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Antropologia - Relatório sobre o estudo de Campo

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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola de Serviço Social
Disciplina: Antropologia
4
o
 Período Noturno
Docente: Patrícia de Farias
 
 
 Relatório sobre o estudo de Campo
 “O Trajeto do ônibus 474 ”	
Discentes:
Carmem Lucena
Isabela Villar
Lívia Vilar
Márcia Amaral
Maria Luiza Knoller
Thais Freitas
Sumário
. Introdução ------------------------------------------------------------------------------ 03
1. Trajeto do ônibus --------------------------------------------------------------------- 05
2. Perfil dos usuários -------------------------------------------------------------------- 05
3. Fichas de observação / entrevista----------------------------------------------------- 06
4. Dados da Fetranspor------------------------------------------------------------------- 11
5. Considerações finais ------------------------------------------------------------------ 12
6. Referências Bibliográficas ----------------------------------------------------------- 13
 
Introdução
Este relatório se propõe a demonstrar todos os dados que possibilitem de forma clara e transparente o trabalho desenvolvido na elaboração deste projeto de campo, a fim de que se possa introduzir uma sistemática de debates sobre esse olhar dos profissionais de transporte público, o qual é de extrema importância através do olhar social, analisando-o sob a perspectiva de sua problemática que impacta diariamente a locomoção dos usuários que dependem desta linha de ônibus 474, conhecido como 47 Crack, o qual faz o itinerário Copacabana – Jacaré e roda 24h. Essa linha liga dois pontos da cidade extremamente diferentes da Zona Sul ou da Norte o que causa temor para a maioria dos usuários, pois transita entre as comunidades com foco no trafico de drogas. 
 O que se pretende é pensar e discutir a respeito do debate com os profissionais condutores, de um ponto de vista alternativo aos debates propostos com os usuários, que é exatamente a assistência social em conjunto com os mesmos, contribuindo com o nível de informação, não só do ponto de vista de campo, mas também social cultural e político.
Iniciamos este relatório tratando das ocorrências diárias de violência, devido a uma série de fatores, onde a sociedade e os poderosos são os grandes vilões.
As entrevistas foram realizadas de formas flexíveis, e classificada como informal obtendo uma visão geral dos problemas da classe, porém com foco explorando a fundo algumas experiências vividas.
Com os dados qualitativos buscamos os sentidos das histórias de todos os profissionais dos transportes públicos e com os dados quantitativos constatamos que a melhoria existe, porém o investimento na classe ainda é muito pouco. 
A problemática geralmente consiste na falta de uma comunicação direta, onde a abertura aos debates seria fundamental, uma vez que isso proporcionaria uma troca de conhecimentos, intercâmbio de ideias e experiência entre todos os envolvidos, inspirados pelo mesmo ideal, o que serviria à coletividade.
Sendo assim este trabalho nos leva a questionar a função do motorista de ônibus e sintetiza os esforços que vem sendo empreendidos, pois é uma fonte que alimenta uma nova forma de olhar velhas questões através de novos projetos.
Portanto, procuramos conhecer a dinâmica da profissão sob a ótica das pesquisas aqui apresentadas e dessa forma propiciar uma visão real sobre a rotina diária de condutores e observação dos usuários, tendo como princípios básicos o respeito ao cidadão e o meio que eles estão inseridos.
Dividiremos o trabalho em tópicos e discorreremos sobre a trajetória utilizada pelos condutores e o perfil dos usuários. Trataremos o nível de estresse dos usuários, condutores e também pedestres que ficam amedrontados por onde a linha 474 transita.
 Trajeto do ônibus
A linha 474 faz o itinerário Copacabana – Jacaré, ligando a Zona sul a Zona Norte da cidade. Segundo os condutores há uma grande quantidade de menores que durante os finais de semanas ensolarados vão para a praia e no percurso agridem alguns usuários e também transeuntes berrando palavras de baixo calão e os ameaçando de morte. Segundo o motorista relatou, alguns menores entram e saem pelas janelas do veículo causando um grande terror durante o trajeto. 
