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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DO TRABALHO E DA EMPRESA Departamento de História Departamento de Antropologia A MATERIALIDADE DA TÉCNICA. UM DIAGNÓSTICO DO ACERVO MUSEOLÓGICO DO IST. Miriam Rute de Jesus Barros Tese submetida como requisito parcial para obtensão do grau de Mestre em Museologia: Conteúdos Expositivos Orientador: Doutor Jorge Freitas Branco, professor associado com agregação, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa Outubro, 2007 I RESUMO Esta dissertação centra-se no processo de constituição da memória de uma instituição universitária (o Instituto Superior Técnico, IST) vista numa perspectiva construída na materialidade da técnica. Partindo do acervo museológico existente, faz-se um diagnóstico preliminar das colecções, seguindo três perspectivas: 1) a informação sobre os objectos e a instituição expressa no seu inventário, com as suas diferentes elaborações e problematizações; 2) a gestão da colecção no âmbito dos parâmetros de valorização do acervo e a sua utilização nos diferentes contextos da instituição e dos seus museus; 3) a caracterização do seu acervo, através da análise da sua organização e especificidades, e a forma como tem sido usada na projecção e consolidação da memória do IST. A pesquisa insere-se no projecto “IST: Um Século de Existência. Cultura, Tecnologia e Sociedade”. Palavras-chave: museologia, colecção, IST, instrumentos científicos ABSTRACT The Materiality of Technique. A Diagnose of the Collections of IST. This study centers in the process of constitution of the memory in a university institution (the Technical Institution of High Education, IST), from a point of view that is based on the technical materiality. Working with the existing museological artifacts, this study results in a preliminary diagnose of the different collections, following three perspectives: 1) the information about the objects and the institution that is expressed in its inventory, with different elaborations and problems; 2) the management of the collection in the scope of the parameters of valuation of the artifacts and its use in the different contexts of the institution and its museums; 3) the characterization of its collection, through the analysis of its organization and particularities, and the form as it has been used in the projection and consolidation of the memory of the IST. This investigation in included in the project “IST: One Century of Existence. Culture, Technology and Society.” Keywords: museology, collection, IST, scientific instruments II AGRADECIMENTOS Este estudo, apesar de individual, envolveu na sua realização a colaboração de outras pessoas, a quem não posso deixar de agradecer. O meu primeiro agradecimento é para o Professor Doutor Jorge Freitas Branco. Agradeço-lhe pela oportunidade de participar no projecto do Instituto Superior Técnico, a sua orientação e os seus ensinamentos, mas também a sua disponibilidade, a sua compreensão, os seus comentários críticos e o apoio constantes prestados durante a realização do trabalho. Agradeço igualmente ao IST, na pessoa do seu director, Professor Doutor Matos Ferreira, pelo entusiasmo e apoio no projecto, criando as condições necessárias à realização do nosso trabalho, nomeadamente a bolsa de investigação, espaço e equipamentos. Aos consultores do projecto fica a minha gratidão pela disponibilidade de contribuição com documentos e informações importantes para a compreensão do universo IST e sua história. Em especial, à Engª Fátima Rodrigues pela constante ajuda no estudo das colecções do IST. Agradeço à Maria João os momentos de trabalho de equipa que tivemos ao longo da descoberta da colecção e dos espaços do IST e à Mónica pela partilha de experiências de investigação nesta área. À minha família, pelos incentivos e pelo simples facto de existirem na minha vida e de a tornarem importante, em especial ao meu marido, João David, pelo apoio, dedicação, paciência e serenidade com que acompanhou todo o processo, vai a minha total confiança e gratidão. Ao meu Abba Pai pela sua constante fidelidade. III ÍNDICE Índice de Ilustrações .................................................................................................................. V Índice de abreviaturas ............................................................................................................... VI INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1 Objecto de Estudo .............................................................................................................. 3 Metodologia ......................................................................................................................... 4 CAPÍTULO 1. BASE DE DADOS E INVENTÁRIO ............................................ 9 Objectivos .......................................................................................................................... 10 Elaboração ......................................................................................................................... 14 Comparação com outras bases de dados .................................................................... 17 Problematizações ............................................................................................................. 20 CAPÍTULO 2. A GESTÃO DA COLECÇÃO ....................................................... 25 O valor do saber científico e tecnológico .................................................................... 25 O Contexto do Ensino e Prática da Engenharia ....................................................... 27 Projecto de um Museu IST ............................................................................................ 28 CAPÍTULO 3. CARACTERIZAÇÃO DO ACERVO ......................................... 31 Equipando os espaços de investigação ........................................................................ 31 Os núcleos .......................................................................................................................... 32 A colecção de Minas ........................................................................................................ 32 A colecção de Física ........................................................................................................ 41 A colecção de Química .................................................................................................... 46 A colecção de Electricidade ............................................................................................ 48 Colecção das Oficinas ..................................................................................................... 52 Colecção de Engenharia Civil e Arquitectura ................................................................ 54 IV O papel das Oficinas ....................................................................................................... 55 Oficina de Instrumentos de Precisão .............................................................................. 57 Oficina de Carpintaria .................................................................................................... 58 Oficina de Serralharia ..................................................................................................... 62 O papel das exposições .................................................................................................... 64 CONCLUSÃO ....................................................................................................................67 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................... 69 ANEXOS: BASE DE DADOS EM FORMATO DIGITAL.....................................CD V ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES Imagem 1. Fotografia da maquete do campus da Alameda, apresentada no início dos anos 80. Legenda original: “Outra vista geral do conjunto a partir de pontos de vista a SB. Observa-se claramente a conservação do património edificado existente no respeitante ao partido arquitectónico das torres propostas; bem como a integração e a aproximação de escala apresentada pelo edifício do departamento de Civil proposto, relativamente às envolventes construídas existentes.” Fonte: Fundo fotográfico do Gabinete de Obras, IST. ........................................................................................................ 2 Imagem 2. Modelos de ficha de inventário do MuseuIST. Fonte: Inventário do Museu IST. ................................. 9 Imagem 3. Termómetro-Barómetro (Invº 1986). Fonte: Inventário MuseuIST .................................................... 31 Imagem 4. Estojo de madeira com amostras de produtos Químicos. (Invº 2791). Fonte: Inventário MuseuIST . 34 Imagem 5. Modelos cristalográficos em vidro (Invº 2848 e 2849). Fonte: Inventário MuseuIST ........................ 35 Imagem 6. Fotografia geral do Museu de Geologia. Fonte: Inventário MuseuIST .............................................. 36 Imagem 7. Banco e Mesa para trabalhos de campo (Invº 2912 e 2913). Fonte: Inventário Museu IST .............. 37 Imagem 8. Na ficha de inventário consta “Retratos de geólogos” (Invº 2917 e 2918). Fonte: Inventário Museu IST ................................................................................................................................................... 