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FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 1 DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL SEMESTRE: 3º (TERCEIRO) CARGA HORÁRIA: QUATRO AULAS SEMANAIS TURNO: NOTURNO PROFESSOR: JOSÉ NATANAEL FERREIRA PERÍODO: 1° SEMESTRE 2014 PLANO DE AULA DIREITO CONSTITUCIONAL II ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO BRASILEIRO AULA N° 11 1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA FORMA FEDERAL DO ESTADO BRASILEIRO 2. A ESTRUTURA BÁSICA DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA — Brasília, sede do Distrito Federal e capital da República — Territórios Federais — Formação de Estados — Organização de plebiscitos para a formação de Estados — Formação de Municípios — Vedações constitucionais de natureza federativa 3. SISTEMA CONSTITUCIONAL DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS — Conceito de competências — Classificação das competências — Formação de Estados — Organização de plebiscitos para a formação de Estados — Formação de Municípios — Vedações constitucionais de natureza federativa 4. SISTEMA DE EXECUÇÃO DE SERVIÇOS 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 2 DIREITO CONSTITUCIONAL II -AULA N° 11 ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO BRASILEIRO 1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA FORMA FEDERAL DO ESTADO BRASILEIRO A Constituição Federal de 1988 adotou, para o Estado brasileiro, a forma federativa, forma essa que, primeiramente, foi constitucionalmente adotada por meio da primeira Constituição Republicana, de 1889. Segundo a atual Constituição Federal, a “...República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito...” (art. 1º, caput). “...O federalismo, como expressão do Direito Constitucional, nasceu com a Constituição norte-americana de 1787. Baseia-se na união de coletividades políticas autônomas. Quando se fala em federalismo, em Direito Constitucional, quer-se referir a uma forma de Estado, denominada federação ou Estado federal, caracterizada pela união de coletividades públicas dotadas de autonomia político-constitucional, autonomia federativa. O Brasil [...] assumiu a forma de Estado federal em 1889, com a proclamação da República, o que foi mantido nas constituições posteriores, embora o federalismo da Constituição de 1967 e de sua Emenda 1/69 tenha sido apenas nominal...”1. O que distingue a forma de Estado unitário da forma de Estado federal é, justamente, a existência ou não de coletividades regionais dotadas de autonomias político-administrativas, mais ou menos amplas conforme seja a conformação histórica, política e jurídico-constitucional do Estado em questão. — Estado unitário: constitui-se de um único centro de poder político com atuação por todo o território, população e coletividades regionais do Estado, e as eventuais descentralizações administrativas regionais e locais caracterizam-se por serem apenas autárquicas e não autônomas e nem políticas. Exemplos: Chile, França, Uruguai, Paraguai). 1 SILVA, José Afonso da.Curso de Direito Constitucional Positivo. 21ª ed. — SãoPaulo : Malheiros, 2002, p.99 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 3 — Estado federal: possui por maior característica a partição do poder entre unidades regionais situadas no território sobre o qual mantém a jurisdição. A par do poder central (que atua sobre todo o território e sobre toda a população do Estado), há, também, centros de poder regionais que desfrutam de autonomias administrativas, jurídicas e políticas, mais ou menos amplas conforme seja a conformação histórica, política e jurídico-constitucional do Estado em questão. Nos Estados Unidos, é ampla a autonomia dos Estados federados, ao passo em que, no Brasil, essa autonomia é bastante mais reduzida. Não obstante as autonomias regionais, somente o poder central detém a soberania e a representatividade perante a comunidade internacional. Exemplos: Estados Unidos, Brasil. — Estado autonômico (ou Estado regional): no entremeio entre o Estado unitário e o Estado federal, o Estado autonômico se constitui em alternativa à secessão em decorrências de razões étnicas, históricas, religiosas, políticas ou de quaisquer outras que, eventualmente, possam causar a separação de parte de determinado Estado já existente (unitário ou federal), tal como aconteceu as ex Iugoslávia, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Para evitar a separação, e como forma de manter o Estado constituído, resolve-se (administrativa, jurídica e politicamente), conceder maiores poderes e autonomias às regiões internas, que passam a deter maiores poderes administrativos, políticos e jurídicos, a exemplo do que se tem em Estados como a Espanha, a Itália. “...Mas o Estado federal é considerado uma unidade nas relações internacionais. Apresenta-se, pois, como um Estado que, embora aparecendo único nas relações internacionais, é constituído por Estados-membros dotados de autonomia, notadamente quanto ao exercício de capacidade normativa sobre matérias reservadas à sua competência...”2. 