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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS (UFAL) CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA MARIA VICENTE DOS SANTOS GOMES OS CORDÉIS COMO FONTES HISTÓRICAS E COMO RECURSOS PEDAGÓGICOS: Olhares para a prática docente de uma professora do ensino fundamental numa escola pública de Maceió Maceió 2017� MARIA VICENTE DOS SANTOS GOMES OS CORDÉIS COMO FONTES HISTÓRICAS E COMO RECURSOS PEDAGÓGICOS: Olhares para a prática docente de uma professora do ensino fundamental numa escola pública de Maceió Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas, como requisito parcial para obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia. Orientadora: Profa. Dra. Roseane Maria de Amorim Maceió 2017� MARIA VICENTE DOS SANTOS GOMES OS CORDÉIS COMO FONTES HISTÓRICAS E COMO RECURSOS PEDAGÓGICOS: Olhares para a prática docente de uma professora do ensino fundamental numa escola pública de Maceió Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao corpo docente do Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas e aprovado em 6 de novembro de 2017. ____________________________________________________ Profa. Dra. Roseane Maria de Amorim (Orientadora) Universidade Federal de Alagoas Comissão Examinadora ____________________________________________________ Profa. Ma. Idnelma Lima da Rocha Universidade Federal de Alagoas __________________________________________________________ Profa. Ma. Lílian Bárbara Cavalcanti Cardoso Universidade Federal de Alagoas� A minha Vovó Francisca (in memoriam). Obrigada pela dedicação em cuidar de mim e de meus irmãos quando ficamos órfãos. Agradeço também o incentivo aos estudos, sempre me aconselhar a ser uma boa pessoa e “fazer o bem sem olhar a quem”. Dedico este trabalho a minha irmã, Maria José, e meu irmão, Pedro, pelo apoio. Amo vocês.� AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente, a Deus, que tudo criou, por estar sempre comigo e ajudado a enfrentar as dificuldades. Agradeço a minha mãe, Maria José (in memoriam), a dedicação e o amor dados a mim e a meus irmãos, e o colo de que até hoje sinto falta. A meu pai, Pedro Vitalino (in memoriam), o carinho e incentivo na vida, o amor dedicado a nossa família. Quero agradecer a minha Vovó Chiquinha (in memoriam), que sempre nos mostrou o caminho da honestidade e da sabedoria, o incentivo à leitura e a dedicação aos estudos, pois mesmo que nunca tenha estudado, dizia que a riqueza que nos deixaria era o estudo, que não tinha nada para nos dar (muitas vezes até o alimento, o que a fazia chorar), mas valorizava nossa educação. Agradeço a meu esposo, Ronaldo, meus filhos, Ronald e Ruan, o incentivo e compreensão na minha ausência; amo vocês. A minha tia Caitana, que sempre me incentivou ao estudo, e cuidou tão bem da minha irmã que sofre com depressão. Quero agradecer, em especial, a minha orientadora, Professora Roseane, a oportunidade de ter participado do seu grupo de pesquisa (de que me orgulho), a dedicação e paciência a mim depositada. Não tenho palavras para agradecer, é uma grande educadora, aprendi muito com a senhora. Que seu caminho seja muito iluminado por Deus. Agradeço, também, a todos os meus professores, Roseane, Adriana Cavalcante, Edna Bertoldo, Eraldo, Giordanna, Wilson, Walter, Ciro, Jorge, Auxiliadora, Jorge e a todos os outros a educação que me deram. Agradeço a todos que fazem parte da Escola Luiz Pedro IV as oportunidades dadas para minha aprendizagem. Quero agradecer a meu aluno Renaldo a sua amizade e alegria no momento de aprendizagem mútua. � Observe e reflita Que a vida é uma aventura É ver a flor desabrochar É o despertar da criatura É ver as dificuldades Com determinação e doçura Seja ousado, seja valente, Não se permita desanimar Pois bem lá na frente Você vai dizer que valeu a pena lutar. (Maria Vicente) � RESUMO Este trabalho teve por objetivo compreender os cordéis como fontes históricas e recursos pedagógicos. Para a realização desta pesquisa qualitativa, estuda-se não só sobre a História cultural, mas também se analisam alguns cordéis como documentos históricos, observando sua utilização como recursos pedagógicos no contexto escolar. O estudo divide-se em três partes, no qual, no primeiro momento, discorre-se sobre o papel dos cordéis na história cultural do Nordeste brasileiro. Na segunda parte, analisam-se alguns cordéis como fontes históricas e como recursos pedagógicos para a construção de conhecimentos. Já na terceira parte, analisa-se a prática docente de uma professora por meio de materiais didáticos produzidos pela educadora mediante a literatura de cordel, em um projeto de leitura na escola. Esta pesquisa é de grande importância, pois, por meio dos cordéis, pode-se trabalhar a diversidade e valorizar a cultura popular. Conclui-se que o cordel é um recurso muito eficiente na construção do conhecimento, porque, por ele se pode formar indivíduos conscientes e construtores da sua história. Palavras-chave: Cordel. Cultura popular. Fonte histórica. História cultural. Recursos pedagógicos. � ABSTRACT This work had as objective to understand the cordel as historical sources and pedagogical resources. For the accomplishment of this qualitative research, one studies not only on the Cultural history, but also analyzes some cordel as historical documents, observing their use as educational resources in the school context.This study is divided into three parts, in which we first discuss the role of the cordel in the cultural history of the Brazilian Northeast. In the second part we analyze some cordéis as historical sources and as pedagogical resources for the construction of knowledge. In the third part, we analyze the teaching practice of a teacher through didactic materials produced by the educator through cordel literature, in a reading project in the school. This research is of paramount importance, because through the cordel we can work on diversity and value popular culture. We conclude that the cord is a very efficient resource in the construction of knowledge, because through it we can form conscious individuals and constructors of their own history. Keywords: Cordel. Popular culture. Historical source. Cultural history. Pedagogical resources. � LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 1 – Capa do Projeto de Leitura e Escrita: tema Patativa do Assaré.....................................................................….......….... 46 Fotografia 2 – Contracapa do Projeto de Leitura e Escrita: biografia de Patativa do Assaré........................................................…….... 50 Fotografia 3 – Obras e livros de poesia de Patativa do Assaré....................... 51 Fotografia 4 – Atividade sobre Patativa do Assaré (a)..........……................... 52 Fotografia 5 – Atividade sobre Patativa do Assaré (b)..................................... 53 Fotografia 6 – Poema O poeta da roça de Patativa do Assaré ....................... 54 Fotografia 7 – Atividade sobre o poema O poeta da roça de Patativa do Assaré …………...…...............…………………………………... 55 Fotografia 8 – Definição de cordel................................................................... 56 � SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………… 10 2 O PAPEL DOS CORDÉIS NA HISTÓRIA CULTURAL DO NORDESTE BRASILEIRO ……….....................................................................…….... 13 2.1 A ORIGEM DO CORDEL..................................................……................. 15 2.2 A CHEGADA DOS CORDÉIS AO BRASIL...............……....................... 19 3 ALGUNS CORDÉIS COMO FONTES HISTÓRICAS E COMO RECURSOS PEDAGÓGICOS PARA CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO……….....................................................................28 4 PRÁTICA DOCENTE DE UMA PROFESSORA COM MATERIAIS DIDÁTICOS PRODUZIDOS PELA EDUCADORA POR MEIO DE CORDÉIS……........................................................................................... 46 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS…………...……………………………………... 72 REFERÊNCIAS………………………………………………………………… 74 � 1 INTRODUÇÃO Durante nossa trajetória escolar, pouco ou quase nada ouvimos falar sobre o cordel, não se dá a devida importância que ele tem no ambiente escolar, pois o cordel tem o papel de preservar nossa cultura para que resgatemos nossas raízes. O cordel na escola não só resgata as diversas culturas, mas também induz as crianças a pegarem gosto pela leitura e assim aprendam de forma lúdica e crítica. Em minha vida escolar, lembro vagamente de ter ouvido falar sobre o cordel, porém foi na Universidade Federal de Alagoas que, ainda no primeiro período de Pedagogia, tive a oportunidade de aprender sobre o cordel com mais ênfase por intermédio de uma professora, que lecionava a matéria de História da Educação. Ao explorar e proporcionar experiências sobre o cordel, ela me deixou bastante curiosa para aprender como trabalhá-lo em sala. Esse foi o ponto de partida para que futuramente pudesse dar início ao meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O cordel durante anos vem contribuindo para a história cultural, porém observa-se que tem sido deixado para trás, pois sua importância pouco ou quase nada é vista pela sociedade, deixando de lado uma cultura, uma preciosidade. A escola é o lugar onde as culturas devem florescer, e o cordel tem seu papel importante na escola, pois, por meio dele, é possível resgatar culturas. Com isso, o professor pode trabalhá-lo na sala de aula de forma criativa, tornando assim o contexto escolar não só interessante, mas também um ambiente que promove o processo de aprendizagem de forma significativa, visto que: Ao se trabalhar com