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Direito do Consumidor: Proteção e Defesa

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Direito do Consumidor 
Prof. Veridiana Maria 
Rehbein 
OAB 
1ª Fase 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OAB 1ª FASE 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
 
PROF. VERIDIANA MARIA REHBEIN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Direito do Consumidor 
Prof. Veridiana Maria 
Rehbein 
OAB 
1ª Fase 
 
 
Conteúdo programático (conforme temas recorrentes no exame da ordem): 1. 
Breve contextualização e finalidade do direito do consumidor. 2. Sujeitos e 
objetos da relação de consumo. 3. Princípios da Política Nacional das Relações 
de Consumo. 4. Direitos básicos do consumidor: revisão contratual e inversão 
do ônus da prova. 5. Responsabilidade civil nas relações de consumo: por vício 
e por fato. 6. Da prescrição e da decadência; 7.Das práticas comerciais. 8. Da 
proteção contratual. 9. Infrações penais. 10. Da defesa do consumidor em juízo. 
11. Da convenção coletiva de consumo. 
 
1. Breve contextualização e finalidade do direito do consumidor 
 
Até o surgimento do Direito do Consumidor como ramo autônomo, o 
consumidor era classificado e denominado apenas como contratante, cliente ou 
comprador, pois era simplesmente parte de algum negócio jurídico, sem integrar, 
contudo, uma categoria reconhecida e protegida em lei. 
Foi a Constituição Federal de 1988 que reconheceu este novo sujeito de 
direitos, o consumidor, nas suas relações individuais e enquanto categoria. O 
direito do consumidor é um direito fundamental, por força do artigo 5º, XXXII e é 
também um princípio da ordem econômica nacional, conforme art. 170, V. 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; 
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho 
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência 
digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes 
princípios: 
V - defesa do consumidor; 
 
O dispositivo constitucional afirma que o Estado promoverá a defesa do 
consumidor. Promover significa assegurar afirmativamente que o Estado (em 
seus três poderes) realize de forma efetiva a defesa dos interesses dos 
consumidores. Surge assim o Código de Defesa do Consumidor por expressa 
determinação constitucional, especialmente para proteger o mais vulnerável em 
suas relações econômicas. 
 
 
 
Direito do Consumidor 
Prof. Veridiana Maria 
Rehbein 
OAB 
1ª Fase 
 
 
Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do 
consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 
5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de 
suas Disposições Transitórias. 
 
Do disposto no art. 1º percebe-se claramente que o Código de Defesa do 
Consumidor é uma norma que visa proteger um sujeito de direitos: o consumidor. 
“As normas de ordem pública estabelecem valores básicos e fundamentais de 
nossa ordem jurídica, são normas de direito privado, mas de forte interesse 
público, daí serem indisponíveis e inafastáveis através de contratos”. 
(BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 70). 
 
2. Sujeitos e objetos da relação de consumo. 
 
Segundo Claudia Lima Marques, o direito privado brasileiro divide-se em 
um direito geral, o direito civil, e dois direitos especiais, o direito comercial ou 
empresarial, voltado para as relações entre empresas; e o direito do consumidor, 
voltado para a proteção da parte mais frágil. Compreender as diferenças e saber 
identificar quando uma relação é de consumo é primordial para o estudo do 
Direito do Consumidor e para o êxito no Exame de Ordem. 
 
Assim, o grande desafio do intérprete e aplicador do CDC, como 
Código que regula uma relação jurídica entre privados, é saber 
diferenciar e saber “ver” quem é comerciante, quem é civil, quem é 
consumidor, quem é fornecedor, quem faz parte da cadeia de produção 
e distribuição e quem retira o bem do mercado como destinatário final, 
quem é equiparado a este, seja porque é uma coletividade que 
intervém na relação, porque é vítima de um acidente de consumo ou 
porque foi quem criou o risco no mercado. No caso do CDC é este 
exercício, de definir quem é o sujeito ou quem são os sujeitos da 
relação contratual e extracontratual, que vai definir o campo de 
aplicação desta lei, isto é, a que relação ela se aplica. Como vimos, o 
diferente no CDC é seu campo de aplicação subjetivo (consumidor e 
fornecedor), seu campo de aplicação ratione personae, uma vez que 
materialmente ele se aplica em princípio a todas as relações 
contratuais e extracontratuais (campo de aplicação ratione materiare) 
entre consumidores e fornecedores. (BENJAMIN, MARQUES e 
BESSA, 2014, p. 95). 
 
Dessa forma, a identificação dos sujeitos de uma relação de consumo é 
extremamente importante para distinguir o tipo de relação e identificar o direito 
 
 
 
Direito do Consumidor 
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que deverá ser aplicado. A relação será de consumo quando integrada por um 
consumidor e um fornecedor. 
 
2.1 Conceito de consumidor 
 
O conceito básico de consumidor é definido no art. 2º, caput, e 
complementado pelo seu parágrafo único e pelos artigos 17 e 29. 
 
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou 
utiliza produto ou serviço como destinatário final. 
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, 
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de 
consumo. 
 Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores 
todas as vítimas do evento. 
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos 
consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às 
práticas nele previstas. 
 
Dessa forma, pode-se, sobre o conceito de consumidor, concluir que: 
 Não é definido apenas sob a ótica individual, mas também 
enquanto categoria (direito transindividual); 
 Não é apenas o contratante, mas a vítima de acidentes (onde 
não há contrato entre as partes) e de práticas abusivas (realizadas antes da 
contratação); 
 Não é apenas o que adquire, mas o que utiliza os produtos ou 
serviços; 
 Pode ser pessoa física ou jurídica; 
A principal característica para conceituação de consumidor é ser 
“destinatário final”. No entanto, o legislador deixou ao intérprete a tarefa de 
esclarecer o sentido da expressão. 
Para tanto, surgiram algumas teorias. Para a corrente finalista, o conceito 
de consumidor está ligado à destinação econômica dada ao produto ou serviço, 
sendo consumidor somente o destinatário final fático e econômico, ou seja, 
aquela pessoa não profissional que adquire um produto ou serviço para si ou sua 
família. Para esta corrente, se alguém adquire ou utiliza produto ou serviço para 
 
 
 
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continuar a produzir, para fazer uso profissional, não se enquadraria no conceito 
de consumidor. 
Já para os adeptos da teoria maximalista, não importa se a pessoa física, 
jurídica ou profissional adquiriu o produto ou serviço para consumo próprio ou 
com a finalidade de obter lucro. Como lembra Miragem (2013), “a interpretação 
maximalista considera consumidor o destinatário fático do produto ou serviço, 
ainda que não o seja necessariamente seu destinatário econômico”. 
Em meio às duas correntes, uma terceira via se desenvolveu nos 
tribunais:a interpretação finalista aprofundada ou mitigada, dando relevância 
ao fator vulnerabilidade. Nesse sentido o consumidor pode ser pessoa física ou 
jurídica, desde que seja destinatário final fático e econômico ou, caso faça uso 
profissional (seja destinatário final fático e não econômico), que enfrente essa 
relação em situação de vulnerabilidade. 
 
É uma interpretação finalista mais aprofundada e madura, que deve 
ser saudada. Em casos difíceis, envolvendo pequenas empresas que 
utilizam insumos para a sua produção, mas não em sua área de 
expertise ou com uma utilização mista, principalmente na área dos 
serviços, provada a vulnerabilidade, conclui-se pela destinação final de 
consumo prevalente. Esta nova linha, em especial do STJ, tem 
utilizado, sob o critério finalista e subjetivo, expressamente a 
equiparação do art. 29 do CDC, em se tratando de pessoa jurídica que 
comprove ser vulnerável e atue fora do âmbito de sua especialidade, 
como o hotel que compra gás. Isso porque o CDC conhece outras 
definições de consumidor. O conceito-chave aqui é o da 
vulnerabilidade. (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 103). 
 