Um condutor, que não quis se identificar por questões pessoais informou que numa madrugada havia vários jovens no ônibus e os mesmos o obrigaram a parar o veículo para roubar um rapaz que caminhava sozinho em Copacabana. Segundo ele, o rapaz foi agredido por esse grupo de jovens e jogado ao chão. 
2- Perfis dos usuários
 A maioria dos usuários nos finais de semana é jovem de classe média baixa, oriundos das comunidades para frequentar as praias. Os demais usuários, geralmente são trabalhadores que moram no percurso do ônibus. 
Os moradores da Zona Sul evitam pegar este ônibus, pois têm medo de sofrerem assaltos ou de serem agredidos, mesmo que seja num trajeto pequeno dentro da mesma área. Frequentam somente nos dias de semana, pois o ônibus os deixa próximo do local de trabalho.
ÔNIBUS A 29136
SAÍDA DE COPACABANA: 10:04h
CHEGADA AO JACARÉ: 11:16h
NÚMERO DE PASSAGEIROS TRANSPORTADOS: 16
DURAÇÃO DO PERCURSO: 1 hora e 20 minutos
FICHA DE OBSERVAÇÃO 
Foi feita a observação em três viagens em turnos e dias diferentes sexta e domingo.
A viagem semanal o ônibus fez o percurso em 1h 20 minutos com o total de 26 paradas, sendo que dessas 26 paradas somente 4 foram feitas na zona sul para o embarque e desembarque dos passageiros e a maioria dos passageiros eram homem. 
Pude perceber também, algo bem interessante, pois alguns idosos preferiam pegar a passagem com dinheiro e não utilizaram o cartão de benefício. Durante o itinerário constatei somente 16 pessoas no embarque e somente três delas cumprimentaram o motorista e dois dos que cumprimentaram o fizeram porque necessitavam de uma informação e o terceiro por ter entrado pela porta traseira para venda de produtos comestíveis.
Viagem Jacaré – Copacabana 11h30min h- 12h55min
A viagem de volta foi feita em 1h e 25 minutos e ao contrário do que ocorreu na ida a maioria dos passageiros eram mulheres e ambulantes. As pessoas também não cumprimentaram ao motorista, exceto os vendedores que entraram pela porta traseira.
Ao todo foram 36 paradas até o ponto final e todos os passageiros que pegaram o ônibus eram trabalhadores e moradores da área.
Viagem feita num domingo às 15h no meio do percurso do ônibus.
Foi feito o trajeto em Copacabana e o ônibus estava cheio de menores sem camisas e os mesmos estavam muito exaltados. 
No final foi feita uma breve entrevista com o motorista, o qual não quis se identificar por questões de segurança pelo fato de ter contado algo tão grave deve ter sido o motivo de omitir a sua identidade.
FICHA DE ENTREVISTA 
Entrevista feita com o motorista Sr. Rogério Vicente de Souza, 46 anos de idade, com ensino fundamental completo, solteiro, sem filhos, morador da Penha e há 12 anos na profissão, sendo que nesta empresa está há quatro meses (Empresa Braso – Lisboa). Tem uma jornada de trabalho que é de 11h até às 20h. 
Informou que trabalhou anteriormente por 12 anos como auxiliar de escritório.
Trajetória Profissional
Durante o tempo que trabalha como motorista de ônibus, o Sr. Rogério informou que a diferença do inicia da profissão até os dias atuais lhe trouxeram um amadurecimento para lidar com o comportamento das pessoas. 
Informou que sua relação com o público é tranquila, uma vez que procura não entrar em conflito com as pessoas, embora dependendo do horário, da estação do ano e dos dias fica bastante complicado devido ao perfil do usuário. O elemento de estresse que ressalta é a invasão dos usuários pelas janelas.
Ao meu ponto de vista há uma incoerência na respostareferente aos pontos negativos devido à resposta anterior, mesmo após insistir o mesmo informa que não vê pontos negativos na profissão apesar do trânsito caótico e do perfil que o mesmo tem que lidar diariamente.
Em relação aos pontos positivos vê a relação com as pessoas de forma positiva e ressalta ser uma excelente empresa para trabalhar. Mesmo que diante de nossa observação, as pessoas sequer os cumprimentem.
Vê consequências gravíssimas na retirada do cobrador, pois além de atrasar a viagem para dar troco para determinados passageiros que pagam em espécie, há também a demora na liberação da roleta. Quanto à qualificação profissional o mesmo informa que gosta da sua profissão e que não pretende trabalhar em outra área.
