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Para realizar suas atitndades. a-; células utilizam a energia acumulada nas ligações químicas dos alimentos. As células que contêm clorofila (vegetais, alguns protistas, raras bactérias) usam a energia da luz para sintetizar moléculas de nutrientes (fotossíntese). As moléculas de adenosina-trifosfalo (ATP) possuem ligações químicas muito ricas em energia. A enzima ATPase é abundante nas células. Esta enzima rompe a molécula de ATP, liberando energia e originando ADP e Pi (fosfato inorgânico). ATP é a principal fonte imediata de energia nas células. A transferência de energia dos nutrientes para o ATP pode serfeita pela fermentação (anaeróbia), mas este processo retira apenas pequena parte da energia dos nutrientes. >l5 mitocôndrias possuem a maquinaria para a fosforilação oxidativa (aeróbia), muito eficiente na transferência de energia dos nutrientes para A TP. A energia dos nutrientes é utilizada para gerar um gradiente de prótons (H* *) entre as duas membranas mitocondriais; esse gradiente produz um fluxo de prótons, cuja energia forma ATP a partir de ADP (teoria quimiosmólica). Cada mitocôndria contém alguns filamentos circulares de DNA em hélice dupla, que codificam algumas proteínas mitocondriais. • O DNA da mitocôndria é muito compacto, não contém íntrons e caracteriza-se por taxa de mutação muito alta (5 a 10 vezes maior do que a do DNA nuclear). O código genético do DNA das mitocôndrias é diferente, e a herança mitocondrial é puramente materna. Os ribosomas e o DNA das mitocôndrias são parecidos com os das bactérias. Admite-se que, durante a evolução das células, as mitocôndrias se originaram de bactérias endossimbiontes que, no processo evolutivo, transferiram parte de seus genes para o núcleo da célula hospedeira. Transformação e Armazenamento de Energia Roteiro 64 liíolof>ia Celular e Molecular As células eucaríonles revelam uma série de características funcionais comuns a todas elas, como, por exemplo, capacidade de multiplicação, de movimentação, irritabilidade, condução de impulsos e secreção. Todas as células apresentam essas ativida- des. com maior ou menor intensidade, de acordo com suas ca- racterísticas especiais. As células musculares, por exemplo, têm capacidade de contração altamenle desenvolvida, mas fraca, ou nenhuma, capacidade secretora. Já as células glandulares apre- sentam intensa atividade secretora, mas quase nenhuma ativida- de motora. Porém, todas as células precisam de energia para re- alizar suas atividades básicas e especializadas. A energia utilizada pelas células eucariontes, tanto animais como vegetais, provém da ruptura gradual de ligações covalen- tes de moléculas de compostos orgânicos ricos em energia. Na célula vegetal, esses compostos são sintetizados com a energia resultante da transformação de energia solar em energia quími- ca durante o processo de fot<)ssínle.se (photon, luz, e sintesis, sín- tese). Nafolossíntese, graças ao pigmento clorofila, processa-se a acumulação da energia solar sob a forma de ligações químicas nos hidratos de carbono, principalmente hexoses, que se polime- hzam para Ibrmar amido. As hexo.ses originadas na fotossíniese são fonte de energia e, também, de carbono em condições de scr utilizado para a síntese de diversas macromoléculas orgânicas. As células, porém, não usam diretamente a energia liberada dos hidratos de carbono e gorduras, mas se utilizam de um com- posto intermediário, a adenosina-trifoslato (ATP), geralmente produzido graças à energia contida nus molécuIa.s de glicose e de ácidos graxos. Os ácidos graxos são. do ponto de vista quantitativo, uma fonte energética muito mais importante do que os carboidrato.s, poi.s, peso a peso. rendem muito mais energia do que o glia^gênio dos teci- dos. Enquanto uma molécula-grama de glicose gera moléculas- gratiia de ATP. uma de ácido palmítico gera 126 moleeulas-grama de ATP. Um homem adulto tem energia depositada em glicogênio suficiente para apenas um dia, mas suliciente gordura para um mês. O ATP, cuja fórmula está representada na Fig. 4.1, tem duas ligações ricas em energia (representadas pelo sinal ~); quando uma delas se rompe, libera aproximadamente lOquilocaloriaspor molécula-grama. Geralmenle, apenas uma ligação é rompida, segundo a equação ATP —♦ ADP -t- Pi + energia (Pi significa fosfato inorgânico, e ADP, adenosina-difosfato). O citoplasma contém energia acumulada nos depósitos de moléculas dc uiacilglicerídeos (gorduras neutras), de moléculas de glicogênio e, também, sob a forma de compostos intermediários (metahóiitos) ricos em energia, dos quais o principal é o ATP. Os iriacilglicerídeos e o glicogênio representam acúmulo de energia sob forma estável e concentrada mas dificilmente acessível, ao Tabela 4.1 Composto kcal/mol Pirofosfato 6,0 Acetilcoenzima A 6,3 Adenosina-difosfato (ADP) 6,5 Acctilfosfato 8,7 S-fosforílcoenzima A 9.0 Fosfocrentina 9,8 Adenosina-trífosfalo (ATP) lO.