Hoje, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, se encontra 
consolidada no sentido de que a conceituação de consumidor deve ser 
feita mediante a utilização da teoria finalista mitigada, conforme segue: 
 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM 
RECURSO ESPECIAL. SERVIÇO DE RASTREAMENTO E 
COMUNICAÇÃO DE DADOS. FALHA. ROUBO DE VEÍCULO. 
RESCISÃO CONTRATUAL. 1. OFENSA AOS ARTS. 165 E 535 DO 
CPC. NÃO OCORRÊNCIA. TEMAS APRECIADOS PELAS 
INSTÂNCIAS DE ORIGEM. 2. APLICAÇÃO DO CDC. RELAÇÃO DE 
CONSUMO. TEORIA FINALISTA MITIGAÇÃO. 3. 
RESPONSABILIDADE. NEXO CAUSAL. IMPOSSIBILIDADE DE 
ANÁLISE. SÚMULAS N. 5 E 7 DO STJ. 4. DISSÍDIO 
JURISPRUDENCIAL. IMPOSSIBILIDADE. NOVA ANÁLISE DA 
SITUAÇÃO FÁTICA. 5. AGRAVO IMPROVIDO. 
1. Não viola os arts. 165 e 535 do CPC o acórdão que, integrado pelo 
 
 
 
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julgamento proferido nos embargos de declaração, se pronuncia de 
forma suficiente para a solução da controvérsia deduzida nas razões 
recursais. 
2. A jurisprudência desta Corte Superior tem mitigado a teoria 
finalista para aplicar a incidência do Código de Defesa do 
Consumidor nas hipóteses em que a parte, pessoa física ou 
jurídica, apesar de não ser tecnicamente a destinatária final do 
produto ou serviço, se apresenta em situação de vulnerabilidade. 
[...] 
5. Agravo regimental a que se nega provimento. (AGRAVO 
REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL 
2014/0264397-3) 
 
Essa vulnerabilidade, esclarece Bruno Miragem, não se restringe apenas 
a hipótese econômica, mas especialmente na fragilidade técnica quando, “por 
exemplo, pessoa jurídica que pretenda a equiparação demonstre que não era 
especialista e não conhecia as informações técnicas relativas ao produto ou 
serviço contratado, assim como que tais conhecimentos não lhe eram exigíveis” 
(MIRAGEM, 2012, p. 135). 
 
2.2 Conceito de fornecedor 
 
Conforme já mencionado, os conceitos de consumidor e de fornecedor 
são interdependentes, pois só haverá relação de consumo com a presença dos 
dois sujeitos. 
 
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, 
nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que 
desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, 
transformação, importação, exportação, distribuição ou 
comercialização de produtos ou prestação de serviços. 
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. 
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, 
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, 
de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter 
trabalhista. 
 
Percebe-se que o conceito é amplo e que o legislador não criou requisitos 
relacionados à natureza jurídica ou situação fiscal e administrativa do 
fornecedor. O caput do artigo 3º esclarece que fornecedor é gênero, do qual são 
espécies aqueles que desenvolvem as atividades listadas no artigo (produção, 
 
 
 
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montagem, importação, comercialização...). O elemento definidor do conceito é 
“desenvolver atividade”. 
Desenvolver uma atividade, conforme definições doutrinárias, está 
relacionado a habitualidade e ao profissionalismo, mas de maneira ampla e não 
limitada a uma formação profissional específica. Assim, uma concessionária de 
veículos que decide vender um computador da loja para substituí-lo por um mais 
moderno, não se transforma em fornecedora de computadores, pois essa não 
é a sua atividade. 
 Já o conceito de fornecedor de serviços, conforme o parágrafo 2º do art. 
3º, tem outro elemento além do desenvolvimento de atividade: a remuneração. 
Saliente-se que o legislador optou pela expressão “remunerados” ao invés 
de “onerosos”, que são aqueles que se contrapõem aos “gratuitos”, assim, a 
remuneração indireta não afasta a incidência do Código de Defesa do 
Consumidor. Alguns serviços que são prestados sem remuneração direta do 
consumidor, mas lucrativos, ou seja, remunerados de outra forma, sofrem a 
incidência do Código de Defesa do Consumidor. Neste sentido a seguinte 
decisão: 
 
CIVIL E CONSUMIDOR. INTERNET. RELAÇÃO DE CONSUMO. 
INCIDÊNCIA DO CDC. GRATUIDADE DO SERVIÇO. INDIFERENÇA. 
PROVEDOR DE CONTEÚDO. FISCALIZAÇÃO PRÉVIA DO TEOR 
DAS INFORMAÇÕES POSTADAS NO SITE PELOS USUÁRIOS. 
DESNECESSIDADE. MENSAGEM DE CONTEÚDO OFENSIVO. 
DANO MORAL. RISCO INERENTE AO NEGÓCIO. INEXISTÊNCIA. 
CIÊNCIA DA EXISTÊNCIA DE CONTEÚDO ILÍCITO. RETIRADA 
IMEDIATA DO AR. DEVER. DISPONIBILIZAÇÃO DE MEIOS PARA 
IDENTIFICAÇÃO DE CADA USUÁRIO. DEVER. REGISTRO DO 
NÚMERO DE IP. SUFICIÊNCIA. 
1. A exploração comercial da internet sujeita as relações de consumo 
daí advindas à Lei nº 8.078/90. 
2. O fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de 
internet ser gratuito não desvirtua a relação de consumo, pois o 
termo mediante remuneração, contido no art. 3º, § 2º, do CDC, 
deve ser interpretado de forma ampla, de modo a incluir o ganho 
indireto do fornecedor. 
3. A fiscalização prévia, pelo provedor de conteúdo, do teor das 
informações postadas na web por cada usuário não é atividade 
intrínseca ao serviço prestado, de modo que não se pode reputar 
defeituoso, nos termos do art. 14 do CDC, o site que não examina e 
filtra os dados e imagens nele inseridos. 
4. O dano moral decorrente de mensagens com conteúdo ofensivo 
inseridas no site pelo usuário não constitui risco inerente à atividade 
dos provedores de conteúdo, de modo que não se lhes aplica a 
 
 
 
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responsabilidade objetiva prevista no art. 927, parágrafo único, do 
CC/02. 
5. Ao ser comunicado de que determinado texto ou imagem possui 
conteúdo ilícito, deve o provedor agir de forma enérgica, retirando o 
material do ar imediatamente, sob pena de responder solidariamente 
com o autor direto do dano, em virtude da omissão praticada. 
6. Ao oferecer um serviço por meio do qual se possibilita que os 
usuários externem livremente sua opinião, deve o provedor de 
conteúdo ter o cuidado de propiciar meios para que se possa identificar 
cada um desses usuários, coibindo o anonimato e atribuindo a cada 
manifestação uma autoria certa e determinada. Sob a ótica da 
diligência média que se espera do provedor, deve este adotar as 
providências que, conforme as circunstâncias específicas de cada 
caso, estiverem ao seu alcance para a individualização dos usuários 
do site, sob pena de responsabilização subjetiva por culpa in 
omittendo. 
7.A iniciativa do provedor de conteúdo de manter em site que 
hospeda rede social virtual um canal para denúncias é louvável e 
condiz com a postura esperada na prestação desse tipo de serviço - 
de manter meios que possibilitem a identificação de cada usuário (e de 
eventuais abusos por ele praticado) - mas a mera disponibilização da 
ferramenta não é suficiente. É crucial que haja a efetiva adoção de 
providências tendentes a apurar e resolver as reclamações 
formuladas, mantendo o denunciante informado das medidas tomadas, 
sob pena de se criar apenas uma falsa sensação de segurança e 
controle. 8. Recurso especial não provido. 
(REsp 1308830 / RS) 
 
A aplicabilidade do CDC também não é afastada somente pelo fato de o 
contrato ser disciplinado por lei específica. 
 
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PLANO DE SAÚDE. 
RESPONSABILIDADE CIVIL.DESCREDENCIAMENTO DE CLÍNICA 
MÉDICA. COMUNICAÇÃO PRÉVIA AO CONSUMIDOR. AUSÊNCIA. 
VIOLAÇÃO DO DEVER DE INFORMAÇÃO. PREJUÍZO AO 
USUÁRIO. SUSPENSÃO REPENTINA DE TRATAMENTO 
QUIMIOTERÁPICO. SITUAÇÃO TRAUMÁTICA E AFLITIVA. DANO 
MORAL. CONFIGURAÇÃO. 
1. Ação ordinária que busca a condenação da operadora de plano de 
saúde por danos morais, visto que deixou de comunicar previamente a 
consumidora acerca do descredenciamento da clínica médica de 
oncologia onde recebia tratamento, o que ocasionou a suspensão 
repentina da quimioterapia. 
2. Apesar de os planos e seguros privados de assistência à saúde 
serem regidos pela Lei nº 9.656/1998, as operadoras da área que 
prestam serviços remunerados à população enquadram-se no 
conceito de fornecedor, existindo, pois, relação de consumo, 
devendo ser aplicadas também, nesses tipos contratuais, as regras do 
Código de Defesa do Consumidor (CDC). Ambos instrumentos 
normativos incidem conjuntamente, sobretudo porque esses contratos, 
de longa duração, lidam com bens sensíveis, como a manutenção da 
vida. São essenciais, portanto, tanto na formação quanto na execução 
da avença, a boa-fé entre as partes e o cumprimento dos deveres de 
informação, de cooperação e de lealdade (arts. 6º, III, e 46 do CDC). 
 