Nos dias de folga tem como lazer ir à praia da Barra citando a facilidade devido ao BRT, informa também que gosta de fazer caminhadas e assistir jogos de futebol em casa.
ÔNIBUS A 29136
SAÍDA DE COPACABANA: 10:04h
CHEGADA AO JACARÉ: 11:16h
NÚMERO DE PASSAGEIROS TRANSPORTADOS: 16
DURAÇÃO DO PERCURSO: 1 hora e 20 minutos
FICHA DE OBSERVAÇÃO 
No ponto final da linha 474 em Copacabana, em frente ao Shopping Cassino Atlântico, Isabela, Márcia e eu entramos no ônibus. Dissemos bom dia ao motorista e ele retribuiu de forma cordial, educada e sorrindo. No primeiro sinal, ele parou para trocar dinheiro com um motorista da mesma empresa (BRASO LISBOA) e o relacionamento entre eles foi bastante amigável. 
Destas trinta e oito pessoas transportadas, além de nós, apenas duas pessoas cumprimentaram o motorista ao entrar no ônibus. Dos trinta e oito passageiros transportados, me impressionou o fato das pessoas pedirem informação, mas não agradecerem. No ponto em frente ao Terminal Rodoviário Henrique Lott o motorista abriu a porta para um vendedor de doces, e o relacionamento foi muito simpático e receptivo.
E durante o percurso, quatro pessoas conectadas o tento todo, teclando no celular.
FICHA DE ENTREVISTA 
1 - Como é a relação do público com o motorista e /ou cobrador?
Não tinha cobrador.
2 - Como é a relação do motorista com o público?
Simpático, se falavam com ele ou pediam informação, ele respondia de forma educada.
3 - Qual o perfil dos usuários da linha 474?
Trabalhadores, estudantes e idosos foram às pessoas transportadas.
4 - Quanto tempo durou a viagem?
1 hora e 32 minutos
5 - Qual o relacionamento do motorista com o fiscal ou colegas de trabalho?
Amigável e respeitosa.
6 - Como ele reage a situações de estresse?
Não houve nenhuma situação de estresse durante o percurso, mas o motorista dirigia muito bem e de forma tranquila.
ÔNIBUS A 29136
SAÍDA DE COPACABANA: 10:04h
CHEGADA AO JACARÉ: 11:16h
NÚMERO DE PASSAGEIROS TRANSPORTADOS: 16
DURAÇÃO DO PERCURSO: 1 hora e 20 minutos
FICHA DE OBSERVAÇÃO 
O motorista entrevistado se chama Júlio César, tem 50 anos de idade, casado, pai de uma filha e também padrasto de uma enteada. O mesmo possui o ensino fundamental e trabalha na mesma empresa há 19 anos. 
Durante a breve entrevista ele me contou que não dividia seu tempo com outra ocupação profissional e que se dedicava somente a motorista e antes de se tornar funcionário da empresa trabalhou informalmente como servente de pedreiro. O profissional relatou que seu primeiro cargo na empresa foi de cobrador e passado certo tempo ele mudou para função de motorista, e o mesmo afirma “que as coisas melhoraram um pouco depois disso”.
FICHA DE ENTREVISTA 
1 - Como é a relação do público com o motorista e/ou cobrador?
Tanto na ida como na volta, percebi que os motoristas se mostravam sempre receptivos e cordiais ao falarem com os passageiros e estes mesmos passageiros trocavam poucas palavras com os profissionais. Perguntavam-lhes o básico como se o ônibus cumpria o itinerário previsto e se conheciam pontos de referencia próximo ao percurso do coletivo.
2 - Como é a relação do motorista e/ou com o público?
Durante as viagens os motoristas se mostravam calmos com o publico, não demonstrando nenhum tipo de conflito ou aborrecimento. Parecia algo bem “mecânico” sua relação: se o passageiro dava bom dia eles repetiam, se agradeciam faziam um gesto e se perguntavam e respondiam.
3 - Qual o perfil dos usuários da linha 474?
Na ida saindo de Copacabana até o bairro do Jacaré, os passageiros em sua grande maioria homens entre 25 e 60 anos. Já à volta, do Jacaré até Botafogo, o perfil eram bem misto, mas ainda sobressaia o numero de mulheres entre 20 e 55 anos. 
4 - Quanto tempo durou a viagem?
A ida de Copacabana até o Jacaré durou cerca 1h e 10, e a volta do Jacaré até Botafogo durou 1h e 6min.
5 - Qual o relacionamento do motorista e/ou cobrador com o fiscal de ou os colegas de trabalho?
Em minha pequena observação, percebi que todos tinham uma boa interação, mesmo que entre o motorista e o fiscal houvesse uma hierarquização verticalizada. 
6 - Como ele reage à situação de estresse?
Durante a viagem não houve alguma situação que se apresentasse como tensa ou conflituosa e que o profissional mostrasse alguma atitude frente a isso.
	3- Dados da Fetranspor
Estado do Rio de Janeiro - Mobilidade Outlook 2013 - © FETRANSPOR 2016
	
