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Unidade 05 Receptação, roubo e extorsão

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Nesta aula, em continuidade ao estudo dos delitos contra o patrimônio, serão estudadas as figuras típicas de receptação, roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro, bem como avaliaremos a possibilidade da incidência dos institutos repressivos previstos na Lei nº 8.072/1990 – Lei de Crimes Hediondos.
Para tanto, utilizaremos como elementos disparadores de nosso estudo casos concretos que permitirão a discussão sobre as questões doutrinário-jurisprudenciais controvertidas sobre o tema.
Objetivos:
1. Reconhecer o delito de roubo e latrocínio;
2. Diferenciar as figuras típicas de roubo, extorsão e extorsão mediante sequestro, por meio da análise de casos concretos.
Roubo - Artigo 157 do Código Penal
A delimitação das expressões violência e grave ameaça
A grave ameaça configura-se como vis compulsiva, ou seja, grave ameaça consubstanciada na promessa mal grave e iminente; já a violência física, vis absoluta, é o uso de força física capaz de dificultar, paralisar os movimentos do ofendido ou impedir sua defesa (CAPEZ, 2010, p. 460-461). Quanto à expressão “qualquer meio” contida no Artigo 157 caput do Código Penal, Luiz Regis Prado entende ser caso de interpretação analógica para definir “todos aqueles que produzem um estado físico-psíquico na vítima, aptos a reduzir ou suprimir totalmente sua capacidade de resistência” (PRADO, 2010, p. 321).
Narrativa
Como exemplo de aplicação da interpretação analógica de forma a caracterizar a violência presumida no crime de roubo, vejamos a narrativa a seguir:
Bel, prostituta, é convidada por Bernardo para ir ao seu apartamento para um "programa". Bernardo, ansioso, a recebeu com duas taças de vinho nas mãos, momento em que Bel vê no pulso de seu cliente um relógio caríssimo e raro. Após alguns minutos de conversa, a meretriz, aproveitando-se de um momento de distração da vítima, despeja algumas gotas de uma substância sedativa na bebida, tendo Bernardo caído desmaiado logo após sua ingestão. Nesse momento, Bel apanha o relógio e o coloca dentro de sua bolsa empreendendo fuga logo em seguida.
A seguir, você conhecerá as aplicações sobre a violência presumida no crime de roubo.
Interpretação analógica para caracterizar a violência presumida no crime de roubo
Roubo como crime complexo e (im)possibilidade de aplicação do princípio da insignificância
A partir da premissa de que o delito de roubo caracteriza-se como delito complexo e, portanto, compreende as figuras típicas do delito de furto e constrangimento ilegal e/ou lesão corporal, indaga-se se, no caso concreto, a res furtiva for de valor patrimonial insignificante, seria possível a aplicação do princípio da insignificância para fins de exclusão da tipicidade da conduta.
O melhor entendimento apresenta-nos que, sendo o delito perpetrado mediante o uso de violência ou grave ameaça à pessoa, não há que se falar em incidência do princípio da insignificância em decorrência do maior juízo de reprovabilidade da conduta do agente. Sob esse prisma, assevera Fernando Capez: “ainda que a ofensa ao patrimônio seja mínima, tal não afasta o desvalor da ação representado pelo emprego de violência ou grave ameaça à pessoa” (CAPEZ, 2010, p. 464).
Roubo próprio e roubo impróprio – distinção
No delito de roubo próprio, previsto no caput do Artigo 157 do Código Penal, a violência ou grave ameaça é empregada antes ou concomitantemente à subtração da res. Por outro lado, no roubo impróprio, previsto no § 1° do Artigo 157 do Código Penal, a violência ou grave ameaça é empregada após a subtração, em relação de imediatidade. A conduta deve ser praticada para assegurar a detenção da coisa ou para garantia da impunidade do agente.
Dessa forma, para a caracterização do delito roubo impróprio, é necessário o cumprimento dos seguintes requisitos: “efetiva retirada da coisa, emprego de violência ou grave ameaça, logo depois da subtração e a finalidade de assegurar o crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro” (CAPEZ, op. cit., p. 468).