38 Imagem 9. Modelo de Bomba hidráulica (Invº 1405). Fonte: Catálogo”Modelos de Minas do Séc. XIX” ......... 40 Imagem 10. Modelo de Skip do “Poço C” (Invº 1375). Fonte: Catálogo “Modelos de Minas do Séc. XIX” ...... 40 Imagem 11. Ampolas de gás e instrumentos de vidro. Fonte: Inventário Museu IST .......................................... 44 Imagem 12. Fotografia do Professor Charles Lepierre (Invº 1599). Fonte: Inventário MuseuIST ..................... 47 Imagem 13. Resistência de cavilhas (Invº 1531). Fonte: Inventário Museu IST ................................................. 47 Imagem 14. Mostruário com tubos e caixas de material eléctrico (Invº 1250). Fonte: Inventário Museu IST .. 49 Imagem 15. Mostruário de esquemas de ligções eléctricas (Invº 1251). Fonte: Inventário Museu IST .............. 49 Imagem 16. Quadros didácticos (Invº 2357 e 2358). Fonte: Inventário Museu IST ............................................ 51 Imagem 17. Fonte de alimentação (Invº 1927). Fonte: Inventário Museu IST .................................................... 52 Imagem 18. Máquina de frezar (Invº 1721). Fonte: Inventário Museu IST ......................................................... 53 Imagem 19. Esferómetros (Invº 1035 e 1036). Fonte: Inventário Museu IST ...................................................... 58 Imagem 20. Nónios angulares (Invº 2501 e 2502). Fonte: Inventário Museu IST ............................................... 58 Imagem 21. Miliamperímetro (Invº 1451). Fonte: Inventário Museu IST ........................................................... 60 Imagem 22. Suporte de madeira (Invº 1670). Fonte: Inventário Museu IST ...................................................... 60 Imagem 23. Torno mecânico e detalhe de gaveta (Invº 2778). Fonte: Inventário Museu IST ............................. 61 Imagem 24. Móvel/Vitrine com instrumentos de Física (Sala de Reuniões). ....................................................... 61 Imagem 25. Parafusos (Invº 1808). Fonte: Inventário MuseuIST ....................................................................... 62 Imagem 26. Espalhadores de gás (Invº 1809). Fonte: Inventário MuseuIST ...................................................... 62 Imagem 27. Moldes (Invº 1818 e 1819). Fonte: Inventário MuseuIST ................................................................ 63 VI ÍNDICE DE ABREVIATURAS IST – Instituto Superior Técnico GGMCC – Gabinete de Gestão do Museu e Centro de Congressos GGMIST – Gabinete de Gestão do Museu IST ISEP – Instituto Superior de Engenharia do Porto FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto 1 INTRODUÇÃO “Science discovers these laws of power, motion and transformation; industry applies them to raw matter which the earth yields us in abundance, but which becomes valuable only by knowledge; art teaches us the immutable laws of beauty and symmetry, and gives to our productions forms in accordance with them.”1 Príncipe Alberto de Inglaterra, presidente da Comissão Real da Exposição Universal de 1851 Desde meados do século XIX até aos nossos dias, as Exposições Universais têm-se afirmado como promotoras do desenvolvimento económico, dos diálogos culturais e da projecção de imagens de identidade nacionais através dos pavilhões que albergam as mais diversas exposições de objectos e temáticas. A primeira Exposição Universal realizada no Palácio de Cristal de Londres, em 1851, tinha como título: “Great Exhibition of the Works of Industry of All Nations”. O estudo crescente sobre a história destas exposições e o seu impacto na sociedade aponta para o papel instrumental destas exposições na projecção e exibição dos feitos tecnológicos da indústria, durante os primeiros quase cem anos (1851-1938). Thomas Schlereth (1992), ao estudar os exemplos das Exposições Universais nos Estados Unidos da América, valoriza igualmente esta preocupação das “nações” de mostrarem as suas inovações tecnológicas através dos produtos manufacturados e das grandes maquinarias instaladas, ou seja, a visão de um mundo industrializado. Contudo, os discursos apresentados não se centravam apenas nos objectos em si, mas também na valorização da experiência no modo de fazer e do investimento no ensino para a tecnologia. Eventos como estes eram símbolos de uma máquina em movimento; movimento de pessoas, de estatutos sociais, de bens de consumo, de culturas, de industrializações, de formas de se dar a conhecer. O olhar é apontado para o sentido do futuro e não para o que ficou atrás. Mas a celebração de um futuro também dava lugar a uma celebração do passado, da história e da memória através da afirmação de identidades nacionais distintas (Heitor, 2003). A celebração de momentos importantes na vida das pessoas e das instituições foi sempre marcada pela produção de lembranças como elementos de definição e caracterização do presente. A preparação das celebrações do centenário do Instituto Superior Técnico (1911- 2011) reveste-se também deste espírito de celebração da memória do passado, do estatuto do presente e dos projectos para o futuro, que advém da tradição das exposições universais. Foi 1 Excerto do discurso de anúncio da realização da Exposição Universal, num banquete realizado em Londres, em Outubro de 1849. Disponível em http://pages.zoom.co.uk/leveridge/albert.html. 2 elaborado e desenvolvido um projecto de construção de discursos da memória, reunindo investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE)2, bolseiros do IST e um grupo de consultores científicos ligados à vida da Instituição, pelas funções que nelas desempenharam. O título do projecto é “IST: Um século de existência. Cultura, Tecnologia e Sociedade” definindo três componentes de trabalho: 1) história dainstituição, através da análise das relações entre universidade, indústria e sociedade e entre alunos, professores e engenheiros; 2) história do movimento estudantil e do seu papel dentro do IST e na sociedade, contribuindo para uma visão mais ampla do movimento estudantil em Portugal; 3) estabelecimento de uma colecção de artefactos técnicos com o objectivo de elaborar uma proposta preliminar de um MuseuIST, reconhecendo que os objectos incorporados na instituição, mas que caíram em desuso, são manifestações físicas de formas de adquirir, transmitir e representar o conhecimento da engenharia. Imagem 1. Fotografia da maquete do campus da Alameda, apresentada no início dos anos 80. Legenda original: “Outra vista geral do conjunto a partir de pontos de vista a SB. Observa-se claramente a conservação do património edificado existente no respeitante ao partido arquitectónico das torres propostas; bem como a integração e a aproximação de escala apresentada pelo edifício do departamento de Civil proposto, relativamente às envolventes construídas existentes.” Fonte: Fundo fotográfico do Gabinete de Obras, IST. 1. Edifício de Civil, Centro de Congressos e MuseuIST 2. Complexo Interdisciplinar 3. Pavilhão Central. Sala de Reuniões 4. Museus do departamento de Minas 5. Espaço das antigas oficinas 2 A equipa inclui elementos ligados às áreas de Antropologia, História, Arquivística e Museologia, como também se verifica com os bolseiros do IST. 1 2 3 4 5 3 Objecto de Estudo A tarefa proposta, no âmbito da componente museológica do projecto, iniciou-se em Setembro de 2006 e propunha-se a reunião de artefactos técnicos, elaborar a documentação dos objectos, estabelecer os parâmetros da colecção, fazer um primeiro plano de inventário, manutenção e armazenamento, e elaborar uma base de dados dos objectos. Os objectivos desta tarefa passavam pela constituição de uma colecção para um Museu IST, um catálogo descritivo e a contribuição para o registo cronológico da própria instituição. Por outro lado, o contacto estabelecido com os diferentes departamentos do IST revelou-nos a existência de um Gabinete de Gestão do Museu e Centro de Congressos (GGMCC) e um conjunto de museus já estabelecidos (dois museus ligados ao Departamento de Engenharia de Minas e um museu do Departamento de Engenharia Civil). Existe portanto um conjunto de objectos científicos e técnicos, assumidos como colecção, e pessoas responsáveis pela sua conservação e preservação. O GGMCC é dirigido actualmente pela Engenheira Fátima Rodrigues, a qual nos disponibilizou a consulta e análise de um conjunto de dossiers com fichas de inventário e fotografias dos cerca de 2000 objectos da colecção do IST, designada por Colecções de Instrumentos Didácticos e de Investigação do IST3. Assim, tornou-se premente a análise e estudo deste inventário, a partir do qual estabeleceríamos as bases e fundamentos para o nosso projecto de constituição de uma colecção. Deixaríamos de lado os casos dos museus já estabelecidos, uma vez que a musealização dos objectos em espaços próprios já estava organizada, apesar de não estudada de uma forma aprofundada. No entanto, ao longo da investigação, e na sequência de contactos realizados com a Eng.