esses cordéis como fontes históricas, acreditamos que eles podem trazer informações adicionais a abordagens contidas nos textos tradicionais, porque possuem uma ótica diferente, revelando aos leitores e pesquisadores uma história de nosso país construída por pessoas comuns. Nas rimas do cordel é possível encontrar uma variedade de temas, situações humanas, relatos históricos, biografias, tragédias, comédias, casos inusitados, nos revelando a forma com que seus autores percebem os acontecimentos ao seu redor. (GRILLO; LUCENA, 2014, p. 93). Observamos que, pelo cordel na sala de aula, será possível contar histórias nos mais diversos contextos, teremos melhor ênfase na linguagem das crianças; ela, conhecendo as origens, aprenderá a contar histórias com bastante criatividade e poesia; instigando, assim, a criança a uma aprendizagem significativa, pois: Ao ensinar os alunos a formar suas próprias ações durante a leitura, por meio de questões e soluções, o educador instrui as crianças a organizar o seu próprio pensamento, levando-as a se tornarem cada vez mais independentes no processo de ler e aprender com um texto. (ALVES et al., 2011, p. 61). O educador, que assim faz, não só cumpre sua obrigação, mas também leva a escola a cumprir sua função social. Se quisermos um mundo melhor para nossos educandos, devemos instigá-los a refletir sobre sua vida para que conheça seu espaço, depois sobre o mundo, para que assim possa ter um amplo entendimento e conhecimento de tudo o que o rodeia. Não podemos conhecer o universo sem antes nos reconhecer nele, como também não podemos conhecer quem somos (nossa identidade) se não conhecemos nossa cultura, nossos antepassados, etc. Marinho e Alves (2012, p. 106) destacam: Na sala de aula, é importante que o professor tenha sempre a preocupação de não transformar o folheto em mero relato jornalístico. O que interessa é perceber como o poeta se posiciona diante da história, tendo sempre em vista o caráter ficcional desta produção. Utilizando o cordel na sala de aula, estaremos não só valorizando nossa cultura, mas também estaremos resgatando nossas raízes, reconhecendo nossa identidade. Essas contribuições possibilitam ao aluno respeitar a diversidade cultural, que é fundamental tanto para viver no âmbito escolar quanto na vida em sociedade. Neste trabalho destacaremos a importância do cordel como fonte histórica, observando que durante décadas ele contou nos seus folhetos a história de vários povos de forma lúdica, levando cultura e informação, sendo usado até como uma espécie de jornal, estimulando muitos a ler as histórias engraçadas, como também outros tantos foram alfabetizados. Sendo assim, indagamos: de que forma os cordéis podem ser utilizados como fontes históricas e como recursos pedagógicos na formação de crianças e adolescentes? A metodologia desta pesquisa é de cunho qualitativo, bibliográfico e documental�, no qual nossos objetivos são: a) discorrer sobre o papel dos cordéis na história cultural do Nordeste brasileiro; b) analisar alguns cordéis como fontes históricas e como recursos pedagógicos para construção de conhecimentos; por fim, c) analisar a prática docente de uma professora com materiais didáticos produzidos pela educadora por meio de cordéis. Meus estudos estão alinhados à história cultural, pois esta corrente historiográfica tem dado ênfase aos hábitos cotidianos de pessoas comuns que, por meio de suas pequenas ações, transformam e modificam o mundo. Dão destaque à diversidade cultural de forma que se possam trabalhar essas diferenças no contexto escolar. Nessa perspectiva, na seção 2, discorreremos sobre o papel dos cordéis na história cultural do Nordeste brasileiro, que vai desde a origem do cordel na Europa até o Nordeste brasileiro, depois se expandiu por todas as regiões do Brasil. Já na seção 3, analisaremos alguns cordéis como fontes históricas e recursos pedagógicos para a construção de conhecimentos. Na seção 3, veremos alguns cordéis como fontes históricas e como recursos pedagógicos para construção de conhecimento. Na seção 4, analisaremos a prática docente de uma professora por meio de materiais didáticos produzidos pela educadora e também viajaremos através de alguns cordéis produzidos por seus alunos. Percorreremos agora sobre o papel que o cordel tem na História Cultural, bem como sua origem e trajetória até chegar ao Nordeste brasileiro e se expandir por todo o País. � 2 O PAPEL DOS CORDÉIS NA HISTÓRIA CULTURAL DO NORDESTE BRASILEIRO SECA NO NORDESTE Chegou a seca de novo Que triste situação É ver tanto nordestino Homem, mulher e menino Passar fome no sertão! Não tem água nem comida Tudo que tinha acabou No rio só tem areia Já faz tempo que secou E no meio da lagoa Onde a água era tão boa De tão seco já rachou! E o nordestino coitado Vive só de esperanças Fica olhando para o céu E lhe vem tristes lembranças Das secas que já viveu Desde os tempos de criança. E onde tá o governo? Não ta vendo isso não? Já me disse um sertanejo ‘Isso é veio meu patrão, Eles só lembra, dotô, Que agente é inleitô In tempo de inleição’ (LIMA, 2010). Este cordel retrata como era a vida dos nordestinos que viviam no sertão, todo sofrimento da falta de água. Por fim, faz uma crítica aos governos que não enfrentam o problema da seca de forma efetiva. Com isso, podemos observar que este cordel usado na sala de aula proporcionaria debates, discussões em torno dos conteúdos, sobretudo uma aprendizagem ampla e bem significativa para os educandos, levando-os a refletir sobre sua vida e a vida em sociedade. Com essa literatura, foi possível conhecer a vida e o cotidiano de um povo que ora estava feliz contando anedotas e contos engraçados, ora deixava exposto em seus livretos sua tristeza em abandonar sua terra por causa da seca; Desse modo, o cordel tornava-se um alento para muito nordestinos. Porém havia os que se orgulhavam do Nordeste e, mesmo com a seca, não pensavam em deixar o sertão. Como podemos observar no poema de Patativa do Assaré (2014, p. 78): Sou um caboco rocêro,Sem letra e sem istrução, O meu verso tem o chêro Da poêra do sertão; Vivo esta solidade Bem destante da cidade Onde a ciença gunverna. Tudo meu é naturá, Não sou capaz de gostá Da poesia moderna. Na obra acima, podemos analisar o cotidiano de um homem que, mesmo não alfabetizado, é capaz de passar para o papel sua vida e seu orgulho de ser nordestino apesar de todo o sofrimento causado pela seca. O que seria da história sem os cordéis? Eles são retratos vivos de nossa história, seja ela de alegria, seja de dor. Por essas obras, tomamos conhecimento de histórias vividas em outra época, em outro momento de vida. A literatura de cordel tem seu papel importante não só para nossa história, mas também para a escola, consequentemente para a sociedade. Pena que é pouco valorizado e utilizado como material didático. Muitos educadores ainda não têm conhecimento ou até mesmo a consciência de sua importância para nossa cultura e para o contexto escolar Um tesouro que poderia ficar escondido e esquecido, mas graças a alguns cordelistas e professores, isso não acontecerá. Agora, conheceremos um pouco sobre a origem do cordel e depois toda sua trajetória até chegar ao Brasil. O cordel apareceu no Nordeste, depois se espalhou por todo o País logo após a migração dos nordestinos que, por causa da seca, tiveram de deixar sua casa para se aventurar nas grandes cidades. Porém, sem jamais esquecer suas raízes, levaram no peito o cordel, o qual era falado em ruas e praças. Vejamos agora sua origem. � 2.1 A ORIGEM DO CORDEL ORIGEM DO CORDEL Sei que o leitor amigo Talvez nunca escutou A origem do cordelismo Onde tudo começou Veja agora meu colega Como se popularizou Foi lá na Idade Média Que começou a circular Quando se desenvolveu A literatura popular Feita por homens do povo Sem instrução escolar Cordel é assim chamado Devido à sua exposição Pois ele é vendido Dependurado em cordão Feiras, mercados, praças São lugares da emoção (ALMEIDA, 2017). O poema acima conta um pouco da história do cordel. Poemas como esse também podem ser lindos na sala antes de uma discussão sobre o cordel, levando o aluno a ter contato prévio com a leitura de forma agradável. A palavra cordel é derivada da palavra cordão. Como vimos no poema, os folhetos eram pendurados em cordas para ser vendidos nas ruas. Foram os pesquisadores da nossa cultura que denominaram a expressão “literatura de cordel” aos folhetos vendidos nas feiras das pequenas cidades do interior do Nordeste brasileiro. Vários estudos indicam que a literatura de cordel tenha-se originado entre os séculos XVII e XIX, e está ligada a uma tradição europeia, que foi responsável por dar forma própria aos textos, organizando-os em tipos gráficos específicos, os quais ficaram conhecidos como folhas volantes. Porém, para Parmegiani e Santos (2014, p. 20): É preciso assumir o fato de que, realmente, não há nada que identifique este material na Europa entre os séculos XVII e XIX, a não ser a questão editorial, a qual permitiu a divulgação de textos de origens e gêneros variados para amplos setores da população. A palavra cordel também está ligada à forma como era feita a produção e circulação desses textos na Europa, e não somente ao fato de ser uma obra literária. Eram identificados como literatura de cordel os textos que tinham estruturas narrativas, a exemplo dos romances, peças teatrais, contos, relatos de ficção e histórias. Entretanto, não eram reconhecidos como tal os manuais de decifração de sonhos e os horóscopos, apesar de serem impressos no mesmo padrão e vendidos da mesma forma que os cordéis. Segundo Parmegiani e Santos (2014), na Europa, no fim do século XVII, houve um aumento considerável no número da circulação dos livros impressos; consequentemente, o acesso à alfabetização aumentou, e assim se estreitou a relação da sociedade com a leitura, pois até então esse privilégio era dado somente à elite governante, e não ao povo. O livro foi incorporando-se aos hábitos dos grupos sociais, ficando cada vez mais amplo e mais presente no cotidiano das pessoas. Os analfabetos acabaram fascinando-se com o mundo da leitura, a que antes não tinham oportunidade, eram indivíduos desprovidos do hábito de ler, mas agora estavam conhecendo o universo das letras. Em 1696, com a revogação da Lei de Licença na Inglaterra, o que acarretou a liberdade de imprensa na Europa, acabou também aumentando o crescimento das publicações. Naquele período, em quase toda a Europa, os camponeses, os comerciantes e as mulheres poderiam desfrutar a distribuição literária, antes controlada por um poderoso clero e pelos abastados instruídos. Conforme Parmegiani e Santos (2014, p. 21), os: Livretos vendidos por mascates passaram a circular cada vez mais na Europa, neste período. As folhas impressas tinham, em geral, o formato de in-duodécimo (quadrado dobrado em doze partes) e quando impresso em ambos os lados, inteirava vinte quatro páginas por livretos, o formato mais popular entre o povo [...]