 
 
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3. O legislador, atento às inter-relações que existem entre as fontes do 
direito, incluiu, dentre os dispositivos da Lei de Planos de Saúde, 
norma específica sobre o dever da operadora de informar o consumidor 
quanto ao descredenciamento de entidades hospitalares (art. 17, § 1º, 
da Lei nº 9.656/1998). 
4. É facultada à operadora de plano de saúde substituir qualquer 
entidade hospitalar cujos serviços e produtos foram contratados, 
referenciados ou credenciados desde que o faça por outro equivalente 
e comunique, com trinta dias de antecedência, os consumidores e a 
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). 
5. O termo "entidade hospitalar" inscrito no art. 17, § 1º, da Lei nº 
9.656/1998, à luz dos princípios consumeristas, deve ser entendido 
como gênero, a englobar também clínicas médicas, laboratórios, 
médicos e demais serviços conveniados. De fato, o usuário de plano 
de saúde tem o direito de ser informado acerca da modificação da rede 
conveniada (rol de credenciados), pois somente com a transparência 
poderá buscar o atendimento e o tratamento que melhor lhe satisfaz, 
segundo as possibilidades oferecidas. 
6. O descumprimento do dever de informação (descredenciamento da 
clínica médica de oncologia sem prévia comunicação) somado à 
situação traumática e aflitiva suportada pelo consumidor (interrupção 
repentina do tratamento quimioterápico com reflexos no estado de 
saúde), capaz de comprometer a sua integridade psíquica, ultrapassa 
o mero dissabor, sendo evidente o dano moral, que deverá ser 
compensado pela operadora de plano de saúde. 
7. Recurso especial não provido. 
(REsp 1349385 / PR) 
 
Por fim, o legislador esclareceu que serviço é a atividade fornecida no 
mercado de consumo. A expressão “mercado de consumo” traz uma ideia de 
relação mercantilizada e acaba por afastar a incidência do CDC a algumas 
relações que decorrem de políticas públicas, como financiamento estudantil ou 
imobiliário. O mesmo argumento também afasta, segundo o STJ, a aplicabilidade 
do CDC à prestação de serviços advocatícios, por força do art. 133 do CF, que 
atribuiu ao advogado um munus público, ou seja, que ao postular em nome do 
cidadão o advogado não exerce apenas uma profissão, mas uma atividade 
essencial, indispensável à administração da justiça. 
 
2.3 Objeto da relação jurídica de consumo 
 
Segundo o parágrafo 1º, produto é qualquer bem móvel ou imóvel, 
material ou imaterial. Dessa forma, prevendo expressamente a caracterização 
do produto também como bem imaterial, tornou a norma plenamente aplicável 
também às relações estabelecidas pela internet. O conceito de serviço, como 
 
 
 
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dito, inclui o elemento remuneração. Assim, serviço é atividade fornecida no 
mercado de consumo mediante remuneração. Conforme visto, essa 
remuneração pode ser direta (contraprestação pelo próprio consumidor) 
ou indireta (vantagens econômicas auferidas pelo fornecedor). 
Ainda sobre o objeto das relações de consumo, resta avaliar a aplicação 
do CDC à prestação de serviços públicos, questão ainda controvertida. O 
legislador fez referência ao serviços públicos em diversos dispositivo: art. 3º, 
caput; 4º, VII; 6º, X e 22. Todavia, não são todos os serviços públicos que se 
subordinam às normas de proteção do consumidor. 
 
A distinção dos serviços a que se aplica o regime do CDC e aqueles 
que se subordinam exclusivamente ao regime de direito administrativo 
é realizada, em nosso direito, por Adalberto Pasqualotto, em estudo de 
referência sobre o tema. Observa então, Pasqualotto, que a aplicação 
do CDC não prescinde da distinção entre os serviços públicos uti 
singuli e uti universi. Serviços públicos uti singuli são aqueles prestados 
e fruídos individualmente e, por isso, de uso mensurável, os quais são 
remunerados diretamente por quem deles se aproveita, em geral por 
intermédio de tarifa (e. g. serviços de energia elétrica, água). Já os 
serviços uti universi, prestados de modo difuso para toda a 
coletividade, não são passíveis de mensuração, sendo custeados por 
intermédio de impostos pagos pelos contribuintes (relação de direito 
tributário). (MIRAGEM, 2012, p. 150) 
 
Dessa forma, será aplicado o CDC à prestação de serviços uti singuli 
(energia elétrica, água, telefonia, transporte...) e não será aplicado o CDC à 
prestação de serviços públicos custeados pela coletividade, através de 
tributação (uti universi), como segurança pública, por exemplo. 
 
3. Princípios da Política Nacional das Relações de Consumo 
 
O princípio da vulnerabilidade é o princípio fundamental da proteção do 
consumidor. 
 
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo 
o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua 
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses 
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a 
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os 
seguintes princípios: 
 
 
 
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I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado 
de consumo; 
 
Destaque-se que uma vez identificada a presença de um consumidor, nos 
termos dos artigos 2º, 17 e 29, do CDC, a vulnerabilidade passa a ser 
presumida, nos termos do inciso I, do art. 4º. 
 
A noção de vulnerabilidade no direito associa-se à identificação de 
fraqueza ou debilidade de um dos sujeitos da relação jurídica em razão 
de determinadas condições ou qualidades que lhe são inerentesou, 
ainda, de uma posição de força que pode ser identificada no outro 
sujeito da relação jurídica. Neste sentido, há possibilidade de sua 
identificação ou determinação a priori, in abstracto, ou ao contrário, sua 
verificação a posteriori, in concreto, dependendo, neste último caso, da 
demonstração da situação de vulnerabilidade. A opção do legislador 
brasileiro, como já referimos, foi pelo estabelecimento de uma 
presunção de vulnerabilidade do consumidor, de modo que todos 
os consumidores sejam considerados vulneráveis, uma vez que a 
princípio não possuem o poder de direção da relação de consumo, 
estando expostos às práticas comerciais dos fornecedores no 
mercado. (MIRAGEM, 2012, p. 100). 
 
Embora a vulnerabilidade do consumidor seja dividida em diversas 
espécies por alguns doutrinadores (técnica, jurídica, fática e informacional), 
importa compreender a origem desta presunção de vulnerabilidade, que remonta 
ao episódio de despersonalização e massificação dos contratos. A partir do 
momento que os produtos passaram a ser concebidos exclusivamente pelo 
fabricante e produzidos em grande escala, aumentaram os riscos ao 
consumidor, fragilizando-o nesta relação. Estes riscos decorrem da produção 
massificada com redução do controle da qualidade final, da complexidade 
técnica do produto, cada vez mais distante da compreensão do consumidor leigo; 
da contratação em forma de mera adesão; do estímulo constante ao consumo 
conduzido por um agressivo marketing; da rápida obsolescência dos produtos, 
entre outras tantas modernas situações. 
Conforme enunciado de questão do XII Exame da ordem Unificado, “a 
doutrina consumerista dominante considera a vulnerabilidade um conceito 
jurídico indeterminado, plurissignificativo”. 
Entre tantos princípios importantes referidos no art. 4º, importa mencionar 
também o princípio da boa-fé objetiva. “O princípio da boa-fé objetiva implica a 
 
 
 
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exigência nas relações jurídicas do respeito e da lealdade com o outro sujeito da 
relação, impondo um dever de correção e fidelidade, assim como o respeito às 
expectativas legítimas geradas no outro” (MIRAGEM, 2012, p. 110). 
Veja questão do Exame de Ordem sobre o princípio da boa-fé objetiva 
(em negrito a alternativa correta): 
 
No âmbito do Código de Defesa do Consumidor, em relação ao 
princípio da boa-fé objetiva, é correto afirmar que 
a) sua aplicação se restringe aos contratos de consumo. 
b) para a caracterização de sua violação imprescindível se faz a 
análise do caráter volitivo das partes. 
c) não se aplica à fase pré-contratual. 
d) importa em reconhecimento de um direito a cumprir em 
favor do titular passivo da obrigação. 
 
4. Direitos Básicos do Consumidor: revisão contratual e inversão do 
ônus da prova. 
 
O artigo 6º dispõe sobre os direitos básicos do consumidor. Na sua 
maioria, esses direitos são regulados posteriormente em artigos específicos, 
como os direitos à proteção da vida, saúde e segurança e proteção contra a 
publicidade enganosa e abusiva; outros, contudo, são disciplinados no próprio 
artigo 6º, como o direito a modificação e revisão dos contratos e o direito à 
inversão do ônus da prova. 
 