Possibilidade do concurso material de crimes entre o delito de roubo majorado pelo concurso de pessoas e o delito de associação criminosa (Artigo 288, Código Penal)
Sobre a admissibilidade de aplicação simultânea da majorante pelo concurso de pessoas ao delito de roubo em concurso material de crimes com o delito de associação criminosa, previsto no Artigo 288 do Código Penal, o melhor entendimento refere-se à possibilidade e, portanto, não configuração de bis in idem (dupla valoração pelo mesmo fato), haja vista a distinção entre a objetividade jurídica entre os delitos e, consequentemente, bem jurídico tutelado em cada um deles.
O emprego de arma de brinquedo (simulacro) e o delito de roubo
O emprego de arma de brinquedo (simulacro) não tipifica o roubo majorado, pois, ainda que possua potencialidade intimidatória, não possui potencialidade lesiva. Cabe salientar que o verbete de Súmula nº 174 do Superior Tribunal de Justiça foi cancelado.
Acerca do tema, veja no tópico “Possibilidade do concurso material de crimes entre o delito de roubo majorado pelo concurso de pessoas e o delito de associação criminosa” o trecho de decisão proferida em sede (Apelação Criminal pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro).
Questão controvertida: o delito de roubo impróprio e a (im)possibilidade de aplicação do instituto da tentativa
A partir da premissa de que a conduta inicial no delito de roubo impróprio amolda-se à da figura típica do furto e que, somente no momento em que o agente emprega a violência ou grave ameaça com o fim de assegurar a posse do bem, restará a conduta como incursa no delito de roubo, surge a controvérsia acerca da possibilidade de tentativa ao referido delito.
Atenção
Tal questionamento enseja controvérsias na doutrina e jurisprudência de modo a termos dois entendimentos sobre o tema:
• Pela impossibilidade: o crime se consuma no momento do emprego da violência ou da grave ameaça e, por conseguinte, não admite tentativa. Nesse caso, a conduta do agente deverá ser tipificada pelo concurso de crimes entre o delito de furto na forma tentada e o delito resultante do emprego da violência ou grave ameaça, por exemplo, lesões corporais (PRADO, op. cit., p. 321).
• Pela possibilidade: violência e grave ameaça são empregadas antes de consumada a subtração e, portanto, a consumação se dá nos moldes do roubo próprio (NUCCI, 2009, p. 724-725).
A majorante do emprego de arma e a (des)necessidade de apreensão
Em relação à incidência da majorante pelo emprego de arma de fogo, prevista no § 2°, I, do Artigo 157, questiona-se a necessidade da apreensão do referido instrumento do crime, prevalecendo o entendimento de que essa não é obrigatória, utilizando-se para tanto os mesmos argumentos estudados em relação à majorante pelo concurso de pessoas, ou seja, caso as demais provas colhidas em juízo corroborem com a afirmação de que o delito foi perpetrado com o emprego de arma de fogo, incidirá a majorante.
Por fim, cabe salientar que, no caso de concorrência de mais de uma majorante ao delito de roubo, o Superior Tribunal de Justiça já firmou entendimento no sentido de que “O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes” (verbete de Súmula nº 443).
A majorante do concurso de pessoas e a (des)necessidade de identificação dos corréus
Ainda sobre o tema roubo majorado pelo concurso de pessoas, questiona-se a necessidade, para fins de aplicação da majorante prevista no § 2°, II, do Artigo 157, da identificação dos corréus, prevalecendo o entendimento de que essa não é obrigatória, caso as demais provas colhidas em juízo corroborem com a afirmação de que o delito foi perpetrado em concurso de pessoas.
Sobre o tema veja no tópico “A majorante do emprego de arma e a (des)necessidade de apreensão” o Informativo de Jurisprudência nº 472 do Superior Tribunal de Justiça.O delito de latrocínio
O delito de roubo qualificado pelo resultado morte, tipificado como delito hediondo pela Lei nº 8.072/1990, recebeu dela a denominação expressa de “latrocínio” em seu Artigo 1º, II. Em relação ao referido delito, é necessário o enfrentamento de alguns questionamentos, a seguir:
Delito de latrocínio
Competência para processo e julgamento
Não obstante o fato de considerarmos que, no caso concreto, o resultado morte possa advir de conduta dolosa, em face da inserção topográfica do delito no rol de delitos contra o patrimônio, prevalece a competência do juiz singular para o processo e julgamento do referido delito. Tal entendimento foi sumulado no verbete nº 603 do Supremo Tribunal Federal.