. Os livretos apresentavam assuntos relacionados com a iniciação à etiqueta, o comportamento social, fatos marcantes, dentre outros. Todavia, mesmo sendo publicações curtas, baratas e com capítulos breves, a maioria do público que consumia esses livretos tinha muita dificuldade nesse tipo de leitura. Segundo Parmegiani e Santos (2014), no fim do século XVIII e meados do século XX, com a Revolução Política Americana, a Revolução Industrial Inglesa e a Revolução Social Francesa, houve mudanças significativas em termos sociais, consequências essas irreversíveis, que acabaram afetando o universo dos livros e também de seus leitores. Com a concentração de habitantes nas cidades, a alfabetização alcançou os níveis mais baixos da população, tornando, assim, a leitura mais fácil. Os mascates que vendiam livros foram os primeiros que perceberam a oportunidade desse mercado na camada mais humilde, isso desde que o título desses livros fosse ampliado e o preço rebaixado. Só por uma visão editorial, é possível compreender a existência do grande volume de obras traduzidas e adaptadas para o Português de autores como Corneille, Molière, Voltaire, entre outros. No século XVIII e início do XIX, com o aumento do número de tipografias e editoras, nasceu um mercado que consumia obras de sucesso, as quais eram adaptadas ao mundo da literatura de cordel. Segundo Parmegiani e Santos (2014, p. 23): Se por um lado, fica claro que o repertório de textos divulgados sob a forma de cordel não é, em si mesma, popular, por outro podemos dizer que os autores e adaptadores parecem ter sido guiados pela imagem que tinha do público a ser atingido, de suas capacidades e aspirações. A possibilidade de acesso á chamada ‘alta literatura’ não era facultada a todos aqueles que pertenciam ás elites econômicas, posto que, as barreiras culturais não são necessariamente coincidentes com as barreiras sociais. As histórias eram extraídas de fontes variadas, eruditas e populares, orais ou letradas, contemporâneas ou muito longínquas. Observa-se que não podemos considerar o cordel europeu como um material oral. Isso se deve à sua produção, pois eles eram escritos com a finalidade de serem publicados, ou já vinham de uma longa tradição escrita, sendo apenas adaptadas a esse tipo de editorial. Ele está mais vinculado ao preço das edições do que ao conteúdo, sendo assim considerado mais um gênero editorial do que mesmo um texto literário; tendo em vista que existem características dos cordéis europeus que são bastante diferentes dos textos nordestinos. Parmegiani e Santos (2014, p. 26) ressaltam: Mesmo havendo significativas diferenças entre o cordel europeu e os folhetos nordestinos no que tange ao modo de produção, circulação e público, pode-se ver que há um ponto central de divergência entre as duas produções no que diz respeito ás características internas aos textos. Já se viu que existe pouca unidade no interior da literatura de cordel lusitana; entretanto,o mesmo não pode ser dito em relação aos folhetos nordestinos, cujas características permitem a definição clara do que seja um ‘folheto’. Já em Portugal, o cordel tinha a tradição de obras de autores como Molière e Corneille, e só no início do século XIX, foi ampliado para diversos gêneros textuais. Os cordéis portugueses tinham predileção pelas hagiografias e textos religiosos, deixando de lado as críticas, sejam elas dos costumes ou não. No entanto, no que diz respeito à transição dos personagens, Parmegiani e Santos (2014, p. 27) afirmam: Algumas tópicas literárias são recorrentes tanto no cordel europeu quanto nos folhetos nordestinos. Em ambos, os personagens transitam por locais semelhantes, como furnas, ilhas desertas e castelos. O tópico do reconhecimento e o das viagens – como deflagradoras da trama ou como tentativas de solucionar um conflito – aparecem igualmente no conjunto de textos. É recorrente também, a intervenção dos seres divinos, como santos, a virgem Maria ou parentes mortos – para auxiliar os heróis em dificuldades. Marinho e Alves (2012) destacam que em Portugal eram chamados cordéis os livros impressos em papel barato, vendido em feiras, praças e mercados. Os cordéis publicados eram dos mais variados tipos como romances, poesias, histórias, peças teatrais, contos. Os cordéis de Portugal eram escritos e lidos pelas elites. Conforme Silva e Gomes (2014), em Portugal, mais especificamente, a primeira notícia que se tem sobre a literatura de cordel vincula-se ao nome de Gil Vicente, que publicou, nessa forma, algumas de suas peças. Vejamos agora como o cordel chegou ao Brasil e se destacou no Nordeste brasileiro. � 2.2 A CHEGADA DOS CORDÉIS AO BRASIL O sabiá e o gavião Eu nunca falei à toa. Sou um cabôco rocêro, Que sempre das coisa boa Eu tive um certo tempero. Não falo mal de ninguém, Mas vejo que o mundo tem Gente que não sabe amá, Não sabe fazê carinho, Não qué bem a passarinho, Não gosta dos animá. Já eu sou bem deferente. A coisa mió que eu acho É num dia munto quente Eu i me sentá debaxo De um copado juazêro, Prá escutá prazentêro Os passarinho cantá, Pois aquela poesia Tem a mesma melodia Dos anjo celestiá (PATATIVA DO ASSARÉ, 2013). Antônio Gonçalves da Silva, conhecido por Patativa do Assaré, é um dos grandes poetas do Nordeste brasileiro. O apelido de Patativa foi uma referência a um pássaro de canto muito bonito. Ele nasceu em 5 de março de 1909, na cidade de Assaré, estado do Ceará. Suas obras eram voltadas para o povo oprimido e marginalizado. Morreu no dia 8 de julho de 2002, em Assaré, aos 93 anos de idade, e até hoje seus belos poemas encantam o mundo inteiro, levando emoção ao coração de quem lê suas obras. Nesse cordel podemos sentir o amor que ele tem por sua terra, pelos pássaros, e também observar sua crítica a quem não gosta dos animais. Um poema como esse pode ser usado para trabalhar com as crianças sobre o meio ambiente, os animais, etc. Quando os cordéis chegaram ao Brasil? Os cordéis chegaram ao nosso país no século XVIII por intermédio dos colonizadores portugueses. No Brasil, a produção da literatura de cordel foi diferente da produzida em Portugal e na Europa. Primeiro os textos circularam de forma oral, depois os poetas, no início século XX, eram os que ficavam responsáveis pela publicação de toda a sua obra em folhetos. Ainda no período Colonial a Literatura de Cordel adentrou ao Brasil a partir de Salvador, na Bahia, ganhou o Sertão do Nordeste, com as entradas e bandeiras, movimento conduzido pelos colonizadores em busca do ouro, índios para escravizá-los e de aberturas de novas frentes geográficas desbravadoras, com a criação de gado. O Rio São Francisco teve um papel fundamental para a expansão dessa literatura, pois ligou Minas e Bahia a Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Ligou o interior do Brasil ao oceano, o nosso mar imenso de Camões, Amado e Pessoa. Depois o Cordel conquistou os centros urbanos, a partir de Recife (PE) e João Pessoa (PB), e desenvolveu-se em importantes centros como Campina Grande (PB), Caruaru (PE), Juazeiro do Norte (CE), Petrolina (PE) e Juazeiro da Bahia (BA), por serem, estas localidades, importantes centros irradiadores de mercadorias e ideias, pois eram centros que exerciam influência econômica e social sobre grandes áreas rurais e faziam a ligação entre o interior e o litoral, ponto de partida e chegada de informações sobre o mundo. (SILVA, 2012, p. 57-58). Segundo Marinho e Alves (2012, p. 17), “no Brasil cordel é sinônimo de poesia popular em verso”. Observa-se que esse tipo de poesia já fazia parte da vida dos nordestinos no fim do século XIX e início do século XX. Os poetas brasileiros acabaram criando vários personagens para seus cordéis; dentre eles, estão homens fortes e valentes, e heróis cangaceiros. No Brasil, as folhas volantes para serem reconhecidas como cordel tinham de seguir uma forma estabelecida para tal, regra essa que deveria ser seguida por todos os cordelistas. Sendo assim: No Brasil é possível apontar a questão da forma como característica dos textos publicados nos folhetos volantes, ou seja, a uma relação entre o suporte e os elementos do trabalho e composição poético. Existe uma forma pré-estabelecida a ser respeitada para que o texto se enquadre na estrutura oficial do cordel, o que permite distinguir o que é ou não um folheto. (PARMEGIANI; SANTOS, 2014, p. 26). Entre os requisitos mínimos exigidos para a composição do cordel, estava que a