Ü Glicerilfosfato 11,3 Fosfoenolpiruvato 12,4 Aceüladcnilalo 13,0 Adenosina-foslbssulfato 18,0 Flg. 4.1 Fórmula do iritbsfato de adenosina, abreviadamenic cha- mado ATP, O .símbolo - indica a.s ligações químicas que são mui- to ricas eni energia. passo que o ATP é um composto instável, que não contém ener- gia Ião concentrada, mas facilmente utilizável porque a enzima que rompe a molécula de ATP (ATPase) é muito abundante na célula. A decomposição da glicose em água e gás carbônico, que ocorre durante a re.spiiaçào celular, rende 690 kcal/mol. enquanto a hi- drólise das duas ligações ricas em energia do ATP rende somente 20 kcal/mol. Hidratos de carbono e gorduras podem serctmqiara- dos a dinheiro no banco, e ATP a dinheiro no boLso, De fato, o dinheiro depositado no banco é estável (teoricamente, não sujeito a roubo ou perdas) e pode scr acumulado em grandes somas. Já o dinheiro do bolso (ATT) é instável, só se pode guardá-lo em quan- tidades limitadas, mas é facilmente acessível quando necessário. A queima da glicose libera umaquaniidade certa de energia e consome oxigênio, O resultado dessa operação, que pode scr realizada num aparelho chamado calorímetro, produz calor (690 kcal/mol), água e gás carbônico, segundo a equação; Ci.HijOs -I- 6O2 = 6CO1 + 6H;0 + calor (energia) Essa combustão da glicose é, porém, um processo violento que levao calorímetro rapidamente a altas temperaturas. Se isso ocor- resse dentro de uma célula, ela se queimaria instantaneamente. Percebe-se, portanto, por que, para retirar a energia dos nutriai- Ics, a célula desenvolveu uin sistema que os oxida lentamcnte, libe- rando energia gradualmenlc, e produzindo água e CO,. A esse pro- cesso, chamou-se respiração celular, e coube aos gênios de Lavoisier e Laplace definir a respiraçãocomo “um tipo de combustão, muito lenta, mas não obstante inteiramente análoga à do carvão". As células utilizam dois mecanismos para retirar energia dos nutrientes: a glicólise anaeróbia c a fosforilação oxidativa. A glicólise anaeróbia produz apenas 2 moles de ATP por cada mol de glicose A glicólise anaeróbia é o processo pelo qual uma sequência de aproximadamente 11 enzimas do citosol ou matriz citoplas- mática promovem uma série de transformações graduais numa molécula de gbeuse, sem consumo de oxigênio, produzindo duas moléculas dc piruvato e liberando energia qiic ê armaze- nada em duas moléculas de ATP. O ATP se forma a partir do ADP e do fosfato inorgânico (Pi) existentes no citosol, segun- do a equação: 2 ADP -F 2 Pi energia da glicose —♦ 2 ATP Tratisfumiação e Armazenamento de F.nergía 65 Nesse processo, a célula armazena 20 kcal para cada molécu- la-grama cie glicose degradada. Essa degradação da g licose não necessita de oxigênio, razão pela qual é chamada de glicóUsc anaeróbia ou fermentação. No levedo de cerveja, em condições anaeróbias, a glicólise prossegue, transformando-se o piruvato em etanol após uma série de reações enzimálicas. A fermenta- ção fornece ao levedo de cervejaa energia necessária para sua manutenção e reprodução, sendo designado por fermentação alcoólica, porque o produto final é o álcool etílico, A glicólise é, do ponto dc vista de rendimento energético, um processo pouco eficiente, pois, das 690 kcal/mo! presentes na glicose, apenas 20 são aproveitadas. Como a glicólise é um pro- cesso rudimentar, as células desenvolveram, ao longo da evolu- ção, mecanismos mais eficazes dc extração de energia. Graças à fosforilação oxidativa, cada mol de glicose produz 36 moles deATP Após 0 aparecimento do oxigênio na atmosfera, desenvolveu- se uma nova via metabólica de maior rendimento energético do que a glicólise: a fosforilação oxidativa. Na fosforilação oxidativa. o piruvato é oxidado até se forma- rem água e gás carbônico, com altíi rendimento energético. Cos- tuma-se distinguir, na oxidação fosforilativa, três mecanismos distintos, mas que se entrelaçam inliinamente; são eles a produ- ção de acetilcoenzima A (acetil-CoA). o ciclo do ácido cítrico e o sistema transportador dc elétrons. Enquanto a glicólise ocorre no citosol, a fosforilação oxidati- va se processa no interior das mitocôndrias (Fig. 4.2). Produção de acetilcoenzima A A acetil-CoA é produzida a partir da coenzima A e do piru- vato derivado da glicólise ou, então, por oxidação dos ácidos graxos. Piruvato e ácidos graxos atravessam as membranas mi- (ocondriais e, na matriz da organela. geram acetato que, ligado à coenzima A, forma aceül-CoA. A transformação dc piruvato cm acetil-CoA dcve-sc a um sistema niultienzimático, o complexo desidrogenase do piru- vato, constituído de cópias múltiplas dc três enzimas, cinco co- enzimas e duas proteínas reguladoras. Esse complexo converte 0 pinivato em acetil-CoA. liberando CO3, que é eliminado da mitocôndria. A aceiil-CoA entra no ciclo do ácido cítrico. Ciclo do ácido cítrico Este ciclo, também chamado de ciclo de Krebs ou ciclo dos ácidos trícarboxílicos, é uma sequência cíclica de reações en- zimáticas na qual ocorre, graças à presença das enzimas chama- das desidrogenases, a produção gradual de elétrons e prótons. Os elétrons não são liberados, mas são captados por moléculas com- plexas como o NAD (nicotinamida-adenina-dinucleotídeo), 0 FAD (flavina adenina dinucleotídeo) e os citocrotnos. que fun- cionam como transportadores de elétrons, no processo de oxi- dorredução. O hidrogênio, resultante das reações, é liberado na matriz mitocondrial, sob a forma de prótons (H~). O ciclo do ácido cítrico tem início com a condensação da acetil-Co A com ácido oxalacético, produzindo ácido cítrico. Este sofre uma série de modificações e acaba produzindo ácido F^. 