ª Fátima Rodrigues, percebemos que a existência de fichas de inventário de uma determinada colecção de objectos não correspondia, no presente momento, a uma gestão ou tutela directa do GGMCC, mas sim a cada um dos departamentos. Nestes moldes, a análise e estudo da colecção do GGMCC ficaria então limitada a um pequeno número de objectos que não demonstrariam na globalidade o papel que os artefactos técnicos têm na construção da memória do IST. Valorizando acima de tudo as fichas de inventário existentes, optou-se pela observação de todos os aspectos das colecções existentes no IST. A tarefa que nos estava proposta de constituição de uma colecção de objectos do IST foi sendo substituída por uma observação do acervo que se afirmava como sendo mais importante 3 Esta designação está patente nas fichas de inventário que se encontram no Gabinete de Gestão do Museu e Centro de Congressos do IST. 4 neste momento de iniciar, até porque, não existia uma consciência assumida das colecções já reunidas, de que forma elas se encontravam organizadas e conservadas e como estavam a ser usadas para a expressão de uma memória histórica. Por isso, também foi nossa opção deixar de lado a tarefa de reunir objectos para a constituição de uma colecção e nos centrarmos num diagnóstico preliminar da forma como essa colecção foi sendo constituída ao longo de quase um século. Por outro lado, pela dimensão da colecção e a impossibilidade de realizar um estudo sistemático4 dos objectos que a constituem, que nos levaria a uma melhor compreensão da colecção, o objecto de estudo desta dissertação são as colecções do Instituto Superior Técnico, como elementos que representam a ligação entre história, memória, identidade e cultura da engenharia e da técnica em Portugal. Metodologia A metodologia adoptada para este diagnóstico das colecções do IST é semelhante a outros campos de investigação, tendo em conta o contexto da própria instituição e as informações que conseguimos reunir, que nos apontaram para diferentes possibilidades de análise do objecto de estudo. Os primeiros contactos com o IST deram-se através de reuniões de preparação do projecto IST: Um século de existência. Cultura, Técnica e Sociedade, de constituição da equipa de investigação, de elaboração de linhas metodológicas e divisão de tarefas. Dentro da componente museológica do projecto, iniciámos um trabalho de campo em conjunto, e apenas no desenrolar da investigação pudemos também dividir tarefas entre os elementos do grupo. Em seguida, optámos por estabelecer contactos através de entrevistas informais realizadas com os responsáveis pelos departamentos (unidades académicas), como elementos principais da estrutura do ensino, que nos revelaram um pouco da história e organização do departamento, dos seus percursos académicos (revelando memórias da vivência no IST) e de algumas indicações acerca da existência de artefactos técnicos ligados à sua profissão, à sua área da engenharia, ao ensino e à investigação. Os departamentos e os responsáveis contactados foram os seguintes: 1. Matemática (DM), Prof. Carlos Alves (na qualidade de presidente do departamento) e Prof. João Branco. 4 A elaboração de um estudo sistemático desta colecção implicaria a revisão e tratamento museológico dos objectos desta colecção, um por um. A forma como muitos dos objectos estão acondicionados, espalhados por diferentes espaços do IST, e o facto de muitos dos objectos não terem uma etiqueta de identificação e inventariação, não permite por agora a realização dessa tarefa. 5 2. Física (DF), Prof. Paulo Freitas (na qualidade de presidente do departamento) e Prof. Luis Melo. 3. Engenharia e Gestão (DEG), Prof. Paulo Correia (na qualidade de presidente do departamento). 4. Engenharia Mecânica (DEM), Prof. Manuel Pereira de Freitas (na qualidade de presidente do departamento). 5. Engenharia Química e Biológica (DEQB), Doutora Maria Cândida Vaz (na qualidade de directora do Laboratório de Águas, o qual é independente do IST em termos administrativos, mas que se encontra dentro do campus). 6. Engenharia de Materiais (DEMAT), Prof. Fernanda Margarido (na qualidade de presidente do departamento). 7. Engenharia de Minas e Georrecursos (DEMG), Prof. António Jorge Sousa (na qualidadede presidente do departamento) e Prof. Luís Aires-Barros. 8. Secção Autónoma de Engenharia Naval, Prof. Carlos Guedes Soares (na qualidade de presidente do departamento) e Prof. Yordan Garbatov. 9. Engenharia Civil e Arquitectura (DECivil), Prof. Dinar Camotim (na qualidade de responsável pelo Museu de Engenharia Civil) e Leonor Regateiro. 10. Engenharia Electrotécnica e de Computadores (DEEC), Prof. João Paulo Teixeira (na qualidade de presidente do departamento) e os Professores: Isabel Lourtie e Pedro Flores Correia. Nas fichas de inventário que se referiam à colecção de Física existia a indicação da colecção estar relacionada com o Prof. Manuel Alves Marques e com ele tivemos dois encontros para poder compreender melhor a sua relação com os objectos em causa e também com o IST, o qual abordarei adiante com mais detalhe. Infelizmente, não nos foi possível ainda estabelecer contactos com o Departamento de Informática; e com o Engenheira Teresa Ruano Pera, a qual nos ajudaria a formular uma visão mais rigorosa deste património universitário, pelo facto de ter sido a primeira responsável pelas colecções do IST. As visitas a outros museus e colecções nacionais, permitiu-nos estabelecer um paralelo entre os diferentes discursos que emanam das formas expositivas de tipos de museus bastante diferentes ou mesmo similares. O Museu da Farmácia5 é o exemplo de um discurso museológico que procura mostrar o desenvolvimento das descobertas científicas da empresa 5 O Museu da Farmácia pertence à Associação Nacional das Farmáciase e foi inaugurado em Junho de 1996. http://www.anf.pt/site/index.php?page=data/anf/museu_farmacia.php . 6 farmacêutica a partir de uma linha cronológica que é condutora do percurso expositivo e dos objectos expostos. Por outro lado, a Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves6 adopta um discurso de valorização da imagem do médico coleccionador de arte, demonstrando um estatuto de prestígio na sociedade portuguesa pela sua relação com os pintores portugueses do naturalismo (que constituiu uma grande parte da sua colecção) e também pela sua ligação a figuras como, por exemplo, Calouste Gulbenkian, de quem foi médico pessoal. Dentro da tipologia de museus de ciência e tecnologia, tivémos a oportunidade de conhecer o trabalho desenvolvido, principalmente, no contexto universitário. Estabelecemos paralelos e semelhanças com as colecções do Museu da Ciência e Laboratório Chimico7, e do Observatório Astronómico8, pertencentes à Universidade de Lisboa; do Museu da Ciência e Laboratório Chimico9, do Observatório Astronómico10 e do Museu de Física11, pertencentes à Universidade de Coimbra; do Museu de Ciência e do Museu de História Natural, pertencentes à Universidade do Porto12. Na área da engenharia foi importante para nós conhecer o Museu Parada Leitão13, do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), e o Museu da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). A par destes museus e colecções destacamos duas exposições que se realizaram durante o período da nossa investigação, relevantes para o nosso trabalho pelos discursos que 6 Em 1964, o Dr. Anastácio Gonçalves legou ao Estado, em testamento, a Casa Malhoa e a quase totalidade do seu espólio com cercade 2000 obras de arte. Em 1980, a Casa-Museu abriu as suas portas ao público. http://www.cmag-ipmuseus.pt/ . 7 O Museu da Ciência foi criado em 1985 e tem colecções de Física, Química, Matemática e Astronomia [http://www.mc.ul.pt/]. Este laboratório foi muito recentemente submetido a um projecto de recuperação pelo Museu da Ciência, juntamente com o Anfiteatro de Química. O projecto iniciou-se em 1998 com o estudo de reposição da sua traça inicial e dos equipamentos científicos através da documentação existente. [http://www.mc.ul.pt/lab/]. 8 O Observatório Astronómico de Lisboa foi edificado entre 1861-67. Foi integrado na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em Março de 1995. Actualmente as actividades e objectivos incluem a investigação científica e histórica, a preservação e divulgação patrimonial [http://www.oal.ul.pt/]. 9 Esta colecção corresponde a um projecto museológico que procurou reunir o acervo científico, disperso pelos vários museus e faculdades da universidade, numa mesma estrutura e representativa do vasto espólio, dando origem a uma exposição permanente intitulada “Segredos da luz e da matéria” (Mota, 2006) e a renovação do Laboratório e Anfiteatro Químico [http://www.uc.pt/informacaosobre/universidadecoimbra/mci]. 10 Dispõe de um conjunto museológico de instrumentos de observação e medição astronómica e terrestre, mapas celestes. Têm um protótipo de inventário disponível online [ http://www.astro.mat.uc.pt ]. Foi através deste que estabelecemos os nossos primeiros contactos com colecções semelhantes à do IST, sendo que têm instrumentos porvenientes do Instituto Industrial de Lisboa. 11 Tem a sua origem no Gabinete de Física Experimental, integrado na Faculdade de Filosofia no âmbito da reforma pombalina da Universidade de 1772, com uma colecção de instrumentos científicos e didácticos de Física dos séculos XVIII e XIX [http://museu.fis.uc.pt/]. 12 A Universidade do Porto está a desenvolver uma rede entre todos os seus museus e um inventário sistemático e catalogação de todas as suas colecções [http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?p_pagina=2419]. 13 O museu nasce, em 1998, com o objectivo de reunir e expor a colecção de instrumentos científico-didácticos, passando a ser uma unidade da Fundação Instituto Politécnico do Porto, em 2004. O seu nome é uma homenagem a Parada Leitão, 1º director da Escola Industrial do Porto e lente de Física na instituição. 