CAPÍTULO III 
Dos Direitos Básicos do Consumidor 
 
Art. 6º São direitos básicos do consumidor: 
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados 
por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados 
perigosos ou nocivos; 
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos 
e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas 
contratações; 
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e 
serviços, com especificação correta de quantidade, características, 
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre 
os riscos que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 
2012) Vigência 
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos 
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e 
cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e 
serviços; 
 
 
 
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V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam 
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos 
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; 
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, 
individuais, coletivos e difusos; 
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à 
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, 
coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e 
técnica aos necessitados; 
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a 
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, 
a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele 
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; 
IX - (Vetado); 
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. 
 
4.1 Modificação e revisão das cláusulas contratuais 
 
O direito à revisão e/ou modificação das cláusulas contratuais decorre do 
direito ao equilíbrio contratual. Conforme Bruno Miragem (2012, p. 171), “o direito 
subjetivo do consumidor ao equilíbrio contratual constitui efeito da principiologia 
do direito do consumidor, muito especialmente dos princípios da boa-fé, da 
vulnerabilidade e, especialmente, do próprio princípio do equilíbrio”. 
O Inciso V menciona a possibilidade de modificação das cláusulas 
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em 
razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. Assim, 
pode o consumidor, diante de alguma abusividade (art. 51), buscar a nulidade 
de determinada cláusula e também pode buscar a revisão e modificação de 
cláusulas que, desde a contratação, violem o equilíbrio do contrato. Enquanto 
que pelo direito civil a revisão do desequilíbrio existente desde a celebração do 
contrato só pode se dar mediante a demonstração de um vício de consentimento, 
para o direito do consumidor basta demonstrar a desproporção (injustiça), sem 
necessidade de invalidação de todo o negócio jurídico. 
Já quanto à revisão por fato superveniente que torne a obrigação 
excessivamente onerosa, também há diferenças em relação a disciplina do 
Código Civil. Segundo o art. 317 do diploma civil, o fato superveniente deve ser 
imprevisível, já o CDC não faz referência à imprevisibilidade. 
 
 
 
 
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A norma do art. 6º do CDC avança em relação ao Código Civil (arts. 
478-480 – Da resolução por onerosidade excessiva), ao não exigir que 
o fato superveniente seja imprevisível ou irresistível. Apenas exige a 
quebra da base objetiva do negócio, a quebra do seu equilíbrio 
intrínseco, a destruição da relação de equivalência entre prestações, o 
desaparecimento do fim essencial do contrato. Em outras palavras, o 
elemento autorizador da ação modificadora do Judiciário é o resultado 
objetivo da engenharia contratual, que agora apresenta a mencionada 
onerosidade excessiva para o consumidor, resultado de simples fato 
superveniente, fato que não necessita ser extraordinário, irresistível, 
fato que podia ser previsto e não foi. O CDC, também não exige, para 
promover revisão, que haja “extrema vantagem para a outra” parte 
contratual, como faz o Código Civil (art. 478). (BENJAMIN, MARQUES 
e BESSA, 2014, p. 81). 
 
No XVII Exame da Ordem Unificado foi questionado sobre a possibilidade 
de um consumidor buscar a revisão de um contrato de financiamentode veículo 
com alienação fiduciária, em razão de, alguns meses após a realização do 
negócio, entender que a obrigação assumida lhe era excessivamente onerosa. 
As alternativas versavam, além da possibilidade de revisão de contrato, sobre a 
aplicabilidade do CDC aos contratos de financiamento com alienação fiduciária 
e sobre a necessidade de propositura de ação independente para exibição de 
documentos. 
Conforme entendimento jurisprudencial, não há necessidade de pedido 
prévio de exibição de documentos, pois este pode ser efetuado incidentalmente 
na própria ação que busca a revisão contratual. 
Também conforme entendimento do STJ, a ação cautelar de exibição de 
documentos bancários (cópias e segunda via de documentos) é cabível como 
medida preparatória a fim de instruir a ação principal, bastando a demonstração 
da existência de relação jurídica entre as partes, a comprovação de prévio 
pedido à instituição financeira não atendido em prazo razoável, e o pagamento 
do custo do serviço conforme previsão contratual e normatização da autoridade 
monetária. 
A jurisprudência consolidou o entendimento de que é possível o pedido 
incidental de exibição de documentos, nos termos do art. 355 e seguintes do 
CPC anterior e do art. 396 do novo CPC, inclusive com aplicação da presunção 
de veracidade em caso de negativa: 
 
 
 
 
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A jurisprudência deste Tribunal Superior, inclusive firmada em recurso 
especial representativo de controvérsia, é no sentido de ser descabida 
a multa cominatória na exibição, incidental ou autônoma, de 
documento relativo a direito disponível (Súmula nº 372/STJ). Quando 
houver descumprimento injustificado da determinação judicial, 
em se tratando de ação cautelar de exibição, o magistrado poderá 
ordenar a busca e apreensão do documento ou, nas hipóteses de 
exibição incidental de documento, sendo disponível o direito, 
poderá aplicar a presunção de veracidade (art. 359 do CPC), a qual 
será relativa. (AgRg no REsp 1491088/SP). 
 
Assim, a resposta correta é que “a questão comporta aplicação do CDC, 
e a ação revisional pode ser proposta independentemente de medida cautelar 
preparatória de exibição de documentos, já que o pleito de exibição do contrato 
poderá ser formulado incidentalmente e nos próprios autos”. 
Outra questão do Exame de Ordem sobre o direito básico de revisar 
contratos: 
 
Analisando o artigo 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor, que 
prescreve: “São direitos básicos do consumidor: V – a modificação das 
cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais 
ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem 
excessivamente onerosas”, assinale a alternativa correta. 
a) Não traduz a relativização do princípio contratual da autonomia 
da vontade das partes. 
b) Almeja, em análise sistemática, precipuamente, a resolução do 
contrato firmado entre consumidor e fornecedor. 
c) Admite a incidência da cláusula rebus sic stantibus. 
d) Exige a imprevisibilidade do fato superveniente. 
 
4.2 Inversão judicial do ônus da prova 
 
Ter o ônus de provar significa suportar o risco pela falta de prova de um 
fato pertinente (o risco é a improcedência da ação). A inversão do ônus da prova 
pode decorrer da lei (ope legis), como na responsabilidade pelo fato do produto 
ou do serviço (arts. 12 e 14 do CDC), ou por determinação judicial (ope judicis) 
como no caso do art. 6º, VIII. A norma (no caso da inversão judicial) autoriza o 
julgador a inverter o ônus da prova em favor do consumidor em duas hipóteses: 
quando for verossímil a afirmação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as 
regras ordinárias de experiência. 
 
Ora, na estrutura das relações de consumo, o domínio do 
conhecimento sobre o produto ou o serviço, ou ainda sobre o processo 
 
 
 
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de produção e fornecimento dos mesmos no mercado de consumo é 
do fornecedor. Da mesma forma, não se pode desconhecer que a 
defesa judicial de interesses exige do titular da pretensão a disposição 
de recursos financeiros e técnicos para uma adequada demonstração 
da pertinência e procedência do seu interesse. (MIRAGEM, 2012, p. 
183) 
 
Impõe-se assim a compreensão dos conceitos de hipossuficiência e 
verossimilhança. Os doutrinadores esclarecem que, apesar da semelhança, não 
se pode confundir os significados de vulnerabilidade e hipossuficiência. 
Conforme visto, todos os consumidores são presumidamente vulneráveis, 
conforme o disposto no art. 4º. Já a hipossuficiência relaciona-se com a 
ausência de condições de provar sua pretensão. “Já a verossimilhança se 
estabelece a partir de um critério de probabilidade, segundo os argumentos 
trazidos ao conhecimento do juiz, de que uma dada situação relatada tenha se 
dado de modo igual ou bastante semelhante ao conteúdo do relato” (MIRAGEM, 
2012, p. 187). 
A regra geral da distribuição do ônus da prova (que deverá ser invertida) 
está prevista no art. 373 do Novo Código de Processo Civil: 
 
Art. 373. O ônus da prova incumbe: 
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; 
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou 
extintivo do direito do autor. 
 
A inversão judicial do ônus da prova deve ocorrer preferencialmente na 
fase de saneamento do processo ou, pelo menos, assegurando-se à parte a 
quem não incumbia inicialmente o encargo, a reabertura da oportunidade para 
apresentação de provas. 
 
PROCESSUAL CIVIL. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. 
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. REGRA DE INSTRUÇÃO. EXAME 
ANTERIOR À PROLAÇÃO DA SENTENÇA. PRECEDENTES DO STJ. 
1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que a inversão do ônus 
da prova prevista no art. 6º, VIII, do CDC, é regra de instrução e não 
regra de julgamento, sendo que a decisão que a determinar deve - 
preferencialmente - ocorrer durante o saneamento do processo ou - 
quando proferida em momento posterior - garantir a parte a quem 
incumbia esse ônus a oportunidade de apresentar suas provas. 
Precedentes: (julgado em 30/09/2014) 
 
 
 
 
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5. Responsabilidade civil nas relações de consumo: por vício e por 
fato. 
 