4.2 Desenho es<tuemático, mostrando que a glicólise ocorre na matriz citoplasmática, enquanto a produção de acetilcoenzima A e a oxidação fosforilativa .se prcKcssam dentnj das mitocôndri- as. A maior produção dc ATI’ se dá na mitocôndria, devido à oxi- <laçào dos suljsiratos oriundos dos nuiriente.s, cora consumo de oxigênio c formaçàr) de água e CÜ2 (respiração aef()bia) conuas- tando com a glicólise (respiração anaeróbia), que não consome (jxigénio V produz pouco ATI’. oxalacético, que, por sua vez, recomeça o ciclo. O resultado fi- nal do ciclo do ácido cítrico é 0 seguinte; graças às desidrogena- se.s, ccone a produção de hidrogênio, que dará prótons e elétrons. Descarboxilases levam à produção de CO3, e existe uma reação exoenergética que promove a .síntese de duas moléculas-grama de ATP por molécula-grama de glicose consumida (Fig. 4.3). A função principal do ciclo do ácido cítrico é, portanto, produzir elétrons com alta energiae prótons, gerando COj. Seu rendimento energético é baixo. Além dessas funções, 0 ciclo do ácido cítrico fornece meta- bólitos que serão usados para a síntese de aminoácidos e hidratos de carbono. O sistema transportador de elétrons É uma cadeia, formada por enzimas e compo.stos não-en7.i- máticos, cuja função é transportar elétrons. Vários desses trans- portadores de elélron.s são ricos em ferro e constituem os citocromos. Ao longo dessa cadeia, são transportados elétrons de alta energia que vão gradualmente cedendo essa energia, que é veiculada para três lugares determinados da cadeia, onde ocor- re a síntese de ATP. Esse processo é eficiente e produz .36 molé- cula.s de ATP por molécula de glicose consumida. Existem, ao longo da cadeia de oxidação fosforilativa. 3 síti- os nos quais a energia liberada pela oxidação é gradualmente transferida para 0 ATP graças à fosforilação do ADP. Nesses l(Kais da cadeia, ocorre 0 acoplamento da liberação de energia, com o seu armazenamento por fosforilação. Existem moléculas tóxicas, como o dinitrofenoL que de.sacoplam essa transferência de energia, bloqueando a síntese de ATP e dissipando, .sob a for- ma de calor, a energia que seria acumulada no ATP. 66 Biologia Celular e Molecular 1 mol <3« glicose 43 Desenho ilustrando os principais proce.ssos que ocorrem na respiração celular aeróbia. A linha cinza indica os limites de uma mitocônclria. iniciatmenie, ocorre a produção de acetilcoenzima A, que enini no ciclo do ácido dtrko, do <|ual resulta a produção de elétrons, prótons, COj e pequena quantidade de ATP. Os elétrons percorrem a cadeia transportadora de elétrons e produzem muito ATP. Os prótons combinam-se com o oxigênio, ativado pelo sistema citocromo-oxidase, produzindo água. C^serve que, no ciKxsol, 1 mol de glico.se produz 2 moles de ATP, ficando muita energia nas moléculas de piruvato. Esse piruvato entra na mitocôndria, onde o resiante da energia do mol inicial de glicose é transferida para cerca de moles dc ATP. Portanto, a mitocôndria aumenta muito a capacidade celular de aproveitar a energia contida ntxs nutrientes. Ob.serve, ainda, a entrada de oxigênio e ADP (adenosina-difosfato) na mitocôndria, O desenho não mostra, mas a mitocôndria necessita taml')ém de Pi (fo.sfato inorgânico) para que o ADP seja transfoimado em ATP. Ao chegarem ao fim do sistema transportador, os elétrons ativam moléculas de oxigênio, produzindo O" graças a um sis- tema enzimático ai existente, chamado citocromo-oxidase. Esse oxigênio com um elétron a mais combina-se com os prótons, produzindo água (Fig. 4.3). A citocromo-oxidase é fortemente inibida pelo cianeto, razão pela qual esse composto é um tóxico muito violento. Portanto, a respiração celular aeróbia produz COj, HjO e ener- gia (calor) segundo a equação global. CjHijOs + 60,^ 6CO2 + 6H20 + energia Como na mitocôndria 0 consumo de oxigênio está relaciona- do à fosforilação de ADP, 0 processo recebeu o nome de oxida- ção fosforílativa. Do ponto de vista de rendimento energético, a mitocôndria apresenta-se como uma máquina altamente eficiente. Calcula-se que, aproximadamente, a metade da energia liberada dos nutri- entes é armazenada pelas mitocôndrias em moléculas de ATP. Os outros 50% são dissipados sob forma de calor, que é utiliza- do nos .seres homeotérmicos para manter constante a temperatu- ra corporal. Em conclusão, 0 proce.sso de oxidação fosforílativa é de alto rendimento energético, quando comparado à glicólise. Certos indícios fazem supor que a glicólise seja 0 processo que filogene- licamente apareceu primeiro e que a oxidação fosforílativa se desenvolveu depois, durante a evolução, como um aperfeiçoa- mento do processo de respiração. Via das pentoses e glicogenossíntese A via das pentoses é constituída por uma sequência enzimá- tica com várias etapas, começando na glicose 6-fosfato, presen- te no início da glicólise, e levando à produção do açúcar ribose. Transformação e Armazenamento de Energia 67 Fig. 4.4 Eletromicrografia dc mústulo cardíaco de macaco, um tecido qiie necessita de muitas miiocôndrias porque consome muito ATP, que é a fonte de energia para a contração muscular. Observe a disposição das mitocôndrias, formando um trajeto paralelo às jniofibrilas. Observe, também, que as mitocôndrias são ricas em cristas e que a matriz mitocondrialé densa aos elétrons (aparece escura na micrografia). 30.000 X. que é uma pentose utilizada para a smtese das moléculas dos ácidos nucléicos. Ao longo dessa via ocorre também a redução da coenzima NADP para NADPH. A gUcogenossíntese é o processo pelo qual a glicose é poli- merizada para formar glicogênio, que é acumulado no citoplas- ma em quantidades variáveis de acordo com o tipo celular, fun- cionando como depósito de energia. Em determinadas células, como nas do fígado e músculo, esse processo pode ser intenso e ocorrem extensos depósitos de glicogênio. O glicogênio hepáti- co que chega a 150 g é degradado no intervalo das refeições mantendo constante o nível de glicose no sangue e, assim, for- necendo essa molécula energética para as outras células do or- ganismo. O glicogênio das células musculares, ao contrário, forma glicose apenas para a contração muscular. Sendo produtores de ATP, as mitocôndrias se localizam próximo aos locais que necessitam de energia As mitocôndrias {mitos, filamento, e