Consumação e tentativa
Questão controvertida em tema de latrocínio diz respeito à possibilidade de caracterização da figura tentada, bem como a necessidade ou não da consumação da lesão patrimonial para a configuração da figura consumada.
Consumação do delito
Por tratar-se de delito complexo, agravado pelo resultado e plurissubsistente, é possível a caracterização da tentativa, desde que, uma vez iniciados os atos executórios, não haja a consumação em decorrência de circunstâncias alheias à vontade do agente.
A questão é: o que preponderará para fins de consumação do delito, o resultado da subtração da res ou o resultado morte da vítima da violência?
Não obstante, como dito anteriormente, a inserção topográfica do delito no rol de crimes contra o patrimônio, imperiosa sua interpretação em consonância com os princípios norteadores de direito penal insertos na Constituição da República, segundo os quais, deverá preponderar o bem jurídico-penal vida.
Entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal
O Supremo Tribunal Federal sumulou o seguinte entendimento: há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se realize o agente a subtração de bens da vítima (verbete de Súmula nº 610).
Para fins de esclarecimentos sobre o momento consumativo e possibilidade de caracterização da tentativa no delito de latrocínio, é interessante trazermos à análise situações propostas por Rogério Sanches Cunha (op. cit., p. 138).
Figuras típicas dos crimes contra o patrimônio
Entre as figuras típicas dos crimes contra o patrimônio, os delitos de extorsão e extorsão mediante sequestro, em face do juízo de reprovabilidade que recai sobre a conduta do agente diante do emprego da violência ou grave ameaça, e até mesmo da privação da liberdade da vítima, ainda que por um curto período de tempo, demandam a análise cuidadosa de seus elementos e questões controvertidas.
As figuras típicas de extorsão e extorsão mediante sequestro contemplam tipos penais complexos, na medida em que, além de lesionar o bem jurídico patrimônio, visam à lesão, respectivamente, da integridade física e psíquica ou a liberdade do indivíduo.
Cabe salientar que conceito de vantagem previsto nos delitos de extorsão é “mais abrangente que o previsto nos Artigos 155 e 157 do CP, pois abarca, não só a coisa móvel corpórea, como também todo o interesse ou direito patrimonial alheio” (PRADO, 2010, p. 331).
Atenção
Ainda, ambos configuram-se como delitos formais, nos quais a concretização do especial fim de agir de obtenção de indevida vantagem econômica, para si ou para outrem, apresenta-se como mero exaurimento dos delitos.
Feitas essas observações, passaremos à análise, interpretação e avaliação das questões relevantes e recentes de discussões doutrinário-jurisprudenciais afetas aos delitos de extorsão e extorsão mediante sequestro.
Extorsão - questões relevantes e controvertidas (Artigo 158 do Código Penal)
Consumação e tentativa
O delito de extorsão consuma-se com o emprego da violência ou grave ameaça, prevalecendo, portanto, o entendimento de que o delito configura-se como delito formal, caracterizando-se a obtenção da vantagem econômica indevida como mero exaurimento do delito.
Incidência da Lei nº 8.072/1990
Em decorrência de expressa previsão legal, o delito de extorsão apenas quando for qualificado pelo resultado morte é tipificado como delito hediondo, sendo, portanto, aplicáveis ao condenado pelo delito os institutos repressores da Lei de Crimes Hediondos.
A Lei nº 11.923/2009 e a figura do 
"sequestro relâmpago" 
A Lei nº 11.923/2009, com vistas a terminar com a controvérsia existente 
acerca da tipificação da conduta na qual o agente restringia a liberdade da 
vítima como condição para a obtenção de vantagem econômica, acrescentou o 
§ 3° ao tipo penal do Artigo 158 do Código Penal, de modo a estabelecer mais
uma qualificadora ao delito de extorsão. 
Estamos diante, portanto, de 
novatio legis in pejus , afinal a conduta já era 
anteriormente tipificada como extorsão; apenas não havia um juízo de 
reprovabilidade diferenciado pela restrição da liberdade da vítima, o que 
gerava controvérsias entre doutrina e jurisprudência, a ensejar três 
entendimentos: tipificação da conduta como incursa na figura típica do roubo 
majorado (Artigo 157, § 2°, V, do Código Penal), extorsão (Artigo 158 do 
Código Penal) e extorsão mediante sequestro (Artigo 159 do Código Penal). 
