rua. Quando o dono da banca de jornais e revistas expõe as suas mercadorias ao público, está fazendo oferta. (CAVALIERI FILHO, 2011, p. 146), Direito do Consumidor Prof. Veridiana Maria Rehbein OAB 1ª Fase Os artigos 30 e seguintes tratam do princípio da vinculação, que significa a obrigação, do fornecedor, de cumprir o que ofertou. São dois os requisitos para a vinculação: que a oferta efetivamente chegue ao conhecimento
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