7 estimularam. A exposição “Ingenuidades – Fotografia e Engenharia, 1846-2006”, comissariada por Jorge Calado e que esteve patente na galeria de exposições temporárias da Sede da Fundação Calouste Gulbenkian, procurou mostrar as grandes obras da engenharia nacional e internacional no seu diálogo com os elementos da natureza – terra, água, ar e fogo (Fundação Calouste Gulbenkian, 2007). Apresentou um discurso de valorização da genialidade do cientista e do engenheiro nos projectos e obras que constrói para a sociedade, através da fotografia, mostrando também os aspectos positivos e os aspectos negativos dessa mesma criatividade e aplicação, nomeadamente o impacto que tem na natureza e na sociedade. A exposição "Depósito: anotações sobre densidade e conhecimento", comissariada por Paulo Cunha e Silva e que esteve patente no edifício da Reitoria da Universidade do Porto, procurou construir uma narrativa em torno da História da Natureza e da História do Conhecimento através de um conjunto de objectos provenientes dos diferentes núcleos museológicos da Universidade do Porto, das Ciências Naturais às Belas Artes, dispostos numa estante monumental (Universidade do Porto, 2007). Ambas as exposições revelaram-se extremamente interessantes para o trabalho que temos estado a desenvolver, pelo facto de abordarem questões convergentes com o nosso tema: 1) a forma como a engenharia se projecta na sociedade através da imagem de si própria e do seu impacto na natureza; 2) qual o papel que as colecções universitárias desempenham na evocação de um passado e na construção de um futuro, estimulando o diálogo para um projecto de unificação dos núcleos museológicos. Também estivemos presentes em palestras e encontros. Destacamos uma acção dinamizada pelos docentes da Área Científica das Geociências do Departamento de Engenharia de Minas e Georrecursos, com o objectivo de promover a dinamização dos Museus Alfredo Bensaúde e Décio Thadeu do Instituto SuperiorTécnico. Assistimos ao 8º Encontro Internacional do Universeum Network, realizado no Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, com o tema: “University Heritage: Universal Heritage?”, que nos deu a oportunidade de contactar com as pessoas que estão a trabalhar em museus e colecções muito semelhantes à do IST, tanto a nível nacional como internacional. Temos consciência de que não foi possível consultar todas as obras bibliográficas que remeteriam para a problemática desta colecção, nomeadamente aquelas que se prendem com colecções de instituições universitárias que procuraram através da publicação celebrar a sua história e memória. Infelizmente, também, não nos foi possível fazer um estudo dos documentos existentes nos arquivos do IST, que poderiam remeter para estes objectos, uma 8 tarefa que nos levaria a despender muito tempo pelo facto de não se encontrar totalmente organizado e espalhado pelos serviços académicos. Pensamos, no entanto, que conseguimos reunir um conjunto de obras bibliográficas que nos auxiliaram na construção desta dialéctica entre colecção, museu, memória, instituição. Queremos destacar aqui duas obras fundamentais na nossa investigação pelo facto de se referirem ao contexto português. A primeira referência bibliográfica é a de Maria de Lurdes Rodrigues, Os Engenheiros em Portugal. Profissionalização e Protagonismo, uma tese de doutoramento em Sociologia pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), cujo principal objectivo foi o de identificar o lugar que os engenheiros ocupam na sociedade portuguesa, dando um grande destaque ao papel que o IST desempenhou na sua formação e profissionalização. Numa outra vertente, propõe um primeiro olhar sobre os museus de ciência, através da sua tese de doutoramento em Ciências Sociais apresentada à Universidade de Lisboa, pelo Instituto de Ciências Sociais, sob o título A musealização de ciência em Portugal. Apesar da referência ao IST ser bastante sucinta, destacando apenas o Museu de Engenharia Civil, o seu trabalho de reunião e análise dos exemplos de museus de ciência e os seus marcos na história da museologia em Portugal é bastante importante pelos parâmetros e definições que estabelece em relação às tipologias de museus de ciência (Delicado, 2006). Fora das referências bibliográficas tradicionais, compilaram-se acessos a sites de colecções nacionais e internacionais, principalmente aqueles que permitem aceder à sua base de dados. Os tipos de sites consultados remetem para colecções de universidades e institutos, museus de história da ciência e da tecnologia, colecções particulares de objectos científicos, bases de dados gerais internacionais com listagens de instrumentos científicos e construtores, conjunto de catálogos antigos digitalizados pertencentes a bibliotecas ou instituições, sites de marcas e de construtores (onde apresentam a sua história e principais áreas científicas desenvolvidas), observatórios e laboratórios. Esta ampla utilização do suporte informático permitiu: 1) a comparação entre colecções, a sua gestão e organização, entre discursos e narrativas históricas, 2) a identificação dos objectos, os seus teorizadores, como se desenvolveram, que funções desempenhavam; 3) ser um instrumento de legitimação da própria colecção do IST. Esta dissertação é uma primeira abordagem ao universo da materialidade técnica representada pelos objectos que constituem as colecções do Instituto Superior Técnico e em que se pretende dar a conhecer aspectos da cultura institucional e da identidade de um grupo profissional (Rodrigues, 1999). 9 CAPÍTULO 1. BASE DE DADOS E INVENTÁRIO O tema que nos cabe apresentar neste capítulo, corresponde aos primeiros momentos do nosso trabalho de campo. Após os contactos com os Departamentos do IST, foi-nos possível observar em alguns destes departamentos a existência de vários conjuntos de objectos, caracterizados como sendo antigos, ou por estarem em desuso, guardados na sua maioria em caves ou gabinetes; outros estavam já organizados numa estrutura museológica; e outros ainda, estão espalhados por corredores e vãos de escada, com uma preocupação de conservação e até mesmo tentativa de re utilização, como manifestação do conhecimento técnico adquirido e dos trabalhos desenvolvidos. Mas como já referi, a nossa base de trabalho foi a análise da colecção já existente através do seu inventário. No entanto, este inventário não se encontrava informatizado (Imagem 2) e, por isso, iniciámos a nossa investigação com a elaboração de uma base de dados. Imagem 2. Modelos de ficha de inventário do MuseuIST. Fonte: Inventário do Museu IST. 10 Objectivos Uma das principais preocupações relativas ao estudo de colecções é o seu registo, preservação, gestão, investigação e comunicação da informação (Perkins, 1991; Keene, 1998). No entanto, é apenas a partir dos anos 1970 que os museus experimentam uma mudança radical na sua atitude em relação à documentação das colecções (Sarasan, 2003). Na verdade, para além da dimensão física do próprio objecto, ele carrega em si uma dimensão de informação. A grande maioria dos objectos foram coleccionados por aquilo que representam e não apenas pelas suas características estéticas ou funcionais. Os objectos representam um conjunto de conhecimentos e informações sobre tempo, espaços, pessoas, culturas, histórias, no qual tiveram a sua origem e a sua função (Hooper-Greenhill, et al., 2000). No entanto, para podermos conhecer a colecção é necessário associar a informação geral e específica a cada um dos objectos. Mas na prática isso apenas se concretiza quando se está na iminência da realização de um catálogo ou de uma exposição. Para poder construir a narração da memória através dos objectos recorre-se à documentação existente na instituição, adaptando e seleccionando a informação que se quer mostrar (Handler, et al., 1997), ao mesmo tempo que se procura registar informação menos aceitável para o assunto que se quer tratar, esperando uma outra oportunidade de reflexão e interpretação. Esta é uma tarefa que se mostra bastante árdua para o pessoal do museu, pois o ideal seria que esta informação fosse trabalhada a partir do momento em que a colecção é reunida, e inserida na colecção. Podemos definir várias áreas de informação: a informação que se prende com o objecto em si, a informação do seu contexto e a informação externa, onde poderemos incluir o objecto. Relativamente à própria informação do objecto, o que se procura é descrever todas as suas características físicas e as que estão ligadas à sua funcionalidade. As informações do contexto prendem-se com conceitos desenvolvidos, sendo o objecto seu testemunho, ou então, associações, instituições e até mesmo pessoas que estiveram ligadas a ele, apontando para a dimensão social e cultural. Poderíamos registar as memórias associadas, por exemplo, aos espaços de trabalho ou instituições de ensino. A informação externa possibilita os diálogos de semelhanças e confrontos com outras colecções, elaborando outro tipo de bases de dados que procuram mostrar uma imagem mais global do tipo de objectos que estamos a tratar. Um bom exemplo disso é o catálogo electrónico de instrumentos científicos medievais e renascentistas, Epact, que consiste em 520 entradas provenientes das colecções de quatro museus Europeus: Museum of the History of Science, Oxford; Instituto e Museo di Storia della Scienza, Florença; British Museum, London; Museum Boerhaave, Leiden (Museum of the History of 11 Science, et al., 2001). O estabelecer ligações