A partir da distinção entre os delitos de roubo e extorsão em face da 
imprescindibilidade do comportamento da vítima nele, bem como a distinção 
entre extorsão e extorsão mediante sequestro em face da entrega da 
vantagem indevida ser feita, respectivamente, pela própria vítima ou por 
terceira à guisa de resgate, o legislador optou pela aplicação da qualificadora 
ao delito de extorsão, previsto no Artigo 158 do Código Penal.
Situações de natureza prática
Da caracterização da referida figura qualificada advieram as seguintes situações de natureza prática:
• Impossibilidade de incidência da Lei nº 8.072/1990 quando ocorre o resultado morte: tal entendimento prevalece em face do princípio da legalidade, haja vista o rol do Artigo 1º, da Lei nº 8.072/1990 ser taxativo.
• Possibilidade da ocorrência de concurso de crimes com os demais delitos 
contra o patrimônio.
Acerca do tema, o verbete de Súmula nº 96 do Superior Tribunal de Justiça determina que a consumação do delito de extorsão ocorre independentemente de obtenção da vantagem indevida.
Para fins de esclarecimentos sobre o tema, analisemos as seguintes narrativas e consectários:
Narrativa 1
Indivíduo aproveitando-se do fato de a vítima estar distraída no sinal de trânsito e, mediante o emprego de grave ameaça, entra no carro, subtrai seu relógio e a obriga a levá-lo até caixas eletrônicos próximos, vindo a obrigá-la a sacar vultosa quantia em cada um deles.
Nesse caso, como o indivíduo praticou o delito de roubo no mesmo contexto fático do delito de extorsão (sequestro relâmpago), a sua conduta restará incursa nos dois delitos em concurso material de crimes (Artigo 157, caput c/c Artigo 158, § 3° n.f., e Artigo 69, todos do Código Penal).
Para fins de esclarecimentos sobre o tema, analisemos as seguintes narrativas e consectários:
Narrativa 2
Indivíduo, mediante o emprego de grave ameaça, aborda a vítima quando ela abre o portão da garagem da sua casa vindo a trancá-la na “casa da bomba d’água” com o intuito de subtrair os bens valiosos que guarnecem a casa. Finda a subtração, ainda com o emprego de grave ameaça, obriga a vítima a levá-lo até caixas eletrônicos próximos, obrigando-a a sacar vultosa quantia em cada um deles.
Nesse caso, como o agente praticou o delito de roubo majorado pela privação de liberdade da vítima no mesmo contexto fático do delito de extorsão (sequestro relâmpago), a sua conduta restará incursa nos dois delitos em concurso material de crimes (Artigo 157, § 2°, V c/c Artigo 158, § 3° n.f. Artigo 69, todos do Código Penal).
Distinção entre o delito de extorsão e os demais delitos contra o patrimônio 
►Extorsão e roubo.
A diferença entre os tipos se verifica a partir da prescindibilidade ou não da 
colaboração da vítima.No delito de roubo, a conduta é perpetrada pelo agente 
(sujeito ativo), sendo irrelevante para a consumação do delito o comportamento da 
vítima; no caso da extorsão, o comportamento da vítima é imprescindível para que 
o agente pratique a sua conduta – exemplo clássico é o caso no qual a vítima, após
emprego da violência ou grave ameaça pelo agente, é obrigada a digitar sua senha 
no caixa eletrônico. 
Além da entrega do bem pela vítima, na extorsão há a promessa de um mal futuro 
(no roubo, é iminente) para a obtenção de uma vantagem futura (contemporânea, 
no roubo). Sobre a questão, cabe consulta a: Magalhães Noronha e STJ (REsp. 
90.097/PR, rel. Min. Cernicchiaro). 
Outro ponto distintivo dos referidos delitos refere-se à sua classificação doutrinária 
quanto ao resultado e, consequentemente, quanto ao momento consumativo do 
delito. O delito de roubo é material, ao passo que o delito de extorsão, formal. 
►Extorsão e Constrangimento Ilegal
A extorsão é uma forma especial de constrangimento ilegal, diferenciando-se dele 
em decorrência da natureza da vantagem almejada: se for moral, trata-se de 
constrangimento ilegal; ao contrário, se a vantagem for material, restará 
caracterizado o delito de extorsão. 