condria. partícula) são organelas de forma arredondada ou alongada, presentes no cito- plasma das células eucariontes, e que exercem importante fun- ção na respiração aeróbia. Essas organelas pt)ssuem um diâmetro aproximado de 0,5 a 1,0 /j-m, variando o comprimento desde 0,5 [imaté 8 ou 10 um. A forma e a posição das mitocôndrias não são fixas, pois foi observado, nas culturas de células, que as organelas se movem constantemente. Os movimentos e a posição intracelular das mitocôndrias são influenciados pela disposição do citoesquele- to, e, de modo geral, observa-se estreita relação entre essas or- ganelas e as necessidades energéticas da célula. Células que con- somem muita energia, como as musculares, têm muitas mitocôn- drias. Já os fibroblastos e linfócitos têm poucas mitocôndrias, coincidindo com uma respiração de baixa intensidade. Essa re- lação é tão acentuada, que se pode estabelecer uma correlação entre o consumo de O2 por unidade de peso de um tecido (cha- mado de QOj) c a quantidade dc mitocôndrias que as suas célu- las contêm. As mitocôndrias geralmente se localizam dentro da célula, próximo aos locais onde existe grande consumo de ener- gia. Nos epitélios ciliados, as mitocôndrias se acumulam perto dos cílios e, nos espermatozóides, ao redor da porção inicial do flagelo, onde tem início a movimentação flagelar. Nas células musculares estriadas, elas se dispõem paralelaraente, entre os feixes de miofibrilas (Fig. 4.4). Outros exemplos são os acúmu- los de mitocôndrias encontrados nas células sensitivas da retina (Fig. 4.5) e nas células que transportam íons, como, por exem- plo, as dos túbulos do rim (Fig. 4.6) e as células parietais do es- tômago. As mitocôndrias são de constituição lipoprotéica, sendo, em média, três quartos do seu peso seco constituídos por proteínas e um quarto por lipídios. Os lipídios estão presentes, principalmen- te, nas membranas mitocondriais. Contêm também pequena 68 Biologia Celular e Molecular Fig. 4.5 Eietromicrografia de célula da retira dt- macaco, eiii região onde ocorre um acúmulo de mitocôndrias, Ob.servar que as mito* côndrias contém muitas cristas e aprcscniam matriz densa aos elétrons (aparece escuia na micrografia). 50.000 X, Fig. 4.6 F.lclromicrografia de mitocòndria de célula renal de camundongo. Notar a dupla membrana e a.s cristas, numerosas, mas menos freqüentes do que no mú.sculo e.striado cardíaco (comparar com a Fig. 4.4). A matriz, de aspecto granuloso, preenche o e.spaço enue as cristas. 84.000 X. Transformação e Armazenamento de linergla 69 Mambfana etierna Contém enzimas üe degradação dos lipídios a ãcidos graxos. Permeável a moléculas de alè 10.000 dallons / DWA fwllocondrlal Uma ou mais cadeias duplas comendo escasso número de genes / Espaco inteftnembranoee Contém enzimas várias. Acumula prótons transportados da matriz quantidade de DNA e das três variedades de RN A (mRNA, tRN A erRNA). A maior parle dos lipídios é formada por fosfoüpídios. sendo 0 restante constituído porlriacilgliccrídeos e colesterol. As pro- teínas são, em maior parte, enzimas, das quais se conhecem mais de 70; isto inclui todas as do ciclo do ácido cítrico e as da P* oxidação dos lipídios. Além disso, as mitocôndrias contêm en- zimas relacionadas com a síntese de proteínas, transaminação de aminoácidos, smte.se de hormônios esteróides e com outros pro- cessos mciabólicos. Embora o papei energético das miiocôndri- as seja importante e, por isso, muito enfatizado, na verdade as mitocôndrias participam de muitas outras funções celulares. Ultra-estrutura e organização funcional das mitocôndrias As mitocôndrias aprescniam-se envoltas por duas membra- nascontendo no seu interior a matriz mltocondrial. A membrana externa é lisa e muito permeável a diversos tipos de moléculas com peso abaixo de 5.ÜÜÜ dáltons. Essa permeabilidade é devi- da à presença de proteínas intercaludu.s na membrana, as pori- nas. que limitam canais com o diâmetro de I nm. Entre as duas membranas, observa-se o espaço intermembranuso. A mem- brana interna é rica em enzimas, funcionalmente muito ativa e seleciona, dc modo eficiente, as moléculas e íons que a atraves- sam, facilitando a penetração de certas substâncias e impedindo a penetração de outras. Além das diferenças entre as proteínas das duas membranas, a membrana externa é rica em colesterol, enquanto a membrana interna é pobre neste lipídio, sendo rica em cardiolipina, rosfolipi'diocom quatro ácidos graxos. que não existe na membmna externa. A cardiolipina contribui para difi- cultar a passagem dc íons através da membrana miiocondrial interna, o que é funcionalmenlc muito importante, porque uma concentração elevada de íons. na matriz da mitiKÔndria. pertur- baria o gradiente que gera o lluxo de prótons e a captação de energia no ATP, pelo proce.sso quimiosmótico. A constituição molecular das duas membranas das milocôn- drias está em acordo com a possível origem evolutiva dessas organelas a partir de bactérias simbiontes, que se instalaram no citoplasma. A membrana mitocondrial externa é parecida coma membrana plasmálica das células eucarionte.s, e é muito sensí- vel aos detergentes e ao ultra-som, propriedade que icm sido utilizada para romper a membrana externa e isolar, por centrifu- gação fracionada, as diversas parles das mitocôndrias, confor- me será visto adiante. A membrana interna tem muita semelhan- ça com a membrana das bactérias e. como estas, contém o siste- ma de transferência dc energia. Os fosfoüpídios das membranas mitocondriais não são sinte- tizados na organela, mas sim no retículo endoplasmático. As moléculas de fosfolipídios são