	
	
	Versão 1 - Último up-date: 15 - Março – 2016
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Tabela 7 - Dados gerais do sistema de transporte por ônibus na região metropolitana do Rio de Janeiro - média mês 2015
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	ABRANGÊNCIA
	EMPRESAS
	LINHAS
	FROTA
	VIAGENS REALIZADAS
	QUILÔMETROS PERCORRIDOS
	PASSAGEIROS TRANSPORTADOS
	
	
	IIDADE DA FROTA
	EMPREGADOS
	
	
	
	
	
	
	TOTAL
	PAGANTES
	GRATUIDADES
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Região Metropolitana (1)
	124
	1.752
	20.032
	3.437.378
	151.142.804
	194.714.023
	161.590.367
	33.123.656
	
	
	5,69
	95.207
	Intermunicipal (RMRJ) (2)
	58
	650
	6.507
	1.005.529
	57.716.293
	55.691.040
	47.882.374
	7.808.666
	
	
	5,79
	32.282
	Município do Rio de Janeiro
	43
	705
	9.008
	1.589.613
	60.289.863
	110.506.580
	90.443.873
	20.062.706
	
	
	4,38
	39.596
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Fonte: DATABANK FETRANSPOR
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	Notas: *Média mês de Janeiro a Dezembro de 2015; (1) Abrange todos os sistemas municipais e o sistema intermunicipal da região metropolitana do Rio de Janeiro; (2) Abrange o sistema intermunicipal da região metropolitana do Rio de Janeiro; (3) IPK – índice de passageiros por quilômetro - calculado pela divisão do total de passageiros transportados e a quilometragem coberta pelo sistema de transporte em um mês típico; (4) PMM - Percurso médio mensal - expressa a média mensal de quilômetros percorridos por cada ônibus da frota.
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
Considerações Finais 
Uma profissão cheia de responsabilidade e histórias, onde o serviço é marcado por estresse e muitos momentos difíceis. A categoria diz que precisa ser mais valorizada, mas muitos não deixam o volante por nada. Sabe aquela pessoa que te ajuda no seu ir e vir para o trabalho, escola, faculdade e lazer? Por trás destas e de outras atividades existe a figura de um profissional muito importante: O motorista, que é homenageado no dia 25 de julho.
Com o aumento da violência do trânsito e da intolerância das pessoas, ser motorista não tem sido uma profissão fácil nos dias de hoje. Tanto é que segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde, dirigir ônibus urbano no Brasil está entre as atividades mais desgastantes. Já segundo a Confederação Nacional dos Transportes – CNT - faltam 50 mil profissionais entre ônibus, caminhão e carreta, no mercado. Muitos não têm se interessado em assumir os volantes, porém quem é profissional em sua maioria, não quer deixar o comando dos veículos.
O estresse e a responsabilidade são realidades, mas boas histórias, amizades e a sensação de comandar um veículo que não é apenas uma máquina, mas um agente na sociedade são presentestípicos da profissão.
Ser motorista é acima de tudo cumprir uma função humana e social.
Os parabéns para todos os astros do volante.
Referências Bibliográficas 
	
Texto – A Entrevista
Sites visitados –
https://www.fetranspor.com.br/mobilidade-urbana-setor-em-numeros
http://www.rj.gov.br/web/setrans/exibeconteudo?article-id=225443
http://onibusbrasil.com/blog/2014/07/25/dia-do-motorista-muito-a-homenagear-e-para-comemorar/
http://www.reclameaqui.com.br/indices/8676/rio-onibus-empresa-de-onibus-do-rio-de-janeiro/

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