2
►Extorsão e estelionato
Em ambos os delitos, a vítima entrega a coisa ao agente, todavia, enquanto no 
delito de extorsão a entrega se dá por meios coativos (violência ou grave ameaça), 
no estelionato se dá em decorrência do emprego de fraude ou ardil capaz de viciar 
a vontade da vítima.
Extorsão mediante sequestro - questões relevantes e controvertidas (Artigo 159 do Código Penal)
1 Conflito de direito intertemporal
Por tratar-se de delito permanente, no caso de sucessão de leis penais no tempo, em face de regra geral (tempus regit actum) aplica-se a lei vigente à época da prática da conduta, sendo, dessa forma, aplicável a lei vigente ao término da permanência da conduta, ainda que seja mais gravosa, como apresentado no verbete de Súmula nº 711 do Supremo Tribunal Federal.
2 Consumação e tentativa
Sobre o tema prevalece o entendimento de que, por se tratar de delito formal, se consuma com o ato de sequestrar, independentemente da obtenção da vantagem indevida que configuraria mero exaurimento da conduta do agente.
3 Delação premiada
O instituto da delação premiada, previsto no § 4 do Artigo 159 do Código Penal, configura-se como causa especial de diminuição de pena criada pela Lei nº 8.072/1990 (crimes hediondos), sendo imprescindível, para sua aplicação, a efetiva colaboração na libertação da vítima.
Cabe salientar que o instituto da delação premiada, previsto no § 4º do Artigo 159 do CP, não foi revogado pela Lei nº 9.807/1999 – Artigos 13 e 14 (Lei de proteção a vítimas, testemunhas e réus colaboradores) – em face dos requisitos previstos em cada um dos institutos; no caso da legislação especial, exige-se a efetiva colaboração do réu no curso da investigação e processo criminais; no caso do Artigo 159, § 4º, basta a efetiva colaboração para fins de libertação da vítima.
4 Incidência da Lei nº 8.072/1990
Em decorrência de expressa previsão legal, o delito de extorsão mediante sequestro, ainda que na modalidade simples, prevista no caput do dispositivo legal, é tipificado como delito hediondo, sendo, portanto, aplicáveis ao condenado pelo delito os institutos repressores da Lei de Crimes Hediondos.
5 Distinção entre extorsão mediante sequestro e sequestro
A partir da premissa de que o delito de extorsão mediante sequestro configura-se como delito complexo, no qual, por expressa previsão legal a privação da liberdade da vítima configura meio para a execução do delito contra o patrimônio, questiona-se a distinção entre o delito de sequestro previsto no Artigo 148 e a figura típica prevista no Artigo 159, ambos do Código Penal.
Na extorsão, delito inserido no rol de crimes contra o patrimônio, há o especial fim de agir com relação à obtenção de vantagem, ao passo que, no delito de sequestro, crime contra a liberdade individual, não há intenção de obter qualquer vantagem de caráter patrimonial.
Atividade proposta
Belízia, ao parar no cruzamento entre a avenida Washington Luís e a rua Cupece, na capital paulista, por volta das 20h de sexta-feira, em 05 de janeiro de 2007, foi abordada por um adolescente que, fingindo estar pedindo algum “trocado”, aproximou-se do vidro do carro e apontou uma arma de fogo à cabeça da vítima, ordenando que a porta traseira fosse aberta. Belízia foi alertada sobre haver outra pessoa com uma moto dando cobertura ao assaltante, o que foi por ela comprovado ao olhar o retrovisor. Ato contínuo, o adolescente, posteriormente reconhecido como Roberval Silva (conhecido como Neném), passou ao banco do carona e logo dele aproximou o motoqueiro ao seu lado.
Mediante conversa com Roberval, obrigou Belízia a conduzir seu veículo até um supermercado existente próximo a um cruzamento, tendo acompanhado o veículo durante todo o tempo, não mais pelo lado de Roberval, mas da janela de Belízia. Ao chegarem ao destino, a vítima foi obrigada a fingir ser namorada de Roberval e dirigir-se ao caixa eletrônico situado próximo à praça de alimentação, sempre de mãos dadas com Roberval e fingindo estar conversando com um amigo, o motoqueiro, que também em sede de investigação criminal foi reconhecido e identificado (Altair Salgado, conhecido por Padrinho, assim chamado pelos adolescentes que trabalhavam para ele).