transferidas para a.s mitocôndrias por proteínas transportadoras especiais, que carregam os lipídi- os dc uma membrana muito rica nestas moléculas (retículo en- doplasniático) para a membrana de organelas que estão com menor concentração lipídica. A.s mitocôndrias recebem fosfoli- pídios por processo semelhante ao descrito com relação aos peroxisomas. A diferença c que as mitocôndrias, embora inca- CcrpCieeulos elementares Fazem parte da membrana Interna e contém complexo proléico com atividade de ATP-sIntetase Membrana mterna Impermeável, contém os componentes da cadeia de transporte de elétrons. Transporte Iransmembrana de prútons Matrte mltocondrial Contém enzimas que metabollzam piruvato e ácido graxo produzindo aceilicoenzana A. contem enzimas do ciclo do âcido citrico. tRNA, mRNA e rRNA Rlboaomae mltoc^nttrlale Contêm RNA ribosómico. Participa da síntese proteica Crista ml>aeondrlal Dobras da membrana Interna gue aumentam sua superfície FIg. 4.7 Desenho esquemátitx) apresentandt) um resumo dos principaLs componentes mitocondriais e sii.xs funções. 70 Biologia Celular e Molecular F^. 4.8 Eletroinicrografia mostrando pane do citoplasma de uma célula da camada cortical da glândula adrenal. Observe mitocôndrias contendo,em vez de cristas, invaginayws tubulosas de sua membrana interna. Essa disposição 6 freqüente em células que sintetizam esteróides. 60.000 X, pa/es de sintetizar fosfolipídios, exercem um papel funcional- mente significativo, modificando as moléculas recebidas pela via das proteínas transportadoras. A membrana interna apresenta invaginações em forma de prateleiras, formando as cristas, que aumentam grandemente a superfície dessa membrana (Figs. 4.6 e 4.7). Em certos protozo- ários e em células que sintetizam esteróides, as invaginações da membrana iiilema assumem a forma de tubos ou dedos de luva, 0 que leva ao aparecimento de estruturas circulares no interior das mitocôndrias, quando observadas em corte (Fig. 4.8). Uma mesma mitocôndria pode apresentar cristas em prateleiras e invaginações tubulares. Na superfície interna (em contato com a matriz milocondri- ai) da membrana interna da mitocôndria, existem pequenas par- tículas, em forma de raqueta, e que se inserem pelos seus cabos nessa membrana. São os corpúsculos elementares, que têm 10 nm de diâmetro. No interior das mitocôndrias, encontra-se uma substância fí- namente granulosa e elélron-densa (escura nas micrografias ele- trônicas) chamada matriz. É freqüente observar grânulos elé- tron-densos (grânulos densos) no seio da matriz, com diâme- tro de 30 a.‘i0nm, contendo cálcio e de função pouco conhecida. Além desses componentes, distinguem-se com ceifa dificulda- de, no interior da matriz, regiões filamentosas constituídas por filamentos de DNA. Na matriz mitocondrial existem, em sua maioria presos à membrana interna, ribosomas medindo 15 nm de diâmetro (menores do que os do citosol). Existe alguma variação na estrutura mitocondrial, conforme 0 tipo de célula e seu estado funcional. De um modo geral, a quantidade de cristas é proporcional à atividade respiratória da célula; a elétron-densidade da matriz também segue essa rela- ção. Nas células do tecido muscular, por exemplo, encontram- se mitocôndrias extremamente ricas em cristas e com matriz muito densa aos elétrons (Fig. 4.4). A análise da localização das enzimas, nos componentes das mitocôndrias. foi facilitada pela técnica de ruptura dessas orga- nelas, com detergentes ou ultra-som, e o isolamento das mem- branas internas, das membranas externas, do conteúdo do espa- ço intermembranoso e do conteúdt) da matriz (Fig. 4.9). O estudo dessas Irações demonstrou que a matriz é um com- plexo concentrado de centenas de enzimas, entre as quais estão as relacionadas com o cicio do ácido cítrico, com a p-oxidação de ácidos graxos e com a replicação, üanscrição e tradução do DNA mitocondrial. Na membrana interna enconiram-se mais de 60 proteínas com as seguintes funções principais: - enzimas e proteínas que constituem a cadeia de transpor- te de elétrons. Transformação e Armazenamento de Energia 71 -Membrana externa, que se fragmentou e formou vesíoulas . Conteúdo do espaço inlermembianoso Tratamento por detergente e centrifugação (60 ma 144.000 g) Membrana intema no pretípitado 1 Matriz no sobrenadante Centrifugação (60 m a 14.000 g) r oooo 0 0^0 0 0^0 Oo O O Membrana externa no precipitado Conteúdo do espaço Intemiembranoao Ffe4.9E«|uema ilustrando um dos métodos utilizados para fracionar as iniiocôndrtas. Esse fracionamento é possível porque a mem- brana miiocondrial externa é muito mais seicsívcl a detergentes e ao ultra-som do que a interna. E-isas membranas têm diferenças na CMstituiçào molecular. Além de outras diferenças, a membrana interna é rica cm cardioUpina (como a membrana das bactéria.s) c não contém colesterol, enquanto a membrana externa nào contém cardioUpina, mas .sim colesterol, e pode ser rompida com mais facilida- de. A ilustração mostra que, na primeira etapa, apenas a membrana mitocondrial externa é rompida, conservando-se íntegra a membra- na Iniema, <|uc retém a matriz mitocondrial. Posteriormente, a ruptura da membrana intema, graças a novo tratamento com detergente, possibilita a obtenção de.ssa membrana e da matriz mitocondrial em frações separadas. O processo completo, como mostram os quatro desenhas dc baixo, separa quatro frações: a membrana intema. a matriz, a membrana externa c o conteúdo do espaço intetmeinbrancwo. No precipitado Mltocõndrla isolada por homogeneização da célula e centrifugação em gradiente Separação da membrana externa e substância do espaço