entre diferentes bases de dados através de hiperligações (links) é um recurso bastanteútil, e em termos práticos não sobrecarrega demasiado a nossa própria base de dados, com textos, imagens e outros documentos. Uma base de dados é uma ferramenta fundamental na conservação e preservação, na investigação, no auxílio a exposições e no papel educacional das colecções. Para as questões relacionadas com a conservação e preservação, o registo deste tipo de informação permite construir o historial do objecto na sua valorização e preocupação em preservar. As acções de conservação, através de limpeza e restauro, na maioria das vezes realizam-se para a participação numa exposição ou a realização de trabalhos fotográficos para catálogos ou capas de publicações da instituição. Também estas informações são importantes que fiquem registadas pois assim será possível a elaboração de um plano de conservação e preservação da colecção no seu todo, tendo em conta outras informações como o material de que é constituído o objecto ou a sua localização dentro da própria instituição. O registo dos detalhes do objecto, através por exemplo de fotografias de detalhes, em momentos chave de mobilidade dentro da instituição, desde que entra na colecção, passando pelos momentos em que vai para uma exposição e regressa ao seu local original, pode ajudar na avaliação da necessidade ou não de adoptar determinadas políticas de conservação e preservação, prolongando a vida do objecto. Para as questões que desempenham na investigação podemos considerar três tipos de informação que advém desse facto: 1) a investigação realizada pela equipa do museu centra-se principalmente na história do objecto e o seu contexto dentro da instituição, essa informação que advém dessas notas deve ser registada na base de dados para uma melhor compreensão do objecto em si; 2) a investigação realizada para uma determinada exposição, que têm um tema e conceitos que são enfatizados, em que a escolha de determinados objectos como construtores desse discurso resulta em informação (transposta para catálogos e legendas) que permitirá compreender as diferentes interpretações da colecção; 3) a investigação realizada por pessoas exteriores ao museu, como por exemplo, artigos de professores em que se demonstra a utilização desse objecto para determinados estudos ou projectos, ou então, o estudo de uma área científica (ex: história da química) que permitem observar um diálogo entre as informações de diferentes origens. Assim, podemos concluir que este exercício de reunir informação sobre os objectos e as colecções torna a tarefa de elaboração de uma exposição mais eficaz, pelo que a informação funciona como fundamento da elaboração do discurso que se quer expressar, ou até mesmo, pode suscitar novos discursos. 12 O papel educacional deste tipo de informação prende-se principalmente com as relações entre museu e escola. Nos tempos que correm, a informática tem tido um papel cada vez mais preponderante na forma como se faz educação. E também é certo que os museus podem providenciar conteúdos para o currículo escolar. Por isso, as actividades e os projectos pedagógicos desenvolvidos com base em determinados objectos também devem fazer parte da informação da colecção. Mas as questões não se levantam apenas no âmbito do tipo de informação que se pode reunir e que se considera importante. É necessário reflectir também sobre a importância de uma informatização desses registos e consequentemente a escolha de um sistema que corresponda às necessidades da instituição. A sofisticação das bases de dados e das aplicações informáticas actuais permite reunir todo o tipo de informação – textos, fotografias, vídeos, som, simulações – de uma forma organizada e de fácil acesso. O lápis e o papel têm sido substituídos por sistemas computacionais. A quantidade de informação que tem de ser gerida vai-se acumulando e, como defende Perkins, os museus tornam-se sistemas de informação que têm de interligar os dados existentes e a criação de novas informações (1991, p. 179). Num artigo sobre a relação entre os museus e os computadores, Robert Chenhall (1987, p. 103-104) propõe cinco condições a ter em conta antes da elaboração de um sistema eficaz. A primeira, aponta para a escolha de um conceito claro relativamente aos objectivos que se pretendem com a base de dados (controlo da colecção, utilidade na localização de objectos necessários para uma determinada exposição, acesso a informação por parte de especialistas da área). A segunda condição é que esta tarefa precisa de ser suportada por uma decisão firme da direcção da instituição, sob pena de poder resultar na criação de uma base de dados pessoal, para investigação individual, que a longo prazo não resulta em benefício para a instituição. A terceira condição, diz respeito à necessidade de pessoal com a responsabilidade de criar a estrutura da base de dados e o seu carregamento de forma a corresponder aos objectivos estabelecidos. A quarta condição remete para o desenvolvimento de um sistema de informação que seja consistente e adequado às definições da colecção e às particularidades da informação que dali advém. 13 Por último, a quinta condição diz respeito à escolha do programa informático de acordo com o plano desenvolvido. Numa mesma linha de pensamento, mas com algumas variantes, Perkins propõe quatro funções principais para o processo de planeamento da informação: estabelecer objectivos, listar prioridades, afirmar os requisitos necessários (equipamento e informação) e preparar para a sua implementação. Ou seja, independentemente de outras questões como os custos e as equipas preparadas para a realização destas tarefas, que não nos interessa por agora analisar e discutir, é importante estabelecer um plano de organização da informação (como e o quê) antes de estabelecer um sistema informatizado da informação acerca das colecções. Para tratarmos e analisarmos o conteúdo deste inventário da colecção IST, parecia-nos à primeira vista importante transportar toda a informação para formato digital. Foi necessário elaborar uma ficha de inventário com uma nova caracterização e definição em termos de estrutura e organização dos campos que a constituem. Em termos práticos, a existência de uma base de dados informática permite-nos uma manipulação mais eficaz da informação. Também permite a partilha da colecção e o estabelecimento de um diálogo de semelhanças e contrastes com outras colecções, tanto nacionais como internacionais. Uma outra razão prende-se com a existência de um problema inicial de gestão desta colecção, que abordarei mais adiante, ou seja, surgiram dificuldades em perceber a organização e as diferentes tutelas desta colecção. No que diz respeito às fichas de inventário, não obedeciam todas a um modelo de estrutura homogénea, nem a informação que era colocada nos campos, em alguns casos, obedecia à sua designação. Daí que tentámos construir uma ficha de inventário digital, onde pudéssemos organizar a informação contida nas fichas de inventário originais. Não estabelecemos um plano para a instalação de um sistema de informação definitivo, mas procurámos organizar os dados que já possuíamos. Reconhecendo a existência de algumas falhas nesta proposta da nova ficha de inventário, tentámos comparar com outros dois inventários de instituições de ensino de engenharia disponíveis: colecção do Instituto Superior de Engenharia do Porto (on-line) e a colecção da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (em suporte CD). 14 Elaboração Dado o limite temporal, optámos por elaborar uma ficha de inventário utilizando o Microsoft Office Acess14 (MSAcess). A base de dados à qual me reportarei encontra-se em formatodigital (CD-ROM), no Anexo. A forma de carregamento da base de dados pelo qual se optou foi o de transportar toda a informação contida nas fichas de inventário. Nos casos em que uma ficha de dados apresentava mais do que um objecto em termos de quantidade, optou-se por atribuir a cada um uma ficha de inventário. No entanto, há excepções: caso em que a fotografia que acompanha a ficha de inventário não nos permite confirmar a quantidade. No fim do carregamento, tentou-se ajustar algumas informações através do confronto com outras bases de dados e catálogos. Teve-se em vista três áreas gerais de classificação – Identificação, Historial e Características – dentro das quais estabelecemos os campos que mais se adequavam a cada uma das áreas. Isto permitiu também uma maior facilidade de inserção dos dados. Para uma melhor compreensão dos campos escolhidos, procuraremos caracterizar cada um deles e justificar a metodologia seguida através da tabela esquemática da ficha de inventário elaborada, estabelecendo também as mudanças pontuais em relação às fichas de inventário originais (em suporte de papel). Campos Definições e características Identificação Número inventário Neste caso trata-se de um número de quatro (4) dígitos, iniciado no número 1001 e atribuído de forma sequencial, pela equipa de investigação do projecto, em consequência da existência de três inventários distintos (A, B, e C), com sequências numéricas diferentes, como forma de se destacar dos mesmos. Nº Inventário A Nº Inventário B Nº Inventário C Número com um (1) a três (3) dígitos, atribuído pelo Gabinete de Gestão do Museu IST. Os diferentes inventários (A, B, e C) correspondem a diferentes momentos de inventariação e tratamento da colecção. 