2 SILVA, op. cit., p. 101 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 4 No federalismo brasileiro, reconhece-se a soberania apenas à União, que representa o Estado da República Federativa do Brasil nas suas relações internacionais, mas, internamente, reconhece-se autonomia administrativa, jurídica e política aos Estados-membros, ao Distrito Federal e aos Municípios. A delimitação das autonomias dos entes políticos federados brasileiros é dada pela partição de competências outorgadas pela Constituição Federal. 2. A ESTRUTURA BÁSICA DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA A estrutura básica de federação brasileira consta do caput do artigo 18 da Constituição Federal, reforçando o contido no caput do artigo 1º, dizendo que compõem a República Federativa do Brasil a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, sendo o Brasil o único exemplo em que, constitucionalmente, os Municípios são considerados entes políticos federados, pois eles, em verdade, são divisões administrativas locais dos Estados-membros (Estados federais) ou dos próprios Estados (Estados unitários). CONSTITUIÇÃO FEDERAL Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. § 1º - Brasília é a Capital Federal. § 2º - Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. § 3º - Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se- ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relaçõesde dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 5 BRASÍLIA, SEDE DO DISTRITO FEDERAL E CAPITAL DA REPÚBLICA “...Brasília é a Capital Federal...” (CF/88, art. 18, § 1º), e “...não se encaixa no conceito geral de cidades, porque não é sede de Município. [...] Brasília tem como função servir de Capital da União, Capital Federal e, pois, Capital da República Federativa do Brasil, e também sede do governo do Distrito Federal, conforme dispõe o art. 6º da respectiva Lei Orgânica...”3. TERRITÓRIOS FEDERAIS Os anteriores Territórios Federais do Amapá e Roraima foram, com a Constituição Federal de 1988, transformados em Estados Federados, assim como já havia acontecido anteriormente com o então Território de Rondônia. Por sua vez, o Território de Fernando de Noronha, na mesma oportunidade, foi extinto e sua área incorporada ao Estado de Pernambuco. CONSTITUIÇÃO FEDERAL Ato Das Disposições Constitucionais Transitórias –ADCT Art. 14. Os Territórios Federais de Roraima e do Amapá são transformados em Estados Federados, mantidos seus atuais limites geográficos. § 1º - A instalação dos Estados dar-se-á com a posse dos governadores eleitos em 1990. § 2º - Aplicam-se à transformação e instalação dos Estados de Roraima e Amapá as normas e critérios seguidos na criação do Estado de Rondônia, respeitado o disposto na Constituição e neste Ato. § 3º - O Presidente da República, até quarenta e cinco dias após a promulgação da Constituição, encaminhará à apreciação do Senado Federal os nomes dos governadores dos Estados de Roraima e do Amapá que exercerão o Poder Executivo até a instalação dos novos Estados com a posse dos governadores eleitos. § 4º - Enquanto não concretizada a transformação em Estados, nos termos deste artigo, os Territórios Federais de Roraima e do Amapá serão beneficiados pela transferência de recursos prevista nos arts. 159, I, "a", da Constituição, e 34, § 2º, II, deste Ato. Art. 15. Fica extinto o Território Federal de Fernando de Noronha, sendo sua área reincorporada ao Estado de Pernambuco. Atualmente, inexistem Territórios Federais como entidades político- administrativas, porém, a Constituição Federal ainda deles trata no §2º do artigo 18, dizendo que os: “...Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar...”, considerando-os, então, meras autarquias federais4. 3 SILVA, op. cit., p. 471 4 SILVA, op. cit., p. 47 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 6 FORMAÇÃO DE ESTADOS Fundamento: Constituição Federal, artigos 18, § 3º, e 48, VI Os Estados são instituições que, como conditio sine qua non, tipificam os Estados federais, e independem das denominações que se lhes dêem: — Estados = Brasil, Estados Unidos, Venezuela — Províncias = Argentina — Cantões = Suiça — Länder = Alemanha “...Não é o nome que lhes dá a natureza, mas o regime de autonomia...”5. No Brasil, a possibilidade de se formar novos Estados-membros é dada pela Constituição Federal, nos artigos 18, § 3º, e 48, VI: Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. § 3º - Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre: VI - incorporação, subdivisão ou desmembramento de áreas de Territórios ou Estados, ouvidas as respectivas Assembléias Legislativas; Incorporar-se entre si= fusão entre dois ou mais Estados, sendo que o(s) Estado(s) incorporado(s) perde(m) sua(s) personalidade(s), que se integra(m) ao Estado-incorporador. Em tais casos, devem ser ouvidas as populações dos Estados que desejam se incorporar. “...No caso de incorporação de Estados entre si, devem ser ouvidas todas as Assembléias dos Estados que desejam incorporar-se...”6. 