Intermembranoso. da membrana mterna e matriz por centrifugação (fO m a 12.000 9) 00»0^-| oO^ 72 Biologia Ctílulare Molectikir - proteínas dos corpúsculos elementares, com atividade de ATP-sínIetase som a qual a membrana não teria a capacidade de acoplar o transporte de elétrons à síntese de ATP; - proteínas que fazem pane dos múltiplos sistemas de trans- porte ativo presentes na membrana interna. Nas células procarionles (bactérias) não existem mitocôndri- as, e a cadeia transportadora de elétrons encontra-se na face in- terna da membrana plasmáiica dessas células. Portanto, o fluxo de elétrons e a oxidação fosforilativa estão sempre associados a membranas, e esse é um princípio geral de organização funcio- nal em tixlos os seres vivos, sejam eles ainstituídos por células cucariontes ou procariontes. A transferência de energia para ADP, transformandcH) em ATP, deve-se a um processo quimiosmótico A teoria atualmente aceita, para explicar o acoplamento do processo oxidativo raitocondrial com a síntese de ATP apaitir de ADP. é a teoria quimlosmótica. segundo a qual os íons H' (prótons), produzidos no ciclo do ácido cítrico na matriz mito- condrial. são transportados ativamente através da membrana in- terna e acumulados no espaço intermembranoso. graças à ener- gia liberada pelos elétrons, durante a sua passagem pela cadeia li íuisportadora de elétrons. A energia do fluxo retrógrado de pró- tons, através dos corpúsculos elementares, é usada para trans- formar ADP em ATP. A Fig. 4.10 ilustra a teoria quimiosmó- lica. Em um tipo especializado de tecido adiposo, o tecido adipo- so multilocular, as células aprcsentam-se ricas em mitocôndri- as e contêm inúmeras gotículas de lipídios. Essas células são especializadas na produção de calor, de importância na defesa das animais contra o bio e no acordar dos animais hibemanles. A produção de calor é muito aumentada nas células do tecido adiposo multilocular. pela presença, nas miUxiôndrias, de uma proteína específica, a termugeiüna {termo, calor, e gen. gerar). Esta proteína permite que os prótons, acumulados no espaço intermembranoso. Iluam livremente de volta para a mairiz, sem passarem pelos corpúsculo.s elementares. Conseqüentemente não ocorre síntese de ATP e a energia derivada do fluxo de prótons é dissipada sob a forma de calor (Fig. 4.10). Transportes de íons e mitocôndrias / o grande acúmulo de mitocôndrias nas células que transpor- tam íons. como é o caso das células dos túbulos contorcidos re- nais e das células parietais do estômago, está relacionado ao alto dispêndio de energia nos movimentos iônicos, contra um gradi- ente de concenti ação. isto é. o transporte de íons de um local de baixa concentração, para um compartimento de alta concentra- ção. Nos dois exemplos citados (células do rim e células parie- COBPÚSCULO ELEMENTAR Orvd6 ocorre um fluxo retrógrado de protons cuja energia e parclalmente acumulada (SOV cemo energia química (ATP) e S0S> dissipados como calor Fig. 4.10 tísquema ilusuando os metanisiiio.s pelos C|uais a mitocòndria retira energia dos nutriente.s. acuinuiando-a sob a forma de energia química facilmente disponível no ATP. Parte da energia das nutrientes é. normalmente, dissipada sob a forma de calor. A proteína tennogenina pode funcionar como uma espécie de válvula, regulando a quantidade dc energia dos nutrientes que vai gerar calor. A tennogenina tem papel sigrificati\-o no desperuir dos animaLs ((iie bibernam. aquecendo o sangue des-ses animais. O dinitrofenol,substância que inilx; a oxidação fosforilativa, é um composto anfipático (prende-se por uma extremidade a uma região hidrofóbica e I>ela outra a uma região hidroFIica) ejue desorganiza a earuiura da membrana iniiocondrial interna, promovendo um fluxo retrógrado cie prótons, sem síntese de A ll’. Tninsfomiação e Armuzenammto de Energia 73 4.11 Eletromlcn>gfafias de moléculas circulares de DNA, iso- ladas dc miiocôndrias de fibrobiastos de camundongo. Em cima, 50.000 X e, embaixo, 40.000 X. fCorTcsia de M.M.K. Nass.) lais do cstomago). os íons são lríinspt)Hados para foni das célu- las, por pnKesso ativo. Esse acúmulo de mitocôndrias nas cclula-s transportadoras de íons está associado a abundantes invaginações da membrana plasmática. o que aumenta consideravelmente a superfície celu- lar por onde tem lugar o transporte. Nestas regiões, verifica-sc estreito contato entre a,s mitocôndrias (produtoras dc energia sob a forma de ATP) e as membranas ricas em ATPasc, enzima que libera a energia que será utilizada localmenie pelas bombas iô- nicas aí presentes. Trata-se. pois, dc uma disposição de alta efi- ciência energética. .45 mitocôndrias apresentam um genoma y próprio, embora incompleto 0 estudo microscópico dc células cultivadas, mostra que as mitocôndrias possuem a capacidade de sc dividirem in vitro. De outro lado. o estudo bioquímico dessas organelas demonstrou que elas contêm DNA, os três tipos de RNA (rRNA, mRNA e tRNA) e todo o sistema molecular necessário para a síntese de proteí- nas. independenle do citoplasma. Dc fato. mitocôndrias isoladas. in vUro, contêm ribo.somas. sinlcli/am proteínas e são conside- radas, devido às características já mencionadas, unidades auto- reprodutivas, O DNA das mitocôndrias foi visualizado, isolado e fotografado. Trata-se dc um DNA muito compacto, que codi- fica RNA formado apenas poréxons, sem íntrons, e que tem um código genético próprio, diferente do código genético universal. Outra característica desse DNA é sua origem exclusivamente materna. Praticamente, todas as mitocôndrias do zigolo são de origem materna. 