14 Não será o formato digital mais eficaz para este caso de gestão de uma colecção, mas apesar de ter havido também a possibilidade de construí-la em suporte do FileMaker (Macintosh) não tínhamos as condições de equipamentos, nem o conhecimento de como funcionava o programa, para que o trabalho pudesse fluir. Para além disso, a informação em Acess permite no futuro a sua transposição para outras plataformas informáticas com alguma facilidade e compatibilidade. 15 Designação_1 Designação_2 Designação_3 Nome comum pelo qual é designado o objecto, normalmente tendo em conta a sua função. A “designação 1” corresponde à designação na língua portuguesa, a “designação 2” à língua inglesa e a “designação 3” a casos de designações originais pelos quais os objectos foram primeiramente conhecidos, nomeadamente para os casos de língua alemã e língua francesa. Marca A entidade que planeia ou executa um aparelho ou modelo. Construtor O autor que produz a peça (autor material). Fornecedor A entidade que vende o objecto à entidade proprietária da peça. Datação A data exacta ou aproximada em que o objecto foi construído/fabricado. Descrição Registo da sua função e modo de funcionamento, das suas características formais externas e internas, de inscrições patentes no objecto, de outras observações. Estojo Registo da existência ou não de um contentor (caixa) para a acomodação e conservação do objecto e seus acessórios, quando existirem. As formas de registo já pré-definidas são: não; sim; sim – original; sim – não original. Fotografia Número atribuído às fotografias tiradas ao objecto, individualmente ou em conjuntos, e que acompanham as fichas de inventário em formato de papel. Imagem Imagens fotográficas do objecto ou conjunto de objectos, aspecto geral e detalhes (ex. inscrição da marca ou construtor). Colecção Com o objectivo de criar grupos de objectos de acordo com determinadas especificações que podem ser: o lugar de investigação, a área de ciência ou técnica, ou a pessoa que reuniu determinado conjunto. Localização Designação do lugar onde o objecto se encontra no momento actual (espaço/edifício, andar, armário, prateleira, caixa). Permite um maior controlo da mobilidade do objecto e um registo do percurso histórico. Historial Data de Aquisição A data em que o objecto entrou na instituição, independentemente da função a que se destinava. Modalidade de Aquisição Identificação do modo como o objecto foi adquirido de acordo com registos pré-definidos: compra, doação, empréstimo, depósito. Preço de Aquisição Registo do preço de aquisição na altura da compra, que seja conhecido, por exemplo, através de uma factura ou de uma requisição. Fornecedor Registo do fornecedor a quem foi adquirido o objecto, que seja conhecido, por exemplo, através de um a factura ou de uma requisição. 16 Conservação Avaliação de acordo com registo pré-definido: bom, médio, mau. Restauro Informação relativa ao tipo de restauro que foi realizado, a data e a instituição onde se procedeu ao mesmo. Também contém observações relativas a necessidades de restauros e sua justificação. Bibliografia Informação de bibliografia onde aparecem referências ao objecto (ex: catálogos de exposições), a objectos semelhantes (ex: monografias de história dos instrumentos científicos) ou a métodos e aplicações de funcionamento do tipo de objecto (ex: revistas técnicas). Exposições Informação relativa às exposições onde esteve o objecto: título da exposição, local e data em que decorreu, número no catálogo/exposição. Sites Hiperligações que remetem para informações complementares do objecto, nomeadamente, marcas e construtores, funcionalidades, colecções semelhantes, etc. Documentação Imagem de documentos respeitantes ao objecto: factura, imagem de catálogos de fabricantes ou construtores, etc. Características Dimensões Altura (cm) Largura (cm) Profundidade (cm) Diâmetro (cm) Peso (gr) Grupo de informação específica que permite identificar o tamanho do objecto para efeito de armazenamento, espaço de exposição, circulação/mobilidade para espaços externos ou internos, dentro ou fora da instituição e do país. Material Madeira Vidro Metal Plástico Outros Grupo de informação específica que permite identificar todos os materiais constitutivos do objecto para efeito de conservação e preservação em situações de armazenamento, exposição e transporte. Os registos são feitos através de uma lista de designações já pré-definidas, de acordo com a sua área material (ex: metal – ferro, aço, cobre, etc.). Avaliação Valor monetário do objecto, aproximado, através, por exemplo, da comparação com outros objectos semelhantes que ainda se encontram no circuito comercial, para servir de referência à realização de seguros. Avaliador Entidade que estabelece o valor monetário do objecto. 17 Comparação com outras bases de dados Como elemento comparativo propomos as fichas de inventário elaboradas pelas instituições de ensino de engenharia do Porto. São as que se aproximam mais da nossa área científica de acção e estão acessíveis para consulta pública. O inventário da colecção do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), Museu Parada Leitão, encontra-se disponível on-line (Museu Parada Leitão) e é o resultado de cerca de oito anos de trabalho no projecto de estudo das colecções existentes e da reunião de objectos e de informação, dirigidos pela Dr.ª Patrícia Costa. Um dos resultados mais visíveis é a edição de uma publicação comemorativa dos seus 150 anos de existência (Santos, 2005). Denota-se portanto um trabalho moroso que passou muitas vezes pela tentativa de reunir esforços na busca e partilha dessa informação entre colecções de várias instituições. A sua ficha deinventário foi planeada a partir de vários exemplos e modelos, entre outros do Science Museum de Londres, e foi desenvolvida informaticamente por equipas de pessoal formado em informática da própria instituição. O resultado é uma ficha de inventário bem organizada que permite o acesso fácil à informação que se pretende, apesar do motor de busca ainda não estar a funcionar plenamente, fazendo apenas a pesquisa por número de inventário ou por designação. Áreas de classificação Campos incluídos Informação do Objecto • Nº de inventário; • Instituição Proprietária; • Super-categoria; • Categoria; • Subcategoria; • Designação genérica; • Outro nº de inventário Detalhes do Objecto [campo de texto livre] Identificação • Denominação específica; • Descrição; • Finalidade; • História do Objecto; • Localização Marcas e Inscrições • Marca; • Número [de série/modelo]; • Local; • Proveniência (dentro da instituição); • Inscrições Informação Técnica • Tipo de material • Medição; 18 • Parte descrita [ex: altura]; • Tipo de Medida; • Unidade de Medida Datação • Época / Período Cronológico; • Século(s); • Ano(s); • Justificação da Data; • Outras datações Conservação • Estado; • Data; • Especificações Incorporação • Data; • Ano(s); • Modo de incorporação (compra, etc.); • Preço; • Especificação Imagem / Som Bibliografia [campo de texto livre] Exposições • Título; • Local; • Início; • Fim; • Catálogo (o nº no catálogo) Intervenções • Local; • Especificações; • Processo; • Outra; • Início; • Fim Observações [campo de texto livre] Comparando ambas as fichas de inventário (IST e ISEP) destaco aqui alguns campos que se poderiam incluir, continuando o trabalho de reunião de informação. Parece-nos que a caracterização de “categoria” e “subcategoria” (Informação do Objecto) é importante, na medida que a partir deste campo se pode definir a área de engenharia a que pertence o objecto, sendo uma alternativa mais aceitável museologicamente do que o nosso campo “colecção” (Identificação). Da mesma forma o campo “Proveniência (dentro da instituição) ” (Marcas e Inscrições) é importante para estabelecer o percurso do objecto no espaço do Instituto, ajudando também na própria caracterização dos espaços laboratoriais ou de ensino. O campo “Inscrições” (Marcas e Inscrições) permite não só registar os elementos marcados no próprio objecto, mas também registar o nome do fabricante ou da marca tal como é inscrita 19 no objecto, deixando para o campo “Marcas” (Marcas e Inscrições) a inserção do nome do construtor ou da marca através de uma nomenclatura pelo qual é geralmente reconhecida, até mesmo para estabelecer relações com as referências internacionais. O inventário da colecção da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto15 (FEUP) encontra-se disponível através de um CD (Biblioteca da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, 2007) e é o resultado de um trabalho inserido nos Serviços de Documentação e Informação, percorrendo núcleo por núcleo cada um dos seis departamentos, e consequentemente a elaboração de uma exposição dando conta da informação existente. A sua ficha de inventário é mais simples mas denota-se um cuidado de planeamento da sua estrutura, dos campos que incluiria e o tipo de informação que seria tratada, através de listas de conceitos e normas de inventário já pré-definidos. Permite uma “pesquisa global” através de palavras, designação, nº de inventário e autor; existem também “filtros opcionais” por área de conhecimento, utilização, ou departamento. Campos Normas instituídas Ficha Simples Nº inventário Composto por nove dígitos que foi atribuído de forma sequencial. Departamento Entende-se a sigla atribuída a cada um dos departamentos representados na FEUP. Designação Identidade estrita e inequívoca do objecto (nome comum do objecto museológico), normalmente tendo em conta a função do mesmo. Título Por título entende-se a denominação originalmente atribuída pelo autor. É registado integralmente, sendo composto pela designação, marca e modelo da peça quando forem conhecidos. Ficha específica Autorias Neste parâmetro foi estipulado o preenchimento de dois sub-campos: Autor (entende-se todo e qualquer interveniente no processo de criação e fabrico de uma peça) e Tipos de autoria (designer, fabricante, inventor, teorizador, vendedor) Categorias Com o objectivo de criar grupos de objectos segundo um determinado padrão de conceitos, foi criada uma listagem de categorias que é utilizada para identificar as peças: Área de conhecimento (áreas de estudo e investigação a que respeitam as peças) e Utilização (tipologias de objectos quanto à sua função/uso para o estudo e 15 A museóloga responsável pela colecção é a Dr.