A responsabilidade civil é uma das áreas do direito que melhor reflete as 
transformações sociais, políticas e econômicas do último século. Considerando 
que vivenciamos um modelo econômico fundamentado no acesso crescente aos 
bens de consumo, não surpreende a afirmação de que a responsabilidade civil 
decorrente das relações de consumo assumiu extrema importância na sociedade 
contemporânea. 
Inicialmente fundamentada na teoria da culpa, a responsabilidade civil 
hoje volta seus olhos para a vítima. O Direito preocupa-se com o dano sofrido 
pela vítima; o resultado ou objeto. A responsabilidade civil nas relações de 
consumo é, portanto, objetiva e fundamentada na teoria do risco. 
O Ministro Herman Benjamin, com muita perspicácia, elaborou uma teoria 
que define com precisão os fundamentos da responsabilidade civil nas relações 
de consumo: A teoria da qualidade. Segundo o Ministro, o Código de Defesa do 
Consumidor, ao dividir o dever de responder em duas órbitas distintas, inseriu 
nas relações de consumo o inafastável dever de qualidade dos produtos e 
serviços oferecidos no mercado. 
 
No direito do consumidor é possível enxergar duas órbitas distintas – 
embora não absolutamente excludentes – de preocupações. 
A primeira centraliza suas atenções na garantia da incolumidade físico-
psíquica do consumidor, protegendo sua saúde e segurança, ou seja, 
preservandosua vida e integridade contra os acidentes de consumo 
provocados pelos riscos de produtos e serviços. Esta órbita, pela 
natureza do bem jurídico tutelado, ganha destaque em relação a 
segunda. 
A segunda esfera de inquietação, diversamente, busca regrar a 
incolumidade econômica do consumidor em face dos incidentes (e não 
acidentes!) de consumo capazes de atingir seu patrimônio. Não 
obstante em termos éticos a proteção da incolumidade físico-psíquica 
do consumidor seja prioritária, são os ataques a sua incolumidade 
econômica que mais aparecem no seu relacionamento com o 
fornecedor. 
Em outras palavras: enquanto a primeira órbita afeta o corpo do 
consumidor, a outra atinge seu bolso. Todavia, mesmo quando a 
atividade do fornecedor provoca danos a incolumidade físico-psíquica 
do consumidor, reflexamente está atingindo igualmente sua 
incolumidade econômica, ocasionado diminuição de seu patrimônio. 
Portanto, na identificação do tipo de esfera – e do regime jurídico – 
atacada pela atividade do fornecedor, não deve o intérprete buscar um 
 
 
 
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traço exclusivo e sim preponderante. (BENJAMIN, MARQUES e 
BESSA, 2007, p. 100/101) 
 
Desta forma, conclui o autor que o dever de qualidade se subdivide em 
qualidade segurança (responsabilidade pelos fatos ou acidentes) e qualidade 
adequação (responsabilidade pelos vícios). O primeiro assunto é tratado no CDC 
no artigos 12 ao 17 e o segundo nos artigos 18 ao 24. 
 
5.1 Da responsabilidade por fato do produto ou serviço 
 
A responsabilidade pelo fato do produto ou serviço, também chamada de 
responsabilidade pelos acidentes de consumo (dever de segurança), é aquela 
decorrente dos danos provocados por produtos ou serviços. 
 
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, 
e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, 
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos 
decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, 
manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, 
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua 
utilização e riscos. 
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele 
legitimamente se espera, levando-se em consideração as 
circunstâncias relevantes, entre as quais: 
I - sua apresentação; 
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
III - a época em que foi colocado em circulação. 
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de 
melhor qualidade ter sido colocado no mercado. 
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será 
responsabilizado quando provar: 
I - que não colocou o produto no mercado; 
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; 
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
 
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do 
artigo anterior, quando: 
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não 
puderem ser identificados; 
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu 
fabricante, produtor, construtor ou importador; 
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. 
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado 
poderá exercer o direito de regresso contra os demais 
responsáveis, segundo sua participação na causação do evento 
danoso. 
 
 
 
 
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Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da 
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos 
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem 
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição 
e riscos. 
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o 
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as 
circunstâncias relevantes, entre as quais: 
I - o modo de seu fornecimento; 
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; 
III - a época em que foi fornecido. 
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas 
técnicas. 
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando 
provar: 
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; 
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. 
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será 
apurada mediante a verificação de culpa. 
 
Art. 15. (Vetado). 
 
Art. 16. (Vetado). 
 
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos 
consumidores todas as vítimas do evento. 
 
Conforme o parágrafo 1º do artigo 12, o produto é defeituoso quando 
não oferece a segurança que dele legitimamente se espera. “O dano é 
pressuposto inafastável da responsabilidade civil. Não há que se falar em 
responsabilidade civil sem dano – o que pode qualificar-se como patrimonial ou 
moral” (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 169). Os fornecedores 
responsáveis são aqueles mencionados no artigo. O comerciante só será 
responsabilizado (por fato do produto) nas hipóteses do artigo 13. A 
responsabilidade dos fornecedores é objetiva, exceto a dos profissionais liberais, 
conforme art. 14, §4º, que determina que quanto a estes a responsabilização se 
dará mediante a verificação de culpa. 
 
Sobre a responsabilidade por fato do produto, a seguinte questão do 
Exame de Ordem: 
 
Determinado consumidor, ao mastigar uma fatia de pão com geleia, 
encontrou um elemento rígido, o que lhe causou intenso desconforto e 
a quebra parcial de um dos dentes. Em razão do fato, ingressou com 
medida judicial em face do mercado que vendeu a geleia, a fim de ser 
reparado. No curso do processo, a perícia constatou que o elemento 
 
 
 
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encontrado era uma pequena porção de açúcar cristalizado, não 
oferecendo risco à saúde do autor. Diante desta narrativa, assinale a 
afirmativa correta. 
A) O fabricante e o fornecedor do serviço devem ser excluídos de 
responsabilidade, visto que o material não ofereceu qualquer risco à 
integridade física do consumidor, não merecendo reparação. 
B) O elemento rígido não característico do produto, ainda que não 
o tornasse impróprio para o consumo, violou padrões de 
segurança, já que houve dano comprovado pelo consumidor. 
C) A responsabilidade do fornecedor depende de apuração de culpa e, 
portanto, não tendo o comerciante agido de modo a causar 
voluntariamente o evento, não deve responder pelo resultado. 
D) O comerciante não deve ser condenado e sequer caberia qualquer 
medida contra o fabricante, posto que não há fato ou vício do produto, 
motivo pelo qual não deve ser responsabilizado pelo alegado defeito. 
 
5.2 Da responsabilidade por vício do produto ou serviço 
 
A responsabilidade pelos vícios dos produtos ou serviços refere-se a seu 
adequado funcionamento e a sua adequação aos fins aos quais se destinam. 
 
Nada mais natural e justo que os produtos e serviços oferecidos no 
mercado de consumo tenham qualidade, atendam à sua finalidade 
própria e, consequentemente, às necessidades e expectativas dos 
consumidores. O Código de Defesa do Consumidor determina que, 
independentemente da garantia oferecida pelo fornecedor (garantia de 
fábrica), os produtos e serviços devem ser adequados aos fins a que 
se destinam, ou seja, devem funcionar bem, atender às legítimas 
expectativas do consumidor (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, 
p. 199). 
 
O caput do artigo esclarece a existência de quatro modalidades de vícios: 
a) aqueles que tornam o produto impróprio ao consumo; b) aqueles que tornam 
o produto inadequado ao consumo; c) aqueles que lhe diminuam o valor e d) 
aquelesem desconformidade com o que foi informado sobre eles. 
 
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não 
duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou 
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a 
que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles 
decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do 
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, 
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o 
consumidor exigir a substituição das partes viciadas. 
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o 
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha: 
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas 
condições de uso; 
 
 
 
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II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, 
sem prejuízo de eventuais perdas e danos; 
III - o abatimento proporcional do preço. 
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo 
previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem 
superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de 
prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de 
manifestação expressa do consumidor. 
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° 
deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição 
das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características 
do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial. 
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° 
deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver 
substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante 
complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem 
prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo. 
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável 
perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando 
identificado claramente seu produtor. 
§ 6° São impróprios ao uso e consumo: 
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos; 
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, 
falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, 
perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas 
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação; 
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao 
fim a que se destinam. 
 