0 DNA das mitocôndrias apresenta-.se sob a forma dc anéis üe cadeia dupla, com uma circunferência de 5 a 6 pm (Fig. 4.11). Esse DNA replica-se independenlemenle do DNA nuclear e da divisão das mitocôndrias. De fato, várias cópia.s do DNA mito- condriat coexistem na mesma milocôndría. A função desse DNA é especificar a sequência de aminoácidos dc algumas — mas não de todas — as proteínas mit«x;ondriais. além de produzir os três tipos de RNA (Fig. 4.12). A maior parte das proteínas mitocon- driaisé sintetizada no citoplasma, em polirribosomas livres, e daí transferidas para as mitocôndrias. As proteínas destinadas às mitocôndrias têm um pequeno segmento da molécula que é um sinal, reconhecido por receptores na superfície das milocôndri- as. Essas proteínas são introduzidas nas mitocôndrias, por pro- cesso ativo, com gasto de ATP. O genoma das mitocôndrias humanas, que é reiacivamente pequeno, já foi complelamenie seqücnciado. Ele tem 16..569 nucicotídeos formando 2 genes para rRNA, 22 de tRNA e 13 genes que codificam proteínas, num total de 37 genes, dos quais 24 codificam RNA. Chama u atenção o fato de que o código genético milocondrial apresenta-se alterado, de modo que 4 dos 64 códons, apresentam significado diferente. Entre as proteínas sintetizadas nas mitocôndrias, citam-se as subunidades da ATP- sintetase, do complexo citocromo bc, e a citocromo oxidase. Mambraoâs rrierna eevtemada nilocóndna polirriboBomas citopiasmÂiiocs d migraçAo âa$ prolefnas pâra {lanirc diiã mnocândfiaa Fig. 4.12 Esquema moslnintlo que as niirocôndria.s têm um sísie- inu genético próprio, porém inodcsio, (|uc gera proteínas relacio- nadas com a rettlicaçào do seu DNA e algumas proteínas d.i sua memitrana interna. A maioria tias oulra-s proteínas miiotxmclriais (das niemijranas, cb matriz e das rilxisomas) têm origem nos polirribosomas citopia,sináticos. Essas proteínas sào sintetizadas com uma pequena sequência de aminoácidos, ou .sinal, cjue c reconiie- cido por niitléculas da superfície milocondrial. Em seguida, essas proteínas sào introduzidas na niitocôndria. 74 Biologia Celular e Molecular Fig. 4.13 Eletromicrografias de eélulas HeLa culiivadas iu intro. Ein A, célula-conrrolc c, cm B. apcxs adiváo. aij meio de cultura, de 50 pg/ml de cloranfenicol. Esse antibiótico inibe a síntese proteica nos ribosomas das baaérias (células procariontes) e das mitocôndrias. Observe, na eletromicrografia B. que o antibiótico provocou uma diminuição na quantidade de cristas das mitocôndrias. A, aumento 15 OüO X. B, aumento 22.000 X, (Cortesia de R. Lank, e S, Penman.Cell. BíoL, 45^541, 1971. Reprodução autorizada.) Origem das mitocôndrias Ciclo de energia na natureza As presenças de DNA, dos vários tipos de RNA e de um mecanismo de auto-reprodução próprio nas mitocôndrias, além de outros dados, sugerem que as mitocôndrias originaram-se de bactérias aeróbias, que estabeleceram relação simbiótica com células eucariontes anaeróbias nos primórdios da vida na Terra (v.Cap. I). Admite-se que, durante o processo evolutivo, as mitocôndri- as perderam, gradualmente, a maior parte do seu genoma, que foi transferido para a célula hospedeira. Assim, as mitocôndrias tornaram-se dependentes dc proteínas codificadas pelo genoma do núcleo celular. Outra indicação, muito sugestiva da origem das mitocôndrias a partir de bactérias endossimbiontes, é o fato de que a mem- brana externa das mitocôndrias é muito semelhante à membra- na plasmática das células eucariontes, enquanto a membrana interna é mais semelhante à membrana das bactérias. Essas bactérias teriam penetrado em células eucariontes primordiais por fagocitose, tendo escapado dos mecanismos intracelulares de destruição de células estranhas e estabelecido a endossim- biose. Durante a fagocitose, a membrana plasmática da célula eucarionte hospedeira originou a membrana externa da mitocôndria, e a membrana da bactéria tornou-se a membrana interna da mitocôndria. A observação de que antibióticos que inibem a síntese protéi- ca bacteriana também agem sobre as mitcKôndrias (Fig. 4.13), também fala a tuvor da origem bacteriana das mitocôndrias. A energia acumulada pelas células é utilizada por elas para a manutenção de sua própria estrutura e para o desempenho de suas funções. O ciclo geral de energia na natureza está esquematiza- do na Fig. 4.14. As células dos seres heterotróQeos íheteros. outro, e trophe, nutrição) utilizam a energia dos alimentos. Nos vegetai.s autotróficos (autos, próprio, e trophe, nutrição), graças ao pro- cesso de fotossíntese, criam-se condições que permitem à pró- pria célula a síntese de seus alimentos. Estes, por sua vez, são utilizados pelas células vegetais c também pelas células animais (Fig. 4.15). A vida na Terra depende da fotossíntese. Existem doenças por deficiência mitocondrial Existem várias doença.s devido a disfunções mitocondriais. descritas na literatura médica. Serão citados dois exemplos. O primeiro é a doença de Luft. caracterizada por aumento quanti- tativo das mitocôndrias musculares em pacientes com metabo- li.smo basal elevado, simulando um hipertiroidismo. A análise bioquímica das mitocôndrias desses doente,s mostrou que a oxi- dação fosforilativa está parcialmente desacoplada, explicando a sintomatologia observada. Já a miopatía mitocondrial infan- til, doença fatal e acompanhada de lesão muscular e disfunção U N 1 A • Univercidade Santo ^maro Biblioteca Campue 1 Tm7isfofynação e Amiazertamsnto de Energia 75 Energia solar acumulada em compostos qu(mlcos (alimento) Flg. 4.14 Desenho Qustrando a captação de energia pela fotossíntese, .seu acúmulo nos alimentos e a utilização pelas células a fim de realizar as suas funções (ciclo de energia na natureza), ORGANISMOS ORGANISMOS AUTOTRÓFICOS HETEROTRÕFICOS Captam a energia solar gerando Captamenergia química resultante da degradação dos alimentos gerando Elétrons com alta energia que será utilizada para transponar prótons através de membrana semipermeável, criando um gradiente de prótons. A energia gerada por esse gradiente será utilizada Indlretamente via ATP para atividades celulares não-totossinteticas nos seres auto- e heterotróllcos Movimentos celulares Processos de síntese Bldumlnescência Transporte ativo F^. 