ª Susana Medina que, juntamente com uma equipa onde se inserem outros técnicos de museologia, de conservação e de tratamento de imagens digitais, têm trabalhado no tratamento do inventário e dos objectos. 20 investigação: aparelho, mecanismo, máquina, instrumento, mobiliário, utensílio) Marca Marca de fabricante, marca de posse, marca de fornecedor Departamento Entende-se a sigla atribuída a cada um dos departamentos representados na FEUP. Estado de conservação Com vista a uma normalização, foram utilizadas as normas para avaliação do estado de conservação do IPM: muito bom, bom, regular, deficiente, mau. Função A utilidade e a funcionalidade dos objectos antes de ser incorporado numa colecção museológica. Inscrição Toda e qualquer referência textual incisa, gravada, pintada, impressa ou estampada na peça (com excepção do título e da subscrição, que constituem campos de informação específicos). Localização Permite registar as localizações do objecto dentro e também fora da instituição a que pertence e, ao mesmo tempo, criar um histórico dos sítios onde esteve localizado o objecto e datas relativas à sua mobilidade. Marcas Os registos presentes no objecto que dão alguma informação sobre o objecto seja ela a indicação do local de fabrico, da pessoa ou fabricante que a produziu, etc. Materiais Grupo de informação específica permite a identificação de todos os materiais existentes nos objectos Apesar de ser mais simples, esta ficha de inventário é exemplo da forma como a informação é dada a conhecer a um público mais geral, sem correr o risco de ser muito desgastante na apresentação da informação, ou muito sucinto na apresentação dos conhecimentos que se tem do objecto. Apesar de algumas categorias misturarem informação distinta, como por exemplo no caso das “Autorias” colocando no mesmo espaço “inventor” e “vendedor”, não deixa de ser uma tentativa de agrupar os dados de uma forma coerente, abarcando todas as dimensões de caracterização do objecto. À semelhança do inventário do ISEP, destacamos o campo “Categoria”, pois permite uma melhor definição do papel do objecto dentro do contexto da instituição e do modelo de ensino adoptado. Problematizações Este trabalho permitiu-nos, acima de tudo, conhecer o universo da colecção e os núcleos pelos quais estão organizados. Este conhecimento, a par do contacto físico com os objectos e os espaços onde estão guardados, suscitou algumas problemáticas de gestão e de registo de informação da colecção. Nomearei algumas dessas problematizações, sem qualquer sentido de 21 grandeza de valor, mas meramente descritivo tentando seguir a disposição dos campos da ficha de inventário. Número de Inventário. A numeração atribuída aoinventário da colecção constitui-se desde o início como um exemplo curioso. Existem três inventários diferentes (A, B e C), que foram realizados em diferentes alturas. As informações que temos em rodapé de algumas fichas de inventário apontam para a definição dos inventários: o Inventário A corresponde ao inventário antigo, o Inventário B corresponde ao inventário em curso, e o Inventário C corresponde ao inventário da Sala de Reuniões16. A cada um deles corresponde uma numeração sequencial própria. Mas mesmo dentro de cada um dos inventários, alguns sub-núcleos apresentam a sua numeração sequencial. Isto colocava-nos alguns problemas na identificação dos objectos pelo facto de haver números repetidos, podendo correr-se o risco de trocas de informações e referências, apesar de em alguns casos haver a inclusão de uma letra referente à área científica. Teríamos de nos socorrer de outros elementos para fazer essa distinção, como a fotografia do objecto ou a designação. É o exemplo da atribuição de um único número de inventário para um conjunto de objectos semelhantes que através da fotografia pudemos constatar que se tratava de uma repetição em termos quantitativos, mas que o conteúdo da informação era diferente. A melhor opção foi a atribuição de um número de inventário diferente para cada um dos objectos (ex: invº 2035, 2036, 2037, 2038, 2039). Devido à simplicidade do programa informático usado na elaboração da ficha de inventário, optámos por atribuir uma numeração sequencial única, incluindo todos os núcleos. Designações. Neste campo, a informação deveria corresponder a uma nomenclatura normalizada, uma vez que a designação não se encontra inscrita no próprio objecto, excepto um ou outro caso em que alguns instrumentos vêm acompanhados por manuais de utilização, mas nem sempre em português. No caso das designações em inglês essa identificação, com o auxílio da imagem do objecto, torna-se mais fácil devido à comparação com outras colecções de instrumentos científicos e outros artefactos técnicos disponíveis on-line. No caso das designações em português iniciou-se há pouco tempo um projecto de construção de um thesaurus entre as várias instituições que têm colecções científicas e tecnológicas, numa tentativa de normalizar essas mesmas designações. Um dos aspectos que podemos constatar é o não preenchimento de muitos destes campos ou então a existência de designações muito gerais, por exemplo: “instrumento de medição” (podendo tratar-se de uma régua ou de um 16 A Sala de Reuniões está localizada no Pavilhão Central (edifício principal dos serviços centrais) do Campus da Alameda. 22 termómetro), “acessório de um instrumento”, “aparelho eléctrico”, “suporte de um instrumento” ou apenas “instrumento”. Este aspecto tem consequências na identificação das funções dos respectivos objectos e melhor compreensão do papel que desempenhavam na instituição. Ronald Kley (1987), abordando a questão da nomenclatura e da classificação, afirma que esta necessidade de identificar as coisas pelo nome é um acto de conveniência, na medida em que queremos que os que nos rodeiam percebam aquilo que estamos a designar. No contexto do registo museológico da informação, a forma como a comunicamos deve ser o mais coerente possível, sobrepondo-se a aspectos temporais, espaciais e culturais. A forma como designamos um determinado objecto na colecção do IST não deverá ser diferente da forma como o mesmo objecto é designado na colecção do ISEP. Por isso, é necessária a elaboração de um sistema de designações que permita uma certa consistência na catalogação. O mesmo se aplica para a escolha de adopção de classificações gerais ou classificações mais específicas. Ou seja, em que medida a designação deve cingir-se aos aspectos gerais, por exemplo “balança”, “amperímetro” ou devemos apontar neste campo para designações mais específicas, como “balança de precisão”, “balança mecânica”, “amperímetro de ferro móvel”, “amperímetro electrodinâmico”, que permitem uma identificação mais directa do objecto e aponta para as diferenças físicas e também de aplicação prática. No caso do inventário do IST, ambos os casos de designações aparecem misturados, sendo que o nosso escasso conhecimento sobre estes tipos de objectos não permitia uma revisão das designações e a elaboração de uma lista pré-definida. Marca e Construtor. Através de uma listagem de toda a informação que aparecia nas fichas, foi possível fazer uma análise das principais marcas e construtores em confronto com bases de dados de construtores de um determinado país ou de catálogos digitalizados disponíveis on- line e páginas da internet das respectivas marcas. Este confronto permitiu perceber que nem sempre a informação de um determinado construtor é registada da mesma forma. Exemplo disso é o caso da marca “Leybolds” que aparece de várias formas: “Leybold (England)” ou “E. Leybold's Nachfolger (Cologne)”. Através de outras colecções tentámos estabelecer uma nomenclatura coerente para uma melhor identificação dos grupos de objectos associados a uma determinada marca. Neste caso, a existência de um campo de “Inscrições” pode ajudar a manter ambos os registos. Um outro aspecto que não conseguimos resolver é a distinção entre os próprios campos “marca” e “construtor” para a escolha da informação a registar, pois nas fichas de inventário elas encontram-se frequentemente misturadas. Através de outras bases de dados, percebemos que os campos estão ligados e que essa distinção se faz essencialmente 23 através da definição “fabricante”. Por outro lado, através dos contactos estabelecidos têm-se considerado que “construtor” diz respeito ao fabricante anterior ao século XX, e que “marca” é já um conceito dos tempos modernos, ou seja, de objectos fabricados no século XX por determinadas empresas comerciais que registam a sua