Percebe-se, assim, que o fornecedor, em regra, tem até 30 dias para 
sanar o vício do produto. Não terá este prazo, contudo, nas hipóteses do 
parágrafo 3º do art. 18, conforme questão (EO) que segue: 
 
Dulce, cinquenta e oito anos de idade, fumante há três décadas, foi 
diagnosticada como portadora de enfisema pulmonar. Trata-se de uma 
doença pulmonar obstrutiva crônica caracterizada pela dilatação 
excessiva dos alvéolos pulmonares, que causa a perda da capacidade 
respiratória e uma consequente oxigenação insuficiente. Em razão do 
avançado estágio da doença, foi prescrito como essencial o tratamento 
de suplementação de oxigênio. Para tanto, Joana, filha de Dulce, 
adquiriu para sua mãe um aparelho respiratório na loja Saúde e Bem-
Estar. Porém, com uma semana de uso, o produto parou de funcionar. 
Joana procurou imediatamente a loja para substituição do aparelho, 
oportunidade na qual foi informada pela gerente que deveria aguardar 
o prazo legal de trinta dias para conserto do produto pelo fabricante. 
Com base no caso narrado, em relação ao Código de Proteção e 
Defesa do Consumidor, assinale a afirmativa correta. 
A) Está correta a orientação da vendedora. Joana deverá aguardar o 
prazo legal de trinta dias para conserto e, caso não seja sanado o vício, 
exigir a substituição do produto, a devolução do dinheiro corrigido 
monetariamente ou o abatimento proporcional do preço. 
B) Joana não é consumidora destinatária final do produto, logo tem 
apenas direito ao conserto do produto durável no prazo de noventa 
dias, mas não à devolução da quantia paga. 
 
 
 
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C) Joana não precisa aguardar o prazo legal de trinta dias para 
conserto, pois tem direito de exigir a substituição imediata do 
produto, em razão de sua essencialidade. 
D) Na impossibilidade de substituição do produto por outro da mesma 
espécie, Joana poderá optar por um modelo diverso, sem direito à 
restituição de eventual diferença de preço, e, se este for de valor maior, 
não será devida por Joana qualquer complementação. 
 
Assim, ao contrário do que normalmente o consumidor imagina, o vício 
não lhe dará o direito à substituição imediata do produto. Conforme dispõe a 
parte final do caput e o parágrafo primeiro, o fornecedor tem o direito de sanar 
os vícios, substituindo as partes viciadas, no prazo de até 30 dias. Não sendo o 
vício sanado, poderá o consumidor fazer uso das alternativas do parágrafo 1º. 
Neste sentido, a seguinte questão do Exame de Ordem: 
 
Ao instalar um novo aparelho de televisão no quarto de seu filho, o 
consumidor verifica que a tecla de volume do controle remoto não está 
funcionando bem. Em contato com a loja onde adquiriu o produto, é 
encaminhado à autorizada. O que esse consumidor pode exigir com 
base na lei, nesse momento, do comerciante? 
a) A imediata substituição do produto por outro novo. 
b) O dinheiro de volta. 
c) O conserto do produto no prazo máximo de 30 dias. 
d) Um produto idêntico emprestado enquanto durar o conserto. 
 
O art. 19 trata dos vícios de quantidade. 
 
Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de 
quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações 
decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às 
indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de 
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente 
e à sua escolha: 
I - o abatimento proporcional do preço; 
II - complementação do peso ou medida; 
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou 
modelo, sem os aludidos vícios; 
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, 
sem prejuízo de eventuais perdas e danos. 
§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior. 
§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem 
ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os 
padrões oficiais. 
 
O art. 20 trata dos vícios na prestação de serviços. Diferentemente do art. 
18, ao fornecedor de serviços o Código não disponibiliza prazo para que o vício 
seja sanado. 
 
 
 
 
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Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade 
que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim 
como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações 
constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor 
exigir, alternativamente e à sua escolha: 
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível; 
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, 
sem prejuízo de eventuais perdas e danos; 
III - o abatimento proporcional do preço. 
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros 
devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor. 
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os 
fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não 
atendam as normas regulamentares de prestabilidade. 
 
Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a 
reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação 
do fornecedorde empregar componentes de reposição originais 
adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do 
fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário 
do consumidor. 
 
Recentemente, uma questão do Exame de Ordem mesclou os temas 
“vício na prestação de serviços” e “validade e forma do orçamento”. 
 
Hugo colidiu com seu veículo e necessitou de reparos na lataria e na 
pintura. Para tanto, procurou, por indicação de um amigo, os serviços 
da Oficina Mecânica M, oportunidade na qual lhe foi ofertado 
orçamento escrito, válido por15 (quinze) dias, com o valor da mão de 
obra e dos materiais a serem utilizados na realização do conserto do 
automóvel. Hugo, na certeza da boa indicação, contratou pela primeira 
vez com a Oficina. Considerando as regras do Código de Proteção e 
Defesa do Consumidor, assinale a afirmativa correta. 
A) Segundo a lei do consumidor, o orçamento tem prazo de validade 
obrigatório de 10 (dez) dias, contados do seu recebimento pelo 
consumidor Hugo. Logo, no caso, somente durante esse período a 
Oficina Mecânica M estará vinculada ao valor orçado. 
B) Uma vez aprovado o orçamento pelo consumidor, os contraentes 
estarão vinculados, sendo correto afirmar que Hugo não responderá 
por quaisquer ônus ou acréscimos no valor dos materiais orçados; 
contudo, ele poderá vir a responder pela necessidade de contratação 
de terceiros não previstos no orçamento prévio. 
C) Se o serviço de pintura contratado por Hugo apresentar vícios 
de qualidade, é correto afirmar que ele terá tríplice opção, à sua 
escolha, de exigir da oficina mecânica: a reexecução do serviço 
sem custo adicional; a devolução de eventual quantia já paga, 
corrigida monetariamente, ou o abatimento do preço de forma 
proporcional. 
D) A lei consumerista considera prática abusiva a execução de serviços 
sem a prévia elaboração de orçamento, o que pode ser feito por 
qualquer meio, oral ou escrito, exigindo se, para sua validade, o 
consentimento expresso ou tácito 
do consumidor. 
 
 
 
 
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5.3 Da responsabilidade solidária 
 
Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros 
decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil 
seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos 
expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como 
dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e 
eqüidade. 
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos 
responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos 
nas normas de consumo. 
 
No XIV Exame de Ordem Unificado foi questionado sobre a 
responsabilidade solidária nas relações de consumo, mediante o seguinte 
enunciado: 
Um homem foi submetido a cirurgia para remoção de cálculos renais 
em hospital privado. A intervenção foi realizada por equipe médica não 
integrante dos quadros de funcionários do referido hospital, apesar de 
ter sido indicada por esse mesmo hospital. 
 
Durante o procedimento, houve perfuração do fígado do paciente, 
verificada somente três dias após a cirurgia, motivo pelo qual o homem 
teve que se submeter a novo procedimento cirúrgico, que lhe deixou 
uma grande cicatriz na região abdominal. O paciente ingressou com 
ação judicial em face do hospital, visando a indenização por danos 
morais e estéticos. 
 
No caso apresentado, a equipe médica que realizou o procedimento não 
integrava o quadro de funcionários do hospital acionado, mas foi indicada ao 
consumidor por este hospital. Em síntese, as alternativas versavam sobre a 
responsabilização ou não do hospital. A alternativa correta foi a de que “o 
hospital responde objetivamente pelos danos morais e estéticos decorrentes do 
erro médico, tendo em vista que ele indicou a equipe médica”. 
O Superior Tribunal de Justiça, em julgamento de um Recurso Especial 
em maio de 2015, entendeu também pela responsabilidade solidária em caso 
semelhante. 
 