Dessa conduta, resultou o saque no valor de R$ 500,00 de sua conta corrente e a mesma quantia de seu cartão de crédito. Ao retornarem ao estacionamento do supermercado, Altair resolveu entrar no veículo de Belízia com Roberval, tendo conduzido-o até uma rua no Jardim Marajoara. Cabe salientar que, durante todo o trajeto a vítima ficou sentada no banco do carona com Roberval com o rosto próximo à sua nuca fingindo estar fazendo-lhe carinho, quando, na verdade, a ameaçava com a arma colada ao encosto do banco.
Ao chegarem a determinado local, previamente estabelecido pelos comparsas, subtraíram a bolsa, na qual estavam os documentos pessoais de Belízia, seu celular e relógio. Permaneceram no carro por aproximadamente 20 minutos, quando, então, chegou uma terceira pessoa, conduzindo a moto de Altair. Feito isso, a vítima foi obrigada a guiar o carro, tendo Roberval como carona, para fora do morro, e sempre seguida pela moto de Altair, até o Autódromo de Interlagos, onde, após uma hora e meia da abordagem no semáforo, a vítima parou o carro e o adolescente desembarcou, sentou no banco do carona da moto e ambos fugiram do local.
No mesmo dia, Belízia compareceu à delegacia de polícia, acompanhada de seus pais, a fim de registrar o fato, quando foi informada que a dupla já era conhecida na região. Duas semanas após o ocorrido, os criminosos foram presos em flagrante delito ao realizar a mesma conduta nas proximidades da avenida Teotônio Vilela, tendo a vítima, ainda na fase policial, reconhecido ambos e recuperado apenas seus documentos. (fls. 111/112).
Dos fatos narrados, Altair restou denunciado e condenado às penas de 9 anos, 7 meses e 15 dias de reclusão, a ser cumprida no regime prisional fechado, e 47 DM na diária mínima como incurso nos tipos penais de extorsão duplamente qualificada (Artigo 158, §§ 1º e 2º) e roubo triplamente majorado (Artigo 157, § 2º, I, II e V) n.f. do Artigo 71, todos do Código Penal). 
Ante o exposto, com base nos estudos realizados sobre os crimes contra o patrimônio, responda fundamentadamente às questões abaixo:
Com o advento da Lei nº 11.923, de 17 de abril de 2009, foi acrescentado o § 3° ao Artigo 158 do Código Penal. No caso concreto, a referida alteração legislativa teria relevância jurídica para a conduta perpetrada por Altair e consequente cominação de sanção penal?
Chave de resposta:
Estamos diante de um conflito de direito intertemporal a ser solucionado pelo princípio da irretroatividade da lei penal, previsto no Artigo 5º, XL, da Constituição da República,bem como no Artigo 2º, parágrafo único, do Código Penal.
Supondo que o caso em exame tivesse ocorrido após a entrada em vigor da Lei nº 11.923, de 17 de abril de 2009, e que Belízia tivesse falecido durante a empreitada criminosa. A conduta de sequestro relâmpago (Artigo 158, § 3º, do Código Penal), com resultado morte é considerada crime hediondo? 
Chave de resposta:
b) A questão é extremamente controvertida, tendo a doutrina se manifestado da seguinte forma:
• Pela impossibilidade da caracterização como crime hediondo: “é impossível, por analogia in malan partem, corrigir o equívoco. A forma eleita para transformar delitos em hediondos é a inserção no rol do Artigo 1º, da Lei nº 8.072/1990 (...) o critério é enumerativo” (NUCCI, 2009, p. 720-721).
• Pela possibilidade da caracterização como crime hediondo: “se houver a provocação (dolosa ou culposa) da morte da vítima, hipótese em que o crime será, sim, hediondo, visto que nada mais é que desdobramento formal do tipo do Artigo 158, § 2º, tendo o legislador preservado a matéria criminosa, explicitando, somente, seu mais novo modus operandi. O tipo penal do § 3º não é autônomo, ao contrário, é derivado e meramente explicativo de uma forma de extorsão” (GOMES, 2009, p. 23).
Síntese
Nesta aula, você:
Estudou as principais controvérsias sobre os delitos de roubo e latrocínio;
Estudou as principais controvérsias sobre os delitos de extorsão e extorsão mediante sequestro;
Estudou sobre a incidência de institutos repressores, tais como os previstos na Lei nº 8.072/1990 ao delito de roubo.

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