marca. Esta é portanto uma questão para reflexão e tentativa de definição. Apesar de não termos feito uma verificação exaustiva de todas as marcas que aparecem na base de dados, pudemos perceber que o acesso on-line a outras bases de dados e colecções permite facilmente realizar essa tarefa. Fornecedor. Neste campo a informação é escassa. Temos a indicação da Empresa Fabril de Máquinas Eléctricas (EFACEC), no fornecimento de um motor de corrente alternada (invº 1312). A que aparece mais vezes na base de dados é Pimentel & Casquilho (Lisboa), em 30 instrumentos científicos de diferentes marcas. Em alguns casos os fornecedores são as próprias marcas, enquanto outros ainda não conseguimos confirmar a sua existência ou historial. Seria necessário um trabalho mais detalhado que passaria pela pesquisa no arquivo dos serviços de Secretaria tentando encontrar facturas que digam respeito à aquisição destes objectos. Datação. A grande maioria das fichas de inventário não dispõe desta informação, pelo que se torna difícil a elaboração de uma cronologia de aquisição e até mesmo a contextualização dos objectos no tempo da sua utilização dentro da instituição. Uma das soluções mais usadas para a datação de instrumentos científicos, tal como no caso das designações, são as consultas dos catálogos das próprias marcas e construtores. Da mesma forma, o registo do tempo da actividade pode ser bastante útil na aproximação de uma datação. No caso de objectos fabricados no IST seria importante a identificação de livros de registos dos trabalhos oficinais e livros de possíveis vendas ao exterior em que a data venha mencionada. Colecção. Estes núcleos estão na sua maioria ligados aos espaços onde estiveram, por exemplo laboratórios, bibliotecas, oficinas; mas também aos espaçosonde estão neste momento, como é o caso do núcleo da Sala de Reuniões ou do Complexo Interdisciplinar. Estes núcleos estão agrupados por domínios (Minas, Química, Física, Electricidade), sendo que correspondem a alguns departamentos do IST não estando representados aqui artefactos de Mecânica, ou até mesmo de Informática. Uma outra variável que define alguns núcleos é o nome de antigos professores, que recolheram alguns objectos em desuso ou cujas famílias doaram os seus pertences. Com mais ou menos rigor, os núcleos e sub-núcleos que se nos apresentam são: Minas (Mineralogia, Geologia, Exploração de Minas); Química (Biblioteca, 24 Electroquímica, Laboratório de Química, Laboratório de Química Orgânica, Laboratório de Hidrologia, Laboratório de Química Analítica, Laboratório de Química Inorgânica); Física (Sala de Reuniões, Laboratório de Física, Complexo Interdisciplinar, Centro de Congressos); Electricidade (Máquinas Eléctricas, Medidas Eléctricas, Laboratório de Propagação e Radiação); Oficinas (Oficina de Carpintaria, Oficina de Serralharia, Oficina de Instrumentos de Precisão); Sr. Valido e Engenharia Civil (Gabinete de Arquitectura). Neste caso, optámos por excluir o campo “Proveniência” existente nas fichas de inventário originais pois a informação que continham era essencialmente a mesma que neste campo. Bibliografia. As fichas de inventário não apresentam muita informação neste campo. Consideramos que uma busca pelos catálogos dos construtores e das marcas poderia resultar numa informação bastante útil para este campo, entre muitas outras possibilidades, como referências em artigos técnicos sobre a função de aparelhos e instrumentos. Exposições. A única referência que aparece neste campo diz respeito à realização da exposição de Arqueologia Industrial, na Central Tejo, em Maio de 1985. Conseguimos no entanto, para alguns casos actualizar o campo através dos catálogos de exposições realizadas no IST ou com objectos do IST. Sites. Este campo é novo em relação ao modelo da ficha de inventário original, que se justifica pelo facto de se tratar de uma ficha informatizada e por permitir este tipo de complemento da informação sem sobrecarregar a base de dados. Não procurando ser exaustivos, reuniu-se um conjunto de sites relacionados com marcas, mas também com as funcionalidades de alguns objectos. 25 CAPÍTULO 2. A GESTÃO DA COLECÇÃO O valor do saber científico e tecnológico Em 2000, realizou-se o primeiro encontro internacional do UNIVERSEUM Network, na Universidade Martin-Luther, de Halle-Wittenberg, com a preocupação de preservar, tornar acessível e promover o património universitário europeu, material e imaterial, que abrange museus, colecções, edifícios históricos, jardins botânicos, arquivos e bibliotecas. A Declaração de Halle defende que os “museus e colecções académicas providenciam oportunidades especiais para experimentar e participar na vida da universidade. Estas colecções servem como um recurso activo para o ensino e a investigação, e também como registo histórico único e insubstituível.” Refere ainda que estas colecções são como janelas abertas ao público demonstrando o papel da universidade como cooperante na definição e interpretação da identidade cultural. Em 2001, é criado o Comité Internacional para os Museus e Colecções Universitárias (UMAC) do ICOM com o objectivo de promover: o interesse pelo papel das colecções no contexto das instituições de ensino superior e as comunidades que servem; oportunidades de partilha de recursos das colecções, conhecimentos e experiências; conselhos de protecção do património ao cuidado das universidades; e acesso às colecções existentes. Uma das equipas do UMAC está a trabalhar numa base de dados internacional de colecções existentes. Neste momento existem 2279 registos de museus, galerias e colecções (incluindo jardins botânicos) académicas, sendo que em Portugal estão registados 37. O Instituto Superior Técnico está registado nesta base de dados, mas apenas se faz referência à Colecção de Instrumentos de Física, quando na realidade o património cultural e tecnológico do IST é muito mais abrangente. É neste âmbito que poderemos considerar que as Colecções de Instrumentos Didácticos e de Investigação do IST, por se constituírem como um conjunto de artefactos técnicos que estão ligados à memória da instituição universitária, na forma como contribuíram para o ensino da engenharia e transmissão do conhecimento científico. Sabemos que desde o início que as universidades têm reunido objectos e constituído colecções, de livros, documentos, mobiliário, passando pelas colecções ligadas às ciências da terra e da vida. A tradição dos gabinetes de curiosidades tinha estabelecido o princípio da 26 raridade, natural ou artificial, como parâmetro de escolha, mas ao longo dos tempos, os parâmetros ligados a categorias ou grandes temas, como física e matemática, foram tornando- se no elemento de definição das colecções. São formadas por toda a Europa, a partir do século XVII, por academias científicas, universidades e indivíduos, e destinavam-se à prática experimental (Delicado, 2006). A aprendizagem feita através da observação do real é consideravelmente mais eficaz do que através de descrições e ilustrações. Assim, podemos concluir que os objectos facilitam a transmissão do conhecimento (Hooper-Greenhill, et al., 2000, p. 105-106). As viagens realizadas por estudantes e investigadores pelas diversas universidades da Europa, para estudo e trabalho de investigação, permitiram a circulação dos conhecimentos e também dos instrumentos que se usavam (Taub, 2001, p. 9-14). Podemos considerar dois grandes tipos de colecções académicas: as que se associam ao ensino (constituídas na sua grande maioria por modelos, instrumentos, espécies naturais, réplicas, maquetas, etc.) e as que estão ligadas à investigação (como por exemplo: instrumentos laboratoriais, registos de viagens, relatórios de experiências, ilustrações científicas, desenhos e estudos de projectos, etc.). Nesta medida temos de ter consciência que a variedade de objectos é bastante ampla e que nem sempre se consegue estabelecer a fronteira entre estes dois tipos gerais. A utilização das colecções também é bastante dinâmica dentro das próprias instituições, na medida em que os objectos que as constituem são reunidos, trocados, doados e usados com diferentes propósitos, tanto nas salas de aula como nos laboratórios. A sua acumulação, na maior parte das vezes, é consequência de um uso intensivo até ao momento em que se tornam obsoletos e adquirem uma nova função – a de fontes representativas de informação – e um novo significado histórico. Estas colecções “constituíram a base para a criação de museus de história da ciência, ao adquirirem um valor simbólico, associado à memória de um período que importava celebrar” (Delicado, 2006). É assim que surgem exemplos como o Conservatoire des Arts et Métiers em Paris, fundado em 1794, o Museum of History of Science em Oxford, fundado em 1924, o Whipple Museum of the History of Science em Cambridge, fundado em 1927, ou o Instituto e Museo di Storia della Scienza em Florença, fundado em 1927 (Butler, 1992; McDonald, 2002; Delicado, 2006). O exemplo que nos propomos analisar, a colecção do Instituto Superior Técnico, insere-se neste âmbito, sendo que é o resultado de quase 100 anos de ensino e transmissão do conhecimento científico em Portugal, nomeadamente na área da engenharia. Trata-se portanto 27 de perceber até que ponto as universidades usam a herança de objectos e colecções representativas da história/tradição académica como promoção institucional
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