5 SILVA, op. cit., p. 471 6 SILVA, op. cit., p. 472 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 7 Subdividir-se= diz respeito à divisão do território em duas ou mais partes. Nessa hipótese, um Estado divide-se em dois ou mais Estados, perdendo sua original personalidade, com cada qual das partes assumindo personalidade própria. Deve-se, então, ser consultada a população do Estado que pretende subdividir-se. “...No de subdivisão, para formação de novos Estados, só há uma Assembléia a ser ouvida. Se a subdivisão destinar-se a anexar-e a outro ou outros Estados, as Assembléias destes também precisam ser ouvidas, para dizerem se aceitam ou não a anexação...”7. Desmembrar-se= trata-se da separação de uma ou mais partes do Estado original para formação de outro(s), sem que aquele perca sua personalidade original. É a separação de parte(s) do Estado original, sem que este Estado original deixe de sê-lo. Nessa hipótese, a parte que se separou pode tanto constituir novo Estado ou fundir-se a outro Estado já existente, ou, ainda, formar Território Federal. A população a ser consultada é aquela da área que deseja desmembrar-se do Estado original. “...No caso de desmembramento, ouve-se só a Assembléia do Estado desmembrando, se o desmembramento visa formar novo Estado, mas se este se destina a anexar a outro ou a outros, as Assembléias deste também devem ser auscultadas...”8. ORGANIZAÇÃO DE PLEBISCITOS PARA A FORMAÇÃO DE ESTADOS Os plebiscitos requeridos pelo § 3º do artigo 18 da Constituição Federal devem ser organizados e realizados pelos respectivos Tribunais Regionais Eleitorais, e, quando aprovados pelas populações consultadas a respeito das alterações propostas, seus processos são, então, encaminhados às Assembleias Legislativas envolvidas para que se pronunciem no prazo disposto na lei ou concedido pela Justiça Eleitoral. Ofertadas as manifestações pelas Assembleias Legislativas, os processos são encaminhados ao Congresso Nacional, para que haja a decisão por meio de lei complementar. 7 SILVA, op. cit., p. 472 8 SILVA, op. cit., p. 472 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 8 “...O plebiscito deve ser organizado pelos Tribunais Regionais Eleitorais. Verificado o pronunciamento plebiscitário favorável a qualquer das alterações mencionadas, o processo será remetido à Assembléia ou Assembléias competentes para pronunciamento no prazo legal, ou, na falta, em prazo indicado pela Justiça Eleitoral. Depois disso, o expediente seguirá para o Congresso Nacional, para decisão mediante lei complementar (art. 69). O Congresso não está vinculado nem ao pronunciamento plebiscitário nem ao das Assembléias, notando-se que estas não decidem, apenas opinam pela aprovação, pela rejeição ou simplesmente se abstêm de tomar partido...”9. FORMAÇÃO DE MUNICÍPIOS Fundamento: Constituição Federal, artigo 18, § 4º Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União,os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei. Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, os Municípios passaram, constitucionalmente, a integrar a federação brasileira, em evidente contrassenso com a própria natureza dos Municípios, os quais são divisões administrativas dos Estados federados. Há federação de Estados. Não há federação de Municípios. Nos Estados federais, o território é subdivido administrativa, jurídica e politicamente em território regionais dos Estados-membros (Províncias,Cantões, Länder). Nos Estados unitários é que, ausente a subdivisão territorial regional na forma dos Estados autônomos, há a subdivisão local do território em Municípios, porém, contraditória e heterodoxamente, a Constituição Federal de 1998 inseriu os Municípios brasileiros como entes políticos federados, em razão do quê houve e há muitas críticas de constitucionalistas a essa figura que se mostra estranha. Para a criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios, a Constituição Federal faz remissão à necessidade: 9 SILVA, op. cit., p. 473 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 9 — lei estadual, obedecido o período previamente estabelecido por lei complementar federal; — consulta prévia, por plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos nas alterações que se propõem; — Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados previamente, demonstrando que o(s) novo(s) Município(s) possui(em) viabilidade financeira para existir e para se governar sem a dependência exclusiva dos repasses constitucionais. “...Outro aspecto que mostra que os Municípios continuam a ser divisões dos Estados acha-se no fato de que sua criação, incorporação, fusão e desmembramento far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal (art. 18, § 4º [...]), e dependerão de plebiscito (que é sempre consulta prévia) das populações diretamente interessadas. A Constituição aqui, diferentemente do que fez em relação aos Estados, usou ”populações” no plural, a querer dizer que será consultada a população da área a ser desmembrada e da área de que se desmembra, ao contrário do que ocorreu sempre, quando o plebiscito importava apenas na consulta da população da área cuja emancipação se pleiteava...”10 VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS DE NATUREZA FEDERATIVA Fundamento: Constituição Federal artigo 19 Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. As disposições do artigo 19 da Constituição Federal constituem-se em normas gerais, direcionadas à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, objetivando o equilíbrio do sistema federativo. 