4.15 Visão panorâmica dos processos energéticos relacionados com os diversos tipos de células. A energia utilizada tem origem diretamente da luz solar ou indireiamente, através da decomposição dos nutrientes. É interessante observar que, em ambos os casos, gera-se um fluxo de prótons que cria um gradiente. A energia do refluxo destes prótons pode ser utilizada ímediatamenie ou ser arma- zenada sob a forma de ATP, composto que contém ligações fosfato muito ricas em energia facilmente mobilizável pela enzima ATPase, abundante nas células. Biologia Celular e Molecular renal (as células renais e musculares são ricas em mitocôndrias), c resultante da diminuição acentuada, ou mesmo ausência com- pleta, das en/.imas da cadeia transportadora de elétrons. E.ssas doenças miiocondríaís são hereditárias, mas somente por via materna. Homens e mulheres podem apresentar as doenças hereditárias mittKondriais. mas somente as mulheres as transmi- tem para o.s descendentes, porque na fertilização a contribuição do espermatozóide, quanto às mitocôndria.s, é insignificante. As mitocôndrias do óvulo fecundado (zigoto) c das células dele ori- ginadas são praticamente todas derivadas da multiplicação das mitocôndrias do óvulo e, portanto, maternas. As doenças here- ditárias mitocondriais apresentam grande variação nos sintomas de um doente para outro, devido à heteroplasmia. isto é, as cé- lulas dos doentes apresentam quantidades variáveis de DNA miiocondrial normal e DNA mitocondrial mutante. O óvulo que leva mitocôndrias maternas muiantes também leva milocôndri- as maternas com o DNA normal. Sumário Para a realização de suas atividades, as células usam a ener- gia obtida airavé.s da ruptura das ligações covalenies das molé- culas dos alimentos. A.? células das plantas e de raras bactérias são aulotróficas, sintetizando moléculas alimeniares complexas a partir de moléculas inorgânicas e da energia solar. As demais células são heierotróficas. Estas não sõo capazes de converter em ligações químicas a energia solar, não sintetizam moléculas alimeniares e, portanto, dependem inteiramente do alimento sin- tetizado pelas células autotrójicas para sua sobrevivência. Nas células, a energia dos nutrientes é liberada gradalimmenle e parcialmente transferida para as moléculas de ATP (adenosi- na-trifosfato), que contêm ligações riais em energia. Outra parle é dissipada sob u forma de calor, indo aquecer o organismo. As moléculas energéticas mais usadas pelas células são a glico.se e os ácidos graxos. Degradada na matriz citoplasmáti- ca. sem participação de oxigênio, pelo processo de glicólise anaeróbia, cada mol de glicose produz. 2 moles de ATP e deixa como resíduo 2 moles de pinivato. que ainda contêm muita ener- gia. Moléculas de piruvato e de ADP passam para a matriz mi- tocondriaL onde também chega oxigênio da respiração, e o pro- cesso continua, formando-se acetilcoenzima A. que entra no ci- clo do ácido cítrico e no sistema transportador de elétrons paru produzir mais .16 moles de A TP. Do ponio de vista do aproveita- mento de energia, a vantagem da iniKK Õndria é enorme. Sem ela, a célula obteria apenas 2 moles de ATP por mol de glicose. Com a milocôndria. 0 rendimento é muito maior. As mitocôndrias são orgaiielas arredondadas ou alongadas localizadas, geralmente, próximo às regiões do citoplasma que necessitam de muita energia. São constituídas por duas mem- ' brunas. A externa é lisa e muito permeável. A membrana inter- ' IU2 contém cardiolipina. é seletiva, controla melhor o trânsito molecular no.\ dois sentidos e se dobra formando pregas para o interior da mitocôndria. Estas dobras aumentam muito a super- i fície. da membrana interna, criando mais área para o sistema transportador de elétrons que aí se localiza. O interior da organela, limitado pela membrana interna, contém a matriz mitocondrial, onde estão as enzimas do ciclo do ácido cítrico. A energia liberada na cadeia transportadora de elétrons é utilizada para o transporte de prótons da matriz para o espaço inlermembranoso. onde os prótons se acumulam. Es.ses prótons do espaço inlermembranoso fluem de volta para a matriz, atra- | vés dos corpiUcuIos elementares, fluxo este cuja energia é con- \ vertida, no corpúsculo elementar, em energia química facilmente acessível, graças à síntese do ATP a partir do ADP. A r mitocôndrias possuem DNA e os três tipos de RNA (men- sageiro. ribosômico e de transferência), sintetizando algumas , proteínas próprias. Mas' a nuiior parte das proteínas que cons- tituem as mitocêmdrias é sitaetizuda no cilopta.sma, sob o con- trole do código genético do núcleo celular, sendo, depois, trans- feridas para a mitocôndria. , Bibliografia ALBERTS, B, et ai. Molecular Biology of the Cell 2nd ed.. Carland Press; New York, 1989. HATEFI, Y, The milochondrial eleclron transport oxidative phos- phnrylation sysiem. Annu. Rev. Biochem. 5^:1015. 1985. HINCKLE, P.C, and MCCARTY. R.E. How cclls make ATP. Sei. Am. 1978, TZAGOLOFF. A. Miiochondría. Plenum Press, New York, 1982.
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