escrita fosse feita em sextilhas e septilhas. Contudo, não havia nenhuma exigência quanto ao tema, pois os critérios para excluir os folhetos estavam ligados à forma, e não à temática. Observa-se, também, que muitos folhetos traziam em si composições engraçadas, por meio das rimas se criavam situações com facetas, levando alegria a todos. Desse modo: Em todo Nordeste circulava este tipo de poesia, cujo efeito era o riso, nascido do desencontro de tempos, de personagens e outros absurdos. O próprio Patativa do Assaré, instado pela poesia de Zé Limeira, entrou na brincadeira e escreveu o ‘Encontro do Patativa do Assaré com a alma de Zé Limeira o poeta do absurdo’. Trata-se de um poema em décimas, com versos eneassílabos – ‘nos dez de galope da beira do mar’. (MARINHO; ALVES, 2012, p.123). Os primeiros cordéis foram impressos em tipografias de jornais ou até mesmo em casas responsáveis por esse tipo de serviço por encomenda. Entretanto, no fim do ano de 1910, os poetas populares acabaram tornando-se proprietários de impressoras. Só em 1918, surgiu a Casa Publicadora de folhetos, e as mais importantes estavam localizadas em João Pessoa e Recife. O cordel, ao chegar ao Brasil, encantou os brasileiros, primeiro os nordestinos analfabetos, que, pelas rimas, aprenderam a ler e a pôr no papel um pouco da sua vida, acontecimentos e até anedotas. Quando ainda não havia O rádio e a televisão E os jornais não chegavam Pra toda população O folheto de CORDEL Era o JORNAL DO SERTÃO Lendo folhetos, então O nosso povo sabia Lenda de rei e princesa E fato que acontecia... Por ser cultura do povo Inda resiste hoje em dia (VIANA, 2004, p. 30). Esse poema do cordelista cearense Arievaldo Viana revela um pouco do que o cordel representava para o povo nordestino em tempos em que ainda não existiam meios de comunicação mais avançados como a televisão, computador, rádio. Eles viam no cordel uma forma de lazer, de esquecer os problemas vividos com a seca do sertão. Depois, com a migração dos nordestinos para as grandes cidades, os cordéis se espalharam por várias regiões do país. Nota-se que o cordel é uma fonte histórica muito importante para nós, pois foi por ele que resgatamos culturas e tivemos conhecimento de histórias em tempos que não foram os nossos. É lamentável que, sendo tão rico, é pouco conhecido, e o que é pior, muitas vezes não é reconhecido como fonte histórica e muitomenos como recurso pedagógico. Como educadores, devemos valorizar a cultura, buscando metodologias que levem os educandos a conhecer e se reconhecer por meio de seus costumes, descobrindo e valorizando sua identidade, pois só dessa forma serão respeitadas as diferenças dos outros. O cordel seguinte faz uma ótima observação sobre a relação entre a juventude e a cultura. Juventude e cultura A cultura brasileira Focaliza-se em 3 etnias Índios, brancos e negros Berço da nossa nação História e expressão Deu-se a civilização. Tudo o que nos cerca É cultura Essa diversidade imensa Do levantar, ao dormir A comida que nos alimenta A maneira de nos vestir. São culturas também As palavras que escrevi A leitura que faço Desses versos que produzi A maneira que me manifesto Para com vocês interagir. As características regionais Do nosso Brasil plural Rico em diversidade Mais que preserva o tradicional Bumba–meu-boi, frevo Forró, carnaval e Maracatu rural. O jovem traz consigo A fé no Deus criador A vontade de se expressar Arte, cultura e louvor Semeando a esperança Cultiva paz e amor. A juventude se expressa Com o seu próprio corpo Cortes de cabelos, piercing e tatuagem Variedades em talentos E forma de linguagens É o Brasil plural rico em diversidade Punk, rock e carnaval e muita honestidade. Dança, música e fotografia São variedades Que incultura o jovem Que esbanja criatividade Que através da arte Transforma a sociedade. Forró e semi-árido é a cara Da nordestinidade Churrasco e chimarrão Sul da brasilidade Caprichoso e garantido Amazonas é diversidade A juventude escreve muito E tem literatura como base Cora Coralina, Machado de Assis Aloísio de Azevedo e José de Alencar Esses são alguns escritores Que influenciam o nosso pensar. A cultura tecnológica É uma grande evolução Pois até a pintura rupestre Nos influenciam meus irmãos Artesanato é cultura São várias, as formas de expressão. E para lhes informar É muito gratificante lembrar Da pessoa de Dom Helder Grande exemplo a seguir Que sabia que é sonhando Que podemos conseguir. Muita festa Muita reza E muita luta É assim que as juventudes Evangelizam, transformam E demonstram suas condutas (DAMASCENO, [2017]). A autora Geisa Damasceno faz uma referência sobre a juventude, a diversidade cultural, a fé em Deus, a literatura, autores, danças, etc. Um poema como esse é muito rico e pode ser trabalhado no contexto escolar, pois ele instiga o aluno a refletir sobre tudo ao seu redor, levando a respeitar as diferenças. A partir disso, podemos compreender quanto o cordel tem sido importante para a cultura, uma vez que cada pessoa, ao contar sua vida pelo cordel, deixa-a registrada, e assim as histórias se multiplicam, ampliam-se os conceitos e a cultura, levando a uma compreensão maior do conhecimento científico. Vejamos o próximo cordel. A seca do Ceará Seca as terras as folhas caem, Morre o gado sai o povo, O vento varre a campina, Rebenta a seca de novo; Cinco, seis mil emigrantes Flagelados retirantes Vagam mendigando o pão, Acabam-se os animais Ficando limpo os currais Onde houve a criação. Não se vê uma folha verde Em todo aquele sertão Não há um ente d’aqueles Que mostre satisfação (BARROS, 2016). O paraibano Leandro Gomes de Barros, autor desse cordel, é considerado o pai do cordel no Brasil e um dos maiores poetas do mundo. Nesse poema podemos observar o sofrimento do povo nordestino no período da seca. Entre as obras dele, está o clássico “cachorro dos mortos”, em que conta a história da morte violenta de uma família inteira, ficando vivo só o cachorro das vítimas. Vejamos um trecho deste belo poema, que, na verdade, é uma crítica à injustiça sofrida por essa família. O cachorro dos mortos Os nossos antepassados Eram muito prevenidos Diziam: ‘Matos têm olhos E paredes têm ouvidos, Os crimes são descobertos Por mais que sejam escondidos.’ (BARROS, 2015, p. 7). Esse poema traz em si um ditado popular, revivendo uma cultura que é passada de geração em geração. Daí serem os cordéis fundamentais na história cultural do Nordeste brasileiro, uma vez que, por meio deles, foi possível contar e guardar histórias e contos que foram passados de geração em geração. Os cordéis têm um papel formidável não só na vida dos nordestinos, mas também em nossa cultura brasileira. Deste modo, ao longo dos anos, foram sendo desenvolvidas características de um cordel, no Nordeste, onde se expressa o gosto, os sentimentos, o modo de pensar e o modo de viver do povo nordestino. Como ser de relações, o ser humano vive em contexto que lhe permite modificar e construir seu espaço e a si próprio [...]. (SILVA, 2012, p. 56). O papel do cordel no Nordeste brasileiro não abrange só sua identidade cultural, mas também a de informação, uma vez que pelos folhetos se tomava conhecimento de fatos ocorridos na região. É importante reiterar que muitos nordestinos aprenderam a ler pelos cordéis, ampliando seus conhecimentos. Tendo em vista que: No Nordeste brasileiro o cordel passou a ser um veículo de comunicação, a partir do qual a sociedade colonial podia universalizar a sátira, a crítica, o romance e até o cancioneiro popular, ou seja, os fatos históricos que marcaram a formação sociocultural do nordestino, foram aí retratados, as relações sociais, esse processo se estende até os dias atuais. Portanto, o mesmo foi e é capaz de ressignificar e configurar o sentido da vida humana. (SILVA, 2012, p. 52). O cordel nordestino tem uma forte ligação com as cantorias, visto ser uma tradição que está no Nordeste desde o fim do século XIX e o início do século XX. Por conseguinte: É importante destacar, que essa prática cultural ganhou, no sertão nordestino, peculiaridades que as distingues das demais produções semelhantes, a começar pelo acompanhamento musical. Em outros locais como nas cantigas europeias, geralmente, os instrumentos soavam em conjunto com o canto. Nessas cantorias nordestinas, no entanto, a emissão da voz aparecia desvinculada da música: os instrumentos eram tocados exclusivamente nos intervalos, numa espécie de solo, entre as apresentações dos cantadores. (PARMEGIANI; SANTOS, 2014, p. 28). Havendo, assim, até duelos entre dois cantadores, em que a disputa era feita de forma verbal, musicada e rimada. Esses desafios foram elementos importantes das cantorias. Os duelos foram significativos para o cordel ganhar destaque e ficar na memória do povo sertanejo. Parmegiani e Santos (2014, p. 28) afirmam que “[...] numa cultura oral tudo que é menos memoriável tende a desaparecer”, visto que: A linguagem participa no processo de rememoração como socializadora, como possibilitadora das relações da memória individual com a memória do grupo de convivência. Neste sentido, convém lembrar que nos fazemos sujeitos históricos num processo relacional com o outro, tendo como elemento mediador a linguagem. Ao falar, dialogar, contar as nossas experiências e ouvir contar as experiências dos outros nos constituímos sujeitos. (PAIM, 2010, p. 87). Com a chegada da crise ao Nordeste, que ocorreu no Brasil na virada do século XIX, muitos nordestinos tiveram de deixar sua terra e mudar para as cidades grandes. Uma das causas dessa crise foi a seca no sertão, o que resultou em vários poetas escreverem seus poemas pautados no sofrimento do povo sertanejo. Os primeiros escritores de folhetos que saíram do