10 SILVA, op. cit., p. 473 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 10 Ao vedar o estabelecimento de cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público, a Constituição busca reforçar a laicidade do Estado e a liberdade de consciência e de crença e o livre exercício dos cultos religiosos e a proteção aos locais de culto e a suas liturgias (art. 5º, VI), pondo obstáculo à mescla de assuntos estatais com assuntos religiosos, os quais, direta ou indiretamente, possuem tendência à teocratização do Estado. Com a vedação aos entes políticos federados de recusarem fé aos documentos públicos há o reforço aos princípios administrativos da legalidade dos atos da Administração e da moralidade administrativa. Ao não permitir que haja distinções entre brasileiros ou preferências entre si por parte da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a Constituição Federal ampara os princípios da igualdade e o da não-discriminação, e possibilita que a autoridade e ou o ente federal que pratique ato discriminatório por meio das distinções então vedadas possa sofrer punições estabelecidas em lei (art. 5º, XLI = “...a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais...”). 3. SISTEMA CONSTITUCIONAL DE REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS CONCEITO DE COMPETÊNCIAS “...Competência é a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade ou a um órgão do Poder Público para emitir decisões. Competências são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas funções. Isso permite falar em espécies de competências, visto que as matérias que compõem seu conteúdo podem ser agrupadas em classes , segundo sua natureza , sua vinculação cumulativa a mais de entidade e seu vínculo a função de governo...”11. 11 SILVA, op. cit., p.478 e 479 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 11 CLASSIFICAÇÃO DAS COMPETÊNCIAS12 Na forma constitucional brasileira, pode-se classificar as competências e dois grupos, com suas respectivas subclasses: COMPETÊNCIA MATERIAL COMPETÊNCIA LEGISLATIVA EXCLUSIVA “...Art. 21. Compete à União...” EXCLUSIVA “...Art. 25. [...] § 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. § 2º - Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação...” COMUM, CUMULATIVA OU PARALELA “...Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios...” PRIVATIVA “...Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre...” CONCORRENTE Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre...” SUPLEMENTAR “...Art. 24. [...]§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados...” No tocante à competência legislativa suplementar, deve-se atentar que: — no âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se- á a estabelecer normas gerais (art. 24, § 1º); — a competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados (art. 24, § 2º); — inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades (art. 24, § 3º); — a superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário (art. 24, § 4º); — aos Municípios compete legislar sobre assuntos de interesse local, suplementando a legislação federal e a estadual no que couber (art. 30, I e II); — a competência exclusiva não admite suplementariedade; — a competência privativa admite suplementariedade. 12 SILVA, op. cit.,p 475 a 481 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 12 “...Essas mesmas competências podem ser classificadas quanto à forma, conteúdo, extensão e origem...”13. Competência quanto à FORMA (processo de sua distribuição) a) competência enumerada ou expressa: quando exposta explicitamente pela Constituição Federal para determinado ente político federado (artigos 21 e 22); b) competência reservada ou remanescente: compreende as matérias não expressamente incluídas na enumeração constitucional, entendendo ser a competência que sobra a uma entidade, após a enumeração anterior da competência de outra (“...art. 25. [...] § 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição...”); c) competência residual: trata-se da competência que sobra após a enumeração das competências de todas as entidades federadas (art. 154, I); d) implícita ou resultante (inerente ou decorrente): “...porque decorre da natureza do ente [...], quando se refere à prática de atos ou atividades razoavelmente considerados necessários ao exercício de poderes expressos, ou reservados; por exemplo, no silêncio da Constituição de 1891, o STF decidiu que a expulsão de estrangeiros era da competência da União, embora isso não estivesse dito naquela Carta Magna...”14. Competência quanto ao CONTEÚDO — competência econômica — competência social — competência político-administrativa — financeira e tributária “...