A autora sustentou a ocorrência de erro médico consistente na 
perfuração do seu intestino durante a realização de cirurgia de 
laparatomia, o que a obrigou, dias depois, a realizar diversos outros 
atos cirúrgicos, permanecendo internada na UTI e correndo risco de 
morte. Postulou, com isto, o pagamento de indenização por danos 
morais em valor não inferior a 500 salários mínimos. O juízo de primeiro 
 
 
 
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grau, após regular instrução, julgou procedente o pedido, condenando 
solidariamente os réus ao pagamento de indenização no valor 
equivalente a 500 salários mínimos. Interpostas apelações pelos réus, 
o Tribunal de origem reduziu o valor da indenização para 200 salários 
mínimos. Para a manutenção da condenação solidária, o Tribunal 
reconheceu a atuação coordenada dos réus na prestação de 
serviços médico-hospitalares à autora, tendo a cirurgia sido 
praticada por médicos credenciados à administradora de planos 
de saúde, cuja rede de atendimento compreende o hospital réu. 
Em seu recurso especial, o HOSPITAL AVICCENA questiona o 
reconhecimento da obrigação de indenizar o erro médico em 
solidariedade com a administradora de planos de saúde ré, 
ressaltando, na linha do que constou do acórdão recorrido, que os 
médicos que realizaram a cirurgia eram credenciados junto ao plano 
de saúde, sendo, pois, externos ao corpo clínico-hospitalar. Alegou, 
assim, a violação do art. 932, III, do CC/02 e a existência de dissídio 
jurisprudencial frente ao seguinte precedente, in verbis: RECURSO 
ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. 
ERRO MÉDICO. NEGLIGÊNCIA. INDENIZAÇÃO. RECURSO 
ESPECIAL. 1. A doutrina tem afirmado que a responsabilidade médica 
empresarial, no caso de hospitais, é objetiva, indicando o parágrafo 
primeiro do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor como a 
norma sustentadora de tal entendimento. Contudo, a responsabilidade 
do hospital somente tem espaço quando o dano decorrer de falha de 
serviços cuja atribuição é afeta única e exclusivamente ao hospital. Nas 
hipóteses de dano decorrente de falha técnica restrita ao profissional 
médico, mormente quando este não tem nenhum vínculo com o 
hospital – seja de emprego ou de mera preposição –, não cabe atribuir 
ao nosocômio a obrigação de indenizar. 2. Na hipótese de prestação 
de serviços médicos, o ajuste contratual – vínculo estabelecido entre 
médico e paciente – refere-se ao emprego da melhor técnica e 
diligência entre as possibilidades de que dispõe o profissional, no seu 
meio de atuação, para auxiliar o paciente. Portanto, não pode o médico 
assumir compromisso com um resultado específico, fato que leva ao 
entendimento de que, se ocorrer dano ao paciente, deve-se averiguar 
se houve culpa do profissional – teoria da responsabilidade subjetiva. 
No entanto, se, na ocorrência de dano impõe-se ao hospital que 
responda objetivamente pelos erros cometidos pelo médico, estar-se-
á aceitando que o contrato firmado seja de resultado, pois se o médico 
não garante o resultado, o hospital garantirá. Isso leva ao seguinte 
absurdo: na hipótese de intervenção cirúrgica, ou o paciente sai curado 
ou será indenizado – daí um contrato de resultado firmado às avessas 
da legislação. 3. O cadastro que os hospitais normalmente mantêm de 
médicos que utilizam suas instalações para a realização de cirurgias 
não é suficiente para caracterizar relação de subordinação entre 
médico e hospital. Na verdade, tal procedimento representa um mínimo 
de organização empresarial. 4. Recurso especial do Hospital e 
Maternidade São Lourenço Ltda. provido. (REsp 908359/SC, Rel. 
Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO 
DE NORONHA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/08/2008, DJe 
17/12/2008).Não se controverte mais, portanto, acerca do defeito 
na prestação do serviço ocorrido durante a cirurgia de 
laparatomia, a perfuração do intestino da parte autora e o nexo de 
causalidade (art. 14 do CDC), mas tão-somente a relação de 
solidariedade existente entre o hospital recorrente e a outra ré, 
que administrava o plano de saúde a que eram credenciados os 
médicos. Em que pese a circunstância de os médicos que realizaram 
a cirurgia não pertencerem ao corpo clínico do hospital, em face da 
 
 
 
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jurisprudência do STJ a este respeito, entendo que, no específico caso 
dos autos, a responsabilidade do hospital frente à consumidora autora 
deriva do princípio da solidariedade existente entre os integrantes da 
cadeia de fornecimento de produto ou serviço, que é matéria de fato. 
A solidariedade entre os fornecedores integrantes da mesma 
cadeia de fornecimento de produtos ou serviços é reconhecida de 
forma tranquila na jurisprudência e na doutrina. No âmbito deste 
STJ, destaco os seguintes precedentes, proferidos tanto pela Terceira 
como pela Quarta Turma: CONSUMIDOR. CONTRATO. SEGURO. 
APÓLICE NÃO EMITIDA. ACEITAÇÃO DO SEGURO. 
RESPONSABILIDADE. SEGURADORA E CORRETORES. CADEIA 
DE FORNECIMENTO. SOLIDARIEDADE. 1. A melhor exegese dos 
arts. 14 e 18 do CDC indica que todos aqueles que participam da 
introdução do produto ou serviço no mercado devem responder 
solidariamente por eventual defeito ou vício, isto é, imputa-se a toda a 
cadeia de fornecimento a responsabilidade pela garantia de qualidade 
e adequação. 2. O art. 34 do CDC materializa a teoria da aparência, 
fazendo com que os deveres de boa-fé, cooperação, transparência e 
informação alcancem todos os fornecedores, diretos ou indiretos, 
principais ou auxiliares, enfim todos aqueles que, aos olhos do 
consumidor, participem da cadeia de fornecimento. 3. No sistema do 
CDC fica a critério do consumidor a escolha dos fornecedores 
solidários que irão integrar o polo passivo da ação. Poderá exercitar 
sua pretensão contra todos ou apenas contra alguns desses 
fornecedores, conforme sua comodidade e/ou conveniência. 4. O art. 
126 do DL nº 73/66 não afasta a responsabilidade solidária entre 
corretoras e seguradoras; ao contrário, confirma-a, fixando o direito de 
regresso destas por danos causados por aquelas. 5. Tendo o 
consumidor realizado a vistoria prévia, assinado proposta e pago a 
primeira parcela do prêmio, pressupõe-se ter havido a aceitação da 
seguradora quanto à contratação do seguro, não lhe sendo mais 
possível exercer a faculdade de recusar a proposta. 6. Recurso 
especial não provido. (REsp 1077911/SP, Rel. Ministra NANCY 
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/10/2011, DJe 
14/10/2011) AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE 
INSTRUMENTO. INCLUSÃO INDEVIDA DE NOME NO CADASTRO 
DE INADIMPLENTES. EMPRESA DE TELEFONIA DE LONGA 
DISTÂNCIA. SOLIDARIEDADE. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. 
CABIMENTO. 1. A empresa que integra a cadeia de fornecimento de 
serviços de telefonia é responsável solidária pelos danos causados ao 
consumidor pela indevida inclusão de seu nome nos órgãos de 
restrição ao crédito. 2. Agravo regimental provido para, reconsiderando 
decisão anterior, conhecer do recurso especial e dar-lhe parcial 
provimento. (AgRg no Ag 1226738/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO 
DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em 17/02/2011, DJe 
25/02/2011). Na doutrina, entre outros, esta é a posição de Cláudia 
Lima Marques (Comentários ao Código de Defesa do Consumidor , 2ª 
ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, 
p. 289 e ss). e de Sergio Cavalieri Filho (Programa de direito do 
consumidor . 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 274). A solidariedade 
entre os fornecedores, diretos ou indiretos, integrantes de uma mesma 
cadeia de produção ou de prestação de serviço significa que, 
independentemente de quem tenha de fato sido o responsável pelo 
defeito do produto ou do serviço, todos se apresentam, frente ao 
consumidor, como responsáveis de direito. Assim, uma vez 
reconhecida a obrigação de indenizar de um dos fornecedores, a 
responsabilidade dos demais frente ao consumidor é atribuída pelo 
próprio CDC, conforme destacou com propriedade o eminente Ministro 
 
 
 