campo em direção ás cidades levaram consigo a esperança por melhores dias e as lembranças de contos e histórias de príncipes e princesas, reinos distantes, homens valentes e mocinhas indefesas, além das canções dos violeiros e repentistas que viajaram pelas fazendas animando festas e desafiando outros contadores. Vivendo nas cidades, os poetas começaram a transpor para o papel todo este universo de experiências. Além dos contos e cantorias de viola, estavam guardados na memóriao som dos maracatus, dos reisados, do coco, da embolada. É essa cultura, influenciada pelos ritmos afro-brasileiros, pela mistura entre rituais sagrados e profanos, que faz do cordel uma produção cultural distinta das outras (MARINHO; ALVES, 2012, p. 17-18). Nos tempos de seca no Nordeste, o cordel foi um alento para os nordestinos que acabaram registrando no papel todo o sofrimento de ver sua terra querida secar de maneira drástica e triste; buscavam, então, não só informar, mas expandir seus desalentos. Alguns desses cordéis vinculam a seca do Nordeste não só como se fosse resultado dos “nossos pecados”, mas também como uma forma de criticar o sistema capitalista que estava em andamento. Diante das transformações em curso no mundo tradicional, a literatura de cordel veicula um discurso onde a seca aparece como um elemento de denúncia contra as mudanças, estes ‘pecados’. A seca seria um ‘aviso de Deus’ de que este não aprovava as transformações em curso. Na verdade, este discurso deixa transparecer o desagrado do homem pobre com as transformações que estavam ocorrendo no seu cotidiano, á medida que as relações sociais capitalistas começaram a se estabelecer. (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2014, p. 63). O cordel, ao chegar às grandes cidades, foi vendido em praças e nas ruas por pessoas simples que declamavam seus versos, ou até mesmo cantavam em toadas. Essa foi a maneira que muitos nordestinos semialfabetizados e pobres acabavam entrando no fascinante mundo das tipografias e da escrita, assim não tem só a forma oral, agora tem seu formato na escrita. Desse modo: é esse trânsito entre escrita e oralidade presente nesse tipo de literatura que pode nos explicar o surgimento de uma literatura de cordel escrita e impressa, em meio a uma grande maioria analfabeta no início do século XX, característica cultural da sociedade nordestina nesse período. (PARMEGIANI; SANTOS 2014, p. 28). O universo das letras que antes era reservado somente às grandes elites, agora fazia parte, também, da vida de pessoas mais humildes. Muitos acabaram alfabetizando-se ou, até mesmo, tornando-se semialfabetizados, o que ocorre até os dias atuais. Sou um matuto poeta Nascido lá no Pilar Falo no meu linguajar Do jeito que aprendi Como agora eu to feliz Recebendo meu diploma Não falo dez idioma Por não ter ido a escola Mas carrego na sacola Versos pra uma semana (CALHEIROS, 2012, p. 8).� O cordel tem sua parte de contribuição para a História cultural dos nordestinos, uma vez que por eles foi possível analisar toda a estrutura política, cultural, social e econômica desse povo. Vejamos na seção 3 alguns cordéis como fontes históricas e como recurso pedagógico na construção do conhecimento científico. � 3 ALGUNS CORDÉIS COMO FONTES HISTÓRICAS E COMO RECURSOS PEDAGÓGICOS PARA CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS LITERATURA DE CORDEL: A educação de Alagoas Ouça bem ó minha gente, O que nós vamos falar: É a história de Alagoas No ato de educar. Prestem bem atenção Para poder entender, Que foi em 1500 Quando tudo começou. Foi em 1500 Quando tudo começou, Mas em 1800 Que oficializou. Alagoas está presente Na história do Brasil Desde quando os portugueses Colhiam o pau-brasil. Mas a nossa educação Não teve muita mudança, Continua frágil e pobre Como quer a liderança. Pois a educação que temos Sempre foi dualista De um lado, migalhas aos pobres Do outro, fartura à classe rica. Por isso, meu camarada Faça bem a sua parte Educando a meninada Com educação e arte (OLIVEIRA, 2012). A autora Michelle Oliveira, por meio do cordel sobre a educação de Alagoas, valoriza a história cultural regional, instigando o leitor a refletir sobre a região, o Brasil, os colonizadores portugueses, a educação e os governantes de maneira crítica. Com esse poema, é possível fazer um grande debate em sala de aula sobre essas questões que são a realidade dos educandos, facilitando a compreensão deles. Assim, é importante pensar as práticas de leitura e de escrita da comunidade de leitores que estão envolvidos no contexto de produção e circulação da obra literária proposta como documento, a relação deles com a escrita, com a oralidade. É preciso tratar o texto literário como documento/ monumento, ou seja, pensá-lo na sua materialidade sociocultural. (PARMEGIANI; SANTOS, 2014, p. 37). É lamentável que, durante anos, esta cultura não tenha sido considerada como documento histórico por alguns historiadores, o que só veio a acontecer com a chegada da corrente historiográfica denominada Nova História. Segundo Sandra Oliveira (2010, p. 42): A forma como o passado foi investigado e, consequentemente, as características da História construída, diferenciou-se ao longo do tempo resultando no que denominamos de escolas historiográficas. São três as correntes mais discutidas: Positivismo, Materialismo Histórico e Nova História. Com a valorização das culturas, os estudos dos historiadores deixaram de ser lineares, ampliando a relação de documentos históricos. Em tempos recentes, historiadores, pesquisadores do ensino e professores têm defendido uma história diferente, uma história cujo papel consiste em orientar os sujeitos a pensarem historicamente, a constituírem uma consciência histórica, a reconhecerem as diferentes experiências históricas das sociedades e, a partir desse entendimento, compreender as situações reais da sua vida cotidiana e do seu tempo. (CAIMI, 2010, p. 60). Alguns historiadores, em vários estudos, descobriram que, ainda no século XIX, a literatura de cordel sofreu fortes censuras por parte das elites francesas, que consideravam esses conteúdos contrários à moral, à ordem e, sobretudo, à religião que era estabelecida pela elite e o Estado. Essa cultura popular só foi reconhecida depois de uma tática das elites que pensaram em enaltecer a cultura popular para depois acabar com ela. Muitos escritores destacaram a importância que a literatura de cordel tem para a nossa História, pois: É importante pensarmos, ainda, na contribuição que a literatura pode dar à história nas questões relacionadas à cultura popular, já que nossa atenção está voltada para uma forma de literatura – literatura de cordel – que, na região nordeste do Brasil, como vimos antes, caracterizou como uma produção extremamente enraizada no popular (PARMEGIANI; SANTOS, 2014, p. 33). Para as autoras Parmegiani e Santos (2014), é a cultura que define símbolos, signos e significados de uma determinada sociedade. Nessa concepção elas destacam que são justamente as relações sociais quem dão identidade a um grupo, pois é por meio da individualidade que se distingue uma cultura da outra. Um dos marcos importantes do cordel nordestino foi sua transição da oralidade para a escrita, pois o uso dessa literatura como documento histórico tem muito a contribuir com nossa história cultural. Vejamos o próximo cordel: PAULO FREIRE A meta deste cordel que vou vos apresentar é divulgar Paulo Freire seu dom de alfabetizar ir reto sem fazer dobra mostrando vida e obra de quem viveu para ensinar Freire nasceu em Recife bairro de casa amarela iníciou seus estudos de forma pura e bela com os pais a lhe ensinar ele aprendeu a cruzar a imensa passarela (SENNA, 2013). Por esse cordel, é possível conhecer um pouco da vida de Paulo Freire, um grande educador que deixou para nós docentes um enorme legado de conhecimento científico que abrange a área social, cultural e política. Esse cordel também seria útil para contar a história desse grande alfabetizador nas escolas e na formação de professores. Verena Alberti (2014) afirma que “por isto é tão importante estudar os cordéis, fontes privilegiadas para entendermos a circulação de ideias, valores, pontos de vista e ações num determinado período e numa determinada região”. � Segundo Silva (2012, p. 138): O Nordeste brasileiro é uma região de contrastes, onde as dificuldadesde sobrevivência são inúmeras. Entretanto, também é solo fértil ao desenvolvimento artístico e intelectual. A necessidade de resgatar e preservar a história e a arte dos cordelistas tornou-se vital para a conservação do patrimônio imaterial do povo. O cordel como forma de expressão e comunicação de massa, enquanto instrumento didático-metodológico poderá desenvolver a conscientização para a preservação da tradição e da cultura nordestina através da educação. A escola tem um papel fundamental na formação sócio-cultural da sociedade na qual se encontra inserida. Várias modificações ocorreram com o cordel no passar dos anos; ele está cada dia melhor, e hoje não são só os nordestinos quem compõem esses versos, temos cordelistas de vários lugares do Brasil e do mundo, nossa cultura se expandiu, ficou universal, tornou-se fonte histórica mundial. Trabalhar o cordel na sala de aula é enaltecer nossa cultura popular, é reconhecer seu papel na sociedade, e através dessa literatura, podemos conscientizar os indivíduos sobre sua importância como documento histórico. Visto que: Todo documento pode fornecer testemunho precioso sobre o comportamento de uma sociedade. Mesmo uma documentação de uma cultura dominante exígua, dispersa e pertinente, pode ser aproveitada. E entender o processo de circularidade cultural, fornece caminho para compreender