É cabível falar-se, também, numa área de competência internacional: direitos de paz e guerra, de legação e de fazer tratados, que, no Estado federal, é por princípio, exclusiva da União, se bem que se permite aos Estados federados, geralmente autorizados por órgãos federais (Senado, no caso brasileiro, art. 52, V), realizar certos negócios externos...”15. 13 SILVA, op. cit., p. 478 14 SILVA, op. cit., p. 478 15 SILVA, op. cit., p. 478 e 479 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 13 Competência quanto à EXTENSÃO Diz respeito à autorização constitucional concedida a uma ou mais entidade federada para a elaboração de normas legislativas ou para a concretização material de determinadas matérias, e se distingue em: — competência exclusiva, quando é concedida a uma entidade, com a exclusão das demais para atuar em determinada matéria (art. 21); — competência privativa, quando outorgada a uma entidade, porém, com possibilidade de delegação a outra (artigo 22, caput, cc. parágrafo único) e de competência suplementar (artigo 24 e parágrafos); — competência comum, cumulativa ou paralela, “...faculdade de legislar ou praticar certos atos, em determinada esfera, juntamente e em pé de igualdade, consistindo, pois, num campo de atuação comum a várias entidades, sem que o exercício de uma venha a excluir a competência de outra, que pode assim ser exercida cumulativamente (art. 23)...”16; — competência concorrente, com possibilidade de disposição sobre o mesmo assunto ou matéria por mais de uma entidade federativa (art. 24); — competência concorrente, com primazia da União para a fixação de normas gerais (parágrafos do artigo 24) — competência suplementar, correlata à competência concorrente, de diz do “...poder de formular normas que desdobrem o conteúdo de princípios ou normas gerais ou que supram a ausência ou omissão destas (art. 24, §§ 1º a 4º)...”17. Competência quanto à ORIGEM Originária Delegada Estabelecida originalmente pela Constituição em favor de uma entidade estatal Quando a entidade recebe sua competência por delegação da entidade estatal que a recebera originalmente da Constituição — artigo 21 - artigo 22, parágrafo único - artigo 23, parágrafo único 16 SILVA, op. cit., p. 479 17 SILVA, op. cit. 479 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 14 4. SISTEMA DE EXECUÇÃO DE SERVIÇOS A execução dos serviços e a prestação dos serviços públicos se inserem nas atividades precípuas que justificam a existência do Estado, dentre essas a de atender o interesse público e a de realizar o bem comum. E esses serviços são realizados e prestados por pessoas servidoras do Estado, a ele vinculadas. No sistema federativo brasileiro, todas as entidades federadas (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) possuem quadro próprio de servidores, aptos e habilitados à realização e à prestação de serviços, observadas as respectivas competências constitucionais determinadas a cada uma dessas entidades estatais. “...Outro problema que integra a estrutura do federalismo é o da execução de serviços de competência das entidades que compõem o Estado federal. É que, neste, como se sabe, as entidades autônomas têm organização administrativa e serviços que se incluem nas respectivas competências. [...] O sistema brasileiro é o da execução imediata. União, Estados, Distrito Federal e Municípios mantêm, cada qual, seu corpo de servidores públicos, destinados a executar os serviços das respectivas administrações (arts. 37 e 39)...”. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços transferidos — —art. 23, parágrafo único, cc. artigo 241 — Consórcio: acordo firmado por entidades políticas federadas, da mesma espécie (Município com Município; Estado com Estado); — Convênio: acordo firmado por entidades políticas de naturezas distintas (União-Estado; Estado-Municípios; União-Municípios), ou entre entidades públicas e entidades privadas, “...não nos parece estar excluída a possibilidade de convênios entre uma entidade federada e uma autarquia vinculada a outra entidade federada...”18 18 SILVA, op. cit., 481 FACULDADE DE DIREITO José Natanael Ferreira 15 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 28ª ed. —São Paulo : Malheiros, 2013 SILVA, José Afonso da.Curso de Direito Constitucional Positivo. 21ª ed. — São Paulo : Malheiros, 2002 _______. Aplicabilidade das normas constitucionais. 8ª ed. — Malheiros : São Paulo, 2012 TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 2ª ed. — São Paulo : Saraiva, 2002,
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