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Luis Felipe Salomão quando do julgamento do Recurso Especial n.º 
997.993/MG, in verbis: Ressalte-se também que, para a 
responsabilização de todos os integrantes da cadeia de consumo, 
apura-se a responsabilidade de um deles, objetiva ou decorrente de 
culpa, caso se verifique as hipóteses autorizadoras previstas no CDC. 
A responsabilidade dos demais integrantes da cadeia de consumo, 
todavia, não decorre de seu agir culposo ou de fato próprio, mas de 
uma imputação legal de responsabilidade que é servil ao propósito 
protetivo do sistema. Evidentemente que, resguardado o consumidor, 
podem os fornecedores, no exercício do seu direito de regresso, 
rediscutir a parcela de responsabilidade de cada um, na forma do art. 
88 do CDC. No caso dos autos, ficou reconhecido que os réus 
integravam, relativamente à autora, a mesma cadeia de fornecimento 
de serviços. Os médicos que realizaram a cirurgia eram credenciados 
junto à administradora do plano de saúde com quem a paciente 
mantinha contrato. O hospital, por sua vez, compunha a rede 
médico-hospitalar do mesmo plano, fornecendo as instalações e 
os serviços necessários para a realização da cirurgia. Essas 
circunstâncias foram adequadamente analisadas e reconhecidas no 
acórdão recorrido, ainda que sob o título de formação de grupo 
econômico: Assim é que o contrato com a segunda corré, 
administradora de plano de saúde, tem por objeto prestar 
serviços, através de médicos e hospitais credenciados (no caso 
concreto, o HOSPITAL AVICCENA S.A e os médicos que 
realizaram a cirurgia, (Vinícius Paula de Almeida e Marcus Aurélio 
Malanga), enquanto o contrato entre a autora e o hospital 
complementa, como adminículo, a finalidade do primeiro. Ambos, 
porém, visam um único objeto: prestar ("vender") serviços de 
saúde aos usuários do plano: a administradora, de hospital e 
médicos credenciados, para prestar o atendimento a que se 
comprometera; o hospital e os médicos, de paciente pagos pela 
administradora. Demais disso, analisando os contratos sociais dos 
corréus, vê-se que os três sócios cotistas da administradora 
[AVICCENA ASSISTÊCIA MÉDICA LTDA. (fl. 98)] são igualmente 
acionistas do HOSPITAL AVICCENA S.A [AHMED MOHAMED KADRI, 
ALI AYOUB AUOUB e MUSTAFÁ FAOUZI AOBOU ARABI (fl. 82)]. 
Não há nada mais claro e convincente de que se tratam de empresários 
unidos pelo mesmo escopo: prestar, uma empresa, os serviços de 
saúde remunerados pela outra. Não se pode, assim, negar a atuação 
conjunta e coordenada dos fornecedores demandados na prestação 
dos serviços de saúde à autora. O reconhecimento, no caso dos 
autos, da responsabilidade do hospital frente à consumidora não 
implica a inobservância dos precedentes nos quais a 
responsabilidade é excluída em razão dos médicos não 
pertencerem ao corpo clínico-hospitalar, em face das 
peculiaridades do caso concreto. Com efeito, cada vez mais, em 
planos privados de saúde, o segurado busca os serviços oferecidos 
pela própria administradora, incluindo médicos, hospitais, exames 
clínicos e laboratoriais, etc., procurando reduzir as suas despesas. Na 
ocorrência de um problema, como no presente caso, não se exige que 
ingresse contra todos os profissionais que atuaram na prestação dos 
serviços médicos e hospitalares, embora todos, em tese, possam ser 
solidariamente responsáveis. Naturalmente, poderão os réus 
responsabilizados ingressar com ação de regresso, em processo 
autônomo, contra os demais fornecedores, discutindo a parcela de 
responsabilidadede cada um. (REsp 1359156 (2012/0263659-3 - 
26/03/2015) (inteiro teor). 
 
 
 
 
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6. Da decadência e da prescrição 
 
Tema complexo no direito do consumidor é aquele relacionado aos prazos 
para reclamação por vício ou por fato. O art. 26 trata do prazo para reclamar 
pelos vícios e o próprio legislador o denominou de prazo decadencial. Contudo, 
“a decadência tem em consideração a existência de um direito potestativo ou 
formativo que, uma vez exercido pelo titular, produz desde logo sua eficácia na 
constituição, modificação, ou extinção de uma determinada relação jurídica” 
(MIRAGEM, 2012, p. 506). Assim, por sua natureza, pode-se denominar de 
prazo decadencial aquele que o consumidor tem para reclamar perante o 
fornecedor dos vícios aparentes ou ocultos dos produtos ou serviços. Ocorre que 
o fornecedor pode não atender espontaneamente ao pedido do consumidor. 
Neste caso, lesado o direito do consumidor e tendo este que recorrer ao 
judiciário, a natureza deste segundo prazo se aproximaria muito mais de um 
prazo prescricional. Contudo, não é este o entendimento que prepondera na 
jurisprudência. 
O parágrafo 2º do art. 26 do CDC determina que “obsta a decadência” a 
reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor 
de produtos e serviços até a resposta negativa correspondente, que deve ser 
transmitida de forma inequívoca. A interpretação doutrinária da expressão 
“obstar” foi a de que se trata de interrupção, assim, após a resposta 
negativa o prazo previsto no artigo recomeça. Recomeça, segundo 
entendimento de nossos tribunais, para o ajuizamento de uma ação por 
vício. 
Já o prazo prescricional para o exercício da pretensão reparatória por 
danos causados aos consumidores-vítimas de acidentes de consumo é de cinco 
anos, segundo estabelece o art. 27 do CDC. Verifique a seguinte questão do 
Exame de Ordem: 
 
Franco adquiriu um veículo zero quilômetro em novembro de 2010. Ao 
sair com o automóvel da concessionária, percebeu um ruído todas as 
vezes em que acionava a embreagem para a troca de marcha. 
Retornou à loja, e os funcionários disseram que tal barulho era natural 
ao veículo, cujo motor era novo. Oito meses depois, ao retornar para 
fazer a revisão de dez mil quilômetros, o consumidor se queixou que o 
 
 
 
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ruído persistia, mas foi novamente informado de que se tratava de 
característica do modelo. Cerca de uma semana depois, o veículo 
parou de funcionar e foi rebocado até a concessionária, lá 
permanecendo por mais de sessenta dias. Franco acionou o Poder 
Judiciário alegando vício oculto e pleiteando ressarcimento pelos 
danos materiais e indenização por danos morais. Considerando o que 
dispõe o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, a respeito do 
narrado acima, é correto afirmar que, por se tratar de vício oculto, 
a) o prazo decadencial para reclamar se iniciou com a retirada do 
veículo da concessionária, devendo o processo ser extinto. 
b) o direito de reclamar judicialmente se iniciou no momento 
em que ficou evidenciado o defeito, e o prazo decadencial é de 
noventa dias. 
c) o prazo decadencial é de trinta dias contados do momento em 
que o veículo parou de funcionar, tornando-se imprestável para o uso. 
d) o consumidor Franco tinha o prazo de sete dias para desistir do 
contrato e, tendo deixado de exercê-lo, operou-se a decadência. 
 
 Tal questão relata um caso de vício do produto. Contudo, o enunciado 
afirma que o consumidor ajuizou ação por danos materiais e morais (dano à 
incolumidade psíquica - fato, portanto). Surge então a dúvida, sua ação é 
meramente por vício ou também é por fato (danos morais)? Percebe-se 
facilmente que as assertivas “a”, “c” e “d” estão erradas, pois fazem referência a 
prazos que não correspondem aquele para reclamar de vício oculto em produto 
durável (90 dias) e, para fugir da discussão sobre o prazo ser decadencial ou 
prescricional, o avaliador redigiu a assertiva correta sem entrar na questão de 
fundo sobre o pedido versar sobre vício ou fato. Deixou-a dúbia. 
 
 
7. Das práticas comerciais 
 
O art. 29 do CDC determina que, para os fins do Capítulo V (das práticas 
comerciais), equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis 
ou não, expostas às práticas neles previstas. É importante, desta forma, não 
esquecer que não é apenas o contratante que é protegido pelo CDC, o que, 
inclusive, é tema questionado nos exames da OAB. 
 
SEÇÃO II 
 
Da Oferta 
 
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, 
veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a 
produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor 
 
 
 
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que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser 
celebrado. 
 
Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem 
assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em 
língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, 
composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros 
dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e 
segurança dos consumidores. 
Parágrafo único. As informações de que trata este artigo, nos produtos 
refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma 
indelével. (Incluído pela Lei nº 11.989, de 2009) 
 
Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de 
componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação 
ou importação do produto. 
Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá 
ser mantida por período razoável de tempo, na forma da lei. 
 
Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, 
deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, 
publicidade e em todos os impressos utilizados na transação comercial. 
Parágrafo único. É proibida a publicidade de bens e serviços por 
telefone, quando a chamada for onerosa ao consumidor que a 
origina. (Incluído pela Lei nº 11.800, de 2008). 
 
Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente 
responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes 
autônomos. 
 
Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento 
à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, 
alternativamente e à sua livre escolha: 
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, 
apresentação ou publicidade; 
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente; 
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia 
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e 
danos. 
 
Oferta, em termos gerais, é uma proposta de contrato que uma pessoa 
faz a outra. Contudo, no Direito do Consumidor, por suas características, 
abrange inclusive a publicidade. 
 
No contrato de massa, em virtude de seu caráter coletivo, a oferta deixa 
de ser individualizada e cristalina, e passa a ser feita também através 
de meios massificados, como a publicidade, a exposição das 
mercadorias em vitrines, em exposições, e até na rua. Quando o dono 
da banca de jornais e revistas expõe as suas mercadorias ao público, 
está fazendo oferta. (CAVALIERI FILHO, 2011, p. 146), 
 
 
 
 
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Os artigos 30 e seguintes tratam do princípio da vinculação, que significa 
a obrigação, do fornecedor, de cumprir o que ofertou. São dois os requisitos para 
a vinculação: que a oferta efetivamente chegue ao conhecimento

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