o complexo processo das formações das identidades (PARMEGIANI; SANTOS, 2014, p. 36, grifo das autoras). Agora analisaremos alguns cordéis que podem ser usados como recursos pedagógicos e fontes históricas na sala de aula. A escolha desses cordéis foi bastante cuidadosa, buscando cordéis que tivessem finalidade educativa. Hoje existem vários tipos de cordéis, porém nem todos devem ser utilizados na sala de aula�, tendo em vista que, em alguns deles, existem preconceito e formas de expressões que não devem ser usados na escola. O educador tem uma lista enorme de cordéis que podem ser trabalhados, porém ele tem de antes fazer uma análise sobre a área do conhecimento que ele quer trabalhar os cordéis, pois nessa perspectiva pode-se trabalhar as matérias de Português, Matemática, História, Geografia, entre outras. Não existe restrição quanto a isso. Nossos estudos aqui serão vinculados ao ensino de História na sala de aula e na perspectiva interdisciplinar, porque, pelo cordel, podemos estudar História, Geografia, Matemática, Português, etc. Começaremos aqui com um cordel falando da sua estrutura com o intuito de entendermos melhor seu processo de elaboração. O cordel a ser analisado neste momento intitula-se A sextilha na literatura de cordel, escrito por Jerson Brito (2010), Porto Velho, Rondônia. A SEXTILHA NA LITERATURA DE CORDEL Eu peço sua licença Pra falar da estrutura Do cordel, tão lindo estilo Dentro da literatura Sou fã incondicional Dessa popular cultura A estrofe se costura Com a metrificação Com rimas muito perfeitas E também com oração Eu vou falar da sextilha Preste bastante atenção Ressalto, de antemão Quadra foi utilizada Estrofe de quatro versos Hoje é pouco propagada A de cinco, a quintilha Está quase abandonada A sextilha aqui citada É usada largamente Por diversos escritores De nossa amada vertente É estrofe de seis versos É fácil, amigo tente O que se vê comumente No tocante ao seu esquema É usar uma só rima Que não tem qualquer problema Basta ter inspiração E escolher bem o tema No seu mais simples sistema Dessa forma é feito o texto: Só rimam os versos pares O segundo, quarto e sexto Os demais ficam sem rima Pra errar não tem pretexto Sem sair desse contexto A sextilha usei aqui Um troço chamado ‘deixa’ Nestas linhas eu segui Esclareço, sem demora Como a obra construí Meu perdão se confundi Eu explico, meu leitor ‘Seguindo a deixa’ peguei Da estrofe anterior O seu verso derradeiro E rimei c'o sucessor É preciso ainda expor Na sextilha são cabíveis Esquemas outros, distintos São nessa estrofe plausíveis Estão à disposição Alternativas incríveis Dentre todos os possíveis Do tal ‘aberto’ tratei Com rimas nos versos pares Conforme já mencionei Inclusive foi com ele Qu'este texto elaborei Há vários outros, eu sei De mais dois apenas trato O ‘fechado’ é atrativo Pro amigo literato Não conhece, nunca viu? A charada agora eu mato As rimas pares, é fato Entre si são combinadas Primeira, terceira e quinta Hão de ser também rimadas Vou mudar o esquema agora Para mostrar as danadas As rimas são colocadas Todas no lugar devido Sonoras, sintonizadas Fazem bem pro nosso ouvido As palmas são variadas O poeta é sempre lido Outro esquema permitido É chamado de ‘corrido’ Eita, que mudei de novo! Foi somente pra mostrar Como se pode criar Uma estrofes dessas, povo Assim, acho que promovo O cordel, minha paixão Espero, sim, ter cumprido Mais uma boa missão Se gostaram, agradeço Até mais, um abração! (BRITO, 2010). De início, analisaremos um cordel que fala sobre a estrutura desta literatura tão importante para nossa cultura. Ele foi elaborado pelo professor Jerson Brito, que tem um blog na internet, onde ele aplica seus conhecimentos em forma de cordel; observa-se, pelos comentários deixados no blog, que muitos professores tiram suas dúvidas lá. O autor, neste cordel, deixa bem clara a estrutura dos cordéis. Com ele, podemos na sala de aula explicar aos alunos de forma criativa as formas de elaboração dos cordéis, chamando a atenção para o conhecimento estrutural, com a finalidade de ajudá-los a preparar seu cordel. Primeiro, é apresentada sua estrutura, para que os alunos possam conhecer o que é um cordel e os requisitos que devem ser utilizados para criá-los. Segundo Brito, a quadra é uma estrofe de quatro versos que já foi muito utilizada, porém hoje já não é tão usada. A que contém cinco versos é chamada de quintilha e também está quase abandonada. Já a sextilha, é uma estrofe de seis versos, bastante utilizada por muitos cordelistas ainda hoje. Nela só rimam os versos pares, o segundo, o quarto e o sexto, e os demais ficam sem rimar. Já a setilha, são estrofes com sete versos, com cinco, sete ou até mesmo dez silabas. Na sextilha, pode-se usar a chamada “deixa”, que, para o autor, é pegar o verso da estrofe anterior e rimar com o seu sucessor. O cordel e a escola E assim por diante Brito um dos grandes autores Vai facilitando ainda mais A vida dos educadores Com esta contribuição brilhante Formando vários professores E como professor também Vai formando o alunado Que através das rimas Vai sendo ensinado Adquirindo assim sabedoria e dizendo professor muito obrigado. (Maria Vicente dos S. Gomes, 2017). Como podemos observar, o cordel acima foi feito depois de uma leitura do cordel anterior, confirmando, assim, que, para se fazer um poema como esse não precisamos de muito, todo assunto é válido. Tendo em vista que o cordel pode sim ser trabalhado na escola, desde que antes o educador faça pesquisa de como melhor trabalhá-lo em sala, de forma que a aula não se torne cansativa. O cordel é um grande recurso pedagógico, pois, por meio dele, é possível não só contar toda a trajetória da cultura de cordel na sala de aula, como também trabalhar diversos temas. Todo acontecimento pode virar cordel, visto que: Os folhetos de cordel, através de suas narrativas, contam acontecimentos de um dado lugar e tempo, convertendo-se em memória, documento e registro da História do Brasil. Podemos perceber os folhetos de cordel como um discurso da realidade, como uma prática cultural que pode contribuir para a elaboração de uma série de representações de um período histórico. Consequentemente, os poetas de cordel produzem em meio as suas práticas, representações de uma história plural e circular. (GRILLO; LUCENA, 2014, p. 89). A história do cordel é contada através de vários cordelistas. Veremos a seguir um poema de Calheiros (2012, p. 79), Salve o cordel. SALVE O CORDEL Meus senhorese senhoras Me preste bem atenção Vamos falar do cordel Uma forte tradição Que chegou de Portugal Parou em nosso sertão O cordel é uma arte Da cultura popular É uma linguagem simples Fácil de pronunciar Tudo depende da rima Que você vai recitar No cordel nos tem humor Tem também de assombração Tem histórias do saci Tem também do Lampião O grande rei do cangaço Que dominou o sertão Toda música sertaneja Foi tirada do cordel Xote baião e xaxado Parece que veio do céu Canta rico e canta pobre Professor e bacharel Quando tu ler um cordel Você vai me dar razão As rimas vão penetrando Dentro do seu coração E desta hora em diante Só paz, amor e paixão Ao manusear um livro Você sente vibrações Energias positivas Em manter as tradições Internet e notebook Só vem somar emoções O mundo parece é feito Apenas do que nós vê Mas há outra que não vemos E nos dá grande prazer É quando conhece um livro E a gente aprende a lê E um mundo de magia Se esconde entre as letras É somente a gente lendo Entra em nossas cabeças Se não lê perde o sentido Faz com que desapareça Falou o poeta Jorge Dedicando amor profundo Quem se dedica a leitura Seu pensamento vai fundo E mesmo sem viajar Fica conhecendo o mundo Não sei como agradecer Meus amigos portugueses Pra todos La um abraço Em alô trinta mil vezes Por esta nobre cultura Que tem séculos anos e meses Ao analisar esse cordel, percebemos que ele apresenta conteúdos históricos, pois faz referência ao processo de colonização e ao cangaço. Em vista disso, existem várias possibilidades para estudar e produzir cordéis na sala de aula, observando, assim, suas características como humor, cantos, culturas, lendas, histórias verídicas, acontecimentos históricos, dentre outros. Segundo Grillo e Lucena (2014), “o cordel é uma peça do complexo repertório social e cultural que se apresenta como veículo do cotidiano transformando-se em fonte histórica”. Devemos, então, valorizar nossa cultura, com a finalidade de aprender com esses documentos, proporcionando aos alunos a oportunidade de produzir também fontes históricas com base nas histórias de seu bairro, cidades, sua vida. Eles podem produzir cordéis sobre os conteúdos estudados em sala de aula como História do Brasil, Tiradentes, índios, negros, trajetória histórica da mulher, etc. Vejamos, agora, o poema de Cordeiro (2014, p. 178): � PILAR Alagoas é uma terra Por Deus abençoada, E a minha querida pilar É uma cidade privilegiada, porque nasceu as margens Da bela lagoa Manguaba. Construíram aqui ladeiras Para d. Pedro passar, Com a sua comitiva Ele visitou Pilar, E o último enforcamento no Brasil Que se pode registrar Foi nesta cidade bonita Que nasceram Costa Rêgo e Arthur Ramos, Dois filhos ilustres Que muito nos orgulhamos, Conhecidos por todo mundo Morreram faz alguns anos. Para nossos pontos turísticos Vem gente de todo lugar, Rolo do major, Santo Cruzeiro Mirantes e orla lagunar, E logo o turista pede Para o bagre experimentar. Na nossa querida cidade uma coisa não pode faltar, São festas tradicionais Festival do bagre e nossa senhora do Pilar Casamento do matuto e carnaval O povo adora festejar. Vivo aqui desde a infância E espero aqui me enterrar, Mas uma coisa me entristece Nesta querida Pilar, É o aumento da violência Que nos faz amedrontar. Valei-me Nossa Senhora Não deixe continuar, passa na frente desse povo Da cidade do Pilar, Toque em seus corações E a paz volte a reinar. A autora, ao fazer esse cordel, pôs no papel a história de sua terra, onde fala daquilo que conhece como ninguém, região que faz parte do seu cotidiano. Ela conta momentos históricos de sua cidade, como a visita de D. Pedro e o último enforcamento no Brasil. Destaca também os filhos ilustres desta terra, sua devoção a Nossa Senhora, o carnaval e ainda faz uma crítica ao aumento da violência. Mesmo quem não conhece esta cidade, ao ler esse cordel, fica encantado com esta terra, com sua história e com seu povo. Por meio da revelação de nossa origem, deixamos transparecer nossa identidade, nossas raízes. Fazendo um poema como esse, acabamos deixando registrada não só nossa história, mas a história de um povo. Memória essa que jamais será esquecida. Assim sendo: O conhecimento do passado se organiza, ordena o tempo, se localiza cronologicamente. Portanto, a função da memória é trazer novamente à vida o que já foi vivido. A memória possui um papel criativo. Ao rememorar estamos criando novamente o já vivido, portanto, a função da memória é de reconstrução. Porém, a memória não obedece a uma ordem temporal, é sempre permeada por idas e vindas. Lembramos o que aconteceu ontem e dali, a frações de segundos, voltamos à infância e ao acontecido novamente. Esse ir e vir no tempo da memória acontece incontáveis vezes durante um dia. (PAIM, 2010, p. 87). Nesta perspectiva, observamos que o cordel é, sem dúvida, um documento histórico, e por meio dele podemos instigar nossos alunos a registrar sua memória, valorizando sua história. Outro ponto importante é trabalhar a questão de gênero mediante poemas, em que se possa contar a trajetória sofrida da mulher durante muito tempo, quando não tinha nem voz nem vez, não tinha direitos, só deveres. Escrever livros nem pensar, quem escrevia falando sobre as mulheres eram os homens, a elas só cabia cuidar da casa e das crianças. Portanto, não se pode perceber o feminino fora de sua relação com o masculino, o que transcende a questão sexual de homem e mulher. Possível de ser compreendido apenas como uma interseção das expressões culturais e seu contexto histórico, o gênero traduz sutilmente as contradições do sistema de valores estabelecido. Assim sendo, um ponto fundamental para trabalhar a noção de gênero na aula de História é compreender que as relações entre homens e mulheres passam por diferenças que são construções históricas e não devem ser naturalizadas. Isto é, não devem ser consideradas como algo que pertence à natureza das mulheres e homens, mas sim a diferentes culturas. (LEITE, 2010, p. 194). Podemos analisar um cordel falando sobre a mulher e assim abrir uma discussão com os alunos sobre a importância da mulher na história cultural. Outra sugestão é pedir para que elaborem um cordel falando sobre a trajetória da mulher na História. Isso é muito importante para acabar ou pelo menos diminuir o preconceito que nós mulheres sofremos atualmente; é justamente na sala de aula que podemos conduzir nossos alunos a refletirem sobre o assunto. CORDEL DA MULHER ATREVIDA Não sou mulher que se diga ETA! Que ‘Dona patroa!’ Também o pior não diga, Se eu não sou tão a ‘Boa,’ Chamem-me de Atrevida Um pouco de Pervertida, Porém jamais fui atoa. Nunca fui de ganhar Temas, Mas me visto de Poema Sou meu próprio Diadema. Chamem-me Pedra Noventa Vou pra casa dos Sessenta Meio a reverso e Dilema. Enfim, sou meu próprio lema. Eu nasci bem desprovida Dos atributos reais. Era triste e inibida, Com silhueta normal. Às vezes desengonçada Em outras, um pouco ousada, Mas sem trejeitos Fatais. Aos poucos fui me encarando Aceitando-me como eu era... Não era a Bela Encantada Mas, eu vivia essa espera. De um dia transformar-me Na mais formosa Donzela E ser de fato a Fera. Abri porteira no ‘Mundo’ Por onde eu nem caberia, Pisei abismo profundo Submergi com ‘Valia’ Comi poeira da estrada � Atravessei a invernada Estampei-me com Ousadia. Só não Roubei nem Matei Nem em vícios fui parar. Lombode Touro eu montei. Pulei muro a me arrastar Para poder escapar Saltei por cima do Mar Tentando me equilibrar. Quem conhece a Face Dura Do chão que pisa a Pobreza, Colhe a ‘Provisão Madura’ E trás no rosto a Beleza Planta capim no asfalto Produz seu grande roçado Sem cansaço e sem Moleza. Porém quem não compreender É que não viveu no Fio, Da Navalha a entender, Que na voz de um arredio Existe um gritar latente Não se tem vida decente Com a barriga vazia. Senti dor e desalento Sem poder dar nem um pio. Assemelhei-me ao jumento, Quando lhe falta alimento Inclina pra baixo a crina Faz de seus passos, sua Sina Relincha buscando alento. Para encurtar essa história, Guarde-me em sua memória. Sou filha da ‘Persistência’ Tenho irmãos com Sapiência Doutor em Sabedoria. Penso com muita Ousadia Sou a Mãe da Valentia. (ALBUQUERQUE, 2013).� A autora do poema faz uma crítica ao modelo de beleza que a sociedade impõe às mulheres, não imposta aos homens. Ao falar de sua vida, ela diz que nasceu desprovida da beleza, por isso era triste e inibida. � Visto que: Ao valorizar a construção da compreensão da mulher como sujeito histórico, a aula de História pode resgatar os procedimentos do historiador em relação ao trabalho com as fontes. Nesse caso, o objetivo é desenvolver atitudes investigativas que reforçariam a compreensão da pesquisa como o eixo organizativo desse ensino. (LEITE, 2010, p. 196). Observa-se aí todo o sofrimento passado por ela, o que vem repetindo-se com muitas mulheres durante anos e perpassa até os dias de hoje. Dessa forma o preconceito fica visível, o que a fez retrair-se, calar-se. Porém, logo à frente, ela diz que buscou forças para prosseguir e assim aprendeu a se aceitar como era. Devemos trabalhar a igualdade de gênero na escola, coisa difícil, nesta sociedade machista, porém não é impossível. Sendo assim: A noção de gênero diz respeito a uma identidade sociocultural atribuída a cada sexo, influenciando os comportamentos do homem e da mulher. Dessa forma, o gênero, longe de ser um fenômeno estático, interage com outras expressões culturais de uma determinada sociedade (como raça, religião, idade, classes sociais, etc.) que também participam da construção de identidades, uma vez que só existe se for culturalmente construído, o gênero ultrapassa as questões de sexo (simples determinante físico e anatômico dos seres humanos). (LEITE, 2010, p. 194). Goretti Albuquerque fala também da pobreza, da fome, enfatizando que não existe vida decente quando se tem a barriga vazia. Chegando até a se assemelhar a um jumento quando fica sem comer. Por fim, diz que é filha da persistência e mãe da valentia, mostrando que teve de lutar para vencer. A desigualdade social é também um ponto forte a ser discutido na sala de aula. Observamos que apenas com um cordel podemos trabalhar temas variados relacionados com a história, pois: Em suma, torna-se de fundamental importância considerar-se o poder de criação e de interpretação dos alunos, pois eles precisam descobrir um ensino de História em que sejam sujeitos ativos, ou seja, autores do seu próprio conhecimento, para que possam trazer em suas memórias o prazer pela aprendizagem e a confiança nela. E, para isso, a poesia, o cordel, o teatro, o cinema e a música são alguns exemplos de linguagens que, ao serem usados pelos/as docentes, permitiram um diálogo construtivo e proveitoso com os alunos, tratando-se a educação escolar com leveza. (GRILLO; LUCENA, 2014, p. 101). Outro tema bastante importante é sobre os indígenas, o que deve ser valorizando culturalmente, dando mais ênfase a esses povos que tinham tudo e viviam bem, e em paz, porém, de uma hora para outra, chegaram os portugueses e lhes tomam tudo, inclusive a dignidade. O poema de William Brito, a seguir, retrata bem toda a aflição vivida por eles, um ótimo tema para trabalhar na sala de aula. A SAGA DOS ÍNDIOS BRASILEIROS Os nativos receberam O povo vindo do mar, Com boa disposição Foram confraternizar Depois se viram traídos, Explorados, perseguidos, Obrigados a arribar. Cerca de 5 milhões De índios tinha o Brasil, E etnias, sabe Deus, Talvez passasse de mil, O terrível, o que eu lamento, É não restar 10% Dessa gente varonil. Martins Soares Moreno, Chegando no Ceará, 22 povos achou; e hoje, quantos haverá? Segundo doutor Pinheiro, Só tem 11 companheiro, Até onde a ciosa irá? Os europeus cá vieram Somente atrás da riqueza Carregaram o pau-brasil, Depredaram a natureza Com fogo, foice e machado, Trouxeram a cana e o gado, Comprometeram a beleza. Trouxeram ainda ao Brasil A mancha da escravidão, Africanos e ameríndios Padeceram de aflição De virar mercadoria. � Haverá selvageria Acaso igual, cidadão? Os tupis do litoral Sofreram primeiramente E os tapuias do sertão Padeceram mais na frente, Espanhóis ou Holandeses, Lusitanos ou Franceses Não agiam diferente. Pra eles índios e negros, Não tinham dignidade, Se pareciam com gente Mas não eram, de verdade. Eram simples animais Como o gado dos currais, Sem direito nem piedade. O tal Marquês de Pombal Proibiu língua nativa, Todos tinham de falar Aquela língua aflitiva Do malsinado invasor, Muitos inda tem pavor Da língua coercitiva. E a medicina da terra, Conhecida do pajé, Foi vetada para os índios Como também sua fé; Quem não virasse cristão Comprava grande questão Com a forte Santa Sé. As terras foram tomadas Pelo gado e pela cana E os índios missionados Em Caucaia e Messejana, Viçosa, Almofala, Crato E Parangaba é o relato De uma sina desumana. À custa de muito sangue, Deu-se a colonização, Os nativos se uniram Numa Confederação Para enfrentar o invasor, Mas, mesmo com seu penhor Perderam a conflagração. E quem ganhou a contenda Fez a versão da história, Fez-se o mocinho do filme, Cobriu-se de honra e glória, E o perdedor sem direito Ficou cheio de defeito E privado de memória. Guerra química e biológica Para os índios foi fatal, Eles não tinham defesa Contra vírus, coisa e tal; E até bem pouco uns ladinos Queimaram o índio Galdino No Distrito Federal. Na festa em Porto Seguro Que lembrou a invasão, Os índios foram excluídos Sem direito a expressão E todos que protestaram Dos polícias apanharam Sem dó e nem compaixão. Mas pega a coisa a mudar Na nossa sociedade Os índios já se organizam Reforçando a identidade, E sua luta é tamanha Que foi tema de campanha Dita da fraternidade. Somos um povo mestiço Não temos o que negar, Mas a discriminação Teima em nos acompanhar, Deixemos de preconceito, Vamos todos dar um jeito De nos unir, nos amar. Vamos vencer o apartheid Econômico e social, Acabar com a exclusão Criminosa e imoral Ultrapassar a mazela Que separa a favela Condomínio colossal. Honremos no Ceará Kariris e Cariús, Calabaças, Potiguares, Quixelôs e Pacajús, Kanindés e Tabajaras, Tremembés, Jaguaribaras, Jucases, Tacarijús. Que as novas gerações Protejam os Tremembés, Pitaguarys e Tapebas, Jenipapos, Kanindés, E que nunca falte abrigo Pra memória dos antigos Como os grandes Anacés. Que o Brasil respeito o índio Como etnia ancestral. Genética e culturalmente Basilar, essencial, Respeite a diversidade Que faz nossa identidade Ser mais rica, mais plural. (BRITO, 2007, est. 13-32). Esse cordel fala sobre o caminho histórico percorrido pelos índios, destacando também a agonia dos negros que aqui chegaram para serem escravizados. É um poema rico em informação, que traz vários argumentos para serem refletidos por quem os lê, e o educador pode dividir as estrofes entre os grupos de educandos para discutirem o assunto no primeiro momento e no segundo momento, todos podem compartilhar esses conhecimentos, valorizando o poemacomo fonte histórica. Nesta perspectiva não nos basta, somente, levar o aluno a saber quem foi Pedro Álvares Cabral ou Zumbi dos Palmares. Faz-se necessário deslocar-se temporalmente para compreender quem foram estes homens em seus contextos de vida; compreender por que Zumbi dos Palmares não era um ‘conteúdo’ para o ensino de História na década de 1960 ou o que nos ‘contava’ os nossos livros didáticos sobre Pedro Álvares Cabral no ano de 1950. (OLIVEIRA, 2010, p. 42). Como educadores, devemos ser intermediários entre o aluno e o conhecimento, levando-o a uma compreensão não só sobre o conteúdo estudado, mas também a refletir e fazer diálogos, debater sobre o passado fazendo uma relação com o presente. Os educadores que assim fazem estão cumprindo seu papel não só com a comunidade escolar, mas familiar e com a sociedade. Veremos em seguida um belo exemplo, uma professora de uma rede pública de Maceió que, por meio do cordel, levou seus alunos a não só aprender os conteúdos, mas também a refletir sobre sua vida, sua escola e a sociedade. � 4 PRÁTICA DOCENTE DE UMA PROFESSORA COM MATERIAIS DIDÁTICOS PRODUZIDOS PELA EDUCADORA POR MEIO DE CORDÉIS Fotografia 1 – Capa do Projeto de Leitura e Escrita: tema Patativa do Assaré Fonte: A autora do projeto, 2017. � O POETA DA ROÇA Patativa do Assaré Sou fio das mata, cantô da mão grossa, Trabáio na roça, de inverno e de estio. A minha chupana é tapada de barro, Só fumo cigarro de páia de mío. Sou poeta das brenha, não faço o papé De argum menestré, ou errante cantô Que veve vagando, com sua viola, Cantando, pachola, à percura de amô. Não tenho sabença, pois nunca estudei, Apenas eu sei o meu nome assiná. Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre, E o fio do pobre não pode estudá. Meu verso rastêro, singelo e sem graça, Não entra na praça, no rico salão, Meu verso só entra no campo e na roça Nas pobre paioça, da serra ao sertão. Só canto o buliço da vida apertada, Da lida pesada, das roça e dos eito. E às vez, recordando a feliz mocidade, Canto uma sodade que mora em meu peito. Eu canto o cabôco com suas caçada, Nas noite assombrada que tudo apavora, Por dentro da mata, com tanta corage Topando as visage chamada caipora. Eu canto o vaquêro vestido de côro, Brigando com o tôro no mato fechado, Que pega na ponta do brabo novio, Ganhando lugio do dono do gado. Eu canto o mendigo de sujo farrapo, Coberto de trapo e mochila na mão, Que chora pedindo o socorro dos home, E tomba de fome, sem casa e sem pão. E assim, sem cobiça dos cofre luzente, Eu vivo contente e feliz com a sorte, Morando no campo, sem vê a cidade, Cantando as verdade das coisa do Norte. Esse foi o primeiro poema que os alunos conheceram de Patativa do Assaré, e ficaram encantados ao conhecer a vida de um dos maiores poetas brasileiros. Como vimos, até aqui o cordel passou por uma longa trajetória até chegar ao Brasil; Europa, Portugal, depois foi para o Nordeste trazido pelos colonizadores portugueses, e com a imigração dos nordestinos, espalhou-se por todo o território brasileiro. Seu papel na história foi resgatar culturas, sendo assim considerado como uma fonte histórica para a História Cultural. Por que não utilizá-lo como recurso pedagógico? Em resposta a essa pergunta, veremos o trabalho de uma educadora que pôs em prática esta didática. Uma professora do 5.º ano da Rede Municipal de Maceió teve a brilhante iniciativa de trabalhar o cordel na sala de aula, com o Projeto de Leitura e Escrita “Patativa do Assaré: o poeta da roça”, com o objetivo de os alunos conhecerem um dos grandes cordelistas do Nordeste brasileiro. A professora no projeto traçou os seguintes objetivos: Objetivo geral: conhecer a vida e a obra de Patativa do Assaré e despertar o gosto pela literatura de cordel. Já os objetivos específicos são: a) promover a aproximação do aluno com a literatura de cordel por meio de atividades de leitura de cordel; b) compreender que a literatura de cordel conta de modo simples a vida sertaneja; c) saber como se produz o cordel; d) possibilitar o contato com a linguagem literária do cordel; e) perceber a riqueza e a beleza presente na literatura de cordel; f) realizar leitura de cordel; g) ler os poemas de Patativa do Assaré; h) estudar os poemas de Patativa do Assaré; i) produzir literatura de cordel. As etapas do desenvolvimento foram oito: apresentação do projeto, biografia de Patativa do Assaré com apresentação em power point, vídeo e atividade; leitura do poema O poeta da roça, atividade, e vídeo com Patativa declamando o poema; variação linguística e vídeo de Bráulio Bressa; cordel A morte de Nanâ e atividade; cordel e xilogravura, montar o painel com livretos – cordel; coisas do meu sertão; oficina de cordel com o cordelista Sérgio Moraes da cidade de Pilar; produção de cordel com os alunos e preparação da culminância. Foram feitas apostilhas, que foram encadernadas e entregues aos alunos para utilizarem duas vezes por semana, nos dias de trabalhar o projeto. Na capa, vinha a foto de Patativa do Assaré, com seu nome em cima, dizendo que ele era o orgulho para a poesia nordestina. Bem abaixo, vinha o nome da escola, o ano, a turma, o turno e o nome do estudante. Tudo muito bem organizado (como pudemos observar na foto da capa do projeto. Este não está encadernado, pois é uma cópia minha de todo o projeto, mas os dos alunos foram todos encadernados). Bem atrás da capa, vinha a biografia do autor, que continha seu nome completo, um pouco da sua história, e, logo abaixo, vinha a lista de suas obras, como podemos ver na fotografia 2: � Fotografia 2 – Contracapa do Projeto de Leitura e Escrita: biografia de Patativa do Assaré Fonte: A autora do projeto, 2017. � Fotografia 3 – Obras e livros de poesia de Patativa do Assaré Fonte: A autora do projeto, 2017. O primeiro contato sobre o cordel que as crianças tiveram foi justamente conhecendo a história e as obras desse ilustre sertanejo, que, com seus poemas, encantou e encanta multidões. Seria muito bom se todos os professores realizassem um trabalho como este na sala de aula, tendo em vista a importância não só da valorização da cultura, mas também instigar nas crianças, o mais cedo possível, o amor pela leitura e pela escrita, em uma perspectiva não cansativa, a que eles estão acostumados, atividades exaustivas e de memorização; mas sim algo que vai muito além, que mexa com a emoção e os leve à reflexão do seu eu na vida e na sociedade. A seguir vejamos fotos de algumas atividades contidas no projeto. Fotografia 4 – Atividade sobre Patativa do Assaré (a) Fonte: A autora do projeto, 2017. � Fotografia 5 – Atividade sobre Patativa do Assaré (b) Fonte: A autora do projeto, 2017. � Fotografia 6 – Poema O poeta da roça de Patativa do Assaré Fonte: A autora do projeto, 2017. � Fotografia 7 – Atividade sobre o poema O poeta da roça de Patativa do Assaré Fonte: A autora do projeto, 2017. Fotografia 8 – Definição de cordel Fonte: A autora do projeto, 2017. Foi convidado a vir à escola o cordelista Sérgio Moraes da cidade de Pilar. Ele fez um cordel especialmente para a escola com o nome dos diretores, coordenadores, professores e funcionários. O cordelista realizou uma oficina de cordel, em seguida dividiu a turma em dupla e trio, e foi auxiliando-os na elaboração dos seus cordéis. Os alunos puseram em prática tudo o que aprenderam e mostraram que eram capazes de fazer o próprio cordel. Vejamos os frutos deste projeto, que é tão envolvido com a cultura popular brasileira. Na oficina com o cordelista Sérgio Moraes, os alunos produziram alguns cordéis. Por se tratar de uma turma com muitos alunos, ele optou por dividir a turma em dupla ou em
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